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2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova
de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO.Tel.: (62) 3552-2981)
Ministério Público Ido Estado de Goiás [
EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA COMARCA DE GUAPO
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça
infra-assinado, com arrimo no art. 129, inciso III, da Constituição Federal e art. 26 da Lei
Orgânica do Ministério Público (Lei n° 8.625/93), bem como nos arts. 786, caput, 798, I, "a"
e "c", 814 e 822, do Código de Processo Civil, e, ainda, com fulcro no TERMO DE
COMPROMISSO E AJUSTAMENTO DE CONDUTA anexo, vem, respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, propor
AÇÃO DE EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER COM
PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA POR DESCUMPRIMENTO
em face de
CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES DE ARAGOIÂNIA, inscrita
no CNPJ sob o n° 04.224.907/0001-95, com sedena Praça Santa Luzia,
Qd. 28, Lt. 01, Centro, Aragoiânia/GO, representada por seu
Presidente, vereador RAIMUNDO LOPES RAMOS, brasileiro, casado,
parlamentar, inscrito no CPF n° 101.155.951-04, com endreço na
Avenida Alfredo Nasser,n° 805, Centro, Aragoiânia/GO
Pelos seguintes fatos e fundamentos.
2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova
de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO.Tel.: (62) 3552-2981)
Ministério Público Ido Estado de Goiás |
I. DOS FATOS
1.1) DO TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA FIRMADO ENTRE A CÂMARA
MUNICIPAL DE ARAGOIÂNIA E O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
Em 02 de junho de 2017, a Câmara Municipal de Aragoiânia, representada por
seu Vereador Presidente, Sr. RAIMUNDO LOPES RAMOS, assinou, junto ao MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, Termo de Ajustamento de Conduta - TAC, cujo objeto era
sanar irregularidades na contratação de servidores comissionados, notadamente no que se
referia à prática de nepotismo (vedado pela Súmula Vinculante n° 13 do Supremo Tribunal
Federal) e a ocupação de cargos efetivos por servidores não concursados.
A necessidade de firmar tal compromisso se deu diante das investigações
realizadas nos autos dos Inquéritos Civis Públicos de n° 201700036292 e n° 201700039770,
onde restou comprovada, na prática, a ocorrência das supramencionadas irregularidades.
No referido TAC, foram estipuladas uma série de cláusulas com obrigações de
fazer e não fazer, impostas àquela Casa Legislativa, as quais tinham por finalidade sanar as
situações de irregularidade até então constatadas. Assim, para acompanhar o cumprimento
das cláusulas estipuladas, instaurou-se o competente Procedimento Administrativo de
Acompanhamento n° 201700233423, que segue anexo a esta exordial, como peça
informativa, em cujo conteúdo está inserido, em sua integralidade, o teor do TAC formalizado.
Segundo consta da cláusula 02 do TAC firmado, a Administração do Poder
Legislativo do Município de Aragoiânia assumiu as seguintes obrigações:
"2.1) Compromete-se que, até o dia 01 de julho de 2017, exonerará
CRISTIANE MARTINS DE AGUIAR, JÚLIO CÉSAR GOMES, ADJANE DE
OLIVEIRA SILVA e DIMAS ANTUNES RIBEIRO, pelos motivos expostos
nos "Considerandos 01, 02, 03 e 04" (OBRIGAÇÃO DE FAZER);
2.2) Compromete-se a fundamentar os atos de exonerações, aludindo
aos seguintes motivos: celebração de Termo de Ajustamento de
Conduta com o Ministério Público Estadual - 2a Promotoria de Justiça
da Comarca de Guapo, objetivando coibir a prática de nepotismo que
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2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova
de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO. TZT.JTÍ n^.,TPl-fS? 3552 29811 Ministério Publicolei.. (b2) ább2-2W\) d0 Estad0 de Go!ás
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afetem aos princípios da moralidade e da impessoalidade, em
obediência à fundamentação da Súmula Vinculante n° 13 - STF, bem
como exercer a autotutela para combater o provimento irregular de
cargo efetivo (OBRIGAÇÃO DE FAZER);
2.3) Compromete-se, desde já, a não admitir, não manter admitido,
não contratar e não nomear para o exercício de qualquer função pública
perante o Legislativo Municipal, salvo em virtude de aprovação em
concurso público, parentes consanguíneos, em linha reta e colateral ou
por afinidade, até o terceiro grau de qualquer dos Vereadores
(OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER);
2.4) Compromete-se a apresentar, até 01 de novembro de 2017,
projeto de lei que proíba, no âmbito da Câmara Municipal de
Aragoiânia/GO, o exercício de função pública, na forma comissionada,
em situações de nepotismo ou próprias de cargos de provimento
efetivo (art. 48, IX e X, da CF/88, sob o princípio da simetria)
(OBRIGAÇÃO DE FAZER);
2.5) Compromete-se a enviar ao Prefeito do Município de
Aragoiânia/GO, até 01 de novembro de 2017, mensagem sugerindo a
elaboração e envio, à Câmara Municipal, de projeto de lei que proíba,
no âmbito da Administração Municipal, o exercício de função pública
em cargo comissionado nas situações de nepotismo ou próprias de
cargos de provimento efetivo (art. 61, §1°, II, a, da CF/88, sob o
princípio da simetria) (OBRIGAÇÃO DE FAZER);
2.6) Compromete-se, desde já, a não admitir, não manter admitido,
não contratar e não nomear, em comissão, para o exercício de
qualquer função pública própria de cargo de provimento efetivo
(concurso público de provas ou de provas e títulos) (OBRIGAÇÃO DE
NÃO FAZER);
2.7) Compromete-se, até 01 de julho de 2017, apresentar, mediante
cópia, o inteiro teor do presente Termo de Compromisso de
2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova
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Ajustamento de Conduta a todos os Vereadores do Município de
Aragoiânia/GO., em sessão pública (OBRIGAÇÃO DE FAZER);
2.8) Compromete-se, até 15 de julho de 2017, comunicar à 2a
Promotoria de Justiça da Comarca de Guapo sobre o efetivo
cumprimento das Cláusulas 2.1 e 2.2 deste Termo de Ajustamento de
Conduta, mediante a apresentação de cópias das publicações
referentes aos atos de exonerações (OBRIGAÇÃO DE FAZER);
2.9) Compromete-se, até 15 de julho de 2017, comunicar à 2a
Promotoria de Justiça da Comarca de Guapo sobre o efetivo
cumprimento da Cláusula 2.7 deste Termo de Ajustamento de
Conduta, mediante a apresentação de cópia da Ata da Sessão
(OBRIGAÇÃO DE FAZER);
2.10) Compromete-se, até 15 de julho de 2017, comunicar à 2a
Promotoria de Justiça da Comarca de Guapo sobre o efetivo
cumprimento das Cláusulas 2.4 e 2.5 deste Termo de Ajustamento de
Conduta, mediante a apresentação de cópias do projeto de lei e da
mensagem ao Prefeito, devidamente protocoladas no órgão
destinatário (OBRIGAÇÃO DE FAZER);
2.11) Compromete-se, até 15 de julho de 2017, comunicar à 2a
Promotoria de Justiça da Comarca de Guapo sobre a exoneração de
KARINA RODRIGUES TERRA, tendo em vista que ocupa o cargo efetivo
de Auxiliar de Serviços Gerais (Lei n° 996/2014), mas na forma
comissionada, justificando na forma do item 2.2;" (fls. 08/10).
Em caso de eventual descumprimento das obrigações firmadas, restou
estabelecido o seguinte:
"CLÁUSULA 03: O descumprimento de qualquer dos termos das
cláusulas do presente Termo de Ajustamento de Conduta resultará na
aplicação de MULTA no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) por dia de
2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova
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atraso, no que tange às obrigações de fazer, e por dia de manutenção
de conduta irregular, no que tange às obrigações de não fazer.
CLÁUSULA 04: Ovalor da multa será atualizado pelo INPC/IBGE (índice
Nacional de Preços ao Consumidor).
CLÁUSULA 05: Independentemente da execução da multa, o
descumprimento do ajustado importará ao compromissário a
responsabilização por ofensa dolosa aos princípios constitucionais da
impessoalidade e moralidade administrativas, processada por meio da
adequada Ação Civil Pública para anulação dos atos administrativos
irregulares apontados nos "considerandos" 01 a 04, bem como
responsabilização das pessoas envolvidas;
CLÁUSULA 06: As questões decorrentes deste Compromisso serão
dirimidas no foro da Comarca em que esteja inserido o Município de
Aragoiânia/GO;
CLÁUSULA 07: O descumprimento de qualquer das obrigações aqui
assumidas pelo COMPROMISSÁRIO (Presidente da Câmara Municipal
do Municípiode Aragoiânia/GO), nos prazos especificados, implicará no
pagamento da multa extrajudicial estipulada, a qual deverá ser
recolhida em favor do Fundo Especial de Modernização e
Aprimoramento Funcional do Ministério Público de Goiás (FUNEMP-
GO), conforme disposição contida no art. 2o, V, da Lei Estadual n°
14.909/2004." (fls. 10/11).
Por fim, ainda extraímos que:
"CLÁUSULA 08: A fiscalização do avençado ficará a cargo do Ministério
Público do Estado de Goiás, por meio da 2a Promotoria de Justiça da
Comarca de Guapo (art. 51, parágrafo único, da Res. 011/2014 - CPJ).
CLÁUSULA 09: Este Termo de Ajustamento de Conduta consubstancia
título executivo extrajudicial, nos termos do artigo 5o, §6°, da Lei
Federal n° 7.347/1985 e do art. 49, §1°, da Resolução n° 11/2014 do
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Colégio de Procuradores de Justiça do Ministério Público do Estado de
Goiás, valendo por tempo indeterminado.
As partes signatárias convencionam que o presente Termo de
Compromisso tem eficácia a partir desta data, nos termos do art. 49,
§1°, da Resolução n° 11/2014 do Colégio de Procuradores de Justiça
do Ministério Público do Estado de Goiás."(fl. 11).
1.2) DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES DO TAC
Chegado o momento para comprovação do cumprimento das cláusulas do TAC,
a Câmara Municipal de Aragoiânia formulou pedido, à fl. 25, de dilação de prazo para a
exoneração da servidora CRISTIANE MARTINS DE AGUIAR ao argumento de que "a pessoa
que vai ocupar a vaga dela só pode começar exercer a sua função a partir do dia
01/08/2017", sendo que tal pedido foi reiterado à fl. 27.
Assim, depois de ponderar a questão, tendo como pressuposto a boa-fé e
razoabilidade, o Ministério Público, buscando dirimir a questão da melhor forma a não gerar,
com excessivo rigor, óbice ao andamento dos serviços essenciais da Administração, concedeu
novo prazo para que houvesse tempo hábil para substituição da servidora CRISTIANE.
Em momento posterior, juntou-se a portaria de exoneração de CRISTIANE
MARTINS DE AGUIAR, em aparente cumprimento integral do item 2.1 (fls. 50/51), uma vez
que os demais servidores apontados no item 2.1, já haviam sido exonerados (ADJANE DE
OLIVEIRA (fls. 33/34), JÚLIO CÉSAR GOMES (fls.36/37), DIMAS ANTUNES RIBEIRO
(fls.39/40) e KARINA RODRIGUES TERRA (fls. 42/43).
Após tentar demonstrar que teria cumprido com todos os termos do TAC, a
Câmara Municipal, por intermédio de seu Presidente (Raimundo Lopes Ramos), se
manifestou nos autos "encerrando as obrigações de fazer e não fazer, dispostas no Termo de
Ajustamento de Conduta -TAC, de 02 de junho de 2017, (cláusula 2.10 - "Compromete-se
até 15 de novembro de 2017, comunicar à 2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapo
sobre o efetivo cumprimento das Cláusulas 2.4 e 2.5 deste Termo de Ajustamento de
Conduta, mediante a apresentação de cópias do Projeto de Lei e da mensagem ao Prefeito,
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devidamente protocoladas no órgão (OBRIGAÇÃO DEFAZER), firmado entre o Representante
da Câmara Municipalde Aragoiânia, Raimundo Lopes Ramos e o Representante do Ministério
Público do Estado de Goiás, Dr. Wesley Marques Branquinho, Promotor de Justiça da Comarca
de Guapó-go., a Indicação n° 001/2017, de 13 de setembro de 2017, (Protocolada na
Prefeitura Municipal de Aragoiânia em 27 de setembro de 2017, conf. Oficio n° 058/2017 e o
Projeto de Resolução n° 001-A/2017, de 13 de setembro de 2017. Ambas aprovadas dentro
das normas regimentais por esta Câmara Municipal de Aragoiânia". (fl. 54) Requisitou, por
fim, o encerramento do TAC.
Ocorre que antes que se pudesse concluir pelo cumprimento de todas as
obrigações firmadas do ajuste, chegou ao conhecimento da 2a Promotoria de Justiça de
Guapo, a denúncia de que a filha do vereador Weder Jales José de Aguiar, a servidora
exonerada Cristiane Martins de Aguiar, permanecia prestando serviços à Câmara Municipal
de Aragoiânia. por intermédio de empresa terceirizada, contratada sem o devido
procedimento licitatório, numa tentativa de fraudar o que fora estipulado no TAC firmado
entre a Câmara Municipal e o Ministério Público.
Diante dos novos fatos, o Ministério Público oficiou ao Presidente da Câmara
Municipal de Aragoiânia para informar se Cristiane Martins de Aguiar se mantinha
prestando serviços à Câmara Municipal, em situação de fraude. Também, expediu-se ordem
de serviço ao Oficial de Promotoria para que verificasse se Cristiane prestava serviços junto
àquela Câmara.
À fl. 66, o Oficial de Promotoria certificou que Cristiane Martins de Aguiar
presta serviços à Câmara Municipal de Aragoiânia de forma terceirizada.
Á fl. 68, a Câmara Municipal de Aragoiânia, sob a presidência do Vereador
Raimundo Lopes Ramos, informou que Cristiane Martins de Aguiar é prestadora de
serviços da Empresa NGS CONTABILIDADE EIRELI e que tal empresa teria prestado
serviços à Câmara pelo período de três meses, no valor de RS 7.070,00 (sete mil e setenta
reais), sendo que, por tal razão, não haveria se falar em licitação, pois o serviço prestado
contabilizava valor inferior a R$ 8.000,00 (oito mil reais), teto de dispensa permitido pela Lei
8.666/93. No entanto, a Câmara não comprovou, por meio da apresentação do contrato ou
do ato administrativo que autorizou a dispensa de licitação, que o contrato, de fato, se deu
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por três meses, bem como os demais requisitos ensejadores de dispensa como, por exemplo,
"notória especialização" da prestadora de serviços.
Nota-se, no presente caso, que houve uma tentativa fraudulenta, por parte da
Câmara Municipal, de burlar uma das cláusulas do TAC, mantendo em seu quadro de
funcionários a servidora CRISTIANE MARTINS DE AGUIAR, parente em Io grau do vereador
WEDER JALES JOSÉ DE AGUIAR, sob o argumento de que esta é funcionária terceirizada, bem
como que o contrato firmado com a referida empresa terceirizada é válido perante o disposto
na Lei de Licitações (Lei 8.666/93).
Ao manter CRISTIANE MARTINS DE AGUIAR em seu quadro de
servidores, a Câmara Municipal deixou de cumprir os itens 2.1 (o qual
impunha a exoneração da referida servidora), o item 2.3 (não nomear,
servidores em situação de nepotismo, salvo em virtude de aprovação em
concurso público) e o item 2.8 (comprovar, por meio de documentos, o
cumprimento do disposto no item 2.1).
Frisa-se, mais uma vez que, como se não bastasse o descumprimento do acordo
no que tange à não contratação de servidores em situação de nepotismo, o Executado
demonstrou a clara intenção de fraudar os termos estipulados no TAC, ao tentar
forçosamente justificar que a servidora Cristiane é mera prestadora de serviços da
empresa de contabilidade, contratada de maneira terceirizada, sem procedimento
licitatório e sem ato administrativo que justificasse a dispensa de licitação.
Além disso, verifica-se um claro prejuízo ao erário municipal, uma vez que ao
firmar contrato sem licitação, a Câmara Municipal pode ter onerado em excessivo o orçamento
da Casa Legislativa, obstando a oportunidade de demais prestadoras de serviço de mesma
natureza, a disponibilizarem melhor oferta de preços.
O executado apresentou justificativa inaceitável e genérica. Além do mais,
sequer encaminhou cópia do contrato firmado com a referida empresa, ou do ato
administrativo que autorizou a dispensa da licitação, o que demonstra sua clara intenção em
não cumprir o que fora pactuado no TAC. Tanto é assim, que jamais apresentou a pessoa
que iria substituir Cristiane em suas funções, conforme afirmou à fl. 25. nem justificou
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fato superveniente que tenha impossibilitado a contratação de qualquer pessoa apta à
realização das funções afetas à área contábil da Casa Legislativa.
Vale ponderar, que o Executado só se deu ao trabalho de dizer que:
"1) Que CRISTIANE MARTINS DE AGUIAR e prestadora de serviço daEmpresa NGS CONTABILIDADE EIRELI.
2) Que a empresa NGS CONTABILIDADE EIRELI prestou serviço paraa Câmara Municipal de Aragoiânia no período de 3 meses no valor de7.070,00 (sete mil e setenta reais) como comprova xerox das notasfiscais, dos meses de agosto, setembro e outubro, é a Lei 8.666/93para processo licitatório o valor tem que ser acima de R$ 8.000,00(oito mil reais) anual, dessa forma este serviço não necessitava delicitação.
3) Não a de se falar em situação de fraude se todas as exigênciassolicitadas foram cumpridas." (sic) (fl. 68)
0 Executado, como se extrai do texto acima, se coloca como se não tivesse
qualquer responsabilidade frente à contratação de parente de vereador, de forma totalmente
irregular (empresa terceirizada contratada sem o devido procedimento licitatório), em
flagrante fraude no cumprimento das cláusulas que impunham obrigação de fazer e não fazer,
firmadas no TAC assinado com o Ministério Público em procedimento extrajudicial.
II. DO DIREITO
É cediço que o Parquet é o guardião, por excelência, dos interesses
metaindividuais, por determinação constitucional e legal. Por ser dotado de tal
responsabilidade, o legislador conferiu-lhe a prerrogativa de elaborar termos de ajuste de
conduta, com preceitos cominatórios que lhe assegurem o total cumprimento.
Ora, se o Ministério Público é o responsável pela elaboração de referidos
compromissos, que são dotados de força executiva, também será responsável pela execução
de tais títulos, consectário processual natural desta espécie de transação.
O termo de ajuste de conduta é celebrado para se evitar demanda judicial
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cognitiva, via ação civil pública. Assim, em caso de inadímpiemento de seus exatos termos,
resta claro que a via judicial própria é a execução.
É consabido que o Termo de Ajustamento de Conduta representa um título
executivo extrajudicial, nos termos do art. 5o, §6°, da Lei n° 7.347/1985:
Art. 5°
(...)
§6°. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais,
mediante cominações, que terá eficácia de título executivo
extrajudicial.
A propósito, acerca do assunto, eis a lição de José Marcelo Menezes Vigliar, verbis:
Na Lei 7.347/85, a transação recebe um termo que lhe é mais
apropriado, qual seja, compromisso de ajustamento. Na realidade,
carece de complemento a expressão, eis que, consoante o art. 113 da
lei n° 8.078/90, que determinou a inserção do § 6o (entre outros) no
art. 5o da Lei 7.347/85, trata-se de compromisso de ajustamento de
conduta às exigências legais, havendo uma evidente vantagem: o
compromisso de ajustamento terá eficácia de título executivo
extrajudicial. A não observância de seus termos enseja o ajuizamento
de ação executiva pelo compromitente em face do compromissário,
dispensando o processo de conhecimento, que teria por objetivo,
justamente, a formação de um titulo executivo (judicial) para ensejar
futuro processo de execução (in Análise da lei da Ação Civil Pública,
São Paulo: Ed. Atlas, 1998, 2a ed., pág.88).
2a Promotoria de Justiça da Comarca de Guapó/GOPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova
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Tel, (62, 3552-2981, MSMB2///
Tal título, se torna exeqüível nos termos do art. 786, caput, o qual dispõe que
"a execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e
exigivel consubstanciada em título executivo."
Deste modo, havendo título executivo exigivel, líquido e certo, e demonstrado
cabalmente por parte do Executado o não cumprimento das obrigações estipuladas, outra
alternativa não resta senão a sua execução forçada, para que o Judiciário possa compelir o
Executado a praticar todos os atos pelos quais se obrigou quando da assinatura do TAC com
o Ministério Público.
Diante do contexto fático narrado acima, e já decorrido o prazo estipulado para
o cumprimento das obrigações assumidas no TAC, não resta outra alternativa ao Parquet, na
condição de tomador do compromisso de ajustamento de conduta, senão executar o
respectivo título, mormente porque flagrante o desrespeito aos princípios constitucionais da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
É interessante ressaltar, por oportuno, que o respectivo TAC prevê, em sua
cláusula 03, que "o descumprimento de qualquer dos termos das cláusulas do presente Termo
de Ajustamento de Conduta resultará na aplicação de MULTA no valor de R$ 1.000,00 (mil
reais) por dia de atraso, no que tange às obrigações de fazer, e por dia de manutenção de
conduta irregular, no que tange às obrigações de não fazer."
Outrossim, a cláusula 07 dispõe que "o descumprimento de qualquer das
obrigações aqui assumidas pelo COMPROMISSARIO (Presidente da Câmara Municipal doMunicípio de Aragoiânia/GO), nos prazos especificados, implicará no pagamento da multa
extrajudicial estipulada, a qual deverá ser recolhida em favor do Fundo Especial de
Modernização e Aprimoramento Funcional do Ministério Público de Goiás (FUNEMP-GO),
conforme disposição contida no art. 2o, V, da Lei Estadual n° 14.909/2004."
Conforme relatado acima, os itens 2.1, 2.3 e 2.8, da cláusula 02, do analisado
Termo de Ajustamento de Conduta foram visivelmente desrespeitados pelo
COMPROMISSARIO.
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III. DOS PEDIDOS
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Ao teor do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO requer:
a) seja a presente ação recebida, autuada e processada na forma legal;
b) a comunicação pessoal dos atos processuais, nos termos do art. 270, parágrafo único, do
Código de Processo Civil, e do art. 41, inc. IV, da Lei 8.625/93;
c) a citação do Presidente da Câmara de Vereadores de Aragoiânia, RAIMUNDO LOPES
RAMOS, acima qualificado, a fim de que, no prazo a ser assinalado por Vossa Excelência,
satisfaça, integralmente, as obrigações de fazer e não fazer, no seguinte sentido:
c.l) suspender o contrato com a empresa NGS CONTABILIDADE EIRELI, uma
vez que tem como única prestadora de serviços a pessoa de CRISTIANE MARTINS
DE AGUIAR, o que importa em descumprimento do ajuste firmado no item 2.1 do
TAC (OBRIGAÇÃO DE FAZER);
c.2) não admitir, não manter admitido, não contratar e não nomear, diretamente
ou por meio de empresa, para o exercício de qualquer função pública perante o
Legislativo Municipal, salvo em virtude de aprovação em concurso público,
parentes consanguíneos, em linha reta e colateral ou por afinidade, até o terceiro
grau de quaisquer dos Vereadores (OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER);
c.3) demonstrar, por meio de documentos, em prazo fixado por Vossa Excelência,
o cumprimento dos itens c.l e c.2, acima, ora pleiteados;
d) Independentemente da multa pessoal e diária cominada pela cláusula 03 do TAC - devida
desde o dia 01/07/2017, - seja fixada, a critério de Vossa Excelência, nos termos do artigo
814 do CPC, penalidade por dia de atraso no cumprimento da obrigação, a ser fixada em
moeda corrente, a qual deverá ser recolhida em favor do Fundo Especial de Modernização e
Aprimoramento Funcional do Ministério Público de Goiás (FUNEMP-GO), conforme disposição
contida no art. 2o, V, da Lei Estadual n° 14.909/2004.;
2a Promotoria de Justiça cia Comarca de Guapo/GO ^F ^FÉjPraça João Rassi, n° 87, Qd. 35, Conjunto Cidade Nova ^M ^m ^g
de Guapo, Fórum Local, Guapó/GO. _,...TohowíOQRii Ministério PublicoTel.. (62) 3552-2981) do Estado de Gojás
e) A condenação do executado ao pagamento de todas as despesas processuais;
f) Que as diligências sejam favorecidas pelo artigo 212, § 2o, do CPC;
g) Ao final, cumpridas todas as obrigações de fazer e não fazer do executado, e ouvidas as
partes, seja julgada procedente a execução.
Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para fins legais.
Nesses termos,
Pede deferimento.
Guapo, 31 de janeiro de 2018.
WESLEY MARQUES BRANQUINHO
Promotor de Justiça