14
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.18; p. 2014 58 ACIDENTES OFÍDICOS EM ANIMAIS DOMÉSTICOS Cristiane Alves Cintra 1 , Daniel Paulino Júnior 2 , Luis Gustavo Gosuen Gonçalves Dias 3 , Lucas de Freitas Pereira 4 , Fernanda Gosuen Gonçalves Dias 5 1 Discente do Programa de Aprimoramento em Clínica Médica de Pequenos Animais, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca, SP, Brasil 2 Prof. Dr. do Programa de Mestrado em Medicina Veterinária de Pequenos Animais, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil 3 Prof. Dr. do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV - UNESP, Jaboticabal-SP, Brasil 4 Doutorando do Programa de Ciências, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil 5 Doutoranda do Programa de Ciências, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil e-mail do autor: [email protected] Recebido em: 12/04/2014 – Aprovado em: 27/05/2014 – Publicado em: 01/07/2014 RESUMO No território brasileiro são descritas 69 espécies diferentes de serpentes peçonhentas e o número de acidentes ofídicos, tendo como vítimas os animais domésticos de pequeno e grande porte, é frequente. O número de casos não é registrado com precisão, pois a notificação não é obrigatória. A maioria das picadas é causada por cobras do gênero Bothrops (jararaca) e Crotalus (cascavel), as quais podem causar danos locais e sistêmicos severos e irreversíveis. Os venenos ofídicos possuem inúmeras substâncias com diferentes efeitos, como por exemplo, anticoagulantes, neurotóxicos, miotóxicos, vasculotóxicos e proteolíticos. Os sinais clínicos comumente encontrados em pacientes acometidos são dor, edema e necrose no local da picada, sangramento nasal, hematúria, paralisia facial, dispneia, entre outros. O diagnóstico deve ser baseado no histórico e sintomatologia do animal, associado aos exames complementares, visto que não há testes definitivos. Os acidentes ofídicos devem ser diferenciados de outras neuropatias causadas por toxinas. O tratamento deve ser instituído o mais rápido possível com soro antiofídico intravenoso específico, além da terapia de suporte. Diante da ocorrência comum de acidentes ofídicos em animais domésticos, o objetivo do presente trabalho foi discorrer sobre a ação dos venenos das serpentes peçonhentas, assim como os sinais clínicos apresentados pelas vítimas, formas de diagnóstico e opções terapêuticas. PALAVRAS-CHAVE: animais domésticos, antídoto, envenenamento, serpentes

Acidentes ofidicos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Acidentes por cobras peçonhentas

Citation preview

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    58

    ACIDENTES OFDICOS EM ANIMAIS DOMSTICOS Cristiane Alves Cintra1, Daniel Paulino Jnior2, Luis Gustavo Gosuen Gonalves

    Dias3, Lucas de Freitas Pereira4, Fernanda Gosuen Gonalves Dias5

    1 Discente do Programa de Aprimoramento em Clnica Mdica de Pequenos Animais, Universidade de Franca UNIFRAN, Franca, SP, Brasil

    2 Prof. Dr. do Programa de Mestrado em Medicina Veterinria de Pequenos Animais, Universidade de Franca UNIFRAN, Franca-SP, Brasil

    3

    Prof. Dr. do Departamento de Clnica e Cirurgia Veterinria, FCAV - UNESP, Jaboticabal-SP, Brasil

    4 Doutorando do Programa de Cincias, Universidade de Franca UNIFRAN,

    Franca-SP, Brasil 5 Doutoranda do Programa de Cincias, Universidade de Franca UNIFRAN,

    Franca-SP, Brasil e-mail do autor: [email protected]

    Recebido em: 12/04/2014 Aprovado em: 27/05/2014 Publicado em: 01/07/2014

    RESUMO No territrio brasileiro so descritas 69 espcies diferentes de serpentes peonhentas e o nmero de acidentes ofdicos, tendo como vtimas os animais domsticos de pequeno e grande porte, frequente. O nmero de casos no registrado com preciso, pois a notificao no obrigatria. A maioria das picadas causada por cobras do gnero Bothrops (jararaca) e Crotalus (cascavel), as quais podem causar danos locais e sistmicos severos e irreversveis. Os venenos ofdicos possuem inmeras substncias com diferentes efeitos, como por exemplo, anticoagulantes, neurotxicos, miotxicos, vasculotxicos e proteolticos. Os sinais clnicos comumente encontrados em pacientes acometidos so dor, edema e necrose no local da picada, sangramento nasal, hematria, paralisia facial, dispneia, entre outros. O diagnstico deve ser baseado no histrico e sintomatologia do animal, associado aos exames complementares, visto que no h testes definitivos. Os acidentes ofdicos devem ser diferenciados de outras neuropatias causadas por toxinas. O tratamento deve ser institudo o mais rpido possvel com soro antiofdico intravenoso especfico, alm da terapia de suporte. Diante da ocorrncia comum de acidentes ofdicos em animais domsticos, o objetivo do presente trabalho foi discorrer sobre a ao dos venenos das serpentes peonhentas, assim como os sinais clnicos apresentados pelas vtimas, formas de diagnstico e opes teraputicas. PALAVRAS-CHAVE: animais domsticos, antdoto, envenenamento, serpentes

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    59

    SNAKEBITES IN DOMESTICS ANIMALS

    ABSTRACT In the Brazilian territory are described 69 different species of venomous snakes and the number of snakebites, with the victims of domestic animals large and small, are often. The number of cases is not recorded accurately, because the notification is not required. Most bites are caused by Bothrops snakes (pit viper) and Crotalus (rattlesnake), which may cause local damage and systemic severe and irreversible. The snake venoms have numerous substances with different effects, such as anticoagulants, neurotoxic, myotoxic, proteolytic and vasculotxicos. Clinical signs commonly found in affected patients are pain, edema and necrosis at the bite site, nose bleeding, hematuria, facial paralysis, dyspnea, among others. Diagnosis is based on history and symptoms of the animal associated with exams, since there is no definitive tests. Snakebites should be differentiated from other neuropathies caused by toxins. Treatment should be initiated as soon as possible with intravenous antivenom specific beyond supportive therapy. Given the common occurrence of snakebites in pets, the aim of this study was to discuss the action of the venoms of poisonous snakes, as well as the clinical signs presented by victims, forms of diagnosis and treatment options. KEYWORDS: domestic animals, antidote, poisoning, snakes

    INTRODUO E REVISO DE LITERATURA Animais peonhentos so definidos como os que possuem glndulas

    produtoras de veneno (associados a mecanismos especializados de inoculao do mesmo) ou substncias txicas, como as serpentes, aranhas, escorpies, lagartas e abelhas (FUNASA, 2001). Neste contexto, os acidentes ofdicos representam importante problema de sade pblica no Brasil (BERNARDI et al., 2011), pois a maior parte da atividade econmica do pas est relacionada agropecuria, o que aumenta o contato do homem com diversos animais peonhentos (FEITOSA et al., 1997; PINHO, 2004; FERNANDES et al., 2008; BARNI et al., 2012). Dentre os animais peonhentos, o Ministrio da Sade afirmou ter registros de aproximadamente 256 espcies de serpentes no Brasil, sendo estas classificadas em dois distintos grupos: peonhentas e no peonhentas (FERNANDES et al., 2008).

    Na medicina veterinria, esse perfil no diferente, pois os acidentes ofdicos podem causar injrias irreversveis nos animais de estimao e prejuzos irreparveis nos rebanhos brasileiros (PEREIRA, 2006; GOMES, 2008). Nesse sentido, criadores de bovinos j relataram perda de aproximadamente 130 mil cabeas por ano decorrentes de picadas de cobras (TOKARNIA; PEIXOTO, 2006; PUZZI et al., 2008) ao passo que em equinos, RAPOSO et al. (2001) mencionaram a infrequncia desses acidentes.

    As estatsticas atuais referentes ocorrncia de acidentes ofdicos em animais domsticos no so fidedignas, visto que a notificao no obrigatria na medicina veterinria (BARNI et al., 2012), diferentemente do que estabelecido em humanos desde o ano de 1986 (PEREIRA, 2006; GOMES, 2008).

    As peonhentas (gnero Bothrops, Crotalus, Lachesis e Micrurus) so cobras que conseguem inocular o veneno na vtima atravs de dentes maxilares inoculadores mveis, bem desenvolvidos e providos de canal central que se comunicam diretamente com o canalculo excretor da glndula do veneno

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    60

    (conhecida como dentio solenglifa); os demais dentes so menores e macios. Tambm possuem um orifcio situado entre os olhos e a narina, denominado de fosseta loreal, rgo este de caracterstica termorreceptora (AZEVEDO-MARQUES et al., 2003; PINHO, 2004). Inserida neste grupo, as serpentes do gnero Micrurus possuem os dentes inoculadores mais fixos, longos e fortes que as demais cobras (dentio proterglifa), providos de profunda chanfradura na poro anterior e conectados com o canal exterior das glndulas supralabiais (BOFF, 2006; PUZZI et al., 2008; LUCIANO et al., 2009). As serpentes no peonhentas (jiboias, sucuris e boipevas) produzem veneno que aflora em sua cavidade bucal e atua na digesto dos alimentos, mas no possuem presas inoculadoras para introduzirem na vtima, sendo a dentio chamada de glifa (dentes do mesmo tamanho, pequenos e macios). So encontradas nos mais diferentes tipos de habitats brasileiros, inclusive em reas urbanas (FUNASA, 2001).

    As serpentes pertencentes aos gneros Bothrops (conhecidas popularmente como jararaca, jararaca de rabo branco, jararacuu e urutu-cruzeiro) e Crotalus (cascavel, cascavel-quatroventas, boicininga, maracamboia e marac) so responsveis pela maioria dos acidentes ofdicos em humanos e animais (cerca de 90% dos casos) (RAPOSO et al., 2001; AZEVEDO-MARQUES et al., 2003; BOFF, 2005; BERNARDI et al., 2011); j os causados pelo gnero Lachesis (surucucu) e Micrurus (coral) so menos frequentes (BOFF, 2006; FERNANDES et al., 2008; GOMES, 2008).

    Os acidentes so facilitados pelo comportamento imvel e camuflados das serpentes. A picada das cobras constitui-se em inoculao subcutnea ou intramuscular de veneno na vtima, e em alguns casos no possvel observar as perfuraes das presas no local afetado (PEREIRA, 2006; GOMES, 2008). Em relao ao local da picada, ces e gatos domsticos so mais acometidos na regio do focinho, ao passo que bovinos e equinos, nos membros e abdmen (FUNASA, 2001; TOKARNIA; PEIXOTO, 2006; PUZZI et al., 2008). Raramente a serpente identificada ou capturada aps o acidente, sendo eventualmente levada ao veterinrio, pois na maioria das vezes mutilada, dificultando o seu reconhecimento (PEREIRA, 2006; GOMES, 2008).

    Cobras do gnero Bothrops possuem hbitos noturnos e so comumente encontradas nas zonas rurais (BOFF, 2005), preferindo locais midos como proximidades de rios e lagos, e eventualmente tronco de rvores (TORKANIA; PEIXOTO, 2006; PUZZI et al., 2008). Alimentam-se de roedores (ratos, camundongos e pres), aves e pequenos anfbios (RAPOSO et al., 2001).

    O veneno botrpico possui mais de 20 substncias entre protenas, carboidratos, lipdeos, metais e aminocidos (GOMES, 2008) atuando de diferentes formas ao penetrar no organismo da vtima, podendo causar aes proteolticas (necrosantes), anticoagulantes e vasculotxicas (hemorrgicas) (TOKARNIA et al. 2008), sendo que a gravidade dos sinais diretamente proporcional ao tempo decorrido a partir da inoculao do veneno e do incio do tratamento especfico (FUNASA, 2001; GOMES, 2008; LUCIANO et al., 2009).

    A ao proteoltica do veneno botrpico na vtima decorre da ativao de enzimas proteases, hialuronidases e fosfolipases e da liberao de mediadores da resposta inflamatria como a bradicinina, prostaglandinas, leucotrienos (PEREIRA, 2006; PUZZI et al., 2008; HARRERA; PEREIRA, 2009), as quais causam destruies teciduais nos locais e nas proximidades da picada acompanhada de dor, rubor, edema local ou regional acentuado, formao de vesculas e necrose tecidual

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    61

    (Figura 1) (AZEVEDO-MARQUES et al., 2003; PINHO, 2004). A necrose pode ficar restrita ao tecido cutneo, podendo se estender para tendes, musculatura e ossos (PEREIRA, 2006).

    O edema inicial circunscrito, podendo em at 24 horas estender-se a todo o membro afetado por causa do extravasamento de lquido para o espao extravascular, desenvolvendo em poucas horas linfadenomegalia regional com considervel sensibilidade dolorosa (PEREIRA, 2006; GOMES, 2008).

    Segundo FUNASA (2001), a ao coagulante do veneno botrpico ocorre por meio da ativao da cascata de coagulao, ocasionando consumo de fibrinognio e formao de fibrina intravascular, induzindo ao quadro de no coagulao sangunea. Existem outras substncias do veneno capaz de ativar o fator X e a protrombina e, consequentemente ativar as plaquetas, levando ao quadro de coagulao intravascular disseminada, com formao de microtrombos na corrente sangunea podendo desencadear insuficincia renal aguda (TORKANIA; PEIXOTO, 2006; GOMES, 2008; HARRERA; PEREIRA, 2009).

    A ao vasculotxica do veneno botrpico decorrente da ativao das hemorraginas que provocam leses na membrana basal dos capilares do paciente, associadas trombocitopenia e alteraes na coagulao. As hemorragias podem ser locais ou sistmicas, afetando os pulmes e rins, podendo ser fatal, quando no sistema nervoso central (AZEVEDO-MARQUES et al., 2003; PUZZI et al., 2008). Dessa forma, tambm possvel observar hemorragias gengivais, epistaxe, hematoemese e hematria (FUNASA, 2001; GOMES, 2008; HARRERA; PEREIRA, 2009; LUCIANO et al., 2009).

    Os acidentes botrpicos podem estar associados com choque, com ou sem causas definidas, como hipovolemia por perda de sangue ou plasma no local

    FIGURA 1: Imagem fotogrfica de co, demonstrando rea de necrose na regio ventral do pescoo (seta) decorrente de picada de cobra.

    Fonte: Arquivo pessoal, 2012.

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    62

    afetado, ativao de substncias hipotensoras, edema pulmonar e coagulao intravascular disseminada (TORKANIA; PEIXOTO, 2006).

    Animais em perodo gestacional que so vtimas de picada de cobra podem apresentar aborto espontneo aps 24 horas do acidente, porm o soro antiofdico no contraindicado nesse perodo (PEREIRA, 2006).

    De acordo com TOKARNIA et al. (2008), a suscetibilidade entre os animais domsticos quanto ao veneno botrpico diferente, em ordem decrescente os bovinos, equinos, ovinos, caprinos, caninos e sunos so mais sensveis, sendo os felinos mais resistentes, sendo que a gravidade tambm depende do tamanho da vtima e da quantidade de veneno inoculado.

    As serpentes do gnero Crotalus so encontradas em campos abertos, reas secas e arenosas, exceto em regies litorneas. No possuem o hbito de atacar, mas quando se sentem ameaadas apresentam um rudo caracterstico do guizo ou chocalho (presente na cauda) anunciando a sua presena (RAPOSO et al., 2001; FERNANDES et al., 2008; PUZZI et al., 2008).

    O veneno crotlico seis vezes mais potente que o botrpico, e alm da ao anticoagulante, apresenta efeitos miotxico e neurotxico. Tal veneno pode causar morte da vtima se providncias no forem tomadas em curto prazo aps a inoculao (AZEVEDO-MARQUES et al., 2003; FERNANDES et al., 2008; PUZZI et al., 2008).

    A ao neurotxica do veneno crotlico, ocorre devido ao efeito das neurotoxinas pr-sinpticas crotoxina (presente em 50% da composio proteica do veneno) e crotamina, tanto no sistema nervoso central, quanto no perifrico, que inibem a liberao da acetilcolina, bloqueando os msculos e causando paralisia flcida da musculatura esqueltica (GOMES, 2008) como paralisia facial e diafragmtica (FUNASA, 2001). As neurotoxinas convulsina e a giroxina tambm contribuem para o surgimento de convulses e alteraes vasculares e respiratrias (FERNANDES et al., 2008). O efeito coagulante do veneno deve-se ao componente trombina que consome fibrinognio e o converte em fibrina, causando alteraes de coagulao sangunea. Apesar das alteraes nos testes de coagulao, as manifestaes hemorrgicas so discretas e raramente observa-se trombocitopenia (PINHO; PEREIRA, 2001; AZEVEDO-MARQUES et al., 2003; GOMES, 2008). A ao miotxica ocorre pela crotoxina que gera rabdomilise sistmica, podendo evoluir para insuficincia renal aguda (GOMES, 2008). As leses musculares podem causam dor generalizada (mialgias) (FERNANDES et al., 2008).

    Outros sinais clnicos apresentados pelos animais vtimas de acidentes crotlicos so edema local em pequena proporo, equimose, dor, ataxia, paresia, fraqueza, nusea, sialorreia, midrase, vmito e diarreia com sangue, linfadenopatia regional e ptose palpebral. Em casos no to severos, os animais podem levar at trs dias para manifestarem sinais clnicos (GOMES, 2008). Vtimas humanas relataram a ocorrncia de diplopia (viso dupla) ou turva (TORKANIA; PEIXOTO, 2006; PUZZI et al., 2008).

    Quando a picada ocorre na regio da cabea do animal pode causar edema local severo (Figura 2), progredindo para o pescoo e regio torcica. Acidentes ofdicos na boca ou lngua podem evoluir para extensos hematomas (Figura 3) e impedir o animal de se alimentar e beber gua pela sensibilidade dolorosa. Caso o edema atinja o trato respiratrio superior, dispneia e edema de glote podero ser observados e a realizao de traqueostomia de emergncia poder ser necessria (PEREIRA, 2006; GOMES, 2008).

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    63

    FIGURA 2: Imagem fotogrfica de co, demonstrando edema facial generalizado decorrente de picada de cobra.

    Fonte: Arquivo pessoal, 2007.

    FIGURA 3: Imagem fotogrfica de cavidade oral de co, demonstrando hematomas na mucosa labial decorrentes de picada de cobra.

    Fonte: Arquivo pessoal, 2010.

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    64

    A espcie de serpente Lachesis muta, pertencente ao gnero Lachesis, conhecida popularmente como surucucu, surucucu-bico-de-jaca e surucutinga, sendo a maior espcie populacional venenosa da Amrica do Sul. So encontradas nas florestas tropicais escuras e midas. A cauda termina em uma vrtebra crnea em formato de espinho, e o bote dessa espcie pode atingir uma distncia maior que 50% do seu comprimento devido o fato de conseguir formar dois S com o corpo (GOMES, 2008; PUZZI et al., 2008). Apenas 1,5% dos acidentes ofdicos em animais e humanos so causadas por tais cobras (FUNASA, 2001; PINHO; PEREIRA, 2001).

    O veneno das serpentes do gnero Lachesis possui ao proteoltica, que induz a liberao de substncias vasoativas, tais como bradicinina e histamina, que podem levar o animal ao choque (TOKARNIA; PEIXOTO, 2006). Outro efeito deste veneno o de anticoagulante, pela presena de enzimas hemorraginas, alm da ao neurotxica, ocasionando estimulao vagal, porm ainda no foi caracterizada a frao especfica responsvel por essa atividade (PINHO; PEREIRA, 2001; PUZZI et al., 2008).

    Nos acidentes por cobras do gnero Lachesis, as vtimas podem demonstrar alm da dor e edema local, sangramento nos olhos e ouvidos, sangramento nasal (Figura 4) e gengival, vmito, diarreia, bradicardia, hipotenso e choque (FUNASA, 2001; PINHO; PEREIRA, 2001; PUZZI et al., 2008).

    FIGURA 4: Imagem fotogrfica de co com edema facial generalizado, demonstrando epistaxe (seta) decorrente de picada de cobra.

    Fonte: Arquivo pessoal, 2010.

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    65

    No Brasil, o gnero de cobras Micrurus, popularmente conhecida como coral, corresponde a 18 espcies, sendo as de maior destaque a Micrurus corallinus e frontalis (PINHO & PEREIRA, 2001). Preferem abrigos subterrneos nos perodos diurnos e noturnos, sendo comumente encontradas em formigueiros e galerias debaixo da terra (BOFF, 2006). A dentio dessas serpentes do tipo proterglifo (um par de dentes pequenos e inoculadores, dianteiros e fixos, localizados na regio anterior da boca) e a lngua bfida proporcionando melhor funo olfativa (PUZZI et al., 2008; PEREZ et al., 2012). No so agressivas, atacando unicamente nos casos de estmulos persistentes. No momento da mordida essas serpentes seguram firmemente a sua presa, pressionando os maxilares para que o veneno flua, ou seja, se elas morderem rapidamente a vtima, no significa que o veneno foi inoculado (BOFF, 2006).

    Ainda segundo BOFF (2006), os acidentes elapdicos (causados pelo gnero Micrurus) so considerados mais graves que os crotlicos e botrpicos pelo quadro de insuficincia respiratria restritiva por paralisia diafragmtica e musculaturas torcicas. A composio do veneno das cobras do gnero Micrurus pouco conhecida em relao s demais serpentes. Estudos demonstraram que algumas espcies podem apresentar de forma moderada as enzimas fosfolipase A2, hialuronidase, fosfodiesterase, 5-nucleotidase, leucinaamino-peptidase, cido L-amino desidrogenase, fosfomonoesterase alcalina, acetilcolinesterase, cido L-aminoxidase e, dependendo da espcie, um componente anticoagulante. Porm, de forma geral, os venenos so em sua totalidade neurotxicos, desprovido de atividade proteoltica, onde no produzem leses locais. As neurotoxinas so substncias de baixo peso molecular sendo absorvidas e distribudas rapidamente para os tecidos, ocasionando sinais clnicos precoces (menos de uma hora aps a picada) como paralisia flcida da musculatura esqueltica, que podem demorar mais de cinco dias para voltar a normalidade.

    Acidentes por cobras corais podem causar sinais como vmito, fraqueza muscular progressiva, paresia e parestesia miastnica, ptose palpebral, diplopia, anisocoria, oftalmoplegia, disartria, fasciculaes musculares, perda do equilbrio, sialorreia (PINHO; PEREIRA, 2001; BOFF, 2006; PEREZ et al., 2012). Em felinos domsticos, os sinais apresentados so quadriplegia flcida ascendente, depresso do sistema nervoso central, hipotermia, hipotenso, anisocoria e nocicepo reduzida (GOMES, 2008). Os acidentes elapdicos so considerados raros em seres humanos correspondendo a menos de 1% dos casos (FUNASA, 2001; PINHO; PEREIRA, 2001; GOMES, 2008; PUZZI et al., 2008).

    O Quadro 1 resume os efeitos dos venenos das serpentes peonhentas de acordo com suas respectivas atividades fisiopatolgicas. A maioria das picadas por cobras no peonhentas causa apenas traumatismos locais como dor, edema e equimoses, porm sem gravidade (FUNASA, 2001). No geral, o diagnstico dos acidentes ofdicos deve ser baseado no histrico do animal, reconhecimento da serpente, sinais clnicos e resultados de exames complementares (HARRERA; PEREIRA, 2009; LUCIANO et al., 2009).

    A avaliao laboratorial por meio do exame de tempo de coagulao sangunea da vtima indicar se o perodo de coagulao est prolongado ou inexistente, indicando assim possvel envenenamento botrpico (PEREIRA, 2006; GOMES, 2008).

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    66

    No hemograma dos animais acometidos possvel observar discreta anemia decorrente das hemorragias, leucocitose com neutrofilia e desvio a esquerda, alm de trombocitopenia em casos de acidente botrpico (SANTOS et al., 2003). No perfil bioqumico, importante avaliar o comprometimento da funo renal e heptica (BOFF, 2006; PEREIRA, 2006; GOMES, 2008); normalmente, observa-se aumento das enzimas sricas como creatinoquinase (devido rabdomilise), aspartase amino transferase (AST) e transaminase glutmico-pirvica (TGP) (TOKARNIA & PEIXOTO, 2006; PUZZI et al., 2008); e na urinlise, proteinria e hemoglobinria (GOMES, 2008).

    Nos ces domsticos acometidos por veneno crotlico, possvel visualizar, na maioria dos casos, a presena de equincitos tpicos em esfregao de sangue perifrico at 24 horas aps o acidente (TOKARNIA; PEIXOTO, 2006; GOMES, 2008). Apesar dessas alteraes citadas anteriormente nos exames laboratoriais de animais acometidos, no h testes definitivos de diagnstico (GOMES, 2008). Atualmente, encontram-se disponveis para uso veterinrio, os soros antiofdicos com capacidade de neutralizar venenos botrpico, laqutico e crotlico ao mesmo tempo (GOMES, 2008).

    A administrao de soro como forma de tratamento em acidente botrpico fundamental para neutralizar as aes do veneno e impedir o agravamento dos sinais sistmicos na vtima. O volume total de soro deve ser administrado de forma nica, por via endovenosa lenta e institudo o mais rpido possvel, visto que a ao neutralizante do medicamento ocorre somente sobre o veneno circulante. Os soros ofdicos podem ou no ser diludos em soro fisiolgico (FUNASA, 2001; BOFF, 2006; PEREIRA, 2006). Se os sinais persistirem por mais de um dia aps aplicao,

    QUADRO 1: Diferentes efeitos dos venenos de serpentes peonhentas de acordo com as atividades fisiopatolgicas.

    Fonte: FUNASA, 2001.

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    67

    o soro deve ser novamente utilizado, na quantidade referente metade da dose inicial (BOFF, 2006; GOMES, 2008; HARREIRA & PEREIRA, 2009).

    O tratamento para acidentes crotlicos e de cobras do gnero Lachesis a administrao de soro por via endovenosa lento (TOKARNIA & PEIXOTO, 2006). Em casos de reaes alrgicas ao soro devem-se administrar anti-histamnicos (PINHO &; PEREIRA, 2001; PUZZI et al., 2008).

    Em humanos, o tratamento para picada de cobra coral baseia-se na administrao de soro antielapdico por via intravenosa (GOMES, 2008; PEREZ et al., 2012) porm, at o presente momento, no existe no Brasil este produto de forma veterinria, sendo os animais tratados sintomaticamente. Nos casos onde o veneno tenha ao exclusivamente ps-sinptica, indica-se o uso de anticolinestersicos como, por exemplo, a neostigmina, sendo de extrema importncia a administrao prvia de atropina (para antagonizar os efeitos muscarnicos da acetilcolina, como hipersecreo brnquica e bradicardia) (FUNASA, 2001; PUZZI et al., 2008; PEREZ et al., 2012).

    Todos os pacientes devem ser mantidos na fluidoterapia intravenosa intensa para prevenir uma das maiores complicaes que a insuficincia renal aguda e manter o dbito urinrio (FUNASA, 2001), alm da reposio de coloides (GOMES, 2008).

    Nos casos de dor intensa, podem-se usar analgsicos opioides nas primeiras 24 horas da picada (PUZZI et al., 2008). Evitar antiinflamatrios no esteroidais, pois podem aumentar a hemorragia (GOMES, 2008). Devido vasta quantidade de bactrias encontradas na cavidade oral das serpentes de extrema importncia o uso de antibiticos sistmicos de amplo espectro de ao (GOMES, 2008). Os tecidos necrosados devem ser debridados e tratados como feridas abertas (FUNASA, 2001; SANTOS et al., 2003).

    Como diagnstico diferencial dos acidentes ofdicos em animais deve-se descartar o botulismo, miastenia gravis, polineurite aguda e outras neuropatias induzidas por toxina (PEREZ et al., 2012). As complicaes dos acidentes ofdicos, na maioria das vezes, esto associadas com insuficincia renal aguda (necrose tubular aguda), insuficincia respiratria aguda e choque hipovolmico (TOKARNIA & PEIXOTO, 2006; GOMES, 2008). A mortalidade das vtimas pode chegar a 100% nos casos no tratados (FUNASA, 2001).

    Diante destes fatos, explica-se a necessidade de conhecer o mecanismo de ao dos diferentes venenos ofdicos e os sinais clnicos apresentados pelos animais acometidos, para a identificao do tipo de acidente e gravidade do mesmo, assegurando desta forma o tratamento correto com a soroterapia especfica.

    DISCUSSO De acordo com TOKARNIA & PEIXOTO (2006), no Brasil esto classificadas

    256 espcies diferentes de serpentes, sendo 69 venenosas e as demais no. Das venenosas, 32 so pertencentes ao gnero Bothrops, seis do Crotalus, duas do Lachesis e 29 ao gnero Micrurus.

    Em relao anatomia das cobras, a fosseta loreal presente nas peonhentas, auxiliar nas serpentes com hbito parcialmente noturno, a localizarem e dar bote em presas de sangue quente (AZEVEDO-MARQUES et al., 2003), porm esta estrutura no encontrada no gnero Micrurus (FERNANDES et al., 2008). Nesse sentido, serpentes desse gnero apresentam corpo cilndrico recoberto por escamas lisas e quase no se ressalta a regio do pescoo com a da

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    68

    cauda, justificando a origem grega do termo Micrurus, que significa pequena cauda (BOFF, 2006). Existem as serpentes chamadas de falsas corais que possuem o mesmo padro de colorao que as verdadeiras, tornando a diferenciao entre elas dificultosa (PINHO & PEREIRA, 2001; PUZZI et al., 2008).

    Acidentes ofdicos so classificados como envenenamentos causados pela inoculao de toxinas, por meio das presas de cobras peonhentas, podendo causar comprometimentos locais e sistmicos (FUNASA, 2001). A maioria relatado durante o vero e a primavera (BERNARDI et al., 2011) provavelmente porque as baixas temperaturas das outras estaes do ano, reduzem o metabolismo das serpentes e, consequente a atividade das mesmas (FUNASA, 2001). Segundo RAPOSO et al. (2001), grande parte dos acidentes ofdicos ocorrem em regies agrcolas e em locais com deposio de lixo e armazenamento de gros, onde a presena de roedores considervel; tambm est relacionada procura das serpentes por parceiros para acasalarem, locais para parir ou desovar ou controlar a temperatura corporal. Nos gatos domsticos, BARNI et al. (2012) relataram que o nmero de picadas de cobras pequeno em decorrncia da agilidade desses animais. Em bovinos, o nmero de mortos por picada de cobras bastante considervel, estando na maioria das vezes, relacionados picada por Crotalus (BOFF, 2005; PUZZI et al., 2008) e, segundo TOKARNIA & PEIXOTO (2006), a imunizao contra acidentes ofdicos nessa espcie no tem importncia prtica, porque apresenta pouco tempo de durao, alm do alto custo.

    Marcas das picadas nem sempre so facilmente visualizadas nas vtimas animais devido ao edema e a presena de plos no local acometido (GOMES, 2008). Como dificilmente a serpente identificada nos acidentes ofdicos (GOMES, 2008), de suma importncia conhecer o mecanismo de ao dos diferentes venenos e os sinais clnicos apresentados pelos pacientes para a instituio teraputica correta (PEREIRA, 2006).

    Na medicina humana, a notificao de casos de acidentes ofdicos obrigatria, visto que necessrio justificar a utilizao de soro antiofdico e a distribuio desse medicamento de origem governamental, sendo gratuita e controlada (PEREIRA, 2006; GOMES, 2008). Os primeiros dados obtidos na medicina veterinria sobre acidentes ofdicos surgiram no incio do sculo XX, por meio de boletins de notificao que acompanhavam o soro antiofdico distribudo pelo Instituto Butantan de So Paulo, porm o envio desses ocorria de forma voluntria pelo profissional veterinrio, sendo impossvel obter nmeros exatos dos acidentes (PUZZI et al., 2008).

    No Brasil, h inmeros estudos sobre a ao do veneno e sintomatologia nas vtimas decorrentes das toxinas ofdicas, baseados nos acidentes em humanos e experimentaes laboratoriais com ces (TOKARNIA & PEIXOTO, 2006). Neste contexto, mesmo que a composio do veneno das cobras do gnero Micrurus seja pouco elucidada (BOFF, 2006), sabe-se que as neurotoxinas presentes na espcie Micrurus corallinus possui ao pr-sinptica, impedindo a liberao da acetilcolina na fenda sinptica diferentemente da Micrurus frontalis, que possui ao ps-sinptica atuando de forma competitiva nos receptores colinrgicos (PEREZ et al., 2012).

    Segundo PINHO & PEREIRA (2001) existem diferenas entre a ao do veneno do gnero Bothrops quanto idade das cobras, predominando o efeito coagulante nas serpentes jovens e a ao proteoltica nas adultas. importante ressaltar tambm que, a quantidade de veneno inoculado na vtima pode variar de

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    69

    acordo com o tamanho da serpente e, se ela atacou alguma outra presa anteriormente. Um fator que pode alterar a composio dos venenos a diferente distribuio geogrfica das serpentes.

    GOMES (2008) discorreu que serpentes do gnero Crotalus so capazes de controlar a quantidade de veneno injetado no animal durante a picada. Este mesmo pesquisador relatou que geralmente os gatos domsticos so mais resistente ao veneno crotlico do que os ces domsticos, mas comumente chegam clnica veterinria em piores condies pelo fato dos animais se esconderem logo aps o acidente.

    Em relao sintomatologia apresentada pelas vtimas de acidentes ofdicos, GOMES (2008) afirmou que os gatos domsticos no apresentam edema no local da picada diferentemente dos ces e demais espcies animais. Segundo PEREIRA (2006), a ocorrncia de ttano aps a picada de serpentes do gnero Bothrops raro, porm h alguns relatos na literatura, pois o acidente botrpico pode propiciar condies de anaerobiose que desencadeiam o crescimento de clostrdeos no local da picada (PEREIRA, 2006).

    Durante o diagnstico, a realizao do teste de tempo de coagulao sangunea de suma importncia em suspeita de acidente botrpico, alm da simplicidade, facilidade e rapidez da tcnica (GOMES, 2008), proporcionando sua realizao a campo, associando com dados do histrico e sintomatologia do animal acometido (PEREIRA, 2006). Porm, apesar das diversas alteraes sanguneas observadas em casos de acidentes ofdicos, no existe um teste diagnstico especfico que confirme a picada (GOMES, 2008).

    Na urinlise de animais vtimas de acidentes ofdicos possvel detectar presena de proteinria, hematria, em contrapartida raramente observa-se hemoglobinria (BOFF, 2006; PEREIRA, 2006; GOMES, 2008). O teste imunoenzimtico (ELISA) vem sendo utilizado experimentalmente em humanos, no estando disponvel no mercado veterinrio (PINHO & PEREIRA, 2001). Tal exame tambm auxilia no tratamento j que os acidentes botrpico e laqutico so semelhantes do ponto de vista clnico (FUNASA, 2001).

    De acordo com alguns pesquisadores (BOFF, 2006; PEREIRA, 2006), a administrao de soro antiofdico deve ser realizada por via intravenosa, porm em casos em que este acesso esteja impossibilitado, a via subcutnea e intramuscular podem ser outras opes. contra indicado a aplicao do soro no local da picada da serpente, pois os tecidos lesionados impedem a absoro efetiva do frmaco (GOMES, 2008). O garroteamento do membro, suco e incises no local da picada e a colocao de substncias (caf, fumo e querosene) na regio afetada tambm no so indicados por causarem mais complicaes no paciente como necrose e abscessos (PEREIRA, 2006).

    Apesar de PUZZI et al. (2008) indicarem a administrao de opioides para controle da dor, deve-se evitar a morfina, pois sua ao anloga histamina pode mimetizar quadros de anafilaxia. A determinao da fatalidade de uma vtima animal diante do acidente ofdico est relacionada quantidade de veneno que a serpente inoculou e o tempo entre a picada e incio do tratamento. Nesse sentido, a expulso do veneno da glndula de ao voluntria da serpente e no depende da quantidade disponvel para eliminao. Desse modo, o volume de veneno inoculado na vtima completamente varivel e imprevisvel e no existe imunidade adquirida contra o veneno (TOKARNIA & PEIXOTO, 2006).

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    70

    CONSIDERAES FINAIS Os acidentes ofdicos em animais domsticos de pequeno e grande porte causados por cobras peonhentas so de ocorrncia comum no territrio brasileiro, causando sintomas sistmicos graves, os quais podem levar o paciente ao bito. Esses dados reforam a importncia do conhecimento sobre a epidemiologia regional dos envenenamentos para facilitar o tratamento das vtimas e preveni-los. A gravidade dos casos se deve ao tamanho do paciente, quantidade de veneno inoculado, dificuldade de identificar a serpente e demora no tratamento especfico e de suporte.

    REFERNCIAS AZEVEDO-MARQUES, M. M.; CUPO, P.; HERING, S. E. Acidentes por animais peonhentos: serpentes peonhentas. Medicina, v. 36, n. 2, p. 480-489, 2003.

    BARNI, B. S.; MOTTIN, I. B.; VIDOR, S. B.; ALBUQUERQUE, P. B.; CONTESINI, E. A. Incidncia e perfil dos animais atendidos devido a acidente ofdico no Hospital de Clnicas Veterinrias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul entre os anos de 2005 e 2010. Acta Scientiae Veterinariae, v. 40, n. 1, p. 1-2, 2012.

    BERNARDI, E.; NORONHA, F.; DALLASTA, L. B.; OLIVEIRA, M.; REOLON, M.; PREVIATI, B. B.; SILVA, A. A.; MARTINS, D. B.; OLIVEIRA, E. Z.; ALCNTARA, P. Acidente ofdico em co relato de caso. XVI Seminrio Interinstitucional de Ensino, Pesquisa e Extenso UNICRUZ, 2011.

    BOFF, G. J. Envenenamento por picada de serpente - gnero Bothrops: reviso. Revista Veterinria em Foco, v. 2, n. 2, p.121-135, 2005.

    BOFF, G. J. Envenenamento por picada de serpente, gnero Micrurus (coral): reviso. Revista Veterinria em Foco, v. 6, n. 4, p. 53-62, 2006.

    FEITOSA, R. F. G.; MELO, I. M. L. A.; MONTEIRO, H. S. A. Epidemiologia dos acidentes por serpentes peonhentas no Estado do Cear - Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 30, n. 1, p. 295-301, 1997.

    FERNANDES, T. A.; AGUIAR, C. N.; DAHER, E. F. Envenenamento crotlico: epidemiologia, insuficincia renal aguda e outras manifestaes clnicas. Revista Eletrnica Pesquisa Mdica, v. 2, n. 2, p. 1-10, 2008.

    GOMES, R. C. B. Acidente botrpico, elapdico e crotlico em ces e gatos. 2008. 23f. Trabalho de Concluso de Curso (Especializao em Clnica Mdica de Pequenos Animais), Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro-RJ. HARRERA, M. S.; PEREIRA, R. E. P. Acidente com serpente do gnero Bothrops em co Relato de caso. Revista Cientfica Eletrnica de Medicina Veterinria, v. 7, n. 12, 2009.

    LUCIANO, P. M.; SILVA, G. E. B.; AZEVEDO-MARQUES, M. M. Acidente botrpico fatal. Revista de Medicina de Ribeiro Preto e do Hospital das Clnicas da FMRP

  • ENCICLOPDIA BIOSFERA, Centro Cientfico Conhecer - Goinia, v.10, n.18; p. 2014

    71

    - Universidade de So Paulo, v. 42, n.1, p. 61-65, 2009.

    FUNASA (Ministrio da Sade - Fundao Nacional de Sade). Manual de Diagnstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peonhentos. 2 ed. Braslia. p.120, 2001.

    PEREIRA, M. T. Acidente botrpico em ces. 2006. 46f. Tese de Concluso de Curso (Especializao em Clnica Mdica e Cirrgica em Pequenos Animais) Universidade Castelo Branco Campo Grande, MS.

    PEREZ, M. L.; FOX, K.; SCHAER, M. A retrospective evaluation of coral snake envenomation in dogs and cats: 20 cases (19962011). Journal of Veterinary Emergency and Critical Care, v. 22, n. 6, p. 682-689, 2012.

    PINHO, F. M. O.; OLIVEIRA, E. S.; FALEIROS, F. Acidente ofdico no Estado de Gois. Revista Associao Mdica Brasileira, v. 50, n.1, p. 93-96, 2004.

    PINHO, F. M. O.; PEREIRA, I. D. Ofidismo. Revista da Associao Mdica Brasileira, v. 47, n.1, p. 24 -29, 2001.

    PUZZI, M. B.; VICARIVENTO, N. B.; XAVIER, A.; POLIZER, K. A.; NEVES, M. F.; SACCO, S. R. Acidentes Ofdicos. Revista Cientfica Eletrnica de Medicina Veterinria, v.6, n. 10, p. 1-7, 2008.

    RAPOSO, J. B.; MNDEZ, M. D. C.; BAIALARDI, C. E. G.; RAFFI, M. B. Acidente ofdico em equino no Sul do Brasil relato de caso. Uruguaiana, v. 7-8, n.1, p. 51-57, 2001.

    SANTOS, M. M. B.; MELO, M. M.; JACOME, D. O.; FERREIRA, K. M.; SABAINI, R. M. Hemograma de ces envenenados experimentalmente com Bothrops alternatus aps diferentes tratamentos. Revista Brasileira de Sade e Produo Animal, v.4, n.1, p. 1-11, 2003.

    TOKARNIA, C. H.; PEIXOTO, P. V. A importncia dos acidentes ofdicos como causa de mortes em bovinos no Brasil. Pesquisa Veterinria Brasileira, v. 26, n. 2, p. 55-68, 2006.

    TOKARNIA, C. H.; BRITO, M. F.; MALAFAIA, P.; PEIXOTO, P. V. Acidente ofdico em ovino causado por Bothrops jararaca. Pesquisa Veterinria Brasileira, v. 28, n. 12, p. 643-648, 2008.