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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL 12a. Câmara APELAÇÃO C/ REVISÃO No. 662810-00 /4 Comarca de SANTOS APT/APDS STOLT PARCEL TANKERS INC CORY IRMÃOS COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA ACÓRDÃO Vistos, os juizes Tribunal de o relatório fazendo parte a turma/ por unanimidade, negativo de competência. relatados e discutidos estes autos, desta turma julgadora do Segundo Alçada Civil, de conformidade com e o voto do relator, que ficam integrante deste julgado, nesta data, deliberou suscitar conflito Turma Julgadora da 12a. Câmara JUIZ RELATOR JUIZ REVISOR 3 o Juiz Juiz Presidente Data do julgamento ROMEU RICUPERO ARANTES THEODORO RIBEIRO DA SILVA PALMA BISSON 22/02/01 ROMEU RICUPERO Juiz Relator

acórdão representação

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO

SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL

12a. Câmara

APELAÇÃO C/ REVISÃO No. 662810-00 /4

Comarca de SANTOS

APT/APDS STOLT PARCEL TANKERS INC

CORY IRMÃOS COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA

A C Ó R D Ã O

Vistos, os juizes Tribunal de o relatório fazendo parte a turma/ por unanimidade, negativo de competência.

relatados e discutidos estes autos, desta turma julgadora do Segundo Alçada Civil, de conformidade com e o voto do relator, que ficam integrante deste julgado, nesta data,

deliberou suscitar conflito

Turma Julgadora da 12a. Câmara JUIZ RELATOR JUIZ REVISOR 3o Juiz Juiz Presidente

Data do julgamento

ROMEU RICUPERO ARANTES THEODORO RIBEIRO DA SILVA PALMA BISSON

22/02/01

ROMEU RICUPERO Juiz Relator

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PODER JUDICIÁRIO

SÃO PAULO

SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL

APELAÇÃO COM REVISÃO N.° 662.810-0/4 - VOTO N.° 60

COMARCA DE SANTOS

APTE(S) / APDO(S): STOLT PARCEL TANKERS INC; CORY IRMÃOS

COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA.

VOTO N.° 60

EMENTA: Ação de prestação de contas decorrente de

representação comercial - Negócios pertinentes à prestação de

serviços de agência marítima representações, agenciamento

de navios, agenciamento de cargas etc. - no porto de Santos,

Estado de São Paulo, durante longo tempo - Ação de prestação

de contas que não decorre de mandato Competência do E.

Primeiro Tribunal de Alçada Civil (artigo Io, inciso III, da

Resolução n.° 108/98), que, não obstante, não conheceu de

apelação - Proposta de suscitação de conflito negativo de

competência pelo Tribunal Pleno.

Stolt Parcel Tankers, Inc., empresa com sede em

Monrovia, República da Libéria, por intermédio de sua coligada Stolt Nielsen

Ltda., ajuizou, em face de Cory Irmãos Comércio e Representações Ltda.,

ação de prestação de contas com pedido de tutela antecipada, alegando, em

síntese, que foi "representada pela ré, em negócios pertinentes à prestação de

serviços de agência marítima - representações, agenciamento de navios,

agenciamento de cargas, etc. - no porto de Santos, Estado de São Paulo,

durante longo tempo - cláusula IV do contrato social da ré conforme farta

documentação ora trazida aos autos - cópias de peças em processos de

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mandado de segurança para liberação de navios mediante depósitos de

quantias para não pagamento da ATP - tudo de conformidade com a relação

também anexa, que monta em quantia equivalente a US$ 310.337,49 -

trezentos e dez mil, trezentos e trinta e sete dólares norte americanos e

quarenta e nove centavos" (cf. textualmente a fls. 03).

Afirmou que, por força de tais atribuições, era

comum a ré lidar com numerário enviado pela autora, na execução dos

serviços mencionados acima, enfatizando, aliás, que "é costume os negócios

relativos a agenciamento de navios são feitos na confiança, mediante troca de

correspondência, telex e fax, entre cliente (autora) e agência (ré), entregando

quantias necessárias ao desembaraçado dos navios" (sic - fls. 04).

Assinalou que ficou demonstrado o desvio de

verbas, isso após auditoria interna ter constatado a ausência de devolução ou

prestação de contas de numerário em poder da ré e pertencente à autora, e

reclamou que inúmeras tentativas amigáveis não tinham servido para a

solução da pendência.

A petição inicial de fls. 02/08 veio acompanhada da

procuração de fls. 09 e de inúmeros documentos (cf. fls. 10/442) e o r.

despacho de fls. 443 indeferiu o pedido de antecipação da tutela,

determinando a citação, que se efetivou (fls. 452), vindo para os autos a

contestação de fls. 456/472, na qual a ré insistiu que tanto esta ação de

prestação de contas, quanto outra ação anterior, monitoria, tinham como

causa de pedir "o CONTRATO DE AGENCIAMENTO que a autora alega

(em ambos os pleitos) ter celebrado com a requerida" (maiúsculas e negrito

no original - cf. fls. 457), enfatizando, em outras passagens, que a alegação

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era de créditos em face de serviços de agenciamento marítimo prestados pela

requerida (cf. fls. 458, 463, 464), serviços esses que, pelo seu contrato social,

são normalmente prestados, posto que, na cláusula IV, está previsto que a

sociedade tem por objetivo "a prestação de serviços de estiva,

representações, agenciamento de navios, agenciamento de cargas,

afretamento de navios, agentes comissários, comissários de avarias e

operador portuário,, (cf. letra "b" - fls. 57 e 474).

Frustrada a conciliação (fls. 524), autora juntou

documento, "comprovando a obrigatoriedade de prestação de contas,

relativamente a serviços de representação" (cf. fls. 527 e 528/529).

A r. sentença de fls. 530/532 extinguiu o processo,

sem julgamento de mérito, com fundamento no artigo 267, inciso VI, do

Código de Processo Civil, reconhecendo a ausência de pressuposto

indispensável ao desenvolvimento válido e regular do processo (ausência de

capacidade da autora para estar em juízo - artigo 12, VI e VIII, do CPC;

ausência de capacidade postulatória - artigo 36 e seguintes do CPC).

Apelaram as partes (cf. recurso da autora - fls.

537/542 e recurso da ré - fls. 548/556), com preparo (fls. 543/544 e fls.

558/559), recebimento (fls. 560 e 563) e respostas (fls. 564/568 e 572/579).

Os autos foram enviados ao Egrégio Tribunal de

Justiça do Estado de São Paulo (fls. 580/582), mas, por determinação

superior, foram devolvidos para cumprimento integral da Resolução n.°

102/97, com anotação de que se tratava de representação comercial (cf. fls.

583). /'~7íH~~~

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Por conseqüência, os autos foram enviados ao

Egrégio Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo (cf. fls.

586), onde o v. acórdão de fls. 595/596, de sua Segunda Câmara, Relator o

Juiz Ribeiro de Souza, não conheceu do recurso, consignando:

"Dessume-se da leitura da inicial pretender a autora

prestação de contas da ré e em decorrência da relação de mandato

existente entre as litigantes.

E isso porque a autora é armadora de navio, sendo

a ré seu agente de navegação, tendo a representado em ações judiciais,

como inferido do exame da documentação acostada com a inicial,

pretendendo obtenção de prestação de contas alusivas a esse mandato.

Ademais, a inicial é taxativa quanto haver relação

de mandato, pois 'a autora foi representada pela ré, em negócios

pertinentes a prestação de serviços de agência marítima -

representações, agenciamento de navios, agenciamento de cargas etc. no

porto de Santos, Estado de São Paulo, durante muito tempo ...' e com

finalidade de a representar em mandados de segurança impetrados com

escopo de liberação de navios, mediante depósitos de quantias para não

pagamento do Adicional de Tarifa Portuária, restando calcada a lide com

fundamento no artigo 1.031 do Código Civil.

Sendo assim, competente para conhecer e julgar o

presente recurso é o E. Segundo Tribunal de Alçada Civil, conforme

regra definida no artigo 2o, inciso XII, da Resolução n.° 108/98 do C.

Órgão Especial do Tribunal de Justiça".

Os autos foram recebidos neste Tribunal em

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11.09.00 (fls. 599), distribuídos em 20.11.00 e vieram conclusos em 01.12.00

(fls. 601).

£ o relatório.

Com a devida vênia, não se trata de prestação de

contas decorrente da relação de mandato existente entre as litigantes, como

entendeu o v. acórdão acima reproduzido, e sim decorrente de representação

comercial, ou, mais especificamente, de contrato de agenciamento, como está

expresso na inicial, na contestação e no contrato social da ré e foi destacado

no relatório.

Confira-se, a propósito, a lição de FRAN

MARTINS:

Bastante difundida está, no comércio, a

representação comercial, conjunto de atividades em que o

representante, agenciando negócios para o representado, pode agir

também como mandatário ou como comissário. Uma mesma pessoa ou

empresa comercial pode exercer atividades dentro dessas diversas

espécies, segundo as relações que mantenha com aquele para quem

contrata.

Não será difícil distinguir as várias categorias dos

atos praticados pelos representantes comerciais. Esses possuem um

contrato com os representados mediante o qual se obrigam a, consoante

remuneração, agenciar para os mesmos. Se desse contrato consta

mandato do seu representado, é também mandatário e, desse modo,

pratica atos em nome do mandante, a esse obrigando diretamente. Se,

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por outro lado, com o representando possui um contrato de comissão,

agirá em seu próprio nome, obrigando-se diretamente segundo as regras

que regulam a comissão.

Dentro das atividades comerciais, muito comum é

que se encontrem empresas que, ao mesmo tempo, funcionem como

mandatárias, comissárias ou agentes comerciais. Tais empresas, às

vezes, dão-se o nome de representantes comerciais, às vezes, os nomes

das agências comerciais. Os negócios relativos à venda em favor de

outro, ou seja, o que, no direito italiano, se chama de contrato de

agência e no brasileiro de representação comercial, diferem do

mandato e da comissão, porque o agente é um mero intermediário,

realizando negócios sem vínculo de subordinação hierárquica para a

empresa tendo a sua remuneração baseada nas negociações feitas"

("Contratos e Obrigações Mercantis", 14a edição, Rio de Janeiro,

Editora Forense, 1996, n.° 242, p. 297).

Em outra passagem, elucida:

"Entende-se por contrato de representação

comercial aquele em que uma parte se obriga, mediante remuneração, a

realizar negócios mercantis, em caráter não eventual, em favor de uma

outra. A parte que se obriga a agenciar propostas ou pedidos em favor

da outra tem o nome de representante comercial, aquela em favor de

quem os negócios são agenciados é o representado. O contrato de

representação comercial é também chamado de agência, donde

representante e agente comercial terem o mesmo significado.

Alguns códigos já regulamentaram esse contrato,

com o nome de agência ou agência comercial. (...). < ~ ^

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O contrato de agência ou representação comercial é

muito difundido, servindo os representantes ou agentes como

prestimosos auxiliares dos comerciantes para a realização dos seus

negócios. Convém, entretanto, frisar que os representantes comerciais

não são empregados dos representados, sendo a representação uma

atividade autônoma" (cf. obra citada, n.° 206, p. 269).

No mesmo sentido: WALDÍRIO BULGARELLI,

"Contratos Mercantis", 8a edição, Editora Atlas S/A, 1995, p. 502 e

seguintes.

RUBENS REQUIÃO esclarece:

"O contrato de representação comercial é, a nosso

ver, uma convenção típica. Pode tal contrato conter o mandato, mas com

este não se confunde; não é comissão mercantil; não é simples locação

de serviços, pois, nele, não se remunera o trabalho do agente, mas o

resultando útil dele decorrente.

Não é mandato, com efeito, pois este constitui,

segundo a doutrina, uma relação interna entre mandante e mandatário,

sendo projetado no mundo exterior pela representação, que com ele foi

conjugado no direito brasileiro.

A representação comercial deriva do instituto geral

da representação nos negócios jurídicos, pela qual uma pessoa age em

lugar e no interesse de outra, sem ser atingida pelo ato que pratica. O

representante comercial é, assim, um colaborador jurídico, que, através

da mediação, leva as partes a entabular e concluir negócios" (cf. "Curso

de Direito Comercial", 22a edição, São Paulo, Editora Saraiva, 1995, Io

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vol.,n.°123,p. 157).

Ainda que tivesse havido mandato, seria ele parte

de outro contrato, mais abrangente e específico, o de representação comercial

ou agenciamento, que define a competência em razão da matéria.

Em suma, cuidando-se de representação comercial

ou contrato de agenciamento marítimo, a competência é mesmo do Egrégio

Primeiro Tribunal de Alçada Civil, consoante decorre do artigo Io, inciso III,

da referida Resolução n.° 108/98, ou seja, compete ao Primeiro Tribunal de

Alçada Civil, em grau de recurso ou originariamente, processar e julgar as

ações oriundas de representação comercial, comissão mercantil, comodato,

condução e transporte, depósito de mercadorias e edição.

Em conseqüência, não se conhece do recurso e

propõe-se ao Egrégio Plenário a suscitação de conflito negativo de

competência.

EU RICUPERO Juiz Relator

Page 10: acórdão representação

Certifico que o presente Acórdão arquivado eletronicamente sob n°.662.810-00/4 com 09 imagens está sendo acrescido por ordem do relator, nesta data, pelo seguinte motivo: ^y.Ç.i:}:\\(r..... .Ç.£.V.>h ç kí. ^ V í̂v... £x>^kwL .<̂ £. .^T^rkyt^..

São Paulo, 18 de abril de 2001.

SANA SILVA REGO BARROS Diretoria Técnica de Serviço

)TA-3

Page 11: acórdão representação

CONCLUSÃO

Aos . s de ^ i de 2001, promovo os presentes autos à conclusão do Exmo Juiz >v '•'.- '̂ • -.- .. •

:Á^^<:i^ Escrevente Técnico Judiciário (DJE-3)

Apelação com Revisão n° 662.810-0/4

1.Considerando que o artigo 123, combinado com o art. 29, II, do RISTAC, dispensa o pronunciamento do Plenário em se tratando de conflito de competência em relação aos outros tribunais de alçada, competindo às Câmaras suscitá-los, determino retifique-se a ementa e dispositivo do acórdão de fls., passando a constar em ambos as seguintes redações: Ementa, parte final - "Competência do E. Primeiro Tribunal de Alçada Civil (artigo 1o, inciso III, da Resolução n° 108/98), que, não obstante, não conheceu de apelação - Suscitação de conflito negativo de competência ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo." Dispositivo - "Em conseqüência, não se conhece do recurso e, nos termos dos artigos 29, inciso II e 123, do Regimento do Segundo Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo, suscita-se conflito negativo de competência ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo."

2. Republique-se.

São Paulo, 06 de abril de 2001.

ROMEU RI Relator

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COMARCA DE SANTOS

APTE(S) / APDO(S): STOLT PARCEL TANKERS INC; CORY IRMÃOS

COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA.

VOTO N.° 60

EMENTA: Ação de prestação de contas decorrente de

representação comercial - Negócios pertinentes à prestação de

serviços de agência marítima - representações, agenciamento

de navios, agenciamento de cargas etc. - no porto de Santos,

Estado de São Paulo, durante longo tempo - Ação de prestação

de contas que não decorre de mandato - Competência do E.

Primeiro Tribunal de Alçada Civil (artigo Io, inciso III, da

Resolução n.° 108/98), que, não obstante, não conheceu de

apelação - Suscitação de conflito negativo de competência ao

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Stolt Parcel Tankers, Inc., empresa com sede em

Monrovia, República da Libéria, por intermédio de sua coligada Stolt Nielsen

Ltda., ajuizou, em face de Cory Irmãos Comércio e Representações Ltda.,

ação de prestação de contas com pedido de tutela antecipada, alegando, em

síntese, que foi "representada pela ré, em negócios pertinentes à prestação de

serviços de agência marítima - representações, agenciamento de navios,

agenciamento de cargas, etc. - no porto de Santos, Estado de São Paulo,

durante longo tempo - cláusula IV do contrato social da ré conforme farta

documentação ora trazida aos autos - cópias de peças em processos de

mandado de segurança para liberação de navios mediante depósitos de

quantias para não pagamento da ATP - tudo de conformidade com a relação

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também anexa, que monta em quantia equivalente a US$ 310.337,49 -

trezentos e dez mil, trezentos e trinta e sete dólares norte americanos e

quarenta e nove centavos" (cf. textualmente a fls. 03).

Afirmou que, por força de tais atribuições, era

comum a ré lidar com numerário enviado pela autora, na execução dos

serviços mencionados acima, enfatizando, aliás, que "é costume os negócios

relativos a agenciamento de navios são feitos na confiança, mediante troca de

correspondência, telex e fax, entre cliente (autora) e agência (ré), entregando

quantias necessárias ao desembaraçado dos navios" (sic - fls. 04).

Assinalou que ficou demonstrado o desvio de

verbas, isso após auditoria interna ter constatado a ausência de devolução ou

prestação de contas de numerário em poder da ré e pertencente à autora, e

reclamou que inúmeras tentativas amigáveis não tinham servido para a

solução da pendência.

A petição inicial de fls. 02/08 veio acompanhada da

procuração de fls. 09 e de inúmeros documentos (cf. fls. 10/442) e o r.

despacho de fls. 443 indeferiu o pedido de antecipação da tutela,

determinando a citação, que se efetivou (fls. 452), vindo para os autos a

contestação de fls. 456/472, na qual a ré insistiu que tanto esta ação de

prestação de contas, quanto outra ação anterior, monitoria, tinham como

causa de pedir "o CONTRATO DE AGENCIAMENTO que a autora alega

(em ambos os pleitos) ter celebrado com a requerida" (maiúsculas e negrito

no original - cf. fls. 457), enfatizando, em outras passagens, que a alegação

era de créditos em face de serviços de agenciamento marítimo prestados pela

requerida (cf. fls. 458, 463, 464), serviços esses que, pelo seu contrato social,

são normalmente prestados, posto que, na cláusula IV, está previsto que a

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sociedade tem por objetivo "a prestação de serviços de estiva,

representações, agenciamento de navios, agenciamento de cargas,

afretamento de navios, agentes comissários, comissários de avarias e

operador portuário" (cf. letra "b" - fls. 51 e 474).

Frustrada a conciliação (fls. 524), autora juntou

documento, "comprovando a obrigatoriedade de prestação de contas,

relativamente a serviços de representação" (cf. fls. 527 e 528/529).

A r. sentença de fls. 530/532 extinguiu o processo,

sem julgamento de mérito, com fundamento no artigo 267, inciso VI, do

Código de Processo Civil, reconhecendo a ausência de pressuposto

indispensável ao desenvolvimento válido e regular do processo (ausência de

capacidade da autora para estar em juízo - artigo 12, VI e VIII, do CPC;

ausência de capacidade postulatória - artigo 36 e seguintes do CPC).

Apelaram as partes (cf. recurso da autora - fls.

537/542 e recurso da ré - fls. 548/556), com preparo (fls. 543/544 e fls.

558/559), recebimento (fls. 560 e 563) e respostas (fls. 564/568 e 572/579).

Os autos foram enviados ao Egrégio Tribunal de

Justiça do Estado de São Paulo (fls. 580/582), mas, por determinação

superior, foram devolvidos para cumprimento integral da Resolução n.°

102/97, com anotação de que se tratava de representação comercial (cf. fls.

583).

Por conseqüência, os autos foram enviados ao

Egrégio Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo (cf. fls.

586), onde o v. acórdão de fls. 595/596, de sua Segunda Câmara, Relator o

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Juiz Ribeiro de Souza, não conheceu do recurso, consignando:

"Dessume-se da leitura da inicial pretender a autora

prestação de contas da ré e em decorrência da relação de mandato

existente entre as litigantes.

E isso porque a autora é armadora de navio, sendo

a ré seu agente de navegação, tendo a representado em ações judiciais,

como inferido do exame da documentação acostada com a inicial,

pretendendo obtenção de prestação de contas alusivas a esse mandato.

Ademais, a inicial é taxativa quanto haver relação

de mandato, pois 'a autora foi representada pela ré, em negócios

pertinentes a prestação de serviços de agência marítima -

representações, agenciamento de navios, agenciamento de cargas etc. no

porto de Santos, Estado de São Paulo, durante muito tempo ...' e com

finalidade de a representar em mandados de segurança impetrados com

escopo de liberação de navios, mediante depósitos de quantias para não

pagamento do Adicional de Tarifa Portuária, restando calcada a lide com

fundamento no artigo 1.031 do Código Civil.

Sendo assim, competente para conhecer e julgar o

presente recurso é o E. Segundo Tribunal de Alçada Civil, conforme

regra definida no artigo 2o, inciso XII, da Resolução n.° 108/98 do C.

Órgão Especial do Tribunal de Justiça".

Os autos foram recebidos neste Tribunal em

11.09.00 (fls. 599), distribuídos em 20.11.00 e vieram conclusos em 01.12.00

(fls. 601).

E o relatório.

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Com a devida vênia, não se trata de prestação de

contas decorrente da relação de mandato existente entre as litigantes, como

entendeu o v. acórdão acima reproduzido, e sim decorrente de representação

comercial, ou, mais especificamente, de contrato de agenciamento, como está

expresso na inicial, na contestação e no contrato social da ré e foi destacado

no relatório.

Confira-se, a propósito, a lição de FRAN

MARTINS:

Bastante difundida está, no comércio, a

representação comercial, conjunto de atividades em que o

representante, agenciando negócios para o representado, pode agir

também como mandatário ou como comissário. Uma mesma pessoa ou

empresa comercial pode exercer atividades dentro dessas diversas

espécies, segundo as relações que mantenha com aquele para quem

contrata.

Não será difícil distinguir as várias categorias dos

atos praticados pelos representantes comerciais. Esses possuem um

contrato com os representados mediante o qual se obrigam a, consoante

remuneração, agenciar para os mesmos. Se desse contrato consta

mandato do seu representado, é também mandatário e, desse modo,

pratica atos em nome do mandante, a esse obrigando diretamente. Se,

por outro lado, com o representando possui um contrato de comissão,

agirá em seu próprio nome, obrigando-se diretamente segundo as regras

que regulam a comissão.

Dentro das atividades comerciais, muito comum é

que se encontrem empresas que, ao mesmo tempo, funcionem como

mandatárias, comissárias ou agentes comerciais. Tais empresas, às

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vezes, dão-se o nome de representantes comerciais, às vezes, os nomes

das agências comerciais. Os negócios relativos à venda em favor de

outro, ou seja, o que, no direito italiano, se chama de contrato de

agência e no brasileiro de representação comercial, diferem do

mandato e da comissão, porque o agente é um mero intermediário,

realizando negócios sem vínculo de subordinação hierárquica para a

empresa tendo a sua remuneração baseada nas negociações feitas"

("Contratos e Obrigações Mercantis", 14a edição, Rio de Janeiro,

Editora Forense, 1996, n.° 242, p. 297).

Em outra passagem, elucida:

"Entende-se por contrato de representação

comercial aquele em que uma parte se obriga, mediante remuneração, a

realizar negócios mercantis, em caráter não eventual, em favor de uma

outra. A parte que se obriga a agenciar propostas ou pedidos em favor

da outra tem o nome de representante comercial; aquela em favor de

quem os negócios são agenciados é o representado. O contrato de

representação comercial é também chamado de agência, donde

representante e agente comercial terem o mesmo significado.

Alguns códigos já regulamentaram esse contrato,

com o nome de agência ou agência comercial. (...).

O contrato de agência ou representação comercial é

muito difundido, servindo os representantes ou agentes como

prestimosos auxiliares dos comerciantes para a realização dos seus

negócios. Convém, entretanto, frisar que os representantes comerciais

não são empregados dos representados; sendo a representação uma

atividade autônoma" (cf. obra citada, n.° 206, p. 269).

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No mesmo sentido: WALDÍRIO BULGARELLI,

"Contratos Mercantis", 8a edição, Editora Atlas S/A, 1995, p. 502 e

seguintes.

RUBENS REQUIÃO esclarece:

"O contrato de representação comercial é, a nosso

ver, uma convenção típica. Pode tal contrato conter o mandato, mas com

este não se confunde; não é comissão mercantil; não é simples locação

de serviços, pois, nele, não se remunera o trabalho do agente, mas o

resultando útil dele decorrente.

Não é mandato, com efeito, pois este constitui,

segundo a doutrina, uma relação interna entre mandante e mandatário,

sendo projetado no mundo exterior pela representação, que com ele foi

conjugado no direito brasileiro.

A representação comercial deriva do instituto geral

da representação nos negócios jurídicos, pela qual uma pessoa age em

lugar e no interesse de outra, sem ser atingida pelo ato que pratica. O

representante comercial é, assim, um colaborador jurídico, que, através

da mediação, leva as partes a entabular e concluir negócios" (cf. "Curso

de Direito Comercial", 22a edição, São Paulo, Editora Saraiva, 1995, Io

vol.,n.°123,p. 157).

Ainda que tivesse havido mandato, seria ele parte

de outro contrato, mais abrangente e específico, o de representação comercial

ou agenciamento, que define a competência em razão da matéria.

Em suma, cuidando-se de representação comercial

ou contrato de agenciamento marítimo, a competência é mesmo do Egrégio

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PODER JUDICIÁRIO

SÃO PAULO

SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL

APELAÇÃO COM REVISÃO N.° 662.810-0/4 - VOTO N.° 60

Primeiro Tribunal de Alçada Civil, consoante decorre do artigo Io, inciso III,

da referida Resolução n.° 108/98, ou seja, compete ao Primeiro Tribunal de

Alçada Civil, em grau de recurso ou originariamente, processar e julgar as

ações oriundas de representação comercial, comissão mercantil, comodato,

condução e transporte, depósito de mercadorias e edição.

Em conseqüência, não se conhece do recurso e, nos

termos dos artigos 29, inciso II e 123, do Regimento do Segundo Tribunal de

Alçada Civil do Estado de São Paulo, suscita-se conflito negativo de

competência ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

ROMEU RICÜPERO Juiz Relator