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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N° ACÓRDÃO i IIIJII IIIII IIIII IIIII mil um um um m m Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n° 994.07.055684-6, da Comarca de Mauá, em que são apelantes DANTAS IMÓVEIS SOCIEDADE CIVIL LTDA (E OUTROS(AS)), GERALDO LUIZ FERREIRA, JOSÉ CARLOS GRECCO, SOLANGE MARIA TONELOTTI GRECCO, SAULO LOMBARDI GRANADO, PREFEITURA MUNICIPAL DE MAUA, MARILDA HELENA MIRANDA LOPES DORSA e JUÍZO EX-OFFICIO sendo apelado MINISTÉRIO PUBLICO. ACORDAM, em Câmara Reservada ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "DERAM PROVIMENTO EM PARTE AOS RECURSOS, NOS TERMOS DO V. ACÓRDÃO. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores ANTÔNIO CELSO AGUILAR CORTEZ (Presidente sem voto), RENATO NALINI E EDUARDO BRAGA. São Paulo, 04 de novembro de 2010. n ( \ TORRES DE CARVALHO RELATOR

ACÓRDÃO i IIIJII IIIII IIIII IIIII mil um um um m m

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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA

REGISTRADO(A) SOB N°

A C Ó R D Ã O i IIIJII IIIII IIIII IIIII mil um um um m m

Vistos, relatados e discutidos estes autos de

Apelação n° 994.07.055684-6, da Comarca de Mauá, em

que são apelantes DANTAS IMÓVEIS SOCIEDADE CIVIL LTDA

(E OUTROS(AS)), GERALDO LUIZ FERREIRA, JOSÉ CARLOS

GRECCO, SOLANGE MARIA TONELOTTI GRECCO, SAULO

LOMBARDI GRANADO, PREFEITURA MUNICIPAL DE MAUA,

MARILDA HELENA MIRANDA LOPES DORSA e JUÍZO EX-OFFICIO

sendo apelado MINISTÉRIO PUBLICO.

ACORDAM, em Câmara Reservada ao Meio Ambiente

do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a

seguinte decisão: "DERAM PROVIMENTO EM PARTE AOS

RECURSOS, NOS TERMOS DO V. ACÓRDÃO. V. U.", de

conformidade com o voto do Relator, que integra este

acórdão.

O julgamento teve a participação dos

Desembargadores ANTÔNIO CELSO AGUILAR CORTEZ

(Presidente sem voto), RENATO NALINI E EDUARDO BRAGA.

São Paulo, 04 de novembro de 2010.

n ( \

TORRES DE CARVALHO RELATOR

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voton°AC-1.956/10

Apelação n° 994.07.055684-6 ou 662.705.5/4-00

Câmara Reservada ao Meio Ambiente

Apte: Dantas Imóveis Sociedade Civil Ltda e outros

Apdo: Ministério Público

Origem: 3 a Vara Cível (Mauá) - Proc. n° 3 .785/99 ou 388 /99

Juiz: Adriana de Melo Menezes

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL. Mauá. Loteamento Vila Nova Mauá. Obrigação de fazer e

não fazer. Regularização do loteamento. Obtenção de diretrizes, elaboração de projeto,

aprovações e licenças pela Prefeitura e órgãos públicos do Estado nos moldes dos art. 6o,

7o, 8o, 9o, 12 e 13, parágrafo único da LF 6.766/79. Elaboração de estudo de impacto ambi­

ental ELA/RIMA. Registro de projeto aprovado no Serviço de Registro de Imóveis (art. 18 e 21

da LF 6.766/79). Outorga das escrituras definitivas de compra e venda dos lotes alienados

aos adquirentes ou sucessores. Regularização da situação registraria dos lotes. Execução

de obras de infra-estrutura exigida pela legislação municipal, estadual e federal. Apresen­

tação de cronograma de obras com descrição, valores necessários para realização e prazos

estipulados para cada etapa. Alocação e urbanização de espaços para as áreas públicas

em compensação às ocupadas e invadidas. Reparação do dano ambiental e dos prejuízos

causados aos adquirentes dos lotes pela remodelação total ou parcial do empreendimento.

Abstenção de qualquer alienação de lotes, cobrança ou recebimento dos lotes Já vendidos.

Solidariedade. Separação de poderes e conveniência administrativa. Construção. Dano

ambiental. - 1. Despesas processuais. Adiantamento. O réu está obrigado a antecipar as

despesas processuais de seu interesse, a ele não se aplicando o art. 18 da LF n" 8.437/85.

Precedente: STJ, REsp n" 885.071/SP, Ia Turma, 27-2-2007, Rei Teori Albino Zavascki. - 2.

Legitimidade ativa. As condições se aferem nos termos postos na inicidL O Ministério Públi­

co comparece na defesa de interesses individuais homogêneos dos compradores, efetivos e

potenciais dos lotes ditos irregulares, bem como na defesa do meio ambiente urbano. É par­

te legitima para a demanda que visa, com esteio no Código do Consumidor e para proteção

dos adquirentes e de toda sociedade, enquadrar o desmembramento nas disposições da LF

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n° 6.766/79. - 3. Legitimidade passiva. A ação se volta contra os vendedores dos lotes des­

membrados, desmembramento que o autor da ação entende irregular. Os réus, que promo­

veram tal parcelamento, são parte legitima passiva. A ação se volta contra sua conduta e

em sua órbita de interesses repercutirá a demanda. - 4. Responsabi lidade. Prefeitura. A

jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de que às Prefeituras, se o loteador não o

faz, cabe regularizar os loteamentos e parcelamentos irregulares, como decorrência de seu

poder-dever de ordenar o solo urbano e não permitir a solidificação de tais situações. REsp

n" 447.433-SP, Ia Turma, 1-6-2006, Rei. Denise Arruda. -5. Responsabilidade. Cumprimen­

to da sentença. O cumprimento incondicionado da sentença implica em conduta incompatí­

vel com o recurso e aceitação explícita da condenação, nos termos do art. 503 § único do

CPC. Recurso prejudicado, nessa parte. - 6. Regularização do loteamento. O loteamento era

regular, pois aprovado pela administração e registrado no cartório predial; mas tornou-se

irregular pela divisão dos lotes que, embora aprovada pela Prefeitura, não seguiu o rito do

art. 18 da LF n" 6.766/79. Como o armamento e as quadras foram mantidas, cabe aos réus

apresentar o projeto de regularização previsto nesse dispositivo. O EIA/RIMA será apresen­

tado, se exigido pela administração. - 7. Infra-estrutura. Demonstrado que a infra-

estrutura foi realizada em sua quase totalidade, o juiz verificará o cumprimento da obri­

gação, com as observações postas no acórdão. - 8. Indisponibilidade. A indisponibilidade

deve ser proporcional ao dano que visa garantir; deve amoldar-se à situação atual do pro­

cesso, com a consideração do cumprimento parcial da sentença e a liberação dos bens que

estiverem em excesso. Não alcança os bens alienados antes da propositura da ação, por ato

inter vivos ou mortis causa. O juiz providenciará a liberação dos bens indevidamente al­

cançados. A liberação da indisponibilidade implica na liberação do arresto ou outra cons-

trição ligada ao cumprimento da sentença. - Sentença de procedência. Reexame e recurso

dos réus providos em parte.

1. A sentença de fls. 2919/2961, vol. 15 manteve a limi­

nar deferida inicialmente e julgou procedente a ação para condenar os réus

MARILDA HELENA MIRANDA LOPES DORSA, DANTAS IMÓVEIS S/C LTDA,

GERALDO LUIZ FERREIRA e SAULO LOMBARDI GRANADO (i) na obrigação de

fazer, no prazo de 1 ano a contar do trânsito em julgado, consistente na regulari­

zação do loteamento Vila Nova Mauá', sob pena de multa diária de R$-15.000,00

para cada etapa não cumprida; (ii) no aspecto administrativo, na obtenção de

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diretrizes, elaboração de projeto, aprovações e licenças pela Prefeitura e órgãos

públicos do Estado nos moldes dos art. 6, 7, 8, 9, 12 e 13, § único da Lei

6.766/79, além de elaborar estudo de impacto ambiental EIA/RIMA para tanto,

(iii) em seu aspecto civil, com o registro de projeto aprovado no Serviço de Regis­

tro de Imóveis (art. 18 e 21 da Lei 6.766/79), bem como com a outorga das escri­

turas definitivas de compra e venda dos lotes alienados aos adquirentes ou su­

cessores e regularização da situação registraria dos lotes, sob pena de valer a

presente decisão como título hábil à transferência do domínio junto ao Cartório

de Imóveis, sem prejuízo da multa diária cominada; (iv) em seu aspecto urbanís­

tico, mediante a execução das obras de infra-estrutura exigida pela legislação

municipal, estadual e federal, nos termos da decisão liminar e outras que se fize­

rem necessárias, apresentando cronograma de obras com sua descrição, dos va­

lores necessários para sua realização e prazos estipulados para cada etapa, alo-

cando e urbanizando espaços para as áreas públicas em compensação às ocu­

padas e invadidas; (v) a repararem o dano ambiental verificado pela implantação

irregular do loteamento e os prejuízos ocasionados aos adquirentes pela remode­

lação total ou parcial do empreendimento, tudo a ser apurado em liquidação por

artigos; (vi) na obrigação de não fazer consistente em se absterem de qualquer

alienação de lotes, cobrança ou recebimento dos lotes já vendidos, sob pena de

multa equivalente ao dobro do valor recebido ou do lote alienado, a partir da da­

ta do ajuizamento da demanda até que sejam executadas por completo as obras

de infra-estrutura determinadas nesta decisão e obterem Termo de Verificação

de Obras pela municipalidade ou outro órgão público. Condenou EDILENA

HELD LOMBARDI, JOSÉ CARLOS GRECCO, SOLANGE TONELOTTI GRECCO e

o MUNICÍPIO DE MAUÁ a arcarem solidariamente com os custos decorrentes

das regularizações e indenizações determinadas, bem como aqueles provenientes

de multas pelo não cumprimento das obrigações impostas. O valor da multa diá­

ria será corrigido a partir da data da sentença até o efetivo pagamento, destinado

ao Fundo Estadual de Interesses Difusos Lesados, nos termos do art. 13 da Lei

7347/85. Por força da sucumbência, arcarão os réus com o pagamento das des-

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pesas processuais, atualizadas do desembolso e proporcionalmente rateadas,

inclusive honorários periciais já arbitrados. Recorreu de oficio.

Apelam os réus Dantas Imóveis, Geraldo Luiz Ferreira,

José Carlos Grecco e Solange Maria Tonelotti Grecco (fls. 3045/3096, vol. 16): pre­

liminarmente alegam (i) ilegitimidade passiva, pois não são loteadores, mas ad-

quirentes dos lotes; (ii) nulidade da sentença por cerceamento de defesa. No mé­

rito, dizem que (i) José Carlos e Solange Maria não são loteadores nem proprietá­

rios de lotes, não se podendo levar tão longe a garantia que prestaram no contra­

to de locação de serviços firmado entre Marilda e Dantas Imóveis; (ii) o contrato

de fiança está viciado pela ausência da outorga uxória, j á que a co-ré Solange

não o assinou e agora está extinto ante a denunciação do contrato de locação de

serviços (contrato principal) pela credora Marilda Helena (fls. 1098/1101, vol. 6);

(iii) eventual responsabilidade dos co-réus se restringe aos serviços contratados

com base no DL n° 58/37 e não às obrigações pretendidas nesta ação; (iv) o lote­

amento foi aprovado e registrado pelo município em 19-2-1970 sob a égide do DL

n° 58/37, constituindo ato jurídico perfeito nos termos do art. 6o da LICC, não

podendo ser alcançado pela LF n° 6.766/79; (v) a co-ré Dantas Imóveis adquiriu

os lotes de 125 m2 para revenda, sem intenção de loteá-los, não podendo ser vis­

ta como sucessor do loteador original. As obras erguidas no loteamento foram

feitas para facilitar a revenda e não porque houvesse imposição legal. A munici­

palidade embargou as obras com base na LF n° 6.766/79; tentou-se fazer um

acordo com o município, mas o Ministério Público o vetou e a municipalidade

não forneceu as diretrizes para a construção de galerias pluviais e rede de ilumi­

nação. A Dantas Imóveis foi prejudicada como qualquer outro adquirente de lote,

ficando de 'mãos atadas' e sem receber as parcelas daqueles a quem os lotes fo­

ram vendidos; (vi) não houve lançamento de segunda fase de vendas do lotea­

mento em 1994 se adquiriu os lotes em 1996, com os atuais 125 m2; (vii) o lote­

amento não foi abandonado, pois o município jamais deixou de lançar impostos

em relação a todos os lotes; (viii) a verba honorária não é devida, sendo vetado ao

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autor recebê-la. Pedem a reforma da decisão e a improcedência da ação.

Apelam os réus Saulo Lombardi Granado e Edilena

Held Lombardi (fis. 3097/3139, vol. 16); preliminarmente alegam a desnecessida­

de de adiantamento do preparo, nos termos do art. 18 da LF n° 7.347/85. No

mérito alegam que (i) o desmembramento do loteamento Vila Nova Mauá foi reali­

zado sob a égide da LM n° 2.662/95, dispondo no art. 3 o sobre a 'zona residenci­

al de baixa densidade' que permite que os lotes tenham 125 m2. Não há ilegali­

dade; (ii) o co-réu Saulo foi sócio da Dantas Imóveis de janeiro de 1993 até feve­

reiro de 1997 sua única responsabilidade, se houver, se resume à condição de

garantidor no contrato realizado entre as co-rés Dantas Imóveis e Marilda. Após

o embargo das obras pela municipalidade, se desligou da empresa e não praticou

qualquer ato no loteamento; (iii) não há degradação ambiental a ser reparada. Se

os lotes foram legalmente adquiridos, o loteamento é regular. Se houve invasão

de área pública, ao Município de Mauá competia coibir as invasões mediante uso

do poder de polícia; (iv) a obrigação da execução é impossível, pois (a) não faz

mais parte do quadro societário da empresa Dantas Imóveis, tornando-se impos­

sível o cumprimento das obrigações em solidariedade; (b) a sentença impediu o

recebimento das parcelas referentes à revenda dos lotes e não estabeleceu san­

ção para aqueles que não as depositassem na conta judicial aberta para tanto.

Se a determinação tivesse sido cumprida, o valor correspondente às obras esta­

ria à disposição do juízo independente de quem as fosse realizar. Pede a reforma

da decisão e a improcedência da ação.

Apela o Município de Mauá (fls. 3140/3161, vol. 16);

preliminarmente alega que é parte passiva ilegítima, pois a própria sentença re­

conheceu que não houve omissão na fiscalização do loteamento. Tomou as pro­

vidências que lhe competiam e cientificou o Ministério Público para propor a

presente ação, sendo o maior interessado na regularização do lotes. Desde que

tomou conhecimento da situação precária do loteamento, providenciou exames

periciais elaborados em 21-1-1997 e 31-1-1997, que resultaram nos embargos

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às obras. No mérito diz que (i) a sentença feriu o princípio da separação dos po-

deres e desrespeitou a LCF n° 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Não cabe

ao Judiciário e ao Legislativo rever os critérios de oportunidade e conveniência

que norteiam as políticas públicas do Poder Executivo. A condenação imposta ao

município configura interferência do Poder Judiciário quanto à aplicação dos

recursos públicos em determinada obra, que no caso deve ser executada pelos

co-réus, mas se acomodam ante a condenação solidária do Município; (ii) a LF n°

6.766/79 não tem a amplitude dada pela sentença, que transferiu ao município

os encargos do loteador. O Município pode, à sua discrição, regularizar os lotea-

mentos não autorizados ou executados ilegalmente; obrigá-lo a isso premia a

conduta do loteador irregular e lesa o erário público; (iii) ainda que tenha havido

omissão, é caso de responsabilidade subjetiva e não de responsabilidade objetiva

nos moldes do art. 37, § 6o da CF. O Ministério Público não individualizou a cul­

pa do Município, pretendendo equivocada aplicação da responsabilidade objeti­

va. Pede a reforma da decisão e a improcedência da ação.

Apela a ré Marilda Helena Miranda Lopes Dorsa (fls.

3163/3187, vol. 16); preliminarmente alega (i) ilegitimidade ativa do Ministério

Público; (ii) inépcia da apelação ante a incompatibilidade de pedidos de possível

demolição e, ao mesmo tempo, de proteção dos adquirentes; (iii) nulidade da

sentença por cerceamento de defesa, ante a não realização da perícia. No mérito,

diz que (i) a aplicação da LF n° 6.766/79 a loteamento registrado sob a égide do

DL n° 58/37 fere o ato jurídico perfeito; (ii) não é loteadora, mas apenas se tor­

nou proprietária de lotes certos e determinados. Os loteadores originários trans­

feriram a seu falecido marido Mario Dorsa e a Vitantônio D'Abril os direitos so­

bre os lotes não comercializados. A responsabilidade que lhe cabe se restringe

aos lotes recebidos e individualizados, não se estendendo ao loteamento como

um todo, não havendo como enquadrá-la no art. 29 da LF n° 6.766/79. A loca­

ção dos serviços da empresa Dantas Imóveis demonstra que lhe interessava não

só a valorização do seu patrimônio, mas também da população local, sem que

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isso pudesse atrair obrigações; (iii) os desmembramentos estão de acordo com o

DL n° 58/37 e foram aprovados pelo Poder Público como se extrai das matrícu­

las anexadas aos autos (fls. 1.416/1421, vol. 8); os loteamentos ao redor da Vila

Nova Mauá possuem metragem inferior a 250 m2, especialmente em função do

poder aquisitivo da população local; o condomínio formado pelos casais Dorsa e

D'Abril (antecessor de Prefar e de Dantas) se concretizou antes da edição da LF

n° 6.766/79, dispensando-se o registro especial (art. 18) dos desmembramentos

(art. 2o), nos termos do item 150 das Normas da Corregedoria do Tribunal de

Justiça (Cap. XX, Seção V, itens 149 e 150); (iv) a apelante ajustou com a Dantas

Imóveis os serviços de terraplanagem, administração, orientação, venda e co­

brança. A contratada não cumpriu integralmente as obrigações e o contrato foi

rescindido (fls. 1.397/1.404, vol. 7 e 8). Não há que falar em formação de grupo

econômico ou caracterizá-la como TDeneficiária de loteamento irregular', não se

aplicando o art. 47 da 6.766/79 que embasa a condenação solidária. A contrata­

da assumiu, juntamente com seus garantidores, toda responsabilidade pelo lo­

teamento, afastando a solidariedade da apelante; (v) as áreas públicas invadidas

são de domínio e responsabilidade do município nos termos do art. 3 o do DL n°

58/37 e art. 22 da LF n° 6.766/79. Ainda que fosse a loteadora, a apelante não

teria como tutelar a posse de áreas de domínio público, afastando-se a conversão

em área pública dos lotes que lhe pertencem, para compensar as invasões. Diz

ser impossível executar a condenação. Pede a reforma da decisão e a improce-

dência da ação.

Apelos tempestivos; preparado apenas o recurso de

Marilda Helena. Contra-razões a fls. 3196/3227, vol. 17. A Procuradoria Geral de

Justiça opinou pelo desprovimento dos recursos (fls. 3243/3252, vol. 17). Os

autos foram originariamente distribuídos à 9 a Câmara de Direito Privado, 28-11-

2006, Rei. Grava Brazil, não conheceram do recurso e determinaram a remessa à

Seção de Direito Público, v.u. (fls. 3390/3399, vol. 17). A 5 a Câmara de Direito

Público, 27-9-2007, Rei. Ricardo Anafe, não conheceu do recurso e determinou a

remessa a esta Câmara Especial de Meio Ambiente, v.u. (fls. 3446/3466, vol.

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17).

Em 13-7-2007 Lúcia Helena Dorsa e Vera Cristina Lo­

pes Dorsa (fls. 3406/3435, vol. 17) adentraram os autos alegando que são filhas

de Marilda Helena Miranda Lopes Dorsa e sucessoras de Mário Eugênio Dorsa; a

8 a Câmara de Direito Privado, 4-8-2005, Rei. Luiz Ambra, concederam a ordem,

v.u. para levantar a indisponibilidade dos bens transmitidos por sucessão de

Mário Eugênio Dorsa mais de quinze anos antes da propositura da ação civil pú­

blica (fls. 3411/3420, vol. 17). As peticionarias pedem o afastamento do arresto

determinado nesta ação civil pública em relação aos bens adquiridos por suces­

são hereditária para que possam registrar o formal de partilha, bem como aliená-

los ou gravá-los como lhes seja conveniente. O Ministério Público se manifestou

a fls. 3438/3439, vol. 17 pelo indeferimento do pedido. Petição reiterada a fls.

3478/3479, vol. 17.

Os autos voltaram à comarca a pedido dos réus, que

informaram terem cumprido a sentença. Foi feita a vistoria de fls. 3788/4108,

vol. 20 e 21, sobre a qual as partes se manifestaram a fls. 4117 (Marilda Helena),

4119/4662 (José Carlos Grecco e outros, vol. 21 a 24), 4674/4684 (Ministério

Público) e 4688/4694, vol. 24 (Município). O perito prestou esclarecimentos (fls.

4699/4705, vol. 24). A ré Marilda Helena pediu a redução da indisponibilidade,

ante o resultado da vistoria (fls. 4825/4827. Lúcia Helena Dorsa Crestana e ou­

tra pediram a exclusão da indisponibilidade de bens adquiridos por sucessão

antes da propositura da ação (fls. 4830/4839, vol. 24). Dantas Imóveis, Geraldo,

José Carlos e Solange pediram a redução da indisponibilidade (fls. 48/46 e se­

guintes, vol. 25).

Em apenso o AI n° 116.273.4/0-00, interposto por

José Carlos Grecco e sua esposa contra a decisão que deferiu a liminar, 9a Câ­

mara de Direito Privado, 18-11-1999, Rei. Silva Rico, negaram provimento, v.u.;

o AI n° 130.194.4/2-00 interposto por Marilda Helena Miranda Lopes Dorsa con-

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tra a decisão que deferiu a liminar, 9a Câmara de Direito Privado, 15-8-2000,

Rei. Silva Rico, negaram provimento, v.u.; o AI n° 137.004.4/0-00, interposto por

Marilda Helena Miranda Lopes Dorsa contra a decisão que indeferiu a autoriza­

ção para venda de lotes e recebimento de prestações decorrentes da venda dos

lotes, 9 a Câmara de Direito Privado, 30-5-2000, Rei. Silva Rico, negaram provi­

mento, v.u.; o AI n° 172.044.4/6-00 interposto por Saulo Lombardi Granado e

sua esposa contra a decisão que indeferiu o pedido de autorização para devolver

as linhas telefônicas às operadoras ou as depositarem em juízo, 9 a Câmara de

Direito Privado, 1-2-2001, Rei. Silva Rico, deram provimento, v.u.; o AI n°

183.599.4/3-00 interposto por Dantas Imóveis S/C Ltda, Geraldo Luiz Ferreira,

José Carlos Grecco e sua esposa contra a decisão que indeferiu a redução do

arresto, 9 a Câmara de Direito Privado, 20-3-2001, Rei. Silva Rico, negaram pro­

vimento, v.u.

É o relatório.

2. Contexto processual. Trata-se de ação civil pública

ambiental proposta pelo Ministério Público para a regularização e reparação de

danos decorrentes da instalação do loteamento Vila Nova Mauá, localizado no

Jardim Nova Mauá, antiga Fazenda do Oratório ou da Juta , inscrito em 19-2-

1970 sob n° 10 do livro 8 de Registro Especial do Registro de Imóveis de Mauá

pelos proprietários JOSÉ CARLOS PAES DE BARROS e sua esposa LYDIA LARA

PAES DE BARROS, nos termos do DL n° 58/37 (fls. 35). Depois da aprovação do

loteamento pela Prefeitura de Mauá, sobreveio a LM n° 1.134/70 de 30-4-1970

que dentre outras disposições fixou o tamanho mínimo dos lotes em 250 m2.

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O loteamento foi vendido para VITANTÔNIO D'ABRIL e

sua esposa MANUELA DOMITILA FERNANDEZ D'ABRIL e MÁRIO EUGÊNIO

DORSA e sua esposa MARILDA HELENA MIRANDA LOPES DORSA por escritura

pública datada de 22-3-1978, re-ratificada em 22-5-1978 (fls. 191). Em 15-11-

1981 faleceu MARIO EUGÊNIO DORSA e sua quota no loteamento foi transferida

para sua esposa MARILDA HELENA MIRANDA LOPES DORSA nos autos do in­

ventário n° 2.966/81 que tramitou pela 2 a Vara de Família e Sucessões da Capi­

tal (fls. 70 e verso). Em 15-8-1988 Vitantônio e esposa alienaram sua parte do

loteamento para PREFAR LTDA (fls. 54/72). Em 21-8-1995 MARILDA HELENA e

PREFAR LTDA dividiram os lotes em condomínio por escritura do Io Tabelionato

de Mauá, livro 245, fls. 94 (fls. 74/139). Em 14-3-1996 PREFAR LTDA vendeu

sua parte no loteamento para DANTAS IMÓVEIS S/C LTDA, representada pelo

sócio Geraldo Luiz Ferreira (fls. 146/189). Grande parte dos lotes ainda perma­

nece em nome de MARILDA HELENA e PREFAR LTDA (fls. 196/200).

2. Preparo. Ação civil pública. Salvo Marilda Helena, os

demais réus não recolheram o preparo. Os réus Saulo Lombardi Granado e Edi-

lena Held Lombardi trazem citação doutrinária favorável ao recolhimento do pre­

paro ao final, nos termos do art. 18 da LF n° 7.437/85. Essa posição não é a me­

lhor; como se vê em THEOTONIO NEGRÃO, 'CPC Anotado', 37 a Ed. Malheiros,

São Paulo, 2005, pág. 1048/1049, em nota 1 ao art. 18 da LF n° 7.437/85: "A

isenção do art. 18 da Lei 7.347/85 aplica-se unicamente aparte autora, não sendo

aplicável aparte ré da ação civil pública (STJ - Ia Turma, REsp 551.418-PR, rei.

Min. Francisco Falcão, j . 25.11.03, negaram provimento, v.u., DJU 22.3.04, p. 239).

Segundo essa decisão, 'é imprescindível o recolhimento do preparo de apelação da

parte ré da ação civil pública, sob pena de deserção do recurso interposto".

0^ ARTES GRÁFICAS-TJ

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Essa é a posição do STJ, como se vê em Marcos Perez

vs Ministério Público do Estado de São Paulo, REsp n° 885.071/SP, I a Turma, 27-

2-2007, Rei. Teori Albino Zavascki, v.u., DJ 22-3-2007, p. 313.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. APELAÇÃO DO RÉU. AUSÊNCIA DE

PREPARO. ART. 18, DA LEI N° 7.347/85. DESNECESSIDADE DE ANTECIPAÇÃO

DE CUSTAS E DESPESAS PROCESSUAIS. PRIVILÉGIO DA PARTE AUTORA.

PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA QUANDO DA INTERPOSIÇÃO

DA APELAÇÃO. INDEFERIMENTO SEM ABERTURA DE OPORTUNIDADE PARA O

PREPARO. NÃO CONFIGURAÇÃO DE DESERÇÃO. 1. A previsão legal contida na

primeira parte do artigo 18 da Lei 7.347/85 ("Nas ações de que trata esta lei, não

haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e qualquer ou­

tras despesas") aplica-se exclusivamente à parte autora da ação civil pública. Pre­

cedentes. 2. "Afirmada a necessidade de justiça gratuita, seja em que momento

for, não pode o órgão julgador declarar deserto o recurso sem se pronunciar sobre

o pedido de assistência judiciária. Caso indeferida a gratuidade, deve-se abrir ao

requerente oportunidade para o preparo" (AgRg no Ag 622403/RJ, 6 a T., Min. Nil­

son Naves, DJ de 06.02.2006). No mesmo sentido: REsp 731880/MG, 4 a T, Min.

Jorge Scartezzini, DJ de 14.11.2005; RMS 19747/RJ, 3 a T., Ministro Castro Filho,

DJ de 05.09.2005 e REsp 556081/SP, 4 a T., Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ de

28.03.2005. 3. Recurso especial parcialmente provido.

Mas a questão é de pouco interesse no caso concreto;

os apelos chegaram ao Tribunal e mais se ganha julgando os recursos. Prossigo

na apreciação, ficando as custas e despesas processuais devidas ao Estado para

pagamento ao final; mas deverão ser recolhidas de imediato caso haja novos re­

cursos, sob pena de deserção.

3. Legitimidade ativa. Ministério Publico. O Ministério

Público é parte legítima; a ação se funda no Código do Consumidor, ou seja, na

defesa de interesses individuais homogêneos, bem como na defesa dos padrões

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urbanísticos e ambientais, isto é, interesse difuso e coletivo, conforme disposto

no art. 129, II e III da Constituição Federal e nos art. 81 e § único e seu inciso

III, 91 e 92 da LF n° 8.078/90. A atuação não implica em sobreposição à atuação

do Poder Público, mas apenas na exigência de que a administração cumpra a lei

e a ela se submeta; não há ofensa à separação de poderes.

Legitimidade passiva. Dantas Imóveis, Geraldo Luiz

Ferreira, José Carlos Grecco e Solange Maria Tonelotti Grecco. Os réus são parte

passiva legítima; a ação se volta especificamente contra conduta suas, de anun­

ciar e por à venda lotes que a inicial afirma serem irregulares, e pede providên­

cias que a eles réus cabe tomar (a regularização do parcelamento). Sua partici­

pação vem bem analisada e explicada na sentença, cujas razões são adotadas.

Se o autor tem ou não razão, se a situação concreta se enquadra ou não na Lei

6.766/79, é questão de mérito que será apreciada ao final.

Legitimidade passiva. Município de Mauá. O Município

é parte passiva legítima nas ações civis públicas que discutem irregularidades de

loteamento, na medida de sua competência para fiscalizar o parcelamento do

solo urbano e autorizar as obras de infra-estrutura nestes loteamentos. Se a

municipalidade é ou não responsável pelas irregularidades é questão de mérito e

será apreciado ao final.

4. Inépcia da inicial. Pedidos incompatíveis. A inicial pre­

tende que o loteamento seja regularizado, na parte física e na parte legal, em

benefício dos adquirentes. O fato de a regularização implicar, excepcionalmente,

na perda do lote por algum adquirente não tornam os pedidos incompatíveis en­

tre si nem ofende a defesa dos interesses difusos por parte do Ministério Público.

ARTES GRÁFICAS - T J 4i.mas

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Cerceamento de defesa. Prova oral. Prova pericial. As

questões de fato foram suficientemente esclarecidas, não havendo razão para a

produção da prova oral e testemunhai; não cerceia a defesa o indeferimento de

provas inúteis, desnecessárias ou protelatórias, a teor do art. 130 do CPC.

Conexão. Entendo aconselhável que o mesmo juiz to­

me conhecimento de todos os feitos decorrentes de uma mesma relação jurídica

ou de um mesmo fato, vendo a conexão de modo mais amplo que é usual em

primeiro grau; nessa linha, os processos poderiam ter sido reunidos. A reunião

já não é possível; a decisão de ambos rompe a necessidade de reunião dos pro­

cessos em primeiro grau (a declaratória foi julgada improcedente em 31-10-2007

e aguarda a interposição de recursos, ou o trânsito em julgado). A conexão e de­

corrente prevenção poderão ser reconhecidas em segundo grau, no entanto, em

relação aos recursos ainda não julgados.

5. Responsabilidade. Município. A responsabilidade do

Município é questão mais delicada. Segundo a sentença, "omitiu-se durante anos,

de 1983 até início de 1997, na fiscalização do empreendimento, no exercício de seu

poder-dever de polícia, não compelindo os responsáveis à realização das obras de

infra-estrutura, deixando de executá-las, colocando-se alheio ao abandono genera­

lizado do loteamento, sequer impedindo a comercialização e invasão de parcelas do

imóvel destinadas às áreas públicas" (fls. 2952, vol. 15). No caso Fazenda Esta­

dual vs Ministério Público, AC n° 85.594.5/0-00, 8 a Câmara de Direito Público,

11-8-1999, voto 611, diferenciei a conduta administrativa de ação e de reação;

aquela trazendo uma inovação ao então inexistente, um acréscimo à atividade

administrativa e um presumido acréscimo ao bem público; esta reagindo à con­

duta anterior de seus agentes ou de terceiros de modo que a discrição para a

ação é ampla; a discrição para a reação é quase nenhuma. O pedido deste pro­

cesso, mais que correção de ilegalidade visa acrescentar melhorias e benefícios à

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população residente na parte jurídica (regularização junto ao Registro de Imó­

veis) e na parte de saneamento (instalação de rede de esgotos, arruamento, cal­

çamento, preservação das áreas protegidas e nascentes, coleta regular de lixo); e

cheguei a mencionar no precedente que a regularização do art. 40 da LF n°

6.766/89 é facultativa, configura uma ação e não poderia ser determinada pelo

Judiciário. A interferência do juiz nas políticas públicas seria possível quando

tais políticas tivessem assento constitucional, mas não nas demais (EDiv em

REsp n° 485.969-SP, em que foi embargante o Ministério Público Federal e em­

bargado o Município de São Bernardo do Campo, STJ, I a Seção, 23-8-2006, Rei.

José Delgado, unânime, receberam os embargos; AgReg no RE n° 410715-SP, 2 a

Turma, Rei. Min. CELSO DE MELLO, DJ de 03/02/2006).

6. A sentença condena a Prefeitura na implantação de

melhorias no parcelamento clandestino, mais se assemelhando à implantação de

políticas públicas que à correção de ilegalidades; é uma ação, não uma reação.

Na hipótese específica, no entanto, a jurisprudência posterior ao caso que trans­

crevi inclinou-se em outro sentido:

ADMINISTRATIVO. LOTEAMENTO INACABADO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

DO MUNICÍPIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPUTAÇÃO POR AÇÃO DE REGRESSO À

EMPRESA LOTEADORA. 1. É dever do município fiscalizar os loteamentos, desde

a aprovação até a execução de obras. 2. A CF/88 e a lei de parcelamento do solo

(Lei 6.766/79) estabelecem a solidariedade na responsabilidade pela inexecução

das obras de infra-estrutura (art. 40). 3. Legitimidade do município para respon­

der pela sua omissão e inação da loteadora. 4. Recurso especial provido. (Ministé­

rio Público vs Município de Cajamar, REsp n° 252.512/SP, 2a Turma, 25-9-2001,

Rei. Eliana Calmon, DJ 29.10.2001, v.u., p. 194).

Se o Município omite-se no dever de controlar loteamentos e parcelamentos de ter­

ras, o Poder Judiciário pode compeli-lo ao cumprimento de tal dever. (Município de

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São Paulo vs Ministério Público, REsp n° 292.846-SP, I a Turma, 7-3-2002, Rei.

Humberto Gomes de Barros, DJ 15-4-2002, v.u., p. 172):

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REGULARIZAÇÃO DO SOLO

URBANO. ART. 40 DA LEI N. 6.766/79. MUNICÍPIO. COMPETÊNCIA VINCULADA.

No que concerne à alegação de que a Lei n. 6.766/79 não se aplica aos conjuntos

habitacionais de interesse social, o recurso não merece prosperar. Com efeito, co­

mo bem salientou o Ministério Público Federal, "a Lei 6.766/79 é aplicável a toda

e qualquer forma de parcelamento do solo para fins urbanos (art. Io da Lei), inde­

pendentemente de haver vinculação ou não com os programas habitacionais de in­

teresse social" (fl. 517). Por outro lado, nos termos da Constituição Federal, em

seu artigo 30, inciso VIII, compete aos Municípios "promover, no que couber, ade­

quado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do par­

celamento e da ocupação do solo urbano." Cumpre, pois, ao Município regularizar

o parcelamento, as edificações, o uso e a ocupação do solo, sendo pacífico nesta

Corte o entendimento segundo o qual esta competência é vinculada. Destarte, "se

o Município omite-se no dever de controlar loteamentos e parcelamentos de terras,

o Poder Judiciário pode compeli-lo ao cumprimento de tal dever" (REsp

292.846/SP, Rei. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 15.04.2002). No mesmo

diapasão, sustentou o Ministério Público Federal que "o Município não pode se

furtar do poder-dever de agir vinculado e constitucionalmente previsto com vistas

à regularização do solo urbano, sob pena de responsabilização, como sucedeu no

caso por intermédio da via judicial adequada que é a ação civil pública" (fl. 518).

Recurso especial improvido. {Município de São Paulo vs Ministério Público, REsp

259.982-SP, 2a Turma, 8-6-2004, Rei. Franciulli Netto, DJ 27-9-2004, v.u., p.

287).

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. LOTEAMENTO IRREGULAR. MUNICÍPIO. PODER-DEVER.

LEGITIMIDADE PASSIVA. ARTS. 30, VIII, DA CF, E 40 DA LEI 6.766/79.

PRECEDENTES DO STJ. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E,

NESSA PARTE, PROVIDO. 1. A ausência de prequestionamento do dispositivo le­

gal tido como violado torna inadmissível o recurso especial. Incidência das Súmu­

las 282/STF e 211/STJ. 2 . Inexiste violação do art. 535, II, do Código de Processo

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Civil, quando o aresto recorrido adota fundamentação suficiente para dirimir a

controvérsia, sendo desnecessária a manifestação expressa sobre todos os argu­

mentos apresentados pelos litigantes. 3. É pacífico o entendimento desta Corte

Superior de que o Município tem o poder-dever de agir para fiscalizar e regularizar

loteamento irregular, pois é o responsável pelo parcelamento, uso e ocupação do

solo urbano, atividade essa que é vinculada, e não discricionária. 4. Legitimidade

passiva do ente municipal para figurar em ação civil pública que objetiva a regula­

rização de loteamento irregular. 5. Recurso especial parcialmente conhecido e,

nessa parte, provido. (Ministério Público vs Município de Piracicaba, REsp n°

447.433-SP, Ia Turma, 1-6-2006, Rei. Denise Arruda, DJ 22-6-2006, v.u., p. 178):

Não há como fugir à responsabilização do Município, ante a jurisprudência con­

solidada; mas tal responsabilidade é subsidiária e não solidária. A responsabili­

dade principal é dos proprietários da gleba, no caso concreto MARILDA HELENA

MIRANDA LOPES DORSA e DANTAS IMÓVEIS S/C LTDA, e dos demais réus que

de modo direto ou indireto participaram da irregularidade, conforme reconhecido

na sentença.

7. Em 23-3-2006 o Município de Mauá, Marilda Helena

Miranda Lopes Dorsa, Dantas Imóveis, Geraldo Luiz Ferreira, José Carlos Grecco

e Solange Grecco firmaram o termo de fls. 3361/3365, vol. 17 visando ao cum­

primento da sentença, indicando as obras a serem realizadas pelo Município e

pelos réus; em 24-5-2006 os réus Dantas Imóveis, Geraldo Luiz Ferreira, Saulo

Lombardi Granado, Edilena Held Lombardi, José Carlos Grecco, Solange Tone-

lotti Grecco e Marilda Helena Miranda Lopes Dorsa firmaram o termo de acordo

de fls. 3366/3371, vol. 17, dividindo entre si a responsabilidade pela execução e

pelo pagamento das obras que lhe couberam no acordo feito com o Município.

Os réus informaram que a sentença havia sido cum­

prida, apresentando como prova certidão expedida pela Prefeitura de conclusão

das obras (fls. 3469/3472, vol. 18); os autos baixaram à comarca para a verifica-

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ção do alegado. O perito documentou a situação atual do loteamento e esclare­

ceu que as obras de infra-estrutura foram realizadas, restando apenas 6,49%

delas por fazer (fis. 3788/4108, 4048 vol. 20 e 21); em decorrência, os réus pedi­

ram a redução da indisponibilidade dos bens. Os réus admitem ter cumprido a

sentença, sendo que parte deles (Dantas Imóveis e outros, fis. 4846 e seguintes)

esclarece que "os réus cumpriram e executaram mais de 93% das obras, nos

termos em que dispôs a sentença, de modo que, nesse sentido, pode-se dizer que

a própria apelação dos ora peticionários restou vazia".

Ante a bem fundamentada sentença e a conduta pos­

terior dos réus que, cumprindo-a, manifestam vontade incompatível com o re­

curso (art. 503 § único do CPC), dou os recursos por prejudicados na parte em

que contestam sua responsabilidade pelos fatos narrados na inicial e pelo cum­

primento da sentença. Há que analisar, no entanto, a condenação imposta aos

réus e determinadas questões laterais que têm relevo no conjunto dos autos,

para que a execução se faça sem sobressalto.

8. Regularização do loteamento. A questão apresenta

complexidade não dirimida na sentença e na manifestação das partes. A doutri­

na e a jurisprudência, incluindo as decisões administrativas da Corregedoria

Geral da Justiça, vêm considerando que os parcelamentos são clandestinos

(clandestinidade jurídica, pois o loteamento é aparente e público) quando não

aprovados nem registrados; e são irregulares quando, aprovados e registrados,

são implantados em desacordo com o projeto aprovado. O loteamento Vila Nova

Mauá foi aprovado pelo município e registrado no Cartório de Imóveis sob o re­

gime do DL n° 58/37 com lotes de dez metros de frente (em regra geral); é um

loteamento regular na origem, portanto. Ocorre que em 1996 a Dantas Imóveis

obteve da Prefeitura a divisão dos lotes não vendidos em dois, mas mantendo o

armamento, as quadras e as divisas originais; promoveu o adensamento, mas

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não a alteração do sistema viário, nem deu nova conformação aos lotes (fls.

1422/1443, vol. 8, 4075/4108, vol. 21). A Prefeitura fez o lançamento tributário

dos meio-lotes e parte deles, os autos não esclarecem quantos, deram origem a

novas matrículas e ao registro das escrituras respectivas; não pertencem mais

aos réus (fls. 4714/4716, vol. 24, por exemplo).

O desmembramento dos lotes é irregular, pois não

submetido aos órgãos administrativos e ambientais, nem aprovado pela Prefeitu­

ra, nem registrado no Cartório de Imóveis como o exige o art. 18 da LF n°

6.766/79; e precisa ser regularizado, para atendimento ao regulamento adminis­

trativo e às normas do registro imobiliário. Não está claro a que regularização se

referem o autor e a sentença; pois a admitir a aplicação integral da LM n°

1.134/70 de 30-4-1970 (fls. 3019/3042, 3107/3131, vol. 16, que dispõe sobre

loteamentos e indica como metragem mínima 10 metros de frente e 250 m2, o

cumprimento da sentença fica impossibilitado pela venda e registro dessas par­

tes menores e pela consolidação do loteamento há tantos anos. O retorno à situ­

ação original é hoje impossível; atinge a propriedade de terceiros, várias delas

construídas e registradas no Cartório Imobiliário (e aí regulares), e implicaria no

desfazimento dos contratos e na demolição dos imóveis existentes.

A regularização mencionada na sentença há de ser

compreendida do seguinte modo: os réus (recordo que a responsabilidade do

município é subsidiária e que a disposição não se aplica, em primeira mão, ao

ente público) providenciarão a aprovação pela administração (GRAPROHAB, Ce-

tesb, Prefeitura, etc) e o registro do desmembramento, nos termos do art. 18 ci­

tado, para que reflita a situação atual do loteamento. O projeto aprovado indica­

rá de que modo e em que extensão o desmembramento será permitido, observa­

da a situação da parte antiga, vendida e construída, e da parte nova, ainda cheia

de terrenos vagos. O EIA/RIMA será apresentado, se exigido pela agência ambi­

ental. Segundo os autos, os réus não se recusam a outorgar as escrituras dos

lotes vendidos, se regularizado o loteamento. O projeto de regularização deverá

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ser apresentado em 120 dias e as exigências deverão ser cumpridas no prazo

fixado ou em prazo razoável, a critério do juiz, até o registro, sob pena de multa

diária de R$-1.000,00 (um mil reais), corrigida desta data. Não há como dispor,

neste momento, sobre a substituição das escrituras pela sentença; pois esta não

apresenta 'per se' condição de registro e é preciso ver a situação contratual de

cada interessado. A disposição abrange os itens V a 'iii' da condenação.

9. As obras de infra-estrutura foram feitas em sua quase

totalidade. Há algumas observações a fazer: (a) para o cumprimento da sentença

é irrelevante saber qual dos réus executou o que, pois a condenação é solidária.

Cabe aos réus, se entendem ser credores do outro, discutir a questão e cobrar o

que entendem devido em ação própria; (b) o cumprimento da sentença poderá

observar o termo de acordo de fls. 3361/3365, 3366/3371, vol. 16, com obser­

vância de situações peculiares como indicado a fls. 4205, vol. 22 (a concessioná­

ria só constrói a rede coletora de esgotos quando as moradias estiverem constru­

ídas), em que a ausência. A condenação determina que os réus executem a infra-

estrutura do loteamento (guias, sarjetas, drenagem, etc); mas a Prefeitura assu­

me a conservação e manutenção dela a partir do recebimento das obras, como é

usual. O juiz observará o que falta fazer (cumprimento da sentença) e o que é

falta de manutenção da obra feita, a cargo da Prefeitura e fora dos limites da lide

e da condenação; (c) não está claro se há área ou espaço público invadido; se

houver, a juíza disporá a respeito em execução, com a opção de desocupação do

espaço em questão ou sua substituição por outro, conforme for definido no pro­

jeto de regularização mencionado no item oito. A disposição abrange o item 'iv'

da sentença.

O dano ambiental, que não se confunde com o dano

urbanístico, será apurado em execução quanto à existência e valor, depois de

regularizado o parcelamento. Do mesmo modo, o autor indicará em execução os

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danos aos adquirentes e seu valor. Cuida-se aqui do item V da sentença.

Depois de levantada a indisponibilidade os réus pode­

rão vender os lotes originais, na metragem maior e se regularizado o lançamento

do IPTU, pois estes são regulares; mas a venda de lotes menores continua veda­

da, conforme a sentença, até a regularização do loteamento. Atento ao cumpri­

mento da sentença e às peculiaridades do cargo, sobre a liberação do recebimen­

to das prestações dos lotes vendidos. É o item Vi' da sentença.

10. Indisponibilidade. A indisponibilidade alcança o valor

necessário ao cumprimento da sentença; a parte mais custosa (a infra-estrutura)

foi feita e resta pequena parte, que possivelmente será terminada antes do início

da execução. Não se tem idéia do custo da regularização do loteamento, ainda

por fazer. O juiz avaliará o valor pendente e reduzirá a indisponibilidade à cober­

tura desse valor, podendo aceitar - como sugerem os réus, e admitido que não

tenham de fato sido vendidos - os lotes vagos do próprio loteamento. É questão

que o juiz apreciará com mais elementos que o tribunal.

A indisponibilidade não alcança os bens transmitidos

pelos réus antes da propositura da ação; não alcança os terrenos vendidos em

outros loteamentos dos réus, como é o caso dos diversos pedidos de liberação

dos lotes do Jardim Domitila e de loteamento em Jundiaí. O juiz providenciará o

necessário, para minorar os problemas que a constrição causa a esses terceiros.

A indisponibilidade não alcança os bens transmitidos

por Mário Eugênio Dorsa, falecido em 15-11-1981, dezoito anos antes da propo­

situra da ação, às filhas LÚCIA HELENA DORSA CRESTANA e VERA CRISTINA

LOPES DORSA. Conforme reconhecido no MS n° 366.820.4/7-00, 8 a Câmara de

Direito Privado, 4-8-2005, Rei. Luiz Ambra (fls. 3411/3420, vol. 18), é patrimô­

nio transferido por sucesso no ato da morte de Mário Eugênio e cuja liberação foi

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determinada pelo Tribunal. O pedido de fls. 3406/3434, reiterado a fls.

3478/3479, vol. 18 e fls. 4830/4839, vol. 24 fica deferido, afastadas as objeções

do Ministério Público; devendo o juiz providenciar o que for necessário à libera­

ção dos imóveis indicados pelas requerentes.

O levantamento da indisponibilidade implica no levan­

tamento do arresto ou outra constrição que tenha recaído sobre os imóveis libe­

rados, pois igual a finalidade e a razão da constrição.

O voto é pelo provimento em parte do reexame e do

recurso dos réus para que a sentença seja cumprida na forma determinada nos

itens 8 a 10 do acórdão e com a observação de que a responsabilidade do Muni­

cípio é subsidiária e não solidária.

TORRES DE CARVALHO

Relator

41.0035