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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA ACIDENTE DE TRABALHO NA ENFERMAGEM: RISCO DE CONTAMINAÇÃO POR MATERIAL PERFUROCORTANTE Cléverson Siqueira Pacheco Governador Valadares / Minas Gerais 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA

ACIDENTE DE TRABALHO NA ENFERMAGEM: RISCO DE CONTAMINAÇÃO POR MATERIAL PERFUROCORTANTE

Cléverson Siqueira Pacheco

Governador Valadares / Minas Gerais 2012

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Cléverson Siqueira Pacheco

ACIDENTE DE TRABALHO NA ENFERMAGEM: RISCO DE CONTAMINAÇÃO POR MATERIAL PERFUROCORTANTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, Universidade Federal de Minas Gerais, para obtenção do Certificado de Especialista. Orientador: Luiz Carlos Brant

Governador Valadares / Minas Gerais 2012

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Cléverson Siqueira Pacheco

ACIDENTE DE TRABALHO NA ENFERMAGEM: RISCO DE CONTAMINAÇÃO POR MATERIAL PERFUROCORTANTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, Universidade Federal de Minas Gerais, para obtenção do Certificado de Especialista. Orientador: Luiz Carlos Brant Carneiro

Banca Examinadora:

Prof. Luiz Carlos Brant Carneiro Profª. Matilde Meire Miranda Cadete

Aprovada em Belo Horizonte: 03 de março de 2012.

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Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso

a meus familiares, em especial a minha irmã

Flávia, a minha mãe Rosa e a minha noiva

Eliadna. Dedico também ao Professor Brant e

a todos que contribuíram para esta conquista.

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RESUMO

Os trabalhadores de enfermagem, em virtude de sua prática profissional, frequentemente estão

expostos a riscos de contaminação em decorrência de acidentes de trabalho, em especial, os

acidentes envolvendo materiais perfurocortantes. Os acidentes ocasionados por material

perfurocortante, são frequentes e particularmente atribuídos ao constante manejo do

profissional com o paciente. Com o objetivo de analisar as cargas de trabalho bem como os

riscos de contaminação por acidentes de trabalho com material perfurocortante entre

trabalhadores de enfermagem, esse trabalho originou-se de uma revisão da literatura através

da exploração de fontes bibliográficas cujos descritores utilizados para a pesquisa foram

“enfermagem, acidente de trabalho e risco de contaminação”. Concluiu-se que as cargas de

trabalho como cansaço, sobrecarga de trabalho, indisponibilidade de equipamentos de

segurança e outros, são fatores que propiciam o envolvimento dos profissionais em acidentes

de trabalho por materiais perfurocortantes. Observou-se que os profissionais de enfermagem

são os que mais se envolvem em acidentes com materiais perfurocortantes, ficando mais

expostos aos riscos de contaminação biológica inerente a esse tipo de acidente. Percebeu-se

também que a Precaução Padrão juntamente com a Educação Permanente na Enfermagem

são importantes aliados na prevenção e preservação da saúde dos trabalhadores expostos aos

acidentes de trabalho e ao risco de contaminação.

Palavras-chave: enfermagem; acidente de trabalho; riscos de contaminação.

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ABSTRACT The nursing staffs, by virtue of their professional practice, are often at risk of contamination due

to industrial accidents, especially accidents involving sharps. These accidents caused by

needlestick injuries are common and particularly assigned to continuous professional

management of the patient. In order to analyze the workload and the risk of contamination due

to occupational accidents with needlestick injuries among nursing staff, this work arose from a

review of the literature by exploring literature sources which descriptors were used for research

“nursing, accident and risk of contamination”. It was concluded that the workloads such as

fatigue, workload, availability of safety equipment and others, are factors that favor the

involvement of professionals in occupational accidents by sharps. It was observed that nursing

professionals are the ones who are involved in accidents with sharps, becoming more

susceptible to biological contamination inherent in this type of accident. It was also felt that the

Standard Precaution along with Continuing Education in Nursing are important allies in

prevention and health preservation of workers exposed to occupational accidents and the risk of

contamination.

Key words: nursing; industrial accidents; risk of contamination.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7 2 OBJETIVOS ............................................................................................................................ 9 2.1 Objetivo geral ...................................................................................................................... 9 2.2 Objetivos específicos ......................................................................................................... 9 3 METODOLOGIA .................................................................................................................... 10 4 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................. 12 4.1 Saúde do Trabalhador: contexto histórico ..................................................................... 12 4.2 Cargas e acidentes de trabalho:risco de contaminação por material perfurocortante.15 4.2.1 Cargas e acidentes de trabalho na enfermagem............................................................16 4.2.2 Risco de contaminação em decorrência de acidente de trabalho com material perfurocortante na enfermagem...............................................................................................17 4.3 Precaução Padrão e Educação Permanente na Enfermagem ....................................... 20 4 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 24 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 29 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 31

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1 INTRODUÇÃO

Os trabalhadores de enfermagem, assim como tantos outros profissionais da saúde,

estão expostos cotidianamente a uma série de cargas de trabalho que geram desgastes,

podendo influir na ocorrência de acidentes de trabalho. Esses acidentes, ocasionados por

material perfurocortante, são frequentes e particularmente atribuídos ao constante manejo do

profissional com o paciente, representando prejuízos aos trabalhadores e às instituições, além

de oferecerem grandes riscos de contaminação e gerarem desgastes físico e mental dos

mesmos (MARZIALE, 2004).

A maioria dos acidentes de trabalho na enfermagem envolve exposições a material

biológico, sobretudo com materiais perfurocortantes (STEFFENS e SCHNEIDER, 2003).

Contudo, a literatura científica ainda não conseguiu um consenso relacionado às principais

causas de acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes, o que dificulta um

planejamento conciso de medidas que efetivamente ajudem a reduzir a incidência do referido

acidente na enfermagem, concomitantemente, diminuindo os riscos de contaminação.

Os agentes biológicos aos quais os trabalhadores da enfermagem estão expostos

são bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários e vírus (BRASIL, 2005). Alguns desses

patógenos, como os vírus HIV e Hepatites B e C, têm sido frequentemente relatados como os

mais importantes causadores de doença infecto-contagiosas em trabalhadores de enfermagem

através de acidentes com materiais perfurocortantes (SOUZA e VIANNA, 1993; GIR et al.,

1998; MARZIALE & RODRIGUES, 2002). Assim, podemos compreender o desgaste dos

trabalhadores dessa categoria apenas com a possibilidade do infortúnio de se acidentar com

material perfurocortante, além de certificarmos os prejuízos inerentes ao referido acidente, pois

conforme Brandão Júnior (2000), um acidente envolvendo material biológico pode causar

transmissão de doenças graves, além de transtornos psicossociais.

Outro fator que também deve ser observado mediante os acidentes de trabalho com

materiais perfurocortantes na enfermagem são os custos indiretos para a instituição com o

afastamento do trabalhador de suas atividades para o atendimento médico. Pois, segundo

Steffens & Schneider (2003), os acidentes de trabalho com material biológico são altamente

dispendiosos para a instituição, em particular se os acidentados tiverem de ser submetidos às

sorologias. Entretanto, por maior que seja a quantia monetária dispensada aos cuidados do

acidentado em uma instituição somando-se aos custos indiretos gerados pelo mesmo, ainda

assim, não seria alta o bastante frente às repercussões que um acidente com material

potencialmente contaminado possa trazer ao sujeito que sofreu o acidente. Sendo assim, é

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fundamental que haja uma preocupação institucional com vistas à redução desse tipo de

ocorrência, a fim de proporcionar aos trabalhadores de enfermagem um ambiente de trabalho

mais saudável e seguro.

Desta forma, o princípio que norteia este estudo é a identificação das situações de

desgaste no trabalho que contribuem para os possíveis acidentes com materiais

perfurocortantes na enfermagem e seus riscos de contaminação, além de informar acerca da

elevada incidência desse tipo de acidente na classe de enfermagem.

Finalmente, o registro da alta incidência de acidentes e doenças do trabalho que

acometem os profissionais de saúde, empenhados em promover a saúde dos usuários dos

serviços, representa uma situação extremamente grave e comprometedora tanto para o

trabalhador, quanto para a instituição em que o profissional se insere (SHIMIZU; RIBEIRO,

2002). Nessa perspectiva, o presente estudo se justifica e se faz relevante em meio à

identificação das cargas de trabalho na enfermagem que podem contribuir no envolvimento do

profissional em acidente com material perfurocortante, além de sintetizar as informações

inerentes ao risco de contaminação do trabalhador frente ao referido acidente. E mais, este

estudo poderá cooperar, na forma de alerta, para as ações que envolvam risco de

contaminação por acidentes com material perfurocortante para as equipes de enfermagem nos

estabelecimentos de saúde público ou privado, de níveis primário, secundário ou terciário em

atenção à saúde.

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2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral

Analisar os riscos de contaminação por acidentes de trabalho com material perfuro-

cortante na enfermagem

2.2 Objetivos específicos

Traçar uma retrospectiva histórica acerca da construção do campo da Saúde do

Trabalhador.

Evidenciar a Precaução Padrão e a Educação Permanente como contribuintes na

diminuição da ocorrência de acidentes na enfermagem

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3 METODOLOGIA

Essa pesquisa é relativa à análise dos acidentes de trabalho com materiais

perfurocortantes e os consequentes riscos de contaminação entre os trabalhadores de

enfermagem, abrangendo os aspectos considerados no objetivo desse trabalho.

A pesquisa originou-se da exploração de fontes bibliográficas em livros, boletins,

teses, relatórios de pesquisa e bibliotecas on-line, isto é, pesquisamos no site da Biblioteca

Virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em

Ciências da Saúde (LILACs) e no Scientific Electronic Library Online (SciELO). Foram

utilizados, para a seleção das bibliografias, os descritores “enfermagem, acidente de trabalho e

risco de contaminação”. Posteriormente procedeu-se à leitura, fichamento, e, finalmente a

produção do texto, através da investigação dos assuntos bibliográficos.

Como refere Lima (2004), a pesquisa bibliográfica deve explorar o conteúdo dos

textos objetivando encontrar fundamentos que ajudem a sanar as questões suscitadas pela

pesquisa por meio do enfrentamento das posições construídas pelo autor lido. Portanto, trata-se

de uma revisão da literatura, com abordagem a materiais bibliográficos nas áreas de

Enfermagem, Medicina, Saúde do Trabalhador e Legislação, por meio da técnica de leituras

exploratórias e interpretativas.

O período compreendido para investigação das fontes bibliográficas foi da década de

80 aos dias atuais, momento aquele em que se observou o surgimento do campo da Saúde do

Trabalhador em detrimento da Saúde Ocupacional e da antiga Medicina do Trabalho (MENDES;

DIAS, 1991). Entende-se por Saúde do Trabalhador, segundo a Lei Orgânica da Saúde nº.

8.080/1990, artigo 6º, parágrafo 3º, como:

[...] um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e a reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho (BRASIL, 1990, p. 18).

Dessa forma, o momento histórico literário, cuja Saúde do Trabalhador se faz

presente nos temas, fornece melhor subsídio para a construção do trabalho proposto, uma vez

que, alguns teóricos como Laurell & Noriega (1989), começam a publicar teorias que defendem

a utilização das "cargas de trabalho" para se analisar, de uma maneira mais global, elementos

que podem causar danos no corpo do trabalhador. Todavia, a enfermagem como qualquer outra

profissão rodeada de riscos inerente ao seu processo de trabalho, está sujeita as nuances e

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prerrogativas emanadas do campo da Saúde do Trabalhador.

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4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 Saúde do trabalhador: contexto histórico

Associar doença com trabalho é algo antigo, reportado desde papiros egípcios e

pensadores gregos (WAISSMANN; CASTRO, 1996). Hipócrates, Plínio e Galeno teciam

considerações sobre as relações da profissão, ambiente e sazonalidade na vida e saúde dos

trabalhadores. Provavelmente, estas declarações não tinham teor de denúncia, uma vez que a

sociedade da época baseava-se em trabalho escravo de nações subjugadas, mas mostram já

naquela época as descrições do aparecimento de doenças relacionadas ao trabalho (FRIAS

JÚNIOR, 1999).

Em 1700, surge a obra de Bernardino Ramazzini, médico italiano considerado um

dos precursores das discussões sobre doença do trabalho, que apresenta em seu estudo as

causas de adoecimento e morte em mais de 50 profissões, antecipando conceitos da Medicina

Social e com sutil crítica aos costumes da época. Hoje é considerado pai da Medicina do

Trabalho, pela importância de sua obra e por introduzir o questionamento de ocupação na

anamnese médica (WAISSMAN; CASTRO, 1996; FRIAS JÚNIOR, 1999).

Por volta de 1760, a decadência do feudalismo começa a dar lugar ao modo de

produção industrial, de forma muito mais acelerada e caracteriza o momento conhecidamente

chamado de Revolução Industrial, onde se substituiu as oficinas dos artesãos pelas fábricas,

com seus ambientes confinados e insalubres, acompanhadas de profundas mudanças sociais.

Com o êxodo rural, pronuncia-se a miséria e a falta de saneamento, que aliadas às péssimas

condições de trabalho dão lugar às grandes epidemias (FRIAS JÚNIOR, 1999).

O impacto da Revolução Industrial na vida dos operários foi tão intenso, que chegou

a colocar em risco a reprodução da força de trabalho, com as taxas de mortalidade superando

as de natalidade (LAURELL; NORIEGA, 1989). Dessa forma, preocupados com a redução da

força motriz causada pela morte dos operários doentes, os governos intervieram dentro das

fábricas. Surge a Medicina do Trabalho, baseada na ótica da medicina do corpo, em que sua

ação é centrada na figura médica como agente de atuação sobre o objeto – o trabalhador

(FRIAS JÚNIOR, 1999). Porém, conforme afirmam Laurell & Noriega (1989), uma das

conseqüências do surgimento deste tipo de assistência foi obscurecer ainda mais o

entendimento da relação saúde-trabalho.

No início do século XX, o mundo depara-se com novas mudanças. Surge no cenário

internacional o socialismo, o comunismo e o marxismo se contrapondo ao capitalismo, seguidos

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pela I Guerra Mundial. O sindicalismo começa a formar-se, amparando socialmente os

trabalhadores. Dentro das fábricas, novas tecnologias não chegam impunes, causando

mudanças nos processos de trabalho, causando maior desgaste do trabalhador e

aumentando/mudando as doenças e os acidentes de trabalho (FRIAS JÚNIOR, 1999). Nesse

mesmo contexto, as teorias administrativas ganham força, surgindo a organização científica do

trabalho com o taylorismo e o fordismo, visando um aumento na produtividade (FRIAS JÚNIOR,

1999). O trabalhador firma-se como objeto dentro da engrenagem do sistema produtivo, cada

vez mais distante de ser sujeito deste processo.

Com o passar do tempo a evolução das ciências nas as áreas de higiene industrial,

engenharia de segurança e ergonomia vão ganhando destaque e se firmando na sociedade.

São criadas novas escolas de Medicina Preventiva, onde a Saúde Pública se desenvolve,

deixando o modelo da Medicina do Trabalho insustentável devido ao grande número de

doenças e exposições ocupacionais contrapondo-se a pouca resolutividade. Nasce então a

Saúde Ocupacional, com o traço da interdisciplinaridade, com a organização de equipes

progressivamente multiprofissionais e com ênfase na “higiene industrial", entretanto, refletindo a

origem histórica dos serviços médicos, de forma que, atuando e intervindo sobre o ambiente

mantém o trabalhador como mero objeto das ações desenvolvidas (MENDES; DIAS, 1991).

Nas décadas de 60 e 70, surge um “questionamento global da organização

capitalista do trabalho” (LAURELL; NORIEGA, 1989, p. 23), juntamente com movimentos

sociais buscando a redemocratização e a mudança de valores. Na Itália, eclode um movimento

que buscava maior participação dos trabalhadores nas decisões em saúde e segurança – o

Movimento Operário Italiano. Todas essas novas idéias, ao intensificarem-se, chegam a uma

América Latina que vivia uma conturbada fase político-social – as ditaduras. Aliando a situação

com a vontade de mudança, lutas democratizantes e reforma sanitária, o continente mostrou-se

um terreno fértil para o surgimento de transformações (FRIAS JÚNIOR, 1999). No Brasil, a

partir de meados dos anos 70 e durante toda a década de 80, o recrudescimento dos

movimentos de massa impulsionou a nação em direção a um processo de redemocratização.

Nesse contexto, surgiu o Movimento de Reforma Sanitária. A Saúde do Trabalhador surge

mostrando a ruptura com o modelo anterior, passando a se ocupar da "promoção da saúde",

cuja estratégia principal é a de modificar o comportamento das pessoas e seu "estilo de vida”

através de um processo de educação (MENDES; DIAS, 1991). Ela veio se somar às outras

respostas institucionais, diante dos diversos movimentos sociais que reivindicavam, entre outras

questões, que fizesse parte do direito universal à saúde, incluída no escopo da Saúde Pública

defendido pelo movimento social (BRASIL, 2005).

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Em 1986, acontecem a VIII Conferência Nacional de Saúde e a I Conferência

Nacional de Saúde do Trabalhador, representando uma contribuição importante para o

processo de redemocratização, não só do setor saúde, mas também da própria vida política

brasileira, discutindo a saúde como direito do cidadão e dever do Estado (BRASIL, 2005). Foi

um passo importante na história da saúde no país, pois era neste momento que a Assembléia

Nacional Constituinte preparava o texto da nova constituição, com medidas para a

transformação do setor da saúde. Assim, a constituição de 1988, juntamente com a lei 8080/90,

trouxe uma nova orientação das políticas de saúde, exigindo assim a introdução de novas

práticas em relação à Saúde do Trabalhador (SÊCCO et al., 2002).

A principal mudança com a nova constituição é a proposição do Sistema Único de

Saúde (SUS), que é criado pela lei 8080/90. Assim, a configuração da Saúde do Trabalhador

dá-se no âmbito do direito à saúde e como competência do SUS (BRASIL, 2005). E nesse

âmbito nacional, começam a se realizar acordos com os diversos setores produtivos referentes

à proposição de melhores condições de trabalho para os trabalhadores e à implantação de

programas de prevenção nas demais empresas que o utilizam (MINAYO;GOMEZ e THEDIM-

COSTA, 1997).

Em 2002, por meio da Portaria GM/MS nº 1679/02 de 20 de setembro de 2002, é

instituída a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador – RENAST, principal

estratégia para a Política de Saúde do Trabalhador no âmbito do SUS. Essa Política Nacional

de Saúde do Trabalhador, segundo o Ministério da Saúde, foi desenvolvida com a contribuição

dos Ministérios do Trabalho, da Saúde e da Previdência Social, buscando a desfragmentação

das ações isoladas de cada um desses ministérios (BRASIL, 2006 b).

Embasados na Política Nacional de Saúde do Trabalhador, são criados vários

protocolos de acidentes de trabalho, como o protocolo de câncer relacionado ao trabalho por

exposição ao benzeno, protocolo de chumbo, protocolo de exposição a material biológico, entre

outros (BRASIL, 2006 b). É publicada em novembro de 2005 pelo Ministério do Trabalho e

Emprego, através da Portaria nº. 485, A Norma Regulamentadora 32 (NR-32), que foi a primeira

no mundo a regulamentar a saúde e a segurança dos trabalhadores em instituições de saúde,

tendo por finalidade minimizar riscos e proporcionar um ambiente de trabalho mais saudável,

prevenindo a saúde dos profissionais e orientando-os sobre os riscos diários, principalmente

dos acidentes de trabalho com perfurocortantes (COREN/MG, 2007).

Sendo assim, observa-se que a “A Saúde do Trabalhador” constitui-se como um

campo da Saúde Coletiva em franca construção, cujo objeto da atenção é o processo saúde-

doença dos trabalhadores dos diversos grupos populacionais e a sua relação com o trabalho,

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buscando estabelecer as causas dos agravos à saúde, bem como reconhecer seus

determinantes, além de estimar os riscos e propor os modos de prevenção e promover saúde

(MENDES e DIAS, 1999).

4.2 Cargas e acidentes de trabalho: risco de contaminação por material perfurocortante

O trabalho se caracteriza pela atividade humana direcionada à transformação de um

objeto, através do processo de trabalho, que se desenvolve sob denominado processo de

produção, englobando também as relações determinantes para o desgaste do trabalhador

(SÊCCO et al., 2002).

Este desgaste, segundo Laurell & Noriega (1989, p. 109), pode levar ao risco de

adoecimento em uma concepção unicausal da medicina do trabalho, onde os “agentes nocivos

isolados podem causar doença”, diferindo dos “fatores de risco” do modelo multicausal, que

prevêem a necessidade simultânea de vários deles para que se produza a doença. Dessa

forma, segundo Sêcco et al. (2002, p.6), o termo risco reflete “o grau de probabilidade de

ocorrência de um determinado evento” e coeficiente de risco “pode estimar a probabilidade do

dano vir a ocorrer em futuro imediato ou remoto, bem como levantar um fator de risco isolado

ou vários simultâneos”. Conforme esses autores, a concepção de risco remete às premissas da

Saúde Ocupacional, que, com destaque para os programas de higiene no trabalho e promoção

e manutenção da saúde dos trabalhadores, teve importante papel nas décadas de 60 e 70.

Atualmente, frente às novas concepções de saúde, o conceito de cargas de trabalho consegue

uma maior amplidão no tocante aos “acidentes de trabalho”, que por sua vez, são conceituados

pela Lei 8.213, alterada pelo decreto 611, artigo 19 como sendo:

[...] aquele que ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa ou ainda, pelo serviço de trabalho de segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou a redução da capacidade para o trabalho, permanente ou temporária (BRASIL, 1991, p. 14).

Os acidentes de trabalho na área da saúde possuem grandes impactos

psicossociais, aliados ao risco de transmissão de doenças. Brandão Júnior (2003) revela que as

causas apontadas para os acidentes de trabalho na saúde são: sobrecarga de trabalho,

descuido, trabalho em três ou mais instituições, falta ou inadequação de Equipamento de

Proteção Individual (EPI), cansaço físico, estresse e precarização do trabalho.

Nhamba (2004) considera que os fatores envolvidos no estudo de acidentes de

trabalho não podem ser analisados à margem do contexto de organização do processo de

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trabalho. Sendo assim, Sêcco et al. (2002) confirmam o exposto, destacando que os acidentes

de trabalho que acometem trabalhadores de unidades de saúde derivam de complexas

interrelações e não devem, portanto, ser analisados de forma isolada, como sendo um evento

particular, mas sim através da análise do contexto do processo de trabalho e produção, das

formas como o trabalho é organizado e realizado, das condições de vida dos profissionais

expostos, enfim, das cargas de trabalho presentes no dia-a-dia dos trabalhadores.

O conceito de cargas de trabalho veio para abarcar todos os impactos dos

elementos que constituem o processo de trabalho, sob a ótica da tecnologia, de sua

organização e divisão, do consumo da força de trabalho e as capacidades vitais do trabalhador

(FACCHINI, 1994). Dessa maneira, conforme Laurell & Noriega (1989, p. 110),

As cargas são os elementos do processo de trabalho que interatuam dinamicamente entre si e com o corpo do trabalhador, gerando processos de adaptação que se traduzem em desgaste, entendido como perda da capacidade potencial e/ou efetiva corporal e psíquica.

Ao investigar as cargas de trabalho, Laurell e Noriega (1989, p.110) as

decompuseram em tipos específicos: físicas, químicas, biológicas, mecânicas, fisiológicas e

psíquicas que também compreendem os riscos particulares. Todavia, os autores destacam não

serem as cargas de trabalho simples somas dos riscos, já que “só adquirem pleno significado a

partir da dinâmica global do processo de trabalho”.

As cargas físicas, químicas, biológicas e mecânicas possuem uma materialidade

externa ao corpo, e interatuando com o mesmo, transforma-se em uma nova materialidade

interna. As cargas fisiológicas e psíquicas, entretanto, somente adquirem materialidade no

corpo humano quando expressam transformações nos processos internos deste corpo

(LAURELL e NORIEGA, 1989).

4.2.1 Cargas e acidentes de trabalho na enfermagem

Transportando as generalidades das cargas de trabalho às particularidades das

ações desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem, observamos que quaisquer

transformações no processo saúde-doença destes profissionais relacionadas ao trabalho

podem perpassar pelas premissas das cargas físicas, químicas, biológicas, mecânicas,

fisiológicas e psíquicas. Entretanto, em sua pesquisa, Gonçalves (2006), elegeu o tempo de

permanência do paciente com o profissional e suas ações como sendo uma das mais altas

cargas de trabalho na equipe de enfermagem. Assim, quando estabelecemos uma relação entre

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cargas e acidente de trabalho na enfermagem, compreendemos que esses acidentes são as

mais visíveis mostras do desgaste do trabalhador. Sendo que o desgaste é, na prática, a

representatividade das cargas de trabalho, que muito contribuem para o referido acidente e

seus ricos de contaminação (SHIMIZU; RIBEIRO, 2007). Por conseguinte, os acidentes de

trabalho representam a concretização dos agravos à saúde em decorrência da atividade

humana, ou seja, concretização das cargas de trabalho, sofrendo interferência de variáveis

inerentes à própria pessoa, além do contexto social, econômico e político (SÊCCO et al., 2002).

Ainda sob essa ótica, as cargas de trabalho na enfermagem influenciam a ocorrência dos

diversos tipos de acidentes de trabalho, entre eles, e merecendo importante destaque, os

ocorridos com materiais perfuro-cortantes, que são os principais causadores de acidentes com

contaminação entre trabalhadores de enfermagem (MARZIALE, 2004).

4.2.2 Risco de contaminação em decorrência de acidente de trabalho com material perfurocortante na enfermagem

Os trabalhadores da área de saúde, desde a década de 80, motivados pelo

surgimento da epidemia da AIDS, iniciaram discussões sobre os riscos ocupacionais

relacionados com suas atividades profissionais, demonstrando preocupação com esses riscos

em função da manipulação de microorganismos biológicos no ambiente laboral (BEJGEL;

BARROSO, 2001). Portanto, sabe-se que os trabalhadores de saúde sujeitam-se aos vários

riscos ocupacionais, adoecem, acidentam-se e na maioria das vezes, nem mesmo relacionam

esses problemas à sua atividade laborativa. Estão cada vez mais submetidos a uma grande

diversidade de riscos, porém preocupam-se muito com o trabalho a ser realizado e os cuidados

com os clientes e pouco com os riscos ocupacionais a que estão expostos (OLIVEIRA;

MUROFUSE, 2001). Neste contexto de trabalho em saúde, destaca-se o trabalho realizado pela

enfermagem, que pelas suas características inerentes pode levar ao desgaste e à destruição

das energias físicas e mentais dos trabalhadores (MELLO, 1989), além de oferecer grandes

riscos às exposições ocupacionais a materiais biológicos potencialmente contaminados em

estabelecimentos de saúde, evidenciado em pesquisas que demonstram que os acidentes

envolvendo sangue e outros fluidos orgânicos equivalem às exposições mais freqüentemente, e

que os acidentes com agulhas e material perfuro-cortantes são considerados extremamente

perigosos devido ao fato de serem potencialmente capazes de transmitir mais de 20 tipos de

patógenos diferentes, onde pode se encontra o vírus da imunodeficiência humana, e os vírus da

hepatite B e C (BRASIL, 2006a).

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Tal afirmação corrobora os riscos de contaminação inerentes ao acidente com

perfurocortante, e atrelado a esse fato, evidenciamos ainda que “dados de diversos estudos

brasileiros envolvendo materiais perfurocortantes revelam altos índices de ocorrência [...],

porém quase sempre vitimando trabalhadores da área de enfermagem” (GONÇALVES, 2007, p.

33).

Ainda explicitando os acidentes com materiais perfurocortantes, Souza (2002), em

sua pesquisa, analisou de forma quanti-qualitativa 226 profissionais de enfermagem

acidentados, sendo 59,3% enfermeiros e 40,7% auxiliares de enfermagem, onde revelou que os

maiores riscos de contaminação foram os representados por acidentes com perfurocortantes,

principalmente após o seu manuseio. Então, analisando as contribuições desses autores,

observamos uma característica que reforça a base deste trabalho: a prevalência de acidentes

na enfermagem com risco de contaminação envolvendo materiais perfurocortantes.

Outra informação já explicitada anteriormente, é que entre os profissionais da saúde,

a equipe de enfermagem é a mais sujeita aos acidentes com material biológico, devido ao fato

destes profissionais permanecerem maior tempo com os pacientes e realizarem o maior número

de procedimentos (MENDOZA et al., 2001; SOUZA; VIANNA, 1993). Contudo, essa citação

envolve dois fatores conhecidamente desfavoráveis relacionados ao acidente de trabalho, que é

o elevado número de procedimentos e a longa permanência de tempo com o paciente,

caracterizando duas importantes cargas de trabalho na enfermagem que muito contribuem para

a ocorrência de acidentes.

Confirmando o exposto, Marziale e Rodrigues (2002) apontam que os riscos de

acidentes com exposição a materiais biológicos são maiores entre o pessoal da enfermagem,

sendo que cerca de 88% dos acidentes de trabalho notificados na área de saúde acometem o

pessoal da referida classe. Leite (2005) explicita também que se configura uma maior exposição

entre técnicos de enfermagem, quando comparados aos enfermeiros.

Marziale (2004), em uma revisão da literatura na base de dados Lilacs e Medline,

nos últimos 16 anos, analisou 55 artigos, sendo 39 internacionais e 16 nacionais referentes ao

estudo dos acidentes de trabalho com material perfurocortante e a identificação dos fatores

predisponentes à ocorrência de tais acidentes entre trabalhadores da enfermagem, a qual

concluiu em sua análise que a maior incidência de fatores predisponentes a ocorrência dos

acidentes em vários países foram a prática inadequada de reencape de agulhas e o inadequado

descarte do material. Com resultados não muito diferentes, mas sim, quase corroborando

integralmente Marziale (2002), Silva et al. (2009) referem em sua pesquisa de acidente

biológico entre profissionais de saúde, que dentre os profissionais de enfermagem acidentados,

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a maioria se incluía em acidentes de trabalho, cuja prática envolveu material perfurocortante, a

saber: 27% punção, 17% administração de medicamentos, 16% descarte, 10% reencape de

agulha, 7% material cirúrgico, 4% durante coleta, 3% manuseio do lixo, 16% outros. À exceção

dos “16% outros” que desconhecemos o tipo de acidente, pode-se inferir, portanto, que 84%

dos acidentes analisados por Silva et al. (2009) fazem parte do repertório de acidentes que

envolvem os materiais perfurocortantes, e associados a eles, os riscos de contaminação. Logo,

essa constatação feita por Silva et al. (2009) revela um alarmante índice de acidentes que

podem resultar em contaminação entre os trabalhadores de enfermagem, devendo, portanto,

ser alvo de estudos mais aprofundados na área de medidas de contenção desse tipo de

acidentes.

Monteiro, Carnio e Alexandre (1987), publicaram na Revista Brasileira de

Enfermagem um artigo em que analisam os eventos de acidentes de trabalho ocorridos em um

Hospital Universitário, segundo a categoria funcional do pessoal de enfermagem, o local de

ocorrência, a região do corpo atingida, a natureza da lesão e o turno de ocorrência. No referido

estudo, chama a atenção o fato de que as contusões foram as lesões mais frequentes

perfazendo 31,91% dos eventos, enquanto os eventos provocados por perfurantes e cortantes

como vidros quebrados, lâminas de bisturi, giletes e agulhas, ficaram em segundo lugar com o

índice de 27,66%. Mostraram claramente que ainda não há uma atenção especial com os

acidentes que envolvem perfurocortante que tiveram contato com materiais biológicos

potencialmente contaminados.

Segundo Marziale (2003), a estimativa anual de acidentes pós-exposição

ocupacional com material perfurocortante entre profissionais de saúde é de 0,25% a 0,4% para

o vírus HIV, 6% a 30% para o HBV e 0,4% a 1,8% para o HCV. Ainda segundo a autora,

aproximadamente 384.000 injurias percutâneas ocorreram anualmente nos hospitais

americanos, sendo que 236.000 delas foram injurias resultantes de acidentes com material

perfurocortante. Ao estudar os acidentes com material biológico entre profissionais de

enfermagem de um hospital de Angola, Nhamba (2004) observou que, na maioria das vezes, os

trabalhadores não atribuíram causas aos acidentes e quando o fizeram, citaram motivos nos

quais se destacam a culpa para si próprios e a falta de material na instituição. Em relação às

condutas administrativas da instituição, em 97% dos casos não houve qualquer assistência para

estes trabalhadores, sendo que estes ainda acham normal não haver tomadas de providências,

além de perceber o acidente como parte de seu trabalho. Em relação às causas de acidentes, o

autor considera uma combinação de vários fatores relacionados tanto aos aspectos ligados aos

conhecimentos e atitudes dos trabalhadores como aos riscos, e ainda àqueles referentes às

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políticas de assistência vigentes no país, promovendo atitudes negativas por parte dos

trabalhadores e propiciando condições para o agravo da saúde ocupacional. Nesse contexto,

segundo Bottosso (2005), a adoção às normas de biossegurança torna-se imprescindível para a

prevenção, minimização ou eliminação dos riscos ocupacionais que podem comprometer a

saúde do trabalhador.

4.3 Precaução Padrão e Educação Permanente na Enfermagem

Informado dos riscos de contaminação, bem como das formas de ocorrência dos

acidentes com material perfurocortante, as medidas mais conhecidas para evitar acidentes de

trabalho com exposição ao material biológico são as medidas de biossegurança contidas na

“Precaução Padrão” ou “Precaução Universal”, definidas por Brevidelli et al. (1995) e por Oda et

al. (1996) como um conjunto de orientações que visam evitar as exposições laborais à

patógenos. Ainda, segundo Bulhões (1998), junto com as medidas de biossegurança têm a

Educação Permanente, como uma importante aliada na potencialização da diminuição dos

acidentes envolvendo risco biológico.

Dentre as orientações contidas na Precaução Padrão, existem duas basicamente

centrais: uso de barreiras com EPI ao realizar procedimentos com riscos e o manejo adequado

de perfurocortantes, com descarte em caixa de material rígido apropriado, sem tentativas de

reencape, retirada ou quebra da agulha.

Frente ao potencial risco ao qual estão expostos, se esperaria uma completa adesão

dos profissionais de enfermagem às medidas de prevenção condizentes com a Precaução

Padrão para aumentar a segurança laboral e favorecer o autocuidado. Mesmo assim, nem

sempre se evidencia essa adesão por diversos motivos, entre os quais a falta de conhecimento,

de sensibilização e de percepção dos riscos ocupacionais, relatados por Brevidelli et al. (1995),

Marziale e Rodrigues (2002) e Souza e Vianna (1993).

Souza e Vianna (1993) relacionaram diretamente a incidência de acidentes de

trabalho com a não utilização da Precaução Padrão. Trabalhando com 57 casos de acidentes

de trabalho, conseguiram traçar o perfil dos trabalhadores acidentados, mostrando que eram

em sua maioria, mulheres jovens ainda em idade fértil e com escolaridade geralmente maior do

que a exigida para o exercício de seu cargo. Os autores expuseram que a maioria dos

acidentes ocorreu com materiais perfurocortantes, e os estudos ainda apontaram que 78%

destes acidentes poderiam ter sido evitados, sendo que 57% deles apenas com a utilização da

Precaução Padrão.

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Lopes et al. (1999) realizaram seu estudo em uma instituição em que nos dois anos

anteriores (1996-1998) havia sido oferecida reciclagem sobre Precaução Padrão para seus

funcionários. Utilizando como método a observação dos procedimentos realizados, constataram

que em 29% das ocasiões não houve total seguimento da preconização da Precaução Padrão.

Isso se mostrou na orientação de lavar as mãos após os procedimentos (não adesão de 44%) e

reencape de agulhas (praticada em 45%). Essa observação evidencia a tendência dos

profissionais de saúde ao não cumprimento das orientações da Precaução Padrão, expondo a

si próprio ao risco de contaminação, especialmente as contaminações em decorrência de

acidente com perfurocortante, mostrado pelo reencape de agulhas.

Conforme Silva et al. (2000), durante a realização de alguns ações/procedimentos de

saúde, mesmo empregando a Precaução Padrão, o profissional não consegue evitar o acidente.

No mesmo sentido, Sêcco et al. (2002) afirmaram que a Precaução Padrão são a melhor

alternativa para a preservação da saúde dos trabalhadores expostos ao risco biológico, porém

muitas vezes a ocorrência de acidentes é atribuída somente ao não seguimento destas normas,

deixando de lado muitos outros fatores que também contribuem para os acidentes. Entre eles,

os autores citam falta de treinamento, inexperiência, indisponibilidade de equipamentos de

segurança, cansaço, repetitividade de tarefas, dupla jornada de trabalho, distúrbios emocionais,

excesso de autoconfiança, qualificação profissional inadequada, falta de organização do

serviço, trabalho em turnos, desequilíbrio emocional na vigência de situações de emergência,

negligência e cargas de trabalho. Concordando com essa afirmação, Nhamba (2004) aponta a

sobrecarga de trabalho, o cansaço e o estresse como fatores contributivos para as incursões

em acidente. Dessa forma, percebemos que a concepção do acidente de trabalho na saúde,

novamente ganha contornos complexos que exigem muito mais do que o cumprimento de

normas para sua explicação, como visto pela Precaução Padrão, mas sim também de outros

aspectos como os relacionados às cargas de trabalho e aos relacionados na educação em

saúde, como treinamentos.

Brevidelli et al. (1995), em seu estudo sobre o comportamento da equipe de

enfermagem frente à Precaução Padrão, perceberam uma adesão não satisfatória a estas.

Contando as agulhas reencapadas, descartadas em recipientes rígidos em unidades de terapia

intensiva, eles perceberam que quase a metade das agulhas estava reencapada. Ao aplicar

questionários à equipe de enfermagem da mesma instituição, 42% dos funcionários declararam

ter conhecimento incompleto da Precaução Padrão. Como motivos para a não adesão, os

autores citaram que alguns profissionais reclamaram que a Precaução Padrão interfere no

relacionamento com o paciente, diminuem a destreza manual e muitos achavam desnecessária

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a aplicação de tais práticas. Ao final do estudo, os autores concluíram que muitos profissionais

demonstram interpretação incorreta da Precaução Padrão e que a equipe de enfermagem da

instituição continua reencapando as agulhas, mesmo após receber o treinamento específico.

Dessa forma, notamos a grande contribuição que a Precaução Padrão pode oferecer

ao profissional de enfermagem no sentido da minimização de acidentes com perfurocortantes,

visto as diversas colocações dos autores ao mostrar que o uso ou não dessas Precauções

estão ligadas intimamente com a diminuição ou aumento das ocorrências de acidentes

respectivamente. Entretanto, percebemos também que os acidentes analisados não podem ser

exclusivamente vinculados à simples observação da não adoção das medidas contidas na

Precaução Padrão, pois existem ainda outras medidas que, interatuando com o profissional,

contribuem para prevenção e simultaneamente para a diminuição dos acidentes, a qual merece

destaque, a Educação Permanente em Saúde.

Ressaltando a ocorrência do grande número de acidentes com materiais

perfurocortantes, o Conselho Regional de Enfermagem reconhece que os agentes nocivos que

estão presentes no ambiente de trabalho e que podem acarretar em danos à saúde, não são

completamente conhecidos pela enfermagem, o que a impossibilita de ter noções, hábitos e

cuidados necessários para não contrair doenças ou diminuir a ocorrência de acidentes

(COREN/MG, 2007). Ainda nessa perspectiva, Marziale e Rodrigues (2002) em sua pesquisa

envolvendo contaminação por material perfurocortante, revelaram que os enfermeiros atribuem

os acidentes à negligência de outros profissionais e à sobrecarga de trabalho, enquanto que os

atendentes de enfermagem os relacionam à fatalidade. Os autores ainda comentaram que a

“falta de sensibilização e conscientização, a inadequada supervisão contínua e sistemática da

prática, a não percepção individual sobre o risco e a falta de educação continuada” são os

principais fatores relacionados com a ocorrência deste tipo de acidente (MARZIALE e

RODRIGUES, 2002, p. 23). Sendo assim, é possível observar que dentre tantos aspectos

relacionados com os acidentes de trabalho, a educação continuada ou educação permanente

constituem em alternativas para o trabalho com os profissionais de saúde no sentido da

promoção de maior informação, conscientização e educação em serviço, no intuito da redução

dos índices de acidente de trabalho com material perfurocortante e seu risco de contaminação.

Pois segundo Ribeiro e Motta (1996), a Educação Permanente em Saúde parte da reflexão

sobre a realidade do serviço e das necessidades existentes, para então formular estratégias

que ajude a solucionar os problemas.

Nesse sentido, Azambuja, Kerber e Vaz (2001) expuseram que o processo educativo

é um importante caminho a ser percorrido no que concerne à mudança de uma realidade

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adversa, pois a educação busca em seu processo de reflexão-ação a transformação da

realidade. Corroborando o exposto, o Ministério da Saúde considera que o processo de

Educação Permanente em Saúde deve se incorporar ao cotidiano das organizações e ao

trabalho, tendo como objetivos a transformação das práticas profissionais e da própria

organização do trabalho, sendo estruturados a partir da problematização do processo de

trabalho, onde a atualização técnicocientífica é um dos aspectos da transformação das práticas

(CECCIM, 2005)

Ainda nesse âmbito, Caixeta e Barbosa-Branco (2005) apontaram que treinamentos

envolvendo biossegurança não diminuíram a acidentabilidade dos profissionais de saúde, talvez

por não atingir uma melhoria na capacitação destes profissionais. Cabe aqui o questionamento:

de que maneira estão sendo realizados esses treinamentos? Dentro da realidade do

estabelecimento de saúde são bastante comuns treinamentos pontuais, onde o trabalhador só

recebe instruções de como proceder, sem espaço para reflexões, críticas e exercício da

cidadania, ou seja, preceitos contidos na Educação Permanente (RIBEIRO e MOTTA, 1996).

A alternativa de atuação frente a acidentes de trabalho proposta por Osório,

Machado & Minayo-Gomez (2005) são vistas como uma ferramenta de formação, onde os

trabalhadores fazem a análise dos motivos do acidente, observando como cenário o processo

de trabalho como um todo. Este tipo de iniciativa acaba trazendo mudanças na realidade, uma

vez que o trabalhador é inserido no processo, é ouvido e valorizado. Dessa forma, tem-se na

Educação Permanente uma estratégia para potencializar a reflexão-ação, podendo assim

possibilitar um modo de fazer o trabalho de maneira mais consciente das situações de risco. A

proposição de espaços para a reflexão coletiva inserida na Educação Permanente, não só

proporciona momentos para um aprendizado para além dos treinamentos, como permite ao

trabalhador exercer sua cidadania ao discutir assuntos relativos ao seu processo de trabalho.

Sem contar que a Educação Permanente em Saúde tem se tornado política pública formulada

para alcançar o desenvolvimento dos sistemas de saúde, além de ser eleita pelo Ministério da

Saúde como importante ferramenta para a capacitação dos profissionais de saúde, sendo que

essa prática serve como meio para se trabalhar a consolidação do SUS dentro das instituições

(BRASIL, 2004).

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5 DISCUSSÃO

Conhecer o significado do acidente para o trabalhador é o primeiro passo para

entender as repercussões deste acidente e pensar as estratégias para diminuir o desgaste

sofrido durante a vivência deste processo. Azambuja, Kerber e Vaz (2001) afirmam que é

imprescindível conhecer a dinâmica do processo de trabalho para se propor qualquer política de

prevenção de acidentes, e que isso é possível através da concepção de acidentes dos próprios

trabalhadores.

Para Brandão Júnior (2003), o significado etimológico do termo acidente está

relacionado à idéia de evento fortuito, de acaso, de imprevisto e de fatalidade, referindo-se a

eventos caracterizados pela impossibilidade de controle de seus fatores causais. No caso de

acidentes de trabalho, os quais acontecem em cenário extremamente complexo, este acaso

não ocupa lugar central no que tange as razões pelas quais ocorrem os acidentes. Pelo

contrário, diversos autores mostram as relações deste com o processo de trabalho e as

relações de trabalho (AZAMBUJA, KERBER E VAZ, 2001; LAURELL e NORIEGA, 1989).

Em um passado próximo, pouco se falava de promoção/prevenção da saúde do

trabalhador, estando esse tema ligado a murmúrios e tendências no cotidiano das práticas

profissionais, onde a atenção era mais voltada às questões inerentes aos momentos pós-

acidente de trabalho e suas implicações trabalhistas, assim como é observado por Azambuja,

Kerber e Vaz (2001) que expõem que a legislação mostra determinados propósitos na sua

promulgação, onde alguns parágrafos servem como respostas às reivindicações trabalhistas e

outros elucidam sobre os benefícios que os trabalhadores teriam após o acidente.

Não há referências à prevenção nem às relações de trabalho que se processam no

momento do acidente, referenciando a visão apenas de causa-efeito. Entretanto, a abordagem

às questões de prevenção e promoção da saúde do trabalhador está deixando o campo das

“tendências” e estão se consolidando como Política Nacional de Saúde do Trabalhador do

Ministério da Saúde, que em vigor desde 2004, implementou uma série de estratégias, entre

elas a criação da RENAST (Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador) e dos

CEREST (Centros Estaduais e Regionais de Referência em Saúde do Trabalhador) que

realizam ações de promoção, prevenção, vigilância, assistência e reabilitação em saúde dos

trabalhadores visando à redução dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, além de

promover os processos de capacitação e educação permanente para os profissionais e técnicos

da rede do SUS (BRASIL, 2006 b). Essa Política mostra claramente a preocupação do Estado

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em relação à ampliação das ações, visando a inclusão dos trabalhadores no sistema de

promoção e proteção da saúde.

Ao se avaliar os trabalhadores de enfermagem acerca dos significados individuais

dos acidentes de trabalho, entende-se que, genericamente, não possuem um conhecimento

organizado inerente à temática, entretanto possuem plena consciência das condições de

trabalho as quais são submetidos, pois vive a realidade do trabalho no dia-a-dia (AZAMBUJA

KERBER E VAZ, 2001). Mesmo assim, para o trabalhador de enfermagem inserido num grupo

especifico e que por muitas vezes atua em condições permeada de tensões e adversidades em

que as limitações de instrumentos de trabalho se transformam em improviso, fica deflagrada a

vulnerabilidade ao profissional que expõe o seu próprio estado de saúde (GUIMARÃES;

BASTOS, 2000).

Embora os trabalhadores de enfermagem estejam expostos a diferentes cargas de

trabalho que podem promover os mais diversos tipos de acidentes, houve uma tendência em

conceituar o acidente de trabalho como uma exposição à material biológico, principalmente com

perfurocortante. Isso é explicado por Azambuja Kerber e Vaz, (2001), que constatam que os

trabalhadores utilizam elementos concretos do processo de trabalho vinculados a ações

individuais para conceituar acidentes, com dificuldades de extrapolá-los para estabelecer

relações com o trabalho. Entretanto, viu-se que cargas de trabalho são todos os impactos dos

elementos que constituem o processo de trabalho (FACCHINI, 1994), e que interatuando com o

trabalhador produz um processo de desgaste no mesmo (LAURELL e NORIEGA 1989). Tal

processo de desgaste pode ser devido a exposições às diversas cargas físicas, químicas,

biológicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas. Entretanto, Gonçalves (2006) elegeu o tempo de

permanência do paciente com o profissional e suas ações como sendo uma das mais altas

cargas de trabalho na equipe de enfermagem. Dessa forma, observou-se que os acidentes são

as mais visíveis mostras do desgaste do trabalhador, e o desgaste é na prática, a

representatividade das cargas de trabalho, que muito contribuem para o referido acidente e

seus ricos de contaminação (SHIMIZU; RIBEIRO, 2007).

Nhamba (2004) em uma pesquisa com acidentes ocupacionais com trabalhadores

de enfermagem, relata que 97% dos acidentados não tomaram medidas administrativas frente

ao acidente, como atendimento institucional, notificação, etc. Expôs ainda que 34% dos

acidentados não tomaram tais medidas por não achar importante o acidente e 22% por

considerar que o evento de acidentar-se faz parte do trabalho. Na mesma pesquisa observou-

se que 46% dos acidentes foram por materiais perfurocortantes. Portanto, pode-se inferir que

existiu um grande risco de contaminação por acidente de trabalho, em especial os que se

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acidentaram com perfurocortantes, agravado ainda pelo fato de não ter havido medidas

institucionais frente ao problema. Corroborado por de Osório et al (2005), que incluem os

acidentes com perfurocortantes e as exposições biológicas dentre os acidentes de trabalho, que

ainda hoje, passam por vezes despercebidos, vistos como inerentes ao processo de trabalho e,

no discurso comum como “inevitáveis”, ainda que tenham ganhado considerável destaque pelo

advento da AIDS e das Hepatites virais.

Braga (2000, p. 47) afirma que mesmo estando claro que o acidente é fruto das

relações sociais do trabalho e que estas precisam ser modificadas, “ainda hoje a culpa recai

sobre aquele que está mais diretamente envolvido com o processo produtivo, o trabalhador”, o

qual é o menos habituado à linguagem das intermediações jurídico-institucionais. A autora

ainda referenda que a “legislação nacional vigente se apóia na vertente que admite a existência

de fatores causais sem ligação direta com a vítima”, estando o acidente “percebido como

elemento exógeno ao processo produtivo e não como um de seus resultados” (BRAGA, 2000,

p. 47).

Ainda na mesma analise de Braga (2000), outro problema encontrado é a

subnotificação de acidentes com material biológico, que está relacionada a mecanismos de

defesa do trabalhador, quando esse se depara com a possibilidade de contaminação, associa-

se com a idéia de morte, gerando assim o medo. Essa premissa baseia-se no conceito de

Dejours (1992), que conceitua como estratégias de defesa os mecanismos utilizados frente a

uma situação de perigo e/ou medo. O principal deles é a negação do risco, assumindo atitudes

inseguras frente ao perigo. Não diferentemente, a equipe de enfermagem, seja ela em unidade

de nível primário, secundário ou terciário em atenção à saúde, se comportam semelhantemente

frente às situações de acidentes de trabalho no que diz respeito às subnotificações, pois,

através de pesquisas, Napoleão et al. (2000) afirmam que as causas de subnotificação de

acidentes do trabalho apontadas pelos trabalhadores de enfermagem de diversos setores

mostram a desinformação em relação aos riscos e aos aspectos epidemiológicos, além do

desconhecimento jurídico que envolve este tipo de acidente no ambiente de trabalho. Para

tanto, a autora ainda observa que a notificação dos acidentes de trabalho é uma exigência legal

e que por meio dela são fornecidas as informações relativas aos índices, estatísticas e

distribuições dos acidentes de trabalho, sendo que tais informações constituem base

indispensável para a aplicação e o controle de mediadas prevencionistas. Portanto, infere-se

que as subnotificações na área da enfermagem representam um entrave para as políticas de

saúde do trabalhador, repercutindo negativamente no real conhecimento do quantitativo, das

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causas e das formas que se apresenta o acidente, assim, dificultando a elaboração de

estratégias de prevenção dos mesmos.

Em relação aos motivos precursores que levam ao acidente de trabalho com

materiais perfurocortantes para Nishide, Benatti e Alexandre (2004), são: a falta de atenção, a

não utilização do EPI, e o condicionamento de reencapar agulha. Os autores incluíram ainda

outros motivos relacionados com materiais ou circunstâncias que ocorrem durante o trabalho,

como a sobrecarga de trabalho, déficit de materiais, acidente como um acontecimento

inesperado e outros. A menção de que é importante o papel desempenhado pelas condições de

trabalho como causas dos acidentes também foi relatado, confirmando Cohn et al. (1985) que

salienta a inegável parcela de responsabilidade atribuída às condições de trabalho como fator

contribuinte para a ocorrência ou não dos acidentes. Ainda em relação às causas dos acidentes

de trabalho com materiais perfurocortantes, outros autores conglobam os diversos fatores

relacionados aos acidentes e os simplificam como fruto de negligência do trabalhador frente às

normas prescritas de segurança, sem perceber a multifatorialidade dos acidentes. Um exemplo

disso é a citação de Figueiredo (1992, p.28), ao afirmar que “a displicência dos manuseadores é

o principal motivo da causa de acidentes com material perfurocortante”. Entretanto, Bolick et al.

(2000) vão mais além e relatam que os acidentes de trabalho desta natureza muitas vezes têm

causas associadas, como a não observância de normas, imperícia, condições inadequadas de

trabalho, instrução incorreta ou insuficiente, falhas de supervisão e orientação, falta ou

inadequação no uso de equipamentos de proteção, entre outros aspectos. Como observamos,

contrapondo-se a Figueiredo (1992), Bolick et al. (2000) indica diversas associações que podem

conduzir a causa dos acidentes, fragmentando-as em um leque de possibilidades sem elevar,

em nível de importância, uma em detrimento da outra.

As cargas de trabalho associada ao exercício da profissão de enfermagem,

predispõe o trabalhador ao acidente de trabalho com perfurocortante e aos seus diversos riscos

de contaminação biológica. Pois, segundo o Ministério da Saúde, acidentes desse tipo são

potencialmente capazes de transmitir mais de 20 tipos de patógenos diferentes, com relevância

para o vírus da imunodeficiência humana, e os vírus da hepatite B e C (BRASIL, 2006a). Essa

evidência, ligada ao fato dos trabalhadores de enfermagem serem, dentre os profissionais da

saúde, os que mais se acidentam com materiais perfurocortantes (GONÇALVES, 2007), revela

uma situação preocupante para a classe de enfermagem, bem como denuncia a tênue barreira

que separa os profissionais dos riscos de contaminação. Além disso, explicita a urgente

necessidade de se trabalhar de forma eficiente as questões que envolvem a prevenção de

acidentes no ambiente de trabalho.

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Medidas como a inclusão e seguimento das normas de Precaução Padrão nos

serviços de enfermagem, são vistas como primordiais no intuito da redução de acidentes

envolvendo materiais perfurocortantes e seus riscos de contaminação, visto que,

conhecidamente, a Precaução Padrão é a medida de biossegurança que visa evitar as

exposições laborais à patógenos (BREVIDELLI et al., 1995).

Ainda segundo Brevidelli et al. (1995), após um estudo acerca do comportamento da

equipe de enfermagem frente à Precaução Padrão, concluíram que os profissionais não tiveram

uma adesão satisfatória à referida Precaução. Dessa forma, Souza & Vianna (1993)

relacionaram diretamente a incidência de acidentes de trabalho com a não utilização da

Precaução Padrão. Os autores expuseram que de todos os acidentes ocorridos com material

perfuro-cortante, 57% deles poderiam ter sido evitados apenas com a utilização desta

Precaução. Entretanto, o não seguimento de normas de Precaução Padrão não é o único

responsável pela ocorrência dos acidentes, autores como Nhamba (2004), citam a falta de

treinamento, a sobrecarga de trabalho, o cansaço e o estresse como fatores contributivos para

as incursões em acidente.

Segundo Bulhões (1998), a Educação Permanente é uma importante aliada na

potencialização da diminuição dos acidentes envolvendo risco biológico no que refere ao

treinamento com medidas de biossegurança junto ao profissional. Pois ela é uma estratégia

para maximizar a reflexão-ação, podendo assim possibilitar um modo de fazer o trabalho de

maneira mais consciente das situações de risco (BRASIL, 2004).

Nesse sentido, infere-se que para minimizar os acidentes de trabalho envolvendo

materiais perfurocortantes, faz-se necessário um trabalho prevencionista nos diversos âmbitos,

mas que convergem para a contemplação das abordagens às causas associadas ao acidente

anteriormente mencionadas, envolvendo desde discussão concernente às polícias de saúde,

perpassando pela Educação Permanente em Saúde, até a verificação das condições de

trabalho cujo profissional de enfermagem se insere.

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6 CONCLUSÃO

Na divisão do trabalho em enfermagem, cabe ao técnico e ao auxiliar a realização do

cuidado planejado pelo enfermeiro, além de diversas outras funções rotineiras como limpeza e

preparo de materiais para desinfecção e esterilização. Assim, os técnicos e auxiliares mantém

maior contato com os pacientes e com o material perfurocortante, ficando mais expostos aos

acidentes que envolvem os diversos riscos de contaminação biológica, dentre eles o mais

temido, Vírus da Imunodeficiência Humana. Dessa forma, comparando-se as categorias

profissionais de saúde, percebemos que entre elas a enfermagem como um todo continua

sendo a campeã em números de ocorrências de acidentes de trabalho com material

perfurocortante.

A análise do acidente de trabalho, embora partindo da experiência individual, revela

uma condição da coletividade, possuindo influências sociais. O acidente de trabalho com

trabalhadores da enfermagem envolvendo risco de contaminação biológica nos serviços de

saúde deriva de complexas interrelações, não podendo ser analisado de forma isolada do

contexto do processo de trabalho/produção, da organização do trabalho, das condições de vida

dos trabalhadores e das cargas de trabalho presentes no dia-a-dia.

Viu-se que a “Precaução Padrão” é um importante aliado para a redução dos

acidentes de trabalho na enfermagem, sobretudo com os materiais perfurocortantes, porém

algumas vezes a ocorrência de acidentes é atribuída somente ao não seguimento destas

normas, deixando de lado, uma série de outros fatores que também contribuem para os

acidentes, como: a sobrecarga de trabalho, a falta de treinamento no serviço de saúde,

inexperiência, indisponibilidade de equipamentos de segurança individual, cansaço,

repetitividade de tarefas, ações improvisadas e outros. Esses fatores são as principais

contribuições para a ocorrência desses acidentes, contudo, outros motivos iminentemente

antecessores aos eventos de acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes apontados

pela literatura estudada foram: o reencapeamento de agulha, a não utilização de equipamento

de proteção individual e/ou sua inadequação, a falta de atenção do profissional, as tensões

demandadas do ritmo intenso de trabalho, as condições desfavoráveis de trabalho e o

insuficiente material de trabalho.

Ainda cabe assinalar que a execução real do trabalho quase nunca segue

estritamente as normas e instruções, sob o risco de prejudicar o próprio ritmo imposto ao

trabalho, mesmo em detrimento da própria saúde do trabalhador da enfermagem.

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Assim, observou-se que o acidente de trabalho com material perfurocortante na

enfermagem é muito danoso à instituição, mais ainda ao próprio profissional acidentado que

expõe sua saúde aos riscos de contaminação. Sabe-se, porém, que a maioria de tais acidentes

é passível de prevenção, logo, são necessárias a elaboração de estratégias e implementação

de medidas que confluam eficientemente para a prevenção dos acidentes. Entretanto, o

sucesso das medidas prevencionistas está intimamente ligado ao conhecimento das causas

que predispõem ao acidente e a forma de trabalhá-las junto ao profissional.

Conclui-se, portanto, que os acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes

envolvendo risco de contaminação biológica entre os profissionais da enfermagem nos serviços

de saúde atingem índices surpreendentemente altos, o que nos motiva pensar em estratégias

de contenção dessa alarmante incidência em nossa realidade locorregional. Nessa perspectiva,

uma proposta para contribuir com os profissionais de enfermagem inseridos em nossa região,

seria a veiculação das informações acerca da elevada incidência dos referidos acidentes de

trabalho e seus riscos de contaminação, em forma de ação educativa através de Educação

Permanente na Enfermagem.

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