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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°
A C Ó R D Ã O i IIIJII IIIII IIIII IIIII mil um um um m m
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
Apelação n° 994.07.055684-6, da Comarca de Mauá, em
que são apelantes DANTAS IMÓVEIS SOCIEDADE CIVIL LTDA
(E OUTROS(AS)), GERALDO LUIZ FERREIRA, JOSÉ CARLOS
GRECCO, SOLANGE MARIA TONELOTTI GRECCO, SAULO
LOMBARDI GRANADO, PREFEITURA MUNICIPAL DE MAUA,
MARILDA HELENA MIRANDA LOPES DORSA e JUÍZO EX-OFFICIO
sendo apelado MINISTÉRIO PUBLICO.
ACORDAM, em Câmara Reservada ao Meio Ambiente
do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a
seguinte decisão: "DERAM PROVIMENTO EM PARTE AOS
RECURSOS, NOS TERMOS DO V. ACÓRDÃO. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.
O julgamento teve a participação dos
Desembargadores ANTÔNIO CELSO AGUILAR CORTEZ
(Presidente sem voto), RENATO NALINI E EDUARDO BRAGA.
São Paulo, 04 de novembro de 2010.
n ( \
TORRES DE CARVALHO RELATOR
PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Voton°AC-1.956/10
Apelação n° 994.07.055684-6 ou 662.705.5/4-00
Câmara Reservada ao Meio Ambiente
Apte: Dantas Imóveis Sociedade Civil Ltda e outros
Apdo: Ministério Público
Origem: 3 a Vara Cível (Mauá) - Proc. n° 3 .785/99 ou 388 /99
Juiz: Adriana de Melo Menezes
AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL. Mauá. Loteamento Vila Nova Mauá. Obrigação de fazer e
não fazer. Regularização do loteamento. Obtenção de diretrizes, elaboração de projeto,
aprovações e licenças pela Prefeitura e órgãos públicos do Estado nos moldes dos art. 6o,
7o, 8o, 9o, 12 e 13, parágrafo único da LF 6.766/79. Elaboração de estudo de impacto ambi
ental ELA/RIMA. Registro de projeto aprovado no Serviço de Registro de Imóveis (art. 18 e 21
da LF 6.766/79). Outorga das escrituras definitivas de compra e venda dos lotes alienados
aos adquirentes ou sucessores. Regularização da situação registraria dos lotes. Execução
de obras de infra-estrutura exigida pela legislação municipal, estadual e federal. Apresen
tação de cronograma de obras com descrição, valores necessários para realização e prazos
estipulados para cada etapa. Alocação e urbanização de espaços para as áreas públicas
em compensação às ocupadas e invadidas. Reparação do dano ambiental e dos prejuízos
causados aos adquirentes dos lotes pela remodelação total ou parcial do empreendimento.
Abstenção de qualquer alienação de lotes, cobrança ou recebimento dos lotes Já vendidos.
Solidariedade. Separação de poderes e conveniência administrativa. Construção. Dano
ambiental. - 1. Despesas processuais. Adiantamento. O réu está obrigado a antecipar as
despesas processuais de seu interesse, a ele não se aplicando o art. 18 da LF n" 8.437/85.
Precedente: STJ, REsp n" 885.071/SP, Ia Turma, 27-2-2007, Rei Teori Albino Zavascki. - 2.
Legitimidade ativa. As condições se aferem nos termos postos na inicidL O Ministério Públi
co comparece na defesa de interesses individuais homogêneos dos compradores, efetivos e
potenciais dos lotes ditos irregulares, bem como na defesa do meio ambiente urbano. É par
te legitima para a demanda que visa, com esteio no Código do Consumidor e para proteção
dos adquirentes e de toda sociedade, enquadrar o desmembramento nas disposições da LF
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Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n° 994.07.055684-6 - 2
n° 6.766/79. - 3. Legitimidade passiva. A ação se volta contra os vendedores dos lotes des
membrados, desmembramento que o autor da ação entende irregular. Os réus, que promo
veram tal parcelamento, são parte legitima passiva. A ação se volta contra sua conduta e
em sua órbita de interesses repercutirá a demanda. - 4. Responsabi lidade. Prefeitura. A
jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de que às Prefeituras, se o loteador não o
faz, cabe regularizar os loteamentos e parcelamentos irregulares, como decorrência de seu
poder-dever de ordenar o solo urbano e não permitir a solidificação de tais situações. REsp
n" 447.433-SP, Ia Turma, 1-6-2006, Rei. Denise Arruda. -5. Responsabilidade. Cumprimen
to da sentença. O cumprimento incondicionado da sentença implica em conduta incompatí
vel com o recurso e aceitação explícita da condenação, nos termos do art. 503 § único do
CPC. Recurso prejudicado, nessa parte. - 6. Regularização do loteamento. O loteamento era
regular, pois aprovado pela administração e registrado no cartório predial; mas tornou-se
irregular pela divisão dos lotes que, embora aprovada pela Prefeitura, não seguiu o rito do
art. 18 da LF n" 6.766/79. Como o armamento e as quadras foram mantidas, cabe aos réus
apresentar o projeto de regularização previsto nesse dispositivo. O EIA/RIMA será apresen
tado, se exigido pela administração. - 7. Infra-estrutura. Demonstrado que a infra-
estrutura foi realizada em sua quase totalidade, o juiz verificará o cumprimento da obri
gação, com as observações postas no acórdão. - 8. Indisponibilidade. A indisponibilidade
deve ser proporcional ao dano que visa garantir; deve amoldar-se à situação atual do pro
cesso, com a consideração do cumprimento parcial da sentença e a liberação dos bens que
estiverem em excesso. Não alcança os bens alienados antes da propositura da ação, por ato
inter vivos ou mortis causa. O juiz providenciará a liberação dos bens indevidamente al
cançados. A liberação da indisponibilidade implica na liberação do arresto ou outra cons-
trição ligada ao cumprimento da sentença. - Sentença de procedência. Reexame e recurso
dos réus providos em parte.
1. A sentença de fls. 2919/2961, vol. 15 manteve a limi
nar deferida inicialmente e julgou procedente a ação para condenar os réus
MARILDA HELENA MIRANDA LOPES DORSA, DANTAS IMÓVEIS S/C LTDA,
GERALDO LUIZ FERREIRA e SAULO LOMBARDI GRANADO (i) na obrigação de
fazer, no prazo de 1 ano a contar do trânsito em julgado, consistente na regulari
zação do loteamento Vila Nova Mauá', sob pena de multa diária de R$-15.000,00
para cada etapa não cumprida; (ii) no aspecto administrativo, na obtenção de
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diretrizes, elaboração de projeto, aprovações e licenças pela Prefeitura e órgãos
públicos do Estado nos moldes dos art. 6, 7, 8, 9, 12 e 13, § único da Lei
6.766/79, além de elaborar estudo de impacto ambiental EIA/RIMA para tanto,
(iii) em seu aspecto civil, com o registro de projeto aprovado no Serviço de Regis
tro de Imóveis (art. 18 e 21 da Lei 6.766/79), bem como com a outorga das escri
turas definitivas de compra e venda dos lotes alienados aos adquirentes ou su
cessores e regularização da situação registraria dos lotes, sob pena de valer a
presente decisão como título hábil à transferência do domínio junto ao Cartório
de Imóveis, sem prejuízo da multa diária cominada; (iv) em seu aspecto urbanís
tico, mediante a execução das obras de infra-estrutura exigida pela legislação
municipal, estadual e federal, nos termos da decisão liminar e outras que se fize
rem necessárias, apresentando cronograma de obras com sua descrição, dos va
lores necessários para sua realização e prazos estipulados para cada etapa, alo-
cando e urbanizando espaços para as áreas públicas em compensação às ocu
padas e invadidas; (v) a repararem o dano ambiental verificado pela implantação
irregular do loteamento e os prejuízos ocasionados aos adquirentes pela remode
lação total ou parcial do empreendimento, tudo a ser apurado em liquidação por
artigos; (vi) na obrigação de não fazer consistente em se absterem de qualquer
alienação de lotes, cobrança ou recebimento dos lotes já vendidos, sob pena de
multa equivalente ao dobro do valor recebido ou do lote alienado, a partir da da
ta do ajuizamento da demanda até que sejam executadas por completo as obras
de infra-estrutura determinadas nesta decisão e obterem Termo de Verificação
de Obras pela municipalidade ou outro órgão público. Condenou EDILENA
HELD LOMBARDI, JOSÉ CARLOS GRECCO, SOLANGE TONELOTTI GRECCO e
o MUNICÍPIO DE MAUÁ a arcarem solidariamente com os custos decorrentes
das regularizações e indenizações determinadas, bem como aqueles provenientes
de multas pelo não cumprimento das obrigações impostas. O valor da multa diá
ria será corrigido a partir da data da sentença até o efetivo pagamento, destinado
ao Fundo Estadual de Interesses Difusos Lesados, nos termos do art. 13 da Lei
7347/85. Por força da sucumbência, arcarão os réus com o pagamento das des-
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pesas processuais, atualizadas do desembolso e proporcionalmente rateadas,
inclusive honorários periciais já arbitrados. Recorreu de oficio.
Apelam os réus Dantas Imóveis, Geraldo Luiz Ferreira,
José Carlos Grecco e Solange Maria Tonelotti Grecco (fls. 3045/3096, vol. 16): pre
liminarmente alegam (i) ilegitimidade passiva, pois não são loteadores, mas ad-
quirentes dos lotes; (ii) nulidade da sentença por cerceamento de defesa. No mé
rito, dizem que (i) José Carlos e Solange Maria não são loteadores nem proprietá
rios de lotes, não se podendo levar tão longe a garantia que prestaram no contra
to de locação de serviços firmado entre Marilda e Dantas Imóveis; (ii) o contrato
de fiança está viciado pela ausência da outorga uxória, j á que a co-ré Solange
não o assinou e agora está extinto ante a denunciação do contrato de locação de
serviços (contrato principal) pela credora Marilda Helena (fls. 1098/1101, vol. 6);
(iii) eventual responsabilidade dos co-réus se restringe aos serviços contratados
com base no DL n° 58/37 e não às obrigações pretendidas nesta ação; (iv) o lote
amento foi aprovado e registrado pelo município em 19-2-1970 sob a égide do DL
n° 58/37, constituindo ato jurídico perfeito nos termos do art. 6o da LICC, não
podendo ser alcançado pela LF n° 6.766/79; (v) a co-ré Dantas Imóveis adquiriu
os lotes de 125 m2 para revenda, sem intenção de loteá-los, não podendo ser vis
ta como sucessor do loteador original. As obras erguidas no loteamento foram
feitas para facilitar a revenda e não porque houvesse imposição legal. A munici
palidade embargou as obras com base na LF n° 6.766/79; tentou-se fazer um
acordo com o município, mas o Ministério Público o vetou e a municipalidade
não forneceu as diretrizes para a construção de galerias pluviais e rede de ilumi
nação. A Dantas Imóveis foi prejudicada como qualquer outro adquirente de lote,
ficando de 'mãos atadas' e sem receber as parcelas daqueles a quem os lotes fo
ram vendidos; (vi) não houve lançamento de segunda fase de vendas do lotea
mento em 1994 se adquiriu os lotes em 1996, com os atuais 125 m2; (vii) o lote
amento não foi abandonado, pois o município jamais deixou de lançar impostos
em relação a todos os lotes; (viii) a verba honorária não é devida, sendo vetado ao
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autor recebê-la. Pedem a reforma da decisão e a improcedência da ação.
Apelam os réus Saulo Lombardi Granado e Edilena
Held Lombardi (fis. 3097/3139, vol. 16); preliminarmente alegam a desnecessida
de de adiantamento do preparo, nos termos do art. 18 da LF n° 7.347/85. No
mérito alegam que (i) o desmembramento do loteamento Vila Nova Mauá foi reali
zado sob a égide da LM n° 2.662/95, dispondo no art. 3 o sobre a 'zona residenci
al de baixa densidade' que permite que os lotes tenham 125 m2. Não há ilegali
dade; (ii) o co-réu Saulo foi sócio da Dantas Imóveis de janeiro de 1993 até feve
reiro de 1997 sua única responsabilidade, se houver, se resume à condição de
garantidor no contrato realizado entre as co-rés Dantas Imóveis e Marilda. Após
o embargo das obras pela municipalidade, se desligou da empresa e não praticou
qualquer ato no loteamento; (iii) não há degradação ambiental a ser reparada. Se
os lotes foram legalmente adquiridos, o loteamento é regular. Se houve invasão
de área pública, ao Município de Mauá competia coibir as invasões mediante uso
do poder de polícia; (iv) a obrigação da execução é impossível, pois (a) não faz
mais parte do quadro societário da empresa Dantas Imóveis, tornando-se impos
sível o cumprimento das obrigações em solidariedade; (b) a sentença impediu o
recebimento das parcelas referentes à revenda dos lotes e não estabeleceu san
ção para aqueles que não as depositassem na conta judicial aberta para tanto.
Se a determinação tivesse sido cumprida, o valor correspondente às obras esta
ria à disposição do juízo independente de quem as fosse realizar. Pede a reforma
da decisão e a improcedência da ação.
Apela o Município de Mauá (fls. 3140/3161, vol. 16);
preliminarmente alega que é parte passiva ilegítima, pois a própria sentença re
conheceu que não houve omissão na fiscalização do loteamento. Tomou as pro
vidências que lhe competiam e cientificou o Ministério Público para propor a
presente ação, sendo o maior interessado na regularização do lotes. Desde que
tomou conhecimento da situação precária do loteamento, providenciou exames
periciais elaborados em 21-1-1997 e 31-1-1997, que resultaram nos embargos
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às obras. No mérito diz que (i) a sentença feriu o princípio da separação dos po-
deres e desrespeitou a LCF n° 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Não cabe
ao Judiciário e ao Legislativo rever os critérios de oportunidade e conveniência
que norteiam as políticas públicas do Poder Executivo. A condenação imposta ao
município configura interferência do Poder Judiciário quanto à aplicação dos
recursos públicos em determinada obra, que no caso deve ser executada pelos
co-réus, mas se acomodam ante a condenação solidária do Município; (ii) a LF n°
6.766/79 não tem a amplitude dada pela sentença, que transferiu ao município
os encargos do loteador. O Município pode, à sua discrição, regularizar os lotea-
mentos não autorizados ou executados ilegalmente; obrigá-lo a isso premia a
conduta do loteador irregular e lesa o erário público; (iii) ainda que tenha havido
omissão, é caso de responsabilidade subjetiva e não de responsabilidade objetiva
nos moldes do art. 37, § 6o da CF. O Ministério Público não individualizou a cul
pa do Município, pretendendo equivocada aplicação da responsabilidade objeti
va. Pede a reforma da decisão e a improcedência da ação.
Apela a ré Marilda Helena Miranda Lopes Dorsa (fls.
3163/3187, vol. 16); preliminarmente alega (i) ilegitimidade ativa do Ministério
Público; (ii) inépcia da apelação ante a incompatibilidade de pedidos de possível
demolição e, ao mesmo tempo, de proteção dos adquirentes; (iii) nulidade da
sentença por cerceamento de defesa, ante a não realização da perícia. No mérito,
diz que (i) a aplicação da LF n° 6.766/79 a loteamento registrado sob a égide do
DL n° 58/37 fere o ato jurídico perfeito; (ii) não é loteadora, mas apenas se tor
nou proprietária de lotes certos e determinados. Os loteadores originários trans
feriram a seu falecido marido Mario Dorsa e a Vitantônio D'Abril os direitos so
bre os lotes não comercializados. A responsabilidade que lhe cabe se restringe
aos lotes recebidos e individualizados, não se estendendo ao loteamento como
um todo, não havendo como enquadrá-la no art. 29 da LF n° 6.766/79. A loca
ção dos serviços da empresa Dantas Imóveis demonstra que lhe interessava não
só a valorização do seu patrimônio, mas também da população local, sem que
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isso pudesse atrair obrigações; (iii) os desmembramentos estão de acordo com o
DL n° 58/37 e foram aprovados pelo Poder Público como se extrai das matrícu
las anexadas aos autos (fls. 1.416/1421, vol. 8); os loteamentos ao redor da Vila
Nova Mauá possuem metragem inferior a 250 m2, especialmente em função do
poder aquisitivo da população local; o condomínio formado pelos casais Dorsa e
D'Abril (antecessor de Prefar e de Dantas) se concretizou antes da edição da LF
n° 6.766/79, dispensando-se o registro especial (art. 18) dos desmembramentos
(art. 2o), nos termos do item 150 das Normas da Corregedoria do Tribunal de
Justiça (Cap. XX, Seção V, itens 149 e 150); (iv) a apelante ajustou com a Dantas
Imóveis os serviços de terraplanagem, administração, orientação, venda e co
brança. A contratada não cumpriu integralmente as obrigações e o contrato foi
rescindido (fls. 1.397/1.404, vol. 7 e 8). Não há que falar em formação de grupo
econômico ou caracterizá-la como TDeneficiária de loteamento irregular', não se
aplicando o art. 47 da 6.766/79 que embasa a condenação solidária. A contrata
da assumiu, juntamente com seus garantidores, toda responsabilidade pelo lo
teamento, afastando a solidariedade da apelante; (v) as áreas públicas invadidas
são de domínio e responsabilidade do município nos termos do art. 3 o do DL n°
58/37 e art. 22 da LF n° 6.766/79. Ainda que fosse a loteadora, a apelante não
teria como tutelar a posse de áreas de domínio público, afastando-se a conversão
em área pública dos lotes que lhe pertencem, para compensar as invasões. Diz
ser impossível executar a condenação. Pede a reforma da decisão e a improce-
dência da ação.
Apelos tempestivos; preparado apenas o recurso de
Marilda Helena. Contra-razões a fls. 3196/3227, vol. 17. A Procuradoria Geral de
Justiça opinou pelo desprovimento dos recursos (fls. 3243/3252, vol. 17). Os
autos foram originariamente distribuídos à 9 a Câmara de Direito Privado, 28-11-
2006, Rei. Grava Brazil, não conheceram do recurso e determinaram a remessa à
Seção de Direito Público, v.u. (fls. 3390/3399, vol. 17). A 5 a Câmara de Direito
Público, 27-9-2007, Rei. Ricardo Anafe, não conheceu do recurso e determinou a
remessa a esta Câmara Especial de Meio Ambiente, v.u. (fls. 3446/3466, vol.
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17).
Em 13-7-2007 Lúcia Helena Dorsa e Vera Cristina Lo
pes Dorsa (fls. 3406/3435, vol. 17) adentraram os autos alegando que são filhas
de Marilda Helena Miranda Lopes Dorsa e sucessoras de Mário Eugênio Dorsa; a
8 a Câmara de Direito Privado, 4-8-2005, Rei. Luiz Ambra, concederam a ordem,
v.u. para levantar a indisponibilidade dos bens transmitidos por sucessão de
Mário Eugênio Dorsa mais de quinze anos antes da propositura da ação civil pú
blica (fls. 3411/3420, vol. 17). As peticionarias pedem o afastamento do arresto
determinado nesta ação civil pública em relação aos bens adquiridos por suces
são hereditária para que possam registrar o formal de partilha, bem como aliená-
los ou gravá-los como lhes seja conveniente. O Ministério Público se manifestou
a fls. 3438/3439, vol. 17 pelo indeferimento do pedido. Petição reiterada a fls.
3478/3479, vol. 17.
Os autos voltaram à comarca a pedido dos réus, que
informaram terem cumprido a sentença. Foi feita a vistoria de fls. 3788/4108,
vol. 20 e 21, sobre a qual as partes se manifestaram a fls. 4117 (Marilda Helena),
4119/4662 (José Carlos Grecco e outros, vol. 21 a 24), 4674/4684 (Ministério
Público) e 4688/4694, vol. 24 (Município). O perito prestou esclarecimentos (fls.
4699/4705, vol. 24). A ré Marilda Helena pediu a redução da indisponibilidade,
ante o resultado da vistoria (fls. 4825/4827. Lúcia Helena Dorsa Crestana e ou
tra pediram a exclusão da indisponibilidade de bens adquiridos por sucessão
antes da propositura da ação (fls. 4830/4839, vol. 24). Dantas Imóveis, Geraldo,
José Carlos e Solange pediram a redução da indisponibilidade (fls. 48/46 e se
guintes, vol. 25).
Em apenso o AI n° 116.273.4/0-00, interposto por
José Carlos Grecco e sua esposa contra a decisão que deferiu a liminar, 9a Câ
mara de Direito Privado, 18-11-1999, Rei. Silva Rico, negaram provimento, v.u.;
o AI n° 130.194.4/2-00 interposto por Marilda Helena Miranda Lopes Dorsa con-
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tra a decisão que deferiu a liminar, 9a Câmara de Direito Privado, 15-8-2000,
Rei. Silva Rico, negaram provimento, v.u.; o AI n° 137.004.4/0-00, interposto por
Marilda Helena Miranda Lopes Dorsa contra a decisão que indeferiu a autoriza
ção para venda de lotes e recebimento de prestações decorrentes da venda dos
lotes, 9 a Câmara de Direito Privado, 30-5-2000, Rei. Silva Rico, negaram provi
mento, v.u.; o AI n° 172.044.4/6-00 interposto por Saulo Lombardi Granado e
sua esposa contra a decisão que indeferiu o pedido de autorização para devolver
as linhas telefônicas às operadoras ou as depositarem em juízo, 9 a Câmara de
Direito Privado, 1-2-2001, Rei. Silva Rico, deram provimento, v.u.; o AI n°
183.599.4/3-00 interposto por Dantas Imóveis S/C Ltda, Geraldo Luiz Ferreira,
José Carlos Grecco e sua esposa contra a decisão que indeferiu a redução do
arresto, 9 a Câmara de Direito Privado, 20-3-2001, Rei. Silva Rico, negaram pro
vimento, v.u.
É o relatório.
2. Contexto processual. Trata-se de ação civil pública
ambiental proposta pelo Ministério Público para a regularização e reparação de
danos decorrentes da instalação do loteamento Vila Nova Mauá, localizado no
Jardim Nova Mauá, antiga Fazenda do Oratório ou da Juta , inscrito em 19-2-
1970 sob n° 10 do livro 8 de Registro Especial do Registro de Imóveis de Mauá
pelos proprietários JOSÉ CARLOS PAES DE BARROS e sua esposa LYDIA LARA
PAES DE BARROS, nos termos do DL n° 58/37 (fls. 35). Depois da aprovação do
loteamento pela Prefeitura de Mauá, sobreveio a LM n° 1.134/70 de 30-4-1970
que dentre outras disposições fixou o tamanho mínimo dos lotes em 250 m2.
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O loteamento foi vendido para VITANTÔNIO D'ABRIL e
sua esposa MANUELA DOMITILA FERNANDEZ D'ABRIL e MÁRIO EUGÊNIO
DORSA e sua esposa MARILDA HELENA MIRANDA LOPES DORSA por escritura
pública datada de 22-3-1978, re-ratificada em 22-5-1978 (fls. 191). Em 15-11-
1981 faleceu MARIO EUGÊNIO DORSA e sua quota no loteamento foi transferida
para sua esposa MARILDA HELENA MIRANDA LOPES DORSA nos autos do in
ventário n° 2.966/81 que tramitou pela 2 a Vara de Família e Sucessões da Capi
tal (fls. 70 e verso). Em 15-8-1988 Vitantônio e esposa alienaram sua parte do
loteamento para PREFAR LTDA (fls. 54/72). Em 21-8-1995 MARILDA HELENA e
PREFAR LTDA dividiram os lotes em condomínio por escritura do Io Tabelionato
de Mauá, livro 245, fls. 94 (fls. 74/139). Em 14-3-1996 PREFAR LTDA vendeu
sua parte no loteamento para DANTAS IMÓVEIS S/C LTDA, representada pelo
sócio Geraldo Luiz Ferreira (fls. 146/189). Grande parte dos lotes ainda perma
nece em nome de MARILDA HELENA e PREFAR LTDA (fls. 196/200).
2. Preparo. Ação civil pública. Salvo Marilda Helena, os
demais réus não recolheram o preparo. Os réus Saulo Lombardi Granado e Edi-
lena Held Lombardi trazem citação doutrinária favorável ao recolhimento do pre
paro ao final, nos termos do art. 18 da LF n° 7.437/85. Essa posição não é a me
lhor; como se vê em THEOTONIO NEGRÃO, 'CPC Anotado', 37 a Ed. Malheiros,
São Paulo, 2005, pág. 1048/1049, em nota 1 ao art. 18 da LF n° 7.437/85: "A
isenção do art. 18 da Lei 7.347/85 aplica-se unicamente aparte autora, não sendo
aplicável aparte ré da ação civil pública (STJ - Ia Turma, REsp 551.418-PR, rei.
Min. Francisco Falcão, j . 25.11.03, negaram provimento, v.u., DJU 22.3.04, p. 239).
Segundo essa decisão, 'é imprescindível o recolhimento do preparo de apelação da
parte ré da ação civil pública, sob pena de deserção do recurso interposto".
0^ ARTES GRÁFICAS-TJ
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Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Apelação n° 994.07.055684-6 - 11
Essa é a posição do STJ, como se vê em Marcos Perez
vs Ministério Público do Estado de São Paulo, REsp n° 885.071/SP, I a Turma, 27-
2-2007, Rei. Teori Albino Zavascki, v.u., DJ 22-3-2007, p. 313.
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. APELAÇÃO DO RÉU. AUSÊNCIA DE
PREPARO. ART. 18, DA LEI N° 7.347/85. DESNECESSIDADE DE ANTECIPAÇÃO
DE CUSTAS E DESPESAS PROCESSUAIS. PRIVILÉGIO DA PARTE AUTORA.
PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA QUANDO DA INTERPOSIÇÃO
DA APELAÇÃO. INDEFERIMENTO SEM ABERTURA DE OPORTUNIDADE PARA O
PREPARO. NÃO CONFIGURAÇÃO DE DESERÇÃO. 1. A previsão legal contida na
primeira parte do artigo 18 da Lei 7.347/85 ("Nas ações de que trata esta lei, não
haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e qualquer ou
tras despesas") aplica-se exclusivamente à parte autora da ação civil pública. Pre
cedentes. 2. "Afirmada a necessidade de justiça gratuita, seja em que momento
for, não pode o órgão julgador declarar deserto o recurso sem se pronunciar sobre
o pedido de assistência judiciária. Caso indeferida a gratuidade, deve-se abrir ao
requerente oportunidade para o preparo" (AgRg no Ag 622403/RJ, 6 a T., Min. Nil
son Naves, DJ de 06.02.2006). No mesmo sentido: REsp 731880/MG, 4 a T, Min.
Jorge Scartezzini, DJ de 14.11.2005; RMS 19747/RJ, 3 a T., Ministro Castro Filho,
DJ de 05.09.2005 e REsp 556081/SP, 4 a T., Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ de
28.03.2005. 3. Recurso especial parcialmente provido.
Mas a questão é de pouco interesse no caso concreto;
os apelos chegaram ao Tribunal e mais se ganha julgando os recursos. Prossigo
na apreciação, ficando as custas e despesas processuais devidas ao Estado para
pagamento ao final; mas deverão ser recolhidas de imediato caso haja novos re
cursos, sob pena de deserção.
3. Legitimidade ativa. Ministério Publico. O Ministério
Público é parte legítima; a ação se funda no Código do Consumidor, ou seja, na
defesa de interesses individuais homogêneos, bem como na defesa dos padrões
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urbanísticos e ambientais, isto é, interesse difuso e coletivo, conforme disposto
no art. 129, II e III da Constituição Federal e nos art. 81 e § único e seu inciso
III, 91 e 92 da LF n° 8.078/90. A atuação não implica em sobreposição à atuação
do Poder Público, mas apenas na exigência de que a administração cumpra a lei
e a ela se submeta; não há ofensa à separação de poderes.
Legitimidade passiva. Dantas Imóveis, Geraldo Luiz
Ferreira, José Carlos Grecco e Solange Maria Tonelotti Grecco. Os réus são parte
passiva legítima; a ação se volta especificamente contra conduta suas, de anun
ciar e por à venda lotes que a inicial afirma serem irregulares, e pede providên
cias que a eles réus cabe tomar (a regularização do parcelamento). Sua partici
pação vem bem analisada e explicada na sentença, cujas razões são adotadas.
Se o autor tem ou não razão, se a situação concreta se enquadra ou não na Lei
6.766/79, é questão de mérito que será apreciada ao final.
Legitimidade passiva. Município de Mauá. O Município
é parte passiva legítima nas ações civis públicas que discutem irregularidades de
loteamento, na medida de sua competência para fiscalizar o parcelamento do
solo urbano e autorizar as obras de infra-estrutura nestes loteamentos. Se a
municipalidade é ou não responsável pelas irregularidades é questão de mérito e
será apreciado ao final.
4. Inépcia da inicial. Pedidos incompatíveis. A inicial pre
tende que o loteamento seja regularizado, na parte física e na parte legal, em
benefício dos adquirentes. O fato de a regularização implicar, excepcionalmente,
na perda do lote por algum adquirente não tornam os pedidos incompatíveis en
tre si nem ofende a defesa dos interesses difusos por parte do Ministério Público.
ARTES GRÁFICAS - T J 4i.mas
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Cerceamento de defesa. Prova oral. Prova pericial. As
questões de fato foram suficientemente esclarecidas, não havendo razão para a
produção da prova oral e testemunhai; não cerceia a defesa o indeferimento de
provas inúteis, desnecessárias ou protelatórias, a teor do art. 130 do CPC.
Conexão. Entendo aconselhável que o mesmo juiz to
me conhecimento de todos os feitos decorrentes de uma mesma relação jurídica
ou de um mesmo fato, vendo a conexão de modo mais amplo que é usual em
primeiro grau; nessa linha, os processos poderiam ter sido reunidos. A reunião
já não é possível; a decisão de ambos rompe a necessidade de reunião dos pro
cessos em primeiro grau (a declaratória foi julgada improcedente em 31-10-2007
e aguarda a interposição de recursos, ou o trânsito em julgado). A conexão e de
corrente prevenção poderão ser reconhecidas em segundo grau, no entanto, em
relação aos recursos ainda não julgados.
5. Responsabilidade. Município. A responsabilidade do
Município é questão mais delicada. Segundo a sentença, "omitiu-se durante anos,
de 1983 até início de 1997, na fiscalização do empreendimento, no exercício de seu
poder-dever de polícia, não compelindo os responsáveis à realização das obras de
infra-estrutura, deixando de executá-las, colocando-se alheio ao abandono genera
lizado do loteamento, sequer impedindo a comercialização e invasão de parcelas do
imóvel destinadas às áreas públicas" (fls. 2952, vol. 15). No caso Fazenda Esta
dual vs Ministério Público, AC n° 85.594.5/0-00, 8 a Câmara de Direito Público,
11-8-1999, voto 611, diferenciei a conduta administrativa de ação e de reação;
aquela trazendo uma inovação ao então inexistente, um acréscimo à atividade
administrativa e um presumido acréscimo ao bem público; esta reagindo à con
duta anterior de seus agentes ou de terceiros de modo que a discrição para a
ação é ampla; a discrição para a reação é quase nenhuma. O pedido deste pro
cesso, mais que correção de ilegalidade visa acrescentar melhorias e benefícios à
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população residente na parte jurídica (regularização junto ao Registro de Imó
veis) e na parte de saneamento (instalação de rede de esgotos, arruamento, cal
çamento, preservação das áreas protegidas e nascentes, coleta regular de lixo); e
cheguei a mencionar no precedente que a regularização do art. 40 da LF n°
6.766/89 é facultativa, configura uma ação e não poderia ser determinada pelo
Judiciário. A interferência do juiz nas políticas públicas seria possível quando
tais políticas tivessem assento constitucional, mas não nas demais (EDiv em
REsp n° 485.969-SP, em que foi embargante o Ministério Público Federal e em
bargado o Município de São Bernardo do Campo, STJ, I a Seção, 23-8-2006, Rei.
José Delgado, unânime, receberam os embargos; AgReg no RE n° 410715-SP, 2 a
Turma, Rei. Min. CELSO DE MELLO, DJ de 03/02/2006).
6. A sentença condena a Prefeitura na implantação de
melhorias no parcelamento clandestino, mais se assemelhando à implantação de
políticas públicas que à correção de ilegalidades; é uma ação, não uma reação.
Na hipótese específica, no entanto, a jurisprudência posterior ao caso que trans
crevi inclinou-se em outro sentido:
ADMINISTRATIVO. LOTEAMENTO INACABADO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA
DO MUNICÍPIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPUTAÇÃO POR AÇÃO DE REGRESSO À
EMPRESA LOTEADORA. 1. É dever do município fiscalizar os loteamentos, desde
a aprovação até a execução de obras. 2. A CF/88 e a lei de parcelamento do solo
(Lei 6.766/79) estabelecem a solidariedade na responsabilidade pela inexecução
das obras de infra-estrutura (art. 40). 3. Legitimidade do município para respon
der pela sua omissão e inação da loteadora. 4. Recurso especial provido. (Ministé
rio Público vs Município de Cajamar, REsp n° 252.512/SP, 2a Turma, 25-9-2001,
Rei. Eliana Calmon, DJ 29.10.2001, v.u., p. 194).
Se o Município omite-se no dever de controlar loteamentos e parcelamentos de ter
ras, o Poder Judiciário pode compeli-lo ao cumprimento de tal dever. (Município de
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São Paulo vs Ministério Público, REsp n° 292.846-SP, I a Turma, 7-3-2002, Rei.
Humberto Gomes de Barros, DJ 15-4-2002, v.u., p. 172):
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REGULARIZAÇÃO DO SOLO
URBANO. ART. 40 DA LEI N. 6.766/79. MUNICÍPIO. COMPETÊNCIA VINCULADA.
No que concerne à alegação de que a Lei n. 6.766/79 não se aplica aos conjuntos
habitacionais de interesse social, o recurso não merece prosperar. Com efeito, co
mo bem salientou o Ministério Público Federal, "a Lei 6.766/79 é aplicável a toda
e qualquer forma de parcelamento do solo para fins urbanos (art. Io da Lei), inde
pendentemente de haver vinculação ou não com os programas habitacionais de in
teresse social" (fl. 517). Por outro lado, nos termos da Constituição Federal, em
seu artigo 30, inciso VIII, compete aos Municípios "promover, no que couber, ade
quado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do par
celamento e da ocupação do solo urbano." Cumpre, pois, ao Município regularizar
o parcelamento, as edificações, o uso e a ocupação do solo, sendo pacífico nesta
Corte o entendimento segundo o qual esta competência é vinculada. Destarte, "se
o Município omite-se no dever de controlar loteamentos e parcelamentos de terras,
o Poder Judiciário pode compeli-lo ao cumprimento de tal dever" (REsp
292.846/SP, Rei. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 15.04.2002). No mesmo
diapasão, sustentou o Ministério Público Federal que "o Município não pode se
furtar do poder-dever de agir vinculado e constitucionalmente previsto com vistas
à regularização do solo urbano, sob pena de responsabilização, como sucedeu no
caso por intermédio da via judicial adequada que é a ação civil pública" (fl. 518).
Recurso especial improvido. {Município de São Paulo vs Ministério Público, REsp
259.982-SP, 2a Turma, 8-6-2004, Rei. Franciulli Netto, DJ 27-9-2004, v.u., p.
287).
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. LOTEAMENTO IRREGULAR. MUNICÍPIO. PODER-DEVER.
LEGITIMIDADE PASSIVA. ARTS. 30, VIII, DA CF, E 40 DA LEI 6.766/79.
PRECEDENTES DO STJ. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E,
NESSA PARTE, PROVIDO. 1. A ausência de prequestionamento do dispositivo le
gal tido como violado torna inadmissível o recurso especial. Incidência das Súmu
las 282/STF e 211/STJ. 2 . Inexiste violação do art. 535, II, do Código de Processo
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Civil, quando o aresto recorrido adota fundamentação suficiente para dirimir a
controvérsia, sendo desnecessária a manifestação expressa sobre todos os argu
mentos apresentados pelos litigantes. 3. É pacífico o entendimento desta Corte
Superior de que o Município tem o poder-dever de agir para fiscalizar e regularizar
loteamento irregular, pois é o responsável pelo parcelamento, uso e ocupação do
solo urbano, atividade essa que é vinculada, e não discricionária. 4. Legitimidade
passiva do ente municipal para figurar em ação civil pública que objetiva a regula
rização de loteamento irregular. 5. Recurso especial parcialmente conhecido e,
nessa parte, provido. (Ministério Público vs Município de Piracicaba, REsp n°
447.433-SP, Ia Turma, 1-6-2006, Rei. Denise Arruda, DJ 22-6-2006, v.u., p. 178):
Não há como fugir à responsabilização do Município, ante a jurisprudência con
solidada; mas tal responsabilidade é subsidiária e não solidária. A responsabili
dade principal é dos proprietários da gleba, no caso concreto MARILDA HELENA
MIRANDA LOPES DORSA e DANTAS IMÓVEIS S/C LTDA, e dos demais réus que
de modo direto ou indireto participaram da irregularidade, conforme reconhecido
na sentença.
7. Em 23-3-2006 o Município de Mauá, Marilda Helena
Miranda Lopes Dorsa, Dantas Imóveis, Geraldo Luiz Ferreira, José Carlos Grecco
e Solange Grecco firmaram o termo de fls. 3361/3365, vol. 17 visando ao cum
primento da sentença, indicando as obras a serem realizadas pelo Município e
pelos réus; em 24-5-2006 os réus Dantas Imóveis, Geraldo Luiz Ferreira, Saulo
Lombardi Granado, Edilena Held Lombardi, José Carlos Grecco, Solange Tone-
lotti Grecco e Marilda Helena Miranda Lopes Dorsa firmaram o termo de acordo
de fls. 3366/3371, vol. 17, dividindo entre si a responsabilidade pela execução e
pelo pagamento das obras que lhe couberam no acordo feito com o Município.
Os réus informaram que a sentença havia sido cum
prida, apresentando como prova certidão expedida pela Prefeitura de conclusão
das obras (fls. 3469/3472, vol. 18); os autos baixaram à comarca para a verifica-
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ção do alegado. O perito documentou a situação atual do loteamento e esclare
ceu que as obras de infra-estrutura foram realizadas, restando apenas 6,49%
delas por fazer (fis. 3788/4108, 4048 vol. 20 e 21); em decorrência, os réus pedi
ram a redução da indisponibilidade dos bens. Os réus admitem ter cumprido a
sentença, sendo que parte deles (Dantas Imóveis e outros, fis. 4846 e seguintes)
esclarece que "os réus cumpriram e executaram mais de 93% das obras, nos
termos em que dispôs a sentença, de modo que, nesse sentido, pode-se dizer que
a própria apelação dos ora peticionários restou vazia".
Ante a bem fundamentada sentença e a conduta pos
terior dos réus que, cumprindo-a, manifestam vontade incompatível com o re
curso (art. 503 § único do CPC), dou os recursos por prejudicados na parte em
que contestam sua responsabilidade pelos fatos narrados na inicial e pelo cum
primento da sentença. Há que analisar, no entanto, a condenação imposta aos
réus e determinadas questões laterais que têm relevo no conjunto dos autos,
para que a execução se faça sem sobressalto.
8. Regularização do loteamento. A questão apresenta
complexidade não dirimida na sentença e na manifestação das partes. A doutri
na e a jurisprudência, incluindo as decisões administrativas da Corregedoria
Geral da Justiça, vêm considerando que os parcelamentos são clandestinos
(clandestinidade jurídica, pois o loteamento é aparente e público) quando não
aprovados nem registrados; e são irregulares quando, aprovados e registrados,
são implantados em desacordo com o projeto aprovado. O loteamento Vila Nova
Mauá foi aprovado pelo município e registrado no Cartório de Imóveis sob o re
gime do DL n° 58/37 com lotes de dez metros de frente (em regra geral); é um
loteamento regular na origem, portanto. Ocorre que em 1996 a Dantas Imóveis
obteve da Prefeitura a divisão dos lotes não vendidos em dois, mas mantendo o
armamento, as quadras e as divisas originais; promoveu o adensamento, mas
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não a alteração do sistema viário, nem deu nova conformação aos lotes (fls.
1422/1443, vol. 8, 4075/4108, vol. 21). A Prefeitura fez o lançamento tributário
dos meio-lotes e parte deles, os autos não esclarecem quantos, deram origem a
novas matrículas e ao registro das escrituras respectivas; não pertencem mais
aos réus (fls. 4714/4716, vol. 24, por exemplo).
O desmembramento dos lotes é irregular, pois não
submetido aos órgãos administrativos e ambientais, nem aprovado pela Prefeitu
ra, nem registrado no Cartório de Imóveis como o exige o art. 18 da LF n°
6.766/79; e precisa ser regularizado, para atendimento ao regulamento adminis
trativo e às normas do registro imobiliário. Não está claro a que regularização se
referem o autor e a sentença; pois a admitir a aplicação integral da LM n°
1.134/70 de 30-4-1970 (fls. 3019/3042, 3107/3131, vol. 16, que dispõe sobre
loteamentos e indica como metragem mínima 10 metros de frente e 250 m2, o
cumprimento da sentença fica impossibilitado pela venda e registro dessas par
tes menores e pela consolidação do loteamento há tantos anos. O retorno à situ
ação original é hoje impossível; atinge a propriedade de terceiros, várias delas
construídas e registradas no Cartório Imobiliário (e aí regulares), e implicaria no
desfazimento dos contratos e na demolição dos imóveis existentes.
A regularização mencionada na sentença há de ser
compreendida do seguinte modo: os réus (recordo que a responsabilidade do
município é subsidiária e que a disposição não se aplica, em primeira mão, ao
ente público) providenciarão a aprovação pela administração (GRAPROHAB, Ce-
tesb, Prefeitura, etc) e o registro do desmembramento, nos termos do art. 18 ci
tado, para que reflita a situação atual do loteamento. O projeto aprovado indica
rá de que modo e em que extensão o desmembramento será permitido, observa
da a situação da parte antiga, vendida e construída, e da parte nova, ainda cheia
de terrenos vagos. O EIA/RIMA será apresentado, se exigido pela agência ambi
ental. Segundo os autos, os réus não se recusam a outorgar as escrituras dos
lotes vendidos, se regularizado o loteamento. O projeto de regularização deverá
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ser apresentado em 120 dias e as exigências deverão ser cumpridas no prazo
fixado ou em prazo razoável, a critério do juiz, até o registro, sob pena de multa
diária de R$-1.000,00 (um mil reais), corrigida desta data. Não há como dispor,
neste momento, sobre a substituição das escrituras pela sentença; pois esta não
apresenta 'per se' condição de registro e é preciso ver a situação contratual de
cada interessado. A disposição abrange os itens V a 'iii' da condenação.
9. As obras de infra-estrutura foram feitas em sua quase
totalidade. Há algumas observações a fazer: (a) para o cumprimento da sentença
é irrelevante saber qual dos réus executou o que, pois a condenação é solidária.
Cabe aos réus, se entendem ser credores do outro, discutir a questão e cobrar o
que entendem devido em ação própria; (b) o cumprimento da sentença poderá
observar o termo de acordo de fls. 3361/3365, 3366/3371, vol. 16, com obser
vância de situações peculiares como indicado a fls. 4205, vol. 22 (a concessioná
ria só constrói a rede coletora de esgotos quando as moradias estiverem constru
ídas), em que a ausência. A condenação determina que os réus executem a infra-
estrutura do loteamento (guias, sarjetas, drenagem, etc); mas a Prefeitura assu
me a conservação e manutenção dela a partir do recebimento das obras, como é
usual. O juiz observará o que falta fazer (cumprimento da sentença) e o que é
falta de manutenção da obra feita, a cargo da Prefeitura e fora dos limites da lide
e da condenação; (c) não está claro se há área ou espaço público invadido; se
houver, a juíza disporá a respeito em execução, com a opção de desocupação do
espaço em questão ou sua substituição por outro, conforme for definido no pro
jeto de regularização mencionado no item oito. A disposição abrange o item 'iv'
da sentença.
O dano ambiental, que não se confunde com o dano
urbanístico, será apurado em execução quanto à existência e valor, depois de
regularizado o parcelamento. Do mesmo modo, o autor indicará em execução os
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danos aos adquirentes e seu valor. Cuida-se aqui do item V da sentença.
Depois de levantada a indisponibilidade os réus pode
rão vender os lotes originais, na metragem maior e se regularizado o lançamento
do IPTU, pois estes são regulares; mas a venda de lotes menores continua veda
da, conforme a sentença, até a regularização do loteamento. Atento ao cumpri
mento da sentença e às peculiaridades do cargo, sobre a liberação do recebimen
to das prestações dos lotes vendidos. É o item Vi' da sentença.
10. Indisponibilidade. A indisponibilidade alcança o valor
necessário ao cumprimento da sentença; a parte mais custosa (a infra-estrutura)
foi feita e resta pequena parte, que possivelmente será terminada antes do início
da execução. Não se tem idéia do custo da regularização do loteamento, ainda
por fazer. O juiz avaliará o valor pendente e reduzirá a indisponibilidade à cober
tura desse valor, podendo aceitar - como sugerem os réus, e admitido que não
tenham de fato sido vendidos - os lotes vagos do próprio loteamento. É questão
que o juiz apreciará com mais elementos que o tribunal.
A indisponibilidade não alcança os bens transmitidos
pelos réus antes da propositura da ação; não alcança os terrenos vendidos em
outros loteamentos dos réus, como é o caso dos diversos pedidos de liberação
dos lotes do Jardim Domitila e de loteamento em Jundiaí. O juiz providenciará o
necessário, para minorar os problemas que a constrição causa a esses terceiros.
A indisponibilidade não alcança os bens transmitidos
por Mário Eugênio Dorsa, falecido em 15-11-1981, dezoito anos antes da propo
situra da ação, às filhas LÚCIA HELENA DORSA CRESTANA e VERA CRISTINA
LOPES DORSA. Conforme reconhecido no MS n° 366.820.4/7-00, 8 a Câmara de
Direito Privado, 4-8-2005, Rei. Luiz Ambra (fls. 3411/3420, vol. 18), é patrimô
nio transferido por sucesso no ato da morte de Mário Eugênio e cuja liberação foi
ARTES GRÁFICAS - T J
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determinada pelo Tribunal. O pedido de fls. 3406/3434, reiterado a fls.
3478/3479, vol. 18 e fls. 4830/4839, vol. 24 fica deferido, afastadas as objeções
do Ministério Público; devendo o juiz providenciar o que for necessário à libera
ção dos imóveis indicados pelas requerentes.
O levantamento da indisponibilidade implica no levan
tamento do arresto ou outra constrição que tenha recaído sobre os imóveis libe
rados, pois igual a finalidade e a razão da constrição.
O voto é pelo provimento em parte do reexame e do
recurso dos réus para que a sentença seja cumprida na forma determinada nos
itens 8 a 10 do acórdão e com a observação de que a responsabilidade do Muni
cípio é subsidiária e não solidária.
TORRES DE CARVALHO
Relator
41.0035