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2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GO Praça João Rassi, 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO. Tel.: (62) 3552-2981) Ministério Público I do Estado de Goiás [ EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA COMARCA DE GUAPO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça infra-assinado, com arrimo no art. 129, inciso III, da Constituição Federal e art. 26 da Lei Orgânica do Ministério Público (Lei n° 8.625/93), bem como nos arts. 786, caput, 798, I, "a" e "c", 814 e 822, do Código de Processo Civil, e, ainda, com fulcro no TERMO DE COMPROMISSO E AJUSTAMENTO DE CONDUTA anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO DE EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER COM PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA POR DESCUMPRIMENTO em face de CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES DE ARAGOIÂNIA, inscrita no CNPJ sob o 04.224.907/0001-95, com sedena Praça Santa Luzia, Qd. 28, Lt. 01, Centro, Aragoiânia/GO, representada por seu Presidente, vereador RAIMUNDO LOPES RAMOS, brasileiro, casado, parlamentar, inscrito no CPF n° 101.155.951-04, com endreço na Avenida Alfredo Nasser,n° 805, Centro, Aragoiânia/GO Pelos seguintes fatos e fundamentos.

AÇÃO DE EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO … · 2018-02-06 · do Estado de Goiás ... dirimidas no foro da Comarca em que esteja inserido o Município de ... título executivo

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2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO.Tel.: (62) 3552-2981)

Ministério Público Ido Estado de Goiás [

EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA COMARCA DE GUAPO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça

infra-assinado, com arrimo no art. 129, inciso III, da Constituição Federal e art. 26 da Lei

Orgânica do Ministério Público (Lei n° 8.625/93), bem como nos arts. 786, caput, 798, I, "a"

e "c", 814 e 822, do Código de Processo Civil, e, ainda, com fulcro no TERMO DE

COMPROMISSO E AJUSTAMENTO DE CONDUTA anexo, vem, respeitosamente, à presença

de Vossa Excelência, propor

AÇÃO DE EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER COM

PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA POR DESCUMPRIMENTO

em face de

CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES DE ARAGOIÂNIA, inscrita

no CNPJ sob o n° 04.224.907/0001-95, com sedena Praça Santa Luzia,

Qd. 28, Lt. 01, Centro, Aragoiânia/GO, representada por seu

Presidente, vereador RAIMUNDO LOPES RAMOS, brasileiro, casado,

parlamentar, inscrito no CPF n° 101.155.951-04, com endreço na

Avenida Alfredo Nasser,n° 805, Centro, Aragoiânia/GO

Pelos seguintes fatos e fundamentos.

2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO.Tel.: (62) 3552-2981)

Ministério Público Ido Estado de Goiás |

I. DOS FATOS

1.1) DO TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA FIRMADO ENTRE A CÂMARA

MUNICIPAL DE ARAGOIÂNIA E O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

Em 02 de junho de 2017, a Câmara Municipal de Aragoiânia, representada por

seu Vereador Presidente, Sr. RAIMUNDO LOPES RAMOS, assinou, junto ao MINISTÉRIO

PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, Termo de Ajustamento de Conduta - TAC, cujo objeto era

sanar irregularidades na contratação de servidores comissionados, notadamente no que se

referia à prática de nepotismo (vedado pela Súmula Vinculante n° 13 do Supremo Tribunal

Federal) e a ocupação de cargos efetivos por servidores não concursados.

A necessidade de firmar tal compromisso se deu diante das investigações

realizadas nos autos dos Inquéritos Civis Públicos de n° 201700036292 e n° 201700039770,

onde restou comprovada, na prática, a ocorrência das supramencionadas irregularidades.

No referido TAC, foram estipuladas uma série de cláusulas com obrigações de

fazer e não fazer, impostas àquela Casa Legislativa, as quais tinham por finalidade sanar as

situações de irregularidade até então constatadas. Assim, para acompanhar o cumprimento

das cláusulas estipuladas, instaurou-se o competente Procedimento Administrativo de

Acompanhamento n° 201700233423, que segue anexo a esta exordial, como peça

informativa, em cujo conteúdo está inserido, em sua integralidade, o teor do TAC formalizado.

Segundo consta da cláusula 02 do TAC firmado, a Administração do Poder

Legislativo do Município de Aragoiânia assumiu as seguintes obrigações:

"2.1) Compromete-se que, até o dia 01 de julho de 2017, exonerará

CRISTIANE MARTINS DE AGUIAR, JÚLIO CÉSAR GOMES, ADJANE DE

OLIVEIRA SILVA e DIMAS ANTUNES RIBEIRO, pelos motivos expostos

nos "Considerandos 01, 02, 03 e 04" (OBRIGAÇÃO DE FAZER);

2.2) Compromete-se a fundamentar os atos de exonerações, aludindo

aos seguintes motivos: celebração de Termo de Ajustamento de

Conduta com o Ministério Público Estadual - 2a Promotoria de Justiça

da Comarca de Guapo, objetivando coibir a prática de nepotismo que

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2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO. TZT.JTÍ n^.,TPl-fS? 3552 29811 Ministério Publicolei.. (b2) ább2-2W\) d0 Estad0 de Go!ás

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afetem aos princípios da moralidade e da impessoalidade, em

obediência à fundamentação da Súmula Vinculante n° 13 - STF, bem

como exercer a autotutela para combater o provimento irregular de

cargo efetivo (OBRIGAÇÃO DE FAZER);

2.3) Compromete-se, desde já, a não admitir, não manter admitido,

não contratar e não nomear para o exercício de qualquer função pública

perante o Legislativo Municipal, salvo em virtude de aprovação em

concurso público, parentes consanguíneos, em linha reta e colateral ou

por afinidade, até o terceiro grau de qualquer dos Vereadores

(OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER);

2.4) Compromete-se a apresentar, até 01 de novembro de 2017,

projeto de lei que proíba, no âmbito da Câmara Municipal de

Aragoiânia/GO, o exercício de função pública, na forma comissionada,

em situações de nepotismo ou próprias de cargos de provimento

efetivo (art. 48, IX e X, da CF/88, sob o princípio da simetria)

(OBRIGAÇÃO DE FAZER);

2.5) Compromete-se a enviar ao Prefeito do Município de

Aragoiânia/GO, até 01 de novembro de 2017, mensagem sugerindo a

elaboração e envio, à Câmara Municipal, de projeto de lei que proíba,

no âmbito da Administração Municipal, o exercício de função pública

em cargo comissionado nas situações de nepotismo ou próprias de

cargos de provimento efetivo (art. 61, §1°, II, a, da CF/88, sob o

princípio da simetria) (OBRIGAÇÃO DE FAZER);

2.6) Compromete-se, desde já, a não admitir, não manter admitido,

não contratar e não nomear, em comissão, para o exercício de

qualquer função pública própria de cargo de provimento efetivo

(concurso público de provas ou de provas e títulos) (OBRIGAÇÃO DE

NÃO FAZER);

2.7) Compromete-se, até 01 de julho de 2017, apresentar, mediante

cópia, o inteiro teor do presente Termo de Compromisso de

2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

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Ajustamento de Conduta a todos os Vereadores do Município de

Aragoiânia/GO., em sessão pública (OBRIGAÇÃO DE FAZER);

2.8) Compromete-se, até 15 de julho de 2017, comunicar à 2a

Promotoria de Justiça da Comarca de Guapo sobre o efetivo

cumprimento das Cláusulas 2.1 e 2.2 deste Termo de Ajustamento de

Conduta, mediante a apresentação de cópias das publicações

referentes aos atos de exonerações (OBRIGAÇÃO DE FAZER);

2.9) Compromete-se, até 15 de julho de 2017, comunicar à 2a

Promotoria de Justiça da Comarca de Guapo sobre o efetivo

cumprimento da Cláusula 2.7 deste Termo de Ajustamento de

Conduta, mediante a apresentação de cópia da Ata da Sessão

(OBRIGAÇÃO DE FAZER);

2.10) Compromete-se, até 15 de julho de 2017, comunicar à 2a

Promotoria de Justiça da Comarca de Guapo sobre o efetivo

cumprimento das Cláusulas 2.4 e 2.5 deste Termo de Ajustamento de

Conduta, mediante a apresentação de cópias do projeto de lei e da

mensagem ao Prefeito, devidamente protocoladas no órgão

destinatário (OBRIGAÇÃO DE FAZER);

2.11) Compromete-se, até 15 de julho de 2017, comunicar à 2a

Promotoria de Justiça da Comarca de Guapo sobre a exoneração de

KARINA RODRIGUES TERRA, tendo em vista que ocupa o cargo efetivo

de Auxiliar de Serviços Gerais (Lei n° 996/2014), mas na forma

comissionada, justificando na forma do item 2.2;" (fls. 08/10).

Em caso de eventual descumprimento das obrigações firmadas, restou

estabelecido o seguinte:

"CLÁUSULA 03: O descumprimento de qualquer dos termos das

cláusulas do presente Termo de Ajustamento de Conduta resultará na

aplicação de MULTA no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) por dia de

2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

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atraso, no que tange às obrigações de fazer, e por dia de manutenção

de conduta irregular, no que tange às obrigações de não fazer.

CLÁUSULA 04: Ovalor da multa será atualizado pelo INPC/IBGE (índice

Nacional de Preços ao Consumidor).

CLÁUSULA 05: Independentemente da execução da multa, o

descumprimento do ajustado importará ao compromissário a

responsabilização por ofensa dolosa aos princípios constitucionais da

impessoalidade e moralidade administrativas, processada por meio da

adequada Ação Civil Pública para anulação dos atos administrativos

irregulares apontados nos "considerandos" 01 a 04, bem como

responsabilização das pessoas envolvidas;

CLÁUSULA 06: As questões decorrentes deste Compromisso serão

dirimidas no foro da Comarca em que esteja inserido o Município de

Aragoiânia/GO;

CLÁUSULA 07: O descumprimento de qualquer das obrigações aqui

assumidas pelo COMPROMISSÁRIO (Presidente da Câmara Municipal

do Municípiode Aragoiânia/GO), nos prazos especificados, implicará no

pagamento da multa extrajudicial estipulada, a qual deverá ser

recolhida em favor do Fundo Especial de Modernização e

Aprimoramento Funcional do Ministério Público de Goiás (FUNEMP-

GO), conforme disposição contida no art. 2o, V, da Lei Estadual n°

14.909/2004." (fls. 10/11).

Por fim, ainda extraímos que:

"CLÁUSULA 08: A fiscalização do avençado ficará a cargo do Ministério

Público do Estado de Goiás, por meio da 2a Promotoria de Justiça da

Comarca de Guapo (art. 51, parágrafo único, da Res. 011/2014 - CPJ).

CLÁUSULA 09: Este Termo de Ajustamento de Conduta consubstancia

título executivo extrajudicial, nos termos do artigo 5o, §6°, da Lei

Federal n° 7.347/1985 e do art. 49, §1°, da Resolução n° 11/2014 do

2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO.Tel.: (62) 3552-2981)

Ministério Público Ido Estado de Goiás |

Colégio de Procuradores de Justiça do Ministério Público do Estado de

Goiás, valendo por tempo indeterminado.

As partes signatárias convencionam que o presente Termo de

Compromisso tem eficácia a partir desta data, nos termos do art. 49,

§1°, da Resolução n° 11/2014 do Colégio de Procuradores de Justiça

do Ministério Público do Estado de Goiás."(fl. 11).

1.2) DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES DO TAC

Chegado o momento para comprovação do cumprimento das cláusulas do TAC,

a Câmara Municipal de Aragoiânia formulou pedido, à fl. 25, de dilação de prazo para a

exoneração da servidora CRISTIANE MARTINS DE AGUIAR ao argumento de que "a pessoa

que vai ocupar a vaga dela só pode começar exercer a sua função a partir do dia

01/08/2017", sendo que tal pedido foi reiterado à fl. 27.

Assim, depois de ponderar a questão, tendo como pressuposto a boa-fé e

razoabilidade, o Ministério Público, buscando dirimir a questão da melhor forma a não gerar,

com excessivo rigor, óbice ao andamento dos serviços essenciais da Administração, concedeu

novo prazo para que houvesse tempo hábil para substituição da servidora CRISTIANE.

Em momento posterior, juntou-se a portaria de exoneração de CRISTIANE

MARTINS DE AGUIAR, em aparente cumprimento integral do item 2.1 (fls. 50/51), uma vez

que os demais servidores apontados no item 2.1, já haviam sido exonerados (ADJANE DE

OLIVEIRA (fls. 33/34), JÚLIO CÉSAR GOMES (fls.36/37), DIMAS ANTUNES RIBEIRO

(fls.39/40) e KARINA RODRIGUES TERRA (fls. 42/43).

Após tentar demonstrar que teria cumprido com todos os termos do TAC, a

Câmara Municipal, por intermédio de seu Presidente (Raimundo Lopes Ramos), se

manifestou nos autos "encerrando as obrigações de fazer e não fazer, dispostas no Termo de

Ajustamento de Conduta -TAC, de 02 de junho de 2017, (cláusula 2.10 - "Compromete-se

até 15 de novembro de 2017, comunicar à 2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapo

sobre o efetivo cumprimento das Cláusulas 2.4 e 2.5 deste Termo de Ajustamento de

Conduta, mediante a apresentação de cópias do Projeto de Lei e da mensagem ao Prefeito,

2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO.Tel.: (62) 3552-2981)

Ministério Público Ido Estado de Goiás |

devidamente protocoladas no órgão (OBRIGAÇÃO DEFAZER), firmado entre o Representante

da Câmara Municipalde Aragoiânia, Raimundo Lopes Ramos e o Representante do Ministério

Público do Estado de Goiás, Dr. Wesley Marques Branquinho, Promotor de Justiça da Comarca

de Guapó-go., a Indicação n° 001/2017, de 13 de setembro de 2017, (Protocolada na

Prefeitura Municipal de Aragoiânia em 27 de setembro de 2017, conf. Oficio n° 058/2017 e o

Projeto de Resolução n° 001-A/2017, de 13 de setembro de 2017. Ambas aprovadas dentro

das normas regimentais por esta Câmara Municipal de Aragoiânia". (fl. 54) Requisitou, por

fim, o encerramento do TAC.

Ocorre que antes que se pudesse concluir pelo cumprimento de todas as

obrigações firmadas do ajuste, chegou ao conhecimento da 2a Promotoria de Justiça de

Guapo, a denúncia de que a filha do vereador Weder Jales José de Aguiar, a servidora

exonerada Cristiane Martins de Aguiar, permanecia prestando serviços à Câmara Municipal

de Aragoiânia. por intermédio de empresa terceirizada, contratada sem o devido

procedimento licitatório, numa tentativa de fraudar o que fora estipulado no TAC firmado

entre a Câmara Municipal e o Ministério Público.

Diante dos novos fatos, o Ministério Público oficiou ao Presidente da Câmara

Municipal de Aragoiânia para informar se Cristiane Martins de Aguiar se mantinha

prestando serviços à Câmara Municipal, em situação de fraude. Também, expediu-se ordem

de serviço ao Oficial de Promotoria para que verificasse se Cristiane prestava serviços junto

àquela Câmara.

À fl. 66, o Oficial de Promotoria certificou que Cristiane Martins de Aguiar

presta serviços à Câmara Municipal de Aragoiânia de forma terceirizada.

Á fl. 68, a Câmara Municipal de Aragoiânia, sob a presidência do Vereador

Raimundo Lopes Ramos, informou que Cristiane Martins de Aguiar é prestadora de

serviços da Empresa NGS CONTABILIDADE EIRELI e que tal empresa teria prestado

serviços à Câmara pelo período de três meses, no valor de RS 7.070,00 (sete mil e setenta

reais), sendo que, por tal razão, não haveria se falar em licitação, pois o serviço prestado

contabilizava valor inferior a R$ 8.000,00 (oito mil reais), teto de dispensa permitido pela Lei

8.666/93. No entanto, a Câmara não comprovou, por meio da apresentação do contrato ou

do ato administrativo que autorizou a dispensa de licitação, que o contrato, de fato, se deu

2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

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por três meses, bem como os demais requisitos ensejadores de dispensa como, por exemplo,

"notória especialização" da prestadora de serviços.

Nota-se, no presente caso, que houve uma tentativa fraudulenta, por parte da

Câmara Municipal, de burlar uma das cláusulas do TAC, mantendo em seu quadro de

funcionários a servidora CRISTIANE MARTINS DE AGUIAR, parente em Io grau do vereador

WEDER JALES JOSÉ DE AGUIAR, sob o argumento de que esta é funcionária terceirizada, bem

como que o contrato firmado com a referida empresa terceirizada é válido perante o disposto

na Lei de Licitações (Lei 8.666/93).

Ao manter CRISTIANE MARTINS DE AGUIAR em seu quadro de

servidores, a Câmara Municipal deixou de cumprir os itens 2.1 (o qual

impunha a exoneração da referida servidora), o item 2.3 (não nomear,

servidores em situação de nepotismo, salvo em virtude de aprovação em

concurso público) e o item 2.8 (comprovar, por meio de documentos, o

cumprimento do disposto no item 2.1).

Frisa-se, mais uma vez que, como se não bastasse o descumprimento do acordo

no que tange à não contratação de servidores em situação de nepotismo, o Executado

demonstrou a clara intenção de fraudar os termos estipulados no TAC, ao tentar

forçosamente justificar que a servidora Cristiane é mera prestadora de serviços da

empresa de contabilidade, contratada de maneira terceirizada, sem procedimento

licitatório e sem ato administrativo que justificasse a dispensa de licitação.

Além disso, verifica-se um claro prejuízo ao erário municipal, uma vez que ao

firmar contrato sem licitação, a Câmara Municipal pode ter onerado em excessivo o orçamento

da Casa Legislativa, obstando a oportunidade de demais prestadoras de serviço de mesma

natureza, a disponibilizarem melhor oferta de preços.

O executado apresentou justificativa inaceitável e genérica. Além do mais,

sequer encaminhou cópia do contrato firmado com a referida empresa, ou do ato

administrativo que autorizou a dispensa da licitação, o que demonstra sua clara intenção em

não cumprir o que fora pactuado no TAC. Tanto é assim, que jamais apresentou a pessoa

que iria substituir Cristiane em suas funções, conforme afirmou à fl. 25. nem justificou

2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

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fato superveniente que tenha impossibilitado a contratação de qualquer pessoa apta à

realização das funções afetas à área contábil da Casa Legislativa.

Vale ponderar, que o Executado só se deu ao trabalho de dizer que:

"1) Que CRISTIANE MARTINS DE AGUIAR e prestadora de serviço daEmpresa NGS CONTABILIDADE EIRELI.

2) Que a empresa NGS CONTABILIDADE EIRELI prestou serviço paraa Câmara Municipal de Aragoiânia no período de 3 meses no valor de7.070,00 (sete mil e setenta reais) como comprova xerox das notasfiscais, dos meses de agosto, setembro e outubro, é a Lei 8.666/93para processo licitatório o valor tem que ser acima de R$ 8.000,00(oito mil reais) anual, dessa forma este serviço não necessitava delicitação.

3) Não a de se falar em situação de fraude se todas as exigênciassolicitadas foram cumpridas." (sic) (fl. 68)

0 Executado, como se extrai do texto acima, se coloca como se não tivesse

qualquer responsabilidade frente à contratação de parente de vereador, de forma totalmente

irregular (empresa terceirizada contratada sem o devido procedimento licitatório), em

flagrante fraude no cumprimento das cláusulas que impunham obrigação de fazer e não fazer,

firmadas no TAC assinado com o Ministério Público em procedimento extrajudicial.

II. DO DIREITO

É cediço que o Parquet é o guardião, por excelência, dos interesses

metaindividuais, por determinação constitucional e legal. Por ser dotado de tal

responsabilidade, o legislador conferiu-lhe a prerrogativa de elaborar termos de ajuste de

conduta, com preceitos cominatórios que lhe assegurem o total cumprimento.

Ora, se o Ministério Público é o responsável pela elaboração de referidos

compromissos, que são dotados de força executiva, também será responsável pela execução

de tais títulos, consectário processual natural desta espécie de transação.

O termo de ajuste de conduta é celebrado para se evitar demanda judicial

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cognitiva, via ação civil pública. Assim, em caso de inadímpiemento de seus exatos termos,

resta claro que a via judicial própria é a execução.

É consabido que o Termo de Ajustamento de Conduta representa um título

executivo extrajudicial, nos termos do art. 5o, §6°, da Lei n° 7.347/1985:

Art. 5°

(...)

§6°. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados

compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais,

mediante cominações, que terá eficácia de título executivo

extrajudicial.

A propósito, acerca do assunto, eis a lição de José Marcelo Menezes Vigliar, verbis:

Na Lei 7.347/85, a transação recebe um termo que lhe é mais

apropriado, qual seja, compromisso de ajustamento. Na realidade,

carece de complemento a expressão, eis que, consoante o art. 113 da

lei n° 8.078/90, que determinou a inserção do § 6o (entre outros) no

art. 5o da Lei 7.347/85, trata-se de compromisso de ajustamento de

conduta às exigências legais, havendo uma evidente vantagem: o

compromisso de ajustamento terá eficácia de título executivo

extrajudicial. A não observância de seus termos enseja o ajuizamento

de ação executiva pelo compromitente em face do compromissário,

dispensando o processo de conhecimento, que teria por objetivo,

justamente, a formação de um titulo executivo (judicial) para ensejar

futuro processo de execução (in Análise da lei da Ação Civil Pública,

São Paulo: Ed. Atlas, 1998, 2a ed., pág.88).

2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

de Guapo. Fórum Local, Guapó/GO.

Tel, (62, 3552-2981, MSMB2///

Tal título, se torna exeqüível nos termos do art. 786, caput, o qual dispõe que

"a execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e

exigivel consubstanciada em título executivo."

Deste modo, havendo título executivo exigivel, líquido e certo, e demonstrado

cabalmente por parte do Executado o não cumprimento das obrigações estipuladas, outra

alternativa não resta senão a sua execução forçada, para que o Judiciário possa compelir o

Executado a praticar todos os atos pelos quais se obrigou quando da assinatura do TAC com

o Ministério Público.

Diante do contexto fático narrado acima, e já decorrido o prazo estipulado para

o cumprimento das obrigações assumidas no TAC, não resta outra alternativa ao Parquet, na

condição de tomador do compromisso de ajustamento de conduta, senão executar o

respectivo título, mormente porque flagrante o desrespeito aos princípios constitucionais da

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

É interessante ressaltar, por oportuno, que o respectivo TAC prevê, em sua

cláusula 03, que "o descumprimento de qualquer dos termos das cláusulas do presente Termo

de Ajustamento de Conduta resultará na aplicação de MULTA no valor de R$ 1.000,00 (mil

reais) por dia de atraso, no que tange às obrigações de fazer, e por dia de manutenção de

conduta irregular, no que tange às obrigações de não fazer."

Outrossim, a cláusula 07 dispõe que "o descumprimento de qualquer das

obrigações aqui assumidas pelo COMPROMISSARIO (Presidente da Câmara Municipal doMunicípio de Aragoiânia/GO), nos prazos especificados, implicará no pagamento da multa

extrajudicial estipulada, a qual deverá ser recolhida em favor do Fundo Especial de

Modernização e Aprimoramento Funcional do Ministério Público de Goiás (FUNEMP-GO),

conforme disposição contida no art. 2o, V, da Lei Estadual n° 14.909/2004."

Conforme relatado acima, os itens 2.1, 2.3 e 2.8, da cláusula 02, do analisado

Termo de Ajustamento de Conduta foram visivelmente desrespeitados pelo

COMPROMISSARIO.

2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova

de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO.Tel •(62) 3552-2981) Minlsterio Pub,iÇ°i ei., (oz) csdo^ zvo i j do Estado de Go,ás

III. DOS PEDIDOS

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Ao teor do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO requer:

a) seja a presente ação recebida, autuada e processada na forma legal;

b) a comunicação pessoal dos atos processuais, nos termos do art. 270, parágrafo único, do

Código de Processo Civil, e do art. 41, inc. IV, da Lei 8.625/93;

c) a citação do Presidente da Câmara de Vereadores de Aragoiânia, RAIMUNDO LOPES

RAMOS, acima qualificado, a fim de que, no prazo a ser assinalado por Vossa Excelência,

satisfaça, integralmente, as obrigações de fazer e não fazer, no seguinte sentido:

c.l) suspender o contrato com a empresa NGS CONTABILIDADE EIRELI, uma

vez que tem como única prestadora de serviços a pessoa de CRISTIANE MARTINS

DE AGUIAR, o que importa em descumprimento do ajuste firmado no item 2.1 do

TAC (OBRIGAÇÃO DE FAZER);

c.2) não admitir, não manter admitido, não contratar e não nomear, diretamente

ou por meio de empresa, para o exercício de qualquer função pública perante o

Legislativo Municipal, salvo em virtude de aprovação em concurso público,

parentes consanguíneos, em linha reta e colateral ou por afinidade, até o terceiro

grau de quaisquer dos Vereadores (OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER);

c.3) demonstrar, por meio de documentos, em prazo fixado por Vossa Excelência,

o cumprimento dos itens c.l e c.2, acima, ora pleiteados;

d) Independentemente da multa pessoal e diária cominada pela cláusula 03 do TAC - devida

desde o dia 01/07/2017, - seja fixada, a critério de Vossa Excelência, nos termos do artigo

814 do CPC, penalidade por dia de atraso no cumprimento da obrigação, a ser fixada em

moeda corrente, a qual deverá ser recolhida em favor do Fundo Especial de Modernização e

Aprimoramento Funcional do Ministério Público de Goiás (FUNEMP-GO), conforme disposição

contida no art. 2o, V, da Lei Estadual n° 14.909/2004.;

2a Promotoria de Justiça cia Comarca de Guapo/GO ^F ^FÉjPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova ^M ^m ^g

de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO. _,...TohowíOQRii Ministério PublicoTel.. (62) 3552-2981) do Estado de Gojás

e) A condenação do executado ao pagamento de todas as despesas processuais;

f) Que as diligências sejam favorecidas pelo artigo 212, § 2o, do CPC;

g) Ao final, cumpridas todas as obrigações de fazer e não fazer do executado, e ouvidas as

partes, seja julgada procedente a execução.

Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para fins legais.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Guapo, 31 de janeiro de 2018.

WESLEY MARQUES BRANQUINHO

Promotor de Justiça