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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 01175/16 Data do Acordão: 31-01-2018 Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: FRANCISCO ROTHES Descritores: NULIDADE DE SENTENÇA OMISSÃO DE PRONÚNCIA Sumário: I - Incumbe ao juiz a obrigação de apreciar e resolver todas as questões submetidas à sua apreciação, independente da sua pertinência ou viabilidade, ficando apenas exceptuado o conhecimento das questões cuja apreciação e decisão tenha ficado prejudicada pela solução dada a outras (cfr. art. 608.º, n.º 2, do CPC). II - A violação dessa obrigação de conhecimento determina a nulidade da sentença por omissão de pronúncia [cfr. art. 125.º, n.º 1, do CPPT e art. 615.º, n.º 1, alínea d), do CPC], que o Supremo Tribunal Administrativo não pode suprir (cfr. art. 684.º, n.º 1, do CPC). Nº Convencional: JSTA000P22862 Nº do Documento: SA22018013101175 Data de Entrada: 19-10-2016 Recorrente: A..., SA Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICA Votação: UNANIMIDADE Aditamento: Texto Integral Texto Integral: Recurso jurisdicional da sentença proferida no processo de impugnação judicial com o n.º 2898/14.6BELRS 1. RELATÓRIO 1.1 A sociedade denominada “A……………., S.A.” (doravante Impugnante ou Recorrente) recorre para o Supremo Tribunal Administrativo da sentença por que o Tribunal Tributário de Lisboa julgou improcedente a impugnação judicial por ela deduzida contra a liquidação adicional de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) do ano de 2008 e respectivos juros compensatórios, na sequência do indeferimento do recurso hierárquico da decisão que indeferiu a reclamação graciosa que deduziu contra aquele mesmo acto. 1.2 O recurso foi admitido, para subir imediatamente, nos próprios autos e com efeito suspensivo e a Recorrente apresentou as alegações de recurso, que resumiu em conclusões do seguinte teor: «A- A douta sentença recorrida não tomou posição sobre questões de que devia conhecer suscitadas pela parte, nem Acordão do Supremo Tribunal Administrativo http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/f0e5... 1 de 21 09-02-2018, 12:02

Acordão do Supremo Tribunal Administrativoposição do Acórdão do STA proferido no recurso 0303/07 de 12/07/2007 – fls. 11/23, mas com o devido respeito, que é muito, este aresto

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  • Acórdãos STAAcórdão do Supremo Tribunal Administrativo

    Processo: 01175/16Data do Acordão: 31-01-2018Tribunal: 2 SECÇÃORelator: FRANCISCO ROTHESDescritores: NULIDADE DE SENTENÇA

    OMISSÃO DE PRONÚNCIASumário: I - Incumbe ao juiz a obrigação de apreciar e resolver todas as

    questões submetidas à sua apreciação, independente da suapertinência ou viabilidade, ficando apenas exceptuado oconhecimento das questões cuja apreciação e decisão tenhaficado prejudicada pela solução dada a outras (cfr. art. 608.º, n.º2, do CPC).II - A violação dessa obrigação de conhecimento determina anulidade da sentença por omissão de pronúncia [cfr. art. 125.º,n.º 1, do CPPT e art. 615.º, n.º 1, alínea d), do CPC], que oSupremo Tribunal Administrativo não pode suprir (cfr. art. 684.º,n.º 1, do CPC).

    Nº Convencional: JSTA000P22862Nº do Documento: SA22018013101175Data de Entrada: 19-10-2016Recorrente: A..., SARecorrido 1: FAZENDA PÚBLICAVotação: UNANIMIDADE

    Aditamento:

    Texto Integral

    Texto Integral: Recurso jurisdicional da sentença proferida no processo deimpugnação judicial com o n.º 2898/14.6BELRS

    1. RELATÓRIO

    1.1 A sociedade denominada “A……………., S.A.” (doravanteImpugnante ou Recorrente) recorre para o Supremo TribunalAdministrativo da sentença por que o Tribunal Tributário deLisboa julgou improcedente a impugnação judicial por eladeduzida contra a liquidação adicional de Imposto sobre o ValorAcrescentado (IVA) do ano de 2008 e respectivos juroscompensatórios, na sequência do indeferimento do recursohierárquico da decisão que indeferiu a reclamação graciosa quededuziu contra aquele mesmo acto.

    1.2 O recurso foi admitido, para subir imediatamente, nospróprios autos e com efeito suspensivo e a Recorrenteapresentou as alegações de recurso, que resumiu emconclusões do seguinte teor:

    «A- A douta sentença recorrida não tomou posição sobrequestões de que devia conhecer suscitadas pela parte, nem

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  • decidiu explicitamente que não podia delas tomarconhecimento, pelo que é nula por omissão de pronúncia nostermos da alínea d) do n.º 1 do artigo 665.º do Código deProcesso Civil (CPC) e artigo 125.º do CPPT.

    B- A sentença recorrida entende a fls. 16/23, estar unicamente“em causa nos autos a liquidação do IVA relativo àtransferência onerosa de bens corpóreos por formacorrespondente ao exercício do direito de propriedade, que nostermos do artigo 3.º n.º 3 do CIVA, são considerados comotransmissões a afectação de bens pela recorrente a um sectorde actividade isento, que ocorreu em 2008”,

    C- Todavia, não é essa a única “questão” que faz parte do“thema decidendum”, pois, acresce-lhe uma outra questãosuscitada, acerca da ilegalidade que inquinou as liquidações,decorrente da notificação da liquidação ter antecedido anotificação do relatório de inspecção que fixou a matériatributável corrigida.

    D- À luz do conceito de “questão” relevante avulta necessidadede analisar e decidir, acerca da preterição de formalidade legal,consistente na concretização das liquidações antes da suanotificação da decisão de fixação da matéria colectável (nestesentido o Acórdão 02834/09 de 15/07/2009 do TCA Sul).

    E- A sentença recorrida não se pronunciou sobre esta questão,o que constitui uma nulidade cometida, que pode influir noexame ou na decisão da causa, razão pela qual se enquadra noartigo 201.º, n.º 1, do CPC, enfermando do vício de violação delei revestido sob a forma de nulidade.

    F- A sentença recorrida deu nos pontos P e Q da “Matéria deFacto - Factos Provados”, como provadas as datas em queforam efectuadas as notificações das liquidações impugnadas econsumada a notificação do relatório, daí se concluindo, que asliquidações foram notificadas antes da notificação do própriorelatório, contendo nos termos do artigo 62.º n.º 1 alínea i) doRCPIT [sic].

    G- Como corolário, a recorrida estava impedida, antes daelaboração desse relatório final, de exercer o direito deliquidação por desconhecimento dos pressupostos fácticos emque se deve basear, nos termos do artigo 62.º n.º 1 alínea i) doRCPIT.

    H- Todavia, em evidente omissão de pronúncia apenas sedebruça sobre questão diversa, atinente ao efeito suspensivodo prazo de caducidade decorrente da notificação do relatório.

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  • I- Na verdade, em questão suscitada e não analisada nemdecidida, fixando o relatório inspectivo a matéria tributável, esendo esta notificação realizada em momento posterior, existeuma violação aos artigos 77.º n.º 6 e 36.º. n.º 1 do CPPT (nestesentido os Acórdãos n.ºs 0697/12 de 21/11/2012 e 0655/09,ambos do STA), o que inquina o acto tributário de liquidação,que assim está eivado por vício de violação de lei.

    J- Termos em que deve atentas as razões expendidas, serdado provimento ao recurso anulando a decisão recorrida

    Sem conceder:

    L- Noutro segmento, sempre se dirá que a decisão recorridaenferma de erro de julgamento ao não reconhecer acaducidade do direito à liquidação do imposto na base daliquidação adicional impugnada, incorreu a decisão em erro dejulgamento [sic].

    M - Violando o alcance normativo do artigo 36.º n.º 1 do RCPIT,que determina, no entender da recorrente, uma diferenteinterpretação e aplicação, não resultando, ao contrário dasentença recorrida, que seja legalmente admissível recolhendoelementos a coberto do Despacho n.º 201201733 de02/10/2012, utilizá-los numa inspecção de 2008.

    N- Inspecção essa, que iniciada em 2008, viria a corrigir asdeclarações periódicas de 2007 e consequentementepraticando actos de liquidação adicional.

    O- Da interpretação do artigo 36.º do RCPIT, resulta para osautos que a inspecção realizada em 2012, eliminando o direitoà dedução de IVA do ano de 2007, já foi efectuada para alémdo prazo consignado no artigo 45.º da LGT, que se compagina“in casu” com o artigo 36.º do RCPIT.

    P- A sentença recorrida transcreve em 4.2.7 de fls. 11/23, aposição do Acórdão do STA proferido no recurso 0303/07 de12/07/2007 – fls. 11/23, mas com o devido respeito, que émuito, este aresto apenas tem aplicabilidade às situações dereembolso.

    Q- O prazo de caducidade do direito à liquidação, actualmenteprevisto no artigo 45.º da LGT, reporta-se a actos de liquidaçãode tributos, que são actos que declaram uma obrigaçãotributária e que provocam uma modificação na situaçãotributária do contribuinte.

    R- É o caso dos actos que a coberto da regularizaçãoliquidaram imposto em 2008, referente a uma dedução operada

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  • em período caduco, pois deles resultou para a recorrente umaobrigação que não tinha anteriormente.

    S- Para além do mais, existe suporte legal para aplicar o prazode caducidade do direito de liquidação aos actos que eliminamum direito à dedução de IVA, por serem actos que declaramuma obrigação tributária do contribuinte em relação àAdministração Tributária, que justificam a aplicação do artigo45.º.

    T- Conclui-se, assim, que há suporte jurídico para entender quea Administração Tributária estava limitada pelo prazo decaducidade do direito de liquidação, sendo-lhe legalmenteimpedido de em 2012 eliminar o direito à dedução de 2007,pretendendo que a pretexto de uma transmissão de bensocorrida ao abrigo do artigo 3.º n.º 3 alínea g) do CIVA em2008, haja uma regularização do imposto de 2007.

    U- O IVA deduzido em 2007, consta de facturas emitidas naforma legal, referentes a materiais ou prestação de serviçosrelacionados com a construção do “lar de idosos” e adestinatária das mesmas foi a recorrente.

    V- Face ao expendido, e uma vez que o bem (imóvel onde foiconstruído o lar de idosos), foi adquirido e utilizado pelarecorrente para a realização de operações sujeitas a imposto edele não isentas, afigura-se-nos estarem preenchidas ascondições para o exercício do direito à dedução do impostosuportado com a construção do dito “lar de idosos”, quanto aoIVA mencionado nas facturas.

    X- Ora, uma coisa são as deduções de imposto e outra coisa,diversa, são as regularizações a que se referiam os artigos 24.ºe 25.º do CIVA na redacção aqui aplicável, as quais, comoresulta dessas normas legais, consistem nas modificações dasdeduções inicialmente efectuadas – cf. Clotilde Celorico Palma,Introdução ao Imposto Sobre o Valor Acrescentado, CadernosIDEFF, n.º 1, 3.ª edição, Almedina, pág. 209.

    Z- Ora estas regularizações, que modificam as deduçõesiniciais, através de liquidação adicional, têm imperiosamente derespeitar o prazo de caducidade, o que não sucedeu no casosob a égide recursiva.

    AA- Assim em 2012, eram inatacáveis as declarações de IVAde 2007, no que toca à possibilidade de serem corrigidas ou porvia do direito à dedução ou de liquidação adicional, pordecorrência da caducidade.

    AB- Os valores emergentes e constantes do quadro 6 das

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  • declarações periódicas de IVA do ano de 2007 não podemsofrer alterações a partir do dia em que a caducidade do direitoà liquidação operou.

    AC- A questão da caducidade é pois prévia e prejudicial noâmago do “thema decidedum”, postergando a questão da“regularização”.

    AD- Só pode ser objecto de “regularização”, na óptica do IVA, oque pode ser regularizado legalmente, daí redundando que,operando a caducidade, se extingue a regularização que afectao imposto inscrito nas declarações periódicas de 2007, quer em“outputs” quer “inputs”.

    AE- Sem conceder, ainda que assim não se entenda, o que pormera hipótese académica, dever de patrocínio e a benefício deraciocínio se traz a pleito, sempre se dirá que a decisão fezuma incorrecta aplicação do direito aplicável, padecendo deerro de julgamento, o qual se circunscreve à análise exegéticados artigos 23.º e 24.º do CIVA.

    AF- No período compreendido entre 01/07/2011 e 14/04/2008, arecorrente esteve enquadrada no regime normal trimestral,tratando-se de um sujeito passivo misto que pratica operaçõesque conferem o direito à dedução e operações que nãoconferem esse direito, realidade insofismável e confirmada pelaprópria Autoridade Tributária.

    AG- A recorrente praticava operações que conferem direito àdedução do imposto, mormente as atinentes à cedênciaonerosa e carácter duradouro, de um espaço para instalação deantenas, por parte de uma empresa de telecomunicações eoperações abrangidas pelo Dec.-Lei 21/2007.

    AH- As pretensas regularizações das deduções relativas a bensdo activo imobilizado, com enquadramento no artigo 24.º doCIVA, não podem ser feitas de uma só vez como pretende aAutoridade Tributária.

    AI- Não é aplicável o artigo 24.º n.ºs 6 e 8 do CIVA, porque arecorrente sempre teve operações activas (provam-no inclusiveos próprios autos, no período compreendido entre 2003 e2008), a regularização das deduções relativas aos bensreferidos nos n.ºs 1 e 2 do artigo 24.º teria de ser feita em 1/20e por um período de 20 anos.

    Nestes termos, atentos os fundamentos expendidos, nosmelhores de direito, com o mui douto suprimento de VossasExcelências, deve o presente recurso ser julgado procedente,pelas razões expendidas, revogando a decisão recorrida, e

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  • anulando as liquidações efectuadas pela Autoridade Tributáriaacima melhor identificadas».

    1.3 Não foram apresentadas contra-alegações.

    1.4 O Juiz do Tribunal Tributário de Lisboa proferiu despacho –ao abrigo do disposto no n.º 1 do art. 617.º do Código deProcesso Civil (CPC), aplicável ex vi da alínea e) do art. 2.º doCódigo de Procedimento e de Processo Tributário (CPPT) – noqual, apreciando a invocada nulidade da sentença por omissãode pronúncia, considerou que a mesma se não verifica, umavez que, «[c]omo resulta da sentença recorrida, a caducidadedo direito à liquidação foi conhecida e analisada em termos emque prejudicaram o conhecimento da invocada ilegalidade».

    1.5 Recebidos os autos neste Supremo Tribunal Administrativo,foi dada vista ao Ministério Público e o Procurador-GeralAdjunto emitiu parecer no sentido de que seja concedidoprovimento ao recurso, declarada nula a sentença por omissãode pronúncia e devolvidos os autos à 1.ª instância paraconhecimento da questão omitida, com a seguintefundamentação:

    «1. A omissão de pronúncia, enquanto causa de nulidade dasentença, inquina a sua estrutura formal imperativa; éconsequência da violação do dever funcional de o juiz sepronunciar sobre todas as questões submetidas pelas partes àsua apreciação, exceptuadas aquelas cuja decisão estejaprejudicada pela solução dada a outras e as questões deconhecimento oficioso (art. 608.º n.º 2 CPC/art. 2.º al. e) CPPT;art. 125.º n.º 1 CPPT).Cada questão jurídica exigindo pronúncia judicial decompõe-senum binómio causa de pedir-pedido, exprimindo a causa depedir o fundamento fáctico-jurídico invocado pelo interessadopara a satisfação da sua pretensão e o pedido o conteúdo datutela jurisdicional reclamada.Com as questões jurídicas, configuradas em cada binómiocausa de pedir-pedido, não devem confundir-se os argumentosaduzidos pelas partes, no âmbito de cada questão enunciada,para lograr o convencimento do tribunal no sentido da obtençãode solução favorável à sua pretensão.

    2. No caso concreto a recorrente explicitamente enunciou napetição de impugnação judicial questão jurídica que nãomereceu apreciação pelo tribunal: ilegalidade da liquidaçãoadicional de IVA com fundamento na circunstância de anotificação da liquidação ter antecedido a notificação dorelatório da inspecção que fixou a matéria colectável corrigida,com a implícita alegação de preterição de formalidade legal

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  • inquinante do acto final do procedimento de liquidação (petiçãoarts. 20.º/24.º, conclusões do recurso C-/G-).Esta questão, contrariamente à justificação apresentada pelojuiz relator da sentença (despacho a fls. 167), não ficouprejudicada pela análise da questão da caducidade do direitode liquidação (apreciada na sentença de forma manifestamenteelíptica), na medida em que o fundamento fáctico-jurídicoinvocado é distinto, consistindo numa alegada preterição deformalidade legal, inquinante da validade do acto final doprocedimento de liquidação.

    3. A intervenção do STA na qualidade de tribunal de revista,com poder de cognição circunscrito a matéria de direito, nãopermite a aplicação da regra da substituição ao tribunalrecorrido no conhecimento da questão sobre a qual foi omitidapronúncia, impondo-se a devolução do processo aquele tribunalpara reforma da sentença anulada (arts. 615.º n.º 1 al. d)primeira parte, 665.º n.º 2, 679.º e 684.º n.º 2 CPC vigente)».

    1.6 Colheram-se os vistos dos Conselheiros adjuntos.

    1.7 Cumpre apreciar e decidir.

    * * *

    2. FUNDAMENTAÇÃO

    2.1 DE FACTO

    A sentença recorrida deu como provados os seguintes factos:

    «A) A coberto da Ordem de Serviço n.º OI201201186 de16/07/2012 para o ano de 2008, e do Despacho n.º 201201733de 02/10/2012 (recolha de elementos relativos ao ano de 2007)ambos emitidos pelo Serviço de Inspecção Tributária daDirecção de Finanças de Setúbal, foi desencadeado oprocedimento de inspecção externo à actividade daImpugnante.(Conforme resulta de fls. 3 do relatório de inspecção tributária).

    B) A acção inspectiva foi iniciada em 25/09/2012, com aassinatura da Ordem de Serviço pela Mandatária da empresa efoi concluída com a assinatura das Notas de Diligências em31/10/2012.(Conforme resulta de fls. 1 do relatório de inspecção tributária eda nota de diligência constante do processo administrativoapenso).

    C) A acção inspectiva visou a regularização do IVA dedutível

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  • relativo à construção do “Lar de Idosos”, aquando da alteraçãodo enquadramento para “Isento do art. 9.º do CIVA”, tendo parao efeito sido enviada uma notificação através do ofício n.º14746 datado de 08/06/2012, em que se proponha aregularização voluntária, a qual foi recebida pelo sujeitopassivo.(Conforme resulta de fls. 1 do relatório de inspecção tributária).

    D) A acção inspectiva teve como âmbito o IVA referente aoexercício de 2008.(Conforme resulta de fls. 1 do relatório de inspecção tributária).

    E) A Impugnante iniciou a actividade de “Actividades ApoioSocial para Pessoas Idosas, com Alojamento” a quecorresponde o CAE 087301 em 22/01/2003 e tem a sua sedena área do Serviço de Finanças de Setúbal.(Conforme resulta de fls. 2 do relatório de inspecção tributária).

    F) Em matéria de IRC a Impugnante é tributada pelo seu lucroreal e está enquadrada no Regime Geral.(Conforme resulta de fls. 2 do relatório de inspecção tributária).

    G) Em matéria de IVA, aquando do início de actividade em22/01/2003, a Impugnante enquadrava-se no regime normalbimestral, tendo procedido à sua alteração em 14/04/2008 para“Isento do Art. 9.º do CIVA” em consequência de Declaraçãoemitida pela Segurança Social.(Conforme resulta de fls. 2 do relatório de inspecção tributária).

    H) Actualmente está enquadrado no regime normal trimestraldesde 01/0712011, é um sujeito passivo misto com afectaçãoreal. Segundo a Advogada da empresa, esta alteração deveu-se ao facto de terem dado permissão para a instalação deantenas de uma empresa de telecomunicações.(Conforme resulta de fls. 2 do relatório de inspecção tributária).

    I) A Impugnante apresentou uma Declaração de Alterações em14/04/2008, em que o enquadramento em IVA passou para“Isento do art. 9.º do CIVA” em consequência de Declaraçãoemitida pela Segurança Social emitida em 14/05/2008, mascujos efeitos retroagem a 01/04/2008.

    J) Em matéria de descrição dos fundamentos das correcçõesmeramente aritméticas, resulta do relatório de inspecção:«(...) Através da análise dos documentos contabilizados nas contas“IVA dedutível” (relativos aos anos de 2007 e 2006), cujos valores seencontram de acordo com os que constam no mapa resumo do IVA,elaborado com base nas DP’s enviadas pelo sujeito passivo (Anexo III),conclui-se que deduziu IVA desde o início de actividade em 22/01/2003,o que lhe era permitido uma vez que se encontrava enquadrado no

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  • regime normal, no entanto aquando da alteração para Isento do Art. 9.ºdo CIVA, deveria ter regularizado o IVA a favor do Estado nos seguintestermos:> Quanto aos bens móveis, são considerados para efeitos de IVA, umatransmissão de bens nos termos da al. g) do n.º 3 do art. 3.º do CIVA,pelo que há lugar a liquidação de IVA no período de 200806T;> Quanto aos imóveis, designadamente a construção do edifício do Lar,devem ser objecto de regularização pela totalidade, de acordo com odisposto na al. a) do n.º 6 do art. 24.º CIVA, uma vez que o sujeitopassivo alterou o enquadramento para Isento do Art. 9.º do CIVA em14/04/2008, e pelo valor de 20/20 do IVA deduzido, dado que nuncadeclarou qualquer operação activa, e o início de utilização ou ocupaçãoé no ano de 2006, devendo ter declarado regularizações a favor doEstado no período 200812T, ou seja, no último período do ano a querespeitam, de acordo com o n.º 8 do art. 24.º do CIVA.Note-se que o IVA deduzido no imóvel foi totalmente autoliquidado nosserviços de construção civil, sendo que a autoliquidação foi umaobrigação. Independentemente de quem liquidou (mesmo que fosse umfornecedor/prestador), a regularização efectua-se ao IVA deduzido».(Conforme resulta de fls. 4 e 5 do relatório de inspecçãotributária).

    K) Prossegue a Administração Fiscal:

    «Foram verificadas as operações declarados nas DP’s de IVA do anode 2007 no campo 1 e campo 3 sujeitas à liquidação do IVA, sãorespeitantes a obras relacionadas com a construção do edifício do Lar,sendo que as mais significativas são as da empresa “B…………….,Lda.” com o NIPC ……………, as quais totalizam o montante de €4.338.202,48 (Anexo IV), e tratam-se de operações activasenquadradas no DL 21/2007 de 29 de Janeiro (IVA devido peloadquirente), sem liquidação de IVA, em consequência da inversão dosujeito passivo, conforme art. 2.º, n.º 1 alínea j) do CIVA, as quaispassaram a ser tributadas na esfera do adquirente.Por último, importa referir a existência de várias despesas directamenterelacionadas com o imóvel, assim:1. Contrato de leasing n.º 450000013 com o Millenium BCP iniciado em14/04/2004, que tinha como objecto a locação de um lote de terrenopara construção sito na Freguesia da ………….., prédio inscrito namatriz predial urbana n.º 2876, relativamente ao qual o sujeito passivoaceitou os elementos constantes do pedido de “Renúncia à Isenção doIVA”, apresentado pelo BCP, tendo deduzido o seguinte IVA (Anexo V):- Renda n.º 38 no montante de € 6.515,07 + IVA o valor de € 1.368,16;- Renda n.º 39 no montante de € 6.527,44 + IVA no valor de € 1.370,76(esta renda veio a ser anulada, pois a factura foi emitida após opagamento do VR, dando origem a uma regularização do campo 41);- Valor residual foi € 1.362248,26 + IVA no valor € 286.072,13;

    2. Contratos de fornecimento e montagem de elevadores da .........., emque deduziu o seguinte IVA (Anexo VI);- Orcº/Contrato n.º 204605 no montante de € 14.305,00 + IVA €3.004,05;- Orcº/Contrato n.º 204606 no montante de € 14.335,00 + IVA €

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  • 3.004,05;- Orcº/Contrato n.º 204607 no montante de € 17.530,00 + IVA €3.693,90;- Orcº/Contrato n.º 204608 no montante de € 5.330,00 + IVA € 1.218,00;

    3. Fornecimento de material e mão-de-obra relativamente à instalaçãoeléctrica pela empresa “C………….., Lda.” no montante de € 25.246,04+ IVA € 5.301,67 (Anexo VII).

    As correcções propostas decorrentes da alteração do enquadramentoem sede de IVA, conforme Mapa que consta como Anexo VIII, e quadrosíntese, são as seguintes:

    Período Base TributávelCampo 3

    IVA tx. 21%Campo 4

    IVA a favor do EstadoCampo 41

    0806T € 302.172,38 € 63.456,20

    0812T € 1.214.684,46

    (Conforme resulta de fls. 5 e 6 do relatório de inspecçãotributária)

    L) A Administração Fiscal, através do mapa que consta noAnexo IX, verificou a existência de um crédito de IVA no final doano de 2008 no montante de € 345.968,82, o qual sofreualgumas alterações em consequência do enquadramento noregime normal trimestral em 01/07/2011, em que passa aliquidar IVA nas operações activas relacionadas com ainstalação de antenas de uma empresa de telecomunicações,pelo que no período 201206T o crédito de IVA é de €345.347,82, podendo o sujeito passivo solicitar o reembolsonesse montante.(Conforme resulta de fls. 7 do relatório de inspecção tributária)

    M) A Impugnante não exerceu o direito de audição.(Conforme resulta de fls. 7 do relatório de inspecção tributária).

    N) O chefe da equipa de Inspecção Tributária emitiu parecersobre o relatório de inspecção, donde se extrai com interessepara a decisão:«(...)5.3. Ora, a passagem da actividade de Sector não isento para sectorisento tem consequências, tais como:5.3.1. Todos os bens existentes à data da alteração são consideradostransmitidos, cfr. art. 3.º n.º 3, al. g), pelo valor tributável previsto no art.16.º, n.º 1 al. d), todos do CIVA, que no caso em apreço é igual ao valordeduzido dado não existir desvalorização, pois nunca tinha entrado emfuncionamento, com liquidação de IVA no período da alteração no caso0806T;5.3.2.Regularização do IVA deduzido em bens imóveis, cfr. art. 24.º, n.º6 al. a) do CIVA, o período de 0812T, por n/20 do período deregularização ainda não decorrido cfr. cálculos do art. 24.º, n.º 5segunda parte o que no caso se traduz em 100% (20/20) dado o iníciodo período de regularização ano de ocupação ou de início de utilização

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  • ser precisamente 2008.5.3.3. Em resumo, a passagem da actividade de sector não isento parasector isento, sem ter efectuado qualquer operação activa não isenta,tem a mesma consequência de nunca ter deduzido qualquer IVA, comose a isenção existisse desde o início da actividade.

    6. IVA6.1. Assim, apurou-se IVA em falta, por não liquidado sobre os bensmóveis, no período de 0806T no valor de € 63.456.20, conformedescriminação no Relatório, infracção aos arts. 7.º n.º 4 e 27.º n.º 1 doCIVA, falta punível pelo artigo 114.º do RGIT.6.2. E ainda se apurou IVA em falta, por falta de regularização do IVAsuportado com os bens imóveis, no período de 0812T no valor de €1.214.684,46, conforme descriminação no Relatório, infracção aos arts.24.º n.º 6 al. a) e 27.º n.º 1 do CIVA, falta punível pelo artigo 114.º doRGIT.

    7. Notificado o sujeito passivo e a mandatária do sujeito passivo, parano prazo de 10 dias, querendo, exercer o direito de audição previsto noart. 60.º da LGT e art. 60.º do RCPIT, decorrido o prazo o mesmo nãofoi exercido.Foi nesta data elaborado o respectivo documento de correcção elevantado o competente auto de notícia. Deverá notificar-se o sujeitopassivo nos termos do art. 62.º do RCPIT».(Conforme resulta do relatório de inspecção tributária).

    O) Sobre o relatório de inspecção e pareceres do Chefe deEquipa e do Chefe de Divisão recaiu o despacho deconcordância que aqui se dá por integralmente reproduzido.

    P) O Ilustre Mandatário da Impugnante foi notificado do relatóriode inspecção em 27/11/2012.(Conforme resulta de fls. 12 do processo de reclamaçãograciosa em apenso).

    Q) Em 24/11/2012, a Administração Fiscal emitiu a liquidaçãoadicional de IVA, do ano de 2008, na quantia de € 1.278.140,66e as liquidações adicionais de juros compensatórios nasimportâncias de € 183.034,64 e € 10.827,54.(Conforme resulta de fls. 12 e 13 do processo de reclamaçãograciosa em apenso).

    R) O prazo para pagamento voluntário terminou em 31/01/2013.

    S) Em 03/04/2013 a Impugnante, inconformada, reclamougraciosamente.(Conforme resulta de fls. 1 a 10 do processo de reclamaçãograciosa em apenso).

    T) Em apreciação da reclamação graciosa, na Divisão deJustiça Administrativa da Direcção de Finanças de Lisboa, foilavrada a informação de fls. 59 a 62 do processo de reclamação

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  • graciosa em apenso, que aqui se dá por integralmentereproduzida.

    U) No âmbito da informação a que se refere a alínea anterior,ao nível do enquadramento da actividade exercida pelaImpugnante considerou a Administração Fiscal:«1. Enquadramento fiscal e actividade exercidaA reclamante está colectada em sede de IRC e de IVA pelo exercício daactividade principal de “ACTIVIDADES APOIO SOCIAL PARAPESSOAS IDOSAS COM ALOJAMENTO”. CAE 87301 (cf. fls. 57 emanexo).Actualmente estamos perante uma sociedade anónima (SA) tendoinicialmente sido constituída sob a forma de sociedade por quotas, cominício de actividade a 2003-01-22.Em sede de IVA, encontra-se enquadrada no: regime normal desde2003.01.22 até à presente data, excepto no período de 2008.04.14 a2011.07.01 em que a reclamante procedeu à alteração para “Isento doart. 9.º do CIVA” Salientamos que a alteração para regime normal apartir de 2011.07.01 é devida pelo facto de terem dado permissão paraInstalação de antenas de uma empresa de telecomunicações”(transcrição do relatório de Inspecção)»(Conforme resulta de fls. 60 do processo de reclamaçãograciosa em apenso).

    V) Em matéria de elementos do relatório de inspecção,considerou a Administração Fiscal:Para melhor percepção das operações efectuadas no decorrerde 2008 transcrevemos alguns parágrafos do relatório deinspecção:— “Em 14/01/2008 foi entregue pelo sujeito passivo a declaração Mod.1 do IMI com o n.º 1663261, relativa a um “Prédio – ………….., artigomatricial n.º 3097 (teve origem no artigo matricial n.º 2876) situado naFreguesia …………….., Concelho de Setúbal, (151207). Onde consta11/12/2007 como sendo a data da licença de utilização. Este imóvel temcomo valor patrimonial actual € 2.158.850.00.— Como tal, desde essa data não tem obrigação de liquidar IVA nasoperações activas que pratica, e não tem qualquer direito à dedução doIVA suportado conforme disposto na alínea a) do n.º 1 do art. 20.º CIVA.— ... conclui-se que deduziu IVA desde o início de actividade em22/01/2003, o que lhe era permitido uma vez que se encontravaenquadrado no regime normal, no entanto aquando da alteração paraIsento do Art. 9.º do CIVA deveria ter regularizado o IVA a favor doEstado;— o IVA deduzido no imóvel foi totalmente autoliquidado nos serviçosde construção civil, sendo que a autoliquidação foi uma obrigaçãoindependentemente de quem liquidou (mesmo que fosse umfornecedor/prestador), a regularização efectua-se ao IVA deduzido”

    W) Concluiu a Administração Fiscal:«Tendo em consideração o exposto após análise dos elementosrecebidos, constatamos que a reclamante não carreou para o processodados relevantes e fidedignos pelo que afigura-se-nos que não deve

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  • ser aceite a dedução de € 1.278.140,66, em sede de IVA tendo em vistaque a partir de 2008.04.14, a própria reclamante alterou oenquadramento da actividade do sector não isento para sector isento,passando assim a ser enquadrado no n.º 7 do art. 9.º do CIVA.E como tal, deveria ter declarado regularizações a favor do Estado,relativas a IVA deduzido na fase de construção do edifício do lar noperíodo 2008.12T ou seja no último período do ano a que respeitam, deacordo com o n.º 8 do art. 24.º do CIVA.»(Conforme resulta de fls. 62 do processo de reclamaçãograciosa em apenso).

    X) Resulta da informação que foi proposto:«Face ao acima exposto e salvo melhor entendimento, propõe-se oindeferimento da presente reclamação graciosa de acordo com osfundamentos supra expostos»(Conforme resulta de fls. 62 do processo de reclamaçãograciosa em apenso).

    Y) A Impugnante, notificada do projectado indeferimento dareclamação graciosa, não exerceu o direito de audição.(Conforme resulta de fls. 72 do processo de reclamaçãograciosa em apenso).

    Z) Em 26/08/2013, foi proposta a convolação em definitivo doprojecto de indeferimento da reclamação graciosa.(Conforme resulta de fls. 72 do processo de reclamaçãograciosa em apenso).

    AA) Por despacho de 16/09/2013, foi indeferida a reclamaçãograciosa.(Conforme resulta de fls. 68 do processo de reclamaçãograciosa em apenso).

    BB) Inconformada, a impugnante interpôs recurso hierárquicodo indeferimento da reclamação graciosa.(Conforme resulta de fls. 1 e segs. do processo de recursohierárquico em apenso).

    CC) Em apreciação do recurso hierárquico na Direcção deServiços do IVA foi elaborada a informação de fls. 18 e segs. doprocesso de recurso hierárquico, que aqui se dá porintegralmente reproduzida para todos os legais efeitos.

    DD) Com interesse para decisão extrai-se o seguinte parecer:«Na sequência da apreciação dos elementos anteriormente expostos eem resposta aos argumentos apresentados pela recorrente, temos areferir o seguinte:4.2.1. Conforme se infere dos elementos constantes no processo emresultado da acção inspectiva, que visou a regularização do IVAdedutível inerente à construção do “Lar de Idosos” decorreramcorrecções aritméticas ao ano de 2008, no montante total € 1.278.

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  • 140,66.4.2.2. Na sequência de lhe ter sido concedida a licença provisória defuncionamento e ter procedido à entrega da respectiva declaração dealterações em 2006/04/14, a actividade desenvolvida pela orarecorrente passou a enquadrar-se na isenção prevista na alínea 7) doart. 9.º do CIVA, pelo que deveria ter procedido à regularização do IVAdeduzido na aquisição dos bens afectos à actividade isenta.4.2.3 Posto que assim não procedeu, os SIT consideraram que, umavez que não declarou operações activas, para além das abrangidaspelo DL 21/2007, de 29/01 (IVA liquidado pelo adquirente) e o início deutilização ou ocupação ocorreu no ano de 2006, a ora recorrentedeveria ter regularizado, a favor do Estado, o IVA que deduziu relativo abens do activo imobilizado, de acordo com o disposto na alínea g) don.º 3 do art. 3.º do CIVA e alínea a) do n.º 6 e n.º 8 do art. 24.º do CIVA,tendo apurado os valores de imposto em falta subjacentes àsliquidações adicionais recorridas.4.2.4. Vem agora a recorrente alegar que as liquidações em causa seencontram influenciadas pelo IVA deduzido no ano de 2007 e que,deste modo impedimento à dedução do imposto, relativo àquele ano,seria ilegal por ter sido efectuado após ter decorrido o prazo decaducidade. Pois, de acordo com o previsto no n.º 1 e 4 do art. 46.º daLGT, o direito de liquidar o imposto caduca no prazo de quatro anos,contados da data em que ocorre o facto tributário, e que, assim sendo odireito à liquidação em causa teria caducado em 2011/12/31.4.2.5 Salienta-se que no caso em apreço, não se encontra em causapropriamente o imposto deduzido no ano de 2007 ou o reporte do IVAem crédito mas sim, as regularizações de imposto a favor do Estadoque a ora recorrente deveria ter efectuado, na sequência da passagemobrigatória ao regime de isenção (n.º 7 do art. 9.º do CIVA), não tendosido efectuados quaisquer actos de liquidação relativamente a 2007.4.2.6. Contudo, sempre se refere que, não se encontrando no CIVAqualquer limitação temporal à utilização do direito de reporte, nãoparecendo existir em leis gerais qualquer prazo de caducidade quepossa ser aplicável à utilização do direito ao reporte, de igual modo, asregras da caducidade e ou prescrição não se aplicam ao casoespecífico de exercício do reporte, conforme entendimento já expressona informação n. º 1642 da DSIVA, de 2007/06/08.4.2.7. Neste sentido vai o referido Acórdão do Supremo TribunalAdministrativo, Processo n.º 0303/07, de 2007/07/12 que versa sobre oprazo de caducidade em situações de análise do reporte do imposto emcrédito, onde se conclui que a Administração Tributária não estálimitada pelo prazo de caducidade do direito à liquidação, podendoefectuar correcções às declarações dos sujeitos passivos, mesmo queanteriores àquele prazo de caducidade.4.2.8. Importa referir que o prazo de caducidade do direito a liquidaçãoprevisto no art. 45.º da LGT se reporta a actos de liquidação de tributos,que são actos que declaram uma obrigação tributária, o que no casoem apreço, apenas se verificou relativamente ao ano de 2008.4.2.9. Acrescendo que conforme se retira do relatório de inspecção(ponto III), foram verificadas as operações declaradas nas DP’s de IVAdo ano de 2007, devido ao facto de respeitarem a obras relacionadascom a construção do edifício onde passou a funcionar o lar,encontrando-se as mesmas directamente relacionadas com as

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  • regularizações que estiveram na génese das liquidações adicionais oraem questão, referentes ao ano de início de utilização – 2008. Tendosido emitido o Despacho n.º D1201201733 apenas para efeitos derecolha dos elementos relativos a 2007, credencial que, nos termos don.º 4 do art. 46.º do RCPIT, se mostra adequada para o efeito.4.2.10. Nesta conformidade, a argumentação da recorrente no queconcerne à caducidade do direito à liquidação, não pode colherprovimento, por falta de aplicabilidade, à situação em análise, dopressuposto da caducidade previsto no n.º1 e n.º 4 do art. 45.º da LGT.4.2.11. Em concreto, a situação apresentada consubstancia-se ao factode as liquidações adicionais de IVA terem surgido na sequência daobtenção da licença provisória de funcionamento do lar para idosos,tendo a ora recorrente procedido à entrega da declaração dealterações, nos termos do art. 32.º do CIVA, em 2008/04/4 face àobrigatoriedade de passagem ao regime de isenção. Pelo que, aalteração do seu regime de tributação implicava a regularização do IVAdeduzido relativamente a bens do activo imobilizado, cuja utilizaçãoperdurasse no tempo conforme lhe foi informado pelos SIT no relatóriode inspecção. No entanto, não efectuou quaisquer regularizações deimposto a favor do Estado tendo, deste modo, surgido as liquidaçõesadicionais ora em causa.4.2.12 Os SIT fundamentaram as correcções na alínea g) do n.º 3 doart. 3.º CIVA, que sujeita a imposto a afectação de bens por um sujeitopassivo a um sector de actividade isento, assimilando a operação auma transmissão de bens, no que respeita aos bens móveis e nodisposto no n.º 6 e n.º 8 do art. 24.º do CIVA, no que concerne aoimposto deduzido na construção do imóvel onde funciona oestabelecimento. Tendo frisado que dado a mudança para o regime deisenção ser obrigatória, não tinha aplicabilidade a renúncia, nos termosdo art. 12.º do CIVA.4.2.13. Em suma, o que sucedeu no caso em análise foi que a orarecorrente, iniciou a sua actividade em 2003, estando enquadrada noregime normal de tributação tendo posteriormente, em 2008, passadoao regime de isenção por imposição legal ou seja por aplicação dodisposto na alínea 7) do art. 9.º do CIVA. Assim, até ao reconhecimentoda isenção pelas autoridades competentes, foi sujeito passivo de IVA,tendo liquidado IVA (embora apenas nas operações inerentes àconstrução do imóvel – IVA devido pelo adquirente), e deduzido oimposto relativo à aquisição de bens e serviços.4.2.14 A partir desse reconhecimento, a actividade desenvolvida pelaora recorrente passou, então, a estar isenta de IVA, pelo que deveria terprocedido liquidação de imposto relativamente a todos os bens quepassaram a estar afectos a actividade isenta, conforme foientendimento dos serviços.4.2.15. Com efeito, com a alteração de regime, a recorrente passou apraticar operações isentas de IVA, sem direito a dedução do impostosuportado a montante pelo que, a não regularização do imposto, nostermos do art. 24.º do CIVA colocaria em causa a sua neutralidade,dado que a dedução do IVA suportado a montante está ligada àliquidação a jusante.4.2.16. A isenção prevista na alínea 7) do art. 9.º do CIVA abrange asprestações de serviços e as transmissões de bens efectuadas noexercício da sua actividade habitual por quaisquer dos equipamentos

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  • referidos naquela norma pertencentes a pessoas colectivas de direitopúblico ou a instituições particulares de solidariedade social, bem comoas efectuadas por equipamentos sociais pertencentes a quaisqueroutras entidades quando se encontre reconhecida a sua utilidade socialnos termos do Decreto-Lei n.º 64/2007 de 14 de Março.4.2.17. Nesta conformidade, verificando-se que a ora recorrente passoua ter na sua posse a licença de funcionamento ainda que provisória,emitida nos termos do Decreto n.º 64/2007, para o exercício daactividade de serviços de apoio social a pessoas idosas, oestabelecimento passou a encontrar-se licenciado, logo considerado deutilidade social conforme disposto no art. 23.º do referido Decreto-Lei,pelo que os serviços prestados pela recorrente passaram a beneficiarda isenção prevista na alínea 7) do art. 9.º do CIVA, a partir da emissãoda mencionada licença Passando, assim a haver lugar à alteração doseu enquadramento, devendo, para o efeito, ser entregue acorrespondente declaração nas termos do art. 32.º do CIVA.4.2.18. Tal como se verificou no caso em apreço, tendo a ora recorrenteentregue a referida declaração em 2008/04/14, data a partir da qualpassou a estar enquadrada no regime especial de isenção, mostrando-se, assim, devidas as regularizações propostas pelos SIT e,consequentemente, as liquidações daí decorrentes.4.2.19 Face ao exposto não tendo sido carreados ao processoquaisquer elementos novos capazes de comprovar o alegado e não sevislumbrando qualquer ilegalidade relativamente às liquidações orarecorridas, porquanto as mesmas não enfermam de qualquer vício,nomeadamente no que concerne à alegada caducidade do direito àliquidação, conforme ficou demonstrado, tendo a AT agido emconformidade com o quadro legal vigente, somos de opinião nãoassistir razão à recorrente.4.2.20 Pelo que, não se verificando qualquer preterição de formalidadeslegais no procedimento que possam ferir de anulabilidade ou nulidade oacto tributário, deve o presente recurso ser julgado improcedente»(Conforme resulta de fls. 21 a 24 do processo de recursohierárquico em apenso).

    EE) Por despacho de 19/08/2014, foi indeferido o recursohierárquico.(Conforme resulta de fls. 17 do processo de recurso hierárquicoem apenso).

    FF) O despacho a que se refere a alínea anterior, foi notificadoà Impugnante em 29/08/2014.(Conforme resulta de fls. 31 a 33 do processo de recursohierárquico em apenso).

    GG) A petição inicial da presente impugnação foi apresentadaem 01/12/2014.(Conforme registo de fls. 26).

    HH) A Impugnante foi constituída sob a forma de sociedade porquotas, no entanto, em 24/04/2010 registou uma alteração aopacto social, em que foi transformada em sociedade anónima.

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  • (Conforme resulta certidão permanente de fls. 33 a 45).

    II) Em 14/04/2008, na sequência do processo administrativodesencadeado ao abrigo dos Decretos-Leis n.ºs 133-A/97 de30/05 e n.º 64/2007, que culminou com a obtenção de “Alvará”de funcionamento pelo Instituto de Segurança Social, para aprossecução da sua actividade, a impugnante entregoudeclaração alterando o enquadramento, passando a estarisento nos termos do artigo 9.º n.º 7 do CIVA.

    JJ) O Despacho interno n.º 201201733 de 02/12/2012, estedestinado exclusivamente a recolher elementos relativos ao anoeconómico e fiscal de 2007.(Conforme invocado pela Impugnante e confirmado pelorelatório de inspecção).

    KK) Em matéria de IVA, aquando do início de actividade em22/01/203, a Impugnante enquadrava-se no regime normaltrimestral, tendo procedido à sua alteração em 14/04/2008 para“Isento do Art. 9.º do CIVA” em consequência declaraçãoemitida pela Segurança Social.

    LL) No período compreendido entre 01/07/2001 e 14/04/2008, aimpugnante esteve enquadrada no regime nominal trimestral,tratando-se de um sujeito passivo misto.(Conforme invocado pela Impugnante e não contrariado pelaAdministração Fiscal).

    LL) Em 14/04/2008, a impugnante entregou declaraçãoalterando o enquadramento, passando a estar isenta.(Conforme invocado pela Impugnante e confirmado pelorelatório de inspecção).

    MM) E só o fez por imposição administrativa, procedimentoincorrecto, que sempre achou tendo em conta que continuava apraticar operações activas.(Conforme invocado pela Impugnante e não contrariado pelaAdministração Fiscal).

    NN) Actualmente está enquadrado no regime normal trimestraldesde 01/07/2011, é um sujeito passivo misto com afectaçãoreal.

    OO) Em 24/01/2008, entre a Impugnante, na qualidade dePrimeiro Outorgante e a D………………, S.A. pessoa colectivan.º …………….., na qualidade de Segundo Outorgante foicelebrado um contrato de arrendamento, que constitui fls. 18 eseguintes, que aqui se dá por integralmente reproduzido.

    PP) Nos termos da cláusula 1.ª do contrato a que se refere a

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  • alínea anterior, o Primeiro Outorgante arrendou à D……………

    uma área de 5m2, no prédio inscrição na matriz da freguesia da………………, sob o artigo 2876.

    QQ) Nos termos da cláusula 2 do referido contrato, “o localarrendado destina-se à instalação de quaisquer equipamentosde comunicações electrónicas, designadamente, infra-estruturas de suporte de radiocomunicações”.

    RR) Os investimentos feitos na Construção do “Lar de idosos”,foram protagonizados quando a actividade era plenamenteaceite como sendo mistas, em que se praticavam operaçõessujeitas a IVA e operações isentas.(Conforme invocado pela impugnante e não contrariado pelaAdministração Fiscal).».

    *

    2.2 DE FACTO E DE DIREITO

    2.2.1 AS QUESTÕES A APRECIAR E DECIDIR

    Na sequência de uma acção de inspecção, a AT liquidouadicionalmente à sociedade ora Recorrente IVA e respectivosjuros compensatórios. Isto, em síntese, porque considerou quea sociedade, na sequência da passagem obrigatória do regimenormal de periodicidade trimestral ao regime de isenção, tinha aobrigação de proceder às regularizações a favor do Estado doimposto deduzido enquanto se encontrava no regime normal,como lho impunham o art. 24.º, n.º 6, alínea a) para os bensimóveis ( Nos termos do referido preceito legal, impõe-se a regularização do IVA,«considerando-se que os bens estão afectos a uma actividade não tributada, no caso debens imóveis relativamente aos quais houve inicialmente lugar à dedução total ouparcial do imposto que onerou a respectiva construção, aquisição ou outras despesasde investimento com eles relacionadas», designadamente quando «[o] sujeito passivo,devido a alteração da actividade exercida ou por imposição legal, passe a realizar

    exclusivamente operações isentas sem direito à dedução».), e, para os bensmóveis, o art. 3.º, n.º 3, alínea g) (Nos termos do qual se consideram aindatransmissões de bens, para efeitos de incidência do IVA, «[a] afectação de bens por umsujeito passivo a um sector de actividade isento (…) quando, relativamente a essesbens ou aos elementos que os constituem, tenha havido dedução total ou parcial de

    imposto».), do Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado(CIVA), o que não fez.Aquela sociedade apresentou impugnação judicial, pedindo aoTribunal Tributário de Lisboa a anulação daquela liquidação,com os seguintes fundamentos: i) o acto enferma de vício deforma por preterição de formalidade legal, uma vez que foinotificado da liquidação antes do relatório da inspecção, quefixou a matéria tributável corrigida, ter sido notificado àImpugnante; ii) a caducidade do direito de liquidação

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  • relativamente ao ano de 2007 impunha que a inspecção sópudesse abranger o ano de 2008, de acordo com a ordem deserviço emitida, motivo por que enferma de ilegalidade aliquidação na medida em que se refere a correcções dasdeclarações periódicas do ano de 2017; iii) a AT fez incorrectainterpretação e aplicação dos arts. 23.º e 24.º do CIVA, pois noperíodo entre 14 de Abril de 2008 e 1 de Julho de 2011 deviaconsiderar-se como sujeito passivo misto e não como sujeitoexclusivamente isento; por outro lado, ainda que houvesselugar às exigidas regularizações, elas deveriam ser feitas aolongo de 20 anos e não de uma só vez, como pretende a AT.A sentença julgou improcedente a impugnação judicial.Para tanto, começou por apreciar o invocado vício decaducidade do direito à liquidação, para concluir pela nãoverificação do mesmo, uma vez que estão em causaliquidações do ano de 2008 – não se demonstrando que aacção inspectiva tenha abrangido o ano de 2007 –, cujo prazode caducidade teria o seu termo em 31 de Dezembro de 2012,nos termos do disposto no art. 45.º da Lei Geral Tributária(LGT), sendo ainda que esse prazo se deve considerarsuspenso pelo período da inspecção, nos termos do n.º 1 doart. 46.º da LGT, tanto mais que esta não excedeu o prazo deduração que lhe é assinalado no mesmo preceito legal. Assim,e também porque não houve correcção alguma dasdeclarações do ano de 2007, concluiu pela improcedência dainvocada caducidade do direito a liquidação.Depois, a sentença passou a apreciar o invocado vício deviolação de lei por errada interpretação e aplicação dasdisposições do CIVA que impunham a regularização do impostodeduzido. Considerou, em síntese, que a passagem daImpugnante do regime normal para o regime de isençãoimpunha a regularização do IVA deduzido, regularização que aAT, perante a inércia da sociedade, promoveu através daliquidação adicional impugnada. Mais considerou que o facto dea Impugnante após 2011 ter ficado enquadrada no regimenormal trimestral (por força de uma actividade relacionada comcedência de espaço para a instalação de antenas de umaempresa telecomunicações) e dever agora considerar-se umsujeito passivo misto, não influi na sua situação no períodocompreendido entre 14 de Abril de 2008 e 1 de Julho de 2011,período em que se manteve no regime da isenção.Inconformada com a sentença, a Impugnante dela recorre paraeste Supremo Tribunal Administrativo. Alega, em síntese, que asentença não se pronunciou sobre todas as questõessuscitadas na petição inicial, deixando por apreciar a invocadaquestão da ilegalidade da liquidação por ter sido notificadaantes da notificação do relatório final da inspecção e que fixou amatéria colectável; que o conhecimento dessa questão não

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  • pode considerar-se prejudicado pela decisão encontrada peloTribunal Tributário de Lisboa, motivo por que a sentençaincorreu em nulidade por omissão de pronúncia, como resultado disposto no n.º 1 do art. 125.º do CPPT. Mais alega que asentença fez errado julgamento ao não reconhecer acaducidade do direito à liquidação e ao considerar que a ATactuou legitimamente ao exigir as regularizações do IVAdeduzido.Assim, as questões a apreciar e decidir são as de saber se asentença recorrida i) enferma de nulidade por omissão depronúncia (cfr. conclusões A a J) e incorreu em erro dejulgamento ii) por não reconhecer a caducidade do direito àliquidação (cfr. conclusões L a AD) e iii) por considerar que aImpugnante estava obrigada às regularizações do IVA deduzido(cfr. conclusões AE a AI).

    2.2.2 DA NULIDADE POR OMISSÃO DE PRONÚNCIA

    Esta nulidade, prevista no n.º 1 do art. 125.º do CPPT e naalínea d) do n.º 1 do art. 615.º do CPC, está directamenterelacionada com o comando constante do n.º 2 do art. 608.ºdeste último diploma, segundo o qual o juiz deve resolver todasas questões que as partes tenham submetido à sua apreciação,exceptuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pelasolução dada a outras.Tendo presentes os fundamentos invocados pela Impugnantena petição inicial – e que acima deixámos resumidamenteenunciados – é fácil concluir que a sentença deixou porconhecer o respeitante à invocada preterição de formalidadelegal por a notificação da liquidação ter precedido a notificaçãodo relatório que fixou o montante do imposto.Por outro lado, ao contrário do que sustentou o Juiz do TribunalTributário de Lisboa no despacho referido em 1.4, não podeconsiderar-se que o seu conhecimento tenha ficado prejudicadopela solução dada à causa, designadamente pela solução dadaà questão da caducidade do direito à liquidação. Como bemreferiu o Procurador-Geral Adjunto neste Supremo Tribunal, talquestão «não ficou prejudicada pela análise da questão dacaducidade do direito de liquidação (apreciada na sentença deforma manifestamente elíptica), na medida em que ofundamento fáctico-jurídico invocado é distinto, consistindonuma alegada preterição de formalidade legal, inquinante davalidade do acto final do procedimento de liquidação».Impõe-se, pois, a anulação da sentença por omissão depronúncia e o regresso dos autos à 1.ª instância paraconhecimento da referida questão. Na verdade, na procedênciadeste fundamento do recurso, que prejudica o conhecimentodos demais, e sabido que o Supremo Tribunal Administrativo

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  • actua na qualidade de tribunal de revista – pelo que não pode,na sequência da declaração de nulidade da sentença, conhecerem substituição de questões sobre as quais não foi emitidapronúncia –, impõe-se determinar a baixa dos autos ao tribunala quo para que aí se proceda à reforma da sentença nostermos previstos nos arts. 679.º e 684.º, n.º 2, do CPC.

    2.2.3 CONCLUSÕESPreparando a decisão, formulamos as seguintes conclusões:I - Incumbe ao juiz a obrigação de apreciar e resolver todas asquestões submetidas à sua apreciação, independente da suapertinência ou viabilidade, ficando apenas exceptuado oconhecimento das questões cuja apreciação e decisão tenhaficado prejudicada pela solução dada a outras (cfr. art. 608.º, n.º2, do CPC).II - A violação dessa obrigação de conhecimento determina anulidade da sentença por omissão de pronúncia [cfr. art. 125.º,n.º 1, do CPPT e art. 615.º, n.º 1, alínea d), do CPC], que oSupremo Tribunal Administrativo não pode suprir (cfr. art. 684.º,n.º 1, do CPC).

    * * *

    3. DECISÃO

    Em face do exposto, os juízes da Secção do ContenciosoTributário deste Supremo Tribunal Administrativo acordam, emconferência, em conceder provimento ao recurso, declarar nulaa sentença por omissão de pronúncia e ordenar a baixa dosautos à 1.ª instância para que proceda à sua reforma nostermos supra expostos.

    Custas pela Recorrida, com dispensa do remanescente da taxade justiça, atenta a simplicidade da questão apreciada (cfr. art.6.º, n.º 7, do Regulamento das Custas Processuais).

    *Lisboa, 31 de Janeiro de 2018. - Francisco Rothes (relator) –António Pimpão – Casimiro Gonçalves.

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