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O ACOMPANHAMENTO Erisvaldo Borges O termo acompanhamento em música designa uma seção - constituída de um ou vários instrumentos - que apóia uma melodia. É através do acompanhamento que se estabelece, com maior precisão, o ritmo e a harmonia de uma música. No presente texto, abordarei um tipo especial de acompanhamento, o realizado pelo próprio instrumento que realiza a melodia, tendo o violão e o piano como centro de atenção e as músicas popular e erudita como referência para a exemplificação. No entanto, para os outros instrumentos que realizam melodia e harmonia simultaneamente, este texto será de grande valia. O acompanhamento não deve ser apenas uma mera adição de notas para dar suporte a uma melodia. Deve servir de complemento a esta, ajudando a estabelecer: tonalidade, harmonia inerente, ritmo, fraseio, desenho, caráter e clima expressivo. Os tipos mais comuns de acompanhamento são: à maneira coral, figuração, intermitente e complementar. ACOMPANHAMENTO À MANEIRA CORAL Como o próprio nome já sugere, este tipo de acompanhamento é típico da música coral homofônica, onde todas as vozes cantam no mesmo ritmo de acordo com a letra do texto, com ligeiras escapadas na linha principal. Foi seguindo este mesmo princípio que muitos compositores usaram na música instrumental ao longo dos tempos. Exemplo: Emilio Pujol, Estudo Nº 58. Estudo N. 58 (E. Pujol) Outros exemplos: Estudos 4 e 6 de H. Villa-Lobos

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  • O ACOMPANHAMENTO

    Erisvaldo Borges

    O termo acompanhamento em msica designa uma seo - constituda de um ou vrios instrumentos - que apia uma melodia. atravs do acompanhamento que se estabelece, com maior preciso, o ritmo e a harmonia de uma msica. No presente texto, abordarei um tipo especial de acompanhamento, o realizado pelo prprio instrumento que realiza a melodia, tendo o violo e o piano como centro de ateno e as msicas popular e erudita como referncia para a exemplificao. No entanto, para os outros instrumentos que realizam melodia e harmonia simultaneamente, este texto ser de grande valia. O acompanhamento no deve ser apenas uma mera adio de notas para dar suporte a uma melodia. Deve servir de complemento a esta, ajudando a estabelecer: tonalidade, harmonia inerente, ritmo, fraseio, desenho, carter e clima expressivo. Os tipos mais comuns de acompanhamento so: maneira coral, figurao, intermitente e complementar.

    ACOMPANHAMENTO MANEIRA CORAL

    Como o prprio nome j sugere, este tipo de acompanhamento tpico da msica coral homofnica, onde todas as vozes cantam no mesmo ritmo de acordo com a letra do texto, com ligeiras escapadas na linha principal. Foi seguindo este mesmo princpio que muitos compositores usaram na msica instrumental ao longo dos tempos. Exemplo: Emilio Pujol, Estudo N 58.

    Estudo N. 58 (E. Pujol)

    Outros exemplos: Estudos 4 e 6 de H. Villa-Lobos

  • ACOMPAMHAMENTO POR FIGURAO REGULAR OU MOTIVO DE ACOMPANHAMENTO

    Este tipo de acompanhamento sugere o uso constante de acordes arpejados ou em bloco e escala, mantendo uma figurao adaptada harmonia. Comumente, se utiliza notas mais curtas do que na melodia. Trata-se de uma harmonia coral figurada, podendo ser realizada nas vozes superior, mdia e inferior. Podem ser includas na figurao notas estranhas ao acorde como: retardos, antecipaes, appogiaturas, etc. Estes acordes arpejados podem estar em posio fechada, aberta, fundamental ou invertida. muito comum nas canes, danas e msicas regionais com marcao rtmica bem definida (choro, bossa nova, country, raghtime, etc.). O acompanhamento por figurao ocorre de duas maneiras: figurao simples e figurao composta, que se constitui no motivo de acompanhamento.

    FIGURAO SIMPLES: Uso constante de um mesmo valor.

    Exemplos:

    Cavatina (S. Myers)

    Allegro Spirituoso da Sonata Op. 15 (M. Giuliani)

  • Estudo Op. 60, N. 6 (M. Carcassi)

    OUTROS EXEMPLOS

    - ESTUDO 2 Ed. SEGOVIA (F. SOR)

    FIGURAO COMPOSTA: Uso constante de um clich formado por valores diferentes.

  • APELO (Baden Powell e Vinicius de Moraes)

    OUTROS EXEMPLOS

    - MSICAS DE BOSSA NOVA, SAMBA, FREVO, BAIO, ETC.

    ACOMPANHAMENTO INTERMITENTE OU IRREGULAR

    O acompanhamento se encontra de forma irregular onde acordes de longa e curta durao so inseridos em pontos de tempo forte ou contratempo. As pausas assumem grande importncia neste tipo de acompanhamento. Exemplos:

    Sonata para piano N. 30, III mov. (Beethoven)

    Consolao (B. Powell/V. De Moraes)

  • ACOMPANHAMENTO COMPLEMENTAR

    Como o prprio nome j sugere, serve de complemento rtmico parte principal (melodia), estabelecendo uma relao de cooperao entre melodia e acompanhamento, onde um preenche os vazios do outro.

    Exemplos: Quarteto de Cordas, Op. 52, N. 2, III mov. (Beethoven)

    OUTROS EXEMPLOS

    - ESTUDO OP. 60, N 11 e 12 (M. CARCASSI) - ESTUDOS 3, 4, 6 e 16 Ed. SEGOVIA (F. SOR)

    CONDUO DAS VOZES NO ACOMPANHAMENTO

    O acompanhamento instrumental, caracterstico msica homofnica - acordal -, no requer uma conservao rigorosa do nmero de vozes, tpica da msica contrapontstica ou coral (vocal). Este nmero de vozes poder ser aumentado - clmax, efeito especial, reforo da melodia ou do baixo - ou reduzido - geralmente em situaes de estabilidade da msica. O sentido linear das vozes no segue a mesma rigorosidade da prtica polifnica. Entretanto, quando se quer usar um episdio em estilo fugato ou mesmo uma passagem cannica, isso possvel dentro da msica homofnica, dando, assim, um tratamento contrapontstico ao acompanhamento (exemplo 1). Pode-se dar tambm um tratamento semicontrapontstico ao acompanhamento (exemplo 2), quando se utiliza um contracanto. Exemplo 1:

    Sonata, Op. 10, N. 3, III mov. (Beethoven)

  • Exemplo 2:

    Inveno a Duas vozes N. 4 (J. S. Bach)

    OUTROS EXEMPLOS

    - DANSA POMPOSA (A. TANSMAN) - ESTUDOS 1 e 20 Ed. SEGOVIA (F. SOR)

    TRATAMENTO DA LINHA DO BAIXO NO ACOMPANHAMENTO

    A linha do baixo, dentro do acompanhamento, assume um papel de relevante importncia. H vezes em que ela se encarrega da total sustentao ritmico-harmnica da msica e outros onde ela dialoga com a linha principal melodia e, por fim, chegando at mesmo ser a prpria melodia. Em resumo, a linha do baixo pode ser tratada: como PEDAL (baixo esttico); participante de cada MUDANA HARMNICA; como MELODIA SECUNDRIA; usando INVERSES para melhor conduo de sua linha; usar TESSITURA REDUZIDA (na medida do possvel dentro de uma oitava). e pr fim como MELODIA PRINCIPAL.

    Exemplos: Baixo Pedal

  • Grand Solo, Op. 14 (Fernando Sor)

    Atuando nas mudanas harmnicas

    Minueto (J. S. Bach)

    Melodia Secundria

    Preldio N. 2 (F. Trrega)

  • Uso das Inverses

    Allegro con Spirito (W. A. Mozart)

    Tessitura Reduzida

    Andantino (M. Giuliani)

  • Melodia Principal

    Preldio N. 1 (H. Villa-Lobos)