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Achando Nosso Lugar na Árvore: as línguas indo-europeias ocidentais LINGUÍSTICA INDO-EUROPEIA I AULA DE 23 e 30 de outubro de 2016

Achando Nosso Lugar na Árvore: as línguas indo-europeias ... · O Neolítico na Europa Ocidental ... Mais provavelmente, ... Nem todas as línguas faladas na Itália nesse período

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Achando Nosso Lugar na

Árvore:as línguas indo-europeias

ocidentaisLINGUÍSTICA INDO-EUROPEIA I

AULA DE 23 e 30 de outubro de 2016

O PIE-IIIb e seus descendentes

O grupo de línguas indo-europeias ocidentais – descendentes do estrato

PIE-IIIb de Adrados (1998: 268-9) - guarda uma série de similaridades:

Caráter centum (conservação das velares e confusão de *k e *k’).

Confusão entre perfeito e aoristo parece ser bastante antiga.

Ausência de futuros sigmáticos.

Fusão do optativo com o subjuntivo.

Rápida tendência da voz médio-passiva para a passiva.

Por estar na “retaguarda” do grupo ocidental, o balto-eslavo assimilou algumas

características do PIE-IIIa, como o caráter satem e os futuros sigmáticos.

O PIE-IIIb e seus descendentes

Ao mesmo tempo, se observa a constituição de uma divisão, na “horda”

ocidental, entre uma horda setentrional (germânico, balto-eslavo) e uma

horda meridional (ítalo-céltico):

Ítalo-céltico conserva os antigos superlativos em –sumus e os finais –or e –tor da

médio-passiva.

Tratamento das vogais:

PIEēīōū

G.B.-E.ō a ē ěī iō aū y

I-Cā āē īī īō ā, ūū ū

PIEaeiou

G.B.-E.a oe/i ei io ou u

I-Caeiou

O Neolítico na Europa Ocidental

Na Região Central:

Cultura Eterbölle (N. da Alemanha, Dinamarca e S. da Escaandinávia) –

caçadores coletores 5300-3950 a.C.

Cultura da Cerâmica Linear 5500-4500 a.C. Bacia do Danúbio e do Reno;

agricultores; geneticamente aparentados com os agricultores anatólicos

(80%); cruzaram vacas do Oriente Médio com touros europeus.

Cultura Funnelbeaker 4300-2800 a.C. geneticamente, são uma mistura

entre os “nativos” europeus (descendentes dos caçadores-coletores

mesolíticos) e dos imigrantes anatólicos; ampla utilização de laticínios

(quase 100% do gene de tolerância à lactose) e lã. Influenciada pela

cultura megalítica “oceânica”, utilizavam sepulturas do tipo dólmen.

O Neolítico na Europa Ocidental

No S. da Europa (Itália, Sardenha, Córsega, Levante Espanhol, Midi) predominava a cultura da cerâmica cardial. Restos de impressão do tipo cardium é encontrada em Biblos, o que sugere uma expansão a partir de lá.

No oeste da Europa, predominava a cultura megalítica, talvez expandida do N. da África. Uma primeira expansão é datada de 4000 a.C. A segunda expansão, depois de 2800 a.C., é ligada à cultura Beaker (provavelmente já IE).

O Neolítico e depois o Bronze Mediterrâneo são relacionados ao substrato linguístico “mediterrâneo”.

O Neolítico megalítico é relacionado a um superestrato ou adstrato linguístico afroasiático; entre seus reflexos, estaria a ordem VSO do céltico insular.

Expansão da Cerâmica de Banda Linear na Europa

Central: A – 5500 a.C. B – 4800 a.C.

Expansão Yamnaya a partir do

Danúbio

Cultura Baden surge no Danúbio Central (atuais Áustria e Hungria), entre

3600-2800 a.C. Atestações mais antigas de veículos com rodas no centro

da Europa. Praticavam cremação e sepultamento.

Cultura Vučedol: Floresceu entre 3000 e 2200 a.C.

Há quem sugira que as duas culturas anteriores possam já ser ondas de

invasores indo-europeus.

Cultura Beaker (Campaniforme): a primeira claramente indo-europeia,

segundo Gimbutas. Apresenta elementos culturais mistos da expansão

Yamnaya e da cultura Vučedol. Extende-se entre 2800 e 1800 a.C. e tem

ampla expansão pela Europa Ocidental.

Cultura Corded-Ware:

Expansão Yamnaya a partir do

Danúbio

A partir da cultura Campaniforme, uma divisão norte-sul se apresenta.

Culturas ao N.

Cultura Corded-Ware: expansão a partir da Alemanha para O. e E. Espalhou-se por toda a área germânica e balto-eslava. 2800-1800 a.C. Segundo Gimbutas, eram um povo indo-europeizado, marcando a transição de uma sociedade igualitária e/ou teocrática, matriarcal, para uma sociedade com uma casta guerreira, patriarcal.

Era do Bronze “Nórdica”: teve como centro de dispersão a região da Dinamarca e o S. da Suécia, e se estendeu de 1800-500 a.C. Não parece ter havido migrações de povos para essa região. O centro e o sul da Alemanha, nesse período, orbitavam na esfera das culturas do Danúbio.

Do mesmo modo, talvez linguisticamente o centro e o sul da Alemanha fossem “celtas”, enquanto as áreas da cultura do “Bronze Nórdico” seriam áreas da origem germânica.

A expansão a partir do Danúbio

Um contínuo de culturas do Bronze se estende a partir da região danubiana:

Cultura Unetiče 2300-1600 a.C.

Cultura dos Túmulos 1600-1200 a.C.

Cultura dos Campos de Urnas 1300-750 a.C.

A partir da Cultura dos Campos de Urnas, claramente há uma subdivisão. Um grupo emigra para o S., dando origem às culturas itálicas:

Cultura Gollasecca, no N. séc. IX-IV a.C.

Cultura Villanova séc. XI-VII a.C. no centro e S. da Itália.

A cultura vilanovana é substituída pela civilização etrusca, que era veiculada em uma língua não-indo-europeia.

A expansão a partir do Danúbio

Por outro lado, a bacia do Danúbio, na sua parte austríca e alemã, dá origem a uma série de culturas da Idade do Ferro:

Cultura Halstatt: entre os séculos VIII e V a.C.

Cultura La Tène: entre os séculos V e I a.C.

Essas culturas estão associadas com a assim chamada expansão “celta”. No entanto, trata-se de uma expansão de uma cultura material (mais como a área de dispersão de um determinado conjunto de objetos).

Cotejando-se a área de ocorrência dos objetos de cada cultura com as observações gregas e romanas a respeito dos povos que as habitavam, observa-se que áreas não habitadas pelos celtas se caracterizam por objetos culturais (como a Aquitânia) e áreas “célticas” não apresentam a relação com as culturas (p.ex., a Ibéria).

O lusitano: uma língua celta?

O lusitano: uma língua celta?

Os Celtas

Associados a pelo menos duas culturas: Halstatt e La Tène. Na verdade, bserva-se uma continuidade cultural pelo menos desde a cultura Urnfeld.

Eles se estenderam, de sua região de origem na Europa Continental, até as ilhas britânicas, a Península Ibérica, a O., e pelos Bálcans, atravessando o Helesponto em 278 a.C. para se estabelecerem no centro da Anatólia (Gálatas).

À parte disso, faziam excursões de conquista: Roma foi capturada em 390 a.C. Em 279, invadiram a Grécia e saquearam os tesouros no Santuário de Delfos.

A identificação dos lusitanos, e outras tribos do noroeste ibérico, como celtas ainda é controvertido (e depende de como se determine o que é céltico). Mais provavelmente, essas tribos se dispersaram antes de 1000 a.C., do grupo linguístico ítalo-céltico.

Línguas Célticas

Na Antiguidade (período dos romanos), as línguas célticas provavelmente

já se diferenciavam entre um grupo continental e um grupo insular (Ilhas

Britânicas).

No sul da antiga Gália, provavelmente o narbonense era uma língua

bastante distinta do gaulês propriamente dito, no sul da Gália, bem como

o lepôntico, na Gália Cisalpina (Macaulay, 1992). Cronistas romanos

relatam diferenças culturais marcantes entre as tribos gaulesas do do

centro e do N. (os belgas, de onde saíram os invasores para as ilhas

britânicas), bem como outras identidades (os panonni, p. ex.).

Enclaves de línguas célticas podem ter subsistido na Europa Continental

até 500 AD (Macaulay, 1992: 2).

Línguas Célticas

O céltico se destaca por manter alguns traços bastante arcaicos:

a ausência de um infinitivo plenamente desenvolvido

a ausência de um verbo haver (traço ainda mantido nas línguas insulares)

a diferenciação de gênero para os numerais 3 e 4 (ainda viva no galês: tri,

pedwar [masc.] tair, pedair [fem.])

preservação da antiga ordem SOV, em lusitânico e lepôntico, no gaélico da

Escócia (em orações não finitas) e em irlandês (em posições bem definidas)

preservação de estruturas possessivas com genitivo e com locativo:

cú Caluim an cú aig Calum

Línguas Célticas Insulares

No período dos romanos, já era notável a distinção entre os dialetos do grupo Britônico (na Grã-Bretanha) e goidélico (na Irlanda). A diferença básica entre eles está na manutenção das labiovelares, no goidélico(Celta-Q) ou sua labialização completa, no britônico (Celta-P):

irl. cenn gal. penn “cabeça”

irl. macc gal. map “filho”

O gaulês pertenceria ao grupo Celta-P, devido ao tratamento frequente: Maponos, Epona.

Uma diferença adicional entre o goidélico e o britônico é a transformação do *m e do *n silábicos em na em britônico e sua manutenção em goidélico: irl. prefixo in- gal. an- irl. dét (perda do n e alongamento compensatório) gal. dant. Esse traço opõe o goidélico aos demais dialetos célticos (continentais, inclusive).

Línguas Célticas Insulares

Ao mesmo tempo, o céltico insular mantém traços inovativos, como a

ordem VSO e a utilização de mecanismos como a lenição e a

sonorização:

Línguas Célticas Insulares

De maneira geral, o céltico insular é entendido como um grupo linguístico

em vias de extinção.

O irlandês é a primeira língua oficial da Irlanda, mas nenhum mecanismo

efetivo dispõe sobre seus privilégios. É ensinado nas escolas primárias e

secundárias e exigido nas provas de admissão para as faculdades da

Universidade Nacional (Macaulay, 1992: 26-7).

É sentida pelos irlandeses como um importante elemento da identidade

nacional. Ainda assim, apenas 4% dos falantes nativos de gaélico a

utilizam cotidianamente em uso público.

O gaélico alcançou um máximo de 3,5 milhões de falantes (início do

século XIX). Atualmente, 1,77 milhões de irlandeses alegam conhecer a

língua (140.000 como falantes nativos).

Línguas Célticas Insulares

O gaélico da Escócia foi introduzido a partir da colônia de Dal Ríata, no século V.

O número de falantes diminuiu de 290.000 (numa população de 1.300.000), em meados do século XVIII para 82.620, numa população de 5.035.315, segundo o censo de 1981 (Macaulay, 1992: 141).

O conhecimento do galês declinou de 37,1%, em 1921 para 18,9 % em 1981 (Macaulay, 1992: 257).

Segundo a Wikipedia, 57.000 pessoas alegaram ser falantes nativas do gaélico da Escócia, em 2011, e 87.000 pessoas alegaram ter alguma competência na língua.

A mesma fonte diz que o galês tem 512.016 falantes naitvos em 2011 (630.032 no total), em Gales, mais cerca de 100-150 mil na Inglaterra e cerca de 5.000 em Chubut (Argentina).

Línguas Itálicas

Chama-se de “línguas itálicas” uma família de línguas, a que pertencia o

latim, que se estendia pela Península Itálica durante o Primeiro Milênio a.C.

Nem todas as línguas faladas na Itália nesse período pertenciam à família

Itálica. O venético e o lígure eram indo-europeus (talvez do mesmo ramo

que o ítalo-céltico), o messápio era um dialeto ilírico, o etrusco e o rético

(talvez aparentados

Referências

ADRADOS, Francisco R. et al. Manual de linguística indoeuropea III. Madrid,

Clásicas, 1998.

GIMBUTAS, Marija. Bronze Age cultures in central and eastern Europe. Haia:

Mouton, 1965.

HARBERT,

MACAULAY, Donald. org. The Celtic Languages. Cambridge: Cambridge

University Press, 1992.

MIGUEL, Ana Margarida G. As epígrafes lusitanas: memórias escritas da língua

e da religião indígenas. Tese de Doutorado. Porto: Universidade do Porto.

2013.