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Adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto: termos acessórios? Milena Torres de Aguiar Introdução Esse trabalho pretende levantar questionamentos acerca da nomenclatura “termo acessório” para o adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto. Para isso, comparamos as gramáticas de Cunha e Cintra (1985), Ribeiro (2004) e Kury (2004) no que tange essa questão, através dos exemplos que eles utilizam para comentar cada um deles. Através desses exemplos, fazemos indagações se realmente essa nomenclatura é cabível, pois a ausência ou substituição desses termos na frase altera a sua carga semântica. E, segundo o modelo teórico do Funcionalismo lingüístico norte-americano, no qual nos baseamos, a codificação lingüística encontra-se vinculada às funções desempenhadas pelas palavras nas situações de interação (Cf. SWANDER, 2003) Adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto: termos acessó- rios? Segundo a tradição gramatical, Cunha e Cintra nos definem, o que são termos acessórios: Chamam-se acessórios os termos que se juntam a um nome ou a um verbo para precisar-lhes o significado. Embora tragam um dado novo à oração, não são eles indispensáveis ao entendimento

Adjunto Adverbial 2

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  • Adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto: termos acessrios?

    Milena Torres de Aguiar

    Introduo

    Esse trabalho pretende levantar questionamentos acerca da

    nomenclatura termo acessrio para o adjunto adnominal, adjunto

    adverbial e aposto.

    Para isso, comparamos as gramticas de Cunha e Cintra

    (1985), Ribeiro (2004) e Kury (2004) no que tange essa questo,

    atravs dos exemplos que eles utilizam para comentar cada um deles.

    Atravs desses exemplos, fazemos indagaes se realmente

    essa nomenclatura cabvel, pois a ausncia ou substituio desses

    termos na frase altera a sua carga semntica.

    E, segundo o modelo terico do Funcionalismo lingstico

    norte-americano, no qual nos baseamos, a codificao lingstica

    encontra-se vinculada s funes desempenhadas pelas palavras nas

    situaes de interao (Cf. SWANDER, 2003)

    Adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto: termos acess-rios?

    Segundo a tradio gramatical, Cunha e Cintra nos definem, o

    que so termos acessrios: Chamam-se acessrios os termos que se juntam a um nome ou a um verbo para precisar-lhes o significado. Embora tragam um dado novo orao, no so eles indispensveis ao entendimento

  • do enunciado. Da a sua denominao. (CUNHA e CINTRA, 1985)

    Acreditamos que h algumas contradies nessa definio. Se

    os termos acessrios precisam o significado do nome ou do verbo,

    por que eles so dispensveis? Se eles trazem um dado novo, por que

    eles no so indispensveis ao entendimento do enunciado?

    Cunha e Cintra continuam sua explanao definindo o primei-

    ro termo acessrio citado: o adjunto adnominal. Adjunto adnominal o termo de valor adjetivo que serve para es-pecificar ou delimitar o significado de um substantivo, qualquer que seja a funo deste.

    Se o adjunto adnominal especifica ou delimita o significado de

    um substantivo, como ele pode ser considerado acessrio? Especi-

    ficar ou delimitar o significado de uma outra palavra no uma sim-

    ples funo: quer dizer que ele altera o sentido de uma outra palavra.

    Ento ele pode ser retirado da orao, sem que isso faa com que ela

    fique com sentido incompleto?

    Logo aps sua definio de adjunto adnominal, eles delimitam

    quais os elementos que funcionam como tal, dando exemplos retira-

    dos de obras literrias, como faz em toda sua gramtica.

    a) adjetivo:

    Ex.: Tenho pensado que toda esta geringona social precisa de

    uma grande volta. (C. de Oliveira, CD, 93.)

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  • Segundo Cunha & Cintra, social e grande so termos dispen-

    sveis orao. Mas se retirarmos essas palavras, o significado fica

    incompleto: de que tipo de geringona se est falando? E a volta, tem

    que ser grande ou pequena? O adjetivo social est qualificando o tipo

    de geringona de que ele est falando, no econmica, no polti-

    ca, social. E grande est qualificando o tipo de volta, que no

    uma simples e rpida volta, uma grande volta. Porm, se no tiver

    esses adjetivos na orao, no saberemos ao certo.

    b) locuo adjetiva:

    Ex.: Era um homem de conscincia. (A. Abelaira, NC, 15.)

    Esse homem no um homem qualquer. um homem de

    conscincia. Novamente, se retirarmos de conscincia, esse ho-

    mem no ter mais uma qualificao que o distingue de outros. Ele

    se tornar mais um homem, como outro qualquer.

    c) artigo (definido ou indefinido):

    Ex.: O ovo a cruz que a galinha carrega na vida. (C. Lispec-

    tor, FC. 51.)

    Os artigos usados nessa orao so fundamentais para o enten-

    dimento do enunciado. O artigo definido em O ovo transmite uma

    idia de generalizao: todo e qualquer ovo que a galinha pe a sua

    cruz. Em a cruz, o artigo definido permite que entendamos que h

    somente essa cruz, no uma cruz em vrias outras, apenas aquela.

    J em a galinha, como em o ovo, o artigo definido permite no-

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  • vamente a idia de generalizao: a classe de galinhas, todas as

    galinhas carregam essa cruz, no apenas uma galinha. E em na

    vida, o artigo definido quer deixar claro que essa cruz elas carregam

    na vida inteira delas, e essa vida nica. O mesmo no aconteceria

    se fosse em uma vida, que nos transmite a idia de ser uma vida

    em vrias.

    Ento, o uso do artigo definido e indefinido tem que ser pen-

    sado, pois a substituio de um por outro muda o sentido da frase, e a

    retirada de um ou todos, acarreta na dificuldade de entendimento

    sobre o que est sendo falado e enfatizado. Visto isso, por que consi-

    der-los termo acessrio?

    d) pronome adjetivo:

    Ex.: Vrios vendedores de artesanato expunham suas mercado-

    rias. (R. Fonseca, C, 76-77.)

    Vrios d uma idia de quantidade a vendedores, afirmando

    que no foram poucos os que expuseram as mercadorias e sim, mui-

    tos. E suas especifica de quem eram as mercadorias, eram deles

    mesmos, mas poderiam ser de outras pessoas. S sabemos disso por-

    que os pronomes adjetivos esto na frase, se no estivessem j que

    so dispensveis, no saberamos.

    e) numeral:

    Ex.: Casara-se havia duas semanas. (C. Drummond de Andrade,

    CB, 29.)

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  • Duas est quantificando o substantivo semanas. Se retirar-

    mos esse numeral, o nosso entendimento sobre a informao no ser

    o mesmo. No teramos certeza sobre h quanto tempo ele est casa-

    do.

    f) orao adjetiva:

    Ex.: Os cabelos, que tinha fortes e lisos, caram-lhe todos.

    (M.J. de Carvalho, AV, 116.)

    O termo acessrio dessa frase nos informa que os cabelos da

    pessoa eram fortes e lisos. Essa orao qualifica o tipo de cabelo que

    ela tinha e contrasta com o restante da frase, no qual, temos a infor-

    mao de que eles caram. Se no soubssemos que os cabelos dela

    eram fortes e lisos, poderamos supor que ela tinha poucos cabelos,

    j que eles caram todos, o que seria uma idia equivocada. Ento

    essa orao adjetiva fundamental para o nosso entendimento sobre

    o enunciado.

    J Ribeiro, na sua Nova Gramtica Aplicada da Lngua Por-

    tuguesa, no nos define o que vem a ser termos acessrios, ele

    somente cita quais so: adjunto adnominal, adjunto adverbial e apos-

    to.

    Sobre adjunto adnominal, ele diz: Os substantivos do texto vo sendo valorizados por muitos ele-mentos que os esclarecem ou determinam. Alm dos artigos, que normalmente determinam o gnero e o nmero dos substantivos, devemos atentar para outros elementos... (RIBEIRO, 2004)

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  • Nesse momento, ele cita uma frase de cada elemento que fun-

    ciona como termo acessrio, assim como fizeram Cunha & Cintra.

    Aps, ele explica que os elementos grifados em cada frase citada

    ...limitam ou especificam ou individuam a significao do substan-

    tivo. So, sintaticamente, chamados de adjuntos adnominais, so

    determinantes do termo que modificam.

    Soa melhor o termo determinantes do termo que modificam,

    pois determinante transmite uma idia de que esse termo neces-

    srio orao. Porm, ele no deixa explcito se sua inteno essa.

    Logo aps ele cita quais so os elementos pelos quais o adjun-

    to adnominal expresso. Ele cita os mesmos que Cunha & Cintra em

    sua gramtica.

    Outro estudioso da lngua, Kury, em seu livro Novas lies

    de anlise sinttica, faz o mesmo que Ribeiro, ou seja, ele no defi-

    ne o que vem a ser termos acessrios, somente cita quais so eles.

    Talvez ambos no quiseram dar uma definio para os termos

    acessrios por serem contrrios tradio gramatical, que defendem

    Cunha & Cintra, e optarem por no se exporem, indo contra uma

    definio de nomenclatura tradicional, j fixada nas normas cultas da

    lngua.

    Kury chama o adjunto adnominal de adjunto de valor adjeti-

    vo e o define: Em qualquer funo sinttica que possa ter como ncleo um substantivo, este pode vir acompanhado de palavras ou locues de valor ou funo adjetiva que lhe delimitam o sentido geral.

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  • Kury tambm acredita que o adjunto adnominal delimita o

    sentido da palavra que ele acompanha. Se ele delimita o sentido de

    outra palavra, ento ele tem o seu valor dentro de uma orao. O

    curioso que Cunha & Cintra tambm do essa definio, mas com-

    plementam que um termo dispensvel. Uma grande contradio.

    Aps a definio de adjunto adnominal, Kury, como os dois

    primeiros, cita quais so os elementos pelos quais o adjunto adnomi-

    nal expresso.

    Sobre o segundo termo acessrio citado, o adjunto adverbial,

    Cunha e Cintra dizem: Adjunto adverbial , como o nome indica, o termo de valor ad-verbial que denota alguma circunstncia do fato expresso pelo verbo, ou intensifica o sentido deste, de um adjetivo, ou de um advrbio. (CUNHA e CINTRA, 1985)

    A questo persiste: se o adjunto adverbial denota circunstncia

    do fato expresso pelo verbo ou intensifica seu sentido, ento ele

    necessrio orao, ele tem sua funo dentro dela. Por que conside-

    r-lo acessrio, dispensvel?

    Segundo ele, o adjunto adverbial pode vir representado por:

    a) advrbio:

    Ex.: Aqui no passa ningum. (F. Namora, TJ, 205.)

    Aqui especifica o lugar onde no passa ningum. Se na orao

    no tivesse esse elemento, no saberamos onde no passa ningum.

    Aqui o elemento fundamental dessa orao, pois toda ela faz refe-

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  • rncia a esse lugar. Se o lugar no estivesse explcito, como o enun-

    ciado seria compreendido?

    b) por locuo ou expresso adverbial:

    Ex.: L embaixo aparece Jacarecanga sob o sol do meio-dia.

    (E. Verssimo, ML, 13.)

    O mesmo acontece nessa orao. O lugar onde aparece Jacare-

    canga e a que parte do dia so fundamentais ao entendimento. Se a

    orao fosse apenas Aparece Jacarecanga, no teria sentido com-

    pleto, estaria faltando as locues ou expresses adverbiais.

    c) por orao adverbial:

    Ex.: Quando acordou, J Lisa ali estava. (M.J. de Carvalho,

    AV, 141.)

    A orao j Lisa ali estava pede um adjunto adverbial de

    tempo, pois Lisa j estava ali quando o que aconteceu? Algo precisa

    ter acontecido para afirmarmos que Lisa j estava ali. Ento mais

    do que necessria essa orao adverbial quando acordou.

    Ento Cunha e Cintra classificam alguns adjuntos adverbiais, e

    em todos os seus exemplos a nomenclatura termo acessrio parece

    equivocada, como acontece nos exemplos j citados.

    Ribeiro fala sobre adjunto adverbial a partir de um texto de

    Rachel de Queirs Ed, meu vizinho em que h esse termo. Ele diz:

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  • A construo do texto acima est concentrada principalmente nas chamadas circunstncias adverbiais (elementos em torno do ver-bo): ...quando vinha trazer algum presente (orao adverbial temporal), ...dessa vez no. (adjuntos adverbiais de tempo e ne-gao), pela entrada de servio, s cambalhotas com a nossa ca-chorrinha (lugar, modo e companhia). (RIBEIRO, 2004)

    Ele acrescenta tambm uma informao que Cunha & Cintra

    tambm mencionaram: Observem-se: 1. Ele saiu s escondidas. 2. Ele saiu rapidamente. 3. Ele saiu quando eu cheguei. Nos trs exemplos, verifica-se que o verbo saiu est modificado por uma locuo adverbial, por um advrbio e por uma orao subordinada adverbial. Sintaticamente, os trs elementos grifados atuam como adjunto adverbial.

    Nos trs exemplos tambm podemos perceber que a classifica-

    o termo acessrio no condiz com a real importncia que esses

    termos possuem, pois a ausncia deles dificulta o entendimento cor-

    reto do enunciado.

    A partir da, ele tambm cita quais so os tipos de circunstn-

    cias acrescentadas ao verbo, como fazem Cunha e Cintra.

    J Kury, como fez com o adjunto adnominal ao cham-lo de

    adjunto de valor adjetivo, ele chama o adjunto adverbial de adjun-

    to de valor adverbial.

    Ele define esse termo acessrio: Advrbios ou locues adverbiais, que, na frase, acrescentam cir-cunstncias a verbos, ou intensificam a idia expressa por verbo, adjetivo ou advrbio, recebem o nome de ADJUNTOS ADVER-

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  • BIAIS. Podem ser, pois, modificadores (cantar bem) ou inten-sificadores (automvel bastante estragado, riram muito, can-tar muito mal) (G.C. Melo, NMAS, 76). (KURY, 2004)

    Eis a mesma questo: Se intensificam ou modificam outra pa-

    lavra, por que consider-lo acessrio?

    Aps definir, Adriano cita os diversos adjuntos adverbiais.

    Quanto ao aposto, o ltimo dos trs termos acessrios citados,

    Cunha e Cintra dizem que Aposto o termo de carter nominal que

    se junta a um substantivo, a um pronome, ou a um equivalente des-

    tes, a ttulo de explicao ou de apreciao, como em: Eles, os po-

    bres desesperados,tinham uma euforia de fantoches. (F. Namora,

    DT, 237.)

    Por que os pobres desesperados um termo acessrio, se

    ele que explica quem so eles? Sem esse termo no identificara-

    mos de quem se est falando.

    Alm do aposto EXPLICATIVO citado acima, ele d exem-

    plos de apostos em que no h pausa marcada por vrgulas entre estes

    e as palavras principais, quando estas so termos genricos, especifi-

    cados ou individualizados pelo aposto. Para os autores, h aposto

    ESPECIFICATIVO: A cidade de Lisboa, O poeta Bilac.

    Porm, de Lisboa e Bilac so dispensveis s frases? Co-

    mo elas ficaria sem esses termos? Sem sentido algum.

    Depois desta explanao, ele diz que o aposto pode tambm

    ser representado:

    a) por uma orao:

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  • Ex.: A outra metade tocara aos sobrinhos, com uma condio

    expressa: que o legado s lhes fosse entregue trinta anos

    depois. (J. Montello, LE, 202.)

    Essa orao inteira completa o sentido de com uma condio

    expressa. Se no for citada qual a condio a que se faz referncia,

    a frase no tem seu sentido completo. Portanto, essa orao no pode

    ser dispensvel.

    b) referir-se a uma orao inteira:

    Ex.: Pediu que lhe fornecessem papel de carta e que lhe restitus-

    sem a sua caneta, o que lhe foi concedido. (J. Pao dArcos,

    CVL, 1183.)

    Aquele o se refere orao inteira, quer dizer que tudo o

    que foi citado anteriormente, foi concedido. Sem ele, o sentido da

    frase muda, parece que s o que foi concedido foi o ltimo elemento

    citado que lhes restitussem a sua caneta. E no entanto, tudo foi

    concedido.

    c) ser enumerativo, ou recapitulativo:

    Ex.: Tudo o fazia lembrar-se dela: a manh, os pssaros, o mar,

    o azul do cu, as flores, os campos, os jardins, a relva, as

    casas, as fontes, sobretudo as fontes, principalmente as

    fontes! (Almada Negreiros, NG, 112.)

    O aposto enumerativo, como o prprio nome diz, enumera o

    que foi dito na orao principal. No basta dizer apenas: tudo o

    11

  • fazia lembrar-se dela. O emissor tem a inteno de explicitar o que

    tudo detalhadamente.

    Em: Os porcos do chiqueiro, as galinhas, os ps de bogari, o

    cardeiro da estrada, as cajazeiras, o bode manso, tudo na casa de seu

    compadre parecia mais seguro do que dantes. (J. Lins do Rego, FM,

    289.), sem o aposto recapitulativo tudo, o sentido dessa frase tam-

    bm muda. Parece que apenas o bode manso na casa de seu compa-

    dre parecia mais seguro do que dantes, o que no correto. O que

    foi citado anteriormente tambm parecia mais seguro do que dantes.

    Ribeiro (2004) define aposto assim: Geralmente, o aposto

    termo de natureza substantiva ou pronominal e modifica tambm

    outro substantivo ou pronome.

    Ao contrrio de Cunha e Cintra, Ribeiro no diz que o aposto

    s tem a funo de explicar ou apreciar. Ele acrescenta a essa idia,

    as idias de equivalncia, resumo ou identificao.

    Como Cunha e Cintra, ele cita os apostos: explicativo, especi-

    ficativo, enumerativo. Tambm diz que pode ser representado por

    uma orao inteira ou pode referir-se a uma orao inteira atravs do

    pronome demonstrativo o .

    Porm, o que Cunha e Cintra chamam de recapitulativo, Ri-

    beiro chama de resumitivo. Acrescenta um tipo de aposto que Cu-

    nha & Cintra no citam: o aposto distributivo (Eram grandes erudi-

    tos: um em msica popular, outro em msica clssica.)

    Se os apostos distributivos um e outro forem retirados da

    frase por serem termos acessrios, essa frase mudaria de sentido

    12

  • tambm. Pareceria que ambos eram bons em msica popular e em

    msica clssica, quando que cada um tinha a sua especialidade.

    Em Ribeiro, a errnea classificao do aposto como termo

    acessrio persiste.

    Kury, entretanto, define aposto como: Uma idia fundamental

    contida num termo de valor substantivo, em qualquer funo sint-

    tica, pode ser continuada, explicada (inclusive por comparao),

    desenvolvida ou resumida num termo acessrio, seu equivalente ou

    adjunto, tambm necessariamente substantivo, APOSTO.

    Essa definio de Kury parece-nos a mais explicada. Ela nos

    mostra as funes desse termo acessrio, ao contrrio da de Cunha e

    Cintra e de Ribeiro. Porm, por ser muito bem explicada, ela ressalta

    o fato de que todas essas funes so desempenhadas por um termo

    acessrio. Parece-nos muito contraditrio que um termo ACESS-

    RIO possa desempenhar tantas funes.

    Aps a definio, Kury tambm classifica o aposto como: ex-

    plicativo, especificativo, enumerativo. Tambm diz que pode ser

    representado por uma orao inteira ou pode referir-se a uma orao

    inteira. Cita o aposto resumidor ou recapitulativo (usa a classificao

    de Cunha e Cintra: recapitulativo e a de Ribeiro: resumidor). Ao

    contrrio de Ribeiro, Kury no classifica o aposto como distributivo,

    mas fala sobre o comparativo, que nenhum deles mencionaram (As

    estrelas,GRANDES OLHOS CURIOSOS, espreitavam atravs da

    folhagem. (Ea, PB, 8)

    13

  • As estrelas so comparadas a grandes olhos curiosos nessa

    orao. Sem esse aposto, a inteno do emissor no seria alcanada,

    pois ele quer dizer que elas espreitavam atravs da folhagem com

    seus grandes olhos curiosos, ou seja, elas estavam curiosas para ver

    algo e no estavam apenas olhando sem inteno alguma.

    Vimos ento que a errnea classificao do aposto como ter-

    mo acessrio persiste em Kury tambm.

    Concluso

    Com esse trabalho esperamos ter conseguido tecer as indaga-

    es necessrias para criar em todos ns o esprito crtico que nos

    falta ao aceitarmos o que a tradio gramatical nos impe.

    A lngua, por ser um sistema aberto, sujeito a mudanas, um

    assunto difcil de ser estudado e muito mais de ser considerado algo

    definitivo, acabado.

    Por isso, devemos sempre questionar se tal nomenclatura ou

    assunto continua sendo vlido e se no, debater e tentar provar que

    tem fundamento o que pensamos.

    Foi o que aconteceu quando nos propusemos a realizar este

    trabalho sobre termos acessrios. E para tanto, sob a gide da crti-

    ca, tecemos observaes baseadas no Funcionalismo lingstico nor-

    te-americano. Acreditamos, portanto, ter provado que tal nomencla-

    tura no tem mais razo de ser sustentada, haja vista que configura-se

    em um painel de reducionismo e passiva de ser reformulada e, qui-

    , nos termos propostos por Alex Swander (2005): Propomos a

    14

  • nomenclatura assessrio em detrimento de acessrio, posto que,

    desta feita, no se estar minimizando nem maximizando a hierar-

    quizao de termos nucleares e satlites.

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  • Referncias bibliogrfica

    CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramtica do Portugus

    Contemporneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

    KURY, Adriano da Gama. Novas Lies de Anlise Sinttica. So

    Paulo: tica, 2004.

    RIBEIRO, Manoel Pinto. Nova Gramtica Aplicada da Lngua Por-

    tuguesa. Rio de Janeiro: Metfora, 2004.

    SWANDER, Alex. Ttulo do Trabalho. Rio de Janeiro: CiFEFIL,

    2003.

    ______. Uma nova viso acerca do acessrio. So Paulo: EDUSP,

    2005.

    16

    IntroduoConcluso