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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-graduação em Administração
Mestrado Acadêmico em Administração
ACCOUNTABILITY PROTAGONIZADA PELA SOCIEDADE CIVIL:
UM ESTUDO SOBRE A ATUAÇÃO DO MOVIMENTO NOSSA BETIM
DANIELE CARDOSO DO NASCIMENTO
Belo Horizonte
2015
Daniele Cardoso do Nascimento
ACCOUNTABILITY PROTAGONIZADA PELA SOCIEDADE CIVIL:
UM ESTUDO SOBRE A ATUAÇÃO DO MOVIMENTO NOSSA BETIM
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e
Fundação Dom Cabral, como requisito para obtenção do
título de Mestre em Administração.
Área de Concentração: Administração
Orientador: Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa
Teodósio
Belo Horizonte
2015
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Nascimento, Daniele Cardoso do
N244a Accountability protagonizada pela sociedade civil: um estudo sobre a atuação
do movimento Nossa Betim / Daniele Cardoso do Nascimento . Belo Horizonte,
2015.
181 f.: il.
Orientador: Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Administração.
1. Responsabilidade social da empresa. 2. Sociedade civil. 3. Controle social.
4. Participação popular. 5. Poder comunitário. 6. Betim (MG). I. Teodósio,
Armindo dos Santos de Sousa. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título.
CDU: 658.3.048
Daniele Cardoso do Nascimento
Accountability protagonizada pela sociedade civil: um estudo sobre a atuação do
movimento Nossa Betim
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais e Fundação Dom Cabral,
como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração.
Área de Concentração: Administração
____________________________________________________________
Orientador Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Ivan Beck Ckagnazaroff
Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG,
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Mario Aquino Alves
Fundação Getúlio Vargas/Escola de Administração de Empresas de São Paulo
Belo Horizonte, 26 de Fevereiro, 2015.
AGRADECIMENTOS
À Deus pela minha vida e pelo cuidado com a mesma. Agradeço ao Programa de Pós
Graduação em Administração (PPGA) da PUC MG por todo conhecimento ensinado e pela
atenção e carinho da equipe, em especial ao Prof. Dr. Antônio Moreira de Carvalho Neto, à
Jaqueline Araújo da Silva e à Paola Alves, pela oportunidade de convívio cheio de alegria e
pelo apoio.
À CAPES por conceder-me a bolsa integral do mestrado, um recurso fundamental a esta
realização profissional e pessoal.
À tia Maria Geralda Cardoso agradeço por tudo que fez por mim, pelo amor, carinho,
paciência e por não medir esforços para que eu tivesse a melhor educação. À Luísa Cardoso,
ao André Cardoso, ao Marcelo Cardoso, à Letícia Cardoso, à tia Bernadete Cardoso, à tia
Maria Aparecida Cardoso, assim como toda a minha família, pela paciência, pelo apoio e
carinho. Ao Rafael Dutra, que tem se demonstrado um grande companheiro, obrigada pelo
carinho, amor e apoio. Aos amigos que sempre celebraram, apoiaram esta caminhada e
preencheram meus dias com alegria e palavras de incentivo: Bárbara Lopes, Carlos Roberto
Júnior, Camila Mendonça, Elis Palmeira, Hugo Markiewicz, Mariana Moura, Natália Tavares,
Nathália Galante, Nayara Oliveira, Laise Ayres, Lívia Diniz, Renata Petrin e Rosana
Zerlotine.
Ao querido Prof. Dr. e orientador Armindo dos Santos de Sousa Teodósio, ou como é mais
conhecido, Téo, por todo apoio e ensinamentos. Muito obrigada pela oportunidade de
aprender tanto sobre o tema que cada dia mais me motiva e por acreditar no meu potencial.
Muito obrigada pela atenção e cuidado com o trabalho realizado. Agradeço ainda mais, pela
boa convivência, amizade, pelo exemplo de competência e dedicação. Agradeço pelas
palavras de incentivo e apoio! Muito obrigada por contribuir de maneira tão ímpar no meu
crescimento profissional, acadêmico e também por me fazer uma pessoa melhor.
Aos colegas do grupo de pesquisa NUPEGS, muito obrigada pela a oportunidade de conhecer
tantos trabalhos inspiradores e de grande relevância para a academia. Em especial, agradeço a
Daniela Viegas, Danusa Coutinho, Júnia Guerra, Maria Flávia Bastos e Yasmine Mansur pela
confiança e amizade. A Raquel Wildhagen pela companhia, parceria em artigos, amizade,
pelas boas conversas e palavras de leveza.
Ao departamento de responsabilidade corporativa do SESI/FIEMG, à Luciene Araújo e em
especial à Laura Boaventura, por me acolher com paciência e carinho no período que estive
na equipe, pela contribuição no meu crescimento profissional e por ser sempre muito
atenciosa. Agradeço ao Centro de Apoio e Inclusão Social (CAIS) e toda equipe pela
oportunidade de trabalho e aprendizagem. Em especial agradeço à Cristina Abranches,
Graziele Resende, Margarida Brandão e Viviane Ribeiro.
À equipe do projeto de extensão do curso de Relações Internacionais, o MINIONU, por
também fazerem parte dessa jornada e sempre me acolherem. Em especial agradeço ao prof.
Rodrigo Teixeira, à prof. Chyara Sales, Laura Menezes, Lorena Santana, ao Luís Gustavo
Tavares e ao Paulo Henrique Ayusso.
Agradeço ao Movimento Nossa BH por me ajudar conhecer mais sobre os movimentos da
Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, sobre a realidade social e política
que as organizações da sociedade civil enfrentam em nível local e o seu desdobramento para a
realidade nacional. Em especial agradeço à Adriana Torres, Guilherme Tampieri, Juliana
Moreira, Milton Nogueira e Vanessa Duarte.
Agradeço imensamente a todos da equipe do movimento Nossa Betim e entrevistados deste
trabalho, que acolheram a pesquisa e ajudaram a construí-la. Sem vocês o caminho, as
análises e as descobertas dessa dissertação não seriam as mesmas.
RESUMO
NASCIMENTO, D.C. (2015). Accountability protagonizada pela sociedade civil: um estudo
sobre a atuação do movimento Nossa Betim. Dissertação (Mestrado em Administração)
– Faculdade de Administração, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo
Horizonte.
A temática dos processos de accountability ganha relevância na literatura sobre democracia e
participação popular, pois este é um dos meios possíveis para se acompanhar as ações dos
governantes diante as questões da vida pública em instituições consideradas democráticas e
participativas. O adjetivo societal ou social é associado a este conceito para delimitar quem é
protagonista desta ação. Existe uma lacuna teórica no que diz a respeito a como o processo de
accountability societal pode acontecer e ser realizado, especificamente, por parte dos
movimentos sociais. Diante disso, o presente trabalho de dissertação busca compreender
como este processo de accountability societal é realizado pelo movimento Nossa Betim
(MNB) no governo local. Para melhor compreender a origem do movimento social elencado
para a pesquisa foi necessário entender a origem desta iniciativa, assim como o contexto da
cidade que a abriga. A metodologia adotada foi de caráter qualitativo por meio de um estudo
de caso único. Recorreu-se, em momentos específicos, ao método de pesquisa participante, a
fim de acessar informações não encontradas em periódicos ou fontes tradicionais de pesquisa.
O processo de análise dos dados foi elaborado com base nos seguintes eixos teóricos:
democracia participativa, gestão pública local, movimentos sociais, relações intersetoriais e
accountability. O objeto empírico da dissertação é oriundo de uma rede nacional e
internacional de movimentos sociais que buscam impactar na qualidade de vida das cidades.
A mobilização para o surgimento do MNB ocorre, principalmente, devido a uma iniciativa
oriunda da empresa FIAT Automóveis em Betim, uma cidade de porte médio do estado de
Minas Gerais. Na intenção de responder ao objetivo geral da pesquisa e sua pergunta de
partida, buscou-se descrever a formação, trajetória, forma de atuação do MNB; verificar o
tipo de participação deste movimento; analisar as relações estabelecidas pelo MNB com
atores da iniciativa privada e prefeitura e enfim, discutir as perspectivas, armadilhas e
limitações do MNB para exercer a accountability. Foi possível concluir que o MNB participa
da administração pública local e realiza a accountability, através, por exemplo, da geração e
disseminação de informações e indicadores sobre a cidade, da organização de eventos que
buscam aumentar a conscientização política e também através do monitoramento das ações do
governo local por meio do Plano de Metas. Porém, também foi possível concluir que ainda
persistem importantes traços de relações políticas fundadas no clientelismo, paternalismo,
demagogia e traços burocráticos nas ações do MNB. Tal cenário traz importantes desafios
para os avanços na promoção da accountability societal e sua manutenção no longo prazo,
sobretudo no nível da gestão pública local. Estas características fazem parte da realidade
sociopolítica brasileira e acabam sendo reproduzidas no contexto de atuação do MNB.
Palavras-chave: accountability, sociedade civil, controle social, participação popular, poder
local, Betim.
ABSTRACT
NASCIMENTO, D.C. (2015). Accountability carried by civil society: a study on the
performance of the Nossa Betim movement. Dissertação (Master in Professional
Administration) – Faculdade de Administração, Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, Belo Horizonte.
The issue of the accountability processes becomes relevant in the democracy and popular
participation literature, as this is one of the possible means to monitor the actions of
governments on matters of public life in institutions known as democratic and participatory.
The societal or social adjective is added to this concept to define who is the protagonist of this
action. There is a theoretical gap in terms of how the societal accountability process can
happen and be done specifically by the social movements. Therefore, this paper's thesis seeks
to understand how the Nossa Betim movement (MNB) conducts this societal accountability
process in its local government. To better understand the foundation of the social movement
chosen for the research, it was necessary to understand the origin of this initiative, as well as
the city that hosts it. The methodology chosen was qualitative in nature and it was made
through a single case of study. At specific moments, the participant research method was used
in order to access information not found in regular or traditional sources of research. The
analytical process was based on the following theoretical principles: participatory democracy,
local public administration, social movements, intersectoral relations and accountability. The
empirical object of this work comes from a national and international network of social
movements seeking to impact in the cities quality of life. The mobilization for the appearance
of this social movement is mainly due to an initiative arising from the company FIAT Group
Automobiles in Betim, a medium-sized city in the state of Minas Gerais. In an attempt to
answer the general objective of the research and its starting question, it was sought to describe
the formation, history, way of acting of the MNB; check the type of participation of this
movement; analyze the relations established by the MNB with actors from the private sector
and city hall and finally, discuss the prospects and pitfalls of MNB and its limitations to
exercise accountability. It was possible to conclude that the MNB participates in the local
public administration and performs accountability, through, for example, the generation and
dissemination of information and indicators about the city, the organization of events, which
intend to raise the political awareness, by the dissemination of indicators and information
about the city of Betim and also by monitoring the actions of the local government through
the Plan of Goals. However, it was also possible to conclude that significant traces of political
relations founded on patronage, paternalism, demagogy and bureaucratic features in the
MNB's actions. This scenario brings important challenges in promoting societal
accountability and maintenance in the long term, especially at the local public administration
level. These features are part of the Brazilian socio-political reality and as a consequence, are
reproduced in the Nossa Betim Movement.
Keywords: accountability, civil society, social control, public participation, local power,
Betim.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Descrição dos Três Eixos da Accountability .......................................................... 60
Tabela 2. Codificação e Perfil das Conversas de Sondagem .................................................. 71
Tabela 3. Codificação dos Entrevistados ................................................................................ 73
Tabela 4. Integrantes da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis (RSBCJS)
até 2014. ................................................................................................................................... 85
Tabela 5. Cidades Brasileiras que Aprovaram no Legislativo a Lei que Institui o Programa de
Metas ........................................................................................................................................ 87
Tabela 6. Apresentação do Programa de Metas, 2013-2016 ................................................... 89
Tabela 7. Descrição das Eleições de Betim anos 2000 .......................................................... 106
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Iniciativas da RLACTJDS e RSBCJS ...................................................................... 83
Figura 2. Cronologia de Algumas Iniciativas da RSBCJS ...................................................... 84
LISTA DE SIGLAS
ACE - Associação Comercial e Empresarial
AME Betim - Associação das Mulheres Empreendedoras de Betim
ARENA - Aliança Renovadora Nacional
ASEBET - Associação das Empresas de Betim
CDES - Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
CDM - Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana
CF – Constituição Federal
CLAD – Centro Latinoamericano de Administración para el Dessarollo
FIEMG – Federação das Indústrias de Minas Gerais
GGIM - Gabinete de Gestão Integrada Municipal
GI – Grupo Impulsor
GRES - Grupo Referencial de Estudos em Sustentabilidade
GTs – Grupos de Trabalho
IPPUB - Instituto de Pesquisas e Política Urbana da Prefeitura de Betim
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
MG – Minas Gerais
MNBH – Movimento Nossa BH
MNB – Movimento Nossa Betim
NUPEGS - Núcleo de Pesquisas em Ética e Gestão Social
ONGs – Organizações Não Governamentais
ONU – Organizações das Nações Unidas
OP – Orçamento Participativo
OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
OSCs - Organizações da Sociedade Civil
PCdoB - Partido Comunista do Brasil
PCS – Programa de Cidades Sustentáveis
PDT - Partido Democrático Trabalhista
PPGA – Programa de Pós-Graduação em Administração
PPS - Partido Popular Socialista
PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PSB - Partido Social Brasileiro
PSDB – Partido Social Democracia Brasileira
PT – Partido dos Trabalhadores
PUC Minas - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
PV – Partido Verde
RLACTJDS - Rede Latino-Americana por Cidades e Territórios Justos, Democráticos e
Sustentáveis
RNSP – Rede Nossa São Paulo
RSBCJS – Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis
SD - Solidariedade
SESI – Serviço Social da Indústria
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 21
2.1 Gestão pública local e o ambiente sociopolítico brasileiro ............................................. 21
2.2 Democracia participativa ................................................................................................. 28
2.2.1 Desafios e dilemas da participação popular ................................................................. 30
2.2.2 Participação popular e controle social por meio da ação coletiva .............................. 37
2. 2 Accountability societal: um mecanismo de controle social .......................................... 51
3 PROCEDIMENTOS METODÓLOGICOS ........................................................... 66
3.1 Entre fatos e dados que deram origem à pesquisa .......................................................... 69
3.2 Coleta de dados ................................................................................................................. 71
3.3 Dificuldades de pesquisa .................................................................................................. 75
4 CONTEXTO E ATUAÇÃO DO MOVIMENTO NOSSA BETIM ..................... 77
4.1 Articulações da sociedade civil em busca de cidades mais justas e sustentáveis ........... 77
4.2 Movimento Nossa Betim na "maior cidade pequena" de Minas Gerais ....................... 92
4.3 O movimento Nossa Betim ............................................................................................... 97
5 ACCOUNTABILITY ATRAVÉS DO MOVIMENTO NOSSA BETIM ............ 105
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 154
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 161
APÊNDICE ................................................................................................................. 172
14
1 INTRODUÇÃO
A importância de se ter uma postura responsável com o trato público, tanto por parte
do Estado quanto da sociedade civil, pode ser traduzida como uma questão de accountability,
já que esta se trata de uma relação entre os cidadãos e os governantes. Nesta relação o
governante tem como obrigação expor, explicar, justificar suas ações, informações e condutas.
Por outro lado, os cidadãos devem ter um espaço para questionar o governante e após julga-lo,
os cidadãos poderiam sancioná-lo (Bovens, 2005). Tal relação acontece dentro das cidades e
em suas respectivas gestões públicas. (Bebbington, Delamaza, Villar, 2005; Filgueiras, 2011)
Autores como Breaux, Munyin, Hochwater and Ferris (2009), Fiabane (2011), Hellwing
(2012), Quiñones, Herrera e Hernandes (2011) e Schommer, Nunes e Morais (2011), entre
outros, expõem que ainda são poucos os estudos produzidos na intenção de se entender como
acontece a accountability, em especial aquela caracterizada como societal ou social, ou seja,
protagonizada pela sociedade civil.
Na produção acadêmica brasileira mais recente, o termo accountability vem sendo
traduzido como “responsabilização” (Fiabane, 2011). Nesta dissertação optou-se por manter o
termo em inglês, já que a sua tradução literal poderia gerar distorções no seu entendimento e
trazer confusão em relação ao foco deste trabalho. No contexto político e social democrático,
a razão de ser da accountability está na necessidade de exercer controle sobre o poder público,
na busca da garantia de que o governo seja exercido para o benefício público e para a
melhoria da gestão pública. Poderia se dizer que como um meio para a construção de um
regime democrático participativo, a accountability deveria ser plenamente exercida pela
participação ativa do cidadão (por meios institucionalizados ou não) e através de informações
que possam subsidiar a tomada de controle pela sociedade civil (Doin, Dahmer, Schommer &
Spaniol 2012; Quiñones et al., 2011; Shommer et al., 2011).
15
São apontados dois eixos tradicionais de mecanismos para se realizar a accountability e
um terceiro eixo sugerido por Quiñones et al (2011). O primeiro deles seria o eixo vertical,
que pode ser identificado a partir do momento em que o cidadão vai às urnas exercer o voto.
O segundo eixo se constituiria em uma prática dentro da estrutura do Estado, no ideal de
check and balances entre órgãos e os três poderes (judiciário, legislativo e executivo), que
exerceriam entre si contínua fiscalização na garantia dos valores democráticos (O’Donnell,
1998; Schommer, Turners & Dagmer, 2013).
De acordo com o trabalho de Quiñones et al (2011), existiria o terceiro eixo da
accountability, denominado accountability transversal; esse eixo seria um espaço criado pelo
Estado no qual participariam os atores sociais representando interesses públicos e aconteceria
também o diálogo e negociação entre o Estado e a sociedade (Quiñones et al,2011, p. 12). De
forma sucinta, são os atores coletivos na condução do exercício do controle sobre políticos,
funcionários do Estado e representantes eleitos pelo povo. São iniciativas nas quais o controle
seria realizado pela sociedade civil através de espaços políticos institucionais estatais.
Estaremos diante da accountability societal quando o controle social e as
representações políticas são acionados “por parte dos coletivos constituídos pela sociedade em
função de representação que são desempenhadas de jure ou de fato perante o poder público e
suas instâncias administrativas” (Lavalle & Castello, p.68, 2008).
O adjetivo societal apresentado junto à definição de accountability está presente neste
trabalho a fim de limitar o entendimento sobre o tipo de accountability que está sendo
analisado, ou seja, estuda-se nesta dissertação a accountability realizada por organizações da
sociedade civil, na forma de movimentos sociais interessados em influir nas questões públicas
locais (Alves, 1993; Teodósio, 2009). O presente trabalho adota como sinônimas as
compreensões de accountability societal, accountability social e accountability transversal,
16
ainda que se deva reconhecer diferentes nuances que caracterizam cada uma das
terminologias que descrevem o controle social operado a partir da sociedade civil.
É necessário apontar que é um estudo sobre a accountability societal realizada na esfera
local, logo, na instância dos municípios. Ao considerarmos a noção de local, o assumimos
como espaço da vida cotidiana no qual a maioria das interações entre o Estado, a sociedade
civil e as empresas acontecem. (Teodósio, 2008, 2009; Selsky & Parker, 2005; Yakovleva &
Alabaster, 2003). Apesar de ser um trabalho que considera as dinâmicas das relações
intersetoriais, suas limitações e dilemas, a preocupação do trabalho se concentra na atuação do
Movimento Nossa Betim (MNB) em relação a como esse realiza a accountability com o
governo local.
Vale ressaltar que a compreensão sobre as organizações da sociedade civil (OSCs)
tratada nesta dissertação é aquela trabalhada por Alves (1993, 2002), ou seja, entende-se
como sinônimos aproximados, organizações do terceiro setor, organizações sem fins
lucrativos, associações, fundações, organizações não governamentais (ONGs) e os
movimentos sociais, que serão assim denominados genericamente de OSCs. Adota-se a
denominação OSCs para permitir uma compreensão política das ações das organizações na
sociedade, distanciando-se com isso, das visões e interpretações gerencialistas e funcionalistas
muito frequentes nos estudos sobre terceiro setor (Alves, 1993, 2002).
A possibilidade de se discutir políticas públicas com foco nos governos locais tem
origem no fenômeno da municipalização das políticas públicas, inserida e justificada na
descentralização administrativa, fiscal e política que ocorreu em diversos Estados desde os
anos de 1980 (Alcântara, 2010a; Alcântara, 2010b; Falleti, 2006). A luta pela democratização
das políticas públicas que antes estava confinada à espaços como o dos movimentos sociais e
de outras formas de manifestação da ação coletiva, teria adquirido novas características e
17
estratégias. Essa luta passaria cada vez mais a ser localizada no interior do próprio Estado
(Brugué, 2008; Fleury, 2003; N.C. Grau, comunicação pessoal, 17 de setembro de 2013).
A democracia participativa pode se manifestar por meio de espaços públicos nos quais
os membros da sociedade civil exerceriam interferência nos processos de políticas públicas
(Allebrant, 2001; Amâncio, 2008; Andrade, 2012, janeiro; Arrtche, 1996; Avritzer & Costa,
2004; Costa, 2011; Fleury, 2003). Nesse sentido, a cidade aparece como espaço público por
excelência, pois é entendida como ambiente de negociação entre os diversos atores da
sociedade, em especial o Estado, a sociedade civil e também atores de mercado (Bier,
Feuerschutte, Schmitz, Bousfield, Simm & Pena, 2010; Fischer, 2005; Grau, 1998; N.C.
Grau, comunicação pessoal, 17 de setembro de 2013; Nascimento & Teodósio, 2013;
Teodósio, 2008, 2009; Selsky& Parker, 2005; Yakovleva & Alabaster, 2003).
Ao estabelecerem diálogos, esses atores se encontram em arenas ora mais
institucionalizadas, ora menos institucionalizadas de discussão. As cidades podem ser
reconhecidas como cenário no qual ocorreriam múltiplas relações e as estruturas políticas e
institucionalidades seriam concebidas e aplicadas no cotidiano. As relações políticas no
âmbito do poder local têm, cada vez mais, sido marcadas pela presença e ampliação da
atuação de diferentes movimentos sociais, muitos deles voltados para as questões de
sustentabilidade urbana e desenvolvimento local (Nascimento & Teodósio, 2013; Teodósio,
2008, 2009). Torna-se relevante estudar a incidência de movimentos sociais na gestão pública
local, devido ao papel que a sociedade civil pode exercer na resolução dos problemas que
circundam as políticas públicas locais.
A temática da accountability ganha relevância na agenda das investigações sobre gestão
pública e também junto às iniciativas daqueles interessados no avanço da cidadania, pois
através dela seria possível acompanhar as ações dos governantes perante as questões da vida
18
pública em ambientes e instituições consideradas democráticas e participativas (Abrucio &
Loureiro, 2004).
É possível dizer que a literatura sobre accountability, normalmente, trata do controle
dos atos dos governantes em relação ao programa de governo e à corrupção, da preservação
de direitos fundamentais dos cidadãos e da transparência das ações governamentais perante a
sociedade civil (Abrucio& Loureiro, 2004; Baqueiro, 2013; Filgueiras, 2011; Lavalle &Vera,
2011; Teixeira & Cordeiro, 2013). Nota-se uma lacuna teórica no que diz respeito a como o
processo de accountability sendo realizado por atores da OSCs (Breaux et al., 2009; Doin et
al., 2012; Fiabane, 2011; Hellwing, 2012; Quiñones et al, 2011; Shommer et al., 2011). Tal
situação se confirma ao pesquisar por artigos que tratam da accountability realizada por
movimentos sociais em portais de periódicos científicos como Scielo e CAPES.
Com base na abordagem teórica que se volta para a problematização do processo de
accountability societal realizado por movimentos sociais, esse estudo pretende responder a
seguinte questão de investigação: como é desenvolvido o processo de accountability societal
protagonizado por movimentos sociais em governos locais?
No intuito de responder essa pergunta, foi realizada uma pesquisa de caráter qualitativo
por meio de um estudo de caso, com o objetivo geral de compreender como é realizado o
processo de accountability societal pelo Movimento Nossa Betim no governo local de Betim.
A presente dissertação procura entender como é desenvolvida a accountability societal na
política pública local por meio das ações de um movimento social voltado à promoção da
melhoria da qualidade de vida da cidade de Betim, em Minas Gerais (MG), como é o caso do
Movimento Nossa Betim (MNB), que faz parte da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e
Sustentáveis (RSBCJS) e da Rede Latino-Americana por Cidades e Territórios Justos,
Democráticos e Sustentáveis (RLACTJDS)1. Além disso, a iniciativa está inserida em Betim,
1 Traduzido do espanhol: Red Latinoamericana por Ciudades y Territorios Justos, Democráticos y Sustentables.
19
Minas Gerais, cidade signatária do Programa de Cidades Sustentáveis (PCS), surgindo e se
desenvolvendo a partir da atuação da RSBCJS.
O MNB é uma organização da sociedade civil que se propõe a criar uma interação entre
lideranças comunitárias, outras OSCs, empresas e cidadãos de forma a aprimorar o diálogo
com os governos locais visando melhorar a qualidade de vida nas cidades, “acompanhar e
contribuir para que a sociedade conheça o resultado das políticas públicas, como a execução
do orçamento público municipal e as atividades do legislativo municipal, relacionando-os à
situação dos indicadores de qualidade de vida e contribuir para uma maior participação e
controle da sociedade na gestão do município.” (Nossa Betim, 2014a).
Ao fazer parte das redes RSBCJS e RLACTJDS, o MNB se encontra inserido em uma
agenda nacional e internacional que compartilha de um mesmo propósito: utilização de
indicadores e informações para incentivar ou promover a participação popular nas políticas
públicas das cidades, o que consequentemente, permitiria incidir para promover uma melhor
qualidade de vida nas cidades.
Além disso, os movimentos de ambas as redes não possuem ligações com partidos
políticos ou com instâncias religiosas. Essas iniciativas afirmam manter uma independência
frente ao governo local e iniciativas privadas, assim como se intitulam possuir um caráter
democrático na medida em que estariam abertas ao desenvolvimento de relações com
qualquer organização e/ou cidadãos, independentemente de sua origem social, política,
econômica, étnica e religiosa (Nossa Betim, 2014a; Rede de Cidades, 2013). Quando criado,
em 2010, o MNB contou com o apoio financeiro de algumas empresas privadas, como FIAT
Automóveis S. A. e a ISVOR, possuindo também parcerias com OSCs como a Fundação
Avina, o Instituto Ester Assumpção, a AME Betim e o Instituto Ethos, entre outros.
Diante disso, a presente pesquisa de dissertação conta com os seguintes objetivos
específicos: i) descrever a formação, trajetória e a forma de atuação do MNB, ii) verificar os
20
tipos de participação popular que envolvem o MNB e as consequências para a accountability
societal por ele implementada, iii) analisar a relação que o MNB estabelece com empresas
privadas e com o Estado sob a perspectiva da accountability societal e iv) discutir as
perspectivas, armadilhas e limitações encontradas por esse tipo de movimento social para
realizar accountability societal em âmbito local.
O trabalho foi produzido, como indica Bonoma (1985), dentro do contexto social,
político, econômico e cultural no qual MNB atua. Além disso, cabe destacar que a pesquisa
contou com a presença da pesquisadora em algumas atividades do MNB fazendo com que a
mesma assuma, em determinados momentos, traços de pesquisa participante.
A construção teórica da investigação está estruturada com o objetivo de discutir os
elementos principais da accountability societal realizada por movimentos sociais, que
procuram atuar na política pública local, levando em conta o contexto sociopolítico brasileiro.
As principais discussões teóricas deste trabalho estão estruturadas no capítulo 2, onde são
abordadas as questões de gestão pública local, democracia participativa, participação popular,
movimentos socais, relações intersetoriais e da accountability societal.
Nos capítulos subsequentes à discussão teórica são apresentados e discutidos os
procedimentos metodológicos que guiaram a pesquisa em suas diferentes fases como na
coleta de dados primários e secundários, tabulação e análise dos dados. Em seguida, é
apresentada a análise dos dados, na qual se busca estabelecer uma interpretação crítica da
realidade sociopolítica em torno do MNB e suas implicações para o exercício da
accountability societal em Betim. Seguem-se as considerações finais, nas quais faz-se um
balanço dos objetivos estabelecidos e alcançados pela investigação e sugere-se novas agendas
de pesquisa a partir dos achados do presente estudo.
21
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Gestão pública local e o ambiente sociopolítico brasileiro
No Brasil, mudanças foram trazidas pela reforma constitucional brasileira em 1988 e, na
sequência, com a promulgação das Constituições estaduais e das Leis Orgânicas municipais
que resultaram em uma valorização subnacional de governo (Estado e municípios). Essas
constituições trazem como reflexo a descentralização de poder do governo federal e como
bem frisa a Constituição Cidadã, garantem-se espaços institucionalizados para a participação
popular e para as instituições híbridas, ou seja, aquelas instituições que partilham processos
deliberativos entre representantes do governo e da sociedade civil (Allebrant, 2001; Avritzer
& Pereira, 2005; Ckagnazaroff & Souza, 2003; Fleury, 2003; Pinho & Sacramento, 2009).
Essas mudanças levaram a uma modificação necessária na estrutura administrativa dos
municípios (Allebrant, 2001; Fleury, 2003) e neste contexto, a incorporação da sociedade civil
no processo de gestão pública local constituiu-se em um elemento importante para o avanço
da democracia participativa.
Porém, antes de dar sequência na discussão sobre a gestão pública local e os processos
participativos no contexto brasileiro, cabe avançar na compreensão da esfera na qual se
inserem os atores que vão interagir e dialogar com o Estado na construção da gestão pública
local: sociedade civil. O termo sociedade civil gera confusão em relação a sua definição não
só à sua pluralidade acerca dos atores envolvidos, mas também em relação aos diferentes
interesses. Por isso é importante realizar uma discussão sobre o termo levando em
consideração as principais teorias e definições existentes.
Existem três principais linhas que buscam analisar a origem do conceito de sociedade
civil, levando em consideração a sua relação com o Estado (Alves, 1993, 2002). A primeira
22
surgiu com Locke e o conceito de contrato social, que reflete a necessidade da sociedade deter
um poder soberano que organize os seus deveres e direitos. O contrato refletiria o surgimento
de uma sociedade, ou seja, cidadãos livres se associando com o objetivo de gerar ganhos
mútuos. Assim, “a sociedade civil é a “ordem” que resulta do controle do Estado sobre os
súditos pelo poder de um contrato” (Alves, 1993, p.4).
A segunda linha leva em consideração o papel das associações como forma de unir os
indivíduos e disseminar o sentido de comunidade. Esta vertente de pensamento tem como
principal autor Hegel, o qual acreditava que a sociedade civil se constituiria em um espaço no
qual os indivíduos procurariam alcançar suas necessidades, desenvolvendo-se por isso como
uma entidade separada do Estado. Daí surge o papel das associações na formação da
sociedade civil. Essas seriam responsáveis pelos indivíduos que a compõem, também se
constituindo em uma forma de impedir a disseminação de formas despóticas e tiranas de
exercício do poder do Estado. Essa abordagem acredita que a sociedade civil seria composta
por diversos atores sociais, podendo gerar dissonâncias e conflitos no seu interior (Alves,
1993).
Já a terceira linha, tem Habermas como o principal autor, esse aponta que a esfera
pública deve ser reconhecida como um espaço de construção de interações entre os atores,
baseados em uma racionalidade denominada como comunicativa em oposição à racionalidade
burocrática, que são típicas do Estado, e a estratégica do mercado. É interessante ressaltar que
Habermas desenvolveu a teoria da ação comunicativa, através da qual identifica dois níveis
nas sociedades: o Mundo da Vida, espaço das tradições e cultura; e o Sistema, espaço do
dinheiro e do poder.
Para a abordagem habermasiana, na intercessão desses dois mundos, apareceria a esfera
pública, que faria o intermédio entre os dois níveis. Portanto, a esfera pública seria a
dimensão na qual os assuntos públicos são discutidos pelos atores públicos e privados. O que
23
diferenciaria a esfera pública da sociedade civil é o fato da segunda possuir maior grau de
institucionalidade, ou seja, a sociedade civil seria a esfera pública institucionalizada (Alves,
1993; Dutra, 2006). De acordo Dutra (2006), que faz uma leitura das ideias habermasiana de
sociedade civil, temos a seguinte descrição:
O núcleo institucional da sociedade civil é formado por movimentos, associações e
organizações sociais [fundações] não estatais e não econômicas. Essas instituições
cristalizam os problemas e os transferem para a esfera política. Apesar da mídia, a
sociedade civil continua o espaço das pessoas privadas que podem se organizar para
influenciar, cercar, o poder político, na busca de soluções para seus problemas. A
sociedade civil alicerça-se nos direitos de expressão, reunião e associação (Dutra, 2006,
p. 61).
Interessante ressaltar seis elementos apresentados por Alves (1993), que podem ajudar a
descrever a sociedade civil, esses elementos seriam: 1) a categoria típica-ideal, isto é, a
sociedade civil está presente em diversos lugares funcionando da mesma forma; 2) sociedade
civil como um espaço não-estatal ; 3) constituição de um campo de poder, assim como outras
construções do mundo social; 4) espaço dialógico, no qual diversos atores discutem assuntos
variados; 5) detenção de proteção jurídica 6) autolimitação do seu poder, para que o excesso
do mesmo não leve a sua autodestruição.
A sociedade civil pode influenciar na programação do sistema estatal, mas não abdicar
dele enquanto um sistema eficiente na implementação de fins (Dutra, 2006; Habermas, 1984).
Dessa forma, pode-se considerar que o poder administrativo do Estado seria perpassado pelo
poder da opinião pública e da sociedade civil. No que tange a política, a função da sociedade
civil seria a de expor os problemas que deveriam refletir sobre o complexo parlamentar,
construindo assim um espaço para gestar conteúdos legítimos, a partir da racionalidade
comunicativa (Dutra, 2006; Habermas, 1984).
A racionalidade comunicativa surge na concepção habermasiana para apontar uma
separação da sociedade civil do poder e do dinheiro nas questões que tangenciam influenciam
24
e lidam com os assuntos públicos. Assim, a racionalidade comunicativa, buscaria estabelecer
um consenso entre o Mundo da Vida e o Sistema. Daí a importância da opinião pública e a
sua relação com a transformação estrutural da esfera pública (Alves, 1993, 2002).
Sabe-se que os direitos constitucionais que protegem a sociedade civil não são
suficientes para protegê-la de interferências, por exemplo, do poder social que é alicerçado,
principalmente, no dinheiro e no poder, que acabariam representando interferências oriundas
de interesses não públicos (Dutra, 2006).
Os membros da sociedade civil “praticam sua capacidade de interferir nos processos de
tomada de decisão, influenciando na significação do que é compartilhado como bem comum”
(Costa, 2011 p. 25). A atuação da sociedade civil nos processos decisórios pode ocorrer
dentro dos munícipios, já que os cidadãos estão mais próximos dos governantes responsáveis
pelas políticas públicas em nível local, logo as exigências pelo atendimento e pelo
acompanhamento dessas políticas a priori tenderiam a serem maiores (Allebrant, 2001;
Fleury, 2003).
A gestão pública local caracterizaria-se como um processo de organização orientado
pelo interesse municipal e possui como objeto as organizações, incluindo instituições privadas
e públicas (Baquero, 2001; Boschi, 1999). O governo local seria tradicionalmente voltado
para solucionar problemas intra-urbanos, que envolvem, por exemplo, situações relacionadas
com a saúde; a educação; a violência; a juventude; o meio ambiente/saneamento/moradia; o
emprego e a renda; a assistência social e a mobilidade urbana (Baquero, 2001; Boschi, 1999;
Frey, 2007; Gamson, 2003,1990; Kliksberg, 2007; Lüchmann, 2002, 2006, 2011). Tais
governos se veem confrontados com a necessidade de contemplar, na composição de suas
estratégias urbanas, os riscos e oportunidades oferecidas pelo ambiente externo de sua gestão,
que está em acelerada transformação. Além desse cenário, os governos lidam com as pressões
por parte da população que está exposta aos efeitos colaterais do progresso econômico
25
(Nascimento & Teodósio, 2013; Nunes, 1999; Olival, Spexoto & Rodrigues, 2007; Palmeira,
Teodósio, Nascimento & Ayres, 2012; Moreira, 2012). Tal cenário aponta como a gestão
pública local tem a necessidade de se tornar, cada vez mais, compartilhada entre as esferas da
sociedade.
É possível apontar três momentos que sinalizam mudanças no gerir das políticas
públicas locais: em primeiro lugar, as experiências inovadoras desenvolvidas pelas prefeituras
eleitas em 1974, como por exemplo, aquelas cujas representações eram compostas pelo
partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que se caracterizou por abrigar opositores
ao regime militar brasileiro de 1964 e como consequência direta, opositores ao partido da
Aliança Renovadora Nacional (ARENA) instituído com a intenção de dar sustentação política
ao governo militar, permitiram colocar em prática novos desenhos e modelos de gestão de
políticas sociais, de caráter universalista e participativo (Cabral, 2007, 2011; Cerqueira, 2008;
Ciconcello, 2008; Fleury, 2003).
Em segundo lugar, no interior do poder Executivo aprofundaram-se os processos de
valorização do setor público e do processo de descentralização diante da crise das políticas
sociais e sua incapacidade de responder às demandas crescentes (Fleury, 2003). Em terceiro
lugar, houve um fortalecimento das capacidades técnicas dos partidos políticos e do
parlamento, que passaram a tomar a problemática social como parte de suas plataformas e
projetos de construção de uma sociedade que busca avançar de forma democrática (Abreu,
Armond & Motta, 2010; Allebrant, 2001; Alves, 2002; Avritzer, 2003; Fleury, 2003; Pinho &
Sacramento, 2009).
Aponta-se ainda a existência de uma tentativa de resgate da dívida social, colocando
este tema como um ponto central da agenda da democracia, convergindo para ele movimentos
de natureza diversa espalhados pelas cidades brasileiras, como o movimento municipalista, o
26
movimento sindical, os movimentos urbanos e os movimentos sociais de base, entre outros
(Blanco, Fleury &Subirats, 2012; Fleury, 2003).
A cidade apareceria como espaço público por excelência, pois é entendida como
ambiente de negociação entre atores, que buscam levar decisões para a esfera pública (Costa,
2011). Logo, as cidades são reconhecidas como um cenário no qual ocorrem múltiplas
relações e onde as estruturas políticas e as institucionalidades são concebidas e aplicadas.
Além disso, a cidade tem sido considerada como um espaço em que diferentes
dimensões dos direitos e da cidadania são materializadas, ainda que permaneçam grandes
desafios para a sua efetivação e consolidação.
Tal ponto tem sido pauta de discussão desde 2001 no Fórum Social Mundial. Mais
tarde, globalmente, o direito a cidade passa a ser garantido pela Carta Mundial do Direito à
Cidade, apresentada no Fórum Social das Américas em Quito, capital do Equador e no Fórum
Mundial Urbano na cidade de Barcelona, ambas no ano de 2004. Já em janeiro de 2005 a
mesma carta é apresentada no V Fórum Social Municipal na cidade de Porto Alegre, capital
do Rio Grande do Sul.
Direito à cidade é interdependente a todos os direitos humanos internacionalmente
reconhecidos, concebidos integralmente e inclui os direitos civis, políticos, econômicos,
sociais, culturais e ambientais. Inclui também o direito à liberdade de reunião e
organização: o direito ao exercício da cidadania, da participação no planejamento,
produção e gestão da cidade; a produção social do habitat; o respeito às minorias e à
pluralidade ética, racial, sexual e cultural. O Direito à Cidade inclui também o direito ao
desenvolvimento, a um meio ambiente sadio, ao desfrute e preservação dos recursos
naturais e à participação no planejamento e gestão urbanos (Costa, 2011, p.31).
A Constituição de 1988 e a Carta Mundial do Direito à Cidade avançam na legitimação
democrática do poder local. Com isso, se abriria espaço para que articulações entre os
diferentes aparelhos de Estado, dos municípios e a sua base social, as instituições locais e as
populações locais aconteceriam de forma a vislumbrar, discutir e implementar projetos
27
alternativos para a melhoria da vida nas cidades. De acordo com Granado (2010), esta
legitimação supõe duas ordens de valores: “Por um lado, a sua constitucionalidade, que define
os municípios como os prossecutores dos interesses próprios das populações respectivas
legitimados por processo eleitorais. Por outro lado, a aura normativa que decorre do poder
local ser conscientemente um dos sustentáculos do regime democrático nascente” (Granado,
2010, p.66).
Na visão de Granado (2010), no nível da gestão local, podem-se encontrar três formas
distintas de exercer o poder: a de municipalismo tradicional, a oriunda do modelo neoliberal e
a realizada por ações de exercício da cidadania. A primeira forma repete práticas antigas, que
se afastam do ideal democrático, já que se caracterizaria pela personificação do poder e
utilização da máquina pública para o atendimento de interesses particulares em detrimento da
população local. A segunda forma pode ser apontada como reflexo de um modelo neoliberal
de gestão governamental, pois nela predomina a privatização, com a transferência dos
serviços públicos para o sector privado. Já a terceira forma seria aquela mais apta à efetivação
da cidadania pela possibilidade de uma maior participação no espaço público, através da
utilização de vários instrumentos que garantam a intervenção da sociedade civil no Estado
(Granado, 2010).
Com foco na terceira forma de exercício do poder na gestão local temos a sociedade
civil como protagonista do processo. Para avançar na compreensão dessa realidade, o tópico
seguinte busca discutir o contexto democrático que permitiria que tal ação ocorra apontando
as formas de atuação da sociedade civil na esfera pública, os limites e os dilemas encontrados
na dinâmica democrática.
28
2.2 Democracia participativa
Dentre as diferentes formas de se conceituar a democracia, têm-se o pensamento
gramisciano, que acredita que a democracia ocorreria em espaços nos quais é possível haver
uma arena de embate pelo poder hegemônico de uma classe dominante sobre outras. Nesta
perspectiva, a democracia seria percebida pela classe dominante como mais uma forma de
conservar as estruturas de dominação de classes (Abreu, Armond & Motta, 2010). Uma
discussão importante sobre o processo democrático é aquela que se volta para a análise da
exclusão dos cidadãos do processo político e manutenção da centralização do poder.
Ainda tendo como dimensão de análise a presença ou não de diferentes atores no
processo democrático, têm-se o pensamento schumpeteriano, que sugere o chamado modelo
democrático elitista. Tal modelo adota a definição de democracia sob o manto liberal, no
sentido em que este descarta o demos e passa a focar na “liberdade individual” em várias
dimensões da vida. Existiria nessa perspectiva sobre democracia um distanciamento da
proposta do ideal grego de um governo pelo “demo”, ou seja, pelo povo (Abreu et al., 2010).
Com base nessa concepção do processo democrático, passou-se a se aproximar do
conceito de democracia liberal, que seria caracterizado por ser uma democracia centrada no
caráter instrumental, elitista e competitivo. Diversos autores buscaram legitimá-lo, inclusive
Schumpeter, afirmando que a democracia seria apenas um modo de gerar governos e que,
portanto, não admitiria a participação do povo. Assim, o modelo hegemônico global passaria
a ter a democracia representativa liberal como ideologia política e o liberalismo como
ideologia econômica. Esse tipo de entendimento se encaixaria nas teorias realistas sobre a
democracia (Abreu et al., 2010; Lüchmann, 2011).
Em contraposição à democracia do tipo liberal, que seria sustentada pela racionalidade
normativa e na ideia da organização de mecanismos institucionais eficientes sem o
envolvimento direto dos cidadãos, nos processos decisórios, tem-se o modelo de democracia
29
participativa. Com ele se romperia a lógica do privilégio decisório, difundindo práticas de
compartilhamento entre o Estado e a sociedade em espaços públicos. Governantes e
governados seriam responsáveis pela tomada de decisão sobre os interesses públicos (Costa,
2011; Frey, 2007; Lüchmann, 2011). Esse modelo de democracia têm se destacado com
crítica ao modelo liberal, na medida em que afirma que a compreensão liberal sobre
democracia tende a congelar a ação política em determinados atores e estruturas
institucionais, dadas como únicas e possíveis frente à pluralidade e a complexidade social
(Lüchmann, 2011).
A democracia participativa e sua forma de atuação deliberativa surgiriam como
alternativas críticas às teorias que concebem a democracia como mecanismo de escolha de
líderes políticos mediante a competição, entre os partidos, pelo voto, equiparando a dinâmica
política ao jogo do mercado. Cabe destacar que a crítica operada pela visão de democracia,
baseada na ideia de participação, não condena ou exclui a importância da democracia
representativa, que trabalha com a ideia de uma delegação de poder a um representante para
tratar dos assuntos públicos que afetam, direta e indiretamente, a população para qual este
representante atua, logo este tipo de democracia preza a política sendo realizada por políticos
eleitos pela sociedade civil.
A democracia representativa atenderia e ajudaria a equacionar as complexidades de se
fazer política frente à dimensão e quantidade dos processos de decisões políticas nas
sociedades contemporâneas. A necessidade de manter, em alguma medida, os pressupostos do
modelo representativo eleitoral é reconhecida por Costa (2011), Fung & Wright (2001) e
Lüchmann, (2011).
Um Estado como o brasileiro, apesar de seu passado marcado pela centralização oriunda
da época colonial, e por períodos de autoritarismos como os da monarquia e da ditadura militar,
apresenta em sua história política um momento crucial para a democracia, ampliação da cidadania e
30
participação: a reforma constitucional de 1988 (Ciconcello, 2008; Goulart, 2006; Gohn, 1988).
Essa é oriunda de diferentes frentes de ação e demandas da sociedade, haja vista, as críticas
realizadas pela população, de forma individual ou por meio de movimentos sociais, durante e
após o período militar (Arrecthe, 1996; Avritzer, 2007; Baquero, 2001; Labra & Figueiredo,
2002; Moreira, 2012).
O princípio da participação social na administração pública está presente na
Constituição de 1988 (CF/1988), por exemplo, nos Artigos 10, 187 e 194, inciso VII; 198,
inciso III; 204, inciso II; 206, inciso VI; e 216, §1º; assim como em instrumentos de controle,
como previsto no Artigo 5º, incisos XXXIII, LXXI e LXXIII; e no Artigo 74, § 2º. Essa
participação assume formas para além das audiências públicas, como por exemplo, as
consultas, as ouvidorias, os conselhos, entre outras formas (Soares, 2002).
A constituição ficou conhecida como “Constituição Cidadã”, na medida em que
proporcionou como direito constitucional o exercício da participação popular pelos cidadãos.
Com a reforma constitucional em 1988, teriam se fortalecido, fundamentalmente, novos
padrões de ação coletiva, espaços institucionalizados para a participação ampliada e
instituições híbridas, que envolveriam um compartilhamento de processos deliberativos entre
os atores estatais e sociais (Avritzer & Pereira, 2005).
A participação popular conquistada ainda enfrenta importantes desafios, que por vezes
promovem um ciclo vicioso de limitações nas ações desempenhadas pela sociedade civil
como será tratado no seguinte tópico.
2.2.1 Desafios e dilemas da participação popular
Sabe-se que a ideia de democracia participativa ganha força no contexto dos
movimentos estudantis durante os anos de 1960, difundindo-se para outros setores, como as
31
classes trabalhadoras, que passam a demandar maior controle e melhores condições de
trabalho, durante os anos de 1960 e 1970. Poderia se dizer que, de maneira geral, os
defensores da participação se opõem a qualquer pressuposto que a reduza no momento
eleitoral da escolha dos representantes políticos (Lüchmann, 2011).
O modelo de democracia participativa segue uma perspectiva sob a democracia oriunda
de Rousseau, na qual os cidadãos seriam ao mesmo tempo os formuladores e os seguidores de
suas leis. A democracia significaria devolver aos cidadãos o exercício da atividade política
que foi alienada ou transferida aos representantes eleitos, como aconteceria nas modernas
democracias, haja vista a democracia liberal e a representativa (Abreu et al., 2010; Costa,
2011; Lüchmann, 2011).
Costa (2011) considera necessário analisar a democracia a partir da postura e da ação
dos atores sociais, logo, como manifestação de traços culturais, permeada pelas
representações e significações construídas socialmente. A democracia deveria ser avaliada,
segunda a autora, como uma “prática social, referenciada em valores, apresentando-se em
gradações diferenciadas, com avanços e recuos, construções e desconstruções compartilhadas,
estabelecidas por meio de disputas, enfim, um exercício político”. (Costa, 2011, p. 26).
Ao se problematizar a realidade brasileira, seriam encontrados alguns paradoxos ligados
a democracia como prática social. Haja vista a evidência de “oposição entre o fortalecimento
do sentido universalista de bem comum e a tendência ao particularismo como expressão de
um individualismo exacerbado” (Costa, 2011, p. 23). Simultaneamente à imposição do
modelo de liberalismo, o qual preconiza o mercado e determina a redução do Estado, haveria
também o estímulo do reposicionamento e valorização da sociedade civil como expansão dos
regimes democráticos no capitalismo globalizado vigente.
As diretrizes técnicas para a construção da participação política podem implicar em uma
burocracia que, por sua vez, podem enrijecer os processos de participação. Tal situação
32
também se coloca como um paradoxo para o exercício da democracia. Elementos técnicos não
são neutros e atendem à implementação de concepções econômicas, políticas e sociais. Os
tecnocratas legitimam as suas ações por meio do seu saber técnico, reconhecido para atuar
nessa esfera, mas justificado por sua suposta contribuição ao bem comum ou ao interesse
público. Porém, este papel pode favorecer determinados grupos, o que geraria um
distanciamento do pressuposto de se alcançar o bem comum, assim como incitar a
participação popular pela sociedade civil. O que, muitas vezes, acontece é que o tecnocrata
acaba se privilegiando das burocracias fazendo com que este seja o único a participar. Assim,
o cidadão a parte das regras, normas e técnicas de participação se encontra frente a barreiras
para participar de fato (Costa, 2011).
A lógica por detrás da tecnocracia, que é oriunda principalmente de modelos de gestão
empresarial, é a de que o lucro só é gerado no processo de produção, seja qual for ele, na
medida em que o gestor controla efetivamente cada etapa deste processo (Kilsztajn, 1978).
Levando esta perspectiva para dentro da administração pública, a forma do governante
controlar seria a partir da técnica e conhecimento específico sobre o assunto e Fleury (2003)
argumenta a necessidade do afastamento do modelo tecnocrático da gerência social e indica a
necessidade de se buscar uma nova forma de atuação:
capaz de promover a mobilização de recursos sociais, a promoção da participação
social, a negociação de conflitos, o planejamento estratégico, a gestão de redes de
parceiros e as especialidades técnicas no setor social e administrativo, específicos. (...)
Trata-se de um processo de transformação das estruturas e culturas institucionais,
redefinindo a missão e o compromisso sociais de todos os envolvidos, de forma a
adequar habilidades e criar instrumentos para permitir a plena realização de uma
gerência voltada para a democratização, tanto do estado quanto da sociedade (Fleury,
2003, p. 5).
Seria possível apontar que uma das condições para que esta nova forma de atuação,
proposta por Fleury (2003), ocorra na medida em que a participação da população nos
33
processos de políticas públicas de fato ocorra. Tal cenário implicaria em um diálogo mais
avançado entre poder público e cidadãos em torno de diversos temas que circundam os bens
públicos (Avritzer, 2007; Fleury, 2003; Milani, 2008).
Um dos ideais da participação política seria estabelecer um diálogo entre a sociedade
civil, o que incluiria também as OSCs, e o Estado, cujo foco seria a contraposição e ao mesmo
tempo um equilíbrio de ideias. Dessa forma, seria necessário que se alcance a recuperação do
papel do Estado, logo, a sua governança e aumentar a sua governabilidade. Esses elementos
seriam essenciais para a consolidação das ações do Estado dentro da sua relação com a
sociedade (Blanco, Fleury, &Subirats, 2012; Gohn, 1988).
A ideia de governança estaria diretamente ligada à capacidade do Estado de atender aos
seus cidadãos de forma mais equilibrada possível, a partir de um aspecto fundamental: possuir
ações que produzam efeito ou resultado esperado, ou seja, possuir a qualidade de ser uma
governança com efetividade e eficiência e eficácia (Brugué, 2008; Malaia, 2011). Já o aspecto
da governabilidade se referiria às condições sistêmicas mais gerais, sob as quais se dá o
exercício do poder em uma dada sociedade, como a forma de governo e suas relações entre os
poderes (Malaia, 2011).
Além de uma aparente ineficácia da atuação governamental existe ainda as questões da
promoção e da realização da participação política pela a população, que apesar de ter crescido
no cenário latino-americano e brasileiro desde os anos de 1980 e 1990, ainda sofre com
diversos fatores que limitam a participação (Kliksberg, 2007; Malaia, 2011, Moreira, 2012).
Um dos fatores que limita a participação da sociedade civil no âmbito político de um
país seria o fator histórico-estrutural que influencia nas atitudes e posturas de desconfiança e
desencanto da sociedade civil em relação às suas instituições políticas e aos políticos
(Baquero, 2001; Brugué, 2008; Milani, 2008; Lüchmann, 2011).
34
Para que a democracia de um país possa amadurecer é importante que a respectiva
sociedade tenha a capacidade de se mobilizar de forma autônoma para fiscalizar, modificar o
processo político e, enfim, realizar accountability societal, que por sua vez, é uma forma de
exercer o controle social por meio da participação da sociedade civil nos processos de gestão
pública.
Afirmar que cultura política é a causa e a consequência do funcionamento do sistema
político e que esta ocupa um lugar central no cotidiano do indivíduo (Baquero, 2001), seria
engano como aponta Souza (2009), pois a raiz do baixo nível participativo no Brasil, não se
caracterizaria somente por falta de mecanismos participativos, ausência de informação sobre o
processo ou heranças e formas culturais. Souza (2009) argumenta que o problema não se
situaria somente em um destes elementos, mas sim em cada parte desse processo, na
engrenagem como um todo.
Um dos desafios colocados como causadores da baixa participação popular está
relacionado à gestão das políticas públicas por parte do poder público. Este, ao buscar o
engajamento da sociedade civil no processo da participação popular, enfrenta dificuldades em
executar seus planos, diretrizes e prioridades conforme os documentos e estratégias de ação
(Brugué, 2008). Frente a este cenário acaba-se optando por trabalhar de forma mais
centralizada com base em rotinas, técnicas, planos de governo e gestão pública, o que por sua
vez se distanciaria da participação popular. Existe a necessidade do poder público unificar e
organizar diferentes demandas sociais advindas de múltiplos atores sociais sem burocratizar,
padronizar e desconsiderar a heterogeneidade e os direitos dos diferentes grupos sociais
(Amâncio, 2008; Costa, 2011; Lavalle & Castello, 2008; Nunes, 2009).
O desencanto com o como fazer política seria mais um dos desafios atuais com que se
depara a participação popular brasileira, e este seria apontado como um dos inibidores de
35
inovações e até mesmo em relação aos incentivos a realizar projetos populares no Brasil
(Avritzer, 2005; Barney, 2003; Brugué, 2008; Labra & Figueiredo, 2002; Silva, 2001;).
A grande maioria pobre da população brasileira historicamente foi marginalizada e
excluída da participação nos processos políticos, sendo mobilizada unicamente no
sentido da legitimação e/ou do suporte eleitoral aos agentes da elite política. Com base
na trajetória de exclusão e subordinação, constituiu-se uma experiência de não
identificação com os espaços, instituições e agentes políticos, vistos como algo
“distante” em relação aos interesses cotidianos e, mais do que isso, muitas vezes
opostos àqueles. Fundadas nesta experiência, são construídas representações e discursos
que instituem um senso comum no qual “política” é associada com enganação,
interesses pessoais, corrupção, dominação, sujeira, entre outros atributos pejorativos.
(Silva, 2001, p.46).
A visão negativa da política e um padrão clientelista que se tem em relação ao Estado
são também apontados como alguns dos grandes empecilhos à participação da população em
projetos públicos (Brugué, 2008). “Tal situação ocorre não por um “atraso” da população,
conforme tendem a sustentar determinadas abordagens elitistas, mas porque esta população
aprendeu através de sua experiência que a “política” é algo negativo”. (Silva, 2001, p.47).
Seria preciso romper com essas ideias instituídas, produzidas e reproduzidas que se baseiam
no suposto atraso cultural do brasileiro, acabando por justificar uma trajetória sociopolítica
fundada na exclusão, subordinação e clientelismo, a fim de se equacionar os limites da
participação popular (Silva, 2001; Lavalle & Castello, 2008).
Essa subordinação, que permeia a sociedade brasileira, ocorreria devido às duas
categorias de cidadãos, conforme defende Nunes (2009): os de elite da cidade, capaz de
influenciar as decisões públicas, e os da população em geral, longe do poder e
desorganizada. Um dos problemas básicos a serem superados a fim de que seja desenvolvida
uma pedagogia da participação seriam os obstáculos técnicos presentes nas instâncias
participativas, como por exemplo, no orçamento participativo no acompanhamento
orçamentário de um município, que dificultam o envolvimento de diversos grupos de
36
pessoas que não possuem familiaridade e conhecimento, formal ou informal, para lidar com
os requisitos processuais, técnicos e os ritos organizacionais que envolvem a construção de
orçamentos e decisões públicas (Nunes, 2009).
Como forma de se superar esse quadro, a visão de senso comum defende que a
educação ou a formação seria o caminho para ampliação da participação dos cidadãos nos
processos de decisão de políticas públicas no Brasil. Ainda que se constitua em uma
realização desejável em tese, cabe destacar que tal concepção, se tomada isoladamente e sem
uma problematização mais profunda da complexidade, das armadilhas e das contradições
que envolvem os processos participativos nas sociedades contemporâneas, acabaria por
reforçar uma visão elitista, comodista, fatalista e pouco transformadora da realidade política
brasileira.
Poderia se dizer que se torna ilusório acreditar que a educação seria o elemento
suficiente para o rompimento de barreiras causadas pela atitude clientelista da maior parte
dos cidadãos no que se refere a políticas públicas (Blanco et al.2012). Apesar da educação
ou a necessidade de uma formação cidadã se apresentar como um elemento necessário para a
promoção da participação popular se limitar a esta abordagem não seria suficiente.
Além disso, deveria se pensar que a participação popular em grande número, poderia
significar ainda maiores conflitos, divisões de temas e ainda, uma participação por interesses
particulares ao invés de coletivos (Olival, Spexoto & Rodrigues, 2007).
Dentro deste contexto, é pertinente pontuar sobre o processo de elitização na
participação popular, que recebe reforços do ambiente sócio-político já descrito, assim como
decorre da ação, na maioria das vezes de forma inconsciente, de alguns daqueles que se
interessam e atuam em prol da formulação, incidência nas políticas públicas (Grau,
comunicação pessoal, 17 de setembro de 2013; Olival, Spexoto& Rodrigues, 2007). Assim,
37
parece se reproduzir (...) através de um processo de “elitização” caracterizado pela
constituição de ciclos (viciosos) da participação e representação em que os mais cultos,
organizados e com recursos materiais assumem os espaços de representação social,
espaços estes que tendem a reafirmar ( e reafirmar) o seu estoque de informação e
qualificação (técnica e política) perante as “bases” sociais (Lüchmann, 2006. p.123).
Apesar dos avanços estabelecidos pela Constituição Federal brasileira de 1988, que
permitiram que a participação adquirisse dimensão institucional e se buscasse a ruptura do
modelo clássico de democracia representativa, muitos desafios perduram para a promoção de
processos democráticos mais participativos no Brasil como os descritos acima. A introdução
no ordenamento jurídico constitucional do país a concepção de democracia participativa
através da constituição de instâncias como a da Audiência Pública, do Orçamento
Participativo, do Plano Diretor, dos Conselhos de Políticas e das Conferências e dos Fóruns
representaram importantes avanços para a democratização das relações entre Estado e
sociedade no país. Porém, para avançar na compreensão dos desafios que perduram, cabe
também avançar na compreensão da dinâmica da sociedade na medida em que se organiza e
procura incidir sobre o Estado, ou seja, sobre a própria sociedade civil. Os movimentos
sociais são um tipo de ação coletiva que estão direcionados a lidar com vários problemas
modificando-os de algum modo ou em sua totalidade no contexto. O universo dos tipos e
formas de movimentos sociais está descrito no próximo tópico.
2.2.2 Participação popular e controle social por meio da ação coletiva
Dentre as formas de participação popular, coloca-se neste trabalho ênfase nos
movimentos sociais e ao estudá-los estamos diante da temática da ação coletiva, que sob a
perspectiva da sociologia inclui análises que se voltam tanto para manifestações primárias, ou
seja, elementares da ação de massa, quanto aquelas que contam com a presença de estruturas
38
organizacionais racionalmente concebidas para alcançar fins, como é o caso de alguns
movimentos sociais (Azevedo & Prates, 1991; Brugué, 2008; Selli & Garrafa, 2006).
Os movimentos sociais podem ser considerados como resultado de um complexo
processo de construção social, envolvendo motivações provenientes da realidade social,
sobretudo aquelas orientadas para a produção do bem coletivo (Brugué, 2008; Selli &
Garrafa, 2006). Podem ser constituídos por atores da sociedade, seja eles do primeiro,
segundo ou terceiro setor.
No meio acadêmico no século XIX, principalmente na França, os primeiros estudos
sobre ação coletiva traziam a ideia dos movimentos sociais como distúrbios populares e
desvios de comportamento, partindo do pressuposto que as ações dos movimentos sociais
eram irracionais. Em 1939, Blumer citado por Gohn (2009), autor conhecido com um crítico
do positivismo e inventor do termo interacionismo simbólico, foi o primeiro a utilizar a
expressão movimento social na produção teórica. Em seu trabalho foi feita uma divisão dos
movimentos sociais em gerais e específicos, assim como também tratou de temáticas como
movimentos das mulheres, dos jovens e pela paz, dentre outros (Gohn, 2009). Parte dos
estudos de Blumer sobre os movimentos sociais baseou-se na ideia de que o contexto da
interação entre as pessoas e o significado subjetivo de suas ações são elementos importantes
na análise social. O comportamento do indivíduo, sob o prisma da macroestrutura societal, é
assumido como pano de fundo para o nascimento dos movimentos sociais.
Nos anos 1950, expande-se a gama dos tipos de ações coletivas a serem nomeadas de
movimentos sociais, incluindo os movimentos camponeses, dos negros, dos socialistas e dos
nazistas. Alguns elementos considerados fundamentais de um movimento social são
apontados por Gohn (2009) como dimensões relevantes de análise, ainda hoje utilizadas por
muitos analistas do tema: “movimento social como um sistema de valores ou ideologia, um
39
sentido ou identidade comum, normas para a ação e uma estrutura organizacional para obter
os fins do movimento.” (Gohn, 2009, p.23).
A noção de movimento social adotada na presente pesquisa é a que refere-se a
expressão de uma ação coletiva afim de assegurar, consolidar ou ampliar valores básicos que
regulariam a ordem institucional de uma sociedade, como por exemplo, direitos de cidadania,
direito a cidade e critérios fundamentais de distribuição de bens na sociedade (Amenta, Caren,
Chiarello & Su, 2010; Azevedo & Prates, 1991; Gohn, 2009).
Apesar da grande produção teórica acerca dos movimentos sociais, percebe-se que o
conceito tem sofrido uma série de alterações ao longo da história. Nos anos 1950 e 1960, os
movimentos eram abordados no contexto das mudanças sociais e vistos como “fontes de
conflitos e tensões, fomentadores de revoluções, revoltas e atos considerados anômalos no
contexto dos comportamentos coletivos vigentes.” (Gohn, 2009, p. 24).
Desde os anos 1960, os movimentos sociais se proliferaram nos países ocidentais, tanto
nos países da Europa, do norte da América e da América Latina. Estes movimentos sociais
decorrem de múltiplas questões e lutas, muitas delas vinculadas a uma crescente insatisfação
das sociedades, principalmente depois de 1968 que foi um ano que abrigou inúmeros
movimentos como os estudantis, os feministas, Black Power entre outros. A partir dos anos
1970 e início dos anos 1980, somam-se aos diferentes fatores impulsionadores dos
movimentos sociais a reação contestatória em relação aos regimes autoritários existentes no
leste da Europa e nos países da América Latina (Goirand, 2009).
Nesta década de 1970, as enciclopédias de ciências sociais, assim como a bibliografia
geral sociopolítica, começaram a incorporar a temática de movimentos sociais como objeto de
estudo sistemático, constatando-se uma mudança de percepção quanto aos movimentos
sociais. Estes passam a receber uma conotação positiva, considerados construtores de
inovações culturais e fomentadores de mudanças sociais (Gohn, 1984; Gohn, 2009).
40
Na Europa, o surgimento de abordagens que designaram os movimentos sociais como
tema central de várias investigações foi decorrente da onda de novos movimentos sociais a
partir de 1960-1970, que enfatizavam o seu suposto perfil cultural, pós-materialista e
autodeterminista (Gohn, 2009).
Desde o surgimento dos chamados “novos movimentos sociais”, entre 1980 e 1990, e a
nova configuração econômica que reafirma a cultura do consumo ao produzir símbolos e
signos que ditam o padrão cultural ao realçar a singularidade individual por meio do consumo
(Lipovetsky & Serroy, 2011) começam a surgir movimentos sociais diferentes dos clássicos,
ou seja, movimentos que buscam diálogo, interação com o Estado, com as empresas e demais
atores da sociedade civil sobre as questões do cotidiano, mais do que sobre questões que
busquem revoluções estruturais.
Com a intenção de entender mais a ideia dos novos movimentos sociais é interessante
entender, inicialmente, o que traz o modelo de processo político e o de política multi-
institucionais. O modelo de processo político pressupõe que a dominação é organizada pela e
em torno de uma fonte de poder. Enquanto que a perspectiva alternativa, política multi-
institucionais, vê a dominação organizada em torno de várias fontes de poder, cada uma é,
simultaneamente, material e simbólica (Armstrong & Bernstein, 2008).
A definição de movimentos sociais para a perspectiva da teoria de processo político
sugere que membros não políticos possuem razão de se mobilizar já que estes não possuem
acesso a rotina das agências governamentais ou de suas fontes. Uma definição que faz parte
desta teoria seria aquela utilizada por McAdam (1982) que afirma que os movimentos sociais
seriam “tentativas racionais realizadas por grupos excluídos para mobilizar uma força política
suficiente para fazer avançar os interesses coletivos através de meios não institucionalizados”
(McAdam, 1982, p.20 apud Armstrong & Bernstein, 2008, p.77). O alvo destes movimentos é
buscar novos benefícios para a constituição ou reconhecimento por autoridades. Dentro dessa
41
perspectiva, quanto mais o movimento social buscar mudar diretamente a política de Estado,
mais inteligível ele seria.
De acordo com a teoria de processo político, os movimentos sociais constroem uma
política contenciosa, ou seja, uma política definida como uma interação pública entre os
fabricantes de reivindicações e seus objetos. Isso quando um governo é um objeto de
reivindicações. Quando estas reivindicações forem realizadas devem afetar aos interesses de
pelo menos um dos requerentes. Poderia se dizer que o Estado é o ator para o qual os
movimentos sociais vão realizar suas reivindicações, configurando assim, o alvo principal. A
ideia trabalhada por Tilly (2004, apud Armstrong & Bernstein, 2008, p.77) reitera essa
definição ao explicar que a ação coletiva não pode ser considerada política ou parte de um
movimento social, a menos que um governo apareça como alvo destas reclamações ou
reivindicações.
Uma visão centrada no Estado, como é a teoria de processo político, acredita que
aqueles que estão dentro e fora da política são mutuamente exclusivos e assim podem ser
facilmente distinguidos ou identificados. Somente aqueles atores que são economicamente e
politicamente afetados de forma desvantajosa no relacionamento com o Estado são esperados
a participar de movimentos sociais (Armstrong & Bernstein, 2008).
Os objetivos dos movimentos sociais são de melhorarias da situações atuais através do
acesso a política ou pelo alcance de mudanças em leis ou políticas sociais. A mudança
cultural é vista como algo secundário em relação a mudança política, já que é considerada
como um produto das mudanças realizadas na esfera política e econômica. Como os
movimentos sociais seriam, por definição, compostos por partes excluídas dos canais
convencionais de política é necessário que estes atuem por meio de canais não
institucionalizados a fim de conseguir influenciar a tomada de decisão política. A estratégia
das ações dos movimentos pode ser definida em duas formas: os movimentos possuem ações
42
que se configuram como instrumentais quando atendem a intenção de influenciar a tomada de
decisão política e podem ter ações que sejam de caráter de expressão, quando, por exemplo,
pretendem construir uma afirmação de identidades.
Por outro lado, os novos movimentos sociais não conseguem ser contemplados pela
descrição realizada pela teoria de processo político, já que a atuação dos novos movimentos
sociais procura por mudanças simbólicas e materiais nas instituições ou na cultura, sendo
assim movimentos que não giram em torno de uma única instituição, o Estado.
A definição estreita de política trabalhada pelo modelo de processo político acaba por
remeter a atividade do movimento social a uma perspectiva apolítica. Movimentos que
desafiam sistemas culturais de opressão e de autoridade, tais como as mulheres, movimentos
de homossexuais muitas vezes foram considerados como meras “políticas de identidade”, em
contraste com a política de ativismo orientada para o Estado. As atividades de muitos dos
novos movimentos sociais não se encaixam perfeitamente dentro de uma definição
estreitamente política (Armstrong & Bernstein, 2008).
Em contraste ao modelo político, Armstrong and Bernstein (2008) discutem que a
sociedade é composta por instituições múltiplas e contraditórias. Instituições são compostas
não só por regras, mas também por organizações estruturadas, politicamente defendidas e as
instituições podem constringir de forma técnica ou material. O modelo de políticas multi-
institucionais as encara como sobrepostas, o Estado seria um tipo importante de instituição, já
que este geralmente estabelece regras para governar outras instituições da sociedade
(Armstrong & Bernstein, 2008). Entretanto, seria necessário observar a natureza, o poder, a
lógica e a centralidade dos Estados como uma variável histórica e uma questão para
investigações empíricas. O modelo não desconsidera ou não deixa valorizar a natureza e a
importância do Estado, somente não o coloca em uma situação central.
43
As instituições seriam mutuamente constituídas por sistemas e práticas classificatórias
que concretizam esses sistemas e isso traz o entendimento que as mesmas são entendidas
como modelos que fornecem guias substantivos para a ação prática (Armstrong & Bernstein,
2008; Clemens and Cook, 1999). Instituições seriam duráveis, na medida em que estes
modelos são reforçados através da socialização, interação e legitimação. Quando as categorias
tornam-se concretizadas nos “corpos”, reproduzindo-se por meio de práticas sociais e
integradas em sistemas para a atribuição de recompensas e punições, a cultura torna-se um
ponto poderoso e, ironicamente, "quase invisível".
Os indivíduos internalizariam as normas geradas pelos discursos. Ao reproduzirem os
discursos se tornariam sujeitos de autorregulação e com isso abre-se a perspectiva de
visualizar as instituições possuidoras tanto o poder material, quanto do poder social. As
instituições seriam o local onde as distinções são feitas por atores sociais individuais, são
traduzidas em fronteiras sociais, onde os sistemas de classificação são ancorados e infundidos
com consequências materiais. A mudança social seria, dessa forma, impulsionada pela
multiplicidade de significados culturais disponíveis (Sewell, 1992 apud Armstrong &
Bernstein, 2008) e diante disso, os sistemas de significado poderiam, ao mesmo tempo,
restringir e permitir a ação, como também serem alvos de esforços para uma mudança.
A perspectiva multi-institucional política não oferece uma nova definição do termo
movimento social, somente enfatiza o movimento social, trabalha com outras instituições para
além do Estado. A importância do Estado não é descartada em nenhum momento, mesmo
porque este é o ator que desempenha um papel crucial na alocação de recursos. Para a
perspectiva multi-institucional os movimentos sociais seriam aqueles que atingissem o
Estado, outras instituições e significados culturais (Armstrong & Bernstein, 2008).
A compreensão de que as instituições são simultaneamente materiais e simbólicas tem
implicações para a forma de pensar sobre os objetivos do movimento social. A maioria dos
44
movimentos exigem mudanças em ambos os sentidos e recursos, embora às vezes, priorizem
mais um do que o outro (Armstrong & Bernstein, 2008).
Uma política multi-institucionais vai além da compreensão do poder como investido
principalmente no Estado. Nessa corrente teórica, a sociedade é vista como composta de
múltiplas e contraditórias instituições, o que aproximaria esta perspectiva do que acontece nos
novos movimentos sociais que podem atingir um conjunto diversificado de instituições (tanto
estatais e não estatais), e realizar um procura por mudanças no sentido material e simbólico
(Fraser, 1997 apud Armstrong & Bernstein, 2008).
Os novos movimentos sociais demandariam maior participação em processos decisórios
que de alguma forma impactariam a vida em sociedade. Vários desses movimentos
destacaram as contradições sociais no ambiente urbano, levando ao surgimento de
importantes movimentos de cidadãos/moradores que buscavam promover uma releitura da
questão urbana (Armstrong & Bernstein, 2008; Gohn, 2009, 2010).
No contexto brasileiro, a sociedade civil organizada passou a orientar suas ações
coletivas e associações focadas menos nos pressupostos ideológicos e políticos, como era
predominante nos anos de 1960, 1970 e 1980, que lutavam para “terem direto a ter direitos”.
Poderia se apontar uma tendência, desde o final dos anos de 1980 e início dos anos
2000, das ações sociais se desvencilharem das imagens movimentalistas dos anos de 1980 e
isso seria feito por meio de novas representações sobre as ações civis que atuam de acordo
com formas modernas de ação coletiva, que são expressas por articulações em redes (Gohn,
2009, 2010).
Estas redes sociais seriam formadas por movimentos sociais, associações comunitárias,
fóruns, conselhos, câmaras, assembleia, etc., suas temáticas seriam organizadas segundo
gênero, faixas etárias, questões ecológicas e socioambientais, étnicas, raciais, religiosas e etc.
Gohn (2010) agrupa estas novas tendências em três grandes blocos. O primeiro destes blocos
45
seriam os movimentos e ações de grupos indentitários que procuram lutar por direitos sociais,
econômicos, políticos e culturais. Como exemplos deste primeiro grupo, têm-se as lutas das
mulheres, dos afrodescendentes, dos índios, dos jovens, dos idosos, dos portadores de
necessidades especiais e imigrantes. O segundo bloco seria composto pelos movimentos e
organizações que lutam por melhores condições de vida e de trabalho, no urbano e no rural,
que demandam acesso e condições para terra, moradia, alimentação, saúde, transportes, lazer,
emprego, salário e etc.
Já o terceiro bloco, envolveria os movimentos globais ou globalizantes que atuam em
redes sociopolíticas e culturais, via fóruns, plenárias, colegiados, conselhos, etc. Estas lutas
são também responsáveis pela articulação e globalização de muitos movimentos sociais
locais, regionais, nacionais ou transnacionais. As ações destes movimentos em rede
apresentam-se, muitas vezes, como movimentos sociais de fiscalização e controle das
políticas públicas. Para realizar tal fiscalização os movimentos atuam em fóruns, conselhos,
câmaras e outros em escala local, regional e nacional, pode-se notar esta recorrência no Brasil
e na Colômbia.
Para Gohn (2010), esta forma de movimento se constituiria em uma grande novidade e
o motivo de seu surgimento está associado as mudanças organizacionais, políticas e
tecnológicas. Gohn (2010) concorda com Jacobi e Monteiro (2007) que estes movimentos
articulados em redes poderiam sugerir uma perda da capacidade dos Estados restringirem e
estruturarem as ações coletivas. Além disso, estes novos movimentos em rede tematizam e
redefinem a esfera pública, se relacionam com outras entidades da sociedade civil e da
política. Possuem grande tendência de exercer controle social e a construir modelos de
inovações sociais o que permitira, portanto, se tornarem matrizes geradoras de saberes.
O final da década de 1980 e o início da década de 1990 poderiam ser caracterizados ao
mesmo tempo pela dissolução de movimentos tradicionais que detinham força política junto à
46
população, como também pela consolidação de vários novos movimentos sociais como
organizações, tanto interna como externa, devido ao ambiente político que se sucedeu à
Constituição de 1988 (Goirand, 2009; Melucci, 1989).
A despeito das diferentes abordagens sobre movimentos sociais, uma das dimensões
mais relevantes de análise desse fenômeno diz respeito à sua capacidade de mobilização e de
fazer incidir seus valores e lutas na transformação da dinâmica social. Para autores como
Gamson (1990), os movimentos sociais somente alcançam sucesso a partir do momento em
que realizam os principais objetivos e de forma pontual. Porém, para este trabalho de
dissertação, entende-se que o benefício coletivo buscado pelos movimentos sociais leva em
conta um padrão desafiador, que pode ter um impacto substancial, mesmo quando sem atingir
os seus objetivos mais pontuais (Amenta, et al., 2010;Amenta, Caren, Fetner & Young, 2002).
Observa-se também que muitos desses movimentos sociais buscam cada vez mais
espaço de participação na formulação e avaliação de políticas públicas, o que tem
rebatimentos sobre as possibilidades de realizar a accountability societal. Nota-se ainda que
no Brasil não é somete a sociedade civil que cada vez mais busca articular esforços em busca
de dissolver problemas e limites da vida cotidiana nas cidades, muitas empresas também
passam a enunciar preocupação e foco de ação sobre problemas sociais, políticos e
ambientais. Haja vista o surgimento das relações intersetoriais que visaria o diálogo entre
atores de diferentes esferas da sociedade (estatal, pública e de mercado) para resolução de
problemas (Teodósio, 2008).
Dessa forma, as relações formadas pelo Estado, por empresas e pela sociedade civil
estariam em busca de uma construção de objetivos em comum que visam potencializar um
maior valor social para os três setores. Muitos movimentos sociais contemporâneos e também
os debates acadêmicos sobre a superação dos problemas que afligem as sociedades modernas
47
assumem que a relação entre os três setores deve ser balizada pela ideia de
corresponsabilização pela promoção do bem-estar social.
Uma alternativa proposta por Bier et al. (2010) seria a coprodução dos bens e serviços
públicos, entendida como uma alternativa viável para o fornecimento de bens e serviços
públicos, considerando-se as dificuldades ou morosidade que o Estado enfrenta ao fazê-lo
plenamente por estar exaurido em sua função superdimensionada e vir se esgotando como
único ator responsável por produzir serviços públicos (Bier et al., 2010).
Porém, este tipo de relação assume grande complexidade já que os atores envolvidos
possuem interesses diversos, sendo que os desdobramentos destes quando colocados em pauta
geram situações de conflito ou de impasse. Questionamentos são levantados tanto sobre o
papel desempenhado por cada ator nesta relação e existe real dificuldade de sobreposição dos
atores dessa relação devido à natureza diversa de cada um e disparidade de poder efetivo ou
mesmo de atuação.
Os atores governamentais visualizam as necessidades sociais através da lente da
provisão de bens públicos. Procuram nesta relação garantir um equilíbrio entre os diversos
grupos concorrentes dentro da sociedade, prestar serviços à sociedade, regular os
relacionamentos dos diversos atores, prestar contas de suas ações e apoiar as iniciativas que
visam o bem público. A atuação destes atores estatais ocorrem por meio de diálogo,
financiamento de projetos, asseguramento das leis que são aplicadas de forma correta, prestar
contas a sociedade, oferecer serviços previstos na constituição como saúde e educação, etc
(Austin, Reficco& Equipe de pesquisas da SEKN, 2006).
Enquanto que as OSCs encarariam as necessidades sociais como resultados de falhas de
mercados ou dos governos, atores estes que fornecem os bens ou os serviços necessários para
a sustentação de uma cidade. Neste caso atuariam na relação intersetorial trabalhando para
suprir lacunas e reivindicar direitos e ao fazê-lo estaria exercendo um dever cidadão. Ainda
48
dentro da relação intersetorial é possível notar que as OSCs procuram trabalhar junto a
iniciativas privadas por diversas razões, que poderiam ser resumidas como a obtenção de
alguma vantagem organizacional. Tal situação ocorre devido a instabilidade e dependência
gerada nos financiamentos públicos, logo as OSCs são colocadas em gestão de risco ao
saberem que se um determinado mandato político terminar, o programa também terminará ou
que por questões políticas o poder público opte por cortar o financiamento (Austin, Reficco&
Equipe de pesquisas da SEKN, 2006). As OSCs neste tipo de situação teriam a opção de
recorrer a um financiamento e estabeleceriam relação com uma empresa para minimizar um
risco das atividades exercidas serem ceifadas ou mesmo deixarem de ser iniciadas.
Já no que tange as inciativas privadas, as empresas de forma geral, visualizariam as
necessidades como algo local e pontual. A atuação da empresa seria para uma atuação
estratégica e de comunicação aliada a responsabilidade social da empresa. Logo, poderia usar
sua colaboração na relação intersetorial como uma ferramenta eficaz de gestão de riscos, na
intenção de minimizá-los, ou, como uma ferramenta para enfrentar consequências dos riscos
materializados (Austin, Reficco& Equipe de pesquisas da SEKN, 2006). De acordo com
Selsky e Parker (2005, 2010), a origem de se estabelecer uma relação da inciativa privada
com outros setores é que as empresas se tornariam socialmente mais responsáveis para
atender às demandas de partes interessadas e desenvolver ou até mesmo sustentar uma
vantagem competitiva. A relação seria concebida de uma forma estreita, instrumental e de
curto prazo, a relação é vista como uma forma de lidar com as necessidades organizacionais
com a vantagem de abordar uma necessidade social.
A orientação da relação intersetorial, como apontam Teodósio (2008) e Land Parker
(2005), pode ser estadocêntrica ou mercadológica, bem como também assumir uma orientação
oriunda da sociedade civil. Qualquer um dos cenários revela a dificuldade dos três setores
49
trabalharem em conjunto e a disparidade de poder, caminhado para uma relação de
subordinação ou dependência.
As questões sociais tendem a se tornar meta-problemas que demandam uma resolução
cooperativa entre vários setores, porque são problemas muito complexos para uma atuação
individual, além disso, requerem conjuntos complexos de habilidades e recursos (Selsky &
Parker, 2005, 2010). Ao juntarmos as complexidades da relação intersetorial e a
complexidade das questões sócias temos o seguinte: as ações que ocorrem no âmbito das
relações intersetoriais tem assumido, em muitos casos, o status de proposta ou caminho
desejável para a superação dos problemas sociais e ambientais que se manifestam nas cidades
(Selsky& Parker, 2005).
Se parte da literatura aponta entusiasmo com as boas possibilidades de modernização da
provisão de políticas sociais através das relações intersetoriais, outros estudos apontam os
riscos decorrentes do encontro entre atores da sociedade civil, Estado e mercado (Teodósio,
2008). Percebe-se que parte das dificuldades encontradas nas relações intersetoriais para
cumprir seus objetivos, se deve a problemas de operacionalização ou gerenciamento dessas
práticas colaborativas (Teodósio, 2008).
O principal desafio das estruturas políticas seria o de manter um esforço contínuo de
conciliação dos tipos, culturas, valores aparentemente contraditórios que estão presentes entre
os diferentes atores envolvidos em relações de colaboração intersetoriais. Com o aumento do
envolvimento do setor privado em alianças nos projetos sociais, que antes eram atribuídos
apenas a OSCs e ao Estado, pode-se observar que a tentativa de transferência de modos de
ação, gestão, racionalidades, valores e princípios que estruturam a ação empresarial para o
interior das intervenções, projetos e programas sociais (Fischer, Fedato e Belasco, 2005). O
envolvimento das empresas em questões sociais abrange uma diversidade de campos de
atuação, desde a simples doação de recursos financeiros, até a estruturação de uma área
50
estratégica, trazendo mais complexidade para o fenômeno das relações intersetoriais e maior
teor burocrático que minariam as iniciativas sociais.
Além das características pontuadas acima, ainda deve-se ponderar que as relações
intersetoriais apresentam importantes desafios em termos de operacionalização: demandam
muito tempo das partes envolvidas, para que assim se alcance alguma estratégia em comum
para a realização do objetivo que a priori é desejado pelas partes; contam com a armadilha da
relação assimétrica entre as partes envolvidas; apresentam dificuldades em cumprir e
gerenciar seus objetivos; são marcadas pela baixa transparência acerca dos objetivos buscados
por cada setor; e, ainda, se manifestam dificuldades no monitoramento das ações de cada setor
(Teodósio, 2008, 2009).
Interessante notar que a literatura sobre a relação entre Estado sociedade civil e
iniciativas privadas traz como imprescindível o envolvimento da população, já que seria
através deste envolvimento que estariam assegurados a promoção do interesse e do bem
público (Bier et al., 2010).São considerados elementos importantes para a estrutura da relação
intersetorial: legitimidade de representação, responsabilidade, transparência, accountability,
comunicação entre os participantes, capacidade de construção de ações e seu monitoramento
(Yakovleva & Alabaster, 2004).
O entendimento das diferentes possibilidades de interação entre atores do Estado, da
sociedade civil e da iniciativa privada, destacando tanto a aproximação entre eles quanto o
distanciamento e o conflito em torno das questões que afetam o desenvolvimento das cidades
é essencial para se discutir a promoção (ou não) de processos de accountability societal. É
justamente no momento desse exercício de democracia que as relações entre Estado e outros
atores da sociedade podem assumir uma escala maior de tensão e conflito, com resultados
relevantes para o processo democrático de gestão pública local.
51
2. 2 Accountability societal: um mecanismo de controle social
O Estado vem assumindo diversas responsabilidades e com isso pergunta-se sobre as
formas de agir com relação ao mesmo, sobre a atuação desse em relação aos demais atores da
sociedade, sobre a existência ou não de legitimidade das decisões tomadas pelo modelo gestor
em ação e se os papeis assumidos pela sociedade e pelos organismos políticos e burocráticos
realmente condizem e atendem as demandas da sociedade como um todo.
A importância de se ter uma postura responsável com o trato público, tanto por parte do
Estado quanto da sociedade civil, pode ser traduzido como uma questão de accountability, já
que esta se trata de uma relação entre os cidadãos e os governantes. Nesta relação o
governante tem como obrigação expor, explicar, justificar suas ações, informações e condutas.
Por outro lado os cidadãos devem ter um espaço para questionar o governante e após avaliá-
los e julgá-los os cidadãos deveriam ter um espaço para sancioná-los caso algo previsto não
tenha sido executado (Bovens, 2005). No contexto da administração pública os valores, como
a obrigação e a responsabilidade, são colocados como dois pontos aliados. Isso é feito de
forma com que as pessoas ou as organizações da sociedade civil incorporem a obrigatoriedade
de responder por algo perante o outro, por alguma coisa ou algum tipo de desempenho
(Carvalho, 1996).
O interesse pela questão da accountability estaria ligado ao grau de democracia do
governo, ao grau de participação da população e à questão de representação. Este último item,
representação, pode ocorrer a partir do momento em que o cidadão, por meio de um voto,
delega a um terceiro a função de atuar em nome dele nas questões políticas e decisórias.
Importante notar que o voto dado a um representante político em uma democracia não lhe
concede poder soberano, por outro lado, lhe é concedido a obrigação de exercer o poder em
nome e em benefício público. Com esta visão novas responsabilidades aparecem para a
sociedade de forma geral, que passa ter que responder por uma dupla obrigação: “dos
52
cidadãos, de manter uma estreita vigilância sobre o uso do poder concedido àqueles que foram
escolhidos para governá-los; e dos governantes de prestar contas das suas ações aos cidadãos
que os escolheram” (Rocha, 2011, p.84). Diante dessa nova visão a participação da
população, de forma continua, nos processos políticos e atuação de seus governantes, se torna
necessária para o desenrolar da relação prevista na accountability.
Os regimes democráticos modernos tem apresentado dificuldade em desenvolver formas
e instrumentos de accountability, ou seja, processos e mecanismos que permitam a avaliação e
a responsabilização permanente dos agentes públicos pela sociedade civil. Existe também a
dificuldade de desenvolver mecanismos que permitam uma interação direta dos representantes
com os seus respectivos representados. Porém, de pouco adiantaria solucionar estas questões
se a população não exercer sua obrigação de acompanhar as ações realizadas pelo agente
público. Já que atuar como um cidadão no regime democrático significa possuir uma série de
direitos que incluem participar da escolha de seus governantes e de influir nas suas decisões,
como a obrigação, o dever de participar das atividades diretamente vinculadas à seleção dos
governantes e da vigilância sobre as suas ações (Rocha, 2011). Por outro lado, de nada
adiantaria uma interação direta entre os representantes e os representados se tal interação não
levar o representante a melhor atuar sobre o que é de maior serventia para o bem público.
Diante disso, pode-se perceber que a discussão sobre a representação é um tema
correlato ao estudo da accountability. Isso porque a accountability implica um representante
sendo accountable ao seu representado, ou seja, o representante deve prestar conta da ação
desempenhada ou mesmo em relação as ações não desempenhas e que faziam parte da função
desempenhada pelo representante. Além disso, implica que a accountability, assim como a
representação, estão para além de serem ações, ou seja, tanto na accountability quanto na
representação temos uma relação entre Estado e sociedade civil para que a accountability e a
representação aconteçam.
53
A questão da representação e, por consequência, a da accountability política, quando
colocada em discussão no âmbito da teoria democrática contemporânea se desenvolve em um
contexto além do ato formal de autorização de poder por meio das eleições. Para que se defina
uma representação política como democrática esta deve ter sido autorizada e promover os
interesses de seus representados e, ainda, permitir aos representados cobrarem accountability
dos representantes por seus atos e operar sanções a eles (Pitkin, 2006).
A proporcionalidade da representação e a concepção de democracia como uma forma
coletiva de autogoverno entram em pauta com o modelo democrático-participativo, que
procura promover condições de accountability através de estímulos ao envolvimento e à
participação da sociedade civil na implementação e no controle das políticas públicas. Assim,
entende-se que todos são afetados pelas decisões coletivas e que, dessa forma, todos devem
ter oportunidade e formas de influenciar o seu resultado (Pitkin, 2006).
Segundo a visão liberal, o processo democrático é materializado exclusivamente na
forma de compromissos entre interesses. Assim, regras de formação de compromisso devem
garantir a imparcialidade dos resultados através do sufrágio universal e igualitário na
composição representativa dos corpos parlamentares, modo de tomada de decisão, regras de
ordem e assim por diante. Tais regras seriam justificadas em termos de direitos liberais
básicos (Habermas, 1996).
Por outro lado, de acordo com a visão republicana, a formação da vontade democrática
de vontade assumiria a forma de autocompreensão. Assim, a deliberação confiaria no apoio
substantivo de um consenso criado a partir da cultura estabelecida e compartilhado pelos
cidadãos (Habermas, 1996).
Em busca de superar os limites do modelo da democracia liberal existe um esforço em
desenvolver a democracia deliberativa, incorporando os elementos de um modelo
republicano, pautado na ideia da ampliação da política para além dos limites temporais,
54
espaciais e de representação impostos pela regra do sufrágio universal. Temos assim, que a
democracia deliberativa constitui-se como um modelo ou processo de deliberação política
caracterizado por conferir à sociedade a autoridade originária e legítima da formação da
opinião, da vontade comum e a participação da sociedade civil na regulação da vida coletiva.
(Lüchmann, 2002).
A teoria deliberativa da democracia entende a existência de uma esfera pública
intermediária entre o Estado e sociedade, na qual as opiniões seriam debatidas e preferências
seriam agregadas, apresentando as demandas prioritárias para a deliberação política no âmbito
da representatividade institucionalizada. Com isso, a representação por meio de coletivos
apareceria como via para expressão e atuação das minorias, existindo espaço para formas não
eleitorais de representação, o que também possibilitaria o surgimento de movimentos sociais,
redes e fóruns de discussão coletiva e demais formas de OSCs no contexto da discussão
teórica sobre a representação e accountability (Lüchmann, 2002).
Um governo com alto grau de accountability permitiria o exercício da democracia
representativa com elementos de participação, garantindo a soberania popular e se
aproximando do que foi proposto por Locke em 1824. As eleições configurariam o momento
crucial de avaliação entre governantes e governados, políticos e burocratas, que poderiam ser
vistas como relações de caráter agente-principal. Para que as eleições sejam efetivas nesse
papel, seria importante que o eleitor esteja informado e tenha tido condições de debater suas
prioridades junto a grupos sociais que lhes tragam informações e ao mesmo tempo levem suas
vozes aos candidatos, permitindo-lhes influir no curso político.
Porém, a representação política nas democracias por meios tradicionais estaria passando
por transformações no que diz respeito aos processos de autorização e de accountability que
decorreriam da atividade de representar. Muitas figuras políticas eleitas pelo voto nas urnas
têm sido questionadas de forma negativa e a sociedade parece cada vez mais se manifestar
55
contra a falta de representação destes eleitos perante a uma variada temática dentro da política
(Filgueiras, 2011; Pitkin, 2006). Como decorrência desta situação, ampliaram-se os espaços
de participação das organizações e associações que compõem a sociedade civil e espaço para
a atuação nos moldes da democracia participativa. A junção da democracia representativa
com pontos da democracia participativa foi assegurada em termos formais no caso brasileiro
pela reforma constitucional de 1988 (Avritzer, 2007).
Nota-se que a crise no sistema tradicional de representação possibilitou o surgimento de
mais mecanismos de participação da sociedade civil nas políticas públicas. Esta situação
fortaleceria a constituição de novas formas institucionais que permitiriam outras modalidades
de representação para além dos partidos políticos e comitês internos, como é o caso dos
movimentos sociais que buscam acompanhar e incidir nas políticas públicas (Avritzer, 2007;
Filgueiras, 2011; Lavalle & Castello, 2008;).
O representante e o representado se veem diante da accountability que se coloca como
um processo inerente do fazer política. A accountability é um conceito central para a
administração pública, e a sua existência como processo é fundamental para a preservação da
democracia. O conceito tem sido tratado na literatura de forma abrangente e variada, o que
por sua vez traz dificuldade para o seu entendimento. Ao buscar por uma compreensão
começou-se pela sua tradução no dicionário, assim como foi feito por Pinho e Sacramento
(2009), Fiabane (2011) e Rocha (2011).
A palavra accountability2 remeteria à habilidade de algo ou alguém ser accountable a
outro por alguma coisa. Ser accountable quer dizer ser responsável por suas decisões ou
ações, e ainda, estar disponível para dar explicações sobre elas quando solicitado. Na
produção acadêmica brasileira recente o termo vem sendo traduzido como
“responsabilização” (Fiabane, 2011; Pinho & Sacramento, 2009; Rocha, 2011). Admite-se
2 Tradução nossa, Oxford Advanced Learner’s Dicitionary, 2005, p.10.
56
para este trabalho que a “accountability diz respeito ao cumprimento de uma obrigação do
funcionário público de prestar contas, seja a um organismo de controle, ao parlamento ou a
própria sociedade” (CLAD, 2013, p. 329).
Poderia se dizer que a accountability se realiza no processo eleitoral, quando o cidadão
exerce o seu poder para eleger os seus governantes e representantes. Ela também se concretiza
através da atuação dos agentes e das organizações públicas, privadas ou não. A accountability
pode ocorrer mediante o controle exercido pela imprensa, pelas organizações e associações da
sociedade civil e pelos próprios cidadãos que buscam algum tipo de constrangimento ou
sanção (O’Donnell, 1988; Rocha, 2011). Dentre estas formas de se realizar a accountability,
podemos pontuar três formas: a vertical, a horizontal e a transversal (social ou societal).
A accountability vertical pode aparecer com a denominação de eleitoral e este eixo
ocorreria principalmente quando o eleitor exerce o voto na urna eleitoral com o objetivo de
eleger o representante de sua escolha. A punição pode ser alcançada quando os eleitores
realizam a manutenção ou retirada do poder por intermédio do voto direto em eleições livres,
entre outros mecanismos de pressão política. Logo, eleger se tornaria uma premiação ou uma
punição para aquele representante, depende da situação em que o voto do cidadão se insere.
Apesar de o processo eleitoral ser o canal principal para o desenvolvimento da
accountability vertical, O’Donnell (1998) esclarece que nesta vertente estão incluídas ações
realizadas, individualmente ou por algum tipo de ação organizada e/ou coletiva, com
referência àqueles que ocupam posições em instituições do Estado, eleitos ou não. No período
eleitoral, os mecanismos de controle seriam o sistema partidário, as eleições fiscalizadas pela
Justiça Eleitoral, a disseminação de informações e as regras de transparência no
financiamento das campanhas.
Mesmo com a existência de eleições e da liberdade de expressão, configurando um
contexto democrático em países latino-americanos desde o início da década de 1990, muitos
57
autores afirmam, assim como O’Donnell (1998), que falta à essas democracias um maior
lastro republicano às relações políticas constituídas. Assim, mecanismos verticais não seriam
suficientes para o fortalecimento de sistemas ainda fragilizados, sistemas estes que ele
apresenta como “democracias delegativas”. Embora a sociedade disponha de instrumentos
próprios das democracias plenas, os utilizaria ainda de forma parcial ou tutelada, já que
concedem plenos poderes aos eleitos, sem exigir deles prestações de contas em relação ao
prometido no processo eleitoral, o que caracterizaria um baixo grau de cobrança da sociedade
sobre seus representantes e governantes (Schommer et al., 2011).
Para O’Donnell (1998), a prevalência do interesse público sobre o privado requereria a
promoção da accountability horizontal. Esta seria colocada em prática dentro da estrutura do
Estado, no ideal de check and balances entre órgãos dos diferentes três poderes, que
exerceriam entre si contínua fiscalização na garantia dos valores democráticos. Um dos
limitantes deste eixo seria a prevalência ou independência exagerada na divisão dos poderes,
com especial preocupação com a burocracia excessiva e atuando de forma autônoma em
relação ao controle por parte de outros órgãos do Estado ou mesmo da sociedade (O’Donnell,
1998). No processo de accountability no período não eleitoral haveria os seguintes
mecanismos: parlamentar, judicial, administrativo-procedimental, de desempenho e de
conselho social (Fiabane, 2011).
O CLAD (2013) apresenta cinco mecanismos que auxiliam a promover a
accountability, envolvendo a responsabilização em diferentes níveis: pelos controles clássicos
(constitucionais); pelo controle parlamentar (checks and balances); pelo controle de
resultados; pela competição administrada e pelo controle social (CLAD,2013).
Os controles internos ao Congresso, como por exemplo, como as Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPIs), audiências públicas e avaliação de orçamentos e de
resultados fazem parte do controle parlamentar, ou seja, exercido diretamente pelo poder
58
Legislativo. Com o suporte do Ministério Público, o judiciário garantiria o cumprimento da
constituição e aos diretos fundamentais. O controle do administrativo-procedimental teria
como principal ator o Tribunal de Contas, que verificaria o cumprimento da legislação e
regularia a tomada de decisão. Já no que diz respeito ao controle do desempenho dos
programas governamentais, se teria a fiscalização do poder público pela sociedade civil
(Fiabane, 2011).
No âmbito do Conselho Social, ou seja, no espaço de interlocução da sociedade e o
poder público, se reservaria maior espaço para a participação popular por meio de
mecanismos como orçamento participativo (OP), plebiscitos, conferências, conselhos de
políticas e planos diretores, ou seja, formas de formulação de políticas que requeiram a
participação popular (Avritzer & Pereira, 2005; Ciconcello, 2008; Lavalle & Castello, 2008).
A participação através dos processos orçamentários estimularia o desenvolvimento, tanto na
população como nas estruturas governamentais, do sentido da accountability. Isso poderia
indicar passos para a democratização dos processos de administração pública (Carvalho,
1996). Ainda neste contexto de formas de participação popular, existiria uma proliferação de
experiências de representação destinadas a incidir no desempenho das burocracias e dos
serviços públicos com a finalidade de colaborar de forma a concretizar melhorias nas políticas
públicas (Lavalle & Castello, 2008).
A classificação de accountability vertical e horizontal corresponderia a uma distinção
entre estado e sociedade: “a accountability vertical é exercida pelos atores sociais em relação
aos atores estatais, enquanto a accountability horizontal é exercida no interior do próprio
estado pelas diversas agências estatais” (Rocha, 2011, p.86).
De acordo com Quiñones et al (2011), existiria um terceiro eixo da accountability, a
accountability transversal, que trata dos atores coletivos na condução do exercício do
controle, supervisão, monitoramento e punição aos políticos, funcionários do Estado e
59
representantes eleitos pelo povo. Dessa forma, são iniciativas nas quais o controle seria
realizado pela sociedade civil através de espaços políticos institucionais estatais. Este tipo de
prestação de contas poderia ser conduzido tanto por atores coletivos, que seriam concebidos
como representantes da sociedade civil em conselhos e comitês que monitoram as políticas
públicas, quanto diretamente por cidadãos individuais.
A definição da accountability transversal é sinônima a societal. A segunda ocorreria
quando a accountability for “acionada por parte dos coletivos constituídos pela sociedade em
função de representação que são desempenhadas de jure ou de fato perante o poder públicos e
suas instâncias administrativas” (Lavalle & Castello, p.68, 2008).
A ideia trabalhada por Quiñones et al (2011) de accountability transversal e a ideia dos
autores Lavalle e Castello, p.68, 2008 sobre a accountability societal são consideradas neste
trabalho como sinônimas. Já que ambas percepções pressupõem a atuação da sociedade civil
exercendo, por meio de participação em instâncias do poder público, ações de controle,
monitoramento, acompanhamento e supervisão que por fim são denominadas de ações que
promovem accountability. Ao entender desta forma existiria ainda a possibilidade da
sociedade civil atuar de duas formas, “de um lado, a sociedade civil assume o papel de
representação de interesses, valores e percepções da cidadania e, de outro lado, assumem o
papel de controladores das políticas públicas.” (Filgueiras, 2011, p.3).
De forma geral, a accountability societal refere-se a uma relação entre governantes e
cidadãos que incita a participação popular voltada para o controle social sobre o governante,
que pode ser iniciada por atores sociais coletivos, por cidadãos, pelos meios de comunicação e
também por diferentes formas de atuação em rede na sociedade moderna (Bovens, 2005;
Fiabane, 2011; Quiñones, Herrea& Hernández, 2011). Deve-se entender que a accountability,
com ou sem o adjetivo societal, não se constituiria em um ato voluntário dos governantes
responsáveis pela virtude e vontade. Mas sim, um contexto que contaria com um conjunto de
60
mecanismos e atores estatais e sociais que exigiriam prestação de contas, monitoramento e
exercício de contrapesos políticos ou de poder (Quiñones et al., 2011;Goodhart, 2011). Rocha
(2011) traz duas definições que auxiliam na divisão geral dos três eixos da accountability
exposto aqui, vertical, horizontal e transversal, como mostra a Tabela 1.
Tabela 1
Descrição dos Três Eixos da Accountability
Tipos de Accountability Definição Quem exerce?
Vertical (O’Donnell, 1998) Ocorreria principalmente quando o
eleitor exerce o voto na urna
eleitoral com o objetivo de eleger o
representante de sua escolha
Atores sociais em relação aos
atores estatais. Exemplo: cidadãos
em forma coletiva ou não
exercendo o voto.
Horizontal (O’Donnell, 1998) Seria colocada em prática dentro da
estrutura do Estado, no ideal de
check and balances entre órgãos
dos diferentes três poderes, que
exerceriam entre si contínua
fiscalização na garantia dos valores
democráticos.
Atores estatais no interior do
próprio estado pelas diversas
agências estatais. Exemplo: Poder
Legislativo, pelo Ministério
Público e pelo Tribunal de Contas.
Transversal (Quiñones et al., 2011) Atores coletivos na condução do
exercício do controle, supervisão,
monitoramento e punição aos
políticos, funcionários do Estado e
representantes eleitos pelo povo.
Dessa forma, são iniciativas nas
quais o controle seria realizado pela
sociedade civil através de espaços
políticos institucionais estatais.
Atores coletivos, que seriam
concebidos como representantes da
sociedade civil em conselhos e
comitês que monitoram as políticas
públicas e pela atuação direta dos
cidadãos individuais. Exemplo:
mídia e organizações da sociedade
civil em geral.
Nota. Fonte: Elaborada pelos autores, (2014).
As definições utilizadas por Rocha (2011) colocam estes três eixos em dois eixos gerais
da accountability, sendo eles o eixo institucional e o eixo social.
A accountability social seria aquela exercida diretamente pela sociedade (cidadãos e
entidades da sociedade civil, inclusive imprensa) sobre os agentes públicos eleitos,
nomeados e permanentes; e como accountability institucional aquela exercida pelo
aparato do estado (poderes e órgãos) sobre os seus próprios órgãos e agentes (Rocha,
2011, p.87).
61
Para Rocha (2011), a accountability seria institucional quando o processo de avaliação e
responsabilização ocorre no âmbito do próprio Estado, enquanto a denominação
accountability social aconteceria quando praticado fora dos limites estatais. Esta dissertação
adota como sinônimas as compreensões de accountability societal, accountability social e
accountability transversal, partindo da ideia de que estas formas presumiriam que a sociedade
civil é ator a exercer as ações de accountability.
No contexto político e social democrático, a razão de ser da accountability residiria na
necessidade da sociedade exercer controle sobre o poder público, na busca pela garantia de
que o poder seja exercido em favor do serviço público e também para a melhoria da gestão
pública. Enquanto meio para a construção de um regime democrático e controle social, a
accountability só pode ser plenamente exercida pela sociedade com a confluência da
participação ativa do cidadão (por meios institucionalizados ou não) e de informações que
possam subsidiar a tomada de controle pela sociedade e consequente responsabilização de
agentes públicos (Fiabane, 2011; Quiñones et al., 2011; Schommer et al.,2011). A não
disponibilização de informação de forma ampla enfraqueceria a capacidade da sociedade
exercer sua soberania na escolha de governantes verdadeiramente interessados no bem
comum (Doin, Dahamer, Schommer & Spaniol, 2012; Quiñones et at., 2011; Rocha, 2011;
Schommer et al., 2011).
Para que aconteça a melhoria na gestão pública seria necessário que o governante ou
aparato público em questão esteja disposto levar em consideração o que é colocado no
diálogos que acontecem com a sociedade civil. Por isso que o grau de democracia e abertura a
participação podem influenciar o desenvolvimento da accountability (Bovens, 2005). Vale
lembrar que as implicações democráticas da accountability não dependem apenas da
capacidade de controle e incidência sobre o poder público e suas estruturas administrativas,
62
mas também das relações estabelecidas entre os novos atores da representação, como por
exemplo, os movimentos sociais e a sociedade em geral.
Apesar de todo o aspecto positivo da accountability societal é possível perceber um
dilema, a dupla face da accountability. Isso pode acontecer quando a accountability é exercida
por atores da sociedade civil, como por exemplo, os movimentos sociais. Nesta situação
estamos diante do seguinte dilema: de um lado ela satisfaz a expectativa da democracia
participativa e por outro lado têm-se as exigências que envolvem a representatividade. Tais
exigências seriam a responsividade e sanção dos que representam em nome dos demais.
Lavalle e Castello (2008) apontam que na maioria dos casos o que ocorre com os
movimentos sociais e outros atores da sociedade civil é a representação presuntiva, ou seja,
uma representação unilateral por parte daqueles que a exercem e que não é autorizada pelos
beneficiários em questão. Ressalta-se ainda que os autores ao fazerem esta análise levaram em
consideração que esperar que as OSCs, como os movimentos sociais, satisfaçam os mesmos
requisitos da representação como instâncias governamentais, haja vista os partidos políticos
ou sindicatos, indicaria um equívoco já que a natureza de atuação de um movimento social é
diferente a de um representantes político eleito pela população.
O processo de democratização na América Latina e no Brasil tem fomentado a
participação da sociedade civil por meio de representações em instituições que assumem um
caráter híbrido nas democracias, como por exemplo, os conselhos de políticas públicas locais
e as instâncias de discussão de orçamentos públicos como o OP. Com isso no que tange a
accountability sua origem nos diferentes países da região latino-americana seria caracterizada
por dois aspectos mais amplos (Quiñones et al., 2011 ).
O primeiro aspecto seria constituído de três tipos de fatores políticos e institucionais que
teriam criado condições favoráveis para a institucionalização da participação e do controle,
vigilância e execução de responsabilização dos agentes do Estado. Seriam eles: a)
63
consolidação dos projetos políticos que correspondem, em termos gerais, a importância da
sociedade civil e da participação dos cidadãos no desenvolvimento e também na defesa das
várias formas de accountability transversal e vertical; b) desenvolvimento de um conjunto de
reformas destinadas a reforçar os mecanismos de controle do Estado e a exigência à
responsabilização de políticos e funcionários como resultado da fraqueza do mecanismo
eleitoral; e c) o surgimento de situações de instabilidade política e / ou falta de governança
como resultado de escândalos de corrupção envolvendo presidentes, funcionários do Estado e
empresas privadas que roubam os recursos públicos, situações estas que desestabilizam os
governos. O segundo aspecto que teria favorecido a accountability é a ascensão da sociedade
civil e de seu novo papel e alcance em cumprir as funções exercidas pelo Estado e na
transformação de dispositivos diferentes contas (Quiñones et al., 2011).
A criação de ferramentas que permitem os cidadãos exercerem o controle, a obtenção de
informações sobre a política e a possibilidade de proteger os bens e interesses públicos, se
configuraria como um tipo de inovação cívica e de ordem democrática que poderia ser
detectada em diferentes países da América Latina. São instrumentos constitucionais e legais
que constituiriam um "apelo direto do poder" nas mãos de cidadãos para proteger os direitos
individuais e coletivos e do interesse público (Doin et al., 2012; Fowler, 2000; Quiñones et
al., 2011; Shommer et al., 2011).
Para que uma iniciativa se configure como uma inovação cívica seria necessário que as
inovações apresentadas sejam marcadas por uma cidadania ativa, como já previsto por teorias
da democracia participativa. A inovação cívica teria como objetivo capacitar os cidadãos a
agir em seu próprio nome, assim como a accountability transversal delineada por Quiñones
(2011) prevê. Um pré-requisito para que a inovação cívica seja bem sucedida seria a
institucionalização das mudanças, para que assim possam ser auto-sustentáveis e aumentar
64
capacidade dos cidadãos à longo prazo de influenciar as condições de suas vidas (Gamson,
2003).
É possível a identificação de dois tipos legais para institucionalizar a accountability e
incentivá-la: tal cenário estaria relacionado com as reformas voltadas para a criação de
espaços institucionais para a participação na gestão e políticas públicas. O alcance dessas
reformas seria variado também em termos de aparatos institucionalizados disponíveis, como
alguns espaços abertos (audiências públicas, conselhos, comitês, fóruns, etc) com poderes de
co-gestão e outros, com poderes de investigação, quanto dos resultados efetivos obtidos. O
Brasil seria um dos maiores laboratórios de inovações neste campo, sendo os conselhos de
políticas e o orçamento participativo os dois dos métodos mais reconhecidos e bem sucedidos
do país (Quiñones et al., 2011, p.26).
Múltiplas experiências que têm ocorrido recentemente no Brasil podem ser entendidas
como esforços e iniciativas no sentido da promoção e fortalecimento da accountability
societal, controle social, participação e mobilização cidadã nos campos da melhoria da gestão
de recursos e de políticas públicas, combate à corrupção, da promoção da qualidade de vida
nas cidades e da responsabilização de governantes por seus atos e omissões (Schommer et al.,
2011). Segundo Ostrander (2003), o processo de inovação cívica tem sido lento nas Américas,
tanto do norte quanto do sul, mas estaria agora culminando em um novo movimento de
inovação cívica que é composta de elementos da política cívica e que tem o potencial para
resolver problemas práticos, construir relacionamentos de longo prazo com base na confiança.
A democracia brasileira se enquadraria no que é considerado por O´Donnel (1998)
como uma democracia delegativa. Assim como aponta Schommer et al. (2011), Andrade
(2012, janeiro) a ideia de que a cidadania, a cultura cívica e o processo democrático no Brasil
iniciou-se de forma distinta de outros países do Norte. O Brasil seria marcado por uma forte
tradição cultural centrada no Estado em relação à sociedade e ao mercado e, em decorrência
65
disso, as relações com o Estado se configurariam a partir de formas de relacionamento
político marcadas pelo paternalismo, nepotismo, assistencialismo e clientelismo (Avritzer &
Pereira, 2005).
Foi possível notar ao longo da elaboração teórica do trabalho que um dos caminhos
apontados para a construção do regime democrático participativo seria aquele em que a
população estaria munida de informações sobre a realidade política e social do município no
qual faz parte e além disso, essa polução deveria ter ciência das suas possibilidades de
atuação. Foi possível identificar esse caminho como o elencado para o objeto de pesquisa, o
que possibilitou a análise sobre o mesmo. As dimensões teóricas que dão suporte à definição
dos procedimentos metodológicos da pesquisa são discutidos no próximo capítulo.
66
3 PROCEDIMENTOS METODÓLOGICOS
Com a intenção de compreender como são desenvolvidas as ações de movimentos
sociais que buscam exercer a accountability societal em governos locais, optou-se por uma
pesquisa de caráter qualitativo, por meio de um estudo de caso (Bonoma, 1985; Yin, 1981,
2005) com pessoas representantes das três esferas da sociedade (Estado, mercado e sociedade
civil), do município de Betim, em Minas Gerais. Com base em estudo de caso único
(Eisenhardt, 1989; Yin, 2005), realizou-se interpretações sobre os depoimentos coletados dos
representantes dos três setores acerca dos pontos que influenciam a realização da
accountability societal a partir do movimento social Nossa Betim.
Ao observar a literatura sobre estudos de caso único, temos autores como Cook e
Campbell (1979) que consideram esse tipo de estudo como um projeto, outros como uma
metodologia qualitativa e ainda como um procedimento de coleta de dados particular
(Andersen, 1997 apud Meyer, 2001). O estudo de caso único como estratégia de pesquisa
focada no entendimento das dinâmicas presentes nos contextos singulares pode envolver um
caso único (como este estudo realizado sobre o movimento Nossa Betim) ou múltiplos casos,
o que pode se configurar como tema para futuro estudo, em continuidade a essa pesquisa. A
intenção do estudo é obter uma visão sobre as ações de accountability societal realizadas por
movimentos sociais, dessa forma, um estudo de caso único se tornou a escolha mais
pertinente, pois abre uma oportunidade de se obter uma visão do processo e permite apreender
a realidade de determinado fenômeno a partir da objetividade e da subjetividade dos atores em
uma realidade sociopolítica específica (Meyer, 2001).
Uma decisão relevante tomada para realizar este trabalho é a escolha do método da
pesquisa participante para momentos pontuais da pesquisa (Almeida, 2010; Franco, 2005;
Thiollent, 1987). A necessidade de se utilizar este método foi para sanar a dificuldade de se
67
encontrar dados e as informações necessárias, que não podem ser encontradas em livros ou
em outros trabalhos científicos, mas sim dentro do movimento social estudado (Thiollent,
1978). Pelo fato de ainda existirem poucos estudos sobre os movimentos das redes
RLACTJDS e RSBCJS, tornou-se necessário um contato um pouco mais direto com a
iniciativa escolhida, MNB, para melhor coletar dados e desenvolver análises.
A fronteira entre a pesquisa ação e a pesquisa participante muitas vezes não é clara,
porém Thiollent (1987) deixa explícito que não se trata de métodos sinônimos. A pesquisa
ação envolve necessariamente uma ação dentro do objeto estudado, enquanto que a pesquisa
participante é uma técnica no interior da pesquisa ação que possibilita a observação de
eventos e comportamentos (Máximo, 2006; Serva & Júnior, 1995; Soares& Ferreira, 2006;
Thiollent, 1987).
Para a presente investigação foi de grande relevância utilizar o método da pesquisa
participante em determinados momentos como aconteceu quando a pesquisadora participou
das reuniões do Diálogos do movimento Nossa Betim, de algumas reuniões do movimento
Nossa BH. Assim foi possível observar a atuação do movimento Nossa Betim e o contexto
em que está inserido afim de melhor entender como a accountability societal é implementado
(ou não) por eles.
A lógica do corte de unidade empírica de análise foi feita de acordo com a teoria
elencada para a pesquisa, ou seja, o objetivo foi escolher um caso que fosse susceptível de se
estender a teoria e, assim, fornecer elementos importantes para a discussão operada pela
pesquisa (Eisenhardt, 1989; Meyer, 2001). O objetivo foi encontrar algum movimento social
que atendesse as características presentes ao conceito de accountability exercida pela
sociedade civil, como apontado por Lavalle e Castello (2008), Quiñones et al., (2011) e
Rocha (2011). Para que esse tipo de accountability ocorra é necessária participação da
sociedade civil nas questões de políticas públicas, por isso foi pontuado um segundo critério:
68
movimentos sociais que aconteçam em cidades e que tenham algum tipo de contato com os
governos locais, que por sua vez permitam o diálogo entre a sociedade civil e o Estado, com o
intuito de contribuir na formulação de políticas públicas locais. Sendo assim, o MNB, situado
na região metropolitana de Belo Horizonte, mais precisamente na cidade de Betim se tornou
uma rica oportunidade de estudo.
A presente pesquisa optou pela combinação de entrevistas semiestruturadas, pesquisa
participante em momentos pontuais, observação e documentos (Yin, 1981). A entrevista e a
pesquisa participante são fontes de evidência importantes na pesquisa qualitativa,
especialmente quando se pretende compreender em profundidade um fenômeno,
considerando-se o contexto no qual ela ocorre (Eisenhardt, 1989). Para conferir maior
confiabilidade e qualidade aos resultados da pesquisa, a análise dos dados obtidos a partir das
fontes primárias e secundárias permitiu comparar e confrontar a percepção de diferentes
atores acerca de um mesmo ponto, bem como possibilitou a realização da triangulação das
fontes dessas evidências (Eisenhardt, 1989).
A triangulação foi utilizada como estratégia de análise de conteúdo, para auxiliar o
tratamento e a interpretação dos dados coletados. Tanto os documentos e arquivos das fontes
secundárias, como os dados obtidos das fontes primárias por meio de entrevistas foram
gravados, transcritos e analisados com vistas à interpretação do conteúdo das informações
coletadas, a fim de compreender melhor o discurso dos entrevistados.
A coleta dos dados secundários foi realizada por meio de pesquisas bibliográficas,
consultas em arquivos disponíveis no sítio eletrônico oficial e pela rede social Facebook do
movimento social estudado. A análise dos dados que foram obtidos a partir das fontes
primárias e secundárias procurou comparar e confrontar a visão, postura e ação dos diferentes
entrevistados em cada caso acerca de um mesmo fator, bem como permitirá realizar a
triangulação das fontes dessas evidências (Eisenhardt, 1989; Yin, 2005).
69
A coleta de dados primários aconteceu em três etapas: a primeira etapa foi a maior
aproximação da pesquisadora com o objeto de pesquisa, para tanto foram marcadas conversas
com pessoas que tinham noção da cidade de Betim e que conheciam o MNB. A necessidade
desta primeira etapa foi, principalmente, pela baixa vivência da pesquisadora em relação a
cidade de Betim; a segunda etapa foi onde a pesquisa participante tomou forma, consistiu-se
em participação de eventos abertos do MNB (Diálogos), participação em algumas reuniões do
MNBH e acompanhamento em Sessão Legislativa da Câmara Municipal de Betim junto de
um membro integrante do MNB e a terceira etapa foi realizada por meio de entrevistas
semiestruturadas. Estas três etapas aconteceram, muitas vezes, de forma simultânea.
Uma estratégia utilizada para ajudar na triangulação dos dados e dar consistência à
análise foi estabelecer a cronologia dos acontecimentos e dados destacados pelos
entrevistados e pelos documentos analisados como relevantes na trajetória do movimento. Tal
estratégia ajudou a visualizar melhor o desenvolvimento do MNB. Após esta etapa, foram
feitas articulações com os elementos teóricos levantados pela pesquisa para realizar a análise
dos dados.
3.1 Entre fatos e dados que deram origem à pesquisa
O primeiro contato da pesquisadora com os temas da accountability societal,
participação popular, gestão pública local e movimentos sociais foi principalmente através do
estudo realizado sobre o Movimento Nossa BH (MNBH) mediante uma bolsa de iniciação
científica financiada pela FAPEMIG no início de março de 2012 até o final do mesmo ano. A
pesquisa abordou principalmente questões de participação popular, políticas públicas locais e
relações intersetoriais. Levou a pesquisadora a participar pontualmente de algumas reuniões
do MNBH e ter contato direto com membros do movimento e conhecer outros pesquisadores
70
do tema. Além disso, a inserção da autora no Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social
(NUPEGS) do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) foi importante para conhecer mais sobre
o tema da participação popular e a relação Estado-sociedade.
A partir de conversas com os integrantes do MNBH, do MNB e pesquisas em relação
ao tema da accountability, assim como a produção de artigos para seminários e congresso de
âmbito local, nacional e internacional desde o início da iniciação científica, foi possível
perceber que a experiência dos movimentos oriundos da RSBCJS, em especial do MNB,
como uma iniciativa diferenciada e ímpar para análise dos constructos teóricos centrais da
presente pesquisa, a saber: democracia participativa, gestão pública local, relações
intersetoriais, movimentos sociais e investigação sobre o fenômeno da accountability societal.
O que mais chamou a atenção da pesquisadora em relação ao MNB foi o fato de
diferentemente do padrão de outros movimentos sociais que buscaram participar dos espaços
de discussão de políticas públicas na cidade de Betim, o MNB se denomina como um
movimento que conta com a presença de atores do mercado, ou seja, empresas, como a FIAT,
que atua com o suporte financeiro e estrutural dentro do movimento social. Além disso, por
ser um movimento que busca trabalhar com o apoio e colaboração de instituições de ensino,
com ações voltadas para o acompanhamento de questões orçamentária da administração local
e ações que buscam informar sobre os indicadores da cidade, assim como fornecer
conhecimento sobre a atuação política dos cidadãos betinenses. Entender a atuação deste
movimento na cidade de Betim se tornou algo ímpar, já que tanto a realidade do movimento
quanto a da cidade, chamam a atenção e trazem novas perspectivas para se problematizar a
relação entre atores do Estado, da sociedade civil e do mercado na construção de espaços
públicos participativos e democráticos nas cidades.
71
3.2 Coleta de dados
Antes de iniciar a pesquisa o conhecimento da pesquisadora sobre a cidade de Betim era
ainda pouco claro e para sanar tal dificuldade foram realizadas conversas de sondagem sobre
o município de Betim e sobre o MNB e sua atuação. Diante disso, foi se desenvolvendo uma
visão mais crítica em relação a cidade de Betim e a iniciativa estudada, além disso, as
conversas agregaram muitas informações de difícil acesso em periódicos ou internet. A
conversa ocorreu com dois professores da PUC de Betim, um membro do Nossa Betim, um
membro de uma organização da sociedade civil de Betim e um professor da rede municipal de
Betim. Observe a codificação destas conversas na Tabela 3.
Tabela 2
Codificação e Perfil das Conversas de Sondagem
Setor Cod. Formação Profissional
Sociedade Civil
SC1 Cientista Social
SC2 Economista
SC3 Historiadora
MNB SMNB1 Contador
Organização da
Sociedade Civil SOSC1 Geógrafo
Nota. Fonte: Original desta pesquisa, (2014).
Alguns pequenos trechos das falas dessas conversas serão reproduzidos no capítulo de
análise de dados, apesar delas não terem sido gravadas, a pesquisadora tomou nota de
algumas frases mais significativas e ilustrativas para a pesquisa.
O método da pesquisa participante, se configura também como uma fonte primária de
dados. Para realizar esse método a pesquisadora participou de eventos abertos do MNB e o
evento elencado é denominado de “Diálogos” que faz parte da formação cidadã do MNB.
72
Nesse evento, o MNB convida pessoas especialistas em temas como o de sustentabilidade,
participação política, criação de indicadores, cidades, etc com o intuito de esclarecer
exposição dos temas e concretizar um ambiente de diálogo entre os setores da sociedade.
Membros de outas iniciativas oriundas da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e
Sustentáveis também são convidados para exporem sobre a sua experiência e relatar os êxitos
e desafios. Outro momento em que se utilizou da pesquisa participante foi quando a
pesquisadora acompanhou um dos membros do MNB em uma Sessão Legislativa da Câmara
Municipal de Betim e por fim, a pesquisadora participou de reuniões do MNBH.
As entrevistas semiestruturadas, entendidas como dados primários, foram feitas a
partir de um conjunto de perguntas definidas a priori e foram aplicadas de forma flexível.
Foram entrevistas mediante roteiro semiestruturado para orientar o diálogo durante a coleta de
dados que abordassem os mesmos temas e pontos para os quatro grupos de entrevistados, à
saber: membros do MNB, membros da prefeitura de Betim, das empresas e das organizações
da sociedade civil (Eisenhardt, 1989; Meyer, 2001; Yin, 2005).Utilizou-se a técnica chamada
de bola de neve para complementar o grupo de entrevistados, principalmente para criar uma
ponte para conseguir entrevistar os membros do executivo da prefeitura. Esta técnica consiste
em conseguir outros contatos através de um entrevistado, este aponta novos indivíduos
relevantes para realizarem a entrevista.
Foram realizadas doze (12) entrevistas, no período de junho até o mês de setembro.
Essas foram gravadas e transcritas. Entrevistaram-se três integrantes do corpo administrativo
do MNB e um integrante da sociedade civil que faz parte do MNB, totalizando quatro
integrantes do MNB. Três representantes de empresa, três representantes de organizações da
sociedade civil e dois membros do da prefeitura de Betim, um do corpo executivo e outro da
área técnica. A princípio foi planejado realizar15 entrevistas, porém a pesquisadora se
73
deparou com uma exaustão de conteúdo na entrevista e dessa forma, junto ao orientador,
chegou-se a conclusão que 12 entrevistas seriam suficientes para realizar análise de dados.
Os entrevistados receberam bem a proposta de entrevista e se mostraram interessados
em colaborar para o andamento da pesquisa. O fato da pesquisadora ter um contato prévio
com alguns dos entrevistados antes de elenca-los para a entrevista facilitou o agendamento da
mesma. A única exceção está no grupo da Prefeitura, onde a pesquisadora não conhecia
nenhum membro. Devido a demandas internas e conflito de agenda do entrevistado que
representava a prefeitura se tornou muito demorado o agendamento. Ao tentar utilizar a
técnica da bola de neve para este grupo não se obteve grande sucesso, já que a entrevistada
indicada repassou sua indicação para um membro técnico da prefeitura.
A partir de uma lista codificada foi possível descrever o perfil dos públicos, omitindo-
se a identificação nominal dos entrevistados, que foi substituída pelo destaque à primeira
letras dos setores representados: Empresa (E), organizações da sociedade civil (OSCs),
prefeitura (P), movimento Nossa Betim (MNB). A seguir aparece a descrição do perfil das
pessoas entrevistadas, representadas na Tabela 3.
Tabela 3
Codificação dos Entrevistados
Setor Cod. Formação
Profissional Idade
Empresa
E1 Jornalista 38
E2 Jornalista 41
E3 Comunicador
Social 49
Organizações
da Sociedade
Civil
OSCs1 Administrador 41
OSCs2 Geógrafo 38
74
OSCs3 Contabilista 43
Prefeitura P1 Administrador 54
P2 Advogado 33
Movimento
Nossa Betim
MNB1 Historiador 53
MNB2 Administrador 45
MNB3 Contabilista 36
MNB4 Jornalista 24
Nota. Fonte: Original desta pesquisa, (2015).
Para compor o roteiro de entrevista (Apêndices A, B, C e D) a pesquisadora tomou
como base elementos presentes: na pergunta de partida da pesquisa, nos objetivos gerais, no
objetivo geral e nos eixos teóricos abordados no capítulo teórico, a saber: democracia
participativa, gestão pública local, movimentos sociais, relações intersetoriais e
accountability. Além disso, foi elaborado um roteiro teste (Apêndice E) para enfim chegar aos
roteiros de entrevistas finais (Apêndices A, B, C e D).
A partir do modelo de “roteiro teste” (Apêndice E) realizou-se entrevistas com dois
integrantes do MNB e partir destas duas experiências o roteiro de peruntas foi adaptado para
os Apêndices A, B, C e D levando em consideração: i) alinhamento com a dimensão teórica,
ii) clareza e entendimento das perguntas pelo entrevistado; iii) alinhamento com os objetivos
específicos da pesquisa; iv) alinhamento ao público entrevistado; e v) disposição em
responder a questão.
Mediante ao teste, foi possível perceber que quase todas as condições foram atendidas,
com exceção das condições apontadas nos itens iv e v. Em relação ao iv observou-se que
alguns detalhes nas perguntas deveriam ser alterados para atender as particularidades dos
outros três públicos respondentes. Em relação ao v notou-se que o primeiro modelo de roteiro
estava constituído de perguntas cujas respostas levavam a um mesmo padrão de resposta, ou
seja, repetitivas e redundantes. Ainda, notou-se que algumas perguntas exigiam muito tempo,
por serem específicas, o que levou aos entrevistados a responderem rápido sem aprofundar a
75
questão e os dois desses demonstram cansaço ao lidarem com as questões. Tais questões
foram retiradas dos roteiros finais (Apêndices A, B, C e D). A retirada das questões não
trouxe prejuízo na análise de dados, mesmo porque os dados secundários conseguiram reparar
a situação.
O roteiro de entrevistas buscou explorar, ainda no âmbito do MNB, como as
atividades de accountability societal no poder público eram desenvolvidas e procurou-se
também identificar os êxitos e desafios para a realização do mesmo. Por fim, todos os roteiros
de entrevistas foram elaborados com base nos cinco eixos teóricos, sendo esses: democracia
participativa, gestão pública local, movimentos sociais, relações intersetoriais e accountability
societal dividido em cinco dimensões de análise. Relevante ponderar que os a teoria de
relações intersetoriais foi utilizada para auxiliar, principalmente, na compreensão da interação
complexa dos três setores, sem intenção de aprofundar na literatura de relações intersetoriais.
3.3 Dificuldades de pesquisa
Conseguir participar de todas as cinco edições do Diálogos não foi possível para a
pesquisadora. Vale mencionar que na segunda edição a pesquisadora teve um conflito de
agenda e não pode comparecer, já na quarta edição do Diálogo não foi aberta ao público em
geral, o que impediu a participação da pesquisadora.
Em relação as entrevistas semiestruturadas a maior dificuldade detectada foi a
morosidade de se conseguir marcar entrevistas com os membros do corpo executivo da
prefeitura de Betim. A pesquisadora necessitou recorrer a uma terceira pessoa para marcar
uma entrevista.
A mesma estratégia foi utilizada para se conseguir uma segunda entrevista com outro
membro do corpo executivo da prefeitura, porém não obteve real sucesso já que a entrevista
76
acabou sendo realizada com um membro técnico da prefeitura. A pesquisadora foi ao
escritório da prefeitura três vezes para deixar o pedido de entrevista, uma destas vezes foi
acompanhada de um membro da equipe técnica da prefeitura de Betim, que a priori possui
contato direto com o entrevistado alvo. Duas semanas se passaram após este contato e a
pesquisadora não obteve qualquer tipo de resposta. Ligações foram feitas para a secretária,
mas a mesma resposta foi dada diversas vezes, em resumo, a pesquisadora foi orientada a
esperar o contato da secretária que marcaria data e horário.
Este contato aconteceu até data hábil para que se pudesse realizar a análise e entregar o
trabalho. Porém, o entrevistado alvo repassou a entrevista para um membro do corpo técnico
da prefeitura de Betim. Tal situação trouxe prejuízo para o andamento da análise, já que seria
mais assertivo se a opinião e análise da prefeitura contasse com mais visões e depoimentos do
corpo executivo. Como o objetivo geral é entender como acontece a accountability societal
realizada pelo MNB em relação ao pode público local, o ideal que a prefeitura se colocasse
mais aberta a recepção de trabalhos acadêmicos que envolva entrevistas com os membros da
instituição. No entanto, essa dificuldade não inviabilizou a realização da pesquisa em bases
consistentes com o que se espera da base epistemológica e do recorte metodológico adotados
na presente investigação.
77
4 CONTEXTO E ATUAÇÃO DO MOVIMENTO NOSSA BETIM
4.1 Articulações da sociedade civil em busca de cidades mais justas e sustentáveis
Até o ano de 2013, mais da metade da população se encontrava em centros urbanos e a
tendência seria de que, cada vez mais, este número aumentasse de acordo com dados estimado
pela Organização das Nações Unidas (ONU) (ONU, 2013). É esperado que entre os anos de
2007 até 2050, o número de habitantes das cidades suba para 3,1 bilhões de pessoas e assim,
mais de 70% da população viveria em cidades de grande e médio porte. A maior parte do
crescimento urbano no mundo ocorre em países em desenvolvimento, como é o caso da
América Latina, onde 75% da população vivem em cidades urbanas que possuem
infraestrutura inadequada (Avina, 2013a; ONU, 2013). Devido ao grande acúmulo de pessoas
vivendo em cidades, existe uma tendência a um avanço dos problemas decorrentes da
urbanização desenfreada que assolam estas cidades (Barney, 2003; ONU, 2013; Redciudades,
2014a).
Nesse contexto, há a tendência da sociedade civil procurar compreender, desenvolver
propostas e incidir sobre a gestão pública local, na busca de soluções adequadas às demandas
da acelerada expansão das populações urbanas (Avina, 2013b; Cidades Sustentáveis, 2013;
ONU, 2013). É possível observar desde o fim dos anos 1990 e no decorrer dos anos 2000 o
surgimento de várias inciativas que buscam incidir de alguma forma na gestão pública local
na América Latina, haja vista a AMARRIBO Brasil, a RSBCJS e a RLACTJDS.
Com uma forma de atuação diferente ao das redes RSBCJS e RLACTJDS, mas com um
objetivo comum que é informar os cidadãos das cidades sobre a realidade de seus municípios,
acompanhar a gestão pública local e incentivar a participação popular para contribuição da
melhoria de qualidade de vida nos municípios, a AMARRIBO é fruto de uma reunião de
amigos que nasceram, residem ou são simpatizantes do município de Ribeirão Bonito, no
78
estado de São Paulo em 1999 (AMARRIBO Brasil, 2014). Os constituintes desta estavam
interessados em oferecer voluntariamente seu tempo e habilidades para contribuir com o
desenvolvimento da cidade.
A AMARRIBO coloca que sua missão é “a de despertar no cidadão o sentimento de que
ele é o elemento central da democracia e que tem o poder de mudar os rumos da sociedade
para que o desenvolvimento ocorra dentro dos princípios da ética, da transparência, da
integridade, da probidade e da equidade” (AMARRIBO Brasil, 2014).
Diante de denúncias de corrupção que começaram a chegar a sede da AMARRIBO em
2000 decidiu-se então que o foco principal desta seria o de se dedicar ao combate à corrupção
na cidade. Para promover o afastamento dos corruptos a AMARRIBO trabalhou por meio da
mobilização da sociedade, da realização audiências públicas e promoveu o desenvolvimento
de diversos meios de comunicação com a população. Com tais ações alcançou-se o
afastamento de diversos políticos enquadrados em cenários de corrupção da cidade de
Ribeirão Bonito, e processaram outros que já haviam deixado o poder. O caso do município
paulista ganha repercussão nacional e diversos cidadãos do país voltaram seu olhar para a
organização em busca de apoio e orientação para formarem ONGs com o mesmo objetivo em
seus municípios. Diante disso, inicia-se um trabalho de disseminação de sua experiência e o
livro “O Combate à Corrupção nas Prefeituras do Brasil” é lançado contando a história da
organização AMARIIBO e também incluindo neste universo ferramentas para o controle
social (AMARRIBO Brasil, 2014).
Em 2003, começaram a surgir as primeiras organizações inspiradas na AMARRIBO e
neste momento formava-se a Rede AMARRIBO Brasil junto ao Instituto de Fiscalização e
Controle (IFC), constituídas até 2014 por mais de 200 organizações coordenada pela
AMARRIBO em parceria com o IFC. Diante disso, palestras, oficinas e formações são
realizadas por todo o país. Já em 2008 a AMARRIBO se integra a RSBCJS e em 2011 é
79
enquadrada como uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), sem fins
lucrativos. A nomenclatura muda para AMARRIBO Brasil e nesta linha histórica da
iniciativa ela alcança uma ampliação de suas ações para um nível não só nacional, mas
também internacional ficando conhecida, atualmente, como uma organização de contato da
Transparência Internacional no Brasil (AMARRIBO Brasil, 2014).
Apesar de tanto a AMARRIBO Brasil quanto a RSBCJS e a RLACTJDS atuarem em
forma de redes, buscarem formação e participação popular, a primeira possui um estilo de
atuação mais de conflito e combate com o governo local, enquanto as duas outras redes
buscam trabalhar por meio de parceria e diálogo.
O surgimento das iniciativas RSBCJS e RLACTJDS tem como inspiração a iniciativa
¿Bogotá Cómo Vamos? que chamou a atenção por ajudar na transformação de Bogotá, de
uma cidade violenta, caótica e sem autoestima para uma cidade com maior acesso,
mobilidade e com uma melhor qualidade de vida. Tal iniciativa despertou o interesse de
instituições como a da Fundação Avina que busca contribuir para o desenvolvimento
sustentável na América Latina, “incentivando a construção de relações de confiança e alianças
bem sucedidas entre líderes sociais e empresariais, na articulação de suas agendas e planos de
ação” (Avina, 2013a). Isso porque, a fundação busca trabalhar em prol de uma América
Latina próspera, integrada, solidária e democrática, que conta com o seu próprio modelo de
desenvolvimento inclusivo e sustentável. Funciona por meio de articulação de fellows ou
líderes, ligados a novas ou tradicionais associações da sociedade civil ou de empresas.
As movimentações que culminaram no ¿Bogotá Cómo Vamos? em 1998 começaram em
1991, quando é instituída na Colômbia projetos delineados com o objetivo de estender a
participação popular no governo e de combater a corrupção. Para atingir tais objetivos abriu-
se espaço dentro da democracia representativa para a atuação da democracia participativa e
instituiu o sistema de voto programático. Este sistema obriga os candidatos eleitos a
80
cumprirem suas promessas de programa de governo traduzindo-as em um Plano de
Desenvolvimento acordado com e monitorado pela sociedade (Fiabane, 2011).
Outra medida tomada foi que os Conselhos de Planejamento foram formados por
membros da sociedade civil, assegurando espaços para o diálogo social na formulação e
avaliação permanente dos Planos de Desenvolvimento. Além disso, a sociedade civil conta
com o espaço para exercer o controle cidadão sobre a gestão pública. A Lei Orgânica do
Plano de Desenvolvimento estendeu-se a prática para entidades locais, como Bogotá, depois
da Lei 152 que regulamentou o artigo em 1994,
A importância dessa medida estava na busca por diminuir a ausência da prestação de
contas do exercício cívico, assim como certificar as promessas eleitorais e o impacto das
decisões tomadas pelo governo na qualidade de vida dos cidadãos. Em 1997, um grupo da
sociedade civil compreendeu a necessidade de levar informações sobre o cumprimento dos
Planos de Desenvolvimento aos cidadãos. A intenção era também a aproximação da
população à política e gestão local, qualificar o voto e torná-lo um instrumento de sanção da
sociedade civil em relação aos governantes e por fim, contribuir para a concretização do
caráter participativo do sistema previsto na Constituição de 1991 (Fiabane, 2011).
O principal jornal da cidade (Casa Editorial El Tiempo), uma fundação humanitária
(Fundación Corona) e a associação comercial local (Câmara de Comércio de Bogotá)
lançaram o movimento ¿Bogotá Cómo Vamos?. As estratégias utilizadas pela inciativa são
feitas pela divulgação de informações e na própria avaliação de seus indicadores, pois a
iniciativa acredita que essas duas estratégias juntas conseguem levar conhecimento sobre a
cidade para a população e governo. Por outro lado, acredita-se que os indicadores estão
dotados de poder para guiar os planos, as ações e direcionar o foco das reivindicações e
monitoramento (Bogotá Cómo Vamos, 2012). Porém a iniciativa não entra na questão
burocrática que tais indicadores e informações poderiam levar para o processo de participação
81
social e real exercício da accountability societal, deixando assim uma abertura para críticas e
necessidade de reavaliação.
Destas experiências originaram-se outros projetos em países da América Latina e que,
por sua vez, assumem estratégias diferentes, que envolvem propostas cidadãs e processos de
democracia participativa. ¿Bogotá Cómo Vamos? foi o modelo embrionário que despertou o
nascimento da Rede Nossa São Paulo (RNSP) em 2007, que por sua vez levou inspiração para
as iniciativas da RSBCJS3 e RLCJDS4 terem surgido em 2008, construindo assim uma grande
rede nacional e internacional de atores da sociedade civil buscando incidir na gestão pública
local.
Em 2014, o ¿Bogotá Cómo Vamos? se configura mais como um programa de
indicadores e se distanciando da ideia de “movimento social”. A Fundación Corona, o jornal
El Tiempo, a Universidade Pontifícia Javeriana e a Câmara de Comércio de Bogotá contratam
o serviço do ¿Bogotá Cómo Vamos? para ter os dados analisados e os indicadores
desenvolvidos pelo ¿Bogotá Cómo Vamos?. A inciativa tornou-se assim uma referência de
dados e indicadores sobre a cidade de Bogotá.
As Redes que surgiram da inciativa de Bogotá se colocaram diante da missão de
comprometer a sociedade civil, empresas e sucessivos governos com comportamentos éticos e
com o desenvolvimento justo e sustentável de suas cidades, tendo como valor essencial a
democracia participativa. O trabalho em rede facilitaria a troca de informações, experiência e
conhecimentos entre os integrantes para promover o aprendizado mútuo, o apoio e o
fortalecimento de cada experiência local (Cidades Sustentáveis, 2013).
Para realizar a missão das Redes, entre outras ações, procura-se debater e monitorar os
orçamentos públicos municipais, trabalhar com os indicadores técnicos oficiais, realizar
pesquisas de percepção pública, desenvolver análises comparativas e padrões de referência de
3Surge em Belo Horizonte no dia 8 de julho de 2008. 4 Surge em Bogotá no dia 17 de outubro de 2008.
82
qualidade de vida e equidade social entre as cidades e mobilizar a sociedade e fomentar o
diálogo entre os três setores (Cidades Sustentáveis, 2013).
De forma sucinta, os princípios da Rede Latino-americana divulgam que este grupo de
movimentos nas cidades latino-americanas trabalham com ferramentas técnicas para
acompanhar e comparar os avanços, ou não, da qualidade das cidades, assim como trabalham
com uma ampla comunicação entre as partes envolvidas, o que levaria também a outro
princípio dos movimentos da rede: o de extensão de intercâmbio de experiências. A rede
procura trabalhar com incidência positiva sobre o governo e suas políticas públicas e ainda
essa “trabalha de forma autônoma e independente dos governos nacionais, subnacionais e
preza por uma neutralidade política”. Por fim, deve-se ater ao fato da rede trabalhar com
planos de ação anuais. (Red Ciudadanas Por Ciudadanas por Ciudades Justas y Sustentables,
2008, p.2-3).
Para a RLACTJDS as cidades justas seriam aquelas que possuem uma distribuição
igualitária de bens, serviços, direitos e deveres com o fim de alcançar o bem estar dos
cidadãos e a dignidade humana. Já as cidades sustentáveis seriam aquelas nas quais os
modelos de desenvolvimento e padrões de consumo respeitam os recursos naturais e as
gerações futuras. Mas também espera que a sustentabilidade atinja os aspectos sociais,
econômicos, éticos, políticos e culturais.
As iniciativas, seja da RLACTJDS ou da RSBCJS, possuem um propósito comum:
incentivar a participação popular nas gestões locais e melhorar a qualidade de vida dentro das
cidades a fim de criar um ambiente propício para cidades justas e sustentáveis no futuro.
Sendo assim, os objetivos descritos na carta de princípios da Rede Latino-americana de
Cidades Justas e Sustentáveis são:
Abrir na América Latina um debate sobre a qualidade de vida e da democracia urbana;
gerar mais conhecimento sobre a qualidade de vida urbana nas cidades da América
83
Latina, buscando avançar até cidades justas e sustentáveis; fazer com que os governos
responsáveis pelas cidades acompanhem os projetos e realizem a promoção do exercício
da prestação de contas; propor alternativas normativas e/ou de políticas públicas que
melhorem a qualidade de vida e permitam levar até um resultado final de cidades mais
justas e sustentáveis; e gerar processos de participação popular que permitam a
ampliação dos espaços de decisão da cidadania. (Red Ciudadanas Por Ciudadanas por
Ciudades Justas y Sustentables, 2008, p.2, tradução nossa)5.
A Fundação Avina (20--) disponibilizou uma imagem ilustrativa das inciativas que
fazem parte tanto da RLACTJDS como da RSBCJS, ilustrando assim a Rede de Cidades.
Observe a Figura 1.
Figura 1. Iniciativas da RLACTJDS e RSBCJS
Na Figura 1 podemos ver a ilustração dos 10 países participantes da RLACTJDS e em cada país podemos ver as
inciativas da rede nacional respectiva. Observe que no caso do Brasil, antes da ilustração das iniciativas
5 Abrir en América Latina, um debate de calidade de vida y de la democracia urbana; genrerar más conocimiento
sobre la calidade de vida urbana em las ciudades de América Latina, buscando avanzar hacia ciudades justas y
sustentables; hacer seguimiento a los gobiernos de ciudades y promover el ejercicio de rendición de cuentas;
proponer alternativas normativas y/o de políticas públicas que mejoren la calidad y permitan avanzar hacia
ciudades más justas y sustentables; y provocar procesos de participación ciudadana que permitan la ampliación
los espacios de decisión de la ciudadanía.
84
brasileiras, temos a ilustração da RSBCJS e do Programa por Cidades Sustentáveis, já que esse é um dos
apoiadores da causa. Nota-se que os dados contidos na Figura 2 não estão atualizados ao ano de 2014. Em
pesquisa feita no site oficial da RLACTJDS é possível contabilizar, por exemplo, 10 iniciativas no país chileno e
a Figura 8 só ilustra 7 inciativas.
Fonte: Cemais (2013, setembro). Ciclo de Debates CEMAIS: Cidades Sustentáveis, Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil. 03.
Na América Latina são mais de 60 iniciativas6 presentes em 10 países: Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai. Essas
iniciativas da RSBCJS seguem uma linha cronológica que ganha grande expressão após o ano
de 2008. Atribui-se a este fenômeno a exitosa experiência da primeira iniciativa brasileira
como a de ¿Bogotá Cómo Vamos? que ocorreu em 2007, na cidade de São Paulo com o
Movimento Nossa São Paulo, hoje denominada Rede Nossa São Paulo (RNSP) (Fiabane,
2011). Para melhor visualizar tal situação observe a Figura 2.
Figura 2. Cronologia de Algumas Iniciativas da RSBCJS
Na Figura 2 é possível visualizar algumas das inciativas que fazem parte da RSBCJS assim como da
RLACTJDS. Note que ao lado de cada nomenclatura das inciativas temos um número em vermelho, este aponta
a ordem do surgimento das iniciativas citadas. A iniciativa colombiana toma frente na cronologia iniciando-se
em 1998, em maio de 2007 temos a Rede Nossa São Paulo e em outubro do mesmo ano temos o Instituto
Ilhabella Sustentável, ambas iniciativas nascem no estado de São Paulo. A quarta iniciativa é a consolidação da
RSBCJS em 08 de julho de 2008 na capital do estado de Minas Gerais, Belo Horizonte. No dia 17 de outubro do
mesmo ano temos a criação da RLACTJS e como sexta iniciativa tem-se a institucionalização do Movimento
Nossa BH, em 11 de dezembro de 2008. Ainda em Minas Gerais temos o lançamento da sétima iniciativa e
6 De acordo com os dados levantados por esta pesquisa, o número das cidadaes seria de 87 iniciativas. Porém,
não se pode afirmar que este é o número exato, pois o portal oficial da RLACTJDS não descreve todas as
iniciativas incorporadas, oficalmente, à Rede Latinoamericana até o ano de 2014 (Red Ciudades, 2014c).
Verificar apêndice F.
85
objeto empírico desta pesquisa: MNB no ano de 2010. Oitava e nona iniciativa aqui elencadas, respectivamente,
temos Movimento Floripa te Quero bem e Instituto Nossa Ilhéus.
O objetivo desta imagem é de ilustrar, principalmente, o surgimento de algumas inciativas no Brasil.
Fonte: Elaboração dos autores com base nos dados de pesquisa.
A partir desta experiência, originou-se em 2008 a RSBCJS, assim como a RLACTJDS.
Entre os anos de 2008 e 2014, 37 iniciativas constituem a RSBCJS e comtempla cidades de
grande e médio porte em 16 dos 26 estados brasileiros. Observe a Tabela 6.
Tabela 4
Integrantes da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis (RSBCJS) até 2014
Nº Estado/ Sigla Cidade Nome da iniciativa
1 Pará / PA Abaetetuba Rede Nossa Abaetetuba
2 Pará / PA Belém Rede Nossa Belém
3 Minas Gerais / MG Belo Horizonte Movimento Nossa BH
4 Minas Gerais / MG Betim Movimento Nossa Betim
5 Distrito Federal / DF Brasília Movimento Nossa Brasília
6 Bahia / BA Camaçari Rede Nossa Camaçari
7 São Paulo / SP Campinas Movimento Nossa Campinas
8 Mato Grosso do Sul / MS Campo Grande Movimento Nossa Campo Grande
9 Paraná / PR Curitiba Nossa Curitiba
10 Santa Catarina / SC Florianópolis Movimento Floripa Te Quero Bem
11 Ceará / CE Fortaleza Nossa Fortaleza
12 São Paulo / SP Holambra Movimento Holambra Linda
13 São Paulo / SP Ilhabela Instituto Ilhabela Sustentável
14 Bahia / BA Ilhéus Instituto Nossa Ilhéus
15 Rio de Janeiro / RJ Itatiaia Movimento Inovatatiaia
16 Minas Gerais / MG Januária Associação dos Amigos de Januária
17 Paraíba / PB João Pessoa e
Cabedelo
Instituto Soma Brasil
18 Santa Catarina / SC Joinville Movimento Joinville Nossa Cidade
19 Paraná / PR Londrina Fórum Desenvolve Londrina
20 Alagoas / AL Maceió Movimento Maceió Sustentável
21 Paraná / PR Maringá Observatório Social de Maringá
86
Nota. Fonte: Red Ciudades. (2014b). Brasil. Recuperado de http://redciudades.net/blog/portfolio/brasil/
O primeiro encontro realizado pela RSBCJS aconteceu na cidade de Recife, nos dias
28 e 29, em maio de 2009. O objetivo estratégico deste encontro foi consolidar as diretrizes
para a operacionalização e o funcionamento da rede e promover a troca de experiências entre
lideranças envolvidas em movimentos sociais por cidades justas e sustentáveis para construir
uma agenda em nível local e nacional.
As iniciativas da RSBCJS buscam trabalhar com o monitoramento do Programa ou
Plano de Metas. Este plano é similar a Lei Orgânica do Plano de Desenvolvimento implantada
na Colômbia. São Paulo foi a primeira cidade a conseguir aprovar o Plano de Metas e foi
seguida por outras em várias partes do Brasil. Em suma, foi aprovada “uma emenda que exija
dos prefeitos a apresentarem um programa de metas quantitativas e qualitativas para cada área
da administração municipal” (Rede de Cidades, 2014).
22 São Paulo / SP Mogi das Cruzes Rede Nossa Mogi das Cruzes
23 Rio de Janeiro / RJ Niterói Movimento Niterói Como Vamos
24 São Paulo / SP Piracicaba Observatório Piracicaba Sustentável
25 Minas Gerais / MG Poços de Caldas Associação Poços Sustentável
26 Rio Grande do Sul / RS Porto Alegre Porto Alegre Como Vamos
27 Pernambuco / PE Recife Observatório do Recife
28 Rio de Janeiro / RJ Rio de Janeiro Rio Como Vamos
29 Bahia / BA Salvador Movimento Nossa Salvador
30 São Paulo / SP Santos Fórum da Cidadania de Santos
31 Maranhão / MA São Luís Movimento Nossa São Luís
32 São Paulo / SP São Paulo Rede Nossa São Paulo
33 Rio de Janeiro / RJ Teresópolis Movimento Nossa Teresópolis
34 Pará / PA Tucurí Movimento Tucuruí Sustentável
35 Minas Gerais / MG Varginha Nossa Varginha
36 São Paulo / SP Vinhedo Instituto Observatório da Cidadania -
Vinhedo Real
37 Espirito Santo / ES Vitória Movimento Nossa Vitória
87
Mais conhecida como "Lei de Metas" temos que todo Prefeito eleito tem a
obrigação de apresentar, em até noventa dias após a sua posse, um Programa ou Plano que
descreva as prioridades de seu governo, explicitando as ações estratégicas, os indicadores e as
metas quantitativas para cada um dos setores da administração pública municipal. O objetivo
é que a Prefeitura obtenha indicadores da cidade, conheça as demandas de cada região e atue
de forma localizada. A lei também coloca que o prefeito terá mais 30 dias para realizar
audiências públicas, prevê que, a cada seis meses, o resultado da execução dos projetos seja
divulgado para a população de forma ampla. Além disso, a cada novo ano de governo haverá
um novo Plano de Metas. Espera-se que ao fim do mandato, os cidadãos teriam como avaliar
se o político foi bom ou não, com base em dados concretos. O descumprimento desta lei
implica em sanção ministrada pelo ministério público, como por exemplo, impedição de se
reeleger ou exoneração do cargo.
Portanto, essa fica sendo uma maneira do governo selar compromissos com a
população em torno das principais iniciativas que serão implementadas ao longo da gestão.
De acordo com levantamento da RNSP, outras cidades brasileiras aprovaram no Legislativo a
lei que institui o programa de metas, observe a Tabela 5.
Tabela 5
Cidades Brasileiras que Aprovaram no Legislativo a Lei que Institui o Programa de Metas
Estado Cidade
Amazonas Manaus
Bahia Euclides da Cunha
Eunápolis
Ilhéus
Espírito Santo Vitória
88
Goiás Anápolis
Maranhão Timbiras
Mato Grosso do Sul Dourados
Minas Gerais Belo Horizonte
Betim
Formiga
Ipatinga
Ouro Branco
Pará Abaetetuba
Paraíba João Pessoa
Rio de Janeiro Niterói
Rio de Janeiro
Teresópolis
Rio Grande do Sul Carazinho
Santa Catarina Florianópolis
São Paulo Barra Bonita
Bragança Paulista
Campinas
Cosmópolis
Fernandópolis
Holambra
Ilhabela
Itapeva
Jaboticabal
Jundiaí
Limeira
Mauá
Mirassol
Penápolis
Ribeirão Bonito
São Carlos
São José do Rio Preto
São Paulo
Taubaté
Nota. Fonte: Rede Nossa São Paulo (2014). Cidades que já têm o Programa de Metas. Recuperado de
http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/8750
89
O programa de metas para a gestão 2013-2016 foi apresentado pelas seguintes cidades,
observe a Tabela 6.
Tabela 6
Apresentação do Programa de Metas, 2013-2016
Estado Cidade
Minas Gerais Belo Horizonte
Betim
Formiga
Ipatinga
Paraíba João Pessoa
Rio de Janeiro Niterói
Rio de Janeiro
Rio Grande do Sul Porto Alegre
Santa Catarina Florianópolis
São Paulo Bragança Paulista
Campinas
Holambra
Jundiaí
Louveira
São Carlos
São José do Rio Preto
São Paulo
Nota. Fonte: Rede Nossa São Paulo (2014). Rede Nossa São Paulo (2014). Cidades que já têm o Programa de
Metas. Recuperado de http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/8750
Em harmonia com a Lei de Metas, temos o Programa de Cidades Sustentáveis (PCS),
lançado em 2011, que reúne uma série de ferramentas que vão contribuir para que governos e
sociedade civil promovam o desenvolvimento sustentável nos municípios brasileiros. É
possível notar que as iniciativas que compõem RSBCJS, que buscam levantar indicadores dos
municípios, podem acabar servindo como uma ferramenta para o cumprimento do PCS.O
90
PCS permite que o cidadão o acompanhe melhor os programas de governo de suas respectivas
cidades e estimula a transparência de indicadores que, geralmente, ficam dispersos nas
secretárias municipais (Cidades Sustentáveis, 2014). O PCS é uma realização da Rede Nossa
São Paulo, da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis e do Instituto Ethos.
O programa oferece uma plataforma que funcionaria como uma agenda para a
sustentabilidade, incorporando de maneira integrada as dimensões como a social, a ambiental,
a econômica, a política e a cultural, sendo que a plataforma aborda as diferentes áreas da
gestão pública em 12 eixos temáticos. A cada um dos eixos temáticos estão associados a
indicadores, a casos exemplares e a referências nacionais e internacionais de excelência. O
programa traz um hall de 100 indicadores básicos que trazem, implicitamente, dados que as
prefeituras, normalmente não costumam divulgar, como por exemplo, número de parques e
bibliotecas na cidade por sub-região. Além dos indicadores que trazerem, por exemplo, dados
da educação e saúde, trazem também indicadores que ajudariam a compor um olhar mais
atento para a formulação de uma melhor qualidade de vida para a população (Cidades
Sustentáveis, 2014).
Para participar do PCS o município torna-se um signatário e como membro ganharia
visibilidade em materiais de divulgação e nos meios de comunicação, tendo acesso a
informações consideradas estratégicas e trocas de experiências com outros municípios, além
de poderem vir a se constituir como referência de desenvolvimento sustentável. O signatário
deve também alimentar a plataforma de dados do PCS com os indicadores e informações do
seu município ou criar um tipo de observatório que aglutine as mesmas informações (Cidades
Sustentáveis, 2014). As informações e indicadores gerados ficariam disponíveis também para
sociedade civil por meio de um sitio eletrônico.
Nota-se que municípios menores que não possuem estrutura para formar os
observatórios, têm recorrido a alimentar a plataforma de dados da PCS. Exemplo a ser citado
91
é a opção elencada por Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, que optou por alimentar a
plataforma do PCS. Nesta opção, a prefeitura cria um selo ou link na sua página oficial que
será direcionada para o banco de dados da PCS. De forma diferente temos as cidades de São
Paulo e Salvador que optaram por um observatório, uma página própria, que é alimentado
com dados tendo referência os indicadores sugeridos pelo PCS.
Com isso, é possível perceber certa flexibilidade em como atuar e participar do PCS.
O que realmente seria relevante para a iniciativa é a aglutinação e exposição dos dados para a
sociedade civil. O inovador é que estes dados oficiais ficam reunidos no PCS, o que é algo
considerado de difícil organização interna nas secretárias das prefeituras municipais. O PCS
acredita que por meio de coleta e análises indicadores, programa de metas é possível se
alcançar uma melhor gestão pública municipal; melhor qualidade de vida da população e
maior diálogo entre a sociedade civil e a gestão local.
Porém, é possível fazer críticas a este tipo de banco de informações, mais
especificamente sobre a sua real utilidade para fomentar a participação popular de fato ou
mesmo para a transformação social da cidade portadora do PCS. Tem-se o risco do PCS se
resultar mais em um tipo de “vitrine” para a sociedade e acabar por reforçar a disseminação
top-down de metodologias bem sucedidas em determinadas realidades em detrimento de seu
diálogo com as comunidades e localidades. Este tipo de metodologia, de informações técnicas
para se acompanhar a realidade da cidade poderia levar a um distanciamento do encontro dos
diferentes saberes locais, diminuindo assim o teor democrático e participativo uma vez
elencado como intenção do PCS. Outra crítica seria refletir se o PCS não seria mais uma
forma de tentar solucionar ou remediar um problema interno das prefeituras de pouca
organização interna e articulação entre as secretárias.
Estima-se que em um universo de mais de cinco mil municípios, o PCS conta com
mais de 260 municípios brasileiros signatários, dentre eles 21 das 27 capitais (Cidades
92
Sustentáveis, 2014). Pode-se apontar assim que a RSBCJS tem ganhado espaço de atuação em
vários municípios brasileiros, sejam eles de grande ou médio porte.
Interessante notar que a cidade de Betim aparece tanto na lista de cidades que
conseguiram aprovar a Lei de Metas como na lista de cidades que já possuem uma
apresentação do programa para o mandato que compete ao prefeito eleito de 2013 até 2016.
Tal situação abre a oportunidade para a sociedade civil atuar no acompanhamento do Plano de
Metas e cobrança das metas traçadas no mesmo e, além disso, a cidade é signatária do PCS.
Feitas tais considerações é possível traçar um olhar mais específico para o objeto empírico
desta dissertação no subitem do capítulo quatro a seguir, que tratará de uma exposição
descritiva da cidade de Betim e do MNB abrigado pela primeira.
4.2 Movimento Nossa Betim na "maior cidade pequena" de Minas Gerais
Com idas à Betim e com o desenrolar das conversas de sondagem a pesquisadora foi,
aos poucos, descortinando a distância perceptiva e física da pesquisadora em relação a cidade
de Betim. Antes uma cidade de complicado acesso, na percepção da pesquisadora, tronou-se,
em uma cidade de fácil acesso, já que Belo Horizonte (BH), a cidade vizinha, possui diversas
linhas de ônibus e o metrô consegue aproximar, ainda mais, as duas cidades. O trajeto Belo
Horizonte-Betim gira em torno de 45 minutos à 1 hora de percurso.
Ao longo do trajeto, para a pesquisadora, foi difícil distinguir entre o que fazia parte
de Belo Horizonte, de Contagem e de Betim. Nas primeiras visitas à Betim, a pesquisadora
não conseguia identificar Betim, a não ser pelos outdoors da FIAT Automóveis. Em termos
de paisagem, o trajeto não desperta encantamento, a não ser pela quantidade de indústrias de
diversos segmentos, principalmente, veículos motorizados. É possível notar muitos pontos de
ônibus ao longo da BR. No trajeto de ida e volta à Betim a pesquisadora teve a oportunidade
de conversar com cidadãos de Betim e quando perguntados sobre o que achavam da cidade, as
93
repostas eram positivas. Diziam gostar muito de Betim, mas que achavam a cidade descuidada
e também reclamava da insegurança que sentiam.
O espaço comercial da cidade começa a se movimentar as nove horas da manhã e seu
funcionamento segue até por volta das dezenove horas da noite. Foi possível notar, falta de
politização nas questões de mobilidade urbana, onde o cidadão que circula à pé ou de bicicleta
enfrenta dificuldades de locomoção. As ruas, pelo menos na região central, são muito estreitas
e as calçadas seguem o mesmo padrão, forçando o cidadão, muitas vezes, a andar na rua junto
aos carros, que estão espalhados pela cidade em um número expressivo. A disposição visual
da cidade é carregada de informações e tal situação é feita de forma desorganizada,
traduzindo-se em uma poluição visual.
Betim situa-se na zona metalúrgica e integra a Região Metropolitana de Belo horizonte
(RMBH) e possui uma das maiores taxas de crescimento do estado de Minas Gerais (Barbosa
Júnior, 2009). A região onde se localiza foi colonizada por luso-brasileiros e “fazia parte de
uma importante rota de bandeirantes, que vinham de São Paulo a Pitangui, atraídos pelas
descobertas minerais, e também de uma rota de abastecimento que vinha da Bahia às Minas”
(IBGE, 2014a). Entre 1760 e 1800 a cidade levava o nome de “Capela Nova de Betim” e
nesta época sofreu uma crise econômica que atingiu toda a antiga zona de mineração. Assim,
passou a desenvolver atividade econômica voltada à subsistência, mantendo a agricultura e a
pecuária que já eram importantes no auge do chamado ciclo do ouro.
No século XX, começa a surgir no distrito de Capela Nova de Betim um pólo
industrial. Construiu-se uma usina hidrelétrica na principal queda d´água do Rio Betim e com
isso, gerou-se energia para o distrito e localidades vizinhas (IBGE, 2014a). ”O crescimento de
Capela Nova do Betim e sua relativa autonomia econômica, além de lideranças políticas
atuantes, fizeram com que o distrito se tornasse município, já com o nome de Betim, através
de uma reforma administrativa realizada em 1938” (IBGE, 2014a).
94
A partir da Lei Estadual n.º 148, de 17-12-1938, a cidade se separa do extinto distrito
de Capela Nova, desmembrando de Santa Quitéria e do município de Contagem. No quadro
fixado que vigorou no período de 1939-1943, o município foi constituído de 5 distritos:
Betim, Campanha, Contagem, Ibiritê e Neves. Varias divisões são realizadas dos anos 1940
até 1960. Somente em 1963 o município é constituído do distrito sede, Betim. Já sua divisão
territorial foi datada em 2007, a cidade está dividida em oito regionais administrativas
compostas por diversos bairros, as regionais são: Sede, Norte, Alterosas, Imbiruçu,
Teresópolis, PTB, Citrolândia e Vianópolis. Além de ser uma divisão administrativa,
estabeleceu-se como uma referência geográfica para os diversos segmentos da sociedade
(Barbosa Júnior, 2009; IBGE, 2014b).
Segundo o IBGE (2014b), a população estimada em 2013 seria de 406,474 mil
habitantes e a área de unidade territorial da cidade está compreendida em 342,846 km². No
ano de 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) de Betim é apontado como sendo de 28,085
bilhões de reais, a 19º cidade que mais gera riqueza para o Brasil (IBGE, 2014b). A indústria
é tida como a principal fonte de riqueza para a cidade, em segundo lugar tem-se o setor de
serviços.
De toda a riqueza gerada, 5% fica na cidade para serem investidas pelo município
(IBGE, 2014c). Na análise do PIB per capita, a distribuição da riqueza por habitantes, a
cidade fica no 43º lugar, com uma renda de 51,88 reais. Poderíamos inferir que embora Betim
tenha uma das maiores economias do país, a renda é mal distribuída entre a população.
Ao comparar Betim aos maiores municípios da RMBH, tem-se que é o único a possuir
taxas elevadas de crescimento demográfico. O aumento populacional nas cidades é uma
questão problemática, pois envolve problemas sociais e de políticas públicas que tendem a se
avolumar caso não contem com uma gestão pública local apropriada. Uma das mudanças
95
necessárias para se superar os desafios demandados seria, acima de tudo, um governo com
uma relação mais democrática em relação à sociedade.
Uma característica de Betim, devido a grande quantidade de empresas e indústrias
instaladas na cidade, é a de ser um município que atrai muitas pessoas em busca de trabalho.
Barbosa Júnior (2009) chega a afirmar que “a chegada de uma população esperançosa por
emprego acabou por fixar no município um contingente de moradores de baixa qualificação
profissional e, consequentemente, de baixa renda” (Barbosa Júnior, 2009, p. 84). Pode-se
observar que a década de cinquenta, quando ocorreu a abertura da rodovia Fernão Dias,
pessoas se deslocam até Betim em procura de empregos. A intensificação da ocupação em
Betim aconteceu nos anos de 1970, devido a implantação da FIAT Automóveis. A planta
mineira da Fiat foi projetada, inicialmente, para produzir 200 mil veículos por ano. A planta
de Betim (MG) possui a pretensão de aumentar sua capacidade anual de produção para 950
mil unidades a partir de 2014 (Venture Fiat, 2014). Além disso, Betim por estar na RMBH
atrai moradores que por vezes, por exemplo, trabalham em Belo Horizonte, mas preferem
viver em cidade de porte menor.
Com intensificação da chegada de indústrias e pessoas para o município de Betim veio
também problemas sociais que comprometeriam a qualidade de vida da cidade. Sob um viés
político e social Betim é um município considerado, de forma geral, como aquele que possui
um baixo nível educacional, pouca participação nas instâncias políticas e quando a
participação se efetiva ela é realizada sob a tutoria partidária. Com todas essas características
apontadas foi possível encontrar uma frase que busca simplificar uma visão sobre Betim em
poucas palavras e também demonstrar a dicotomia latente da cidade no aspecto econômico e
social:
96
[...] a maior cidade pequena de Minas! Uma cidade rica de pessoas pobres. Uma cidade
industrial com a mentalidade rural... a verdade é essa. (Conversa de sondagem SC1,
2014).
Além dessas dicotomias, a cidade é polarizada politicamente, onde os principais polos
se concretizam no Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Partido dos
Trabalhadores (PT). Os últimos governos de Minas Gerais foram governados pelo PSDB,
partido este seria caracterizado como sendo liberal e com uma visão tecnocrática da gestão
pública, por outro lado temos o PT que por sua vez é considerado um partido político
desenvolvimentista e sendo assim, trabalha com a ideia de que o Estado deve interferir em
todos os cenários de desigualdade, auxiliar no desenvolvimento e permanência de instâncias
diretas de participação (Rocha, 2006).
As diferenças de atuação dos dois partidos, PSDB e PT, não os tornam melhor ou
piores, porém no que tange a este trabalho de dissertação, a presença ou não de um destes
partidos no governo de um município pode mudar o curso de ações que envolvem
accountability societal, já que esta envolve intrinsicamente abertura do governo local para a
participação popular de forma direta.
Assim, poderia se dizer que os municípios que passam por governos petistas tendem a
desenvolver ou dar andamento em projetos que incluam vários setores da sociedade no
processo de decisão de políticas públicas, ou mesmo, no incentivo de uma relação mais
dialogal com o Estado (Avritzer, 2003; Boschi, 1999; Rocha, 2011). O surgimento do MNB
acontece em uma época em que o governo de Betim estava sendo liderado pelo PT, no ano de
2010, no governo de Maria Do Carmo Lara Perpétuo. Por ter sido originado durante uma
gestão petista, muitos encaram o MNB como um movimento social petista, tal situação é
divergente com a proposta divulgada e defendida pela iniciativa, que é de ser uma iniciativa
apartidária.
97
4.3 O movimento Nossa Betim
O MNB se propõe a articular e mobilizar uma ampla aliança entre cidadãos, empresas,
entidades empresariais, organizações e entidades da sociedade civil e instituições de ensino e
pesquisa, “para construir e comprometer a sociedade e o governo local com a transparência, o
controle social e um conjunto de metas para o desenvolvimento justo, sustentável e
ecologicamente responsável da cidade, visando a melhoria contínua da qualidade de vida dos
moradores de todas as suas regiões” (Nossa Betim, 2014a).
Lançado oficialmente em dezembro de 2010, o MNB se denomina como uma iniciativa
autônoma, apartidária e aberta à participação democrática de todos os que queiram contribuir
com seus objetivos. Como já abordado antes, integra RSBCJS, RLACTJDS e está dentro de
um município signatário do PCS. Em síntese, a citação consegue colocar em poucas palavras
como aconteceu o surgimento do Nossa Betim na cidade de Betim:
Impulsionados e apoiados pela FIAT Automóveis, um grupo de cidadãos voluntários e
representantes de diferentes instituições de Betim formou, em meados de 2010, o Grupo
Impulsor, que decidiu mobilizar o município e implementar um conjunto de ações,
contribuindo para que, através da participação ativa e democrática, a sociedade de
Betim possa optar por modelos de desenvolvimento que aliem o progresso econômico
ao desenvolvimento social e à preservação ambiental, melhorando continuamente as
condições de vida dos moradores da cidade. No dia 15 de dezembro de 2010 o
Movimento Nossa Betim foi lançado oficialmente. O Grupo Impulsor tornou-se então
Comitê Gestor do Movimento, agregando novos integrantes, parceiros e patrocinadores
(Nossa Betim, 2014b).
Uma vez compreendido o surgimento, cabe entender a estrutura e as ações do MNB. A
iniciativa possui uma estrutura horizontal e colaborativa de organização. Os integrantes estão
divididos em um Comitê Gestor responsável para deliberar sobre as metodologias de atuação,
iniciativas, estratégias e posicionamentos. Possui nove grupos de trabalho (GTs) temáticos e
esses são abertos à participação dos cidadãos (Nossa Betim, 2014a). Os temas dos GTs são:
educação e cultura, saúde, criança, adolescente e juventude, habitação, saneamento e meio
98
ambiente, violência e segurança, orçamento público, mobilidade urbana, trabalho, emprego e
renda, e movimento das organizações sociais.
O MNB possui uma pequena secretaria executiva, constituída de quatro pessoas, que
ficam responsáveis pela parte técnica e administrativo da iniciativa. Sendo essa responsável
pela coordenação, divulgação e desenvolvimento das pesquisas, diagnósticos, campanhas e
ações, bem como pelo relacionamento institucional do Nossa Betim com a sociedade.
Além da secretária executiva, o MNB possui consultores /palestrantes, financiadores e
parceiros. O MNB declara que seriam membros da inciativa todos aqueles cidadãos e
instituições que se inscrevem como integrantes do Nossa Betim sem qualquer distinção
partidária e religiosa (Nossa Betim, 2014a).
O MNB aponta que o seu principal objetivo “é contribuir para o desenvolvimento
justo, sustentável e ecologicamente responsável da cidade, com base na participação ativa e
democrática da sociedade e na colaboração entre os diferentes segmentos que a compõem”.
(Nossa Betim, 2014a). Para tanto, trabalha-se através de três linhas de atuação: conhecimento,
mobilização, comunicação e educação cidadã (Nossa Betim, 2014a).
O primeiro consistiria em reunir conhecimento sobre as condições de vida nas diversas
regiões cidade de Betim, para isso são realizadas pesquisas, diagnósticos e também estudos
produzidos por outras organizações e pelos poderes públicos. O objetivo desta linha de
atuação é reunir todas as informações no Observatório Nossa Betim (Nossa Betim, 2014a). O
Observatório Nossa Betim se propõe a reunir pesquisas de percepção da população,
um sistema de indicadores intraurbanos e outros estudos, que representam, em números, um
diagnóstico da cidade e suas desigualdades.
Os indicadores utilizados pelo Nossa Betim (2014d) são denominados de Sistema de
Indicadores Intraurbanos de Betim e esse traz um conjunto de 58 indicadores sobre a situação
da cidade e o desempenho das políticas públicas. Foi formulado para realizar controle social e
99
estimular a participação da sociedade civil. Este tipo de sistema de indicadores foi
desenvolvido Kairós Desenvolvimento Social junto com a cidade de Betim, participante da
RBCJS. Ele foi implementado no observatório do MNB.
Esse sistema de indicadores é utilizado em outros movimentos da RBCJS em parceria
com as respectivas cidades onde os movimentos atuam, como os exemplos dos movimentos:
Nossa BH, Nossa Teresópolis, Nossa Salvador, Rio Como Vamos e o Instituto Nossa Ilhéus
entre outras iniciativas da RBCJS (Kairós Desenvolvimento Social, 2014). Com base nos
dados lançados no observatório, o Programa por Cidades Sustentáveis pode ser alimentado,
porém quem realiza o preenchimento de dados é a prefeitura. Logo, o observatório acaba
sendo também uma ferramenta para a prefeitura local.
O sistema de indicadores seria “um banco de dados virtual que reúne indicadores de
qualidade de vida, disponíveis publicamente, constantemente monitorados e divulgados para a
sociedade, organizados por temas e por regiões da cidade.” (Nossa Betim, 2014a). Os
indicadores são referentes aos anos de 2010 e 2011, e esses são calculados para o município e
para os territórios internos e também comparações com outros municípios. Em 2014 o MNB
lançou a primeira série histórica de indicadores regionais do município mineiro. Para o MNB,
a população diante dos dados teriam uma referência para acompanhar a gestão pública local
mais de perto (Nossa Betim, 2014a, 2014d).
De acordo com o Nossa Betim (2014d) e o Kairós Desenvolvimento Social (2014),
esse sistema permitiria definir metas e acompanhar os resultados apresentados pelas políticas
públicas locais. Os indicadores do município de Betim são divididos em 21 regiões de análise
que indicam, por meio de mapas comparativos as desigualdades internas e as regiões que têm
maiores demandas e urgência para receber políticas públicas (2014d).
Os indicadores de Betim são divididos em intraurbanos e municipais. Sendo que o
primeiro têm-se os indicadores em relação ao município de Betim, enquanto que o segundo
100
indicador faz uma comparação de Betim com alguns municípios da região metropolitana de
Belo Horizonte (Nossa Betim, 2014d).
Os temas dos indicadores intraurbanos de Betim são: saúde, educação infantil, ensino
fundamental, ensino médio, recursos educacionais, analfabetismo, violência contra os
moradores, violência ocorrida em Betim, pobreza, assistência social, saneamento básico e
pessoas com deficiência. Dentro de cada um destes temas pode-se encontrar subtemas, por
exemplo, dentro do tema geral educação infantil tem-se cobertura de creche e cobertura de
pré-escola (Nossa Betim, 2014c).
Já os temas de atuação dos indicadores municipais são trabalho e emprego, violência
contra moradores, saúde e saneamento básico. Existindo existe subtemas, por exemplo, dentro
do tema violência contra moradores temos: agressão à idoso, à criança e à mulher (Nossa
Betim, 2014b).
Os indicadores são expostos em forma de percentuais, índices, números, informações
quantificadas e qualificadas para avaliar aspectos sociais, econômicos, ambientais e culturais,
entre outros. O Nossa Betim (2014a, 2014d) afirma que estes indicadores serviriam para
monitorar a qualidade de vida na cidade, avaliar as políticas públicas e contribuir na
construção de uma cidade justa e sustentável.
Ainda na primeira linha de atuação do MNB, é possível encontrar pesquisas voltadas
para a percepção da população de Betim em relação à cidade. Estas pesquisas consistem em
entrevistas feitas com os moradores onde estes avaliam a qualidade de vida e dos principais
serviços públicos disponíveis na cidade. A pesquisa é realizada a cada dois anos e a última
pesquisa disponível foi financiada pela FIAT Automóveis e realizada pelo IBOPE
Inteligência, que é uma das empresas que procura entender o comportamento e as opiniões
dos cidadãos e consumidores latino-americanos.
101
A pesquisa de percepção da população de Betim em 2010 entrevistou mais de 800
moradores de todas as regiões da cidade. Dentre outras conclusões, revelou-se com esta
pesquisa que no ano de 2010 40% da amostragem populacional de Betim afirmou que a
qualidade de vida estava estável, 34% afirmou ter melhorado um pouco, 14% afirmou ter
melhorado muito, 2% disseram ter piorado e 9% afirmou ter piorado muito (IBOPE
Inteligência, 2010). A maioria absoluta declarou que a cidade é pouco ou nada segura e as
situações que mais geram medo na população seriam: violência em geral, assalto/roubo e
tráfico de drogas. As áreas que apresentam menor índice de satisfação geral foram a de saúde,
cultura e transparência política. Segundo o IBOPE Inteligência (2010), esta avaliação negativa
está vinculada, principalmente, ao tempo médio entre a marcação e a realização de
procedimentos mais complexos (cirurgias e exames especializados); a falta de proximidade de
espaços e eventos culturais, e também com a falta de confiança na administração pública
(IBOPE Inteligência, 2010).
A segunda linha de atuação do MNB é denominada Mobilização. Nesta, as ações
buscam dar origem a condições para que os diferentes segmentos da sociedade possam
discutir e construir uma visão comum de futuro para a cidade e estabelecer alianças em torno
de metas que contribuam para a melhoria da qualidade de vida em toda a cidade (Nossa
Betim, 2014c).
De acordo com MNB (2014a), as metas são divulgadas para contribuir com os
governos, no que diz respeito a elaboração dos objetivos das políticas públicas. Ajudaria
também as empresas, organizações sociais e universidades nos projetos e ações que estas
buscam realizar para a melhoria da qualidade de vida em Betim (Nossa Betim, 2014a). Uma
das principais ações desta linha de atuação seria a mobilização da sociedade para o
acompanhamento da aplicação da Lei do Plano de Metas.
102
Essa lei propõe que prefeitos(as) eleitos(as) transformem as promessas apresentadas
durante a campanha eleitoral no Plano de Metas e Prioridades de gestão , aumentando a
transparência na administração da cidade. Além de divulgar o plano para a sociedade, o
poder executivo terá que prestar contas periodicamente do alcance das metas
estabelecidas. Com isso, cidadãos, empresas e instituições de Betim poderão avaliar os
programas de governo apresentados pelos candidatos à prefeitura e avaliar os resultados
das políticas públicas para a melhoria das condições de vida da população nas diferentes
regiões da cidade (Nossa Betim, 2014a).
A Lei de Metas obriga os prefeitos a divulgar um plano de governo detalhado em até
cem (100) dias após assumir o cargo e a prestar contas à população a cada seis meses. O MNB
acredita que com a aprovação da Emenda 028/2011 à Lei Orgânica do município, a Lei de
Metas, a sociedade ampliaria suas possibilidades de participação, controle sobre a gestão do
município, proporcionaria maior transparência e permitiria uma melhor avaliação dos
resultados efetivos das políticas públicas (Nossa Betim, 2014f).
A terceira linha de atuação do MNB é chamada de Comunicação e Educação Cidadã; o
objetivo dessa linha seria de divulgar todos os dados, estudos e informações sobre a cidade de
Betim, reunidos no Observatório Nossa Betim, através de uma página oficial na web e uma
página oficial na rede social Facebook. Além disso, são enviados boletins semanais para o
correio eletrônico das pessoas que se cadastram no MNB. Nestes boletins o movimento
expõem as ações desse em um determinado período, propaga os cursos oferecidos, informa
sobre novas pesquisas e artigos disponíveis. (Nossa Betim, 2014a)
O Nossa Betim criou um espaço onde os três setores da sociedade pudessem conversar,
discutir e conhecer mais sobre o município, sobre o próprio movimento e outras inciativas.
Tal espaço é chamado de Diálogos e esse é aberto a todo a sociedade e divulgado através da
internet: tanto pelo Facebook, como pelos boletins semanais enviados para as pessoas
associadas pelo email.
O MNB conta com apoiadores de diferentes esferas da sociedade, incluindo OSCs,
entidades empresariais, empresas e instituições de ensino e pesquisa. O apoio dessas
103
instituições seria uma peça chave para a ampliação da capacidade de mobilização social do
movimento e a viabilização de suas atividades (Nossa Betim, 2014g). Como apoiadores pode-
se citar FIAT Automóveis, ISVOR, Transparência Contábil, Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerias – Betim, Associação Comercial e Empresarial (ACE), Instituto Augusto e
Atheniese, Tremnet, Instituto Ester Assumpção, Greenwich Schools, Associação das
Empresas de Betim (ASEBET), Articulação, Instituto Ethos, CDL Betim, Avina, Associações
das Mulheres Empreendedoras de Betim (AME Betim), Av Service, RSBCJS, RLACTJDS,
Betim Online, Antenados e Agenda 21.
Segundo o Nossa Betim (2014i), os recursos financeiros, técnicos e humanos utilizados
pelo movimento originam-se do apoio de pessoas físicas e empresas patrocinadoras, que se
consideravam comprometidas com o desenvolvimento justo, sustentável e ecologicamente
responsável em relação ao munícipio de Betim. Como patrocinadores podemos citar a
empresa FIAT Automóveis e a ISVOR, lembrando que a primeira é considerada a principal
patrocinadora do movimento (Entrevistado MNB 4, 2014; Entrevistado E3, 2014).
Pode-se concluir pelos dados colhidos no sítio eletrônico oficial do Nossa Betim que
esta iniciativa afirma ser um movimento social apartidário, que faz parte tanto de uma rede
nacional quanto internacional. Possui secretária executiva e também é constituído de
membros dos três setores da sociedade civil que buscam melhorar a qualidade de vida da
cidade de Betim. Suas ações são desenvolvidas com maior foco no eixo da educação e
formação cidadã.
Diante de todas as informações levantas neste capítulo de descrição de objeto de
pesquisa, reforçaram-se outras indagações originadas desta pesquisa: i) qual seria o perfil do
Nossa Betim quando analisado sob a ótica dos movimentos sociais? ii) será que Nossa Betim,
mediante suas ações e formas de mobilização, consegue contemplar o objetivo por eles
delineado? iii) será que a forma pela qual eles realizam ou procuram realizar a accountability
104
repete padrões de comportamento negativos identificado na relação Estado-Sociedade ou
empresa-sociedade? iv) será que os financiadores do Nossa Betim tornam a iniciativa refém
do recurso disponibilizado ou é o próprio Nossa Betim que se coloca nesta posição? v) será
que os espaços de diálogo desenvolvidos pelo Nossa Betim conseguem colocar de fato os três
setores da sociedade para concretizarem relações intersetoriais?
Tais questionamentos se mostram associados ao objetivo geral e aos objetivos
específicos da presente dissertação, representando não uma mudança de rumos da
investigação, mas sim um aprofundamento dos grandes temas relativos a cada um desses
objetivos. Vale retomar que o objetivo geral do trabalho é o de compreender como é realizado
o processo de accountability societal pelo MNB no governo local de Betim, para alcançar este
objetivo é necessário passar por quatro (04) itens : i) descrever a formação, trajetória e a
forma de atuação do MNB, ii) verificar os tipos de participação popular que envolvem o
MNB e as consequências para a accountability societal por ele implementada, iii) analisar a
relação que o MNB estabelece com empresas privadas e com o Estado sob a perspectiva da
accountability societal e iv) discutir as perspectivas, armadilhas e limitações encontradas por
esse tipo de movimento social para realizar accountability societal em âmbito local. Tais
questionamentos e objetivos serão exploradas, em profundidade, no próximo capítulo,
dedicado à analise dos dados coletados, com o objetivo de compreender as ações de
accountability societal realizadas pelo Nossa Betim.
105
5 ACCOUNTABILITY ATRAVÉS DO MOVIMENTO NOSSA BETIM
A partir da análise dos dados coletados no período de dezembro de 2013 até dezembro
de 2014. Serão explorados, neste capítulo, aspectos da realidade vivenciada e relatada pelos
atores envolvidos com o MNB, a fim de esclarecer como é desenvolvido o processo de
accountability societal pelo MNB no governo local de Betim.
A população betinense parece viver dicotomias latentes na cidade, seja no aspecto
econômico, político ou cultural. Betim, apesar de ser uma cidade com muitas indústrias,
oportunidades de trabalho, ainda abriga uma população com a renda muito inferior ao
montante de dinheiro que a cidade produz. De acordo com a maioria das falas dos
entrevistados, a população betinense possui um pensamento mais tradicional e típico de
cidade interiorana rural. Observe os depoimentos a seguir:
[...] Betim era uma cidade muito pequena, muito rural e que veio para cá Petrobras e
Fiat, que por sua vez são grandes polos. Então a gente sabe que isso é muito bom, mas
que torna uma dependência de renda e emprego muito grande também [...].
(Entrevistado MNB 4).
[...] Betim é uma cidade polarizada, totalmente binária politicamente falando. Em Betim
você está de um lado ou de outro, no Brasil em geral é assim, mas em Betim isso é
muito forte e nítido [...] (Entrevistado OSCs1).
[...] Não sei como isto está agora, mas na ultima vez que vi, Betim era uma das cidades
mais ricas... até mais que capitais! Mas a população é pobre... tem uma coisa aí não tem
não? Pra onde vai essa riqueza toda? Porque ela não é usada na cidade? Pra cidade? O
que a gestão pública está fazendo com essa riqueza? Pelo que vejo... isso não fica pra
cidade [...]. (Entrevistado E3).
O contexto político de Betim pode ser caracterizado por ser dividido entre dois
partidos políticos e a participação política por parte da sociedade civil seria pouco expressiva
de acordo com a maior parte dos depoimentos coletados. A situação muda quando falamos de
participação política partidária. Neste caso, todos os entrevistados relataram que a
106
participação partidária, PSDB ou PT, é de grande expressão na cidade. Cabe ponderar que ter
um partido político preferencial não se configura em um problema a ser discutido neste
trabalho. Porém, uma gestão municipal trabalhar em função de preferência política poderia
gerar grandes desafios para a cidade como um todo e falta de continuidade em projetos do
governo. Uma participação popular de cunho partidário repete o mesmo ciclo dentro da gestão
pública local: descontinuidade de ações, interferência de desejos particulares/ do espaço
privado dentro da esfera pública, afastando assim a concretização de uma democracia
participativa e se aproximando de uma democracia com características mais de representação
política.
A alternância partidária é clara em Betim, não só pelos depoimentos dos entrevistados
e pela percepção da pesquisadora, mas também pelo levantamento de dados secundários como
aponta a Tabela 7.
Tabela 7
Descrição das Eleições de Betim anos 2000
Eleição
municipal
Partido Candidato Nº. Votos
2012 PSDB Carlaile de Jesus Pedrosa 135.797 votos
(68,09%).
PT Maria do Carmo Lara Perpétuo 63.655 votos (31,91%).
2008 PT Maria Do Carmo Lara Perpétuo 92.215 votos (50,82%).
PV Romulo Veneroso 86.486 votos ( 47,66%).
PSOL Sargento Peixoto 2.746 votos (1,51%).
2004 PSDB Carlaile De Jesus Pedrosa 95.255 (58,033%)
PT Maria do Carmo Lara Perpétuo 67.960 (41,40%)
PSTU Maria Das Dores Ribeiro 923(0,562%)
2000 PSDB Carlaile De Jesus Pedrosa 71.699 (53,78 %)
PT Maria do Carmo Lara Perpétuo 61.620 (46,22 %)
107
Nota. Na Tabela 9 foram colocados os anos de eleições municipais, como foco na eleição dos Prefeitos
candidatos na cidade de Betim. Pode-se notar que nos anos 2000 a eleição para prefeito tem sido disputada de
maneira expressiva entre os partidos PSDB e PT. Fonte: Elaborada pela pesquisadora, (2014).
É interessante analisar que devido a alternância de partido político presente na cidade
pode levar um projeto implementado pelo partido “A” não contar com continuidade, caso na
próxima eleição municipal, o partido eleito seja um representante do partido da oposição. As
ações políticas acabam sendo guiadas pelo patrimonialismo e coronelismo político. Observe
os depoimentos abaixo quando os entrevistados são questionados sobre o perfil político e
participativo de Betim:
Nossa... é um pouco como uma guerrinha né?! Betim tem essa particularidade e isso não
é de agora não. Desde de quando eu entrei na prefeitura o lado politico de Betim é muito
desgastante. Por esse lado fica em poder de alguns grupos e é bem fechado isso. Tipo
aquelas cidades de interior de coronel. Antigamente era Bill contra Oswaldo Franco e
Oswaldo Franco contra Bill...e hoje é Carlaile contra Maria do Carmo e Maria do
Carmo contra Carlaile!! Esse lado politico de Betim é muito competitivo. Ele é muito
desgastante (Entrevistado P1).
[...] Betim tem uma cultura que está muito enraizada. Quem se interessa por participar
das escolhas da cidade atende a um partido A ou a um partido B. Aqui, como na maioria
das cidades, você dizer que você é apartidário... é meio esquisito. “Ué, mas você
participa de audiência publica, por que? Você é assessor de algum vereador, você é
ligado a algum partido?”. Então a participação aqui, ainda está muito ligada a
participação partidária (Entrevistado MNB4).
Ai.. quase provincianas mesmo. Betim gira em torno de dois lados de política. Tinha
que ter mais lados... mais opções. Não podia ser tão bipolarizada... isso é ruim para a
cidade.[...] Seria bom para Betim se ela tivesse mais lados ( Entrevistado E3).
[...] Aqui é muito visível a esquerda e a direita. Um partido representado pelos
empresários e um partido representado por pessoas mais populares. Há anos isso vem
acontecendo em Betim. [...] O que mais me revolta é que dentro destes partidos não
existe uma lógica de trabalho continuo. Não tem aquela ideia “vamos pegar o que foi
bom naquela gestão e continuar. O que for ruim vamos tentar melhorar... corrigir.” Não
sei se isso é só aqui... acho que em todo o Brasil [...] (Entrevistado OSCs3).
Diante deste cenário, reforça-se a baixa continuidade de ações e o baixo interesse
político da sociedade em geral. Cria-se um ambiente onde a participação popular se torna
pontual, o interesse passa ser apenas privado e o bem público uma questão não priorizada na
108
agenda da gestão pública municipal, como atestado no referencial teórico deste estudo quando
aborda os problemas de participação.
Com uma pesquisa de percepção da população de Betim em 2010 realizada pela FIAT
e com base nos indicadores produzidos pelo MNB, existe um grande nível de violência na
cidade e como consequência, a população considera a cidade violenta e insegura. Outra
característica que apareceu na pesquisa de percepção da FIAT foi a baixa qualidade de vida e
a existência do desejo de se deixar a cidade. O município de Betim muitas vezes é entendido
como uma boa oportunidade para empregos, crescimento financeiro e movimentação de renda
devido as grandes indústrias presentes na cidade. Porém, desenvolvem-se, em sua maioria,
laços temporários das pessoas com a cidade. Tal situação refletiria em certo descuido com a
cidade como um todo, reforçaria o baixo interesse da população na participação da política
local e baixa mobilidade em buscar melhorias para a cidade.
Diante deste cenário, iniciativas da sociedade civil como a da RSBCJS tomam forma
em Betim. No final de 2010 o MNB é lançado e acolhido por pessoas que se auto denominam
como pertencentes a classe média: pessoas oriundas de empresas, do espaço científico
acadêmico, do poder público e os que são formadores de opinião. O surgimento do Nossa
Betim contou com a mobilização de empresa e da sociedade civil e esse surgimento pode ser
dividido em três cenários fundamentais: a influência do Movimento Nossa BH (MNBH),
vontades similares vindas de pessoas e OSCs de Betim e por iniciativa da FIAT. É possível
dizer que a ideia do MNB foi impulsionada pela FIAT Automóveis e por instituições da
cidade de Betim, dentre elas o Salão do Encontro e Instituto Ester Assumpção, que tinham
anseio de fazer algo pela cidade, que não ficasse restrito as causas específicas de suas
instituições ou a ação local de suas instituições. Tais instituições eram consideradas membros
de um Grupo Impulsor (GI) dessa inciativa. Entretanto, tal conclusão sobre a origem do MNB
seria simplista diante dos relatos coletados nas entrevistas semiestruturadas deste trabalho.
109
O primeiro cenário a ser discutido é como se deu a influência do MNBH neste processo
de surgimento do MNB. Na cidade de Belo Horizonte, cidade vizinha à Betim, já existia o
MNBH desde 2008, que dentre seus desafios encontrava-se a captação de recursos. Tal
dificuldade estava vinculada questão política da cidade belo-horizontina, já que as empresas
estavam em um panorama político em que qualquer indisposição política com a prefeitura
poderia afetá-las de forma negativa em sua barganha política. Com receio dessa possibilidade
se tornar real, as empresas optavam em não financiar o MNBH. As empresas pareciam não
querer arriscar ter seu nome envolvido como um movimento social, que por vezes, proferisse
uma opinião ou tomasse uma atitude mais de confronto em relação a prefeitura (Entrevistado
OSCs 1, 2014).
Nesta situação existe a possibilidade de identificar um traço nefasto do relacionamento
intersetorial e também da cultura política brasileira, a dificuldade de separação dos assuntos
públicos e privados. Temos nesta situação questões públicas, para benefícios públicos, sendo
interrompidos ou limitados diante de uma demanda privada. Observe a confirmação dessa
leitura na fala de um entrevistado:
[...] Cada vez mais BH, como outras cidades do Brasil, a política se confunde com o
mercado privado. O mercado privado financia a política, a política interfere no mercado
dando preferencia... (porque o maior comprador é o poder público) aqueles que o
apoiam... Mesmo com as leis de transparência que estão nas licitações neh... tudo isso
fez com que o movimento não conseguisse se vingar por meio das empresas. Como o
nosso estatuto proíbe receber recursos públicos o único meio de sobreviver é por meio
de dinheiro de pessoa física ou pessoa jurídica privada. (Entrevistado OSCs 1).
Além desse cenário, a carta de princípio do MNBH não abre possibilidade de receber
recursos de instituições públicas. Pensando nisso, um dos grupos de trabalho (GT) do MNBH,
aquele destinado a captar recursos, realizou um evento e convidou empresas da cidade, da
região metropolitana e pessoas da sociedade civil para conhecer o MNBH e enfim, atrair
financiadores e parceiros. Dentre as empresas convidadas estava a FIAT Automóveis que se
110
interessou muito pelo objetivo do projeto e começou a buscar uma melhor forma de realizar
tal ideia no município de maior atuação da empresa, ou seja, a cidade de Betim (Entrevistado
OSCs 1, 2014).
[...] Eu conheci o MNB na época que o MNBH estava a procura de recursos. Nós
começamos a reunir com a FIAT para este apoiasse o MNBH e eles gostaram tanto da
ideia que eles resolveram criar o MNB em Betim! (risos). Às vezes vender bem uma
ideia não é tão bom assim , né?! (risos) ( Entrevistado OSCs 1).
Diante disso, a FIAT se mobiliza junto a outras instituições da cidade de Betim para
construírem o MNB em 2010. As empresas buscam trabalhar pelo viés da responsabilidade
social empresarial (RSE) buscam, por vezes, atuar em comunidades, territórios ou cidades nas
quais possuem inserção expressiva. Este cenário ganha vida na situação relatada acima. A
FIAT analisa a proposta e a leva para Betim, por este ser o stakeholder imediato da empresa.
Do ponto de vista das OSCs de Betim e de membros do MNB o segundo cenário que
levou o surgimento dessa iniciativa seria a convergência de desejos similares entre as
iniciativas já presentes na cidade e a pré-disposição da FIAT de apoiar e financiar tal
iniciativa leva ao nascimento do MNB. Observe os depoimentos do MNB que ilustram a
inferência acima:
[...] na verdade antes do Nossa Betim, eu pelo Ester Assumpção e [...] da Ramacrisna
começamos um fórum chamado “Fórum Intersetorial” que nas devidas proporções o
objetivo era muito similar a ideia do Nossa Betim hoje. Lá para 2005 a gente conseguiu
promover reuniões, seminários, eventos onde nós trocávamos informações com várias
ONGs aqui de Betim. (Entrevistado MNB3).
[...] já havia representantes de várias instituições aqui em Betim como o Salão do
Encontro, como o Instituto Ester Assumpção que tinha esse anseio de fazer algo pela
cidade, que não ficasse restrito as causas específicas de suas instituições ou a ação local
de suas instituições. Então, este grupo que era um grupo impulsor tinha essa vontade de
ter um projeto, alo que mexesse com toda a cidade e comprometesse o governo. O nosso
atual financiador (FIAT) também já tinha este anseio. [...] Então, se juntou os
financiadores, que eram as empresas, que convidou este grupo impulsor para começar
111
esta experiência a partir da Rede Brasileira, a gente participou de alguns encontros em
BH e aí foi visto que era aquilo mesmo que este grupo impulsor queria e então começou
o Nossa Betim de fato. (Entrevistado MNB4).
Entretanto, é possível perceber que o papel e o interesse da FIAT foi algo de peso maior
e decisivo para que a ideia do Nossa Betim fosse de fato alavancada e mobilizada para a
cidade, como as falas dos entrevistados abaixo ilustram:
[...] O MNB surgiu por uma iniciativa da FIAT Automóveis em 2010, onde o mesmo
idealizador do Árvore da Vida teve uma intuição de que era necessário construir uma
cidade cidadã. Uma cidade que privilegiasse as pessoas. Para que isso ocorra a cidade
tem que partir das pessoas, tem que haver um conhecimento, uma educação para que
você possa conhecer e opinar.
(Entrevistado OSCs2).
[...] em 2008 eu conheci... tava no começo do movimento, que era um grupo impulsor
do Nossa Betim, onde a FIAT demonstra preocupação com o seu entorno e vê,
espelhada, na experiência da cidade de Bogotá, que trabalhava com a ideia das cidades
mais sustentáveis [...] (Entrevistado OSCs 3).
[...] se não fosse a FIAT que foi lá e tinha um grupo de funcionários, um grupo do
Ethos, que tem uma visão bacana de responsabilidade empresarial para entender este
tipo de investimento... não sei te dizer se o Nossa Betim existiria (Entrevistado MNB3).
Diante deste papel relevante da FIAT na origem do MNB temos que o terceiro cenário
que contribuiu para o surgimento do Nossa Betim foi o anseio da FIAT de poder levar um
projeto semelhante a um já bem sucedido na região do Jardim Teresópolis, que pudesse
abranger toda a cidade de Betim. Assim, a ideia do modelo de propósitos e a filosofia dos
movimentos oriundos da RSBCJS iam de encontro com as pretensões da FIAT.
Esse desejo começou a ser pensado diante uma necessidade de se replicar ou expandir
um projeto já realizado pela FIAT, o Árvore da Vida – Jardim Teresópolis. Tal projeto é
realizado pela FIAT em parceria com as organizações não governamentais (ONGs) Fundação
AVSI e Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana (CDM), desde 2004, na
regional do Jardim Teresópolis que é composta pelos bairros Vila Bemje, Vila Recreio e
112
Jardim Teresópolis (Entrevistado E2, 2014). O programa tem como objetivo promover a
inclusão social de crianças e jovens e seus núcleos de relacionamento (família, escola e
comunidade) por meio de atividades socioeducativas, geração de trabalho e renda e
fortalecimento da comunidade. Em seis anos, o programa já beneficiou mais de 13 mil
pessoas da comunidade (Coopearvore, 2014).
Com o bom desenvolvimento do Árvore da Vida, a FIAT foi convidada a participar de
um grupo de trabalho do Instituto Ethos, denominado GRES (Grupo Referencial de Estudos
em Sustentabilidade). Neste grupo pessoas de empresas de várias partes do Brasil se
encontravam para discutir e pensar estratégias de desenvolvimento local inclusivo
(Entrevistado E2, 2014; Entrevistado E3, 2014).
Cada empresa convidava dois públicos de relacionamento da sua empresa que fizessem
parte de um determinado projeto da empresa. O papel destes públicos seria o de criticar,
instigar e propor situações de acordo com o seu ponto de vista. No caso específico da FIAT,
foi levado o Árvore da Vida – Jardim Teresópolis, pois este era um projeto de envolvimento
da comunidade e que tinha a intenção de continuidade independente da FIAT ou não. Como
este projeto teve como consequência desenvolvimento territorial para aquele local, a
população betinense demandava da FIAT uma iniciativa similar para toda a cidade
(Entrevistado E2, 2014).
Assim, a FIAT foi para o GRES pensando em como melhorar o projeto Árvore da Vida
e como encarar os desafios presentes. Dentro do GRES, a FIAT começou a ter uma visão
mais ampla sobre o papel da mesma na cidade de Betim. Com isso, a FIAT começou a pensar
em módulos do Árvore da Vida e formas de ampliação desse projeto para atingir toda a
cidade. Além disso, o contado com outras empresas que participavam do GRES agregou
outros pontos de vista e informações sobre outros modelos de sustentabilidade de sucesso nas
cidades brasileiras. Dentro destes modelos, a FIAT ficou conhecendo a equipe de
113
Movimentos por Cidades Sustentáveis e como estes estavam alinhados a um objetivo comum,
que era o de melhorar a qualidade de vida nas cidades. Foi neste momento que a FIAT entra
em contato com Movimento por Cidades Justas e Sustentáveis da América Latina e com a
Rede Nossa São Paulo, uma vez que o Instituto Ethos é um dos participantes ativos da
iniciativa em São Paulo (Entrevistado E2, 2014; Entrevistado E3, 2014).
Em um primeiro momento, a FIAT buscava uma forma de levar a metodologia dos
Movimentos por Cidades Justas e Sustentáveis, como o de levantamento de dados e
indicadores para o âmbito do Jardim Teresópolis e do Árvore da Vida. A ideia foi
amadurecendo até o momento que FIAT começou a conversar com líderes, associações locais
de Betim e com as equipes, áreas internas da FIAT para enfim levar a proposta de se
mobilizar uma iniciativa similar a do Movimento por Cidades Justas e Sustentáveis da
América Latina em Betim (Entrevistado E2).
A decisão da FIAT de ampliar sua participação no município por meio da criação de um
movimento com base naqueles da RSBCJS foi uma decisão de grande peso político, tanto
dentro da empresa quanto em relação a realidade política da cidade.
[...] essa decisão envolveu uma mobilização de toda a empresa. Não é algo simples de
se configurar. É necessário o apoio da diretoria e alinhamento com os departamentos, já
que isso significa a liderança mesmo em um processo diferente. Isso não é algo muito
simples. [...] Essa é uma iniciativa extremamente política... no sentido mais amplo do
termo... não no sentido partidário. Política em relação ao cuidado e gestão da cidade.
Tem que ser uma decisão apartidária para funcionar bem. Para uma iniciativa privada
puxar isso para si, envolve delicadas relações de relacionamento... aí sim, ligado a
gestão e partido... que ela precisa ter uma isenção muito grande. Porque a empresa tem
que transitar com transparência e com total igualdade em diferente partidos e momentos
políticos, porque a empresa tende a ser permanente naquele território... mas a gestão
pública não. A relação da empresa é perene... ela não se modifica de acordo com uma
gestão ou outra. [...] Chegamos a achar que a ideia era utópica para a cidade, pois as
relações políticas são muito polarizadas e se alternam muitas vezes... É um município
com pouca continuidade de gestão. (Entrevistado E1).
114
É possível notar que a FIAT procura se distanciar da polaridade partidária de Betim, por
entender que a oscilação de um governo é muito mais propensa do que, por exemplo, a
permanência da mesma no município. Qualquer cenário tendencioso afetaria a demanda que a
empresa faz ao município e a entrega do que ela produz, e vice-versa. Logo a decisão de levar
a frente o MNB foi algo delicado para a FIAT. Tal situação retoma a ideia abordada
anteriormente, de uma relação com teor de subordinação da empresa à prefeitura, um cenário
que pôde ser identificado tanto em Belo Horizonte quanto em Betim.
Uma vez que a ideia do MNB foi levada a diante, o MNB ficou composto por uma
secretária executiva que até dezembro de 2014 contava com o apoio e trabalho de quatro
funcionários. Além disso, o MNB conta com dois consultores/ palestrantes que atuam de
forma mais pontual (Entrevistado MNB 4). Até dezembro de 2014 a iniciativa ainda não
contava com trabalhos voluntários, mas tal situação estaria presente nos planos estratégicos
futuros do Nossa Betim (Entrevistado MNB 2). O MNB conta com um instituto, denominado
de Instituto Nossa Betim, que é na verdade o CNPJ da iniciativa. Possui uma diretoria
voluntária, que está presente no conselho consultivo. Os constituintes dessa diretoria citados
pelo entrevistado seriam:
[...] nessa diretoria temos a FIAT, ISVOR, Salão do Encontro, Sindicato Patronal do
Comércio, a SL, a PUC, o Instituto Cultural de Betim, Charles (ONG), AME (ONG),
Articulação [...] tem mais pessoas mas não me lembro de todas de cor (Entrevistado
MNB1).
É notória a existência dentro deste movimento de uma organização administrativa que
contribui para o andamento das ações desempenhadas pelo Nossa Betim e que também
permite maior divulgação da iniciativa, já que diversos elementos da sociedade civil de Betim
fazem parte do mesmo.
115
Depois de entender os elementos que levaram o surgimento do Nossa Betim e o seu
corpo de funcionamento, cabe entender a trajetória estabelecida pela iniciativa, as ações da
mesma e suas propostas, para assim traçar maiores análises e ponderações. O Nossa Betim
carrega a característica de ser uma iniciativa oriunda, de forma mais expressiva, do setor
empresarial, ser apartidário, não ser um movimentos social de combate com o poder público,
ter suas ações voltadas para a educação e participação popular.
Neste trabalho, elementos da teoria dos novos movimentos sociais são utilizados no
intuito de ajudar a compreender como ocorre o processo de accountability societal por meio
do MNB. Ficou claro com a busca por dados primários e secundários que o Nossa Betim não
se enquadra como movimento social clássico ou tradicional, como por exemplo é o caso da
AMARRIBO Brasil. O MNB não se fundamenta nas lutas clássicas que deram origem a
movimentos como o operário ou mesmo os de conquista de direitos para populações urbanas
vulneráveis desde os anos de 1970.
Pode-se dizer dessa forma que os movimentos sociais oriundos da RLACTJS, da
RSBCJS e o nosso objeto de estudo, MNB, tornam-se exemplos do que foi trabalhado no
referencial teórico sobre os novos movimentos sociais (Gohn, 2009). Os novos movimentos
sociais começam a surgir orientados por formas de ação que seriam distintas daquelas
desenvolvidas pelos movimentos sociais clássicos. Esses novos movimentos primariam pela
busca do diálogo e interação com outros atores sociais como o Estado, as empresas e demais
atores da sociedade civil, de forma a promover ações efetivas para a superação dos problemas
sociais e ambientais encontrados (Gohn, 2009).
Para muitos dos novos movimentos sociais, a ideia de revolução e transformação
radical das estruturas e dos fenômenos de maior envergadura que envolva a sociedade civil
vai dando lugar à busca pela ação concreta, muitas vezes pontual e específica, na tentativa de
transformar realidades sociais específicas gradativamente e não focam, necessariamente, as
116
dinâmicas estruturais da sociedade. Como acontece com o MNB quando o mesmo consegue
estabelecer uma agenda de atuação específica e possui um foco de atuação: a cidade betinense
e a melhoria de qualidade de vida na mesma.
Os novos movimentos buscariam uma forma diferente de se colocar como movimento
social ao não se declarar inimigo da prefeitura, governo ou Estado e ao afirmar uma busca por
um diálogo independente com o executivo municipal. Essa característica dos novos
movimentos sociais pode ser percebida também no nosso objeto de pesquisa, observe os
depoimentos dos entrevistados:
[...] temos relação com todos, com as minoras ou de grande vulto publicitário, inclusive
com o Nossa Betim, que é um instituto apartidário que trabalha com as estatísticas para
apontar as falhas [...]Pra gente o MNB acaba sendo muito bom, é um termômetro.
Administrar uma cidade tão grande como Betim não é tarefa fácil... e ela tem problemas
que se arrastam a anos e estes indicadores acabam mostrando coisas, que muitas vezes
problemas eminentes não nós deixam ver. Além disso, ele nos noticia sobre o que a
sociedade está esperando... acaba sendo um guia pra gente [...] ( Entrevistado P2).
[...] Sentamos para conversar com a prefeitura sobre o programa cidades sustentáveis e
isso é algo que estamos pontuando muito com eles, tanto que agora vai começar a
formação, mas sempre dialogando, entendemos que é melhor assim. Pelo dialogo, pelo
jeito regional da cidade, cultura daqui... Temos visto que temos conseguido muita coisa
dialogando do que batendo. (Entrevistado MNB4).
[...] Hoje a prefeitura olha pra gente com um certo respeito. Eles conseguem ver que não
é um “grupinho”, eles entendem que é uma coisa maior... ainda tem um olhar de
desconfiança, á que é uma coisa nova e ninguém fala disso ( Entrevistado MNB3).
O MNB mantém, até dezembro de 2014, uma relação de aproximação com o governo
local, porém é possível notar com os depoimentos acima que nem sempre este cenário de
relacionamento foi assim. Na época do lançamento do MNB a cidade de Betim era governada
pelo governo do PT e a recepção ao movimento foi positiva, como foi afirmado por todos os
entrevistados do MNB. Observe uma fala que ilustra tal situação:
[...] Quando o Nossa Betim nasceu o governo era PT, Maria do Carmo. Na época o
discurso era “Obrigado! Sem bem vindos!” [...] (Entrevistado MNB3).
117
No ano de 2011, os integrantes do Comitê Gestor do MNB se reuniram com o
presidente da Câmara Municipal, o vereador Nehemias Gonçalves para apresentar e também
buscar apoio para a aprovação da proposta da Lei de Metas para a cidade de Betim, tal lei já
tinha sido aprovada em São Paulo e em Belo Horizonte através da movimentação dos
movimentos da RSBCJS, respectivamente, a RNSP e o MNBH.
Em julho, a Proposta de Emenda à Lei Orgânica de Betim No. 028/2011, de autoria do
Vereador Eutair Antônio dos Santos, foi apresentada à Mesa Diretora da Câmara Municipal,
com o apoio de todos os vereadores. A Lei de Metas foi aprovada por unanimidade na Sessão
Plenária realizada no dia 29 de novembro de 2011 na Câmara Municipal. Os integrantes
do MNB que acompanharam a votação avaliaram que o compromisso dos Vereadores com o
fortalecimento da participação democrática, da transparência e do controle social é
fundamental para o desenvolvimento justo e sustentável do município (Nossa Betim, 2014f).
No dia 29 de dezembro de 2011 a lei foi publicada no Órgão Oficial do município após ter
sido aprovada pelos vereadores e entrou em vigor. Com a lei em vigor, o prefeito eleito ou
reeleito, terá cem dias para apresentar o Programa de Metas e Prioridades de Gestão, que
deverá conter expressamente:
os objetivos da gestão, as diretrizes setoriais, as iniciativas e ações estratégicas, os
indicadores de desempenho e as metas quantitativas e qualitativas para cada um dos
setores da Administração Pública Municipal, direta e indireta, por unidades regionais de
planejamento e desenvolvimento, observando, no mínimo, os objetivos, diretrizes,
ações, programas e intervenções estratégicas e outros conteúdos conexos apresentados
como propostas de campanha eleitoral devidamente registradas no órgão eleitoral
competente, conforme as disposições deste artigo, bem como as normas estabelecidas
pelo Plano Diretor e pelo Plano Plurianual ( Nossa Betim, 2014f).
Para o MNB (2014h), antes da lei os prefeitos eleitos ou reeleitos não tinham a
obrigação, prevista em lei, de transformar suas propostas de campanha em um Plano de Metas
118
de Gestão e nem de prestar contas sobre o cumprimento dessas metas. A população não tinha
instrumentos para avaliar as propostas dos candidatos, os resultados e impactos das políticas
públicas, nem a melhor forma de contribuir para melhorar a vida na cidade. A implantação da
lei só ocorreria no próximo governo, já que é uma Logo, para o Nossa Betim foi uma grande
vitória conseguir que esta fosse aprovada, o observe o depoimento de um dos integrantes do
movimento:
[...] Este foi o primeiro momento do Nossa Betim, foi conseguir a aprovação do Plano
de Metas com dois anos de existência na época, então, isso foi muito importante.
Existem movimentos que até hoje não conseguiram aprovar este Plano de Metas,
movimentos que estão consolidados na cidade. A gente teve uma sorte, entre aspas, que
o governo local da época estava aberto para isso. O Nossa Betim teve uma resistência
como qualquer outro governo... porque o Plano de Metas é você ligar promessas de
campanha ao PPA.. o Plano Plurianual. Teve uma certa resistência a isso, mas de certa
forma o governo se abriu e quis escutar. As instituições todas que estavam aqui dentro,
as principais instituições de Betim estavam representadas aqui pressionaram para que
isso acontecesse. A gente teve no dia da votação representantes das principais
instituições lá na votação! Então, teve esta aprovação (Entrevistado MNB4).
De uma perspectiva teórica, podemos analisar que o Nossa Betim consegue realizar
uma ação de accountability societal que avançou bastante em relação aos requisitos para a
mesma, a partir do momento em que junto com outros vereadores e outros apoiadores da
sociedade civil de Betim conseguem estabelecer, por meio de uma lei, outra possibilidade de
controle social sobre o poder público local. Com isso abrindo mais as possibilidades de
atuação da sociedade junto a governo local.
Apesar do sucesso obtido e de boa relação, até então, com a prefeitura ocorre uma
situação de conflito na transição de um governo do PT para um governo do PSDB nas
eleições de 2012. Tal situação pode ser traduzida com o pedido de revogação da Lei de Metas
pelo prefeito Carlaile do PSDB do dia 05 de abril de 2013. Em documento, o prefeito relata
que tal lei seria inconstitucional e que as demandas exigidas seriam de grande complexidade e
119
comprometeriam a transparência do governo para a sociedade. Observe a redação do
documento enviado ao presidente da câmara municipal de Betim:
[...] A proposta em tela versa sobre a alteração do artigo 101 – a da lei Orgânica do
Município de Betim (conhecida como Lei de Metas), tendo em vista que a redação dada
pela Emenda Nº 28/2011 apresenta indícios de inconstitucionalidade, por criar
mecanismos de controle não previstos na Constituição da República de 1988. Outro
ponto que deve ser abordado, diz respeito à complexidade e exigências trazidas pela
Emenda Nº 28/2011, que determina prazo de 100 (cem) dias para que o governo
apresente todos os objetivos, diretrizes, ações programas, intervenções estratégicas e
outros conexos com indicadores de metas quantitativas e qualitativas a serem seguidas
em todo o decorrer da atual gestão, ou seja, os 4 (quatro) anos de mandado. Salienta-se
que o atual governo não se furta em pautar a sua gestão nos princípios constitucionais
que regem a administração pública, quais sejam, a legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência. O princípio da publicidade, que se desdobra no
principio da transparência. Sem dúvida alguma é defendido de forma veemente pelo
atual governo. Transparência essa que não nos permite, por exemplo, governas
desrespeito à legislação vigente. [...] (Mensagem GAPR Nº 032/2013, 2014).
Tal documento levou desconforto a relação entre a prefeitura e o MNB, em virtude
disso o MNB acaba ganhando uma denominação de ser um movimento partidário. Além
disso, dentre as outras cidades que já haviam conseguido a aprovação da Lei de Metas, Betim
se destacou por ter sido a primeira cidade (até dezembro de 2014) a ter a lei com o pedido de
revogação. Neste momento o Nossa Betim trabalhou em busca de descontruir a visão de que a
iniciativa era “petista” e também de negociar com o atual governo o pedido de revogação da
Lei de Metas. Observe o relato de um integrante do MNB:
[...] Com o governo Carlalile, depois da eleição, houve um momento de choque. Ele
quis revogar a Lei de Metas. Com isso, o Nossa Betim foi lá, eu sentei com ele e falei “
se Betim revogar a lei de metas será a primeira cidade do Brasil a andar pra trás.. a ir
contra uma agenda nacional, internacional”. Quando eles entenderam que o Nossa
Betim não era uma coisa pequena, não era partidário. Foi a única vez que precisamos de
agir de uma forma, um pouco mais, rigorosa.[...] ( Entrevistado MNB3).
Além das conversas com o executivo, o movimento realizou um seminário no
município, o Seminário do Plano de Metas, onde trouxeram o Maurício Broinizi Pereira,
120
coordenador e executivo do RNSP à época, e também um dos principais coordenadores do
programa Cidades Sustentáveis. Nesta palestra o convidado explicou que a Lei de Metas não
era algo inconstitucional. Apesar de a princípio o executivo ter ficado pouco convencido, na
semana seguinte do Seminário do Plano de Metas o pedido de revogação foi retirado da
Câmara (Entrevistado MNB4). Poucos dias depois o executivo envia um pedido de Emenda
da Lei de Metas onde tirava a obrigatoriedade, os prazos, as metas, eliminando dessa forma a
essência da Lei de Metas em si. O pedido de Emenda prejudicaria o objetivo principal da lei,
que seria o de promover uma maior transparência na gestão pública, bem como a participação
dos cidadãos no destino de nossa cidade de Betim (Entrevistado MNB4; Entrevistado
MNB3). Mais uma vez o MNB optou o caminho do diálogo para se negociar tal questão. Os
integrantes do MNB relatam que foram marcadas reuniões com a prefeitura para se solucionar
a situação e que a população de forma geral não ficou a par da situação de conflito. Observe a
fala que ilustra este momento:
[...] A gente fez várias campanhas falando da importância da Lei de Metas, mas sem
atacar o poder executivo (Entrevistado MNB4).
Nós somos pessoas de diálogo, isso esta na nossa formação. [...] Isso ilustra um pouco a
forma do Nossa Betim cobrar, comparado a outros movimentos... Tem alguns
movimentos que são a cara de algumas pessoas, então se tem uma que briga mais a
fama do movimento é que ele é “brigão”. E talvez nem seja, talvez é uma pessoa que
acaba reproduzindo a imagem do movimento. Então o momento de maior embate que
tivemos foi com o Carlaile, onde ele... não sei apontar se a situação vinha dele ou dos
assessores... mas no fim das contas houve essa tentativa de revogar o Plano de Metas.
Tivemos que nos envolver com a câmera dos vereadores... Essa situação ficou no nível
estratégico, não foi para a população. Ficou numa cúpula dos tomadores de decisão da
cidade. A população não acompanhou isso. Artigos e cursos...fora isso nos entendemos
que não é Nossa Betim... quem tem que ir contra é a população (Entrevistado MNB3).
Neste momento é importante destacar a fala acima do Entrevistado MNB3 quando ele
diz que a população deveria ir contra o governo, mas não o MNB. Ao mesmo tempo em que
ele conclui isso, em uma fala anterior, na mesma passagem, diz que a população não ficou
121
sabendo. Disso surge o questionamento: como a população iria participar de tal processo se o
próprio movimento considerava “estratégico” não levar tal tema ao conhecimento da
população?
Ao procurar por mais detalhes deste fato no sítio eletrônico oficial do MNB é possível
notar dificuldade de maiores detalhes sobre este cenário, o que só confirma a posição do
MNB de não levar tal conflito ao conhecimento de mais pessoas da população. Neste
momento volto ao questionamento e adiciono: como um movimento que trabalha em prol da
divulgação informação sobre a realidade política e social reserva tal informação e ao mesmo
tempo questiona a participação popular? É possível encontrar tais esclarecimentos no
referencial teórico trabalho nessa dissertação nos remete a característica deste ser parte dos
novos movimentos sociais, ou seja, é um movimento que não atua de forma conflitiva com o
poder governamental e pouco incita o mesmo de outras partes (Gohn, 2009). Perante a este
esclarecimento voltamos a mais uma questão abordada no referencial teórico, a questão da
complexidade de relações de parceria também se reforça nessa passagem (Teodósio, 2008,
2009).
O MNB, depois de muitas reuniões com o executivo da prefeitura, obteve o que
considerou mais uma vitória, quando o prefeito reiterou a emenda e a Lei de Metas prevaleceu
como era até então. Como este episódio da Lei de Metas temos o primeiro momento de maior
embate do MNB com a prefeitura, um momento em que o MNB tornou-se mais conhecido
pela própria prefeitura e foi possível trabalhar na desconstrução da ideia de que a iniciativa
era algo partidário. Observe a confirmação disso por meio da seguinte fala:
[...] Fiquei conhecendo o Nossa Betim em primeiro momento no “ouvir dizer”, depois
passei a conhecer o Nossa Betim em dezembro de 2012, que foi na transição do gov.
passado e o atual. [...] O Nossa Betim tem dados que nós, aqui da prefeitura, não temos!
Eles tem informações maravilhosas. Temos que nos unir com o Nossa Betim para
pensar Betim no Macro. Com isso eu passei a respeitar e entender o proposito real do
Nossa Betim. O “ouvir dizer” que eu tinha era negativo, porque o Nossa Betim surgiu
no final do mandato da Maria do Carmo e apareceu para transformar o Nossa Betim
122
com uma lei... mas nós já temos a nossa Lei Orgânica e o Nossa Betim queria alterar.
Isso saiu de alguns vereadores da esquerda... então eles usaram o Nossa Betim para
estar atingindo o governo atual na parte politica. O Nossa Betim vinha para cobrar, mas
um cobrar negativo. De pegar no pé daquilo que não foi feito e não nos ajudar a
construir e divulgar algo novo ou o que já está sendo feito. Então, até o final e dezembro
de 2012... eu tinha esta visão e eu acho que eu não estava errada. Porque com a nova
gestão, eles mudaram o foco e hoje são um dos grandes parceiros.(Entrevistado P1).
A gente já teve uma relação mais densa. No primeiro momento era tranquila quando era
o governo do PT, tínhamos uma abertura maior. Quando o PSDB houve nenhuma
abertura... Hoje, depois de 1 ano conversando, nós temos uma abertura muito boa. Hoje
temos um diálogo com a prefeitura ( Entrevistado MNB4).
Hoje, o MNB possui uma relação amigável com a prefeitura e como foi possível
observar em todas as entrevistas, o MNB é considerado e se considera um bom parceiro da
prefeitura, principalmente pelo fato do MNB ser associado a uma iniciativa com dados sobre a
cidade e de grande capacidade informativa.
A Prefeitura apresentou, em agosto 2013, por meio de Audiências Públicas e divulgação
de outros canais democráticos, o “Plano de Metas e Prioridades do Governo”, detalhando
ações, políticas e programas a serem executados no município, durante a gestão (2013-2016),
tendo como referência as promessas de campanha. O Nossa Betim participou da audiência
pública para a apresentação do plano de metas do poder executivo. Mesmo com a
apresentação resumida do plano, não foi concedido tempo suficiente para a discussão e o
diálogo sobre as metas apresentadas no plenário da Câmara. Poucos vereadores
compareceram a audiência, o que acabou por representar uma contradição, já que a Lei de
Metas fosse aprovada era necessário unanimidade (Nossa Betim, 2014e).
Na análise do Nossa Betim sobre o Plano de Metas em relação ao documento com as
promessas de campanha, foi possível identificar que 43% das 132 promessas estão
contempladas no documento, 46% não estão contempladas e 11% foram classificadas como
parcialmente contempladas, devido à dificuldade de classificação da promessa apresentada. O
123
plano não apresentou indicadores para referenciar as metas e não expôs as metas quantitativas
e regionalizadas(Nossa Betim,2014g).
[...] Hoje o Nossa Betim já esta com a Lei de Metas aprovada, o primeiro plano de
Metas já foi apresentado e agora em agosto nós vamos ter a primeira avaliação do Plano
de Metas que prefeitura vai entregar. [...] ( Entrevistada MNB4).
A exposição do primeiro Plano de Metas ocorreu por meio de uma audiência pública em
dezembro de 2014 na Câmara Municipal de Betim. Este momento foi a primeira prestação de
contas do governo em relação ao Plano de Metas. Para o Nossa Betim este momento
significou, nas palavras da secretária executiva, “(...) um marco para consolidar a participação
efetiva da sociedade civil na gestão pública.” (Nossa Betim, 2015a).
Além disso a secretária parabenizou o poder executivo “pela prestação de contas e por
permitir que a cidade esteja na vanguarda da criação de uma Lei que tem tudo para ser
aprovada em nível nacional (...)” (Nossa Betim, 2015a). O Nossa Betim ao parabenizar o
poder executivo por “permitir” uma prestação de contas, prevista por lei, ou seja, podemos
perceber que dentro do movimento existe ainda uma relação subordinação ou de hierarquia
em relação ao poder público e a sociedade civil de forma geral. Situação essa que pode
demonstrar um recorte de uma das características da relação Estado-Sociedade Civil no Brasil
que ainda persistem mesmo após a Constituição Cidadã.
Interessante notar que esta prestação de contas ocorreu com atraso, sendo que a mesma
deveria ter sido realizada em meados do mês de julho ou agosto, porém só se concretizou em
dezembro. A justificativa encontrada pela pesquisadora no Nossa Betim foi a de que a
prefeitura ainda não tinha conseguido organizar todos os dados a serem apresentados e que
havia naquele momento uma período de eleição presidencial no país, o que teria levado a um
atraso. Outra questão a ser levantada é se o Plano de Metas não serviria mais como uma
ferramenta de melhoria de gestão pública ou como uma ferramenta de participação da
124
sociedade civil em relação ao governo municipal. Tal questionamento surge ao notar que
ainda existe baixo envolvimento da sociedade civil em relação as ações e medidas do governo
local, mesmo depois da implementação do Plano de Metas em 2011.
Além disso, pode-se notar que diante da fala do secretário municipal de finanças,
planejamento e gestão, o Plano de Metas se aproxima mais de uma ferramenta de gestão
interna ou um sinalizador da necessidade de se melhor planejar a políticas públicas locais, do
que um mecanismo de participação popular, observe:
[...] o Plano de Metas traduz a relevância e a necessidade de se planejar políticas
públicas. A audiência realizada na Câmara Municipal, no último dia 12, é a
consolidação desse processo de transparência, planejamento e monitoramento das ações
do governo (Nossa Betim, 2015a).
De acordo com a lei, a prestação de contas do Plano de Metas de Betim deve
apresentar:
[...] os objetivos da gestão, as diretrizes setoriais, as iniciativas e ações estratégicas, os
indicadores de desempenho e as metas quantitativas e qualitativas para cada um dos
setores da Administração Pública Municipal, direta e indireta, por unidades regionais de
planejamento e desenvolvimento, observando, no mínimo, os objetivos, diretrizes,
ações, programas e intervenções estratégicas e outros conteúdos conexos apresentados
como propostas de campanha eleitoral devidamente registradas no órgão eleitoral
competente, conforme as disposições da EMENDA À LEI ORGÂNICA DO
MUNICÍPIO DE BETIM Nº 028/2011, bem como as normas estabelecidas pelo Plano
Diretor e pelo Plano Plurianual ( Nossa Betim, 2015b)
Segundo a análise realizada pelo MNB desta prestação de contas ainda é necessário se
realizar ou aperfeiçoar os seguintes pontos: estabelecer os dados quantitativos; definir prazos
claros para cada meta; publicar quais sãos os recursos disponíveis para cada meta; definir em
que momento cada meta será concretizada; estabelecer um sistema periódico de
monitoramento e acompanhamento das metas de fácil acesso e entendimento para o cidadão;
definir e publicar as informações regionalizadas; definir os eixos e objetivos estruturantes;
definir métrica de análise; intensificar a interlocução das secretarias envolvidas na mesma
125
meta e elaborar, assim como, divulgar os projetos por metas (Nossa Betim, 2015a). Dessa
forma, na prestação de contas da prefeitura o MNB volta a realizar a accountability na medida
em que cobra da prefeitura que a mesma adeque melhor a prestação e contas apresentada de
acordo como o que está previsto em lei.
O PCS encontra dificuldade na cidade de Betim devido ao despreparo do corpo técnico
da prefeitura em realizar o preenchimento dos dados. Dessa forma, o Nossa Betim atua como
um apoio a mesma na medida em que promove cursos internos na mesma para guiar seus
funcionários a respeito do PCS. Além disso, o MNB possui um observatório que traz para a
cidade todos os dados agrupados de forma regional. Dessa forma, o próprio MNB torna-se
uma forma ou uma ferramenta para a perpetuação de um bom andamento do PCS e também
do Plano de Metas, já que os dados e indicadores reunidos no observatório são necessários
para a execução e prestação de contas da lei. Apesar de ser de grande avanço para a cidade
pouco ainda é possível dizer sobre o impacto destes dados para a população e se a existência
do mesmo incita ou capacita a população para a participação popular e conscientização
cidadã. Dessa forma, o Plano de Metas e o PCS parecem ser meras ferramentas
administrativas de serventia burocrática para a prefeitura e diante disso, existe um reforço por
parte dos movimentos RSBCJS e do MNB de que os processos participativos sejam cada vez
mais permeados de burocracias que limitam a real participação do cidadão comum.
Diante disso, cabe apontar com mais detalhes o que torna o MNB e os demais da
RSBCJS como novos movimentos (Gohn, 2009, 2010; Armstrong and Bernstein, 2008;
Jacobi e Monteiro, 2007). Todas as iniciativas surgem de pessoas que compõem a classe
média. Sendo assim, são pessoas que mais assistem as mazelas das políticas públicas locais do
que realmente as vivenciam. Os movimentos da RSBCJS nascem através da incentiva de
acadêmicos ou empresários, não surgem da inciativa de pessoas que vivem no cenário da
pobreza. Além disso, são movimentos que acreditam e trabalham por meio do diálogo e não
126
da confrontação e embate para que os objetivos sejam alcançados ou as relações com os
outros setores sejam estabelecidas. Estas duas grandes características distanciam os
movimentos da RSBCJS da ideia de movimentos clássicos. Observe os depoimentos a seguir
que sustentam tais afirmações:
[...] os movimentos da Rede são de classe média. Então são movimentos já atípicos,
porque a maioria dos movimentos que existem nascem na academia ou nos bolsões de
pobreza alimentados aí muitas vezes por uma igreja, por um grupo qualquer ou mesmo
partidário. (Entrevistado OSCs1).
[...] os movimentos por cidades sustentáveis nasceram da classe média, uma classe que
já tem vários privilégios e que tem um foco maior em resolver o problema da qualidade
de vida da cidade. Acontece que estes movimentos, na maioria das vezes, não
conseguem dialogar com os movimentos populares, que são estes nascidos da própria
pobreza. (Entrevistado OSCs1).
[...] no início o Nossa Betim foi considerado um movimento muito elitista. Porque
acaba que em um primeiro momento você acaba indo nas entidades de classe para poder
entender a cidade, você vai conversar com os atores sociais... [...]. (Entrevistado MNB4)
[...] ele ainda não é um movimento popular. É um movimento hoje que consegue
mobilizar formadores de opinião, ou seja, hoje eu consigo alar com o prefeito, com os
vereadores, com alguns canais de comunicação da cidade, apesar de não ter muita
abertura. Então ele não é popular... Você vai no povão poucos conhecem ou nunca
ouviu falar... E a outra característica é que se você for nos formadores de opinião, nas
principais associações e em algumas empresas nos já somos conhecidos. [Entrevistado
MNB3]
[...] O Nossa BH não é um movimento de combate. Buscamos calcar nossas discussões
por meio de dados, indicadores e análises. Ele busca, principalmente, trabalhar com
soluções que devem ser dialogadas e consensuadas em todos os setores da sociedade. Se
não há diálogo com o poder público o trabalho do MNBH não acontece, acontece parte
deste trabalho... o de controle social! Mas sem o diálogo é impossível atingir os nossos
objetivos (Entrevistado OSCs1).
Fica claro assim, que o Nossa Betim, no três anos e meio de formação e atuação, possui
um olhar oriundo da classe média do que seria melhor para a cidade de Betim. Uma situação
conflitante desse ponto é o fato da maior parcela da população betinense ser da classe pobre e
não da classe média. Assim, o MNB enfrenta o desafio de ainda não conseguir atingir as
pessoas que estão ainda mais marginalizadas dos processos participativos, que é a camada
127
mais pobre e em maioria no município de Betim. Como consequência disso o entrevistado
OSCs1 traz a seguinte reflexão:
[...] essa distância faz com que o movimento acabe se elitizando cada vez mais, apenas
de um grupo de pensadores e não conseguindo espalhar o que eles acham que deveria
ser uma educação para a participação popular. Existe uma ideia nestes movimentos, que
uma das bases é a educação cidadã. (Entrevistado OSCs1).
No início o Nossa Betim foi considerado um movimento muito elitista. Porque acaba
que em um primeiro momento você acaba indo nas entidades de classe para poder
entender a cidade, você vai conversar com os atores sociais... Então é só neste ano que o
Nossa Betim está indo de forma mais aprofundada em conselhos, nas regionais, nos
projetos dentro dos bairros, então a nossa mobilização tem melhorado a partir daí. [...] (
Entrevistado MNB4).
A análise feita sobre esta questão traz a reflexão de que tal desafio não invalida de
forma alguma a iniciativa, até porque uma iniciativa apartidária se erguer e consolidar
existência em um contexto eminentemente partidário e baixo interesse participativo, já
representa avanços democráticos participativos indiscutíveis e abertura para novos contextos
se materializarem. Entretanto, é necessário alertar a geração de um ciclo comportamental
antigo e muito debatido entre aqueles que querem participar de uma gestão publica, de
dimensão local ou federal e que influencia de forma negativa as ações que pretendem ser de
accountability societal: o trabalhoso relacionamento, muitas vezes elitista e burocrático, da
relação Estado-sociedade civil. A replicabilidade do problema acontece quando a luta pela
participação, a informação e os dados produzidos pelo MNB ficam no circulo dos mesmos,
limitando assim a participação de outros membros da sociedade civil.
Foi possível notar que as ações de participação e controle social, accountability
societal, do Nossa Betim estão com grande foco na educação cidadã. Para além disso, os
trabalhos e ações possuem foco no Sistema de Indicadores, no Plano de Metas e como
128
consequência no PCS. Observe a fala de um do entrevistado do Nossa Betim quando
questionado sobre as atuações do MNB:
[...] Hoje as duas principais agendas da Rede Brasileira que estão fundamentadas no
programa Cidades Sustentáveis são: o Plano de Metas e o Sistema de Indicadores. [...]
as duas frentes de trabalho são o Observatório e a Escola Cidadã. Todas as duas estão
ligadas ao Programa Cidade Sustentável. (Entrevistado MNB4)
As ações do Nossa Betim cabem ao conceito da accountability societal, na medida em
que estas ações se propõem a levar a sociedade civil a exercer controle social na gestão
pública por meio da participação, porém é possível observar que o MNB tem uma expectativa
de um determinado modelo de participativo dos cidadãos de Betim. Espera-se que o cidadão
busque o MNB, se informe sobre a realidade da cidade expressa nos dados e indicadores e
com base nestes dados, produzidos pelo MNB, atue, participe e exerça o controle social em
relação a prefeitura betinense. As falas dos integrantes do movimento, MNB1 e MNB2:
[...] Temos que mostrar que sabemos o que está acontecendo na cidade e reivindicar,
fazer apitaço e tudo mais. Mas não é esse o papel do Nossa Betim, o papel do MNB é ir
formar, articular e mostrar: “Olha você tem este caminho, nós não vamos fazer por
você”. [...] Estamos aqui para orientar e passar dados. (Entrevistado MNB1).
[...] o Nossa Betim é uma ferramenta importante para a busca sobre informações da
gestão pública local e a geração destas informações para que a sociedade esteja cada vez
mais inteirada com aquilo que acontece [...] (Entrevistado MNB2).
É possível notar que as ações seguem algumas características presentes nas Redes da
qual o Nossa Betim faz parte e como isso remete a ideia de um isomorfismo mimético, ou
seja, quando uma determinada organização adota procedimentos e arranjos estruturais que
foram implementados por outras organizações. Tal atitude é tomada com a finalidade de
reduzir a incerteza que podem ser ocasionada, dentre outras razões, por objetivos conflitantes
e exigências institucionais (DiMaggio & Powell, 1983). Com isso existe uma replicação de
129
um mesmo modelo em contextos diferentes. Isso possui uma tendência de acontecer porque é
um trabalho realizado em rede e também por este modelo de trabalho em rede, nacional e
internacional, remeter a iniciativas legítimas, respeitadas e reconhecidas, porém tais
elementos não asseguram sua eficácia. Na verdade, o que ocorre, é uma dependência
estrutural seja da própria Rede ou em relação aos financiadores, incerteza de que os
relacionamentos intersetoriais vão se repetir, burocratização interna e externa.
Um exemplo mais empírico desta situação são os GTs criados pelos movimentos da
rede e constituídos de mão de obra voluntária, que com o passar do tempo perdem corpo e
produção. Haja vista o caso do MNBH e do MNB. Ambos GTs começaram de forma intensa,
como muitos voluntários e diversos temas. De forma geral, os GTs seriam os responsáveis
pela definição e acompanhamento dos indicadores de qualidade de vida e pela realização de
eventos, fóruns, seminários, debates e campanhas para envolver a sociedade na busca de
soluções para a melhoria da qualidade de vida (Nossa Betim, 2014a). De forma sucinta, os
GTs ficavam responsáveis por levantar dados sobre os temas e também atuar nos mesmos,
porém ao alcançarem o primeiro objetivo, a existência do GTs também chegavam ao fim.
Podemos atribuir isso a dois elementos, o primeiro dele é que o contexto de trabalho
voluntário no Brasil ainda é pouco assimilado e enraizado na cultura. O segundo deles é que
dentro dos GTs existe-se uma meta, levantar dados, uma vez esta meta alcançada, perde-se
um pouco da função útil para aqueles que ali dedicam seu trabalho. Observe que tal conclusão
se aproxima da fala de entrevistados quando a questão dos GTs foi abordada:
[...] parece que o interesse diminuiu-se... antes o foco era identificar os
indicadores...depois disso feito... parece eu o interesse acabou. Ao fazer um serviço o
foco acaba, mas se o foco for a pessoa o foco nunca acaba. [...] Se o objetivo não é
atender a pessoa, mas sim atender um objetivo... tudo fica diferente. É aquela coisa... eu
tenho o serviço e eu o ofereço, se você vem ótimo...se não vem nada é feito. Isso é a
mesma coisa da meta. Eu cumpro a meta... não quero saber o que está por trás da meta.
Por isso que eu acho, que no primeiro momento do Nossa Betim, onde tinha-se algo
bem objetivo tinha-se interesse maior de outros participarem...tinha se um serviço a ser
130
realizado... entende? Uma coisa mais palpável. Não que não tenha o que fazer agora,
mas antes era mais claro para quem se aproximava. [...] (Entrevistado OSCs2).
[...] por ter muitas pessoas nos GTS tinha muita discussão e pouca ação. [...] pessoas
começaram a sair dos GTs por não verem assim...essa efetividade [...](Entrevistado
OSCs1).
Essa situação é observada com nitidez dentro do MNB, por meio das entrevistas com os
membros deste movimento. Grande parte das respostas levam a entender que os GTs foram
algo lançado para levantar dados e que sua perpetuação acabava por ser inviável. Além da
baixa participação de voluntários nesta área, o MNB chega a conclusão de que não era mais
possível abordar tantos temas e optam por focar seus trabalhos e esforços no Plano de Metas,
no Sistema de Indicadores e na educação cidadã (Entrevistado MNB1; Entrevistado MNB4).
Tais agendas também são trabalhadas na pautas das redes.
[...] até então a atuação foi pontual e mais no início do Nossa Betim... pela novidade...
mas o grupo de trabalho que mais funcionou foi o grupo que fez o levantamento dos
indicadores e gerou a primeira versão do sistema de indicadores e os demais grupos se
perderam um pouco porque eram muitas demandas, muito voluntariado, cada um só
podia ir quando tinha tempo e disponibilidade ou se o interesse dele já estava cumprido
ele já não ia mais. Percebemos que para que o grupo de trabalho funcione ele tem que
ser de curto prazo, não pode ser de longo prazo (Entrevistado MNB3).
O Nossa Betim no inicio teve vários grupos de trabalho e maioria se desarticulou.[...]
Isso foi uma decisão nossa, temos uma equipe pequena e então preferimos centralizar os
nossos objetivos. Alguns movimentos apoiam tudo! Fica disperso, você dispersa
energia, a gente até concorda com muita coisa, mas você dispersa. Então o foco do
Nossa Betim é o Plano de Metas e o sistema de indicadores (Entrevistado MNB4).
Tal situação se comprova, mais uma vez, diante da coleta de dados secundários. Notou-
se que nem todos os GTs possuem atuação contínua. Até o ano de 2014 o GT criança,
adolescente e juventude e o GT orçamento público foram aqueles que demonstraram ações
(Nossa Betim, 2014c).
131
Talvez pudéssemos pensar que a implementação dos GTs seja a primeira forma dos
movimentos da RSBCJS de levantar interesse e participação para além das primeiras pessoas
envolvidas no processo e que esta seja uma estratégia da rede de se começar uma inciativa.
Com isso, nota-se um primeiro passo da iniciativa de começar a entender realidades da cidade
para depois começar a desenvolver ações.
No discurso dos integrantes do Nossa Betim foi possível perceber que apesar de várias
ações da iniciativa virem de uma rede, o MNB atenderia as particularidade de Betim
(Entrevistado MNB4). Entretanto, é nítido que a necessidade, por exemplo, de um Sistema de
Indicadores é mais uma demanda da RSBCJS do que um real anseio e demanda do município
de Betim. Por todas estas iniciativas serem oriundas da experiência de Bogotá, a sensação que
fica é a de que se resgatou o que foi feito em Bogotá e replicou dentro dos movimentos
constituintes da rede. Apesar de ter funcionado em Bogotá, a realidade desta cidade é distinta
como, por exemplo, da realidade de Betim ou de Belo Horizonte. O que por sua vez pode
tornar este modelo, quando replicado, não tão exitoso e até mesmo frustrante para aqueles que
tentam implementa-lo, observe a fala do entrevistado quando questionado sobre o papel do
Nossa Betim para o município betinense:
[...] o Nossa Betim está fazendo um papel que as pessoas como um todo tinham que
buscar...mas não fazem né...! (Entrevistado MNB2).
[...] é um movimento estruturado, tem-se os indicadores, a aprovação da lei de metas.
Falta mesmo é o envolvimento da comunidade com o MNB. Mas aos poucos as pessoas
vão conhecendo. [...] Betim tem as ferramentas junto com o Nossa Betim, falta só
mobilização social [...] (Entrevistado E3).
Fica difícil fazer como que essa ideia de indicadores faça parte da realidade da
população, sendo que esta proposta parte de um determinado grupo daquela sociedade. Logo,
a ideia da Rede de que se é necessário conhecer a cidade, seus indicadores para melhor traçar
132
ações em relação ao governo local não ganha tanto corpo quando levada para a cidade alvo,
como é no caso do MNB e a cidade de Betim.
Para entender de forma mais específica as ações desempenhadas pelo MNB é
necessário entender as linhas de atuação do movimento. O MNB trabalha através de três
linhas de atuação: conhecimento, mobilização, e comunicação e educação cidadã (Nossa
Betim, 2014a). Dentro das sete premissas do MNB, descritas na citação abaixo, quatro são
referentes a linha de conhecimento, pode se dizer que mais da metade (57,14%) das premissas
da iniciativa estão concentradas na linha de conhecimento:
a) A construção de uma cidade justa e sustentável deve mobilizar e envolver todos os
segmentos da sociedade, de forma democrática e participativa; b) O conhecimento já
acumulado pelas pessoas, organizações e redes que atuam na cidade é o ponto de partida
para a construção de um diagnóstico profundo da qualidade de vida na cidade; c) Um
diagnóstico detalhado das condições de vida em Betim, deve ser feito com base em
indicadores técnicos, definidos pela sociedade em espaços de participação
democráticos; d) O diagnóstico da qualidade de vida na cidade deve orientar a
construção coletiva de uma visão comum de futuro para a cidade, um conjunto de metas
que nortearão o rumo do desenvolvimento sustentável; e) Os indicadores de qualidade
de vida devem ser públicos e sua evolução monitorada criteriosa e sistematicamente
pela sociedade, para avaliar permanentemente o processo de desenvolvimento e corrigir
os desvios em relação ao norte desejável e construído pela sociedade; f) O alcance das
metas definidas pela sociedade dependerá da construção de alianças entre os diferentes
setores da sociedade em torno do planejamento e execução de projetos e políticas
públicas, cujos resultados sejam sistematicamente avaliados; g) O desenvolvimento
justo, sustentável e ecologicamente sustentável de Betim extrapolará os limites do
município e será permanentemente influenciado por ações e políticas locais, regionais e
nacionais e, portanto, deve dialogar e estar integrado ao contexto mais amplo no qual a
cidade está inserida ( Nossa Betim, 2014a).
Ao serem analisadas as premissas b, c, d e e citadas acima, pode-se apontar que para o
Nossa Betim (2014a), ao se conhecer a cidade estaríamos diante do ponto de partida para se
construir um diagnóstico profundo da qualidade de vida na cidade. De acordo com o MNB
(2014a), tal diagnóstico deveria ser feito por indicadores técnicos, definidos pela sociedade
em espaços de participação democráticos. Diante dessa análise a sociedade de Betim seria
orientada para a construção coletiva de uma visão comum do futuro para a cidade, de seu
133
conjunto de metas que norteariam o rumo do desenvolvimento sustentável local. O papel dos
indicadores seria para a sociedade avaliar, permanentemente, o processo de desenvolvimento
e também corrigir os desvios em relação a direção desejável e arquitetada pela sociedade.
A educação cidadã e as informações têm sido apontadas como temas importantes para
conscientização política e mobilização, podemos notar isso no referencial teórico deste
trabalho, tanto no eixo da democracia participativa, accountability, gestão pública e de
movimentos sociais. O MNB reproduz esse padrão de pensamento, porém o movimento acaba
por limitar e simplificar um problema complexo, como o da participação, ao atribuir o
desinteresse político municipal ao desconhecimento da cidade ou de seu aparato político e
possibilidades de atuação. Observe as falas abaixo e como elas remetem a educação como
ponto essencial para a participação:
[...] o pessoal não sabe o básico em relação ao orçamento público... Então como ela vai
acompanhar se ela não tem informação? [...] Umas das causas que influencia muito essa
baixa participação da população é a falta de informação e que provavelmente gera uma
subcausa que é o desinteresse. [...] (Entrevistado MNB3).
[...] o desconhecimento dos caminhos legais para poder requerer ações, investimentos
para sociedade pela população. Existe um desconhecimento sobre os seus direitos, de
legislação. [...] Existe uma postura passiva da ouvidoria assim como da sociedade de
Betim! Outra coisa é a falta de interesse do cidadão... daquele que não possui
engajamento e acabam por não perceber espaços para poder participar e incidir no
município.[...]. (Entrevistado MNB1).
[...] Eu entendo que o Nossa Betim vai avançar muito na consolidação do
conhecimento, na consolidação primária mesmo.[...] Precisamos de um número muito
grande, porque esses números de pessoas conseguiria cobrar. Eu vejo um futuro para o
Nossa Betim de formação cidadã. (Entrevistado MNB4).
[..] Eu entendo que a evolução conquistada (do MNB) é proporcionar o envolvimento
da população com indicadores. Com números não se argumenta... números são números
e pronto. (Entrevistado MNB2).
[...] O Nossa Betim quer, principalmente, produzir e divulgar informações e conteúdos
que propiciem a união de esforços dos três setores para o desenvolvimento social da
cidade com metas e que essas metas se cumpram. (Entrevistado MNB1).
134
Para o MNB a partir do momento que o cidadão tiver conhecimento sobre a política e
sobre a situação do município pelos indicadores, ele participará e se envolverá com a
realidade do município. Porém isso ainda não é solução definitiva. A maior parte dos
brasileiros ainda se mantem, com informação ou não, participado pouco da política dentro dos
moldes da democracia participativa, ou mesmo na representativa (voto). A crítica que se faz
sobre o comportamento político brasileiro é o de ainda carregar traços do “homem cordial”, o
que faz de sua participação algo movido pelo clientelismo e paternalismo. Além disso,
devemos ater a visão negativa e desmotivada da politica que o brasileiro possui, tais traços
são oriundos de toda uma construção histórica e romper estes padrões se torna algo mais
complexo que se concentrar na esfera da informação e de formação cidadã.
A maior parte dos entrevistados demonstra um traço tecnocrático, burocrático na
forma de se desenvolver a, ao apontar que para participar precisa-se se informar, entender os
processos, ou saber os indicadores da cidade a priori da participação. É possível identificar
na análise uma alta expectativa do MNB da utilização dos dados gerados pelo mesmo, a fim
da concretização das ações participativa por parte da sociedade civil de Betim. Vale lembrar
que todo o trabalho realizado pelo MNB é de grande reconhecimento na cidade e tem se
tornado uma referência de dados, porém devem se ater. Um membro da sociedade civil aponta
que:
[...] uma coisa é eu levar uma informação, um curso para aquele que quer aprender...
outra cosia é eu achar que esse é o único caminho [...]. (Entrevistado OSCs1).
Como o MNB possui foco nas ações que envolvem a educação e formação cidadã a
análise das ações foram feitas também em relação ao o sistema de indicadores e ao evento
Diálogos. Para o MNB o papel dos indicadores serviria para a sociedade avaliar
permanentemente o processo de desenvolvimento e também corrigir os desvios em relação a
135
direção desejável e arquitetada pela sociedade. Nota-se que a geração dos dados contidos no
sistema de indicadores do Nossa Betim tem contribuído de forma significativa a prefeitura de
Betim, que usa destes indicadores para cumprir as demandas colocados pelo PCS. Observe o
depoimento de membros da prefeitura:
[...] Já virou um legado do município! Todo mundo que quer uma estatística busca lá,
porque lá tem!! (risos) Todos os assuntos... virou uma referencia de dados estatísticos, o
que me encanta é essa referencia apartidária. Você consegue tecer parâmetros de
comparação e fazer conclusões sem ter indicações de siglas. Isso é muito sério e muito
bacana [...] O Nossa Betim tem um papel informativo mesmo, da situação política... as
vezes não conseguimos passar isso para a população. O Nossa Betim consegue passar
isso para todo mundo, por isso que agora isso é um legado. (Entrevistado P2).
[...] A intenção do governo e do Nossa Betim é de trabalhar em parceria...como já te
disse eles tem informações maravilhosas e que nós aqui não temos. Eles podem nos
complementar [...]. (Entrevistado P1).
[...] O Nossa Betim já veio aqui, fizemos reuniões...e o papel deles não é nem de cobrar,
mas sim de parceria de nos ajudar [...]. (Entrevistado P1).
Tais depoimentos apontam que a prefeitura possui uma ideia do MNB que se aproxima
mais de um instituto responsável por gerar dados, indicadores e informações sobre a cidade do
que de fato um ator reivindicatório. Dentre as ações do MNB a ação que remete mais a caráter
reivindicatório, de cobrança e acompanhamento da gestão pública está no Plano de Metas e
mesmo nesta ação a prefeitura encara o MNB com um parceiro. Ao contrário do que pode-se
observar dos movimentos sociais de base ou clássicos, o MNB não intimida o poder local,
mas sim o contrário:
[...] Este ano fizemos uma reunião e mostramos que não éramos partidários. Eles
(prefeitura) nos colocaram na parede mesmo! Fizeram todas as perguntas e procuram
esclarecimentos.[...] (Entrevistado MNB1).
[...] Sentamos para conversar com a prefeitura sobre o programa cidades sustentáveis e
isso é algo que estamos pontuando muito com eles, tanto que agora vai começar a
formação, mas sempre dialogando, entendemos que é melhor assim. Pelo dialogo, pelo
136
jeito regional da cidade, cultura daqui... Temos visto que temos conseguido muita coisa
dialogando do que batendo. (Entrevistado MNB4).
O depoimento do entrevistado MNB1, mencionado anteriormente, ilustra bem a fala de
vários integrantes do MNB entrevistados. Pelos depoimentos foi possível notar que, na maior
parte das vezes, o questionamento das ações e formas de atuação parte da prefeitura para o
movimento e não o contrário. Tal postura é defendida por todos os membros como algo
positivo e que ajudaria a construir uma relação amistosa com a prefeitura, permitindo por sua
vez maior acesso e barganha em ações futuras.
O objetivo principal do MNB (2014a) é o “contribuir para o desenvolvimento justo,
sustentável e ecologicamente responsável da cidade, com base na participação ativa e
democrática da sociedade e na colaboração entre os diferentes segmentos que a compõem”.
Para tanto busca alcançar esse objetivo, principalmente, através da geração de informação.
Além disso, o MNB busca promover encontros na cidade com a presença de personalidades
para interagir com os cidadãos betinenses, tal objetivo se materializou no evento Diálogos.
Para os integrantes do Nossa Betim não existe um espaço efetivo na cidade que permita
que as três esferas da sociedade betinense discutam os rumos da cidade e a realidade da
mesma, assim como não existiria um espaço para se expor as propostas de mudança:
[...] Não há um espaço na cidade que faça este diálogo. [...] O Nossa Betim começou a
criar condições para estes espaços. De chamar o empresário e colocar qual é a
responsabilidade dele, do gov. da sociedade. Nos estamos na fase inicial desse nível de
debate. Em eventos vemos o governo tentando demostrar que é melhor que o governo
anterior, empresa... o discurso do empresariado é o de que paga muito imposto e que
eles não dão conta de fazer mais nada e que ele precisa de ajuda do gov. As ONGs não
dão conta de fazer, o gov. fala que vai ajudar e não ajuda.... Nesses 10 anos eu vejo que
o discurso das ONGs de Betim não mudou. O equilíbrio de força entre os setores não
existe muito... O Papel do Nossa Betim é tentar colocar isso. Sentar os três setores,
discutir as ações em conjunto (Entrevistado MNB3).
137
Como expõe o depoimento do entrevistado MNB3, o objetivo seria a de fomentar o
debate entre os atores sociais e os palestrantes convidados que compartilham as experiências
que podem contribuir na melhoria da qualidade de vida em Betim.
Para participar do evento como espectador é necessário realizar uma inscrição através
do telefone e o número de vagas é limitado, girando em torno de 200 vagas. Ao chegar ao
evento o nome do inscrito é verificado mediante uma lista. A presença ou não do nome da
lista é um determinante para a participação no evento. A justificativa de tal procedimento é
para que o Nossa Betim tenha maior controle dos aspectos logísticos do evento, como
cadeiras e alimentação.
O evento de fato traz um espaço de diálogo para o município, mas o fato de ser
obrigatória uma inscrição e possuir um limite de vagas traz consigo sua contradição da
expectativa do próprio movimento em estimular tal participação. Retoma também a ideia
tanto debatida entre Estado-sociedade civil: o governo “permitindo” a sociedade civil a
participar, mas de acordo com as regras e limites por este estabelecido. Haja vista, os planos
diretores, estes que possuem desenho institucional de ratificação pública, isto é, os cidadãos
não participam do processo decisório, mas são chamados para referendá-lo publicamente.
Assim a sociedade civil discute uma decisão já anteriormente tomada pelo Estado. Trazendo
este cenário para o que acontece no Diálogos, temos uma divulgação de um espaço
intersetorial de limitado acesso e requerimento de uma burocracia retrograda: o convite ou o
nome na lista para efetivação da participação.
Até 11 de setembro de 2014 o MNB realizou cinco edições do Diálogos dos quais a
pesquisadora participou da primeira, terceira e quinta edição. Sendo que a não participação
presencial da segunda edição do Diálogos deveu-se a uma dificuldade de agenda da
pesquisadora, impossibilitando a de comparecer a reunião. Já a quarta edição foi uma edição
exclusiva para o setor empresarial e aberta somente para este público, logo existiu um
138
empreendimento institucional a esta participação. Tal evento só foi de fato divulgado nas
redes sociais do movimento após sua realização. Retomando enfim, a análise realizada no
imediato parágrafo acima.
A primeira edição, que também foi o lançamento do Diálogos, ocorreu no dia 28 de
agosto de 2013 na sede da ISVOR. Neste evento ocorreu o lançamento do livro "As lições de
Bogotá e Medellín – do Caos à Referência Mundial". Para a pesquisadora o primeiro contato
físico com o movimento ocorreu neste evento. Antes disso, o contato era apenas por meio de
leituras acerca do tema e do movimento, conversas com membros do Movimento Nossa BH
(MNBH) e pelas reuniões do grupo de pesquisa NUPEGS. Ainda com referencia das reuniões
do MNBH houve uma quebra de expectativa em relação a organização do Diálogos do Nossa
Betim pela pesquisadora. Isso ocorreu devido a diferença desta reunião para as reuniões do
MNBH que a pesquisadora participou.
As reuniões do MNBH aconteciam em lugares públicos e sem traços formais, ou
ainda, foram reuniões que aconteciam no escritório da Avina em Belo Horizonte. De forma
geral, o MNBH realizava suas reuniões do grupo impulsor (GI) com os seus membros. Apesar
de ser uma reunião aberta ao público, o público se limitava aos integrantes do GI e divulgação
desta reunião estava restrita a aqueles que participavam das trocas de e-mails do GT do
MNBH.
Ao chegar ao Diálogos do MNB a pesquisadora se deparou com outro universo de
organização e público. O evento aconteceu com a presença de representantes de organizações
não governamentais, entidades de classe, instituições de ensino, integrantes dos poderes
legislativo e executivo, da sociedade civil, de empresas e da imprensa da Região
Metropolitana. Foi possível notar, de forma mais clara pela autora, a presença de
representantes da Fiat e da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG).
139
É importante frisar que as reuniões do GI do MNBH não possuem o mesmo objetivo
do Diálogos do MNB. A primeira busca discutir tópicos de ordem interna do movimento,
enquanto que a segunda busca ser um espaço de interação dos três setores. Porém, estas foram
as experiências da pesquisadora com dois movimentos oriundos de uma mesma iniciativa e
que levou a pesquisadora a observar estas sutis, e por vezes, gritantes diferenças
Além da apresentação do livro e da experiência vivida com a inciativa “Bogotá Como
Vamos”, os escritores Murilo Cavalcanti, Francisco Cunha e Carmem Cardoso relataram as
ações desenvolvidas nas cidades colombianas para reduzir a violência e torná-las referências
mundiais em mobilidade, segurança e soluções urbanísticas. Antes de se iniciar a
apresentação do livro, o então secretário executivo do MNB realizou uma breve apresentação
sobre o MNB, os objetivos e desafios.
Em seguida, abriu-se para um debate entre os escritores e a plateia, onde era possível
realizar perguntas e comentários, tanto sobre a temática do livro como sobre as lições que
Betim poderia tirar a partir dos êxitos em Medellín e Bogotá. Neste momento foi possível
observar a fala de uma convidada que se mostrava insatisfeita com a realidade política de
Betim, especificamente sobre a falta de continuidade das ações dos prefeitos devido a
polaridade partidária. Se manifestou contra também ao comportamento do cidadão betinense,
deste ser motivado a votar pensando em benefícios próprios ou por meio de troca de favores.
O MNB disponibiliza uma transcrição do Diálogo, porém ao fazer a leitura desta transcrição e
compara-la com a experiência vivenciada pela pesquisadora no evento, foi possível notar que
esta fala, um pouco mais exaltada, não foi incluída no documento de trabalho do MNB. Neste
momento podemos retomar a característica de não embate do movimento e baixa incitação
para que outros atores da sociedade de Betim o façam, casando novamente com a
classificação de novo movimento social (Gohn, 2009).
140
Foi possível observar o valor da pesquisa participante, pois somente mediante deste
método foi possível para a pesquisadora fazer uma leitura “própria” sobre o evento. Seja pela
forma como o evento foi conduzido em contraste com outras experiências com o MNBH ou
pela possibilidade de visualizar os fatos na íntegra.
A segunda edição do Diálogos ocorreu no dia 12 de novembro de 2013 no auditório da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais na unidade de Betim (PUC Betim).Para este
o arquiteto e urbanista Jaime Lerner foi convidado para dividir sua experiência em relação a
assuntos referentes ao urbanismo. O convidado é ex-prefeito de Curitiba, ex-governador do
Paraná e atual consultor das Nações Unidas para assuntos de urbanismo (Nossa Betim, 2014c)
A terceira edição do Diálogos ocorreu no dia 5 de junho de 2014 no auditório do
Serviço Social da Indústria (SESI), onde foi apresentada uma análise dos indicadores de
Segurança Pública e dados sobre a qualidade de vida nos últimos anos em todas as regiões da
cidade. Esta análise foi realizada pelo representante da Kairós Desenvolvimento Social que é
responsável pela produção dos indicadores do Nossa Betim. Além disso, o evento contou com
representantes de outros movimentos da RSBCJS: Movimento Rio Como Vamos e
Movimento São Luiz.
Os dois movimentos convidados tiveram a oportunidade de falar sobre as experiências,
êxitos e dificuldades vividas em suas municipalidades. A pesquisadora foi ao evento na
companhia de integrantes do GI do MNBH7 e desta vez, a pesquisadora gravou a apresentação
na intenção de utilizá-la como dado primário e poder reproduzi-la na íntegra as falas que mais
chamaram a atenção para a pesquisa. Foi possível observar que as iniciativas da RSBCJS
caminham de fato em prol da realização do Plano de Metas e na divulgação do sistema de
indicadores. Problemas e desafios comuns entre o MNB e as outras inciativas presentes neste
3º Diálogos residem basicamente, na baixa participação dos cidadãos, baixo nível de
7 Membro do grupo impulso do Movimento Nossa BH: Juliana Nunes Moreira, Guilherme Lara C. Tampieri e
Vanessa Duarte.
141
formação cidadã do público alvo, desinteresse e dificuldade de comunicação com o poder
público local.
Assim como ocorreu no primeiro Diálogos foi possível notar a presença de um público
diverso, abrangendo os três setores. Neste Diálogos foi possível notar uma mudança de pessoa
responsável pelo cargo de secretário executivo. Foi realizada uma breve apresentação sobre o
papel e objetivo do Nossa Betim. Nesta apresentação, chama-se atenção para o fato de que em
nenhum momento o Nossa Betim foi denominado de “movimento”, ao contrário, foi
denominado de aliança de cidadãos, empresas e organizações da sociedade civil.
Após a apresentação dos convidados abriu-se um espaço para perguntas tanto para os
palestrantes como para o MNB. Uma pergunta realizada por um espectador para os membros
do MNB chamou a atenção da pesquisadora e mais tarde, tal questionamento entrou no roteiro
de entrevista. O questionamento girou em torno do meio de divulgação do MNB e suas ações,
buscava-se entender porque o MNB, sendo uma iniciativa tão construtiva, ficava restrita ao
saber de poucas pessoas. A pessoa que realizou o questionamento realçou que possuía
conhecimento sobre tal iniciativa, somente pelo fato de fazer parte do corpo técnico da
prefeitura de Betim. O questionamento buscou entender porque essa divulgação não atingia a
população de forma geral, os cidadãos comuns. A resposta obtida e reafirmada mais tarde por
meio das entrevistas com os integrantes do MNB, é que a estratégia do MNB naquele
momento seria atingir os formadores de opiniões, para que estes ajudassem na disseminação
da informação, para que mais tarde, a população de forma geral fosse alcançada pelos meios
de comunicação do MNB. Observe o depoimento realizado por um membro do MNB quando
questionado sobre as ações do Nossa Betim para mobilização da população da cidade:
Então, vamos considerar que as ações do Nossa Betim, não são populistas... A gente não
conseguiu alcançar a grande massa. Então, considerando este público mais de
formadores de opinião seja nas universidades, de conselheiros, de empresários aqui na
cidade, das ONGs, etc. E alguns canais de comunicação. Temos os eventos que
142
fazemos. Os seminários, reuniões, a nossa ferramenta de trabalho é basicamente são
reuniões. Nos seminários temos conseguido entre 50 até 80 pessoas [...] Temos feito
cursos, mas a demanda ainda é pequena. Eu posso falar que é um processo educativo.
De falar sobre o programa de cidades sustentável, falar sobre o que é o plano de metas,
falar da importância de se acompanhar o orçamento público. [...] É importante falar da
disponibilização do sistema de indicadores, que está lá no site de forma gratuita e
poucos usando. [...] nos estamos conseguindo alcançar um público, mas não é o povão.
[...] Então é isso, nossas ações vão bem, porém com um público restrito. (Entrevistado
MNB3).
No dia 10 de setembro de 2014 aconteceu a quarta edição do Diálogos no restaurante
Porteira Velha em Betim, a discussão foi sobre responsabilidade social e definição das metas
empresariais para impulsionar o desenvolvimento sustentável e preservar recursos ambientais
e culturais para as gerações futuras. Nesse intuito, o MNB recebeu empresários, executivos e
presidentes de empresas do município para um encontro sobre “O papel das empresas na
construção de uma Betim sustentável”. Ao final do evento, o prefeito Carlaile Pedrosa
convidou os empresários para integrar o primeiro fórum empresarial de apoio a Betim.
Segundo o chefe do executivo, o fórum seria instituído a partir de um decreto que será
assinado pelo mesmo. O objetivo seria o de contribuir com o desenvolvimento justo,
sustentável e democrático de Betim, ao realizar ações coordenadas e negócios sustentáveis,
com foco na melhoria da qualidade de vida da população (Nossa Betim, 2014i).
A quinta edição do Diálogos ocorreu dia 30 de setembro de 2014, sediada no auditório
SESI em Betim, teve como objetivo levar candidatos a deputados estaduais e federais, que
poderiam representar Betim nos parlamentos, a assinar uma carta-compromisso com uma
agenda sustentável para o município. Somente os candidatos que declararam residir em
Betim, na ficha de candidatura enviada ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais
(TRE/MG), puderam participar do evento e o número total de inscritos foram 11 deputados8,
8 Os deputados inscritos foram: Antônio Carlos, Partido dos Trabalhadores (PT) ; Geraldo Santana Pimenta,
Partido Comunista do Brasil (PCdoB) ; Ivair Nogueira, Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB);
Maria do Carmo Lara (PT) ; Maria Tereza Lara (PT) ; Ricardo Lobato, Partido Social Brasileiro (PSB) ; Rômulo
Verenoso, Partido Verde (PV) ; Sebastião Neto, Partido Democrático Trabalhista (PDT); Silvana Damásio,
Partido Popular Socialista (PPS) ; Tomaz Brum (PDT) e Vinícius Resende, Solidariedade (SD).
143
entre estatuais e federais. A expectativa do Nossa Betim girava em torno de 220 pessoas na
plateia, entretanto apareceram no dia do evento, mais ou menos, 100 pessoas. Foi possível
notar que a maioria das pessoas que participaram do evento estavam ligados a algum partido
político que participava daquele evento. Tal cenário reforçou mais uma vez os depoimentos
que apontam a participação em Betim como precária e ligada aos partidos políticos.
A pesquisadora foi acompanhada por uma integrante do MNBH9 e lá teve a
oportunidade de encontrar pessoas de instituições de Betim, como um representante do Salão
do Encontro, TV Betim e com o coordenador do Grupo de Gestão Integrada Municipal (GGI-
M) da prefeitura betinense.
A dinâmica do diálogo foi conduzida da seguinte forma: primeiro os deputados
estaduais se dirigiram até o palco e foram sorteadas perguntas formuladas pelo Nossa Betim,
assim como foram sorteados os candidatos a respondê-las. Se o candidato fosse sorteado até
duas vezes, esse não poderia mais ser sorteado e só responderia as perguntas da plateia.
Notou-se que as perguntas formuladas pelo Nossa Betim tiveram como base os dados
presentes no sistema de indicadores. A dinâmica aconteceu com decoro entre os candidatos e
a plateia. Em um segundo momento a mesma dinâmica ocorreu, mas dessa vez, os
participantes eram os candidatos a deputado estadual. Por fim, os candidatos assinaram a
carta-compromisso com uma agenda sustentável para o município. De forma geral, o evento
foi exitoso ao proporcionar um espaço de diálogo democrático entre membros da sociedade
civil de Betim.
A pesquisadora teve a oportunidade de participar da Sessão Legislativa da Câmara
Municipal de Betim realizada no dia 10 de junho de 2014, às 15 horas da tarde. Percebeu-se
um ambiente muito descontraído, pois não houve concentração ou silêncio em respeito á fala
de qualquer um dos vereadores ou diretores da mesa.
9 Membro do grupo impulso do Movimento Nossa BH: Vanessa Duarte.
144
A função do MNB, ou mais especificamente, do representante do mesmo nessa Sessão
era a de relatar o que acontecia por meio de anotações. A expectativa era de buscar assuntos e
pontos relevantes para a atuação do MNB, entretanto para esta sessão isso não ocorreu já que
o que foi discutido foram tópicos como: denominação de logradouro público e questões
relacionadas ao campo de futebol e time da cidade. O integrante do MNB afirmou que nas
primeiras vezes que realizou este tipo de acompanhamento na Câmara Municipal de Betim
sentiu indignação em relação a falta de decoro e foco como os assuntos tratados. Relatou
ainda que aquele tipo de comportamento por parte dos vereadores era considerado comum.
Haviam algumas pessoas na área reservada para o cidadão comum. Notou-se que a
medida que os tópicos eram votados o número de pessoas diminuía. O integrante do MNB
explicou que isso acontecia porque aquelas pessoas que se retiravam já tinham seu tópico de
interesse discutido ou votado. Levando assim a uma possível conclusão de uma participação
vinculada a interesses particulares em detrimento do interesse público. Até o final da Sessão
quase não havia cidadãos acompanhando a mesma.
As relações entre os três setores da sociedade tem sido cada vez mais recorrentes a fim
de solucionar questões e problemas nos municípios. Conforme o modelo democrático
participativo, não caberia somente aos atores estatais a responsabilidade sobre a solução dos
problemas sociais e ambientais. Estes então poderiam atuar como catalisadores e facilitadores,
sem ser necessariamente serem os únicos provedores da intervenção socioambiental (Bier,
Feuerschutte, Schmitz, Bousfield, Simm& Pena, 2010). Tal cenário pode ser visualizado no
MNB e o Diálogos tem como propósito ser um local de encontro destes setores e que este
poderia ser uma possibilidade de desenvolvimento dessas relações intersetoriais para melhoria
da qualidade de vida de Betim. Temos atores dos três setores trabalhando em conjunto para a
promoção de uma melhor qualidade de vida na cidade de Betim, assim como buscam levar a
145
população a um perfil mais participativo e engajado por meio das informações e formação
cidadã.
Como colocado no início deste trabalho, o surgimento do Nossa Betim conta com a
grande influência da empresa privada, FIAT Automóveis, que compartilha da ideia de uma
RSE compartilhada com todos os atores que atuam no local de atuação. Sendo uma
fundamental mobilizadora do MNB em Betim entender o pensamento desta inciativa privada
em relação as questões de RSE edifica bases para análises mais assertivas.
A FIAT Automóveis faz parte das muitas marcas do Grupo Fiat, um dos maiores
fabricantes de automóveis do mundo, instalada no município de Betim, desde 1976, empresa
possui capacidade produtiva para até 800 mil veículos por ano. Sabe-se que a empresa
pretende ampliar a capacidade da fábrica de Betim para 950 mil unidades anuais. A Fiat
também investe na implantação de sua segunda fábrica de automóveis no País, situada em
Goiana, Pernambuco, que terá capacidade para produzir até 250 mil unidades por ano (Fiat,
2014a; Entrevistado E1, 2014; Entrevistado E2, 2014).
Segundo a FIAT Automóveis a educação e a inovação foram eleitas como os pilares de
suas estratégias socioculturais (Entrevistado E2, 2014). A contribuição da empresa para a
sociedade seria na “formação de cidadãos mais conscientes e criativos, instigando-os a
construir um novo futuro para si mesmos e para o país” (Fiat, 2014b). Entende-se aqui que a
proposta da RSBCJS e a proposta de contribuição da FIAT para a sociedade estabelece grande
sintonia, observe os depoimentos coletados:
[...] O movimento Nossa Betim surgiu mais como uma percepção de necessidade da
FIAT do que de um desejo do próprio município. Não foi o município ou um grupo de
pessoas deste município que de fato percebeu a necessidade de um movimento como
este na cidade. [...] Surgiu da FIAT a percepção de algo que contribuísse com a cidade
neste âmbito educativo, né... [...] (Entrevistado OSCs2).
146
[...] uma empresa poder contribuir para um projeto (MNB) desse, para a imagem dela
(empresa) é muito bom. Nós sabemos que a Fiat apresenta o Nossa Betim em algumas
apresentações. As pessoas ficam sabem do Nossa Betim via FIAT. Para a empresa esta
ligada e contribuindo com um projeto que está contribuindo para a cidade, mesmo, de
forma efetiva, para a imagem dela é muito bom. Hoje o que e mais caro em uma e
empresa é marca (Entrevistado MNB4).
[...] percebe-se que a cidade precisava de um movimento sério, apartidário, de
credibilidade, que produza informações de qualidade sobre os indicadores, que
produzisse informação confiável sobre a qualidade de vida do município e que ajude o
governo, as ONGs, as universidades, empresas...seja o que for a tomar melhores
decisões a respeito do município... a partir do momento que tem acesso as informações
que ainda não existiam e que tenham acesso para discutir o que são prioridades, o que
precisa ser feito em politicas públicas, o que precisa ser feito nos projetos de extensão
da universidade, nos programas de responsabilidade social das empresas. Enfim, é isso
que o MNB se propõem apesar de muito novo ainda já tomou passos significativos
nessa direção [...] (Entrevistado E2).
[...] A oportunidade do MNB apresentar temas para o município, seja através de
propostas, diálogos, cursos de formação cidadã, ele vai levando para os cidadãos o
sentimento e o estimulo da participação cada vez mais apurada e consciente e realmente
amis continuada, que ela não aconteça somente os momentos de eleições, audiências
públicas, ou demandas especificas de alguns grupos de cidadãos. Entendemos que essa
é a principal contribuição: conseguir trazer para os cidadãos comuns o interesse pelo
dia-a-dia da cidade, pela política e na participação das decisões e futuro da cidade que
eventualmente, entendo eu, é muito cômodo delegar aos políticos, apesar de serem
legitimamente os representantes dos cidadãos, mas delegar somente no momento do
voto e não acompanhar junto com estes representantes. Discutir debater no dia-a-dia da
cidade (Entrevistado E1).
Como é exposto no depoimento do entrevistado E2 acima é possível notar que no
discurso institucional da FIAT existe um foco na sustentabilidade. A empresa afirma que tal
discurso é apoiado na existência de uma união plena entre o desenvolvimento e a
sustentabilidade. Defende ainda que “por compreender que as empresas são parte de
comunidades dinâmicas, e cada vez mais participativas, a Fiat valoriza o relacionamento
intersetorial, articulando-se, permanentemente, com o governo e a sociedade civil” (Fiat,
2014b). Assim, cada passo dessa indústria envolveria um equilíbrio entre perspectivas
econômicas, ambientais e sociais (Fiat, 2014b), como também realça um depoimento:
147
[...] todos nós compartilhamos um determinado território e utilizamos os recursos deste
território, portanto somos todos responsáveis por desenvolver e atuar no seu
desenvolvimento. [...] na verdade o desenvolvimento sustentável é bom para os
negócios. Como uma empresa vai operar em uma cidade onde ela não encontra mão de
obra qualificada para ela contratar [...] O desenvolvimento sustentável é bom para todo
mundo. Se não tiver desenvolvimento sustentável, se a água acabar, se tudo ficar
poluído as empresas vão produzir o que para vender pra quem? Então o
desenvolvimento sustentável interessa de forma muito direta e positiva a todo mundo.
[...] (Entrevistado E2).
Desde 1990 a FIAT começou a direcionar ações para o meio ambiente, através de seu
Sistema de Gestão Ambiental ou SGA. O SGA afirma ter alcançado redução de vetores
energéticos, redução de resíduos e a conscientização ambiental em todos os níveis
hierárquicos da empresa (Fiat, 2014c). Além do tópico meio ambiente, a empresa desenvolve
ações para a cultura, como por exemplo, o espaço da Casa Fiat de Cultura. A empresa
desenvolve ações voltadas para a educação no trânsito e também para a inclusão social, haja
vista o projeto Árvore da Vida que busca “retratar a união de forças entre a Fiat, as
comunidades envolvidas pelas ações de responsabilidade social da empresa e os integrantes
da Rede Fiat de Cidadania” (Fiat, 2014d).
O Nossa Betim aparece como uma proposta no mesmo âmbito e tema do projeto Árvore
da Vida. A FIAT afirma, assim como o próprio Nossa Betim, que os recursos que financiam o
MNB vêm de pessoas e empresas alinhadas com um pensamento de compartilhamento da
questão social daquele município (Fiat, 2014d). Integrantes do movimento encaram a
presença da FIAT no Nossa Betim como patrocinador e parceiro como algo de extrema
importância e até mesmo vital para o andamento da inciativa:
[...] Eu diria que a influencia deles (FIAT) no plano estratégico foi total e isso é até
hoje. (Entrevistado MNB3).
[...] Hoje nos temos uma relação madura coma Fiat, ela faz parte do comitê gestor. Ela
não participa só como financiadora. Ela tem representantes no nosso comitê gestor, há
uma sensibilidade das pessoas que participam lá pela causa. Não é uma questão só
148
financeira, eles participam por realmente acreditarem naquela causa. Há um respeito da
Fiat com o que é feito pelo movimento. (Entrevistado MNB4).
[...] estamos numa situação de que se a FIAT falar “não” nós fechamos. Nós deixamos
de existir... hoje é essa a situação (Entrevistado MNB1).
Foi possível tecer a análise de que o MNB ao mesmo tempo em que percebe a FIAT
como elementar para a inciativa também pode trazer situações de limitação e pouca
independência. Por ser uma parceira e a principal financiadora, a FIAT demanda metas do
MNB, se aproximando de uma lógica investimento-resultado. Porém tal situação gera
conflito, já que o “resultado” proveniente do MNB está muitas vezes em um âmbito mais da
construção para uma possibilidade de alcance em longo prazo do objetivo final. Uma lógica
de resultados imediatos foge ao campo de atuação do MNB o que por sua vez traz um desafio
para o movimento de mostrar resultados e êxitos para sua atual financiadora:
[...] eles (FIAT) falam “ queremos continuar apoiando, mas mostre mais resultado”. Os
resultados são poucos, então eles querem que nós saibamos mostrar os resultados
obtidos... “me mostre o quanto o NB é importante para Betim.” [...] Então temos que ir
atrás das mudanças e o que foi feito na cidade em função da atuação dos Nossa Betim,
principalmente em relação aos dados...de como os dados gerados pelo NB tem causado
efeito (Entrevistado MNB1).
Até hoje, nenhuma empresa nos disse que a nossa causa não é válida ou que o Nossa
Betim não seja importante. Mas a gente entende que o momento da economia não está
propício para investimento. Infelizmente aonde se corta é em RH, é em investimento de
projetos... Então, o maior desafio é fazer a empresa entender que ela vai ter um retorno
positivo com isso. Ela tem um papel social e que essa sociedade faz parte da empresa e
que a empresa faz parte da sociedade. O retorno também é positivo pra ela. Num é uma
coisa abstrata “que é para UM DIA a cidade melhorar.”. É uma coisa concreta
(Entrevistado MNB4).
Diante desse desafio percebido tanto pela FIAT como pelo MNB existe uma
preocupação de ambos os lados de não mais se concentrar na FIAT como o principal
financiadora e parceira da iniciativa privada, observe os depoimentos colhidos:
149
[...] a FIAT está vivendo um processo de revisão das suas praticas de RSE
completamente influenciadas pelas informações do Nossa Betim e pela pratica de
levantar dados sobre o território em que ela atua, [...] acreditamos que outras empresas
podem utilizar estas informações para planejar melhor suas ações de RSE, assim como
as universidade e etc [...] Já é uma decisão da empresa, de que se nos próximos anos o a
FIAT não conseguir mais contribuir com o MNB, não vai deixar de participar
ativamente, porque ela pode, por exemplo, disponibilizar hora do seu funcionário para
está lá participando do Nossa Betim, sem ser assim, necessariamente, um apoio e
participação financeira. Porque ela quer continuar participando (Entrevistado E2).
[...] A Fiat tem uma influencia de 100%. Ela participa diretamente da gestão do Nossa
Betim... [...] Agora, em um médio prazo, quando que o Nossa Betim vai ter a sua
identidade própria de gestão? eu acho que é uma questão de tempo [...] Não é que
vamos falar “A FIAT é só financiadora.”. Além dele financiar ele tem muito interesse
neste tipo de tema. (MNB3).
[...] até o ano que vem selamos o compromisso de ter mais 2 financiadores ou recursos
de projetos para demonstrar que nós não estamos contando só com a FIAT.. e nem
queremos ter esse dependência. Porque nós não divulgamos isso lá fora “Ah, a FIAT é
quem nos banca”, mas sim “ Nós somos bancados por recursos privados. Não tem
recurso público.” (Entrevistado MNB1).
Além da questão da dependência, a FIAT se depara com o desafio, pelo menos em seu
discurso, de demonstrar ao movimento e ao restante da sociedade civil que a mesma não
possui intenção de influencia a atuação do MNB (Entrevistado E1; E2). Tal situação é
contraditória já que de alguma medida a FIAT financia o MNB e assim espera alguma
devolutiva:
[...] Uma dificuldade é deixar claro que a participação da FIAT como financiadora não
busca influenciar as ações do Nossa Betim, isso tanto para o pessoal da FIAT como para
o pessoal que trabalha no Nossa Betim (Entrevistado E2).
Mesmo diante das dificuldades e desafios a FIAT encara o MNB como uma iniciativa
que ajuda a complementar os objetivos e estratégias da própria empresa. Como afirma um dos
entrevistados da iniciativa privada “[...] Pra FIAT o Nossa Betim é um espaço de diálogo com
o governo” (Entrevistado E2).
150
As ações de participação e de controle social, ou seja, de accountability social do MNB
passam por supervisão da FIAT. Este cenário pode alimentar a característica de relação de
diálogo e menos conflitiva que a priori o MNB já traz da RSBCJS. Sendo a FIAT uma
empresa privada a mesma busca não entrar em conflito com a gestão local onde atua, uma vez
que a gestão local pode ser alterada em uma periodicidade, mas a intenção inicial da empresa
é de permanecer em tal local por um longo período de tempo. Logo a FIAT ser vinculada com
um movimento social de contestação, de reivindicação por reivindicação, de ataques diretos
ao poder público e sua gestão não se mostra interessante e atraente para as estratégias de
atuação da FIAT. Como consequência disso, o movimento se encontra mais uma vez
enquadrado em um modelo de atuação, levando que o mesmo se aproxime mais de ser uma
iniciativa provedora de dados políticos e sociais da cidade do que um movimento atuante no
controle social e nas instâncias de participação. Tomar sempre uma atitude passiva em relação
ao governo local pode prejudicar a accountability por ele exercida. Do outro lado, o MNB se
depara com a realidade reproduzida em depoimentos pelos integrantes, que a questão
financeira para as ações do MNB possui um caráter limitante. Logo, atuar sem um financiador
sustentando as ações e propostas torna-se algo paralisante para o MNB.
Na busca por diversificar a fonte financeira, o MNB opta por se aproximar de outras
empresas, convidá-las a conhecer a proposta e por fim alcançar um novo parceiro financeiro.
Mediante aos depoimentos dos integrantes do MNB e das pessoas das OSCs o perfil
empresarial de Betim, em sua maioria, ainda é tradicional. Ao caracterizarem como
tradicional busca-se apontar que as empresas de pequeno e de grande porte presentes na
região buscam atuar por meio de doações pontuais, apoiar instituições com caráter mais
assistencialista, onde os resultados do dinheiro investidos são mais claros e de fácil percepção.
Tal situação pode ser ilustrada pelos seguintes depoimentos:
151
[...] Porque o setor de responsabilidade empresarial de Betim ainda é imaturo. Eles
preferem financiar um projeto mais tradicional para eles (exemplo uma creche), do que
um que eles ainda estão a procura de entender o que é. [..] É um projeto que ajuda a
criar indicadores para a cidade, que vai monitorar o orçamento público, que ensina o
cidadão a ter um voto mais consciente... Isso é novo para o empresário. Eles estão
acostumados a fazer uma doação mais tradicional, a ajudar criança, idosos e etc. Eles
não conseguem ver um projeto com uma agenda mais ampla em que todos deveriam
participar (Entrevistado MNB3).
[...] As empresas de Betim não tem esse olhar para parceria com o terceiro setor. [...]
notamos não tem esse olhar de “nossa, vamos fazer pela cidade” ... Isso não existe e é aí
onde queremos trabalhar... queremos começar o Fórum Empresarial, para começar a
sensibiliza o empresariado para uma união com a sociedade e também com o gestor
público (Entrevistado MNB1).
[...] As empresas tradicionais muitas vezes preferem investir em projetos
assistencialistas. Um projeto que vai levar uma bola para a comunidade, um projeto que
vai levar formação para um cara que vai ser mecânico ou um projeto que vai levar
formação para ele ser um pintor... isso que é muito de assistência, não um projeto que
pense mais em baixo, mais na raiz do problema, eu posso dar condição para esse cara
trabalhar, mas a cidade tem que dar condição para ele captar com o que ele quer
trabalhar [...] (Entrevistado MNB4).
Uma financiadora e parceira do MNB, citada pelos entrevistados e também encontrada
no levantamento dos dados primários, é a empresa ISVOR. Esta é uma universidade
corporativa do Grupo FIAT, que atua também para outras empresas do mercado corporativo.
Percebemos que talvez por fazer parte do Grupo FIAT o discurso e atuação da RSE do
ISVOR é bastante similar, observe o depoimento de um entrevistado:
[...] quanto mais as pessoas conhecerem os indicadores e conhecer as promessas...e elas
começarem a falar “mas você prometeu fazer isso e o indicador continua o mesmo.” Tá
entendendo? [...] acho que o Nossa Betim traz isso, ele busca mostrar algo... “estou te
dando as ferramentas para você fazer isso”. (Entrevistado E3).
O ISVOR afirma ser uma empresa capaz de promover o aprendizado colaborativo e
com isso contribuir para os resultados do negócio (Isvor, 2014). A sua forma de atuação junto
ao MNB é similar ao que a FIAT realiza: participação em reuniões, auxílio na elaboração de
ideias, projetos e decisões.
152
Com base no levantamento de dados secundários foi possível encontrar outras empresas
que patrocinam o MNB, porém de forma menos expressiva que a FIAT. Essas empresas são a
Johnson Controls, Proema. Powercoat, LdbLames e FormatapInterni. São empresas voltadas
para o fornecimento de produtos, serviços e soluções de qualidade para otimizar a eficiência e
a operação de edifícios, baterias para veículos convencionais, híbridos e elétricos e também
sistemas de interiores e componentes para automóveis. Por serem empresas que trabalham
principalmente com o fornecimento de peças para carros, um dos clientes da Johnson Controls
é a FIAT Automóveis (Fiat Novo Uno, 2014; Johnson Controls, 2014a; 2014b; Proema, 2014;
Powercoat, 2014). Nenhuma destas empresas foram citadas pelos entrevistados como
parceiras ou financiadoras, estas são encontradas somente por meio de pesquisa no site oficial
do MNB (Nossa Betim, 2014g), no depoimento do entrevistadoMNB3 podemos observar que
as outras empresas que apoiam de alguma forma o MNB estão atreladas a FIAT:
[...] Nos próximos anos com entrada de outras empresas sem ser por influencia da FIAT
e sim pela causa, é que provavelmente a FIAT terá uma menor interferência [...]
(Entrevistado MNB3).
O MNB atua muito em prol da educação, informação, conhecimento como solução.
Diante desse estilo de atuação acabou por se aproximar de empresas com a mesma estratégia
de ação. Apesar de ser uma iniciativa exitosa é possível perceber uma crítica sobre a
aproximação da lógica tecnicista de atuação do MNB, uma vez que o mesmo acredita que
uma vez disponibilizadas as ferramentas, no caso do nosso estudo a educação cidadã e os
indicadores, seria possível se realizar o objetivo, que no caso seria a participação popular e a
accountability societal em âmbito local.
[...] o cidadão ter uma base de dados relevantes é algo importantíssimo par que ele possa
entender a sua cidade com clareza e atuar [...] Os números trazem algo e a vivência
extrapola o que o numero quer dizer [...]é importante este sistema de dados como algo
153
relevante para os cidadãos conhecerem melhor a cidade, para pensar melhor a cidade e
conseguir atuar sobre ela também (Entrevistado E1).
Porém, o que é observado na cidade Betim é que mesmo a população diante desta
ferramenta, o MNB, as ações de accountability societal ainda fica restrita a poucas pessoas, o
que demonstraria a ineficiência deste modelo de ação e nos traz uma possibilidade de
discussão sobre a elitização da participação que ocorre na cidade sendo também sustentada
pelas empresas que apoiam o MNB.
154
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos considerar que a atuação do Nossa Betim está inserida em um contexto que
caminha para uma ampliação da presença da sociedade civil na gestão pública local brasileira
e que este caminho, após 26 anos da reforma da Constituição Federal brasileira, ainda
apresenta diversos empecilhos para se levar a diante a realização e ampliação das ações de
accountability societal nos municípios. A análise feita com base na perspectiva teórica da
democracia participativa, gestão pública local, movimentos sociais e suas formas de atuação,
as possibilidades de relacionamento intersetorial e ações realizadas pela sociedade civil a fim
de realizar accountability, demonstrou que o recorte empírico desta pesquisa, o MNB,
reproduz uma faceta da realidade brasileira sobre a atuação das OSCs no governo local, sobre
sua interferência na construção de políticas públicas e na gestão pública local de forma geral.
O MNB tem reivindicado maior participação nas instituições encarregadas da
deliberação sobre políticas públicas nas diversas áreas da política urbana e busca atuar com
uma instituição geradora de informações acerca da cidade, para assim qualificar o cidadão e
prepará-lo para uma participação e controle social baseados, principalmente, em indicadores
intraurbanos. Ao buscar este caminho, o MNB consolida o modelo de democracia
participativa, somando-se ao já exercido pelo modelo representativo. Assim, tal iniciativa
estaria buscando quebrar a lógica do privilégio decisório, difundindo práticas de
compartilhamento entre o Estado e a sociedade civil em espaços públicos.
A intenção de cada vez mais educar a população local em relação à realidade da cidade,
por meio de cursos, palestras, informações sobre as instâncias participativas já existentes tem
se colocado, cada vez mais, como a função principal do MNB e tal proposta encontra base em
eixos teóricos como o da democracia participativa e accountability.
155
De forma geral, as ações do MNB podem ser caraterizadas como ações de controle
social sobre a gestão pública local, porém permeadas pelo interesse de instituições privadas ,
como a FIAT, outra característica seria a forma de atuação baseada no caminho delineado
pela RSBCJS. Um dos avanços nos processos de accountability societal compartilhados entre
os movimentos da RBCJDS, e que se estende ao MNB, é a implantação do Plano de Metas e
PCS.
Os objetivos específicos delineados buscaram responder a pergunta de partida e por fim,
atingir a demanda do objetivo geral. Dessa forma, ao descrever a formação, trajetória, forma
de atuação do MNB, primeiro objetivo específico, chegou-se a conclusão que a FIAT exerce
papel fundamental e de grande peso para que as ações do MNB sejam possíveis de serem
executadas, não só pelo suporte financeiro, mas como também pelo suporte institucional que
ajuda a propagar o trabalho do MNB. Porém, o acolhimento da inciativa pelos demais
elementos da sociedade civil de Betim é baixo e alguns entrevistados temem a perpetuação da
dependência do Nossa Betim em relação a FIAT. Outra queixa dos entrevistados é que os
cidadãos de Betim não entendem as ações e objetivos do MNB e por isso não participam.
Esse argumento só reforça que a proposta do MNB é algo externo a demanda e vontade da
maior parte da sociedade civil de Betim e, portanto, se torna de difícil assimilação e
acolhimento.
Podemos pensar que o MNB é uma iniciativa predominantemente da classe média e isso
traz um teor de inovação para a temática da democracia participativa, da accountability e para
as ações coletivas, já que na história é possível observar que a classe média nem sempre é a
classe social que busca participar e incidir nas políticas públicas. Dessa forma, o MNB e as
iniciativas da RSBCJS assim como a RLACTJS, configuram-se como um exemplo de
inovação no que concerne a participação da sociedade civil na vida política na medida em que
se configura como espaços de engajamento de atores sociais, oriundos da classe que
156
tradicionalmente não se envolviam em iniciativas voltadas ao interesse público e a ação
coletiva através de movimentos sociais. Tal característica do MNB pode ajudar a entender
porque muitas vezes em seu discurso, os membros do MNB, se distanciam do corpo das
OSCs tradicionais de Betim, quando dizem, por exemplo, que o MNB está à disposição da
população betinense para ajudá-los a participar dos processos políticos da cidade.
O perfil das ações do MNB se concentram, praticamente em sua totalidade, na
promoção de cursos, palestras de formação cidadã, no Plano de Metas e nos indicadores. O
MNB assume como verdade o que parte da produção e literatura acadêmica diz a respeito da
cultura social e política brasileira. Portanto, o MNB parte do princípio que o brasileiro possui
um perfil desinteressado e, consequentemente, o betinense atuaria da mesma forma em
relação as possibilidades de participação na gestão pública local ou sobre qualquer questão
acerca da temática política pode ser uma das causas. O MNB, seus parceiros e financiadores
defendem que este desinteresse é oriundo do baixo nível de informação e formação cidadã.
Logo, os elementos da educação e da formação cidadã aparecem como eixo principal e
idealizado de ação. Porém, cabe destacar que trabalhar somente sob este prisma é banalizar ou
simplificar uma questão complexa e de grande extensão de enraizamento histórico sobre a
cultura política nacional, que desperta muitos debates, inclusive sobre suas transformações
nos últimos anos, para além do lugar estereotipado do brasileiro como povo pouco politizado,
engajado e reprodutor de vícios clientelistas e assistencialistas.
Ao verificar o tipo de participação do MNB, segundo objetivo específico, foi possível
notar que é uma participação que incita a burocracia para o processo, já que fica presa aos
indicadores e acompanhamento do Plano de Metas. Além disso, o MNB acaba por determinar
um tipo ideal de participação, o que traz a tona um perfil elitista de participação. Tal cenário
se estabelece porque quando o MNB aponta como caminho uma necessidade vital de se
conhecer, possuir informação e ter conhecimento sobre os indicadores, etc., para ter acesso à
157
participação nos processos do governo local. Sendo assim, o MNB está, implicitamente,
dizendo que outra forma ou tipo de “saber” não é válido para que o cidadão participe. O que
seria por si só uma contradição á proposta da educação em si, sobretudo aquela que buscaria a
promoção de uma pedagogia emancipatória e engajada politicamente, já que para essa todo
saber social é relevante e digno de consideração na discussão política. Além disso, a
tecnocracia é absorvida pelo MNB sem maiores considerações críticas sobre tal dinâmica, se
fazendo presente no delineamento criterioso de etapas, formas e metas para alcançar o
objetivo final. O MNB, ao focalizar em um só elemento para a construção da real mudança
sociopolítica, fica preso as amarras da tecnocracia e do elitismo participativo para realizar
participação na gestão pública local.
Ao analisar a relação que o MNB estabelece com empresas privadas e com o Estado
sob a perspectiva da accountability societal, terceiro objetivo específico, foi possível perceber
que em relação a iniciativa privada, destacando-se aí a FIAT, a relação acaba se configurando
como de dependência, o que pode colocar em risco a legitimidade da inciativa e afastá-la do
real contato com outras OSCs, inclusive devido ao predomínio de uma linguagem e
comportamento empresarial em várias ações do MNB. Outra situação que foi percebida e
analisada ao longo da pesquisa foi que além da prestação de contas que o MNB deve realizar
para a FIAT, existe outro ator a quem o MNB deve responder: a RSBCJS. Esses dois atores
acabam por dominar as preocupações e ênfases na prestação de contas, configurando uma
verdadeira armadilha de controle social para quem pretende exercer controle sobre outros.
Nesse aspecto, os resultados encontrados na presente pesquisa se alinham a achados
semelhantes obtidos por outros estudos ao analisarem a prestação de contas de OSCs em
outras realidades.
Foi possível notar que o relacionamento com a prefeitura caminha para uma parceria de
subordinação, uma vez que a prefeitura encara o MNB como somente uma fonte de dados
158
para manutenção e conclusão do Plano de Metas e do PCS. O MNB não se coloca como um
ator que faz cobranças à prefeitura, com um tom de confronto. Esse busca fazer a cobrança
por meio do diálogo, o que pode levar a prefeitura a encará-lo como aliado ou parceiro. O fato
do MNB possuir um perfil mais de diálogo com o poder local, com menor teor de embate é
oriundo de uma característica da RSBCJS e tal característica é ainda mais reforçada quando
temos a presença de instituições privadas do porte da FIAT Automóveis. Já que para a FIAT
não é parece ser interessante apoiar e dar base a um movimento social que possui uma relação
de combate ou de conflito com a prefeitura de Betim. Dessa forma, o MNB pode não
conseguir firmar uma identidade própria de independência e controle social no contexto
sociopolítico da cidade devido a uma demanda, muitas vezes implícitas e subliminar, dessas
duas instituições.
Tal realidade vivida pelo MNB gera um cenário de isomorfismo mimético e a
manutenção de uma situação de dependência em relação às organizações financiadoras da
iniciativa. Portanto, torna-se difícil a identificação do que realmente é uma ação oriunda do
MNB. Um exemplo mais concreto disso seriam o Plano de Metas, o PCS e o Sistema de
Indicadores. Todas estas ações são complementares entre si e respondem a um caminho já
delineado pela RSBCJS e se encontram, até a finalização desta pesquisa, como as principais
ações do MNB.
Ao discutir as perspectivas, armadilhas e limitações do MNB, quarto e último objetivo
específico, foi possível concluir que as ações de accountability exercidas por movimentos
sociais oriundos do RSBCJS, como o MNB, têm ganhado cada vez mais espaço no Brasil e na
América Latina, haja vista a RLACTJDS. Porém, ainda persistem importantes traços de
relações políticas fundadas no clientelismo, paternalismo, nepotismo, demagogia e excessivo
poder dos tecnocratas, que trazem importantes desafios para os avanços na promoção da
159
accountability societal e sua manutenção no longo prazo, sobretudo no nível da gestão pública
local.
Mediante as análises e dados encontrados nos objetivos específicos foi possível
construir uma análise crítica em torno do objetivo geral da pesquisa. O MNB realiza a
accountability societal no governo local por meio de geração de informações e indicadores
sobre a cidade, acompanhamento do Plano de Metas e geração de espaços de diálogo entre os
três setores da sociedade. Mediante a pesquisa realizada notou-se que manter o foco das ações
do MNB em formação cidadã, palestras, dados e indicadores não têm mostrado êxito no que
tange atingir a participação popular para além do corpo estrutural do MNB. Os dados desta
pesquisa revelam que este tipo de atuação do MNB contribui para um aumento burocrático
nos processos participativos e acentuação de um perfil elitista de participação na promoção do
accountability societal, configurando com isso o maior empecilho e o maior desafio para o
próprio processo de controle social da gestão pública local no Brasil.
Avançar na transparência e divulgação das informações sobre o gerenciamento da
máquina pública, envolver cidadãos na discussão e tomada de decisões sobre as políticas
públicas e desenvolver mecanismos mais rigorosos de acompanhamento na implementação
das decisões deliberadas se constituem em desafios importantes atualmente para todos aqueles
preocupados com os avanços da gestão pública.
Esses desafios estão presentes dentro na cultura política brasileira, que servem com
amálgama nos processos de luta pela ampliação da participação popular. Essa cultura acaba
por levar os cidadãos a não distinguir seu comportamento no ambiente público e no privado,
assim como a noção do que é público e do que é privado. Somado a isso, difunde-se cada vez
mais uma percepção negativa da política, na qual o Estado é visto como aquele que deve
prover em totalidade a sua sociedade e assim, a sociedade, em sua maior parte, assume uma
posição passiva em relação as ações e soluções oriundas do governo.
160
Pesquisas que buscam analisar como os movimentos sociais fomentados por empresas
ou instituições acadêmicas desenvolvem a accountability se mostram necessárias, haja vista o
grande número deste tipo de movimentos que estão surgindo da RSBCJS. Analisar como os
movimentos de controle social, como os da RSBCJS, que são financiados por grandes
empresas, lidam com o dilema de realizar seus objetivos sob a sombra de outra instituição,
tendo que lidar com as limitações, demandas e expectativas impostas se constitui em um
importante tema de investigação.
Novas pesquisas também poderiam ser realizadas no sentido de se comparar as atuações
dos diversos movimentos da RSBCJS ou mesmo da RLACTJS. Buscar comparar movimentos
sociais que possuem objetivos semelhantes, como AMARRIBO e as Redes, mas que possuem
formas de atuação divergentes se coloca como uma boa opção para futuras pesquisas, isso
pela necessidade de se compreender qual destes modelos, um mais baseado no embate com o
poder público local e outro mais voltado ao diálogo com a gestão pública, têm surtido mais
efeito em promover a participação popular no Brasil.
Analisar os tipos de participação popular que existem e compará-las com as
expectativas criadas ao redor da mesma pode ser outra sugestão de pesquisa que contribua na
compreensão dos empecilhos em torno da accountability societal. Por fim, sugerem-se
pesquisas que busquem aprofundar a análise a partir da literatura e dos temas clássicos sobre o
pensamento social e a cultura política brasileiros, visando descortinar as barreiras à baixa
participação popular e ao controle social realizado pelas OSCs, mesmo mediante as
informações e possibilidades de formação cidadã.
Espera-se, assim, que esta pesquisa possa servir de inspiração e fonte para futuros
pesquisadores do campo de conhecimento da democracia participativa, relações intersetoriais
e ação coletiva voltando-se para os processos accountability na gestão pública local no
contexto brasileiro, assim como no exterior.
161
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172
APÊNDICE
A Roteiro de entrevista para membros do MNB
Q1. Fale sobre sua trajetória de vida e sobre o seu envolvimento com o Nossa Betim. (O que o
levou a participar do Nossa Betim?).
Q2. O que levou ao surgimento do Nossa Betim? Como você analisa a evolução do Nossa
Betim? (O que o Nossa Betim busca trazer para a cidade? Quais as principais características
do Nossa Betim? Qual é o papel que o Nossa Betim desempenha para a cidade?)
Q3. Como você analisa a participação da população na gestão pública em Betim? (Fases,
períodos de avanço, retrocessos, desafios, ...).
Q4. Como você analisa as relações políticas na cidade de Betim? (Quais são os aspectos
positivos para o exercício da democracia? E os desafios a serem superados? Como superar as
relações políticas nefastas – clientelismo, paternalismo, coronelismo, – existentes em Betim?).
Q5. Como você analisa a transparência da gestão pública em Betim? E o controle social da
gestão pública em Betim? Qual o papel do Nossa Betim nesse contexto?
Q6. Analise a relação das empresas com as ONGs de Betim? (Quais os aspectos positivos
dessa relação? E os desafios a serem superados? Como isso influencia o Nossa Betim?)
Q7. Quais são os avanços alcançados pela sociedade civil na promoção de uma Betim mais
justa e sustentável? (E os desafios a serem superados? Qual o papel do Nossa Betim nesse
contexto?).
Q8. Fale sobre relacionamento entre as organizações da sociedade civil, empresas e prefeitura
em Betim. (Como é o diálogo entre esses atores?)Como o Nossa Betim tem atuado nessa
agenda?
Q9. Faça uma análise da atuação do Nossa Betim em termos de:
a. Acompanhamento e controle do Plano de Metas;
b. Monitoramento e Controle da Gestão Pública;
Q10. Analise as ações do Nossa Betim para mobilização da população da cidade. (Quais são
as mais bem sucedidas? Quais os desafios encontrados? Poderia analisar as ações de
mobilização que tiveram maior impacto? O que é preciso fazer para mobilizar mais pessoas
em torno do Nossa Betim?).
Q11. Descreva a relação do Nossa Betim com a prefeitura? (Existem desafios a serem
superados? Como o poder público em Betim reagiu à publicação dos indicadores? Já foram
feitas cobranças mais diretas com a prefeitura? Se não, por quê? E a questão do Plano de
Metas?).
Q12. Descreva a relação do Nossa Betim com as empresas. Como você avalia a relação do
Nossa Betim com a Fiat? (Porque as empresas se interessaram em apoiar o Nossa Betim?
173
E com as outras empresas apoiadoras do Nossa Betim? Quais os aspectos positivos? E os
desafios a serem superados? Qual a influência dos financiadores junto ao Nossa Betim? Qual
o impacto das ações do Nossa Betim sobre as empresas financiadoras?).
Q13. Como você analisa a relação da Fundação Avina com o Nossa Betim? (Quais os
aspectos positivos? E os desafios a serem superados? Qual a influência da Fundação Avina
sobre o Nossa Betim?).
Q14. Quais são as perspectivas futuras para o Nossa Betim? (Quais são os desafios futuros a
serem enfrentados? Como ficará o Plano de Metas em Betim?
E o controle social da gestão pública?).
Q15. Dados pessoais: Idade; Tempo de residência em Betim (caso resida na cidade);
escolaridade; formação; organização na qual atua; estado civil e número de filhos.
174
B Roteiro de entrevista para Empresas
Q1. Fale sobre sua trajetória de vida e profissional. Comente sobre o papel que você
desempenha na empresa.
Q2. O que levou ao surgimento do Nossa Betim? Como você analisa a evolução do Nossa
Betim? (O que o Nossa Betim busca trazer para a cidade? Quais as principais características
do Nossa Betim? Qual é o papel que o Nossa Betim desempenha para a cidade?).
Q3. Analise a relação das empresas com as ONGs de Betim? (Quais os aspectos positivos
dessa relação? E os desafios a serem superados? Como isso influencia o Nossa Betim?).
Q4. Descreva a relação do Nossa Betim com as empresas. Como você avalia a relação do
Nossa Betim com a Fiat? (Porque as empresas se interessaram em apoiar o Nossa Betim? E
com as outras empresas apoiadoras do Nossa Betim? Quais os aspectos positivos?E os
desafios a serem superados? Qual a influência dos financiadores junto ao Nossa Betim? Qual
o impacto das ações do Nossa Betim sobre as empresas financiadoras?).
Q5. Como você analisa a participação da população na gestão pública em Betim? (Fases,
períodos de avanço, retrocessos, desafios).
Q6. Como você analisa as relações políticas na cidade de Betim? (Quais são os aspectos
positivos para o exercício da democracia? E os desafios a serem superados? Como superar as
relações políticas nefastas – clientelismo, paternalismo, coronelismo, – existentes em Betim?).
Q7. Descreva a relação do Nossa Betim com a prefeitura? (Existem desafios a serem
superados? Como o poder público em Betim reagiu à publicação dos indicadores? Já foram
feitas cobranças mais diretas com a prefeitura? Se não, por quê? E a questão do Plano de
Metas?)
Q8. Fale sobre relacionamento entre as organizações da sociedade civil, empresas e prefeitura
em Betim. (Como é o diálogo entre esses atores?)Como o Nossa Betim tem atuado nessa
agenda?
Q9. Quais são as perspectivas futuras para o Nossa Betim? (Quais são os desafios futuros a
serem enfrentados? Como ficará o Plano de Metas em Betim? E o controle social da gestão
pública?).
Q10.Você gostaria de acrescentar alguma informação?
Q11. Dados pessoais: Idade; Tempo de residência em Betim (caso resida na cidade);
escolaridade; formação; organização na qual atua; estado civil e número de filhos.
175
C Roteiro de entrevista para organizações da sociedade civil
Q1. Fale sobre sua trajetória de vida e sobre o seu envolvimento com o Nossa Betim. (O que o
levou a participar do Nossa Betim?).
Q2. O que levou ao surgimento do Nossa Betim? Como você analisa a evolução do Nossa
Betim? (O que o Nossa Betim busca trazer para a cidade? Quais as principais características
do Nossa Betim? Qual é o papel que o Nossa Betim desempenha para a cidade?).
Q3. Como você analisa as relações políticas na cidade de Betim? (Quais são os aspectos
positivos para o exercício da democracia? E os desafios a serem superados? Como superar as
relações políticas nefastas – clientelismo, paternalismo, coronelismo – existentes em Betim?).
Q4. Como você analisa a participação da população na gestão pública em Betim? (Fases,
períodos de avanço, retrocessos, desafios).
Q5. Analise as ações do Nossa Betim para mobilização da população da cidade.
(Quais são as mais bem sucedidas? Quais os desafios encontrados? Poderia analisar as ações
de mobilização que tiveram maior impacto? O que é preciso fazer para mobilizar mais
pessoas em torno do Nossa Betim?).
Q6. Faça uma análise da atuação do Nossa Betim em termos de:
a. Construção de indicadores de gestão pública;
b. Acompanhamento e controle do Plano de Metas;
c. Atuação dos Grupos de Trabalho (GTs);
d. Captação de parcerias e recursos para funcionamento;
Q7. Analise a relação das empresas com as ONGs de Betim? (Quais os aspectos positivos
dessa relação? E os desafios a serem superados? Como isso influencia o Nossa Betim?).
Q8. Descreva a relação do Nossa Betim com as empresas. Como você avalia a relação do
Nossa Betim com a Fiat? (Porque as empresas se interessaram em apoiar o Nossa Betim? E
com as outras empresas apoiadoras do Nossa Betim? Quais os aspectos positivos? E os
desafios a serem superados? Qual a influência dos financiadores junto ao Nossa Betim? Qual
o impacto das ações do Nossa Betim sobre as empresas financiadoras?).
Q9. Descreva a relação do Nossa Betim com a prefeitura? (Existem desafios a serem
superados? Como o poder público em Betim reagiu à publicação dos indicadores? Já foram
feitas cobranças mais diretas com a prefeitura? Se não, por quê? E a questão do Plano de
Metas?)
Q10. Fale sobre relacionamento entre as organizações da sociedade civil, empresas e
prefeitura em Betim. (Como é o diálogo entre esses atores?) Como o Nossa Betim tem atuado
nessa agenda?
Q11. Quais são as perspectivas futuras para o Nossa Betim? (Quais são os desafios futuros a
serem enfrentados? Como ficará o Plano de Metas em Betim? E o controle social da gestão
pública?).
176
Q12. Dados pessoais: Idade; Tempo de residência em Betim (caso resida na cidade);
escolaridade; formação; organização na qual atua; estado civil e número de filhos.
177
D Roteiro de entrevista para Prefeitura
Q1. Fale sobre sua trajetória de vida e sobre o seu envolvimento com a divisão de
planejamento e gestão da prefeitura de Betim.
Q2. Como você analisa as relações políticas na cidade de Betim? (Quais são os aspectos
positivos para o exercício da democracia? E os desafios a serem superados? Como superar as
relações políticas nefastas – clientelismo, paternalismo, coronelismo,– existentes em Betim?).
Q3. Como você analisa a participação da população na gestão pública em Betim?
(Fases, períodos de avanço, retrocessos, desafios, possíveis soluções...).
Q4. Como você ficou conhecendo o Nossa Betim? Como você analisa a evolução do Nossa
Betim? (O que o Nossa Betim busca trazer para a cidade? Qual é o papel que o Nossa Betim
desempenha para a cidade?).
Q5. Descreva a relação do Nossa Betim com a prefeitura? (Existem desafios a serem
superados? Como o poder público em Betim reagiu à publicação dos indicadores? Já foram
feitas cobranças mais diretas com a prefeitura? Se não, por quê? E a questão do Plano de
Metas?).
Q6. Como você analisa a transparência da gestão pública em Betim? E o controle social da
gestão pública em Betim? Qual o papel do Nossa Betim nesse contexto?
Q7. Analise as ações do Nossa Betim para mobilização da população da cidade.
(Quais são as mais bem sucedidas? Quais os desafios encontrados? Poderia analisar as ações
de mobilização que tiveram maior impacto? O que é preciso fazer para mobilizar mais
pessoas em torno do Nossa Betim?).
Q8. Analise a relação das empresas com a prefeitura de Betim? (Quais os aspectos positivos
dessa relação? E os desafios a serem superados?).
Q9. Fale sobre relacionamento entre as organizações da sociedade civil, empresas e prefeitura
em Betim. (Como é o diálogo entre esses atores? Como o Nossa Betim tem atuado nessa
agenda?).
Q10. Quais são as perspectivas futuras para o Nossa Betim? (Quais são os desafios futuros a
serem enfrentados? Como ficará o Plano de Metas em Betim? E o controle social da gestão
pública?)
Q11.Você gostaria de acrescentar alguma informação?
Q12. Dados pessoais: Idade; Tempo de residência em Betim (caso resida na cidade);
escolaridade; formação; organização na qual atua; estado civil e número de filhos.
178
E Roteiro Teste para entrevista
Q1. Fale sobre sua trajetória de vida e sobre o seu envolvimento com o Nossa Betim. (O que o
levou a participar do Nossa Betim?).
Q2. O que levou ao surgimento do Nossa Betim? Como você analisa a evolução do Nossa
Betim? (O que o Nossa Betim busca trazer para a cidade? Quais as principais características
do Nossa Betim? Qual é o papel que o Nossa Betim desempenha para a cidade?).
Q3. Como você analisa a participação da população na gestão pública em Betim? (Fases,
períodos de avanço, retrocessos, desafios, ...).
Q4. Como você analisa as relações políticas na cidade de Betim? (Quais são os aspectos
positivos para o exercício da democracia? E os desafios a serem superados? Como superar as
relações políticas nefastas – clientelismo, paternalismo, coronelismo, – existentes em Betim?).
Q5.Como você analisa a transparência da gestão pública em Betim? E o controle social da
gestão pública em Betim? Qual o papel do Nossa Betim nesse contexto?
Q6. Analise a relação das empresas com as ONGs de Betim? (Quais os aspectos positivos
dessa relação? E os desafios a serem superados? Como isso influencia o Nossa Betim?).
Q7. Quais são os avanços alcançados pela sociedade civil na promoção de uma Betim mais
justa e sustentável? (E os desafios a serem superados? Qual o papel do Nossa Betim nesse
contexto?).
Q8. Como você analisa a cidade de Betim em termos de: Saúde; Educação; Segurança;
Mobilidade Urbana; Geração de Emprego e Renda; Meio Ambiente; Eficiência da Gestão
Pública; Transparência e prestação de contas da Gestão Pública; Outros temas que queira
mencionar.
Q9. Fale sobre relacionamento entre as organizações da sociedade civil, empresas e prefeitura
em Betim. (Como é o diálogo entre esses atores?)Como o Nossa Betim tem atuado nessa
agenda?
Q10. Faça uma análise da atuação do Nossa Betim em termos de: Construção de indicadores
de gestão pública; Acompanhamento e controle do Plano de Metas; Atuação dos Grupos de
Trabalho (GTs);Monitoramento e Controle da Gestão Pública; Captação de parcerias e
recursos para funcionamento; Relação com outros movimentos de cidades e com a Rede
Brasileira e Latinoamericana de Cidades; Organização interna e infraestrutura de suporte
(profissionais, voluntários, salas, equipamentos, etc.).
Q11. Analise as ações do Nossa Betim para mobilização da população da cidade. (Quais são
as mais bem sucedidas? Quais os desafios encontrados? Poderia analisar as ações de
mobilização que tiveram maior impacto? O que é preciso fazer para mobilizar mais pessoas
em torno do Nossa Betim?).
Q12. Descreva a relação do Nossa Betim com a prefeitura? (Existem desafios a serem
superados? Como o poder público em Betim reagiu à publicação dos indicadores? Já foram
179
feitas cobranças mais diretas com a prefeitura? Se não, por quê? E a questão do Plano de
Metas?).
Q13. Descreva a relação do Nossa Betim com as empresas. Como você avalia a relação do
Nossa Betim com a Fiat? (Porque as empresas se interessaram em apoiar o Nossa Betim?
E com as outras empresas apoiadoras do Nossa Betim? Quais os aspectos positivos? E os
desafios a serem superados? Qual a influência dos financiadores junto ao Nossa Betim?
Qual o impacto das ações do Nossa Betim sobre as empresas financiadoras?).
Q14. Como você analisa a relação da Fundação Avina com o Nossa Betim? (Quais os
aspectos positivos? E os desafios a serem superados? Qual a influência da Fundação Avina
sobre o Nossa Betim?).
Q15.Quais são as perspectivas futuras para o Nossa Betim? (Quais são os desafios futuros a
serem enfrentados? Como ficará o Plano de Metas em Betim? E o controle social da gestão
pública?).
Q16. Dados pessoais: Idade; Tempo de residência em Betim (caso resida na cidade);
escolaridade; formação; organização na qual atua; estado civil e número de filhos.
180
F Quadro estimado dos países e cidades da América Latina que fazem parte da
RLACTJDS, 2014
Nº de
iniciativas
na
América
Latina
Nº de
países País Nome das cidades Nome das iniciativas
1
1 Argentina
Buenos Aires Nuestra Buenos Aires
2 Córdoba Red Ciudadana Nuestra Córdoba
3 Mendoza y Maipú Nuestra Mendoza
4 Rosário Rosario Sustentable
5 San Martín de los Andes
San Martín de los Andes Cómo
Vamos
6
2 Bolívia
Cochabamba Cochabamba nos Une
7 La Paz La Paz Cómo Vamos
8 Santa Cruz Movimiento Ciudadano Santa Cruz
Cómo Vamos
9
3 Brasil
Abaetetuba Rede Nossa Abaetetuba
10 Belém Rede Nossa Belém
11 Belo Horizonte Movimento Nossa BH
12 Betim Movimento Nossa Betim
13 Brasília Movimento Nossa Brasília
14 Camaçari Rede Nossa Camaçari
15 Campinas Movimento Nossa Campinas
16 Campo Grande Movimento Nossa Campo Grande
17 Curitiba Nossa Curitiba
18 Florianópolis Movimento Floripa Te Quero Bem
19 Fortaleza Nossa Fortaleza
20 Holambra Movimento Holambra Linda
21 Ilhabela Instituto Ilhabela Sustentável
22 Ilhéus Instituto Nossa Ilhéus
23 Itatiaia Movimento Inovatatiaia
24 Januária Associação dos Amigos de Januária
25 João Pessoa e Cabedelo Instituto Soma Brasil
26 Joinville Movimento Joinville Nossa Cidade
27 Londrina Fórum Desenvolve Londrina
28 Maceió Movimento Maceió Sustentável
29 Maringá Observatório Social de Maringá
30 Mogi das Cruzes Rede Nossa Mogi das Cruzes
31 Niterói Movimento Niterói Como Vamos
32 Piracicaba Observatório Piracicaba Sustentável
33 Poços de Caldas Associação Poços Sustentável
34 Porto Alegre Porto Alegre Como Vamos
35 Recife Observatório do Recife
36 Rio de Janeiro Rio Como Vamos
37 Salvador Movimento Nossa Salvador
38 Santos Fórum da Cidadania de Santos
39 São Luís Movimento Nossa São Luís
40 São Paulo Rede Nossa São Paulo
41 Teresópolis Movimento Nossa Teresópolis
42 Tucuruí Movimento Tucuruí Sustentável
181
43 Varginha Nossa Varginha
44 Vinhedo Instituto Observatório da Cidadania -
Vinhedo Real
45 Vitória Movimento Nossa Vitória
46
4 Chile
Valdivia – Región de los Ríos Nueva Región Cómo Vamos
47 Villarrica Red Ciudadana de Villarrica
48 Santiago Santiago Cómo Vamos
49 Curacautín Red Ciudadana Futuro Sustentable
de Curacautín
50 Chiloé Chiloé Cómo Vamos
51 Cauquenes Red Ciudad de Cauquenes
52 Valparaíso Nuestro Valparaíso
53 Curacautin Futuro de Curacautin
54 Los Rios Los Rios Como Vamos
55 Ilha Chiloé Chiloé Cómo Vamos
56
5 Colômbia
Área Metropolitana de
Bucaramanga
Bucaramanga Metropolitana Cómo
Vamos
57 Barranquilla Barranquilla Cómo Vamos
58 Bogotá Bogotá Cómo Vamos
59 Cartagena Programa Cartagena Cómo Vamos
60 Cali Programa Cali Cómo Vamos
61 Ibagué Ibagué Cómo Vamos
62 Pereira Pereira Cómo Vamos
63 Manizales Manizales Cómo Vamos
64 Medellín Medellín Cómo Vamos
65 Valledupar Valledupar Cómo Vamos
66
6 Equador
Cuenca Cuenca Ciudad para Vivir
67 Puerto Ayora Comunidades Sostenibles Islas
Galápagos
68 Quito Colectivo En Quito Vivo
69 Tena Red Ciudadana de Tena
70
7 México
Ciudad de México Somos Ciudad de México
71 Guadalajara Jalisco Cómo Vamos
72 Juarez, Chihuhua Así estamos Juarez
73 León Observatorio Ciudadano de León
74 Monterrey Alcalde ¿Cómo Vamos?
75
8 Paraguai
Areguá Areguá Sustentable
76 Asunción Asunción Sustentable
77 Caacupé Caacupé Sustentable
78 Encarnación Encarnación Sustentable
79 Fernando de la Mora Fernando de la Mora Sustentable
80 Pilar Pilar Sustentable
81
9 Perú
Arequipa Arequipa te queremos
82 Lima Lima Cómo Vamos
83 Trujillo Trujillo ¡Ahora!
84
10 Uruguai
Carmelo Carmelo Como Vamos
85 La Paloma La Paloma Como Vamos
86 Montevideo Montevideo Cómo Vamos
87 Punta Del Leste Punta Del Leste Maldonado Como
Vamos
88 Trinidad Trinidad Cómo Vamos