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AUTOMOTIVE NEWS BRASIL 14 Os desafios e alternativas ao uso do aço na indústria Além do investimento em tecnologia para reduzir peso, o setor faz as contas na escolha de novos materiais eficientes e resistentes ESPECIAL Matéria prima Viviane Biondo A lém do desenvolvimento de motores capazes de entregar mais desempenho consu- mindo menos combustível e, conse- quentemente, reduzindo a emissão de poluentes, a produção na indústria au- tomobilística é guiada por outra equa- ção complementar. “Decidir o material com o qual cada componente é feito é uma questão de custo e peso. E nessa equação, a redução de peso vale mui- to”, afirma Marcos Munhoz, vice-pre- sidente do Conselho de Relações Pú- blicas e Governamentais da General Motors do Brasil. “Um coletor de ad- missão, por exemplo, pode ser feito de aço, alumínio e plástico. Então, consi- dera-se o custo e também o quanto é preciso diminuir no peso do conjunto do qual aquele componente faz parte.” Representante de cerca de 50% da composição de um veículo, o aço tem recebido investimentos em tecnologia para reduzir sua espessura e peso, ofe- recer mais segurança e assegurar sua fatia na indústria automobilística, que abre caminho para o alumínio por conta da necessidade de se oferecer veículos mais leves. Segundo estudos da Asso- ciação Brasileira do Alumínio (Abal), a média da quantidade de aço utilizada em veículos europeus é de 145 kg, ou cerca de 8% de sua composição. Por aqui, gira em torno de 45 kg. “Lá há normas de emissões rigorosas, o que deve ocorrer aqui, cedo ou tarde, e impulsionar a escolha por materiais como o alumínio”, diz Ayrton Filleti, coordenador dos comitês de transpor- tes e técnica da Abal. “Além disso, os modelos estão ficando mais sofistica- dos, por conta do melhor poder aquisi- tivo dos consumidores brasileiros, que já têm acesso a veículos acima dos po- pulares.” Filleti defende, ainda, que a utilização de alumínio, mais caro, com- pensaria a diferença de preço ante o aço – de cerca de 10 a 40% superior – pela redução de peso. “O conjunto de rodas de alumínio pesa cerca de 20% menos que as de aço, por exemplo.” Segundo Germano Mendes de Paula, especialista em siderurgia e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, as indústrias si- derúrgicas se esforçam para servir o mer- cado automobilístico. “Ele é importante não apenas em termos do volume de ven- das, mas também no que tange à quali- dade dos produtos demandados”, desta- cando os investimentos em processos de galvanização. “A indústria automobilís- tica brasileira é responsável por 27% do consumo de aço no País. Trata-se de um valor elevado quando se leva em consi- deração a média mundial (16%) e princi- palmente frente ao chamado Bric: Rússia (8%), Índia (6%) e China (6%).” Indústria automotiva é responsável por 27% do consumo de aço no País Divulgação

Aco Na Industria - Artigo SAE Brasil

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Utilização do aço na industria brasileira

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AUTOMOTIVE NEWS BRASIL 14Os desafios e alternativasao uso do ao na indstriaAlm do investimento em tecnologia para reduzir peso, o setor fazas contas na escolha de novos materiais eficientes e resistentesESPECIAL Matria primaViviane BiondoAlm do desenvolvimento demotores capazes de entregarmaisdesempenhoconsu-mindomenoscombustvele,conse-quentemente,reduzindoaemissodepoluentes, a produo na indstria au-tomobilstica guiada por outra equa-o complementar. Decidir o materialcom o qual cada componente feito uma questo de custo e peso. E nessaequao, a reduo de peso vale mui-to, afirma Marcos Munhoz, vice-pre-sidentedoConselhodeRelaesP-blicaseGovernamentaisdaGeneralMotors do Brasil. Um coletor de ad-misso, por exemplo, pode ser feito deao, alumnio e plstico. Ento, consi-dera-seocustoetambmoquantoprecisodiminuirnopesodoconjuntodo qual aquele componente faz parte.Representantedecercade50%dacomposiodeumveculo,oaotemrecebidoinvestimentosemtecnologiapara reduzir sua espessura e peso, ofe-recermaisseguranaeassegurarsuafatianaindstriaautomobilstica,queabre caminho para o alumnio por contada necessidade de se oferecer veculosmaisleves.Segundoestudosda Asso-ciao Brasileira do Alumnio (Abal), amdia da quantidade de ao utilizada emveculos europeus de 145 kg, ou cercade 8% de sua composio.Poraqui,giraemtornode45kg.L h normas de emisses rigorosas,o que deve ocorrer aqui, cedo ou tarde,eimpulsionaraescolhapormateriaiscomooalumnio,dizAyrtonFilleti,coordenadordoscomitsdetranspor-tes e tcnica da Abal. Alm disso, osmodelosestoficandomaissofistica-dos, por conta do melhor poder aquisi-tivo dos consumidores brasileiros, quej tm acesso a veculos acima dos po-pulares.Filletidefende,ainda,queautilizao de alumnio, mais caro, com-pensaria a diferena de preo ante o ao de cerca de 10 a 40% superior pelareduo de peso. O conjunto de rodasde alumnio pesa cerca de 20% menosque as de ao, por exemplo.Segundo Germano Mendes de Paula,especialista em siderurgia e professor doInstitutodeEconomiadaUniversidadeFederaldeUberlndia,asindstriassi-derrgicas se esforam para servir o mer-cado automobilstico. Ele importanteno apenas em termos do volume de ven-das, mas tambm no que tange quali-dade dos produtos demandados, desta-cando os investimentos em processos degalvanizao.Aindstriaautomobils-tica brasileira responsvel por 27% doconsumo de ao no Pas. Trata-se de umvalor elevado quando se leva em consi-derao a mdia mundial (16%) e princi-palmente frente ao chamado Bric: Rssia(8%), ndia (6%) e China (6%).Indstria automotiva responsvel por 27% do consumo de ao no PasDivulgaoAUTOMOTIVE NEWS BRASIL 15DeacordocomolevantamentodaAo Brasil, em 2009 o setor automotivoconsumiu quase 5 milhes de toneladasde ao. Dados de distribuidores de aoapontam o consumo de 327.783 tonela-das do derivado de ferro na indstria deautopeas em 2010 e de 298.869 tonela-dasvendidosdiretosparamontadoras.A expectativa de aumento de deman-da em 10%, afirmou Christiano Freire,presidentedaassociadaFreferMetalplus. Os preos do ao feito aquicaram a partir de agosto do ano passa-do porque as usinas instaladas estavamperdendo mercado para as importaes,diz. Mesmo com o reajuste de 9% noms passado, o produto nacional conti-nua mais barato.MarceloCioffi,consultordaPri-cewaterhouseCoopers, ressalta que, porenquanto,smodeloscomoossupe-resportivostmalumnioemgrandeparte de sua composio. mais poruma questo de performance. Em largaescala, exigiria alto custo de investimen-to, difcil mudar essa cadeia.LEVES E RESISTENTES O tipo de aomais comumente utilizado na indstriaautomobilsticaodecarbonoplano,ouemchapas.Oschamadosaosderesistncia, High Strength Steel (HSS)e Ultra High Strength Steel (Ultra HSS)comeam a chegar s linhas de produ-o.Comparadosaosconvencionais,reduzem o peso em cerca de 50% numamesma aplicao onde seria necessriomais material para dar a mesma resis-tnciaaocomponente,explicaFran-cisco Satkunas, engenheiro e conselhei-ro da SAE Brasil. O desenvolvimentointernacionaldeeltricosehbridosdevedemandarcarroscadavezmaisleves,oqueviratendnciamundial-mente, afirma o engenheiro. Nos Es-tados Unidos, a ordem eliminar de 110a 310 quilos de cada carro, para que elesse adequem s exigncias do Departa-mento de Transportes e da Agncia deProteo Ambiental .Da Volkswagen, por exemplo, o novoJetta tem carroceria maior que a do ante-rior pesando 30 kg a menos graas uti-lizao de aos de alta resistncia.Al-gumaspartesdacarroceriatmascha-pasformadasaquente,oquepermiteatingiraltssimaresistnciamecnicacom menor peso, informaJos Lourei-ro, gerente executivo de Desenvolvimen-to de Produto da Volkswagen do Brasil.UtilizamostambmnosveculosPoloeFoxatecnologiadelongarinascomchapas em tailoredblank, ou seja, elas tmespessuravarivelque,almdeajudarna deformao progressiva no crash, tam-bm nos trazem um menor peso.Pelo maior custo, esse tipo de ao aplicado em reas especficas, no emtodaacarroceria,paragarantirmaissegurana.Seuusoemcolunasquesustentam o teto proporciona excelen-teresistnciaaoconjuntodoveculo,principalmente no caso de capotamen-to,afirmaSatkunas.Issoporqueacolunaacabaatuandocomoum santoantnio, obrigato-riamente usado nos in-terioresdeveculosde passeio que participam de competi-es, para proteo da cabea e mem-bros superiores do piloto.SUBSTITUIES Fabricantes de alu-mnio e de polmeros (ou plstico) estode olho em oportunidades de participar,cada vez mais, da indstria automotiva.Na dcada de 70, os carros tinham cercade 75% da constituio em materiais deferro, estima Satkunas. As substituiestiveram de ser feitas porque todas inova-es acrescentaram massa e demandaramreduo no peso de componentes para quenoseafetassemdesempenhoeconsu-modecombustvelnemadurabilidadede componentes, principalmente amorte-cedores, pneus e peas da suspenso.Para Filleti, o mercado mais atraen-te para o alumnio no Brasil o de fun-dio. Do total de alumnio fornecidoparaaindstriaautomobilstica,90%soprodutosutilizadosnosmotoresepeas.Chapasparaestamparocap,porta-malaseprodutosparasubstituirchapasdeaotmdeserimportadas.Por conta da demanda pequena, no seinstala o processo de tratamento trmi-co, necessrio para esses produtos, dizoporta-voz,queplanejaumasriedereunies com engenheiros de montado-ras para avanar nas negociaes.Satkunas calcula que a utilizao doalumnioempartesdatransmissoemotor e nas rodas elimina cerca de 120Satkunas prev carros mais levesPartes do veculo estosendo desenvolvidascom plstico, alumnio enovos tipos de materiaisDivulgaoDivulgaoAUTOMOTIVE NEWS BRASIL 16Setor CrescimentoConstruo civil 21,30%Bens de capital 9,00%Automotivo 3,80%Utilidades comerciais 5,60%Total de crescimento 9,00%kgdeao.Noentanto,enumeradifi-culdades. Alm de uma funilaria mui-tomaiscomplicada,teriaquesemu-dar as linhas de montagem que se fixa-ramnoao.Surgiramrobsdesoldagemespecficosparaessemate-rial. Se passasse tudo para o alumnio,o custo seria proibitivo.Vrioscomponentesdaspartesmveisdoveculo,taiscomocapeportas, peas estruturais, como traves-sa da suspenso traseira e barra anti-intruso, e peas de acabamento e se-gurana,comobancosecrashbox,esto sendo desenvolvidos com forne-cedoresdealumnioecomponentes.Masaindahdificuldades,almdasnecessriasmodificaesemproces-sosdeestampagem,soldaeoutrosmeios de unio, caso o alumnio fosseadotadoemmaiorescala.Entreaslimitaesparadesenvolvimentoeaplicao do material esto a carnciade conhecimento e tecnologias e tam-bm a disponibilidade dos materiais,explicaPauloRobertodeCarvalhoCoelhoFilho,gerentedaEngenhariade Materiais da Fiat.A Lanxess, empresa alem que for-neceplsticosdeengenhariaparafa-bricao de front-ends, pedais e su-portes, estima que a demanda pe-los chamados plsticos de alta tec-nologia cresa a um ritmo de 7%ao ano por unidade de veculo pro-duzidoat2020. Atualmente,emmdia, so utilizados 14 kg de pls-ticos de engenharia por carro.Um de seus produtos, o front-end feito de chapas de Poliamida6(PA6) com reforo de fibras de vi-dro, substitui chapas de ao na pro-teoderadiador,para-choqueefaris. Um dos modelos que j tra-zemanovidadeo Audi A8.Omaterial, de menor custo, tambmfornecidomundialmenteparaoutros40modelosBMW,FordeMercedes-Benz,afirmaMarceloLacerda,presidentedaLanxess.A pea oferece 20% de economiaem relao ao ao e absorve maiso impacto.MERCADO DO AO Dados do Insti-tuto Ao Brasil (IABr) apontam que asimportaesbrasileirasdeaocresce-ram 154,2% em 2010, chegando ao re-corde de 5,928 milhes de toneladas. Aexpanso ocorreu por conta da alta de172,4% no volume de aos planos, uti-lizadospelaindstriaautomobilstica,que somou 4,067 milhes de toneladas,de acordo com o instituto.Christiano Freire, da Frefer Metal-plus,afirmaqueporcontadosbaixospreos no mercado externo, importou-se muito mais ao do que o necessrioem2010.Osestoques,quehojesode 2,8 meses de vendas, chegaram a 4meses, pelo excesso de importaes.Emgeral,feitaumanegociaode compra de ao local, mas cada mon-tadora adota uma estratgia. Mesmo como ao nacional to tributado, importar complicado,pelaquestodosportoseajustes de acordo com a demanda, ana-lisa Fabio Takaki, diretor para a Amri-ca do Sul da consultoria Booz & Com-pany. O pedido do importado teria deser feito com muito mais antecedncia.Atendnciaadequeademandadeaoaumente,comaaltadaproduo.Mas necessrio investir em tecnologiae novos tipos de ao.O ao no Brasil mais caro do quenomercadointernacional.Estamosne-gociando com as usinas daqui para noter que precisar do ao importado, afir-mou Munhoz, da GM. O real est caroe o ao importado custa de 30% a 40%menosdoqueonacional.difcildetransportar e como a indstria local nodeve um centavo internacional, preferi-mos comprar aqui. Mas se no tiver acor-do, a soluo vai ter que ser importar.SegundoRinaldoCarlosSiqueiraCampos, presidente da Associao Bra-sileira dos Importadores e Distribuido-res de Produtos Automotivos (Abidipa),oaumentodepreosdeprodutosquetmaoemsuaconstituiodeveserde 6% para o consumidor final. Mes-mo com o acrscimo acentuado da ma-tria-prima,porcontadomercadoaquecido e ampla a produo o aumen-to chegou ao consumidor final em dosemuito pequena.Executivosnoacreditamquedevehaverdemandamaiordeaoporcontados desastres do Japo, na reconstruode cidades. So aos diferentes dos uti-lizados no processo dos carros que devecair mundialmente por conta disso, o quepode fazer at com que haja sobra de aono mercado, afirmou Munhoz.Utilizao do ao no BrasilFonte: Ao BrasilLacerda: plstico de engenhariaDivulgao