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acordao-2005_565510
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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA
FJMNº 700112050362005/CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. LICITAÇÃO E CONTRATO ADMINISTRATIVO. INEXECUÇÃO CONTRATUAL. APLICAÇÃO DA PENALIDADE DE MULTA. ART. 87, INCISO II, DA LEI Nº 8.666/93. DESCABIMENTO. PREVISÃO EDITALÍCIA DA VALIDADE DA PROPOSTA. DESISTÊNCIA DA EXECUÇÃO DA OBRA. POSSIBILIDADE.
PRELIMINARES REJEITADAS. APELO PROVIDO.
APELAÇÃO CÍVEL 21ª CÂMARA CÍVEL
Nº 70011205036 PORTO ALEGRE
RIESA CONSTRUÇÕES E PROJETOS LTDA., APELANTE;
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, APELADO;
LUIZ CARLOS RIBEIRO PEREIRA, INTERESSADO.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Primeira
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em rejeitar as
preliminares e dar provimento ao apelo.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os
eminentes Senhores Desembargadores MARCO AURÉLIO HEINZ e GENARO
JOSÉ BARONI BORGES.
Porto Alegre, 03 de agosto de 2005.
DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH, Presidente e Relator.
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FJMNº 700112050362005/CÍVEL
RELATÓRIO
SR. PRESIDENTE (DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH - RELATOR) – Trata-
se de apelação interposta por RIESA CONSTRUÇÕES E PROJETOS LTDA.,
da sentença que julgou improcedentes os embargos opostos à execução fiscal
intentada pelo ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, condenando-a ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10%
sobre o valor da causa.
Nas razões recursais, afirma a apelante que se insurge contra a
sucinta sentença que julgou improcedentes os embargos, por negativa de
prestação jurisdicional, já que não foram apreciadas as razões apresentadas
na inicial e petições de fls. 91/92 e 97/99, às quais se reporta. Alega que a
Administração Pública alterou as condições da obra contratada após a
assinatura do contrato, o que tinge de nulidade o negócio jurídico. Além disso,
a Ordem de Início de Serviço só foi emitida após o prazo de validade da
proposta, impossibilitando a empresa de manter os preços avençados. Postula
a reforma do julgado para a procedência dos embargos.
Em contra-razões, o apelado requer, preliminarmente, o não
conhecimento do apelo, uma vez que não ataca objetivamente os fundamentos
da decisão. Afirma que não houve negativa de prestação jurisdicional, pois a
sentença apreciou devida e corretamente a prova contida nos autos, inclusive
referindo prazos, afastando as explicações lançadas pelo embargante com
relação à desistência da obra. Contudo, os argumentos utilizados pelo juízo
monocrático não foram devidamente enfrentados pela apelante em seu
recurso. No mérito, narra que o recebimento e abertura das
propostas se deu em 1º/10/97; a homologação do certame foi publicada no
DOE de 14/11/97 e firmado o Termo de Contrato de Obras e Serviços de
Engenharia em 06/11/97; em 08/12/97, foi publicada a súmula do Contrato.
Encaminhada a Ordem de Início de Serviço à empresa vencedora do processo
licitatório, essa comunicou, em 11/12/97, a falta de interesse em executar a
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obra na Escola, porquanto expirado o prazo de sessenta dias de validade da
proposta. Alega o apelado que, na data da assinatura do Contrato, a proposta
estava em plena vigência, o que motivou a rescisão do contrato e desencadeou
processo de apuração de eventual infração de parte da empresa vencedora,
culminando com a aplicação da multa ora contestada. Notificada, a empresa
apresentou defesa que não foi acolhida. Diante da recusa do pagamento na
esfera administrativa, foi inscrita em dívida ativa, da qual se extraiu a Certidão
que instruiu a Execução Fiscal ora embargada. Sustenta que correta a multa
aplicada, haja vista o disposto nos arts. 78, XIV e 87, II, da Lei nº 8.666/93,
assim como na cláusula 16, alínea ‘b’, do Contrato. Pugna pelo não
conhecimento do apelo e, caso seja conhecido, pelo seu desprovimento.
Neste grau de jurisdição, o parecer do Ministério Público é pelo
conhecimento e improvimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
SR. PRESIDENTE (DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH - RELATOR) –
Rejeitam-se as preliminares suscitadas.
Não há que se falar em negativa de prestação jurisdicional, uma
vez que, na sentença, apesar de sucinta, estão expostos os fundamentos para
a improcedência dos embargos. Na verdade, a ora apelante é que não
concorda com o que foi decidido, razão pela qual interpôs o recurso de
apelação.
Quanto à preliminar de não conhecimento do apelo, argüida pelo
Estado, também não merece acolhimento. Embora extremamente sucintas, as
razões de inconformidade da recorrente estão contidas no segundo parágrafo e
merecem ser apreciadas.
No mérito, merece provimento o apelo.
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RIESA CONSTRUÇÕES E PROJETOS LTDA. opôs embargos à
execução fiscal proposta pelo ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, alegando
ser incabível a multa que lhe foi aplicada em virtude da desistência de
realização da obra licitada.
Pelo que se observa dos autos, a apelante foi a vencedora do
procedimento licitatório modalidade Convite nº 055/97, do tipo Menor Preço,
cujo objeto era a contratação de serviços de cercamento e/ou gradeamento de
uma Escola Estadual. Conforme o item 2.3 do Edital (fl. 44), a proposta
vigoraria pelo prazo de 60 dias, a contar da data da entrega das propostas, o
que ocorreu em 1º/10/97 (fls. 53/54). A empresa RIESA foi a vencedora do
certame, com o preço global de R$ 18.675,44. Em 06/11/97, ocorreu a
firmatura do Termo de Contrato de Obras e Serviços de Engenharia nº 287/97
(fls. 09/16), sendo publicada a Súmula do Contrato no DOE em 14/11/97 (fl.
63). Houve nova publicação da Súmula do Contrato nº 287/97 em 08/12/97 (fl.
17), após a qual foi expedido Ofício (Ordem de Início de Serviço – fl. 19),
autorizando a empresa a dar início à execução da obra. No entanto, a empresa
RIESA, em 11/12/97, comunicou que não tinha mais interesse em executar os
serviços na Escola (fl. 20), tendo em vista já ter expirado o prazo de 60 dias da
validade da proposta. Em 19/12/97, a empresa requereu a rescisão do
Contrato, apresentando, ainda, outro argumento, qual seja, a existência de
erros de cálculos e das especificações técnicas fornecidas (fls. 64/65), ficando,
por isso, prejudicada a previsão orçamentária para a obra. Não aceitas as
justificativas apresentadas, o Estado rescindiu unilateralmente o Contrato (fls.
68/69). Instaurado processo administrativo (fls. 71/88), foi aplicada à empresa
multa de 10% sobre o valor total atualizado do Contrato, com fundamento no
art. 87, inciso II, da Lei nº 8.666/93, no montante de R$ 2.425,29, por
inexecução total do objeto contratado. A RIESA apresentou defesa. Mantida a
penalidade e não efetuado o pagamento, foi a empresa inscrita em dívida ativa,
da qual se extraiu a Certidão que instruiu a Execução Fiscal ora embargada.
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Os argumentos do Estado e do douto magistrado para a
manutenção da multa é que o Contrato fora firmado em tempo hábil, ou seja,
dentro do prazo de validade da proposta. E, ao firmá-lo, a contratada
concordou plenamente com o ali estipulado, especialmente quanto à cláusula
nona (fl. 12), que dispõe que “as obras terão início no prazo de até cinco dias
úteis a contar do recebimento da autorização do serviço” e “a autorização
somente poderá ser emitida após a publicação da súmula do contrato no Diário
Oficial do Estado”, a qual ocorreu em 08/12/97. Logo, a empresa descumpriu o
Contrato, razão pela qual correta a multa cominada.
Entendo que não lhes assiste razão.
Se a apelante descumpriu o Contrato, ao desistir de executar a
obra porque a Ordem de Início de Serviço só foi emitida após o prazo de
validade da proposta, o mesmo se pode dizer do Estado no que se refere ao
Edital.
É sabido que o Edital vincula todos os licitantes e a própria
Administração. É a lei da licitação no caso concreto, não sendo facultado à
Administração usar de discricionariedade para desconsiderar determinada
exigência do instrumento convocatório.
Como bem afirma MARÇAL JUSTEN FILHO (in Comentários à
Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 9ª ed., p. 64), “a Administração
tem liberdade para escolher as condições sobre o contrato futuro. Porém,
deverá valer-se dessa liberdade com antecedência, indicando exaustivamente
suas escolhas. Tais escolhas serão consignadas no ato convocatório da
licitação, que passará a reger a conduta futura do administrador. Além da lei, o
instrumento convocatório da licitação determina as condições a serem
observadas pelos envolvidos na licitação. A vinculação ao instrumento
convocatório complementa a vinculação à lei.”
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E, caso concreto, o item 2.3 do Edital (fl. 44) exige declaração do
proponente de que sua proposta vigorará pelo prazo de 60 dias, a contar da
data marcada para a entrega das propostas, o que ocorreu em 1º/10/97 (fls.
53/54). Portanto, em 1º/12/97, findou o prazo de validade da proposta, sem que
a contratada pudesse iniciar a execução da obra.
Se há previsão editalícia de validade da proposta e se a
Administração não autorizou o início do serviço dentro desse prazo, entendo
que pode a contratada desistir da realização da obra, pois não tem a obrigação
de garantir o preço inicial da proposta.
O que não se pode admitir é que a Administração exija proposta
com validade de 60 dias e, em razão de trâmites burocráticos, autorize o início
dos serviços somente depois de expirado esse prazo e, ainda, aplique multa à
empresa por inexecução contratual.
Entendo que tal atitude afronta os princípios norteadores da
licitação, expressos no art. 3º da Lei nº 8.666/93:
“Art. 3º. A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhe são correlatos.”
Conclui-se, então, que o recurso merece provimento, anulando-se
a inscrição em dívida ativa do débito relativo à multa cominada por inexecução
do Termo de Contrato de Obras e Serviços de Engenharia nº 287/97.
Diante do exposto, rejeitadas as preliminares, dou provimento ao
apelo, invertidos os ônus sucumbenciais.
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DES. GENARO JOSÉ BARONI BORGES - De acordo.
Julgador de 1º Grau: Murilo Magalhães Castro Filho
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