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Actas do "'Col6quio Internacional sobre Emigrasão e Imigração em Porbgal (ç4c. m-xx) Comissão Organizadora Maria Beatriz Nizza da Silva Maria Ioannis Baganha Maria José Maranhão Miriam Halpern Pereira FRAGMENTOS

Actas do 'Col6quio Internacional sobre Emigrasão Imigração ... · época, registos de passaportes e de fianças, bem como correspondên- cia particular e administrativa5. 2. Famflia

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Actas do "'Col6quio Internacional sobre Emigrasão e Imigração

em Porbgal (ç4c. m-xx)

Comissão Organizadora

Maria Beatriz Nizza da Silva Maria Ioannis Baganha Maria José Maranhão

Miriam Halpern Pereira

FRAGMENTOS

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LÓGICAÇ MGRATÓRIAÇ NO PORTO OITOCENTISTA

1. Introdução

..." sendo ineficazes todas as medidas directas que tenderem a evitar a emipçáo , é preciso promover o trabalho, a indústria e os lucros d'ella provenimtes a f im de que os Habitantes tenham mais interesse em permanecer no Paiz do que em emigrar para outro, aonde jttlgao ter, ou effectivamente tem, mais vantagens reaes; e é este sem dúvida o pensamento dos mancebos que ou por deliberaçáo própria, ou de seus parentes, emigrá0 para o Brasil; mas como ndo é possfvel mudar de repente o actual estado de coisas, deve o mencionado Governador Cicil empregar todo o seu zello em melho- rar pela sua parte a condiçdo de seus Administrados, sem contudo abandonar o emprego de a1 mas medidas preveniivas e legais; e o 5" mal acabará com o tempo."

Assim respondia o ministro Agostinho Josci Freire, em Abrii de 1836, ao Governador Civil do Porto, quando este ihe chamara a atenção para a necessidade de tomar medidas face ao incremento que se verificava na corrente emigratória para o Brasil, logo que se apresentara na Câmara Legislativa um projecto de lei relativo ao recrutamento2. Mas o tempo nada mais fará do que exacerbar o êxodo e a emigração inscrever-se-á duradouramente nos quadros de pato- logia social da Nação diagnosticados pelos intelectuais oitocentistas.

De resto, à "liberalidade" atada em epigrafe seguir-se-á uma política de restrição à emigração, criando peias burocráticas com o objectivo de evitar o êxodo massivo3. Algumas propostas legislativas restritivas podem relacionar-se com os projectos de colonização em Afnca (como é o caso das subscritas por Sá da Bandeira em 1838,1842 ou na década de 50), outras medidas surgem num contexto de

* Assistente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

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escândalos com o engajamento e a "escravatura branca" ou a emigra- ção clandestina, surgindo ainda as de alcance geral e relacionadas com o novo ordenamento jurídico do cidadãos, como é o caso das limitações inerentes ao serviço militar4.

Procurando ultrapassar este discurso patológico, em parte refle- xo da disputa surda entre o Estado e a Família sobre a tutela do indivíduo, a presente comunicação tenta a apreensão do fenómeno migratório enquanto processo, no campo mais vasto das práticas sociais, tendo como espaço de observação o distrito do Porto nos meados do século XIX. Para isso, no domínio da pesquisa empírica, privilegia-se a documentação de natureza local, mais próxima do viver e do sentir dos agentes históricos envolvidos nos fenómenos, tal como o testamento, o dote e a doação, imprensa e monografias da época, registos de passaportes e de fianças, bem como correspondên- cia particular e administrativa5.

2. Famflia e redes migratórias

Na realidade, a emigração é fenómeno antigo e enraizado em toda a região do Noroeste português. Zona de minifúndio, há quase sempre excedente de mão-de-obra nas unidades familiares, que, estrategicamente, importa rentabiliza; ou excluir, consoante a com- posição e o estádio do ciclo de vida do agregado. Neste contexto, as migrações para as cidades (Porto e Lisboa), para os campos do Sul e mesmo para Castela, são um factor de equilíbrio da economia domés- tica, permitindo quer o desagravamento dos consumos familiares, quer a injecção de capital em numerário, indispensável a pequenas obras, pagamento de dívidas, aquisições de terreno, utensilagem ou gado, bem como a processos de negociação interfamiliar por via dotal. Migrações que atingem grande intensidade já pelo século XVI16, implicando às vezes quase toda a componente masculina das famílias, e que deixam entrever formas de inserção social, ainda hoje perceptíveis no quotidiano rural: descendo ao nível paroquial não é difícil encontrar casos como os de Bougado, onde, já por 1680, na festa religiosa anual, um dos andores da procissão é, tradicionalmente, pago e reservado pelos "rapazes que costumão hir ao A l e m t e j ~ ' ~ .

Num contexto regional de grande mobilidade geográfica, a emi- gração para fora do Reino emerge, assim, como uma nova oportuni- dade, de natureza colonial, tendo no ouro das minas o primeiro grande atractivo e, na sua sequência, a actividade comercial das cidades portuárias brasileiras. Se analisarmos os testamentos da época e nos detivermos naqueles em que há noticias de familiares

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emigrados, torna-se claramente perceptível a política de exclusão seguida pelos agregados domésticos, através da colocação dos filhos masculinos no Brasil. O verbo "impor" é, nesta situação, muito utili- zado para expressar a decisão paternal de conduzir os fiihos à emigração, com ligeiras variações sobre o seguinte exemplo:

"Gastei com o meu filho loaquim quando o empuz para o Brazil, com pagar a passagem, as roupas e preparos cincoenta mil réis em metal, cujos lhe caberão em conta de seu quinhao"s.

Naturalmente que esta emigração, pela distância e tempo que envolve, tornando-se quase sempre definitiva ou com tempo de retorno mais longo, traduz uma rentabiiidade familiar muito mais contingente, pois o processo de comunicação interrÒmpe-se por lon- gos períodos e as remessas de verbas são mais incertas. Esta emigra- ção de longa distância precipita a emancipação dos filhos em relação ao poder paternal, pelo que os ressentimentos mútuos vêm ao de cima, na hora de balanço que normalmente o testamento representa: se alguns referem as verbas enviadas pelos fiihos emigrantes para comprar parcelas de terrenos, construir partes de casa ou, simples- mente, para sustento ou "aflições", outros apenas têm para ajustar as contas da partida, e não poucos se lamentam por não terem noticias deles há muitos anos ou por nada terem lucrado com a emigração por si promovida.

Porém, mesmo no século XIX, enquanto o Brasil não proceder a uma política deliberada de introdução de europeus através do seus empreendimentos de colonização interna, a emigração para o Brasil constituirá uma via muito selectiva no contexto destas migrações do Noroesteg. Antes dos célebres contratos de locação de serviços, a via brasileira quase só estava ao alcance de elementos de f-lias com algumas posses, capazes de suportarem os custos da viagem e, frequentemente, de algum tirocínio profissional ou de alfabetização, ou com possibilidades de inserção nas redes comerciais que, com base na cidade do Porto, alimentavam um tráfico intenso, embora decrescente. O envio de caixeiros para o Brasil pelas casas de comér- cio do Porto, como forma de alargar as respectivas relações, através da consignação de produtos, era um processo habitual que propul- sionava muitos deles ao estabelecimento e à riqueza. O mais usual, porém, era a simples carta de recomendação dos seus caixeiros para amigos e conhecidos do Brasil, cartas que assumiam uma carácter mágico no imaginário da emigraçáo, e cujo teor se pode exemplificar com o seguinte extracto:

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"O meu recomendado Manuel Vilaça de Araujo Veiga quefoi de passagem no Anibnl para a casa de Jose Antonio da Costa precizando de algum dinheiro para compra defato, ou outras baga- tellas, V M . lhn prestará bnn como concorrerá no cazo de inda ndo estar arrumado para qrteseja arranjado em hua boa Cnza de Negócio, de que muito se faz digno pelo seu adiantamento e boa condncta ate o presente"10.

As redes familiares ou de vizinhança eram, assim, as responsá- veis pela introdução de grande número de emigrantes no Brasil. Sendo difícil quantificá-las, dada a sua natureza informal, só o estudo qualitativo nos permite delinear os seus contornos. Ainda assim, e apesar do carácfer restritivo da sua informação, é útil observarmos uma fonte raramente utilizada, que, em geral, nos fornece a indicação do recomendado para os casos de menores de 14 anos com passapor- te individual: referimo-nos aos livros de registo de fianças para obtenção de passaportes. Um exercício local, sobre Vila de conde", revela-nos que cerca de metade destes jovens emigrante vão ao cuidado dum tio (19%), dum irmão (Ia%), do próprio pai (12%) ou de um primo (~O/O), enquanto a outra metade é recomendada a antigos vizinhós ou amigos, englobando-se ainda aqui situações de pa rk- tesco por afinidade ou graus não identificados pelo observador.

Nesta linha, a via do compadrio também não pode ser esquecida: os brasileiros de retorno eram comvletamente assediados vara Da-

I

drinhos de inúmeros afilhados, casos existindo de apadrinhamentos por procuração. Os objectivos eram evidentes: se havia sempre a hipótese, ainda que remota, de serem lembrados na herança, o-mais certo era a "chamada" ou a carta de recomendação para conhecidos, com estes a recolherem o recém-chegado, providenciando-lhe aloja- mento e inserção profissional ou "arrumação", como então se dizia, acto comercial que levavam a crédito, solvido à medida que o imi- grante recebesse os primeiros salários. O Conde de Ferreira, conhe- cido "brasileiro de torna- viagem", é apenas um exemplo, nesta área, quer pelos inúmeros afilhados que na hora de testar não consegue recordar por completo, recomendando a apresentaqão de certidão de baptismo para o recebimento da lembrança que a todos deixa, quer pelas largas dezenas de cartas de recomendação que patrocina em favor de afilhados, familiares e amigosi2.

Mas mesmo na emigração de maiores de 14 anos e de adultos, o processo burocrhtico de individualização dos passaportes oculta e transfigura a imagem real do emigrante, pois muitas vezes este não segue isolado. Uma leitura de pormenor dos registos de passaporte e das suas anotações marginais permite detectar que, com frequência,

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a emigração de mulheres e crianças isoladas não representa senão o processo de reagrupamento familiar, casos existindo em que o emi- grante original retomou para proteger a viagem dos familiares; outras vezes, os emigrantes acompanham outros já instalados no Brasil e quevieram a Portugal em viagem de recreio, levando consigo criados ou caixeiros da terra de origem; sublinhe-se ainda que, nas décadas de 1830 e 1840, o modelo grupal das migrações sazonais se transpõe para o Brasil, com diversos indivíduos do mesmo concelho, geralmente com profissões de ofícios (carpinteiros, pedreiros, estu- cadores) a embarcarem em conjunto, por vezes levando um clérigo da mesma origem em companhia.

~aturalmente que a evoIução social e económica dos dois países e a intensificação do apelo brasiieiro à entrada de mão-de-obra europeia, com o recurso às agências de colonização e a processos de engajamento dos grupos soaais mais pobres e sem tradição emigra- tória, introduzem alterações de monta neste quadro, que tenderá a refluir para dar lugar à emigração maciça e- pouco qualificada à medida que avançamos no século XD(. Na segunda metade do sécu- lo, à emigração tradicional que radica as suas raizes na época colonial e que alimentava 2 a 3 milhares de saídas anuais pela barra do Porto, vem sobrepor-se, de forma mais nítida, uma série de fluxos irregula- res que não é difícil correlacionar com dificuldades locais e regionais: as crises de subsistências de 1854-56, os problemas da viticultura, as crises comerciais, a escassez local de algodão por altura da guerra c i d americana, a desestruturação de sectores artesanais pela intro- dução da maquinaria (por exemplo, os tanoeiros), problemas de arrendamento rural na sequênaa das leis de desamortização, a rees- truturação da pesca pela introdução dos barcos a vapor e novas técnicas de pescar, situações de re-emigração por alturas de quebra de câmbio, etc., criando o contexto adequado para a política de subsídio à imigração para o Brasil.

obviamente que a emigração provoca sucessivos movimentos de recomposição de mão-de-obra em toda a região, produzindo-se a compensação através de fórmulas mais precárias e sazonais. Para a zona litoral (Gaia, Matosinhos, Vila do Conde, Póvoa de Varzim), onde a emigração era mais intensiva, deslocam-se criados e artífices de zonas mais afastadas e interiores, não faltando os galegos, disper- sos pelo distrito, mas com forte concentração na cidade13. O Porto, de resto, só por si era responsável por um importante f l u o de vaivém semanal de trabalhadores dos arredores que para lá se deslocavam, pernoitando de segunda a sábado nas casas de malta, para retoma- rem à aldeia no fim-de-semanal4. Em 1867, em Lousada, num conce- llno mais afastado da cidade e do mar e aonde subsistem as antigas

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correntes para o Sul, esta mobilidade é descrita do seguinte modo pelo respectivo administrador do Concelho:

... "a d~zerença para menos, queseencontra na somma dos fogos provém da migraçdo e emigraçao de familias para fora do concelho, da província e do paiz. Os lavradores caseiros com suas fundias operam succesivammte estas migrações, deixando a cultura de t m a s que trnziam dearrendamento. 0 s proprietários, residentes no concelho,ficarn a cultivaras propriedades arrendadas, tomam ao seu serviço um ou dois criados, na maior parte naturais e residentes no concelho. A saída dos colonos com suas familias, quase sempre numerosas importa abatimentos na somma de fogos e de habitantes. Outros chefes de familias também mudam de residência. As cons- tantes emigrações para o Brasil de chefes de familias, defilhos, e de familias inteiras abatem anual e sensivelmente a populaçiio em numero de fogos e habitantes. De mais, de certasfiegaiesias d'este concelho vam trabalhadores para o Alemtejo, Sevilha e outras terras de Hespanha, aonde se demoram bastantes ~ n n o s " ' ~ .

3. Pe$l do emigrante

No centro de constrangimentos diversos, o emigrante é, em grande parte, o alvo de um jogo, em que a família aposta para um determinado projecto de vida, já que a emigração representa uma saída profissional ao lado de outras, e a quem o Estado procura dificultar esse projecto, através de medidas inibitórias de natureza burocrática ou fiscal. É um jogo difícil de jogar, particularmente no século XD(, tempo de transição entre o lento esvaziamento do poder familiar, baseado em relações de dependência, e a afirmação civil do cidadão a que o Estado, atraves da codicologia e de múltiplos regu- lamentos, procura dar uma configuração de direitos e deveres para com a Nação. Que melhor exemplo de vítima do que este jovem emigrante, tantasvezes clandestino a fugir ao recrutamento epor isso sujeito a rudes penalisações, que começa a chegar ao Brasii despro- tegido, impulsionado por uma representação social da emigração que vai ficando desfasada do novo tempo, na ignorância de que a preparação intelectual e profissional é agora condição "sine quanon" para a integração e o sucesso, à medida que se vai ultrapassando o contexto de natureza colonial? Trata-se, no fundo, da oposição entre interesses individuais, familiares e nacionais. As decisões familiares confrontam-se com o discurso do Estado sobre o indivíduo, ou de certa forma, a mentalidade malthusiana confronta-se com a mentali- dade populacionista. Neste contexto, o perfil do emigrante não pode deixar de reflectir tais contradiç6es.

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. ; Ocorre, então, perguntar: Quem emigra? Como se apresenta e como evolui o perfil do emigrante no decorrer do período em estudo? Para esboçar uma resposta a estas questões, vamos socorrer-nos da informação contida nos livros de registo de passaportes16 construin- do alguns indicadores sumários a partir dos dados de identificação ai apresentados, intervalados de 20 anos, com iníao em 1839. Indica- dores estes que, obviamente, apenas representam a emigração legal.

3.1. Sexo, idade e estado civil

A emigração que, no século passado, partia do Porto para o Brasil era constituída na sua grande maioria por jovens do sexo masculino. As mulheres, de início, tinham uma participação mqito restrita nessa corrente demográfica (cerca de 5% em 1839), embora a sua importân- cia vá aumentar com o decorrer do tempo: estabílizando nos 10% durante a segunda metade do século, surgem na viragem secular já com 28%, isto é, em cada 4 emigrantes um 6 já do sexo feminino (Quadro I)17. Sublinhe-se que este aumento se fica a dever às altera- ç6es estruturais da corrente emigratória, com um peso crescente da componente familiar, dai que uma parte substancial do sexo femini- no seja constituído por crianças de tenra idade, numa emigração passiva que acompanha a movimentação do núdeo conjugal.

No entanto, a imagem prevalecente desta emigração é a do jovem com idade próxima dos 14 anos (idade mítica na sociedade tradicio- nal, pois correspondia à entrada na vida activa e, frequentemente, ao afastamento da casa paterna). Os dados empíricos ajustam-se a esta imagem do senso comum, pois a idade modal para os diversos anos oscila entre os 13/14, se exceptuarmos o ano de 1879 (com a moda nos 26 anos), ano que apresenta características espeaais, como vere- mos.

A dispersão etária é, porém, muito grande, com tendeiaa para o alastramento a todos os escalões: relativamente concentrada em volta dos 1424 anos, em 1839, o que se traduz numa idade média de 19.7 anos, a mancha etária alarga-se depois a idades mais tardias, fazendo subir aquele indicador para níveis mais elevados (no caso concreto, 27,32 e 31 anos de idade média para os restantes períodos em análise). É esse alastramento progressivo que a mancha gráfica (Gráfico I) nos traduz, com a peculiaridade do encurtamento drástico do escalão 15-19 anos, em cuja idade se exigia a fiança ao reatamen- to militar. Esta exigência burocrática, de custos financeiros elevados, ser& torneada de dois modos: precocidade da emigração tradicional (repare-se que a moda desce de 14 para 13 anos após a legislação miiitar que ocorre na década de 50) e clandestinidade (saída por Vigo,

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falsificação dos papéis exigidos, viagem sem documentação). Daí que o encurtamento da emigração no referido escalão et&rio tenha de ser encarado com reservas, pois existem fortes possibilidades de nele se concentrar a clandestinidade.

Gráfico 1

Evolução da estrutura etária na emigração (Porto)

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% - -Os indicadores sobre o estado avil (Quadro II) surgem, na.hiral- mente, em estreita correlação com os anteriores. Se em 1839 os solteiros são a esmagadora maioria (92%), essa situação vai-se ate- nuando com o tempo e o ano de 1879 representa uma viragem, na medida em que os homens casados são já a maioria do fluxo (52%). A partir daqui toma-se muito claro o envelhecimento da população migrante, revelando-se a ultrapassagem do modelo tradiaonal, em que este surgia fortemente marcado pela juventude. Com ligeiras oscilações, tal configuração é já idêntica à do final do século.

Subjacentes a esta emigração de homens casados estão dois fenómenos - a emigração de famílias e a dispersão familiar (partin- do os homens e ficando as mulheres e crianças na terra) - com efeitos opostos ao nível dos refluxos económicos. A emigração de famílias deve ser encarada como um movimento de nãoretorno, já que a totalidade do agregado se transplanta para o Brasil, ai crescendo e se integrando os filhos, aí se investindo o capital doméstico, reduzin- do-;e drasticamente a hipótese de envio dGemessas. Esta emigração familiar, que nos anos 50/60 teve um forte impulso com os contratos de locação de serviços para a agricultura, vai também ser incentivada a partir da década de 80, com a gratuitidade das viagens, subsidiadas por governos estaduais, como é o caso do de S. Paulo. Mas a análise de pormenor dos passaportes de 1879 mostra-nos sobretudo um fenómeno conjuntural: as famdlias que partem neste ano são, na sua maioria, de negociantes e comerciantes, na casa etária dos 40/50 anos. Tal como a literatura da época nos diz, ganha expressão quan- titativa o fenómeno da re-emigração em face da crise cambial que rebentou em 187618. São antigos emigrantes que, dependentes de rendimentos do Brasil, vendo prolongar-se a situação desfavorável do câmbio brasileiro e a consequente erosão na economia doméstica, decidem retirar-se mais uma-vez (talvez definitivamente) para o Brasil, levando agora consigo a mulher e os filhos. Na mesma linha se deve entender a emigração de mulheres casadas, no processo de - -

reagrupamento familiar, já que agora se tornavam débeis-as remessas enviadas pelos maridos: também nesse ano de 1879 as mulheres casadas passam a representar 55% da emigração feminina, num comportamento similar ao do sexo oposto. Paralelamente a este aspecto conjuntural, dihinde-se e prossegue a partida isolada de homens casados (embora por vezes sigam acompanhados de um ou dois filhos na casa dos 10/12 anos), promovendo-se deste modo a desagregação familiar, com o núcleo conjugal repartido pelos dois espaços, vertente esta favorável, em princípio, ao retomo e ao envio de remessas. Claro que tais modificações se ligam estreitamente à modificação do estatuto profissional do português em terras brasi-

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leiras, já que o mercado profissional do comércio não podia absorver as quantidades crescentes de emigração, nem a qualificação de par- tida o permitiria. O que o Brasil agora pretende é mão-de-obra maciça, quer para as plantaç6es quer para os grandes empreendimentos da modernização (estradas, vias férreas, portos) e seus efeitos a jusante, que, sob o afluxo de capitais e gestores ingleses, se verificam na segunda metade do século XIXI9 .

Gráfico I1 - Estado Civil n ~ )

1839 1859 1879 1899

Anos

Casados

H Viúvos

3.2. Profissões

A análise das profissões dos emigrantes, i3 hora da partida, apresenta alguns problemas de difícil contorno para uma análise quantitativa: a sua indicação nem sempre é sistemática e s6 surge para os titulares do passaporte (ignorando os acompanhantes), quase só para os aduitos ou para os jovens com mais de 14 anos. Como o fluxo tem uma forte componente de jovens abaixo daquela idade, principalmente nos primeiros anos do nosso estudo, compreende-se facilmente a dificuldade em atribuir uma profissão a quem acaba de sair de casa e ainda não exerceu qualquer tipo de ocupação específica. Muitos desses jovens destinam-se ao lugar de marçano, primeira etapa da via comercial, passando depois a caixeiros e,eventualmente, a negociantes/comerciantes por conta própria. No entanto, 6 natural a sua dispersão por outras profissões, já que nem sempre as recomen- d a $ & ~ funcionavam exemplarmente e muitas vezes nem sequer havia recomendações, como no período "negro" do engajamento que se tornou responsável pela transposiqão de jovens de baixa condição social, desprotegidos, à mercê do locador de serviqos.

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. . De qualquer modo, e tendo em conta as referências obtidas pela analise dos passaportes, podemos observar algumas iinhas de força das estrumas profissionais em jogo (Quadro III). Apesar de um espectro profissional relativamente largo mas característico de uma sociedade arcaica, marcada pela ruralidade, artesanato e comércio, podemos discernir algumas tendências evolutivas na extracção s e cial do emigrante. Em 1839, a emigração concentra-se sobre duas ou três profissões, com o relevo maior para o comércio (caixeiros/nege ciantes) e para os lavradores, não esquecendo o peso relativo de alguns letrados (eclesiásticos, estudantes e bacharéis). Há depois umas dezenas de artesáos, dos mais diversos ofícios, dos quais só a profissão de carpinteiro apresenta algum significado quantitativo. Esta tendência bipolar acentua-se em 1859: agora, cres,ce muito o peso dos rurais, espeaficarnente de colonos engajados, devido à grande procura por parte do Brasil para os projectos de colonização interna, das facilidades contratuais existentes com o adiantamento das via- gens sobre o trabalho a prestar e a acção, muito denunciada pela imprensa e autoridades, dos engajadores; por outro lado, acentua-se o peso dos "negociantes", designação ambígua que tanto pode desig- nar comerciantes de grosso ou médio trato como os de pequena escala. Em todo o caso, ao lado da presença urbana tradicional dos portugueses há agora também uma clara direcção rural, rumo às plantações, que de momento se torna maioritária. Saltamos vinte anos e o espectro profssionai matiza-se e diversifica-se: diminui a extracçáo agrícola da emigração, aumenta a componente comercial e emergem outros domínios ocupacionais. Em 1879, as profissões liga- das à pesca dão um grande salto (são quase todos da Póvoa, com alguns de Bouças e Vila do Conde), denotando a crise laboral do sector pela introdução de novas técnicas de pescar2O; o mesmo se diz do artesanato, com relevo particular para os pedreiros (289) e carpin- teiros (233), como se alguma crise da construção civil tivesse gerado o pânico no sector, mas a fuga atinge inúmeras profissões, desde trolhas a alfaiates e ourives, passando pelos domínios da metalurgia. E, sobretudo, repare-se no grande peso dos indiferenciados, onde a designação de "trabalhadores" recobre geralmente profissões de tra- balho braçal, destinados aos serviços pesados. Face à exasperação geral deste ano, podemos encarar o de 1899 como sendo de alguma acalrnia, embora se mantenha a grande diversidade profissional, mas não tão polarizada em redor de algumas ocupações específicas: permanece, no entanto, a hemorragia da população marítima, o artesanato continua a ser um sector decisivona emigração (sobretudo na construção civil), o comércio assegura a corrente tradicional e os "trabalhadores" indiferenciados são, no final do século, o núcleo

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maioritáno, marcando definitivamente a mudança estrutural que se verifica no fenómeno migratório, agora a precisar de ser lido num contexto aonde a tradição representa cada vez menos e as condições de proletanzação e de indiferenciação social passam a dominar o mercado de trabalho.

Sublinhe-se, porém, a dificuldade inerente à classificação, resul- tante da ambiguidade das designações profissionais. Veja-se, por exemplo, o caso dos negociantes, proprietários e capitalistas para quem a emigração recobre situações específicas: trata-se, em muitos casos, de re-emigração, em que "brasileiros" de retomo se vêem obrigados a voltar ao Brasil por motivos cambiais, para tratar de negócios mal parados deixados a caixeiros e procuradores, para retomar actividades esquecidas por algum tempo, muitas vezes de- pois da tentativa de realização em Portugal com pouco sucesso no retorno, como nos dizem alguns estudos biográficos. Por outro lado, indicia-nos que a emigraqão para o Brasil, para certos sectores, não é um movimento único, numa viagem eivada de dificuldades e des- motivadora, antes comporta movimentações variadas, numa pendu- laridade alargada, que não respeita apenas As viagens para visita h família e para temporadas de banhos (das Caldas ou do mar), mas que tem muito a ver com a gestão dos negócios comerciais ou rurais, por exemplo, com retiradas estratégicas para o Brasil com vista a objectivos específicos no campo do investimento ou como forma de superar crises de liquidez21.

3.3. Naturalidades

Na sua configuração burocrática, o passaporte é um elemento de identificação para os emigrantes naturais do Porto ou aí residentes h6 pelo menos seis meses, pois os de residência exterior ao distrito, embora viessem normalmente embarcar ao Porto, deviam munir-se dos respectivos passaportes nos seus distritos. Até 1862, o Govemo Civil do Porto, enquanto responsável último pelo embarque, limita- va-se ao "visto" nestes passaportes de origem exterior, com registo em outros livros apropriados para esse efeito.

Neste contexto, um indicador como a naturalidade inscrita nos registos de passaportes reveste-se de um duplo significado, pois, para além da informação sobre a origem geográfica do emigrante, permite-nos tirar algumas ilações sobre a relação existente entre emigração e migrações internas, nomeadamente sobre o papel da cidade e da sua área envolvente nos movimentos de atracção e repulsão da população migrante, particularmente do seu papel como primeiro patamar de uma emigração por etapas.

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-: -&sim, segundo os dados obtidos (Quadro TV), em 1839, apenas 51% dos emigrantes têm a sua natiralidade no distrito, sendo os restantes aí residentes mas de naturalidade exterior, com o distrito deBragaarepresentars6 por si 24% do fluxo emigratório. Os naturais do distrito do Porto sobem para 83% em 1859, descem para 65%) em 1879, e atingem os 90%, em 1899, em oscilações cíclicas. Quer dizer, quando o apelo do exterior não exerce muita pressão e a partida se apresenta com um custo elevado, as populações rurais dirigem-se numa primeira fase para a cidade e arredores, numa atracção urbana que é também incentivada com os momentos de estabilidade e crescimento económico. Aí se radicam ou procuram o pecúlio que lhes permitirá fazer face aos "preparos" da partida ulterior, bem como se Ge rem nos canais de irdormação existentes sobre a emigração, cujo caminho tomam posteriormente, ou porque era esse o seu objectivo inicial ou porque passou a ser, em função de velhas ou novas expectativas. A etapa urbana ultrapassa-se quando o apelo exterior exerce grande pressão (através de contratos, viagens subsi- diadas, etc.) e a cidade apresenta sinais de crise: o f l u o edgratório faz-se então rápida e directamente das terras de naturalidade, pelo que, com passaporte emitido no Porto, partem quase só os naturais do seu distrito.

No que se refere à incidência local, os dados falam-nos de uma emigração generalizada a todo o distrito, embora inicialmente mais intensa nos concelhos litorais do Porto (a cidade do Porto, Gaia - que chega a liderar o número de saídas em 1879 -, Vila do Conde), zonas aonde permanecem fortes ligaç6es à emigraGo do período colonial, através de laços familiares, de vizinhança e de tradição. Uma análise de pormenor, caso a caso, revela-nos que é desta região que saem a maioria dos caixeiros, negociantes e muitos artesãos. Pelo contrário, dos concelhos mais interiores (Amarante, Felgueiras, Baião) provém a maior parte dos rurais e trabalhadores braçais, como seria de esperar de um pais cujo "dualismo" 6 antigo e em que o litoral significa apenas uma estreita faixa junto ao mar.

3.4. Alfabetização

Não é possível falar de um nível estável de analfabetos ou de alfabetizados nos fluxos emigratórios com origem no Porto, até porque é o domínio que mais dúvidas suscita nos registos de passa- portes e de anotação mais tardia, só surgindo nos anos 60 (frequen- temente ignorado, o formulário nem sequer previa espaço para o seu registo específico, constando apenas de anotações marginais). Embo- ra haja urna tradição de alfabetização, ou seja, de aprendizagem dos

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rudimentos de ler, escrever e calcular como prática usual na prepa- ração da emigração tradicional, destinada aos lugares no comércio ou administrativos, como nos elucidam diversos testemunhos, desde testamentos, artigos de imprensa ou estudos biográficos, é difícil traçar-lhe os contornos. Uma aproximação quantitativa, a partir das anotações de "sabe escrever" ou "não sabe escrever" relativa apenas aos titulares de passaporte e não aos acompanhantes, diz-nos que os níveis de alfabetização oscilam conforme o maior ou menor peso dos emigrantes de origem rural, conforme a sua extracção socioprofissio- nal. Em 1879, ano em que se verifica um claro peso de emigrantes originários da agricultura, da pesca e indiferenciados a taxa de analfabetismo sobe aos 39%. Já em 1899, ano de grande incidênaa de profissões comerciais e de serviços e com 90% de naturais do distrito, o analfabetismo fica-se pelos 32%. Mas a emigração massiva das massas rurais, por engajamento (nos anos 50/60) ou por contrato livre (a partir da década de 80), bem como de trabalhadores braçais, alteram radical e continuamente este quadro, passando o analfabeto a ocupar um lugar crescente nos fluxos migrat6riosu.

Resumindo: aos caixeiros e negociantes que davam consistência ao caudal emigratório das décadas de 30 e 40 do século passado vêm juntar-se os rurais (anos 50) e indiferenaados (anos 70), acentuando- -se paralelamente e em grande escala a componente artesanai e piscatória; a todos estes juntam-se, finalmente, proprietários e pro- fissões liberais, num fluxo cada vez mais heterogéneo. Da emigracão jovem e individual do início, passa-se a um peso cada vez maior de casados, para no final do século ser já muito intensa a transposição de famílias. Tal como dizia Sampaio Bruno, perante o êxodo geral dos finais do século, "na0 já unicamente das classes trabalhadoras, mas de camadas mais altas socialmente e mais cultas":

"Hoje vae tudo, marcha a família inteirauz3.

4. Conclusões

Partindo da análise da economia doméstica, procurou-se pers- pectivar a emigração noseu enquadramento familiar e asua inserção em redes de solidariedade num quadro típico da sociedade tradicio- nal, enquanto componente de um processo mais vasto de mobilidade geográfica, em que o perfil do emigrante se apresenta inicialmente como sendo o de um jovem solteiro, profissional do comércio ou

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se dos registos de passaportes permitiu acompanhar nto gradual deste modelo e observar a transformação do

e médio num adulto casado, de extracção rural ou artesanal, se num contexto menos controlado e menos solidário, peão gica que o ultrapassa a si e ao seu pequeno mundo domés-

ruido-se já nas linhas de rumo da espeaalização económica visão internacional do trabalho.

ANEXOS

Quadro I Emigração do Porto para o Brasil Distribuição por sexos e idades

Quadro II Emigração do Porto para o Brasil

Distribuição por estado civil

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Quadro ID[ Emigração do Porto para o Brasil - Distribuição por profissões

1.2.1 -Pescador 1.22 - Marítimo 1.23 - Peixeiro

2.12 - Trolha 2.13-Pmtor 2.1.4 - Estucador 2.15 -Canteiro 2.1.6 -Empreiteiro

2.2 - Vestuário, tèutil e calpdo 2.2.1 -Alfaiate 2.22 - Chapeleiro 2.23 -Sapateiro 22.4 - Tamqueiro/soqueim 2 2 5 - Sigueiro 22.6 - Cordoeiro/correeiro 2.2.7 - Tintureiro 2.2.8 - Ouiros

2.3 -Metalurgia 2.3.1 - Ferreiro 2.32 -Serralheiro 2.33 - Fundidor 2.3.4 - Funileiro 2.3.5 - Ferrador 2.3.6 - Caldeireiro/latoelro

2.4 -Ourivesaria 2.4.1 -Ourives

2.5 - Madeira e mobiliário 2.5.1 - Marceneiro 2.52 -Carpinteiro 2.53 -Serrador 2.5.4 -Tanoeiro 2.55 - Cesteiro/anastreiro 2.5.6 - Entaihador/dourador

2.6 - Alimentar/panifiu@o 2.6.1 - Doceiro/mnfeiteiro 2.62 -Moleiro 2.63 -Padeiro 2.6.4 -Cozinheiro

2.7 -Outros oHcios 2.7.1 - V6rios

2.8 - indeterminados 2.8.1 -Fabricantes 2.8.2 -Maquinistas

- rnq

1

1 3

1 1 2

2

17 1 5 1

1

5

1

1

4

1 1 1

7

1 9 1 1

2

6 1 1

3

15 4 5 4 2

28

9 7-33 41 49 3 3

1 4 4 3

9

16 4 t

I

6 15

1

3

18

10 83 4

16 1

1 1 4 2

7

2 2 1

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3.12 -Empregados de CombrQo 3.13 -Negociante 3.1.4 - Almoaeve 3.15 - Guarda-hms 3.1.6 - Vendeiros/lojiishs

3 2 -Transportes 32.1 -Barqueiros 3.22 - Cocheim 3 2 3 - Ameim/condutor 3.2.4 -Piloto

3.32 -Pregoeiro 3.3.3 - Botidrio/farmacêutim 3.3.4 - Medico/enfermeim 3.35 -Feitor 3.3.6 - Outros

3.4 - Profissões Intelectuais 3.4.1 - Professor 3.42 - Edesiástim 3.43 -Esiudante 3.4.4 -Artista 3.45 - Advogado/Ba&rel

3.5 - indiferenciados

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Quadro n/ Naturalidade dos emigrantes com passaporte

do Governo Civil do Porto

Aveiro V. Real

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NOTAS

Arquivo do Governo Cvil do Porto (AGCP), Documentação avulsa, Cor- respondência recebida, 1836.

AGCP, ~mespondencia expedida -Ministério do Reino, 1836, o p o n.' 611. Cf. FERREIRA, Mir im Halpern, Política Portuguesa de Emigraçdo, Lisboa,

A Regra do Jogo, 1981. - -

Cf. ALVES, Jorge Femandes, "Emigração Portuguesa: o exemplo do Porto nosmeados do s6culo X I X , Revista de Histdria, Vol. IX, Porto, Centro de História da Universidade do Porto, 1989, pp. 267-289. Note-se que já em 1835 o governo tentara dificultar a emigração, determinando que os passaportes voltassem a ser concedidos pelassecretarias de Estado, tal comose fazia nos séculos XVII e XVIII, obrigando a grandes deslocaçdes, despesas e tempo de espera, impedindo, na prática, os mais pobres de emigrar (Lei de 15 de Janeiro de 1835). Tal medida, por desajustada das novas condiç8es políticas e sociais, foi anulada cerca de seis meses depois, voltando a concessão dos passaportes aos prefeitos, depois gover- nadores civis (Decreto de 18 de lulho).

A presente comunicação integra-se num projecto mais amplo, em desen- volvimento na Faculdade de Letras da UNversidade do Porto, com intenção de doutoramento, subordinado ao tema "Os Brasileiros - Emigrnçdo e Retorno no Porto Oitocentista ".

Cf. SOUSA, Fernando de, A Populaçdo Portuguesa nos Inicios do Stciilo X I X , Porto, Faculdade de Letras, dissertação de doutoramento, 1979, pp. 295-309. Cf. ainda ALVES, Jorge Fernandes - Uma comurtidade rural no vale do Aae - S. Tiago de Bougndo, 1680-1849 (esttrdo demográfico), Porto, Faculdade de Letras, disserta- ção de mestrado, 1986, pp. 99-110.

Arquivo Paroquial de S. Tiago de Bougado, Livro de Contas da Confraria do Subsino, 1680-1810.

Arquivo Municipal de Vila do Conde (AMVC), Livro de registo de testamen- tos, n.O3181, p. 137.

Naturalmente que existe sempre uma componente de aventureirismo na emigração. Particularmente nas zonas do litoral mais ligadas & navegação, era muito antiga a tradição de os rapazes ingressarem como marinheiros nos velei- ros que faziam a navegação com o Brasil, inscrevendo-se como tripulantes, e, uma vez lá, desertarem. Esta situação, no entanto, encobria, frequentemente, ajustamentos com tal fim entre as famílias e os donos ou capitães dos navios, como forma de tornearem obstáculos administrativos e embaretecerem a via-

gem. 'O In Gpindor de Correspondência de Joaquim Ferreira das Santas (ver nota 12). 11 AMVC, Livros de registo de termos de responsabilidade efùlnçn, 1866-1879, n.''

3115-3121. Cf. ALVFS, Jorge Fernandes, "Percursos de um brasileiro do Porto - O

Conde deFerreiraU, Revista da Faculdade de Letras, n." IX, Porto, 1992, pp. 199-213.

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l 3 Cf. ALVEÇ, J. F., FERREIRA, M. Fernanda e MONTEIRO, M. Rosário, "Imigração galega na cidade do Porto (2.a metade do século XIX)", Revista da Faculdade de Letras, vol. K, Porto, 1992, pp. 215-235..

'"f. Comissão Central Directora do Inquerito Industrial, Inqiterito 1ndu.s- trial de 1881 - Inquerito Directo - Segunda Parte - Visita 2s Fibricns - Livro Segirndo, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881, pp. 34-35. Entre outras evidências da antiguidade de uma agricultura a tempo parcial na região de Entre-Douro-e-Mi- nho, complementada com a prática dosoficios, aísediz: "Ooperariodosavabnldes vem aos bandos d segtlndn+irn de madriignda, carregado coni a snccn onde traz a bran para toda a semana; vivedurante elln nvand~ndo pelas obrasao caldo; enosnbndo regressa a passar o domingo em casa com a familin, qiie entretanto ciiida da Invoitra e da engorda dos bois. Em grande parte os operarios siio tombem lavradores, pequenos proprietnrios e as economias do salario consolidam-se na terra".

Vd., ainda, SELLERS, Charles, Oporto, Old and New, Londres, Herbert E. Harper, 1899, p. 25.

l5 AGCP, Documentaqão avulsa, CovespondSntin recebidn, 1867. l6 AGCP, Registo de passaportes de emigrnntes, n." 3242-3363. Recolhidos em

suporte informático, como base de dados para o projecto de investigação citado na nota 4 (apenas os referentes ao século XIX}.

l7 OS quadros seguem em anexo, no f i a 1 do texto. l8 Cf. FREITAS, Rodrigues e MOUTINHO, Joaquim Ferreira, O Cambio do

Brazil - colleçdo de artigos pirblicndos no Commercio do Porto, Porto, Typographia do Commercio do Porto, 1886.

' 9 Sobre o afluxo de capitais e técnicos ingleses ao Brasil na segunda metade do s6culo XIX, cf. GRAHAM, Richard, Britain nnd tlie Onset of Modernization in Brazil, 1850-1914, Cambridge University Press, 1968.

20 Sobre este aspecto, cf. ALVEÇ, Jorge Fernandes, "A pesca e os pescadores do litoral portuense em 1868, Porto, Revista da Fanildnde de Letras - História, Ii Série, Voi. VIII, Porto, 1991, pp. 151-184.

2' Veja-se o cado de Joaquim Pereira Fula, emigrante natural de Caia e morador no Porto, ap6s o retorno, que veio a Portugal 12 vezes. Cf. "Commen- dador Joaquim Pereira Fula", in Commwcio e Indiistria, vol. 2, n.O78, Porto, 1881.

J á tivemos oportunidade de salientar o papel desempenhado neste con- texto pela legislação que passou a exigir a fiança ao recrutamento aos maiores de 18 anos (em 1855) e depois 14 (em 1959), quer pelo que representou d e aumento da clandestinidade, quer pelo incentivo, na prática, a uma maior precocidade das partidas, com efeitos negativos na preparação literária e/ou profissional dos jovens emigrantes. Cf. ALVEÇ, Jorge Fernandes, "Emigrafão Portuguesa: o exemplo do Porto nos meados do século XIX", R&ta deHistÓria, Centro de História da Universidade do Porto, Vol. IX, Porto, 1989, pp. 267- 289.

'' BRUNO, O Brasil Menthal, Porto, Liv. Chardron, 1899, p. 411.