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Relatório de Estágio
ACOMPANHAMENTO DE ATIVIDADES DE REPARAÇÃO AMBIENTAL E MAPEAMENTOS DO USO DO SOLO EM PROPRIEDADES RURAIS NA EMPRESA
JOBIM GEORREFERENCIAMENTO E SOLUÇÕES AMBIENTAIS, SÃO GABRIEL, RS
Acadêmico Cássio Strassburger de Oliveira
CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL
São Gabriel, RS, Brasil Dezembro, 2011.
Resumo
A Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler
(FEPAM) é o órgão responsável pelo licenciamento ambiental no Rio Grande
do Sul, emitindo licenças à diversas atividades. Muitas vezes essas práticas
são ignoradas por negligência ou por desinformação de produtores rurais,
acarretando em algum tipo de infração ambiental. Além disso, para o pedido de
licença prévia, instalação ou operação, ou mesmo, a regularização de licença
existente, o órgão ambiental solicita ao proprietário o georreferenciamento da
área, ou um mapa de uso e ocupação do solo, no qual são demonstradas as
áreas ocupadas por Áreas de Preservação Permanente (APPs), cursos d’água,
lavouras, etc. Esses mapas também são solicitados em casos onde houve
degradação de áreas e servem para se ter uma noção do dano ocorrido. A
empresa Jobim Georreferenciamentos e Soluções Ambientais realiza trabalhos
nas áreas de georreferenciamento e reparação de áreas degradadas, na qual
se realizou o estágio curricular exigido pelo curso de Engenharia Florestal da
Universidade Federal do Pampa. Durante o período do estágio foi possível
acompanhar a elaboração de mapas temáticos e trabalhar em planos de
reparação ambiental. Na produção de mapas temáticos foi utilizado software
com plataforma CAD, onde foi realizada a vetorização da mata nativa,
aguadas, áreas de lavoura, estradas e cercas de propriedade rural utilizando
imagens do Google Earth®. Com a edição desses vetores, foi possível
identificar e quantificar cada um dos temas da propriedade. Quanto aos planos
de reparação, foi observado que os mesmos são solicitados ao responsável
técnico da empresa, após notificação dos órgãos ambientais competentes.
Nesses casos algum tipo de degradação ocorreu ou houve realização de
atividade com ausência de licenciamento ambiental. As infrações cometidas
pelos produtores e sua respectiva pena estão previstas na Lei 9.605/98 – Lei
dos Crimes Ambientais.
Palavras-chave: mapa de uso do solo, licenciamento, plano de reparação.
Abstract
The State Foundation of Environmental Protection Henrique Luiz
Roessler (FEPAM) is the organization responsible for environmental licensing in
Rio Grande do Sul, issuing various licenses to various activities. Often these
practices are ignored by the negligence or misinformation of farmers, resulting
in some kind environmental violations. Besides, for the previous, installation or
operation license, or even the existing license regulation, the environmental
agency asks the owner the georeferencing of the area, or a land use and soil
map which is the demonstrated the areas occupied by the Permanent
Preservation Areas (APPs), watercourses, fields, etc. These maps are also
required in cases where there was degradation of areas, and serve to get an
idea of the damage occurred. The Jobim Georeferencing and Environmental
Solutions Company perform work in Georeferencing and Recovery of Degraded
Areas, where this work was performed as completion Forest Engineering
course at Federal University of Pampa. During the period of probation was
possible to follow the elaboration of thematic maps and on the environmental
remediation plans working . On the thematic maps production it was used CAD
software platform, where it was realized the native forest, watered, crop areas,
roads, fences, farm vectorization using Google Earth® images With this vector
editing, it was possible to identify and quantify each subject property. As for
recovery plans, it was observed that they are requested to technical company
manager, after notification of environmental agencies. In these cases, some
kind of degradation had occurred or was carrying the activity with no lack of
appropriate environmental licensing. The violations committed by their
producers and their sentences are provided for in Law 9605/98 - Environmental
Crimes Law.
Key words: map of land use, licensing, remediation plan.
Lista de Siglas
.csv – comma-separated values
APP – Área de Proteção Permanente
CAD –
CONAMA –
DEFAP – Departamento e Áreas Protegidas
FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler
g – grama
GPS – Sistema de Posicionamento Global
ha – hectare
IBAMA
INCRA –
kg – quilograma
TAC – Termo de Ajustamento de Conduta
UNIPAMPA – Universidade Federal do Pampa
Lista de Quadros
QUADRO 1 - Quadro de áreas da Fazenda Santa Zélia, São Gabriel, RS. ..... 25
QUADRO 2 - Áreas de soja cultivadas na fazenda Santa Zélia, São Gabriel,
RS. ................................................................................................................... 25
QUADRO 3 – Áreas de arroz irrigado plantado na Fazenda Santa Zélia, São
Gabriel, RS. ...................................................................................................... 26
QUADRO 4 – Espécies a serem introduzidas com a execução do plano de
reparação. ........................................................................................................ 33
Quadro 5 - Cronograma de execução. ............................................................. 34
Lista de Figuras
FIGURA 1 - Visualização da área a ser mapeada através de imagem oriunda
do software Google Earth (2011). .................................................................... 22
FIGURA 2 – Sobreposição do perímetro na imagem do Google Earth (2011)
por meio do software TOPO EVN. ................................................................... 22
FIGURA 3 – Mapa de uso do solo em sua forma final e com as devidas
convenções. Fonte: autor ................................................................................. 24
FIGURA 4 – Fotos adaptadas do Inquérito Civil, onde são mostradas uma
árvore cortada (a) e os palanques (b) (São Gabriel, 2011). FONTE: Empresa 28
FIGURA 5 - Corte das árvores nativas e a consequente formação de clareiras.
São Gabriel, 2011. FONTE: Empresa .............................................................. 31
FIGURA 6 – Local onde haverá a reposição das árvores nativas cortadas. São
Gabriel, 2011. Google Earth. ............................................................................ 31
FIGURA 7 – Disposição das mudas a serem plantadas. FONTE: Empresa .... 33
FIGURA 8 – Arroio para retirada de água (esquerda) e área sem cultivo (direita)
devido a falta de licença para irrigação, São Gabriel, 2008. FONTE: Empresa 35
FIGURA 9 – a. morte das mudas em decorrência do aumento do nível do rio; b
replantio de mudas; c. avanço do Rio Vacacaí e d. isolamento da área. São
Gabriel, RS. FONTE: Empresa ........................................................................ 38
Sumário
1. Introdução ............................................................................................................ 16
2. Revisão Bibliográfica ........................................................................................... 17
2.1. Mapeamento de uso do solo ......................................................................... 17
2.2. Legislação ambiental .................................................................................... 18
3. Atividades desenvolvidas ..................................................................................... 20
3.1. Elaboração de mapas de uso do solo de propriedade rural .......................... 21
3.1.1. Material e Métodos ................................................................................ 21
3.1.2. Resultados observados ......................................................................... 23
3.1.3. Conclusão ............................................................................................. 26
3.2. Perícia Ambiental e Plano de Reparação Ambiental ..................................... 27
3.2.1. Material e Método .................................................................................. 27
3.2.2. Resultados observados ......................................................................... 29
3.2.3. Conclusão ............................................................................................. 39
3.3. Outras atividades acompanhadas na empresa ............................................. 39
4. Conclusão Geral .................................................................................................. 39
5. Avaliação do estágio ............................................................................................ 40
6. Referências bibliográficas .................................................................................... 41
7. ANEXO ................................................................................................................ 44
1. Introdução
O licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia à instalação de
qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou
degradadora do meio ambiente (IBAMA, 2010), sendo que esta atividade esta
sob responsabilidade, no Rio Grande do Sul, da Fundação Estadual de
Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler. Além das licenças, esse órgão
também é responsável pelo Termo de Ajustamento de Conduta – TAC
(MOURA, 2006). Tanto para a realização do licenciamento, como para a
submissão de um plano de reparação ambiental, é necessário o
georreferenciamento do local. Além deste, muitas vezes é solicitada a análise
do uso e cobertura do solo. Para isso é possível, mediante informações de
Sensoriamento Remoto, efetuar o planejamento e administração da ocupação
ordenada e racional do meio físico, além de possibilitar avaliar e monitorar a
preservação de áreas de vegetação natural. Através da interpretação de
imagens de satélite obtém-se, de forma rápida, um mapa temático atualizado e
preciso das diferentes estruturas espaciais resultantes do processo de
ocupação e uso do solo (RODRIGUES, 2000).
A empresa Jobim Georreferenciamento e Soluções Ambientais, fundada
em dezembro de 2002 no município de São Gabriel, RS, trabalha com a
prestação de serviços nos seguimentos de Topografia, Geoprocessamento,
Licenciamento Ambiental, entre outros, atendendo além do município onde se
localiza, a fronteira oeste do Estado do Rio Grande do Sul.
Este trabalho teve como objetivo principal o aprimoramento dos
conhecimentos práticos e técnicos na área de Engenharia Florestal e de outros
cursos correlacionados, os quais ligados ao meio urbano e rural, através do
desenvolvimento de tarefas do cotidiano dentro de empresa privada de
consultoria ambiental.
O presente relatório de estágio mostrará as atividades realizadas
durante o período de estágio curricular na empresa Jobim Planejamentos e
Soluções Ambientais, realizado no período de 08 de setembro a 08 de
novembro de 2011. Nesta oportunidade, foi proporcionada a experiência de
estar em uma empresa de prestação de serviços nas áreas de consultoria
ambiental e georreferenciamento, onde foi possível acompanhar o processo de
produção de mapas temáticos e elaboração de planos de reparação ambiental.
2. Revisão Bibliográfica
2.1. Mapeamento de uso do solo
O acompanhamento e avaliação dos impactos do uso do solo sobre os
ambientes naturais é de fundamental importância para o planejamento das
áreas afetadas. Sabe-se que a crescente urbanização e o acelerado
crescimento populacional acompanhado pelo desenvolvimento cada vez maior
das técnicas agrícolas leva ao uso acentuado do solo pela agricultura (ALVES,
2007).
É necessário que a atuação do homem no meio ambiente seja planejada
e ações mitigadoras sejam implementadas, portanto é de grande importância a
construção de mapas de uso do solo, dentre outros, através do uso das
imagens de satélite e ferramentas de sensoriamento remoto que portam-se
como fonte de dados espaço temporais permitindo a avaliação da forma como
tem se dado o uso do solo em determinada região. (ALVES, 2007)
O desenvolvimento de um sistema para classificar dados sobre uso da
terra, obtidos a partir da utilização de técnicas de sensoriamento remoto, tem
sido muito discutido. Para essa avaliação, o Sistema de Informação Geográfica
(SIG) é um sistema de informação baseado em software e hardware que
permite capturar, modelar, manipular, recuperar, consultar, analisar e
apresentar dados geograficamente referenciados (AMATA, 2011).
Mapa Temático é a representação de elementos específicos (temas) do espaço
geográfico, como características do solo, da vegetação, aspectos econômicos,
entre outros. Segundo AMATA (2011) o uso do solo nada mais é que a forma
de como o solo está sendo utilizado pelo homem. Portanto, o mapeamento da
propriedade quanto ao uso e ocupação do solo tem por finalidade o
conhecimento detalhado da propriedade com mapeamento de todos os
elementos existentes, o cruzamento dos elementos existentes com a legislação
ambiental vigente e o conhecimento do potencial de área útil da propriedade
para gestão do seu negócio (PLANGEO, 2011).
De acordo com AMATA (2011), as etapas essenciais para a elaboração
de mapas de utilização da terra são: aquisição de fotografias aéreas e/ou
imagens de satélite; definição da escala do mapa; definição dos elementos que
permitam a identificação do tipo de utilização da terra nas fotografias aéreas
e/ou imagens de satélite e elaboração da classificação em que devem ser
colocados os eventos observados nas fotografias e/ou imagens.
2.2. Legislação ambiental
A competência federal para realizar o licenciamento ambiental cabe ao
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) conforme a Resolução CONAMA 237/97. No Rio Grande do Sul, esta
atividade está sob a responsabilidade da Secretaria Estadual do Meio
Ambiente (Lei Estadual 11.362, de 29/07/99), sendo realizado pela FEPAM,
podendo estar vinculada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA (Lei
Estadual 9.077, de 04/06/90), com o Departamento Estadual de Florestas e
Áreas Protegidas (DEFAP), com o Departamento de Recursos Hídricos (DRH)
e com a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. O que não significa que
durante o procedimento não haja participação de outros órgãos que também
podem ser considerados “ambientais”, mas não licenciadores do uso dos
recursos ambientais (FEPAM, 2006).
A licença ambiental é meio pelo qual o órgão ambiental competente
estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que
deverão ser obedecidas pelo empreendedor para localizar, instalar, ampliar e
operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais
considerados efetiva ou potencialmente poluidoras (FOGLIATII et al., 2004).
Importante notar que, devido à natureza autorizativa da licença ambiental, essa
possui caráter precário. Exemplo disso é a possibilidade legal de a licença ser
cassada caso as condições estabelecidas pelo órgão ambiental não sejam
cumpridas (Tribunal de Contas da União, 2007).
As licenças não são exigidas para todo e qualquer empreendimento. A
Lei 6.938/81 determina a necessidade de licenciamento para as atividades
utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva e potencialmente
poluidoras, bem como as capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental (Tribunal de Contas da União, 2007).
Um fator que aumentou o interesse dos empreendedores em verificar a
necessidade de licenciamento foi a possibilidade de incorrer nas penalidades
previstas na Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) quando na existência de
atividades não regularizadas (Tribunal de Contas da União, 2007).
Para permitir a regularização de empreendimentos, foi estabelecido pelo
art. 79-A da Lei de Crimes Ambientais (introduzido pela MP 2.163-41, de 23 de
agosto de 2001) o instrumento denominado Termo de Compromisso. É
importante observar que o Termo de Compromisso não tem por finalidade
aceitar o empreendimento irregular. Ao contrário, serve exclusivamente para
permitir que as pessoas responsáveis por empreendimentos irregulares
promovam correções necessárias às suas atividades, mediante o atendimento
das exigências impostas pelas autoridades ambientais competentes (Tribunal
de Contas da União, 2007).
A perícia ambiental é um meio de prova utilizado em processos judiciais,
sujeito à mesma regulamentação prevista pelo Código do Processo Civil, mas
que irá atender a demandas específicas advindas das questões ambientais,
onde o principal objeto é o dano ambiental ocorrido ou risco de sua ocorrência
(CUNHA & GUERRA, 2010). Essa perícia normalmente ocorre para a
verificação quando na existência de atividades sem o devido licenciamento
ambiental e, acaba, com o indivíduo sendo enquadrado, principalmente, na Lei
dos Crimes Ambientais e caracterizado como “devedor ambiental” (LEITE,
2003).
Quando comprovada a responsabilidade civil por danos ambientais,
cabe àquele causador do prejuízo o dever de reparar o dano integralmente,
como maneira de ressarcir ou compensar a perda sofrida. A base jurídica para
a exigência da reparação do dano encontra-se no art. 225, § 3º da Constituição
Federal de 1988 e nos artigos 4º, inciso VII e 14, §1º, ambos da Lei nº 6.938 de
1981. Por meio destes dispositivos legais, foi estabelecida a obrigação do
degradador de recuperar e/ou indenizar os prejuízos ambientais causados,
demonstrando que a recomposição do dano deve ser buscada em primeiro
lugar, e somente optar pela indenização quando a reparação não for possível.
Além disso, estes dispositivos estabeleceram a responsabilidade objetiva do
degradador ambiental, ou seja, independentemente de culpa e pelo simples
fato da atividade (LEITE, 2003).
No Brasil, existem os projetos de restauração, denominados planos de
recuperação de áreas degradadas (PRAD), os quais vêm sendo utilizados tanto
na restauração quanto na compensação ambiental. Fora os casos de
mineração, para os demais empreendimentos, o referido dispositivo legal
estipulou um prazo máximo de cento e oitenta dias (após a publicação do
Decreto) para a entrega de plano de recuperação de área degradada ao órgão
ambiental competente. Além disso, é mencionado que o objetivo da
recuperação deve ser o retorno do sítio afetado a uma forma de utilização
(LEITE, 2003).
Por meio da implementação das técnicas de restauração ambiental, pode
ser buscado o restabelecimento da funcionalidade do ambiente que sofreu
alguma forma de degradação, respeitando a sua heterogeneidade. O dano
somente poderá ser considerado como ressarcido integralmente quando a
finalidade assegurada pela norma violada exista novamente, por exemplo,
quando a água volte a ser salubre, o ar volte a ter qualidade, a paisagem não
esteja comprometida, ou o equilíbrio ecológico reapareça (LEITE, 2003).
3. Atividades desenvolvidas
Durante o período de estágio, foi possível acompanhar o trabalho de
profissionais das áreas de georreferenciamento e reparação de áreas
degradadas, de forma a colocar em prática os conhecimentos adquiridos em
sala de aula. A seguir serão descritas as atividades desenvolvidas na empresa
Jobim Georreferenciamentos e Soluções Ambientais, no município de São
Gabriel.
3.1. Elaboração de mapas de uso do solo de propriedade rural
3.1.1. Material e Métodos
Foram confeccionados alguns mapas temáticos para caracterização do
uso e ocupação do solo. Estes mapas descrevem, além do limite da
propriedade, seus cursos d’água e demais recursos hídricos, as estradas,
acessos, assim como, analisa a cobertura florestal, em termos de áreas
florestadas e áreas não florestadas.
O mapa que será descrito foi confeccionado sobre um conjunto de
pontos (coordenadas) coletados para fins de certificação do imóvel rural. Esses
tiveram origem em levantamento utilizando receptores GPS (Sistema de
Posicionamento Global) dos modelos Leica GX1230 e Leica 900CS. Estes
equipamentos atendem as normas de precisão exigidas para o mapeamento
de propriedades rurais para diversas finalidades. Os pontos coletados a campo
são transferidos, via cartão de memória, para o computador, sendo
processados pelo software Leica Geo Office e, então, exportados no formato
de arquivo *.csv para o software TOPO EVN.
Com os pontos inseridos no TOPO EVN, é traçado o perímetro da
propriedade e, com as coordenadas geográficas do perímetro, efetua-se o
download da imagem de alta resolução espacial disponível no software Google
Earth®, abrangendo a propriedade rural a ser mapeada. Como exemplo, foi
mapeada a Fazenda Santa Zélia (FIGURA 1), situada no município de São
Gabriel, RS, entre as coordenadas geográficas 30°37'33,12" e 30°34'37,72" de
latitude sul em relação ao Equador e 54°13'17,38” e 54°9'44,14" de longitude
oeste em relação ao Meridiano de Greenwich.
Para realizar o georreferenciamento da imagem, foi feito uso de pontos
de controle dentro do ambiente do TOPO EVN, passíveis de identificação na
imagem e nos pontos coletados a campo (FIGURA 2).
FIGURA 1 - Visualização da área a ser mapeada através de imagem oriunda do
software Google Earth (2011).
FIGURA 2 – Sobreposição do perímetro na imagem do Google Earth (2011) por meio
do software TOPO EVN.
Através de observação visual, caracterizou-se o uso/ocupação do solo
da área com relação aos seguintes atributos:
• Estradas internas
• Áreas de lavoura (soja e arroz irrigado)
• Cerca interna
• Área de Preservação Permanente - APP (mato nativo)
• Aguadas (bebedouros para o gado e represas)
A edição vetorial consiste em definir as cores das linhas, pontos e
polígonos, bem como no preenchimento com uso de hachuras utilizadas nos
aplicativos Computer Aided Design (CAD) para caracterizar os atributos
definidos. O software TOPO EVN, por ser uma plataforma CAD, permite a
adequada delimitação dos temas observados por meio da edição vetorial dos
dados, através da ferramenta “polilinha”. Esta por sua vez, permite o correto
fechamento de poligonais necessários para delimitar os temas, calcular suas
respectivas áreas e inserir hachuras. Com isso, utiliza-se dos elementos como
pontos, linhas e áreas (ou polígonos) para definir as classes temáticas.
Após a vetorização, foram inseridas as hachuras correspondentes a
cada uso do solo, seguido do cálculo das áreas de gleba de lavoura, tanto de
arroz irrigado como de soja, das aguadas e da mata nativa. Esse cálculo é
realizado automaticamente pelo software quando a polilinha forma um polígono
fechado.
Por fim, foram inseridas as convenções exigidas pelo Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, demonstradas na FIGURA 3, para
o entendimento do respectivo mapa temático, além da adequação da escala
para posterior impressão do mapa final (ANEXO A).
3.1.2. Resultados observados
O mapeamento de áreas com algum tipo de atividade antrópica tem se
tornado prática obrigatória para diversos processos como certificação,
licenciamento, memoriais descritivos, etc. Com esse objetivo, ferramentas de
geotecnologias, como Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, aliados à
Topografia, com visitas a campo, tornam-se indispensáveis para a precisão de
medições e compreensão do ambiente local.
Esse mapeamento, é muitas vezes solicitado pelo produtor com o intuito
de fazer a certificação ou, como foi acompanhado, para se conhecer a
delimitação das diversas atividades e ocupações dentro da propriedade.
O mapa de uso e ocupação do solo mostra as classes de vegetação,
bem como tipifica o uso do solo, servindo de subsídio para um planejamento
ambiental e territorial ordenado (DIAS et al., 2002). Como mostrado na
FIGURA 3, o mapa tende a ajudar o proprietário no melhor planejamento das
atividades a serem realizadas nas áreas, ocupadas ou não, especialmente
aqueles que se utilizam da rotação de culturas.
FIGURA 3 – Mapa de uso do solo em sua forma final e com as devidas convenções.
Fonte: autor
A expressão “uso da terra” pode ser entendida como a forma pela qual o
espaço está sendo ocupado pelo homem, sendo assim, o uso do mapeamento
e georreferenciamento é uma importante maneira de avaliar a forma se este
espaço está sendo explorado de forma organizada e produtiva conforme cada
região. Portanto, além da delimitação dos temas de interesse, é feita a
quantificação da área ocupada por cada tema.
A fazenda foi subdividida em diversas áreas a fim de facilitar a
localização, e até o planejamento, sendo possível acompanhar o tamanho
dessas no Quadro 1.
QUADRO 1 - Quadro de áreas da Fazenda Santa Zélia, São Gabriel, RS.
GLEBAS ÁREA (HA) PERÍMETRO (M)
A 271,0238 7111,3 B 59,4495 3814,08 C 145,0000 6766,9 D 100,0000 4619,78 E 103,0237 4265,59 F 162,6125 6303,79 G 542,2603 12286,25 H 323,9267 8986,41
TOTAL 1707,2965 54154,1
Nos quadros 2 e 3 é possível visualizar a extensão de área utilizada
para o plantio de culturas anuais. Esse dimensionamento de cada gleba é
interessante para se calcular um possível rendimento em cima da área
cultivada, assim como realizar um melhor planejamento na hora da colheita,
principalmente quanto à disposição de funcionários e equipamentos. A
quantificação da área utilizada para fins agrícolas também é importante na
solicitação de empréstimos junto aos bancos.
QUADRO 2 - Áreas de soja cultivadas na fazenda Santa Zélia, São Gabriel, RS.
GLEBA ÁREA (ha) GLEBA ÁREA (ha) S1 28,0283 S25 2,0532 S2 36,6415 S26 89,6437 S3 7,4491 S27 5,0406 S4 7,9174 S28 6,1098 S5 7,1566 S29 32,4575 S6 13,1978 S30 2,0687 S7 14,0543 S31 7,9006 S8 10,1595 S32 6,8293 S9 2,9263 S33 19,4388
S10 1,2264 S34 6,9669 S11 1,6204 S35 5,533 S12 1,3900 S36 12,0000 S13 11,5489 S37 28,8937 S14 13,8716 S38 41,3468
S15 5,2175 S39 24,0263 S16 16,3739 S40 5,6066 S17 10,2879 S41 3,1627 S18 2,4456 S42 12,3364 S19 6,5237 S43 3,6911 S20 7,2341 S44 11,8023 S21 21,4958 S45 39,2249 S22 3,7497 S46 39,8614 S23 26,7981 S47 3,9144 S24 8,2702 TOTAL 675,4933
QUADRO 3 – Áreas de arroz irrigado plantado na Fazenda Santa Zélia, São Gabriel, RS.
GLEBA ÁREA (ha) ÁREA (qq) GLEBA ÁREA (ha) ÁREA (qq) A1 5,6026 3,22 A9 12,4270 7,13 A2 1,0264 0,59 A10 1,3595 0,78 A3 2,3752 1,36 A11 13,9407 8,00 A4 1,0339 0,59 A12 15,6994 9,01 A5 12,9501 7,43 A13 5,5330 3,18 A6 2,7650 1,59 A14 5,9105 3,39 A7 5,8373 3,35 A15 12,0339 6,91 A8 9,8121 5,63 TOTAL 108,3066 62,16
Com relação aos recursos hídricos encontrados na fazendo, esses
totalizaram 35,54 hectares, entre açudes, bebedouros e represas espalhados
pela propriedade. Já a mata nativa, que neste caso, engloba a APP e outras
áreas de vegetação nativa perfaz 93,08 ha.
3.1.3. Conclusão
Analisar o uso/ocupação do solo através de informações de maneira
rápida, como em imagens de satélite, é uma forma que permite seu
planejamento e exploração de forma organizada e produtiva, conforme cada
região. Portanto, tendo em vista o trabalho realizado na confecção dos mapas,
é possível afirmar que essa prática auxilia no entendimento de como a
propriedade rural é explorada e nos processos de licenciamento, outorga de
água e averbação da reserva legal.
3.2. Perícia Ambiental e Plano de Reparação Ambiental
3.2.1. Material e Método
A licença ambiental é um dos instrumentos exigidos para a implantação
de atividades causadoras de impactos ambientais. Trata-se de um instrumento
prévio de controle ambiental para o exercício legal de atividades modificadoras
do meio ambiente, dentre as quais se incluem aquelas listadas em algumas
resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, destacando
as resoluções nº 237, de 19 de dezembro de 1997, e nº 1, de 23 de janeiro de
1986. A primeira dispõe sobre a revisão e complementação dos procedimentos
e critérios utilizados para o licenciamento ambiental. E a segunda, sobre
critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental..
Porém, um grande número de produtores rurais não faz o requerimento
das licenças necessárias para atividades que consideram “simples” ou que já o
fazem a muito tempo. Como exemplo dessas atividades, e que foram
conferidas durante o período de estágio, são queimadas, abertura de valos
para irrigação e corte de árvores nativas.
Como exemplo dessas atividades, ocorrido após a instauração de
processo judicial, foi feita a avaliação, dos documentos disponibilizados pela
empresa, onde ocorreu o corte ilegal de árvores nativas e houve negligência
por parte do acusado, sendo que o mesmo recuperou a área anos após o início
do processo. Com a denúncia do corte, inicialmente instaurou-se inquérito para
averiguar a ocorrência de degradação ambiental, causada pelo corte seletivo
de árvores nativas em APP às margens do rio Ibirocai, no município de São
Gabriel, RS, sem licença ou autorização do órgão ambiental competente,
baseado em informações encaminhadas à polícia ambiental.
Após, foi constatado o corte de 52 árvores de espécies nativas
(FIGURA 4a) na APP às margens do rio. As árvores cortadas eram
transformadas em tramas, palanques e listões (FIGURA 4b) para serem
utilizados na construção de mangueiras para a atividade campeira da própria
Estância Taleira. Com a constatação, foi lavrado o Boletim de Atendimento, o
Boletim de Ocorrência e o Auto de Infração Florestal.
FIGURA 4 – Fotos adaptadas do Inquérito Civil, onde são mostradas uma árvore
cortada (a) e os palanques (b) (São Gabriel, 2011). FONTE: Empresa
Dispositivos Legais Infringidos:
o Lei Federal nº 9.605, de 12 Fev. 1998, Art. 38 e 39;
Lei dos Crimes Ambientais, onde o Art., 38 cita “Destruir ou danificar
floresta considerada de preservação permanente” e o Art. 39 “Cortar árvores
em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da
autoridade competente”.
o Decreto Federal nº 3.179, de 21 Set. 1999, Art. 25 e 26;
O decreto dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. O Art. 25 cita “Destruir ou
danificar floresta considerada de preservação permanente” e o Art. 26, “Cortar
árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão
da autoridade competente”.
Como observação, este decreto foi revogado pelo Decreto nº 6.514, de
2008, o qual “dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às condutas
e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”.
o Lei Estadual nº 9.519, de 21 Jan. 1992, Art. 6º.
a b
Esta lei institui o Código Florestal do Estado do Rio Grande do Sul,
contendo o Art. 6º o seguinte texto:
“As florestas nativas e demais formas de vegetação natural de seu
interior são consideradas bens de interesse comum, sendo proibido o
corte e a destruição parcial ou total dessas formações sem
autorização prévia do órgão florestal competente.”
Como agravante, foi enquadrado em dois itens do Art. 15 da Lei dos
Crimes Ambientais: “concorrendo para danos em propriedade alheia” e “no
interior do espaço territorial especialmente protegido”. Como atenuante por
“colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle
ambiental”, foi enquadrado no Art. 14 na mesma lei citada acima.
Como documento comprovante das obrigações que o “devedor
ambiental” terá de realizar a fim de reduzir/recuperar o dano causado, é
celebrado o Termo Compromisso de Ajustamento de Conduta. Neste, está
expresso o tempo que o infrator possui para implantar o projeto de reparação e
a quantidade mínima de mudas a serem plantadas no local, que são,
respectivamente, de um ano e 260 mudas de igual espécie das que foram
cortadas, ou quaisquer outras espécies nativas aprovadas pelo órgão
ambiental competente.
3.2.2. Resultados observados
3.2.2.1. Planos de Reparação Ambiental
A empresa forneceu diversos planos de reparação ambiental para o
estagiário, sendo possível identificar as situações mais corriqueiras de danos,
assim como acompanhar a implantação e acompanhamento do plano de
reparação.
Após a notificação do infrator, o responsável técnico faz a avaliação do
local, que consiste basicamente em observações visuais e o registro por
fotografias. Como infrações mais corriqueiras, destacaram-se o plantio de
culturas anuais (por exemplo, o arroz) em região de mata ciliar, desrespeito, ou
até mesmo, inexistência de Área de Preservação Permanente (APP), corte/
desmatamento de árvores/vegetação nativa e falta de licença de operação
como irrigante (abertura de valos para irrigação) junto a Fundação Estadual de
Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler, RS - FEPAM. Estas ocorrem
principalmente por negligência ou pela desinformação dos indivíduos.
Porém, houve casos em que o solicitante fora advertido apenas para
realizar a simples adequação de manutenção das áreas de APP, pois esta era
insuficiente ou não estava cercada quando da presença de atividade pecuária
no local.
Como forma de reparação aquelas áreas em que houve desmatamento,
ou a simples retirada de um número pequeno de árvores nativas, foi
determinado, nos casos avaliados, o plantio de 20 a 500 mudas de espécies
nativas ocorrentes no local, como forma de compensação, mas principalmente,
como forma de reposição. No caso de abertura de valos destinados à irrigação,
mas que não poderiam ser utilizados, foi determinado o seu fechamento ou que
fosse implantada uma vegetação a fim de evitar a ação dos processos
erosivos.
Porém, houve casos em que, mesmo se determinando a revegetação do
local, devido a fatores, como enchentes e/ou morte das mudas plantadas,
ocorrentes nos quatro anos (que abrangeram da implantação à manutenção
das práticas de reparação) foi-se determinado que a compensação fosse
financeira. Em outros casos, quando constatado que a regeneração natural era
significativa, determinou-se apenas o monitoramento daquela área. Em todos
os casos, quando da existência de animais na área, além da reparação, era
necessário realizar o cercamento do local.
Como exemplo de acompanhamento de um plano de reparação, cita-se
um Plano de Reparação Ambiental (que ainda não foi implantado), com
objetivo de atender o terceiro parágrafo do termo de ajustamento e conduta,
mencionado acima, firmado entre a promotoria e o devedor ambiental. Os itens
citados abaixo são os mesmos constantes nos planos avaliados, podendo
haver diferença conforme o profissional técnico responsável pela formulação do
mesmo.
Identificação, Avaliação e Quantificação da área objeto do plano:
• Identificação: visa atender a reparação da mata ciliar do rio
onde ocorreu corte sem autorização de 52 árvores de espécies nativas.
• Avaliação do dano: o corte das árvores não foi raso e sim
aleatório (FIGURA 5), o que facilitará a implantação das mudas para
reparação inicial da área, onde mudas implantadas juntamente com as
emergidas formam um dossel abundante.
FIGURA 5 - Corte das árvores nativas e a consequente formação de clareiras. São
Gabriel, 2011. FONTE: Empresa
• Reparação natural da área: nessas áreas, como mostra a
imagem de satélite (FIGURA 6), a vegetação ciliar do arroio é
abundante, não trazendo riscos de assoreamento.
•
FIGURA 6 – Local onde haverá a reposição das árvores nativas cortadas. São Gabriel,
2011. Google Earth.
• Área do projeto: a área será de dois hectares, localizada
dentro da área onde ocorreu o dano.
Descrição técnica de conservação
• Isolamento de área: como a propriedade trabalha com
bovinocultura, será necessário o isolamento da área, o que facilitará o
desenvolvimento das espécies nativas do local.
• Época de plantio: deverá ser realizado nos meses
chuvosos, ou seja, maio a setembro.
• Adubação: serão usados 200 Kg/ha ou 180 g/cova da
formulação 05.25.25.
• Espaçamento e distribuição das mudas: dentro da área em
reparação serão formados blocos de implantação entre blocos de
revegetação natural. Nesses blocos, a vegetação será distribuída a cada
5 m na linha e entrelinha (FIGURA 7).
• Plantio e manejo das espécies da flora: objetivando
recuperar as margens do rio, serão utilizadas espécies vegetais
pioneiras, secundárias e clímax, na proporção de 40%, 34% e 26%,
respectivamente (FIGURA 7). O plantio deve ser heterogêneo,
combinando várias espécies de diferentes grupos sucessionais e não
plantar mais de 10% da mesma espécie.
FIGURA 7 – Disposição das mudas a serem plantadas. FONTE: Empresa
QUADRO 4 – Espécies a serem introduzidas com a execução do plano
de reparação. Nome
comum Nome. Cientifico G. E. C. UM. Nº
P. Salso Salix humboldtiana Willd. Pioneira Higrófitas 26
Corticeira Erythrina crista-galli L. Pioneira Higrófitas 26 Pitangueira Eugenia uniflora L. Pioneira Mesófilas 26
Branquilho Sebastiania commersoniana (Baill.) L.B. Sm. & Downs. Pioneira Higrófitas 26
Subtotal 104 Angico Parapiptadenia rigida Benth. Secundária Mesófilas 26 Açoita-cavalo
Luehea divaricata Mart. Secundária Mesófilas 21
Cerejeira Eugenia involucrata DC. ( Secundária Mesófilas 21 Guajuvira Patagonula americana L. Secundária Mesófilas 21 Subtotal 88 Cambota Matayba elaeagnoides Radlk. Clímax Mesófilas 21 Sarandi-
mata- ollho
Pouteria salicifolia Spreng. Clímax Higrófitas 26
Tarumã Vitex megapotamica Spreng. Clímax Mesófilas 21 Subtotal 68
Total geral 260 G. E. – grupo ecológico; C. UM. – condição de umidade; Nº P. – número de plantas. Fonte: Flora Digital RS (2011); Tropicos (2011)
• Quantificação do número de mudas: como na área já
ocorreu uma implantação de mudas após a ocorrência da autuação, sem
comunicação ao órgão competente, serão implantadas as 260 mudas,
que irão enriquecer o dossel já estabelecido. O plantio será executado
no primeiro ano, e para os três próximos anos do plantio, uma avaliação
da necessidade de reintrodução de espécies vegetais para compor a
reparação da mata ciliar será feita.
• Estaqueamento das mudas: as mudas serão tutoradas com
estacas de taquara (abundante na região).
• Definição das metas e prazos: o plano tem previsão de
quatro (04) anos para a completa execução (Quadro 5).
Quadro 5 - Cronograma de execução.
J F M A M J J A S O N D 1º ANO
Preparo das covas X Adubação X
Plantio de mudas X Controle de formigas X X X X X X
2º, 3º e 4º ANOS Avaliação da sobrevivência das mudas X X
Replantio X X Monitoramento de formigas X X X X X X X X X X
• Determinação de parâmetros do cronograma de
monitoramento: para a eficiência da restauração ambiental deverá ser
estabelecido um cronograma de monitoramento nos meses de abril e
maio para os próximos quatro anos seguintes, onde será realizada uma
avaliação das necessidades de preservação permanente estar completa
de acordo com o estabelecimento pelas normas que as regulam.
Em anexo a este plano o órgão ambiental solicita:
• Cópia do boletim de ocorrência ambiental;
• Cópia do boletim de atendimento;
• Cópia do auto de infração;
• Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) do
profissional habilitado.
3.2.2.1. Laudo de medidas executadas
Além do Plano de Reparação Ambiental, em função de alguma
degradação ou de uma atividade sem a autorização do órgão ambiental
responsável, há, ainda, a necessidade de acompanhamento das práticas
implantadas pelo plano. Normalmente, é feito pelo mesmo técnico responsável
pela implantação do projeto de reparação. O órgão ambiental solicita uma
avalição anual das práticas implantadas, com interesse de avaliar se essas
foram suficientes nos primeiros anos, ou se deverá se estender durante os
quatro anos (período máximo de acompanhamento e reparação da área).
Dentre as situações acompanhadas de maior reincidência, estão: a
abertura de valos para irrigação, tanto de arroz como de outras culturas, sem a
licença de operação e a supressão de mata nativa e/ou APP para fins
agrosilvipastoris. Porém, as duas situações citadas acima ocorrem, muitas
vezes, de maneira concomitante, como na Figura 8 ( Avaliar o cumprimento da
implantação do Plano de Reparação Ambiental encaminhado ao Departamento
e Áreas Protegidas – DEFAP e avaliação da necessidade de plantio de mudas
nativas.
FIGURA 8 – Arroio para retirada de água (esquerda) e área sem cultivo (direita) devido
a falta de licença para irrigação, São Gabriel, 2008. FONTE: Empresa
Na Figura 8 pode-se observar uma propriedade de uso agrícola que,
devido à falta de Licença de Operação como irrigante junto a FEPAM, não
podia fazer uso da várzea. Além disso, houve corte de vegetação nativa a fim
de aumentar a área de cultivo, o que acarretou em um Plano de Reparação
Ambiental. Devido a pouca influência do corte de árvores sobre a mata ciliar
previram-se vistorias para os próximos anos para avaliar a necessidade de
implantação ou não de espécies arbóreas nativas, sendo constatado em
vistoria inicial que a mata ciliar estava preservada e maneira abundante, não
trazendo riscos ao ambiente. Portanto, a mesma não necessita de plantio de
espécies nativas. Portanto, o Laudo de Medidas Executadas não visa apenas
avaliar o cumprimento da implantação de um Plano de Reparação Ambiental
que foi encaminhado ao Departamento e Áreas Protegidas – DEFAP, mas
também averiguar se há necessidade de plantio de mudas nativas quando da
existência de revegetação natural.
Segue abaixo, os itens constantes em um Laudo de Medidas
Executadas, o que mais uma vez, pode variar de acordo com o profissional
técnico.
Objetivo: avaliar o cumprimento da implantação do Plano de Reparação
Ambiental encaminhado ao Departamento e Áreas Protegidas - DEFAP.
Localização: Granja da Esperança – Distrito de Catuçaba - Município e
Comarca de São Gabriel, no Estado do Rio Grande do Sul.
Metodologia: Vistoria ao local.
Medidas executadas: o termo de Compromisso Ambiental firmado entre
o devedor e a Secretaria do Meio Ambiente tem por principais itens a serem
observados, os seguintes:
1. Plantio de mudas - Em 2008 foram plantadas 120 mudas
de diversas espécies nativas
2. Áreas de Preservação Permanente – As áreas mantidas
cercadas e sem uso por ocasião da implantação do Plano de Reparação
Ambiental estão preservadas, apresentando abundante material de porte
rasteiro.
Medidas a serem executadas
Replantio - Deverá ser realizado o replantio de 90 mudas para
adequação ao Termo de compromisso Ambiental. As FIGURAS 9a e 9b
mostram, respectivamente, uma das mudas mortas pela estiagem e uma
replantada. A FIGURA 9c demonstra o avanço do Rio sobre a barranca,
resultado de constantes enchentes e pelo fato da área objeto estar em
uma curva acentuada.
Ação do Rio Vacacaí sobre a Barranca – O avanço observado é
visível, mas não permanente e chegará o momento que a trajetória do
Rio minimizará o dano a sua margem e permitirá a reparação da área
em questão. Devemos observar que o local de implantação das mudas é
plano e próximo a barranca do Rio Vacacaí, que pelas suas
características sofre constantes ações de enchentes e estiagens
prolongadas, como foi a ocorrida em 2009.
Espécie adaptada – Observou-se que no local a espécie nativa
Vachellia caven (Molina) Seigler & Ebinger (espinilho) tem grande
adaptação e é nativa do local, podendo servir como espécie pioneira
para a reparação da área.
O proprietário (responsável técnico por este laudo) sugeriu que o
Departamento de Florestas e Áreas Protegidas – DEFAP manifestasse
sua opinião, quanto ao transplante de mudas de espinilho nos meses de
maio-junho para realizar a cobertura da área.
Anexos:
• Fotos com visão geral das mudas, avanço do Rio Vacacaí
e da APP (FIGURA 9);
• Anotação de Responsabilidade Técnica.
FIGURA 9 – a. morte das mudas em decorrência do aumento do nível do rio; b replantio
de mudas; c. avanço do Rio Vacacaí e d. isolamento da área. São Gabriel, RS. FONTE: Empresa
Portanto, o Laudo de Medidas Executadas, é um documento emitido ao
órgão ambiental, sobre o estado em que se encontra o local e até que ponto o
plano de reparação está contribuindo para a melhoria do local. Além de
demonstrar como se encontra a área, muitas vezes traz recomendações não
apenas para o produtor ou devedor ambiental, mas também para o próprio
órgão ambiental. Como exemplo, para o primeiro é mostrada a quantidade de
mudas necessárias para o replantio, assim como os tratos culturais; para o
segundo, é realizado um diagnóstico a respeito das condições do local,
mostrando os avanços da reparação com a implantação do plano,
recomendando apenas o isolamento para o reestabelecimento via regeneração
natural ou, em alguns casos, comprovando que não existem condições de se
realizar uma revegetação, seja por secas ou inundações frequentes, seja por
outro motivo ambiental.
a b
d c
3.2.3. Conclusão
Através do acompanhamento dos planos de reparação solicitados pelos
produtores ou devedores ambientais, foi possível observar que são poucos os
casos de grande degradação, sendo estes, muita vezes, apenas o corte de
vegetação nativa ou de outra atividade que necessite de licenciamento
ambiental, sendo este, na maioria das vezes, ignorado.
3.3. Outras atividades acompanhadas na empresa
Foi possível vivenciar o cotidiano da empresa nos seguintes aspectos:
• Interação com clientes;
• Contato com órgãos ambientais;
• Relação entre serviços e valores cobrados;
• Importância do conhecimento técnico; independentemente se
teórico ou prático.
4. Conclusão Geral
Durante o período de estágio na empresa Jobim Georreferenciamentos
e Soluções Ambientais foi possível acompanhar a dinâmica de uma empresa
de consultoria, com sua respectiva rotina e trabalhos executados. Por esta
empresa realizar serviços de georreferenciamento, certificação, licenciamento,
memoriais descritivos, entre outros serviços, no município de São Gabriel, RS e
em municípios vizinhos, apresentou-se uma grande variedade de serviços
pedidos por diversos produtores rurais.
Por fim, dentre as atividades acompanhadas, a elaboração mapas
temáticos e plano de reparação, mesmo tendo sido abordados em separado no
presente relatório, são utilizados de maneira conjunta quando solicitados por
órgãos como a Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz
Roessler – RS e o Departamento de Florestas e Áreas Protegidas- RS..
5. Avaliação do estágio
O estágio realizado na empresa Jobim Georreferenciamentos e
Soluções Ambientais possibilitou o aperfeiçoamento de alguns conhecimentos
adquiridos durante a graduação em Engenharia Florestal, enfatizando a
elaboração de mapas temáticos em plataforma CAD e a avaliação e
elaboração de planos de reparação ambiental. Com isso, o estágio nessa
empresa é aconselhável aqueles colegas que possuem interesse,
principalmente, na área de georreferenciamento.
No que tange a orientação do estágio, o auxílio prestado pelos
professores mostrou-se de grande importância, com esclarecimentos da parte
técnica utilizada pela empresa, e na orientação final para a elaboração do
relatório. Como recomendação à Universidade Federal do Pampa – Campus
São Gabriel, visto que ainda possui poucas opções de empresas conveniadas
para estágio, curriculares ou não, direcionados ao curso de Engenharia
Florestal, seria uma maior aproximação das empresas do setor florestal.
Por fim, como principais lições a serem usufruídas nas vidas pessoal e
profissional, seriam a relação intrapessoal e adaptação ao ambiente
empresarial.
6. Referências bibliográficas
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7. ANEXO A – Mapa de uso do solo da Fazenda Santa Zélia, São Gabriel,
RS.