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2013 / 2014 Oficinas de Formação Escola Secundária Azambuja Escola Secundária Cartaxo Quando do Livro brotam as Imagens e as letras se apagam … OFICINAS DE FORMAÇÃO

Ação Dislexia

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Page 1: Ação Dislexia

2013 / 2014

Oficinas de Formação

Escola Secundária Azambuja

Escola Secundária

Cartaxo

Quando do Livro

brotam as Imagens e

as letras se apagam …

OFICINAS DE FORMAÇÃO

Page 2: Ação Dislexia

PROJETO ESCOLA INCLUSIVA

A inclusão de alunos com necessidades educativas especiais no ensino

regular apresenta-se como mais um desafio para toda a comunidade educativa.

A criação de condições que permitam responder a este desafio implica uma

formação contínua e atualizada dos profissionais da educação, em que se

inclui ainda a utilização eficiente das novas tecnologias de informação e de

apoio, no contexto de sala de aula/educação especial.

Esta é uma síntese dos trabalhos das duas turmas que participaram nas

Oficinas de Formação realizadas sob o tema: “INTERVENÇÃO E REEDUCAÇÃO

PEDAGÓGICA NO ÂMBITO DA DISLEXIA E DISORTOGRAFIA” e que decorreram

nas Escolas Secundárias da Azambuja e do Cartaxo, promovidas pelo Centro

de Formação da Associação de Escolas da Lezíria Oeste, com o apoio da

Fundação Calouste Gulbenkian.

Judite Frazão Diretora do Centro de Formação Lezíria-Oeste

(Associação de Escolas dos Concelhos de Azambuja, Cartaxo e Rio Maior)

Page 3: Ação Dislexia

Índice

1. Ser Disléxico ................................................................................................ 6

2. Dislexia – o que se sabe e o que se investiga…. ........................................ 7

3. As dificuldades - Porque Eu SEI ...apesar de não conseguir !!! ................. 10

4. Dificuldades do foro emocional .................................................................. 13

5. As preocupações dos pais e dos docentes, quanto ao diagnóstico / apoio 14

6. Dislexia – Um desafio aos Docentes ….e às Escolas. .............................. 18

7. Dislexia – Percursos e Materiais… em construção! ................................... 19

8. Dislexia – E agora? .................................................................................... 35

9. Fontes de Consulta .................................................................................... 37

Bibliográficas ............................................................................................................... 37

Webgrafia .................................................................................................................... 38

10. Anexos ....................................................................................................... 39

Trabalhos realizados pelos formandos: ...................................................................... 39

Ligações para outros trabalhos dos formandos: ........................................................ 40

Formandos participantes na elaboração dos conteúdos: .......................................... 40

Page 4: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 4 de 41

Nota Introdutória

Dificuldade é o que

surge logo que se fala de

Dislexia, mas há que

conhecer o outro lado e a

título de exemplo, surgem-

nos alguns nomes que nos

são familiares pela

criatividade, espírito

empreendedor, inteligência

prática e persistência em

alcançar o que alguns recusaram ser possível – ALBERT EINSTEIN, HANS

CHRISTIAN ANDERSEN, LEONARDO DA VINCI, MOZART, JULIO VERNE, PABLO

PICASSO, AGATHA CHRISTIE, STEVEN SPEILBERG, TOM CRUISE, BILL GATES -

entre tantos outros.

Dons é o que vemos claramente quando olhamos para as Vidas destes

homens e mulheres que deixaram uma marca única ou se fizeram notar pela

diferença em relação aos seus pares.

“Ironicamente, a mudança na perceção que pode ocorrer na dislexia é

exatamente o mecanismo que os disléxicos utilizam para reconhecer objetos

na vida real e eventos no seu envolvimento. E fazem-no melhor do que outras

crianças da mesma idade, muito antes de começarem a aprender a ler” (Cruz,

2000). De facto, estas crianças podem manifestar muitas outras características,

tais como:

Elevada consciência do seu envolvimento

São mais curiosas do que a maioria das outras crianças

São altamente intuitivas e perspicazes

Pensam principalmente através de imagens e não de palavras

Pensam e percebem de um modo multidimensional, pois usam todos os

sentidos com muita acuidade

Podem controlar pensamentos, usando-os como realidade

Têm uma imaginação viva

Page 5: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 5 de 41

É claro que ter dislexia não torna génios todos os disléxicos mas é

importante para a autoestima de todos eles, saber que as suas mentes

funcionam de maneira diferente e que podem fazer coisas que a maioria dos

comuns mortais, terão dificuldade ao longo da vida.

Por esta razão, torna-se fulcral uma mudança na perspetiva e análise

destas situações, mudança essa que para existir, exige como primeiro passo

um conhecimento preciso do que é “ter dislexia”.

As reflexões e orientações que se seguem destinam-se a docentes, pais

e outros interessados que procuram saber mais e a melhor forma de ajudar

positivamente os alunos com dislexia.

Ercília Castanheira

(Formadora)

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E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 6 de 41

1. Ser Disléxico

Quando a vergonha se instala e não se sabe o porquê…

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E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 7 de 41

2. Dislexia – o que se sabe e o que se investiga….

As competências da leitura e escrita são

consideradas como objetivos fundamentais de

qualquer sistema educativo, funcionando como um

trampolim para as restantes aprendizagens.

O estudo das dificuldades de leitura e escrita,

em geral e da dislexia, em particular, vem suscitando

desde há muito tempo, o interesse de psicólogos, professores, e outros

profissionais que procuram investigar os fatores implicados no sucesso

educativo e nas dificuldades de aprendizagem.

A Dislexia não reúne o consenso dos vários investigadores, pois alguns

limitam-na às dificuldades específicas ou intrínsecas à pessoa que aprende e

outros, alargam-na às dificuldades gerais ou extrínsecas, tendo em conta a

nossa pesquisa, nem a própria etimologia do termo dislexia é consensual.

Cruz (2007, 205) salienta: “o termo dislexia refere-se a distúrbios na

leitura ou a distúrbios na linguagem”, sendo constituído pelos radicais «dis» e

«lexia»; o primeiro significa distúrbio ou dificuldade, e o segundo significa

leitura no latim e linguagem no grego”. Já Ribeiro & Baptista (2006, 36)

apontam apenas para os radicais gregos, «dys», um mau funcionamento, e

«lexis», tratamento de palavras, o que resultará em “dificuldades de

aprendizagem”.

De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2002), a

palavra dislexia tem origem nas partículas gregas “dús”, que significa

«dificuldade, perturbação» e léksis + ia, que significa «ação de falar, elocução,

léxico», tendo por base o verbo lego - «escolher, reunir, proferir, falar, ler». Na

esteira da Associação Internacional de Dislexia e do National Institute of Child

Health and Human Development – NICHD, surge Shaywitz (2006, 43), que

refere a dislexia como “uma deficiência inerente a um componente específico

do sistema de linguagem: o módulo fonológico”.

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E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 8 de 41

Mas também refere a incapacidade de leitura tendo em conta a passagem do

texto para o seu significado, como ilustra a figura número dois.

A dislexia é extremamente frequente, não tendo porém, os mesmos

valores, em todos os países, porque varia de acordo com a “ consistência

ortográfica” de cada língua. Por exemplo, na Finlândia há menos disléxicos do

que nos países de língua inglesa, dado que no finlandês há uma

correspondência direta entre os sons e as letras, mas o mesmo não sucede

com o inglês. O português tem um grau intermédio de transparência da

ortografia, pelo que as nossas crianças se deparam com dificuldades maiores

no processo de alfabetização do que as crianças espanholas ou finlandesas.

Page 9: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 9 de 41

Os disléxicos têm dificuldade na consciência fonológica, isto é, em

compreender que as palavras são divisíveis ou compostas por sons (fonemas),

como peças de uma construção, e que essas peças são utilizadas na estrutura

de novas palavras. Sendo por vezes o seu maior problema a discriminação

destas unidades mínimas da Língua quando ouvem ou leem uma palavra.

O desenvolvimento da consciência fonológica é muito importante para a

aprendizagem da leitura e da escrita, e é formada antes das crianças iniciarem

a escolaridade, podendo ser trabalhada já no ensino Pré-escolar, através das

brincadeiras da linguagem, como os versos e rimas, trocadilhos, cantigas e

lengalengas. Em Portugal existe um método para trabalhar estes aspetos,

elaborado por Terapeutas da Fala – Método DOLF e que é acessível a ser

trabalhado por outros técnicos como as Educadoras.

Outros autores consideram a dislexia um dom, no mais verdadeiro

sentido da palavra: uma habilidade natural, um talento. Alguma coisa

especial que engrandece o indivíduo. Ronald D. Davis ( 2004) encara a dislexia

através deste novo paradigma: um dom. Em “O Dom da Dislexia” (Ronald D.

Davis, 2004) mostra que o disléxico, com a sua extraordinária habilidade de

pensar, principalmente em imagens, necessita que o ajudem a desenvolver

esse Dom, pois os problemas na escola com a leitura, a escrita, a ortografia,

a matemática, a troca de letras e a lentidão são apenas um dos lados da

dislexia. Assim, ele defende que este transtorno da linguagem e da escrita

pode ser um Dom e apresenta um programa de exercícios que permitem

controlar os efeitos da dislexia.

Com base no progresso das investigações, começa a emergir um

consenso mais abrangente em relação à definição de dislexia: “é uma

perturbação neuro-desenvolvimental, de origem biológica, com impacto no

processamento da linguagem, que envolve uma série de manifestações

clínicas. Existem provas da existência de uma base genética e cerebral e é

evidente que as manifestações se estendem para além dos problemas a nível

da linguagem escrita”

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E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 10 de 41

Mediante um grande esforço, os disléxicos podem aprender a conviver

com as suas dificuldades e, se lhes forem dadas condições para uma

reeducação adequada, irão desenvolver estratégias que compensarão o seu

empenho, facilitando-lhes desse modo, a vida académica.

3. As dificuldades - Porque Eu SEI ...apesar de não conseguir !!!

Os pais, os educadores e os professores são

normalmente os primeiros a perceberem as

dificuldades da criança quer seja na aprendizagem,

quer seja ao nível do comportamento. Algumas

dessas caraterísticas poderão estar presentes num

quadro de dislexia.

Durante a Educação Pré-Escolar, embora não se

possa falar de Dislexia, podem estar presentes

alguns indicadores que os pais e educadores

deverão ter em atenção e que merecem desde logo, uma intervenção

adequada às necessidades da criança, porque mesmo sem saber porquê, a

criança começa a recusar certas tarefas que não consegue realizar tão bem,

como os seus pares e, passa a ficar em desvantagem, em termos do seu

desenvolvimento futuro.

Dificuldades verificadas já no Jardim de Infância

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E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 11 de 41

Já no 1º ciclo do Ensino básico há que prestar particular atenção às

crianças que se atrasam na aquisição dos mecanismos da leitura e escrita logo

no 1º ano de escolaridade, particularmente a partir do 1º período escolar e às

que mantém dificuldades na precisão da leitura, cometendo erros por trocas,

omissões ou outras e mantendo uma velocidade de leitura baixa em relação às

crianças do seu grupo etário e nível de escolaridade.

No prosseguimento de estudos, os alunos com dislexia, dos 2º/3º ciclos,

embora possam atingir notas para irem transitando de ano, tendem a mostrar

cada vez mais desinteresse pela escola, nomeadamente nas tarefas

académicas e por isso, agravar alguns dos problemas que já vinham revelando:

Tendência a apresentação descuidada dos trabalhos/testes/cadernos;

Escrita desordenada e incompreensível e por vezes de tamanho

reduzido;

Nunca gostam de ler em voz alta, perante a turma

Permanência de erros ortográficos: omissões, alterações e adições;

Dificuldade em redigir, planificar ou relatar factos mesmo oralmente;

Grande dificuldade na aprendizagem de línguas estrangeiras;

Dificuldades em executar instruções orais, ou estar atento a períodos

longos de apresentações orais;

Melhoria na compreensão leitora mas insuficiente;

Aversão a atividades de leitura e escrita;

Dificuldades em se

expressar

Confunde

instruções orais

Dificuldades em

saber o alfabeto

e na leitura

Dificuldades na

consciência

fonológica

Dificuldades em

reter informação

oral

Copia mal e com

erros ortográficos

Melhores

resultados na

matemática

Dificuldades na

lateralidade e

orientação espacial

Lentidão na

execução das

tarefas escritas

Page 12: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 12 de 41

Problemas de comportamento e por vezes inibição progressiva nas

aulas.

Por vezes inicia estados depressivos e isola-se mesmo dos amigos e

colegas.

E as dificuldades na maioria das vezes não andam dissociadas de

outras problemáticas, podendo a Dislexia coexistir com:

Disortografia -conjunto de erros da

escrita que afetam a palavra mas

não o seu traçado ou grafia. É a

incapacidade de estruturar

gramaticalmente a linguagem,

podendo manifestar-se no

desconhecimento ou negligência das

regras gramaticais, confusão nos

artículos e pequenas palavras, e

troca de plurais, falta de acentos ou

erros de ortografia em palavras

correntes ou na correspondência

incorreta entre o som e o símbolo

escrito, (omissões, adições,

substituições, etc.)

DISGRAFIA - Perturbação na

componente motora do ato de

escrever, provocando compressão e

cansaço muscular, que por sua vez

são responsáveis por uma caligrafia

deficiente, com letras pouco

diferenciadas, mal elaboradas e mal

proporcionadas, substituições e

alterações nas linhas de base.

Discalculia - dificuldades na leitura, escrita e

compreensão de números ou símbolos, compreensão de

conceitos e regras matemáticas, memorização de factos ou

conceitos ou no raciocínio abstrato. Podem ainda estar

associadas dificuldades em aprender a ver as horas ou lidar

com o dinheiro, memorizar as tabuadas, os meses e dias da

semana e ler dados de uma tabela ou consultar horários.

Page 13: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 13 de 41

4. Dificuldades do foro emocional

E quando ninguém me entende e me consideram “preguiçoso” ???

Perfil emocional de uma criança com dislexia

“Ao longo desta formação, concluímos que a problemática da dislexia acarreta angústias no aluno disléxico e na respetiva família, refletindo-se esta, principalmente, no fraco rendimento escolar. Tomámos consciência que a Dislexia, acarreta igualmente, problemas emocionais e psicossomáticos nos alunos, muitas das vezes, difíceis de diagnosticar e de tratar. Encontramo-nos, agora, mais despertas para o tipo de dificuldades que os alunos encontram ao longo do seu percurso escolar e mais capazes de utilizar materiais didáticos específicos para os alunos com este transtorno.” Docente da turma ES Cartaxo

Fraco rendimento escolar

Insegurança e vergonha do fracasso

Reduzida autoestima

Ansiedade em situações de avaliação

Autoculpabilização

Frustração por não conseguir bons resultados

Alterações no comportamento: problemas psicossomáticos

Défice de atenção

Reduzida motivação e empenho nas atividades

Page 14: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 14 de 41

5. As preocupações dos pais e dos docentes, quanto ao

diagnóstico / apoio

Podemos

suspeitar da presença

da dislexia desde cedo,

principalmente no início

da escolaridade básica,

quando a leitura e escrita são formalmente apresentadas à criança.

Um diagnóstico mais preciso é feito a partir do 2º ano, após dois anos de

aprendizagem da leitura. Mas havendo sinais de dificuldades nas áreas de

linguagem, um atendimento adequado deve ser iniciado logo no Pré-escolar.

Todas as famílias têm, expectativas sobre os seus filhos, assim, ter um

filho que não corresponde ao que dele se espera em termos de resultados

académicos, não é simples. O psicólogo educacional e os técnicos de

educação especial e reabilitação devem em primeiro lugar, confirmar o

diagnóstico e definir as dificuldades que a criança apresenta, para depois, as

trabalhar de forma lúdica, através de materiais atraentes e utilizando técnicas

multissensoriais, “seduzindo” a criança para o mundo da leitura e da escrita.

É competência da equipa multidisciplinar criada para este efeito, nos

agrupamentos de escolas, proceder à realização de uma observação do caso,

na sequência da referenciação (efetuada pelo encarregado de educação ou

outros intervenientes diretos na vida da criança, por exemplo docentes,

psicólogos ou médicos). Esta observação dá obrigatoriamente origem a um

Relatório Técnico-Pedagógico por referência à CIF.

As escolas são autónomas nas suas decisões, desde que as articulem

com o encarregado de educação respetivo. Toda a informação recolhida no

exterior, serve para complementar o processo, mas não é, de todo, vinculativa.

Naturalmente que os órgãos competentes das escolas podem recorrer a

serviços externos para a obtenção de informação que considerem necessária.

Page 15: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 15 de 41

Para perceber um pouco melhor esta organização retirámos um

esquema do livro Educação Especial, manual de apoio à prática, do Ministério

da Educação, bastante elucidativo no que diz respeito aos passos que se dão

quando um aluno é referenciado.

Os alunos com dislexia podem estar ou não ao abrigo de medidas do

Decreto-lei nº3/2008, uma vez que este se aplica a alunos que apresentem

necessidades educativas especiais de caracter permanente, e a dislexia não

sendo considerada deficiência, é uma dificuldade específica na aprendizagem

que se assume como definitiva, nos seus efeitos ao longo de toda a

escolaridade.

Page 16: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 16 de 41

Assim, os alunos com dislexia, dependendo da gravidade da situação e

das suas implicações na atividade e participação escolar, poderão estar

abrangidos pelas medidas do Regime educativo especial do Dec-lei acima

referido.

Após terem sido acionados os mecanismos para o acompanhamento do

aluno a nível escolar, depois da elaboração do referido Relatório Técnico-

Pedagógico, há que avaliar a necessidade de intervenção por parte de outros

profissionais, nomeadamente, do psicólogo clínico ou do psicólogo

educacional, do terapeuta da fala e do professor do ensino especial, pois

embora a base cognitiva da dislexia seja um défice fonológico é frequente a

comorbilidade com outras perturbações: perturbação da atenção com

hiperatividade, perturbação específica da linguagem, discalculia, perturbação

da coordenação motora, perturbação do comportamento, perturbação do

humor, perturbação de oposição e desvalorização da autoestima.

A equipa multidisciplinar, incluindo psicólogo e terapeuta da fala, inicia a

investigação detalhada e verifica a necessidade do parecer de outros

profissionais, como o neurologista, oftalmologista e outros, conforme o caso. É

muito importante o parecer da escola, dos pais, o levantamento do histórico

familiar e a evolução do aluno.

Outros fatores deverão ser

descartados, como défice intelectual,

disfunções ou deficiências auditivas e

visuais, lesões cerebrais (congénitas e

adquiridas), desordens afetivas anteriores

ao processo de fracasso escolar (com

constantes fracassos escolares o disléxico

irá apresentar prejuízos emocionais, mas

estes são consequências, não causa da

dislexia).

Page 17: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 17 de 41

Não existe um teste único de dislexia.

O diagnóstico deve ser realizado por profissionais treinados, empregando-se

uma série de testes e observações, em geral, trabalhando em equipa

multidisciplinar, que analisará o conjunto de manifestações e dificuldades.

Testes auditivos e de visão podem, no entanto, ser os primeiros a serem

solicitados.

Na avaliação diagnóstica podem aplicar-se diversos testes, nomeadamente:

Para os Pais e alunos com Dislexia o fundamental não é chegar ao

diagnóstico mas o que acontece para lá desse diagnóstico. Sobre a reflexão

tida pelos docentes, durante a realização destas Oficinas, sobre esta matéria,

considera-se fundamental implementar respostas adequadas e urgentes:

Page 18: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 18 de 41

Mas a Dislexia exige novos paradigmas em termos de ensino-

aprendizagem, uma nova forma de olhar para estes alunos, tão cheios de

potencialidades, mas que pela sua diferente estrutura cerebral e orientações

metodológicas e curriculares, sempre ficam em desvantagem face aos seus

colegas de turma.

6. Dislexia – Um desafio aos Docentes ….e às Escolas.

Os alunos com Dislexia perdem a confiança em si próprios, o que gera

uma baixa autoestima, sendo esse o maior e o mais comum dos problemas

emocionais que os disléxicos enfrentam e que pode levar a frustrações,

preconceitos e sentimentos de incapacidade.

Um diagnóstico rigoroso, preciso e precoce, ajudará a uma intervenção

atempada e adequada que auxiliará a criança e a família a ultrapassarem as

dificuldades iniciais e a aprenderem a melhor forma de lidar com elas.

Nas escolas portuguesas, pela falta de equipas multidisciplinares e

muitas delas sem serviço de Psicologia, ainda se atribui ao docente de

Educação Especial uma multiplicidade de tarefas, nomeadamente, nesta área,

para que encontre as soluções necessárias à progressão do(s) aluno(s).

Contudo, o docente de Educação Especial não pode nem deve, por si

só, assumir tal papel, mas antes contribuir ativamente para a diversificação e

mobilização de estratégias e métodos educativos de forma a que todos os

docentes envolvidos, possam promover o desenvolvimento e a aprendizagem

dos alunos, colaborando com todos na flexibilização e gestão dos currículos e a

sua adequação às capacidades e interesses dos alunos.

Porque não bastará a estes alunos ter apoio de educação especial ou

reforço pedagógico a algumas disciplinas, há toda uma pedagogia na arte de

ensinar alunos com dislexia e isso exige formação de todos – docentes e pais.

Estas oficinas contribuíram para a discussão de algumas destas

questões e desenvolver algumas ferramentas /estratégias que pudessem ser

tão uteis em sala de aula, quanto em situação de apoio.

Page 19: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 19 de 41

Elaboraram-se alguns folhetos informativos para Pais, Docentes e outros

técnicos bem como alguns percursos e estratégias que foram e podem ser,

aplicadas em sala de aula. Em cada Agrupamento de Escolas deveria haver

um gabinete especializado nesta temática, para poder organizar informação

/formação dirigida a todo o corpo docente, bem como recursos de apoio para

alunos e pais.

Alguns dos materiais desenvolvidos tiveram como finalidade agendar

algumas ações neste sentido, por parte dos docentes envolvidos.

7. Dislexia – Percursos e Materiais… em construção!

É nossa convicção que as dificuldades de leitura e de escrita podem ser

compensadas através de um ensino adequado e de qualidade, e de um

programa de reeducação individualizado, intensivo e sistemático conduzido por

profissionais especializados.

O que é aprender?

O que é ensinar?

Imagens da Oficina de Formação

Page 20: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 20 de 41

Segundo Torres e Fernandez a intervenção, para ser eficaz, deve

procurar restaurar o processo que se encontra em risco ou deficitário. A

intervenção neste caso deve assumir um carácter individual, dado que cada

aluno com dislexia é diferente de todos os outros.

A reeducação deve ser planificada com base nas perturbações

específicas que o aluno apresenta e sobretudo e, o mais importante é conhecer

as potencialidades do aluno e fomentá-las.

No trabalho de reeducação, é essencial aumentar a motivação e a

autoconfiança do aluno, uma vez que a frustração que ocorre frequentemente,

leva a uma baixa na autoestima e interesse pela escola.

Assim, quando temos um aluno com dislexia, devemos trabalhar com a

turma, esta problemática, de modo a que os outros alunos não considerem

as adaptações curriculares dos colegas como um privilégio, mas como um

direito. Assim, toda a turma poderá fazer um trabalho de investigação, por

exemplo:

Formam-se diversos grupos,

Apresenta-se uma lista de personagens conhecidas (Einstein, Tom

Cruise, Michael Jordan, Bill Gates…)

Cada equipa escolhe uma personagem e faz um trabalho de pesquisa

sobre a mesma.

Posteriormente, estes trabalhos serão apresentados à turma;

Explica-se que o motivo desta iniciativa que é dar a conhecer figuras

relevantes, em diferentes áreas e em que todos têm em comum “ A

DISLEXIA”.

Desta descoberta poderá surgir um debate entre todos com o objetivo de

dar a conhecer e respeitar este tipo de transtorno. Também será muito

positivo para a autoestima do aluno com dislexia saber que famosos de

grande prestígio têm em comum a mesma problemática.

Page 21: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 21 de 41

Para se poder intervir eficazmente nas dificuldades apresentadas pelos

alunos com Dislexia/Disortografia é preciso, a exemplo do que refere a

brochura do Ministério da Educação, sobre o ensino da leitura/escrita:

“Intervir de forma eficaz nos problemas de leitura/ortografia exige que o

professor avalie, com rigor, a que nível se encontra a dificuldade de

leitura/ortográfica colocada pela palavra e ainda não ultrapassada pelo

aluno. Não chega dizer que uma criança tem problemas de leitura/

ortografia”.

Para uma evolução satisfatória é conveniente trabalhar em estreita

colaboração entre todos (escola/técnicos) os que se ocupam da

reeducação. Desta forma existirá uma coerência na intervenção, e tanto o

aluno como o professor sairão beneficiados.

Exemplo: tentar estar informado sobre as estratégias, técnicas de estudo,

método de leitura utilizado, material, (pode-se dar o caso em que o aluno na

escola está a trabalhar a acentuação e na terapia está a começar a

distinguir os sons dos grafemas).

Na sala de aula há que

estimular a participação destes

alunos que normalmente se

inibem de participar por saberem

as dificuldades que têm e para

evitar comentários

inconvenientes dos colegas.

Pode e deve ser sempre

mobilizada a colaboração dos

seus pares, para a ajuda nas mais diversas situações: situar a página da

manual pedida pelo docente; empréstimo de apontamentos para copiar os

que porventura não tenha tido tempo de passar do quadro; leitura em voz

alta, a pares; estudo ou realização de trabalhos em conjunto.

Page 22: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 22 de 41

Ter em atenção que os textos indicados devem ser adequados ao nível do

leitor, sendo benéfico que o mesmo possa ser escolhido pelo aluno. Sendo

o principal objetivo o de conseguir que o aluno com dislexia, comece a

sentir curiosidade e motivação pelo mundo das letras (lembrar que para um

aluno disléxico torna-se muito complicado ler e ter uma compreensão do

texto ao mesmo tempo), seja através de banda desenhada, revistas ou de

livros.

Se o material disponibilizado está acima das suas capacidades leitoras,

o que conseguiremos é alimentar a sua fobia e frustração em relação à

leitura.

É importante adequar também o corpo de letra e o espaçamento do

texto, dado que um disléxico ao ler, o faz muito mais lentamente, fazendo

um considerável esforço para realizar a tarefa.

Na hora de dar uma explicação oral, usar uma linguagem direta, clara e

objetiva e verificar se o aluno entendeu e reteve a informação.

Observar como ele faz as anotações no quadro e auxiliá-lo a organizar-se. Muitos alunos com dislexia podem ter alterações ao nível da perceção auditiva pelo que podem ser minimizadas, quando a exposição da informação é feita com suporte visual. Ao passar a informação do quatro, muitos alunos não conseguem transcrever tudo pois são bastante mais lentos a copiar que os seus colegas.

A execução de uma tarefa escrita pode levar mais tempo, por apresentar dificuldade quanto à coordenação, orientação e mapeamento espacial e dificuldades na gestão do tempo, entre outras razões.

O docente deve estar atento na hora da leitura, porque estes alunos inibem-se ao ler em voz alta, perante a turma, dado os possíveis erros que cometem.

Page 23: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 23 de 41

Quadro resumo – Erros na Leitura (Adaptado de Lopes, 2001, 129 e Rocha, 2004, 48)

Em vez da leitura individual, pode sugerir-se leitura a pares, leitura

alternada ou dar-lhe com antecedência (dia anterior) o texto para que sem

pressões, possa trabalhá-lo em casa e desta forma sentir-se mais seguro.

Realizar mapas mentais, é uma das estratégias que ajudará estes alunos a

relacionar novos conceitos com os conhecimentos já adquiridos e a

organizarem a matéria em estudo. Podem ser utilizados em todas as

disciplinas e desta forma reúnem a informação mais relevante de cada

matéria a estudar. (Mapas mentais de Toni Bouzan).

Ensinar e construir com os alunos -

Mapas mentais - permite

sistematizar o essencial da matéria

e mobiliza as redes neuronais, para

relacionar conteúdos e domínio de

novas ferramentas incluindo as TIC,

ferramentas muito importantes para

estes alunos.

Apresentação de Mapa Mental na

Oficina de Formação

Page 24: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 24 de 41

Segue-se um exemplo de um trabalho efetuado, no âmbito destas

Oficinas de Formação, por uma Formanda que conjuntamente com o grupo

turma, realizou numa das aulas previstas e, para consolidação da matéria, um

Mapa Mental que no relato da docente, constituiu um momento muito

interessante de aprendizagem e partilha de saberes.

Mesmo sem o domínio de muitas ferramentas, aproveitando os materiais

existentes e a colaboração dos alunos, conseguiu motivá-los para a construção

de saberes que todos possuem e que constituem um ótimo incentivo às

aprendizagens.

Trabalho: Elaboração de um mapa mental-Disciplina de História e

Geografia de Portugal – Conteúdo: Aproveitamento dos recursos naturais e

atividades económicas – 5º ano de escolaridade.

Elaborar um mapa mental significa ainda relacionar informação, apresentando de forma organizada os conceitos principais e pouco exigentes ao nível da sintaxe (campo um “pouco dramático” para alunos com dislexia).

Docente da turma ES Cartaxo

Page 25: Ação Dislexia

E-Book – “Dislexia”

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Normalmente as crianças/jovens que sofrem de dislexia, THDA apresentam

défice de atenção e por esse motivo,

necessitam mudar de atividades com

mais frequência que o resto dos seus

pares, independentemente do ciclo em

que se encontrem (Pré-primária, 1º, 2º

e 3º ciclo e secundário), uma vez que o

esforço que realizam é esgotante e o

seu limiar de fadiga costuma ser muito

baixo.

É, também, aconselhável fazer, com este tipo de alunos, períodos de

descanso mais frequentes pois, caso contrário o seu nível de dispersão

aumenta e, é-lhe mais difícil manter-se na tarefa ou realizá-la

adequadamente.

Ter em conta que levará mais tempo a fazer os trabalhos de casa,

cansando-se 4 vezes mais que outro qualquer aluno nas tarefas de leitura-

escrita. Devemos estar

conscientes desta realidade e não

marcar TPC nos dias em que

tenham consultas/terapias, sendo

que nos restantes dias o número

de exercícios/ atividades devem

ser ajustados às suas dificuldades

e necessidades.

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E-Book – “Dislexia”

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Lembrar que o seu problema de

memória e de compreensão

atrapalha a retenção da matéria por

via oral e que toda a aprendizagem

se fará melhor com referências

visuais e/ou auditivas.

Permitir-lhe aprender de forma

significativa com os meios que tiver ao seu alcance: jogos, letras móveis,

computador, calculadora e experiências manipulativas… ajuda-o a alcançar

as mesmas metas dos seus pares e reforça-o sob o ponto de vista da

autoestima.

Valorizar os progressos do aluno de acordo com o interesse, a dedicação e

o esforço realizado e nunca avaliar os seus conhecimentos a partir do nível

médio da turma.

O papel do professor de Educação Especial é olhar para cada aluno

com dificuldades e compreendê-las, avaliá-las e proporcionar a cada um, as

ferramentas necessárias para melhorar as suas competências. Não havendo

cura para a dislexia, podemos sempre compensar e contornar os seus

sintomas, de forma a tornar a problemática mais confortável na convivência do

disléxico consigo próprio e com os outros.

Devemos pensar em estratégias para quem aprende e nessa medida

Nisbett & Shucksmith (1987) e Danserau (1985), citados por Pozo (1995),

citados por Alencar, Carneiro e Alencar no X Congresso Internacional Galego-

Português de Psicopedagogia, em Braga, organizado pela Universidade do

Em jeito de conclusão, consideramos que uma boa

relação entre o professor, a escola e a criança é de

grande importância para o aumento da autoestima e a

recuperação das suas dificuldades.

Docente da turma ES Cartaxo

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Minho, 2009, referem as estratégias de

aprendizagem como sendo “sequências

integradas de procedimentos ou atividades que

se escolhem com o propósito de facilitar a

aquisição, armazenamento e/ou utilização da

informação”.

A adequação de estratégias/atividades ao

aluno disléxico, passa muito por entender que o

aluno tem uma história de desenvolvimento única

e que aprende também de maneira diferente.

Deteção de erros a partir de documentos autênticos e sugestões de

estratégias e materiais a aplicar neste caso

Partindo de textos autênticos redigidos por uma aluna do 10º ano de

escolaridade do ensino regular, referenciada pelo Decreto- Lei 3/2008, fizemos

o levantamento e a identificação do tipo de erros encontrados, com base no

documento “Indicadores de Dificuldades Disortográficas” fornecido pela

formadora.

A partir das dificuldades detetadas nos referidos textos,

começamos por perceber o fenómeno dando-lhe um nome (esta é, para

nós, a estratégia mais importante, isto é, sem compreender o

fenómeno não se conseguirá definir estratégias funcionais/pragmáticas

que consigam resolver/suavizar o problema-dificuldade)

traçamos alguns percursos de intervenção que podem ajudar a aluna e

outros alunos disléxicos que se apresentam com problemas

semelhantes.

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Os textos A e B que se seguem, são documentos autênticos escritos por uma aluna do

10º ano de escolaridade, referenciada com dislexia.

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E-Book – “Dislexia”

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I -Tipologia de erros encontrados

Levantamento e correção dos erros encontrados nos textos A e B

Texto A- Lista de erros encontrados no seu texto “Página de um diário” :

Linha 3: “á” / “sentime” / “porcura”- em vez de: “à”/”senti-me”/”procura”.

Linha 5: “entervalos” – em vez de:”intervalos”.

Linha 6: “aconheram-me” / “fesme” “tam” (bem) / “secanhar” –em vez de:

“”acolheram-me” / “fez-me / “tão” / “se calhar”.

.Linha 9: “interecantes” / “ pendendo” - em vez de: “interessantes” / “dependendo”.

Texto B- Lista de erros encontrados no seu texto “O homem” (resumo do conto

de Sofia de Mello Breyner Andresen):

.Linha 4:“os homen”/“enpurando”/“atraz”- em vez de ”os homens”/“empurrando”/

”atrás.

.Linha 7: “um homen” – em vez de “um homem”.

.Linha 8: “home” / “entam” – em vez de: “homem” / “então”.

.Linha 9:“homen” / (virar para) “traz” / “homen” - em vez de : “homem” / “trás” /

“homem”.

. Linha 11: “lenbrou-se”- em vez de “lembrou-se”.

. Linha 12: “deichando-se”/“multidam” / “adudar” / “homen” / “receu-o” / (es)”tivesse”-

em vez de : “deixando-se” / “multidão”/ “ajudar” /”homem”/”receio”/”estivesse”.

. Linha 13: (ele) “caio”- em vez de: “caiu”.

. Linha 15: “escoria” (sangue) - em vez de :”escorria”.

. Linha 16: “inpedia” / “anbulância”- em vez de: “impedia”/”ambulância”.

. Linha 17: “conseguio” / “cheguar”- em vez de : “conseguiu”/”chegar”.

. Linha 18: “preocupem-se”- em vez de “preocupam-se”.

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E-Book – “Dislexia”

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II - Observação e análise destes dados de acordo com os “Indicadores de

dificuldades disortográficas”

Uma vez que o documento utilizado foi “Indicadores de dificuldades

disortográficas”, os números que antecedem cada tipo de erro corresponde aos

que figuram no mesmo (doc fornecido pela Formadora):

- 3. Omissões: omite sílabas inteiras “(de)pendendo”- revela dificuldades linguístico

percetivas.

- 9. Inversões: Inverte grafemas em sílabas mistas – “porcura” (procura”- revela

dificuldades linguísticopercetivas.

- 14. Substituições: substitui letras semelhantes visualmente -“homen” (homem) -

troca as duas consoantes nasais n/m – revela dificuldades visuoespaciais.

- 16. Confusões: confunde palavras com fonemas que admitem dupla grafia: “fes”

(fez), “atráz” (atrás), “virar para traz” (virar para trás) – revela dificuldades na

consciência fonológica e gráfica e de contexto.

- 17. Confusões: confunde situações de palavras com fonemas que admitem duas

grafias em função das vogais – “cheguar” (chegar).

- 19. Dificuldade em associar grafema-fonema: “aconheram-me” (acolheram-me),

“secanhar” (se calhar) - revela dificuldade na perceção de diferentes, contudo

próximos, pontos de articulação na realização dos fonemas.

- 20. Une ou separa palavras: “secanhar” (se calhar), “fesme” (fez-me)

- 23. Não escreve m antes de p e b: “lenbrou-se” (lembrou-se), “inpedia” (impedia),

“anbulância” (ambulância) – revela desconhecimento de exceções às regras gráficas.

- 24. Não aplica casos especiais como s/ss/ç: “interecante” (interessante) - revela

dificuldades na consciência fonológica e gráfica.

- 27. Generaliza regras de ortografia: “(ele)caio” (caiu), (conseguio” (conseguiu) –

revela dificuldades em diferenciar ditongos orais de hiatos.

Em suma, esta aluna manifesta dificuldades do tipo:

a) linguístico percetivas quando inverte (9), omite (3), substitui fonemas/grafemas (14)

ou tem dificuldades na consciência fonológica;

b) visuoespaciais quando confunde ou substitui s-z-x/j/nh-lh (16,19);

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III - Intervenção a fazer, de acordo com os dados da avaliação

a) Na oralidade:

Algumas das estratégias a aplicar pelos docentes passam pelo cuidado

a ter na oralidade: falar com clareza; monitorizar o seu discurso quando

dialogam com a aluna disléxica; ter paciência e calma para repetir sempre que

necessário e fazer com que se autocorrija sempre que repete mal e estimulá-la

a expressar-se oralmente ainda que se sinta algumas dificuldades, corrigindo-a

e certificando-se que ela repita corretamente, quando em trabalho

individualizado.

Na leitura, dar-lhe o modelo de leitura expressiva; permitir-lhe que siga o

texto com o dedo ou usar régua para cobrir as restantes linhas; ler as

palavras complexas ao mesmo tempo que ela e fazê-la repetir a palavra,

separando-a por sílabas, escrevendo-a em seguida.

Propor: leitura de textos curtos acompanhados de questionários simples

para controlo da compreensão; resumos de textos por parágrafos; que leia

e sublinhe os ditongos nasais, que complete as palavras, como por

exemplo, com “nh” ou “lh”, “r” ou “rr”, que as leia e que escreva depois

frases com essas palavras, fazendo previamente e de forma oral a

expansão dessas mesmas frases.

b) Na escrita:

A aluna confunde os sons e o significado de grande número de palavras;

mesmo conhecendo as regras, quando precisa de as aplicar fica insegura e

troca-as;

O professor deve fazer fichas de palavras onde a aluna treine e memorize

regras e situações de contexto que lhe permitirão consolidar o

conhecimento ainda não adquirido. Os erros devem ser trabalhados por

contraste e em simultâneo. (ex: as/sa; pre /per).

De seguida, apresentamos um modelo de fichas que podem ser utilizadas

para resolver algumas das dificuldades detetadas e referidas anteriormente.

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E-Book – “Dislexia”

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As fichas são meros exemplos práticos que não dispensam a

repetição oral das palavras e das sílabas, em trabalho autocorretivo, pela

aluna.

Um exemplo de ficha de

ortografia corretiva

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E-Book – “Dislexia”

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Escolhemos, para este exercício, letras tridimensionais de material plástico

colorido contendo um íman, que vulgarmente se fixam na porta do

frigorífico. Estas letras são habitualmente usadas para as lições de leitura

de crianças do 1.º Ciclo «enquanto se faz o jantar». Tais letras serão de

tipos, corpos e cores diferentes a fim de que a letra seja identificada como

um objeto por via multissensorial.

Baseados na ideia de que o disléxico aprende melhor “fazendo do que

ouvindo, lendo ou vendo fazer” o aluno será convidado a compor sílabas

particularmente difíceis: aquelas que incluem uma consoante como t ou p

seguido de r e de vogal ou uma consoante seguida de vogal e r.

Estas sequências surgem em diversas palavras e são frequentemente

mal grafadas, e/ou fonte de hesitação e angústia, mesmo por alunos não

disléxicos (– LOBO ANTUNES, 2009).

Podem observar-se em pares como perfeito/prefeito, pretérito/*pertérito,

pretendente/*pertendente, preconceito/*perconceito…

Tendo ímanes, as letras serão afixadas no quadro branco, disponível em

todas as salas de aula, da maioria das escolas.

Em seguida, ao aluno será pedido que complete a palavra grafando com

o marcador grosso as sílabas restantes, de modo a completar a palavra.

Não é demais salientar a importância do uso de ferramentas de escrita

espessas, dado que à dislexia e disortografia estão frequentemente

associadas dificuldades a nível da perceção visual e motricidade. Não há

muito tempo era recomendado que aos alunos disléxicos fosse fornecido

um tubo portagiz ou um marcador enrolado em fio que, por sua vez, seria

coberto com fita cola para que o movimento da escrita se tornasse, assim,

mais largo. Pelos mesmos motivos, o uso do quadro era recomendado, em

detrimento do papel.

preconceito/perconceito

pretendente/pertendente

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E-Book – “Dislexia”

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Em sequência, o professor alterará a ordem das letras ímanes,

discutindo com o aluno a correção ou incorreção da nova palavra.

De novo se deslocarão as letras ímanes para uma zona do quadro que

esteja ainda em branco e nova palavra será produzida.

Uma outra dificuldade ortográfica recorrente é a grafia das terminações

das terceiras pessoas do plural dos verbos. Aqui o problema está na

hesitação: será «eles foram» ou «eles forão»? «Eles fizeram» ou «eles

fizerão»? E será «eles faram» ou «eles farão»? Aqui a nossa proposta é a

seguinte: ao aluno será pedido que escreva o radical da palavra e faça uma

pausa. Depois escolherá a terminação que lhe parecer mais correta,

colocando as letras ímanes, que estarão previamente alinhadas ao lado nas

duas combinações possíveis.

eles faram eles farão

Esta foi uma estratégia simples, usada numa turma especial, composta por

alunos entre os 12 e os 18 anos que coloca ao docente algumas preocupações de

motivação e interesse, pelo que a reeducação se espera uma tarefa difícil, senão

impossível.

Docente da turma ES do Cartaxo

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E-Book – “Dislexia”

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8. Dislexia – E agora?

Durante esta Oficina de Formação

foram sendo visionadas partes deste filme

que motivou algumas das reflexões

surgidas em torno da complexidade que é

ter um filho disléxico na escola, sem

conseguir atingir os níveis de sucesso que

são inerentes às expectativas dos pais,

quando estes enviam os seus filhos à

escola.

Recomenda-se vivamente que o mesmo possa também ser visionado

pelos pais, cujas crianças e jovens vêm somando fracassos e rejeição em

relação às aprendizagens.

http://www.youtube.com/watch?v=6rxSS46Fwk4

Todas as famílias têm, expectativas positivas sobre os seus filhos,

assim, ter um filho que não corresponde, não é simples e acarreta muitos

sofrimentos, procura por respostas que nem sempre se encontram e aumento

das tensões familiares.

Os pais e encarregados de educação precisam de informação adequada

nestas e noutras situações, para saberem o que se passa com os seus

educandos e a melhor forma de os acompanhar no seu percurso escolar.

Decidimos frequentar a Ação de Formação” Intervenção e reeducação

pedagógica no âmbito da Dislexia e Disortografia”, pois desejamos

adquirir competências para conhecermos melhor as dificuldades que as

crianças disléxicas, e os seus pais, sentem ao longo do seu percurso

escolar e tentarmos ajudá-los nesse percurso, minimizando os

resultados escolares menos bons, os sentimentos de inferioridade e de

incapacidade.

Psicóloga e Docente EE – turma da ES Azambuja

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E-Book – “Dislexia”

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Após terem sido acionados os mecanismos para o acompanhamento do

aluno a nível escolar, e depois da elaboração do Relatório Técnico-

Pedagógico, há que avaliar a necessidade de intervenção por parte de outros

profissionais.

O psicólogo clínico deverá intervir na área do apoio psicológico ao jovem

e sua família, pois normalmente a família está fragilizada e a criança/ jovem

pode apresentar perturbação do comportamento, do humor, de oposição e

baixa autoestima. Os fatores motivacionais são igualmente importantes no

desenvolvimento da capacidade leitora dado que a melhoria desta competência

está altamente relacionada com o querer, com a vontade de persistir, pese

embora, as dificuldades sentidas e a não obtenção de resultados imediatos.

Por outro lado estes alunos apresentam estilos de aprendizagem que

exigem estratégias adequadas de ensino em conformidade com as

características da sua aprendizagem, bem como um treino mais intensivo em

termos de estudo e organização dos seus tempos de estudo.

[…] não podemos deixar de considerar a família como um dos

principais fatores de intervenção e de influência no processo de

desenvolvimento e de aprendizagem. (TAVARES e ALARCÃO, 1985)

CONSELHOS / ESTRATÉGIAS PARA AJUDAR O SEU FILHO:

Ajude-o na organização do tempo:

Utilizar um caderno/ agenda para tomar nota dos deveres;

Registar as datas importantes num calendário;

Fazer uma lista de tarefas a realizar e os prazos para a realização das

mesmas;

Elaborar um horário de trabalho;

Colabore na organização do estudo:

Fazer rascunhos;

Elaborar e rever esquemas:

Reforçá-lo positivamente quando conclui as tarefas com sucesso;

Incentivá-lo a rever as matérias e não deixar tudo para a véspera dos

testes;

Fazer perguntas, oralmente, sobre as matérias que são objeto de

avaliação;

Não facilite e não seja benevolente, o aluno disléxico tem as mesmas

capacidades que outro aluno

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E-Book – “Dislexia”

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9. Fontes de Consulta

Bibliográficas

Além dos documentos fornecidos no decurso das sessões presenciais e via Moodle pela

formadora, foram utilizadas as seguintes obras:

Correia, Luís (1999). “Alunos com NEE nas Classes Regulares”. 1- Coleção Educação

Especial. Porto: Porto Editora.

Correia, J. A. (2003). A Construção Politico-Cognitiva da exclusão social no campo

Educativo. In Rodrigues, D. (org.) (2003). Perspetivas sobre Inclusão. Da Educação à

Sociedade. Porto: Porto Editora.

Castanheira, Ercília Textos e materiais de Apoio.2013/2014

Correia, L. (2005). “A Escola Contemporânea, os Recursos e a Inclusão de Alunos com

Necessidades Educativas Especiais. Atas do Encontro Internacional Educação”.

Correia, L. M. (2008). “Inclusão e Necessidades Educativas Especiais” - Um guia para

educadores e professores (2ª edição, revista e ampliada). Porto: Porto Editora.

Costa, M.E. (2003). Gestão de Conflitos na Escola. Lisboa: Universidade Aberta

Leitão, F. R. (2010). Valores Educativos, Cooperação e Inclusão. Salamanca: Luso-

Española de Ediciones.

Dicionário Geral das Ciências Humanas, (dir. THINES, G. e LEMPEREUR, Agnés),

Lisboa, Edições 70, [1984].

Lilian j. Meyer Riveros, Fabrício da Silva Soares, Elizabeth Munzlinger, “Sistema

especialista: uma base para o pré-diagnóstico da dislexia “

Lobo Antunes, Nuno, Mal-entendidos, Lisboa, Verso de Kapa, 6.ª edição, 2012 (1.ª edição:

2009).

Tavares, José e Alarcão, Isabel, Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem,

Coimbra, Livraria Almedina, 1985.

SOTA MARTINS, A., (2008), A Escola e a escolarização em Portugal: representações dos

imigrantes da Europa de leste, Lisboa, ACIDI

C. ALVES-PINTO E M. TEIXEIRA, (org.), (2003), Pais e Escola - parceria para o sucesso,

Porto ISET

Declaração de Salamanca, 1994, Editada pela UNESCO. Pesquisado em

http://redeinclusao.web.ua.pt/files/fl_9.pdf, consultado em 25-02-2012

AMBRÓZIO, C., RIECHI, T., BRITES M., JAMUS, D., PETRI, C., ROSA, FAJARDO,

(s/d), NEUROPSICOLOGIA TEORIA E PRÁTICA, ENEC. Pesquisado em

www.proec.ufpr.br e consultado em 25-02-2012.

FARIA, LUISA e FIGEIREDO, HELENA, V Congresso Galaico-Portugues de

Psicopedagogia - Coruña & Santiago de Compostela, 20-23 de Setembro de 2000, pp. 933-

939. Pesquisado em hpp://ruc.udc.es/dspace/bitstream/2183/6788/1/RGP_6-115.pdf,

consultado em 07-05-2012

Fonseca, V. (2004). Insucesso Escolar – abordagem psicopedagógica das Dificuldades de

Aprendizagem. Lisboa: Âncora Editora

F. (2004). Lado a Lado – experiências com a dislexia. Lisboa: Texto Editora

Cruz, V. (2007). Uma abordagem cognitiva da leitura. Lisboa: Lidel

Nielsen, L. (1999). Necessidades Educativas Especiais na Sala de Aula. Um guia para

Professores. Porto: Porto Editora

Rocha, B. P. (1991). A Reeducação da Criança Disléxica. Lisboa: Editora Echer.

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E-Book – “Dislexia”

Dislexia e Disortografia Página 38 de 41

Webgrafia

http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001393/139394por.pdf

http://www.drealg.min-edu.pt/upload/docs/dsapoe_ee_cif_cj_manual.pdf

http://www.europarl.europa.eu/meetdocs/committees/empl/20011023/451792PT.pdf

http://www.european-agency.org/publications/flyers/lisbon-declaration-young-peoples-

views-on-inclusive-education

http://www.dyslexia-reading-well.com/assistive-technology-for-dyslexia.html

http://www.ige.min-

edu.pt/upload/AEE_2008_DRLVT/AEE_08_Agr_Jose_Relvas_R.pdf

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10. Anexos

Trabalhos realizados pelos formandos:

Folhetos informativos para pais e docentes

Blogs onde organizaram alguma informação dispersa, sobre a temática

da dislexia

Instrumentos a usar na sala de aula

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Ligações para outros trabalhos dos formandos:

Trabalho “ Medidas legislativas e avaliação específica”

http://prezi.com/di_n55qrw__0/dislexia/

Blog Materiais sobre Dislexia

http://materiaisdislexia.blogspot.pt/

Blog sobre “Recursos para a Dislexia”

http://recursosdislex.blogspot.pt/

Folheto Informativo para Pais

Folheto sobre Sinais de Alerta

Folheto sobre Disortografia

Folheto sobre “Dislexia”

Criação de Mapa Mental

Produção de texto – O Tesouro

Caracterização de um caso e materiais de apoio

Guia para Professores

Construção Fonológica

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Formandos participantes na elaboração dos conteúdos:

Turma - Escola Secundária de Azambuja

Ana Luísa Brigantim Pereira Bochicchio Ana Maria Ferreira Dias Cláudia Isabel dos Santos Arsénio Malandras Eugénia Maria Ribeiro Diniz Georgina Vieira Leal Helena Maria Pinto Martins da Fontoura Margarida Maria Santos Coelho Martinho Maria de Fátima Farinha Silva Maria Isabel Fernandes Damião Rafael Luís Marçal Severino Márcia Judite Pereira de Castro Barroso Soares Alves

Turma - Escola Secundária do Cartaxo

Alcínia Fernanda de Figueiredo Ana Cristina Tavares da Fonseca Ana Paula Gonçalves Pacheco Lains Cristina Maria Mascarenhas Cavaco Neto Margarida Pereira Duarte Maria do Rosário Feteira de Carvalho Maria Helena Godinho da Silva Sousa Maria Helena Guilherme Gustavo Maria Irene da Costa Mascote Silva Coelho Maria José Negreira Magalhães Rui Albano Duarte Sandra Marina Coelho Piscalho de Paula Sofia Amélia de Barros Doutel António Oliveira Gonçalves Lopes

Organização dos conteúdos

Ercília Maria Marques da Cruz Castanheira (Formadora)

Colaboração na edição

Pedro Oliveira (Engenheiro informático)