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Mendes, Teresa. 2016. “Acervo do cineclube do Porto: metodologia de tratamento para fins de movimentação e depósitos institucionais”. In Atas do V Encontro Anual da AIM, editado por Sofia Sampaio, Filipe Reis e Gonçalo Mota, 437-448. Lisboa: AIM. ISBN 978-989-98215-4-5. ACERVO DO CINECLUBE DO PORTO: METODOLOGIA DE TRATAMENTO PARA FINS DE MOVIMENTAÇÃO E DEPÓSITOS INSTITUCIONAIS Teresa Mendes 1 Resumo: O Clube Português de Cinematografia, Cineclube do Porto, criado em 1945, tem os estatutos aprovados a 1 de Julho de 1948, sendo assim o mais antigo cineclube português em atividade, simultaneamente agente e testemunha da história do cinema português. A diversidade da sua ação ao longo dos anos e a pluralidade de pessoas e instituições que se têm vindo a implicar na sua existência faz do seu acervo um desafiante objeto de estudo, múltiplo nas suas manifestações materiais e imateriais, e consequentes leituras, fundamental para a história das mentalidades, de género, história social e da cidade do Porto, história da arte contemporânea, entre outras. Acervo do Cineclube do Porto: metodologia de tratamento para fins de movimentação e depósitos institucionais pretende apresentar as opções realizadas sobre este acervo em contexto de mudança de instalações, com uma permanência vivencial de mais de 60 anos, e consequente tratamento recorde em 4 meses, para posterior depósito e ações museais, fílmicas, arquivísticas e biblioteconómicas mais aprofundadas. Como abordar um acervo cuja organização não se conhece e cujas evidências sugerem ações e opções diferenciadas ao longo dos anos? Como definir os limites dos vários tipos de tratamento, mínimos e máximos, de organização tendo em vista o seu depósito e dispersão em várias instituições e o tempo e recursos disponíveis? Partilharemos as opções científicas tomadas e apresentaremos resultados, fazendo deste um caso de estudo dentro deste contexto singular. Palavras chave: Cineclube do Porto; acervo; arquivo; inventário; tratamento Contato: [email protected] “Perhaps all archives develop in this way, through mutations of connection and disconnection.” Foster 2006, 145 “Encarar hoje o rejuvenescimento de uma instituição como o Cineclube do Porto é manter a ligação entre a sua importância histórica e a sua ação presente. O conjunto que representa o seu acervo conserva a memória, o pensamento e a ação da instituição assumindo um valor patrimonial e um potencial contributo para a constante reescrita da história que pode ser fundamental para o seu melhor entendimento. A identidade, a memória e a 1 Licenciada em História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Coordenadora do tratamento do acervo do Clube Português de Cinematografia, Cineclube do Porto. Sócia e voluntária do CPC-CCP desde 2004.

ACERVO DO CINECLUBE DO PORTO: …aim.org.pt/atas/pdfs/Atas-VEncontroAnualAIM-46.pdfAtas do V Encontro Anual da AIM 490 um enorme Repositório, um Arquivo não-organizado em larga escala

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Mendes, Teresa. 2016. “Acervo do cineclube do Porto: metodologia de tratamento para fins de movimentação e depósitos institucionais”. In Atas do V Encontro Anual da AIM, editado por Sofia Sampaio, Filipe Reis e Gonçalo Mota, 437-448. Lisboa: AIM. ISBN 978-989-98215-4-5.

ACERVO DO CINECLUBE DO PORTO: METODOLOGIA DE

TRATAMENTO PARA FINS DE MOVIMENTAÇÃO E DEPÓSITOS

INSTITUCIONAIS

Teresa Mendes1

Resumo: O Clube Português de Cinematografia, Cineclube do Porto, criado em 1945, tem os estatutos aprovados a 1 de Julho de 1948, sendo assim o mais antigo cineclube português em atividade, simultaneamente agente e testemunha da história do cinema português. A diversidade da sua ação ao longo dos anos e a pluralidade de pessoas e instituições que se têm vindo a implicar na sua existência faz do seu acervo um desafiante objeto de estudo, múltiplo nas suas manifestações materiais e imateriais, e consequentes leituras, fundamental para a história das mentalidades, de género, história social e da cidade do Porto, história da arte contemporânea, entre outras. Acervo do Cineclube do Porto: metodologia de tratamento para fins de movimentação e depósitos institucionais pretende apresentar as opções realizadas sobre este acervo em contexto de mudança de instalações, com uma permanência vivencial de mais de 60 anos, e consequente tratamento recorde em 4 meses, para posterior depósito e ações museais, fílmicas, arquivísticas e biblioteconómicas mais aprofundadas. Como abordar um acervo cuja organização não se conhece e cujas evidências sugerem ações e opções diferenciadas ao longo dos anos? Como definir os limites dos vários tipos de tratamento, mínimos e máximos, de organização tendo em vista o seu depósito e dispersão em várias instituições e o tempo e recursos disponíveis? Partilharemos as opções científicas tomadas e apresentaremos resultados, fazendo deste um caso de estudo dentro deste contexto singular. Palavras chave: Cineclube do Porto; acervo; arquivo; inventário; tratamento Contato: [email protected]

“Perhaps all archives develop in this way, through mutations of connection and disconnection.”

Foster 2006, 145

“Encarar hoje o rejuvenescimento de uma instituição como o Cineclube do Porto é manter a ligação entre a sua importância histórica e a sua ação presente. O conjunto que representa o seu acervo conserva a memória, o pensamento e a ação da instituição assumindo um valor patrimonial e um potencial contributo para a constante reescrita da história que pode ser fundamental para o seu melhor entendimento. A identidade, a memória e a

1 Licenciada em História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Coordenadora do tratamento do acervo do Clube Português de Cinematografia, Cineclube do Porto. Sócia e voluntária do CPC-CCP desde 2004.

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memória da identidade que se congregam nestes objetos são a evidência da urgência do trabalho que a seguir se descreve.”2 “The archive defines a particular level: that of a practice that causes a multiplicity of statements to emerge as so many regular events, as so many things to be dealt with and manipulated.”

Foucault 1972, 130 Legado do Cineclube do Porto, estado do seu acervo anterior à intervenção

O acervo do Clube Português de Cinematografia, Cineclube do Porto (CPC-

CCP) é, inegavelmente, reflexo da história social, história das memórias e

mesmo da vida privada dum determinado coletivo, vivo, múltiplo, mutável,

diferenciável e diferenciador ao longo dos seus 70 anos de existência.3 Esta

riqueza vivencial e cultural, para além da basilar, fílmica e cinéfila, foi

produzindo paralelamente ao longo da sua história um conjunto crescente e

quase sempre orgânico, de evidências físicas, resultando num desdobramento

de objetos e seus vários significados. É, na verdade, um acervo composto por

várias coleções, para além da coleção de película-filme nos seus vários

formatos.

Esta crescente herança material não era nem foi vista variadas vezes

como um corpo patrimonial com uma identidade própria a cuidar, sendo sim o

reflexo da atividade ‘primária’. Quando se iniciou o projeto de intervenção e

tratamento do acervo do CPC-CCP, na sua antiga sede,4 verificou-se que de c.

de 60 anos de permanência histórica, resultaram atos contínuos de acumular,

concentrar, amontoar e muitas vezes empilhar. Era assim, quase na totalidade

2 José António Cunha, investigador e professor, membro da Direção do Cineclube do Porto desde 2010. 3 O Clube Português de Cinematografia, Cineclube do Porto, foi criado em 1945. Os seus estatutos datam de 27 de Março de 1948 [fonte primária não publicada (n.º de cadastro do atual tratamento CCP1274)], após decisão de fundação desta instituição em ata de Assembleia Geral da mesma data, na Rua Chã, n.º 88, Porto, estando presente Henrique Alves Costa, entre outros. Foram aprovados pelo Governo Civil do Porto a 1 de Julho de 1948. 4 O CPC-CCP teve como sede histórica a Rua do Rosário, nº 5, 1º Porto, onde esteve até final do ano de 2014. Este tratamento do acervo resultou de decisão em tribunal de saída desta sede por parte do CPC-CCP, favorável a esta instituição no sentido indemnizatório, devido à insalubridade que o edifício vinha a apresentar já há algumas décadas. O prazo legal de saída foi de aproximadamente 5 meses, baliza cronológica em que incidiu uma grande parte do trabalho de intervenção realizado, iniciado em Junho de 2014 e terminado no final desse mesmo ano.

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um enorme Repositório, um Arquivo não-organizado em larga escala e

dimensão física e material, de todas as atividades inerentes a esta instituição.

A dispersão de documentos e outros objetos era óbvia, refletida em

diversos tipos de etiquetagens, numerações e nomeações, reutilização de

papel, caixas, bobines, múltiplas evidências de uma só edição de um livro,

invólucros para várias finalidades, bem como reorganizações sistemáticas mas

não sistémicas, por exemplo relativas ao arquivo.

No entanto, destes atos continuados de recoleção e reapropriação, pôde-

se verificar em vários momentos a intencionalidade de armazenar, guardar e,

consequentemente conservar. De fato, paralelamente a esta organicidade foi-

se igualmente verificando nesta intervenção realizada sobre o acervo, uma

intenção ao longo dos anos e em momentos específicos em manipular para

(re)organizar, (re)nomear e (re)classificar.

Houve tentativas, por parte de algumas direções desta instituição e seus

grupos de voluntário(a)s de procurar inventariar e catalogar, em épocas

diferentes, com recursos humanos diferentes e com metodologias diversas.

Quase nenhuma delas foi, acredita-se, terminada ou concretizada, no todo do

universo proposto a tratamento, gerando uma multiplicidade de abordagens

não concluídas, e crescentemente complexas, neste aparente discurso

organizacional.5

O conceito de coleções museais nunca foi devidamente abordado, apesar

da instituição ter consciência da riqueza patrimonial que tinha entre mãos.

Ações de manutenção, conservação preventiva ou mesmo de restauro terão

sido praticamente nulas, bem como o devido estudo ou investigação sobre as

mesmas. Deste núcleo, que possivelmente iria fazer parte do ‘futuro’ Museu de

Arte Cinematográfica do Cineclube do Porto, também se encontraram algumas

tentativas de cadastração ou pré-inventário sobre coleções como fotografia,

esta tendo recebido parcialmente um tratamento bem mais cuidado e apurado,

quer em termos de identificação e classificação, quer de acondicionamento,

5 Sabe-se que por vezes, razões válidas poderão ter estado estar inerentes a estes atos não continuados, tais como falta de recursos humanos e orçamentais, multiplicidade de perspetivas internas em termos decisórios de abordagem e resolução de problemas, entre outros.

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mas as coleções de pintura, cartazes ou mesmo matrizes de gravuras careciam

de tratamento.

No que concerne a biblioteca, o mesmo se terá passado, já com núcleos

distintos e devidamente organizados, em várias épocas, e com respetivas

catalogações de acordo com normas biblioteconómicas, mas também elas nem

sempre concordantes ou atualizadas.

De notar que houve durante determinados momentos, em alguns casos

mesmo várias décadas, de recolha e identificação, uma organização consciente

de vários tipos de ephemera de atividade cineclubista ou fílmica,

nomeadamente de programas de sessões e atividades de cineclubes

portugueses e estrangeiros. A exemplo referimos a caixa CCP2016 que contém

programas de sessões de cineclubes, com respetiva etiqueta exterior: ‘Círculo

Cultural Scalabatino (1955-57), Cineclube de Santiago do Cacém (1958 - 61),

Cineclube de Barcelos (1978 - 79), Cineclube da Figueira da Foz (1956 - 60)’.

A título complementar, de focar o ato contínuo arquivístico,

possivelmente reflexo dum procedimento inicial e mantido até recentemente:

o total de 67 encadernações agrupadas por anos civis, com fichas de propostas

de sócios e sócias para o CPC-CCP, desde 1944 a 1993.

Procurou-se assim, nos casos em que foi possível e que se apresentaram

como tal, respeitar e “observar o princípio basilar da disciplina arquivística da

manutenção ou reconstituição da ordem original” (Fortes 2014, 62).

Importa então sublinhar que a grande riqueza do acervo do CPC-CCP

reside não só em todo o material físico ‘acumulado’ ao longo dum determinado

período e num determinado espaço, mas também na multiplicidade de

linguagens materiais e manifestações discursivas que daí resultaram, e que

podem ser analisadas, organizadas e respeitadas por base a refletir e manter

essa mesma riqueza patrimonial.

Já antes da decisão formal em Assembleia-Geral Extraordinária desta

instituição, a 8 de Novembro de 2014, relativa ao estabelecimento de

protocolos de depósito do seu acervo com instituições parceiras idóneas, foi

6 A classificação alfanumérica apresentada é a que resulta do tratamento de acervo realizado ao seu arquivo, parte desse trabalho sobre o qual incide esta apresentação.

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claro para a atual direção do CPC-CCP que a ordem de trabalhos deste

tratamento de coleções teria que incidir parcialmente no paradigma da sua

movimentação, transporte, e entrega a nova(s) instituição(ões).

Assim, e sabendo que quer a Lei do Património Português, quer a Lei

Quadro dos Museus Portugueses7 afirmam que uma instituição com legado

patrimonial e/ou museal tem o dever de salvaguardar, preservar, estudar e

divulgar o seu acervo e que, quando em depósito noutro local, este deve

obedecer ao princípio máximo de não desmembrando do mesmo, que decisões

e procedimentos científicos, e respetivas ações devem ser tomadas no

contexto acima exposto?

Metodologia de abordagem sobre o acervo, decisões e procedimentos

científicos

Foi assim notório que urgia finalmente reunir conhecimento duma forma

quantitativa, sistematizada e normalizada sobre o seu acervo para em

conformidade, e do ponto de vista de ética patrimonial, se poderem tomar as

respetivas decisões informadas e prementes, à data.

Desta maneira, e sabendo então que o prazo de tratamento, numa

primeira fase, não poderia ultrapassar 4 meses, tiveram que ser tomadas

decisões de abordagem sobre o corpus proposto, resultando em várias

situações de compromisso científicas.

Num primeiro momento, foi desde logo evidente que não se poderia

proceder a um inventário propriamente dito, até porque este tem inerente à

sua natureza como “(…) objetivo primeiro a identificação individualizada de

cada uma das peças dentro das coleções que constituem o acervo museológico”

(IPM 1999, 15). Na verdade, não havia nem houve tempo para fazer um

tratamento individualizado de cada peça/objeto/ documento.

“A ordenação sucede sempre à classificação” (Fortes 2014, 70). Desta

forma, não houve igualmente tempo para obedecer a uma triagem ou estudo

prévio para se perceber e assim ordenar as várias famílias, tipologias e coleções

7 Respetivamente Decreto-Lei n.º 107/2001. D. R. I série A. 209 (2001-09-08) e Decreto-Lei n.º 147/2004. D. R. I série A. 195 (2004-08-19).

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que compõem o acervo, e respetivamente categorizá-las com uma de várias

normas ISO de inventariação, arquivo ou biblioteconomia.

Optou-se desde logo por quatro tipos de abordagem, e quase sem exceção,

respeitadas, umas vezes isoladas, outras vezes em conjunto: a organização por

quantidades, a organização por especificidades técnicas e de materiais, a

organização prévia do acervo por áreas de conhecimento científico e a

organização de acordo com a natureza da instituição recetora do depósito

proposto.

O princípio da não hierarquização da evidência física no que concerne à

sua inserção numa determinada árvore de conhecimento permitiu uma

transversalidade de tratamento que podia ir sendo mais ou menos flexível, de

acordo com os objetos que iam surgindo à medida que o trabalho ia

decorrendo.

No entanto, conscientemente foi-se deixando caminho aberto para uma

futura (re)organização à luz dum trabalho de investigação mais aprofundado,

sendo o inventário também “(…) por definição, um processo em aberto, para

o qual contribuirão, a investigação científica, o avanço tecnológico e a prática

museológica.” (IPM 1999, 17)

Procurou-se sempre respeitar e reproduzir as lógicas organizativas

anteriores, referidas nos campos de observações das grelhas de cadastração.

Sobretudo, deu-se relevo à lógica inter-relacional dos vários documentos e/ou

objetos, sempre que explícitos pelos mesmos na sua produção, ou mesmo

quando implícitos.

Assim, estipulou-se que aquele não seria o momento para atuar sobre o

objeto, mas sobre os conjuntos, excetuando casos específicos cujo interesse

múltiplo do mesmo e/ou o seu estado de conservação impunham um

tratamento diferenciador. Fez-se antes um tratamento macroestrutural

coerente, consistente e acredita-se rigoroso na medida do tempo permitido,

seguindo uma linha de raciocínio de rastreabilidade documentada.

Dum vasto universo de caixas, carimbos, cartazes, claquetes,

encadernações, fotografias, gravuras, linogravuras, livros, maços, máquinas,

medalhas, pastas, películas, placas, pinturas, quadros, revistas, rolos,

Atas do V Encontro Anual da AIM

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serigrafias, técnicas mistas e xilogravuras estruturaram-se então 4 grandes

áreas de tratamento de dados e que se designaram:

• Arquivo, no qual se insere todo o corpo documental bem como

as coleções artísticas e de caráter museal

• Biblioteca, com monografias, publicações em série e outros

formatos biblioteconómicos

• Equipamento, com o material técnico e maquinaria

• Película-filme, nos seus vários formatos

A ausência de tempo necessária para este tipo de intervenção, a pressão por

parte dos proprietários do edifício, a falta de recursos orçamentais, humanos e

materiais, a altura do ano em que a mesma foi realizada (meses de Verão) e a

multiplicidade de discursos externos por parte de instituições pares fizeram,

invariavelmente, parte, do contexto decisório.

No que diz respeito aos corpos Biblioteca e Arquivo, os quadros de

classificação e cadastração foram absorvidos dos utilizados pelo Arquivo

Municipal do Porto, Casa do Infante, futura instituição recetora destes dois

corpos de acervo do CPC-CCP, tendo sido alguns campos retirados,

acrescentados e/ou modificados, bem como tipologias de unidades físicas de

tratamento, numa lógica que procurou a adaptabilidade máxima às várias

naturezas deste acervo.

As coleções de película-filme e equipamento tiveram um tratamento

isolado, privilegiando-se a sua natureza técnica e, em conformidade, serão

depositadas respetivamente por estas caraterísticas, na ANIM, Arquivo

Nacional da Imagem em Movimento da Cinemateca Portuguesa, e MIMO,

Museu da Imagem em Movimento, mais aptas para a sua conservação e

tratamento.

Ações realizadas sobre o acervo e apresentação de resultados

O passo seguinte foi a contratação de uma equipa de voluntários(a)s e

voluntárias, fulcral para o correto desenvolvimento do trabalho proposto. Os

objetivos primordiais consistiram em identificar, triar e catalogar em número

Teresa Mendes

495

corrido as respetivas bases de dados, retirar qualquer tipo de material que

pudesse comprometer o atual estado de conservação dos objetos e

documentos, proceder a uma limpeza sumária com aspirador próprio e pincel

de cerdas macio, embalar devidamente as coleções, com respetiva

correspondência entre unidade física tratada e unidade física de transporte

(caixotes e outros volumes vários) utilizando para estes efeitos luvas ao longo

do seu manuseamento.

A rastreabilidade e correspondência em base de dados entre

unidade/objeto tratado e unidade de transporte foi objetivo cumprido em base

de dados e com identificação específica para cada caixote ou volume de

transporte, através de 4 sistemas de identificação exteriores, com 4 cores e

nomeações diferentes nas respetivas unidades físicas de transporte, para os 4

corpos do acervo do CPC-CCP.

A cadastração escolhida foi alfanumérica (quase sempre dupla sobre uma

mesma evidência física) identificando cada unidade/objeto tratado a lápis,

tratando-se de material papel e com inscrição, por norma, no canto superior

esquerdo ou direito da primeira folha do conjunto de documentos (agrupados

com fita de nastro neutra), reproduzindo-se o mesmo número quando

realizado um embalamento com papel manteigueiro, e colocando sempre uma

lingueta do mesmo papel, também com esse número. No caso de objetos, em

alguns foi permitido colocar também a lápis o respetivo número, e em caso de

embalamentos, a lingueta anteriormente referida, foi igualmente colocada.

A coleção de fotografia foi separada em termos físicos do restante corpo

Arquivo, sendo devidamente identificada e rastreável aos seus conjuntos

anteriores, por questões de conservação inerentes aos materiais de que é

composta, bem como pela questão logística de receção da futura instituição

depositária, que assim facilmente a poderá separar fisicamente dos restantes

caixotes e logo podendo atuar com a agilidade técnica necessária sobre ela.

Os quadros de classificação de inserção de dados foram os seguintes:

Arquivo: n.º de ordem| título| quantidade| tipo de unidade física| data

inicial| data final| dimensões| estado de conservação| observações|

identificação de caixas de transporte das unidades físicas: X A CPC-CCP|

Atas do V Encontro Anual da AIM

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Biblioteca: n.º de ordem| título| local de publicação| editor| autor| data de

publicação |início e fim de existência| medidas| estado de conservação| tipo de

publicação| notas| identificação de caixas de transporte das unidades físicas: X

BIB CPC-CCP|

Equipamento8: n.º de ordem| categoria| tipo, formato| marca, modelo|

características| ano, origem| estado de conservação| identificação de caixas de

transporte das unidades físicas| dimensões: X E CPC-CCP

Película-filme: n.º de ordem| título| autor, produtor, distribuidor| data|

tipo de película, cor/P&B, som/mudo| descrição de indicações em: caixa,

bobine, película| descrição de primeiros fotogramas| identificação de caixas de

transporte das unidades físicas: X PF CPC-CCP|

Assim, apresenta-se à data de submissão desta apresentação um total de 1407

unidades tratadas e inseridas em base de dados no universo designado de

Arquivo, com 153 unidades físicas de transporte, 9034 entradas em Biblioteca,

com 117 respetivas unidades físicas de transporte, 80 peças de equipamento

tratadas e acondicionadas em c. de 70 unidades físicas de transporte, 364

películas cadastradas e acondicionadas em 42 unidades de transporte.

Conclusões sobre o atual estado de tratamento do acervo

Para além da evidência dos números apresentados e do conhecimento

continuado adquirido pela primeira vez sobre o seu acervo, tem agora o CPC-

CCP facilidade na identificação imediata, quer na natureza e descrição de

conteúdos, facilidade no cruzamento de informação entre a unidade tratada e

a correspondência com a unidade física de transporte, facilidade na

identificação de materiais e noções de medidas volumétricas, facilidade na

identificação do estado de conservação geral, facilidade no cruzamento de

informações diversas, facilidade na reordenação e migração dos dados

inseridos, facilidade na recuperação da informação original (quando o caso),

facilidade na realização de listas múltiplas, quer quantitativas, quer qualitativas.

8 Devido a questões de natureza técnica, esta coleção recebeu tratamento de cadastração por parte de Vasco Costa, associado desta instituição.

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Deixa-se um corpus de matéria-prima devidamente listado e identificado,

que permitirá várias linhas de investigação, conhecimento e divulgação sobre

a atividade múltipla do CPC-CCP, passando pela História Contemporânea da

Cidade do Porto (e suas diversas ações artísticas), quer mesmo como largo

contributo da História do Cinema Português.

Atualmente, e passados c. de 2 meses desde esta apresentação no V

Encontro Anual da AIM, o direcionamento da ordem de trabalhos do CPC-CCP

relativamente às suas coleções incide na definição dos modos de incorporação

dos atos artísticos e/ou criativos pertencentes ao seu acervo, com particular

incidência para as autorizações legais de utilizações e direitos do âmbito

autoral das obras, junto dos seus respetivos autores, nomeadamente da sua

coleção de película-filme.

Os contatos junto deste(a)s vário(a)s criativos(a)s tem vindo a ser

cumprido duma forma sistematicamente crescente e são já muitos os casos de

doações formais protocolizadas, nomeadamente no que respeita a sua coleção

artística, com particular incidência para o caso das matrizes de gravuras feitas

nas décadas de 1950 e 1960, para os programas de sessões do CPC-CCP, com

nomes de destaque dentro das Belas Artes desta cidade.

O trabalho continua, há ainda muito para ser feito, e sempre com o

objetivo de levá-lo a bom porto.9

9 São devidos agradecimentos ao Arquivo Municipal do Porto e à Casa do Infante, nomeadamente às técnicas superiores responsáveis pelas áreas de Arquivo e Biblioteconomia, pelo apoio científico e técnico prestados. Às voluntárias Andreia Mota, Rita Ladeiro e Susana Sousa, pela sua dedicação e contributo inegável no tratamento do acervo. À atual Direção do CPC-CCP, pela oportunidade de fazer parte atuante dum momento tão desafiante quanto este, bem como pelo seu devido olhar e respetivas ações contínuas, no intuito de tomadas de decisão e alavancagens conscientes e necessárias e, acredita-se, frutíferas dum património que é da instituição, mas também da cidade do Porto e de todos e todas.

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Imagem 1: Acondicionamento, após tratamento, de matrizes de gravuras para programas de sessões do CPC-CCP (Teresa Mendes, 2014)

Imagem 2: Cartazes emoldurados e obras artísticas do CPC-CCP (Teresa Mendes, 2014)

Teresa Mendes

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Imagem 3: Acondicionamento da coleção de película-filme do CPC-CCP (Teresa Mendes, 2015)

Imagem 4: Embalamento rastreável do Arquivo do CPC-CCP (Teresa Mendes, 2014)

Atas do V Encontro Anual da AIM

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BIBLIOGRAFIA Fortes, Arminda. 2014. “José de Macedo, um Intelectual na Viragem do

Século: Organização e Descrição do Espólio Arquivístico”. Diss. de Mestrado, Universidade Autónoma de Lisboa.

Foster, Hal. 2006. “An Archival Impulse// 2004”, in The Archive, ed. Charles Merewether, MIT press, Cambridge and Whitechapel Gallery, London.

Foucault, Michel. 1972. The Archaeology of Knowledge and Discourse of Language. Nova Iorque: Pantheon Books.

Instituto Português de Museus. 1999. Normas de Inventário: Normas Gerais: Artes Plásticas e Artes Decorativas. Lisboa: Instituto Português de Museus, Ministério da Cultura.

OUTRAS FONTES Estatutos do Clube Português de Cinematografia, Cine Clube do Porto a 27 de

Março de 1948 [fonte primária não publicada (n.º de cadastro do atual tratamento CCP1274)], aprovados pelo Governo Civil do Porto a 1 de Julho de 1948.