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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CURSO DE ZOOTECNIA
ADRIANNY PROENÇA ABDO
PRODUÇÃO DE PEIXES NATIVOS EM UMA PISCICULTURA COMERCIAL EM
RORAIMA
CUIABÁ
2017
ADRIANNY PROENÇA ABDO
PRODUÇÃO DE PEIXES NATIVOS EM UMA PISCICULTURA COMERCIAL EM
RORAIMA
Trabalho de Conclusão do Curso de Gradação
em Zootecnia da Universidade Federal de Mato
Grosso, apresentado como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em Zootecnia.
Orientador: Profa. Dra. Janessa Sampaio de
Abreu Ribeiro
CUIABÁ
2017
AGRADECIMENTOS
A Deus por iluminar minha caminhada e por sempre me acompanhar nos meus
desafios.
A minha família, principalmente aos meus pais pelo carinho e confiança, que nunca
me deixaram faltar nada sempre me apoiando durante toda a minha vida.
Aos meus professores que no decorrer da faculdade sempre deram muito incentivo,
em especial Janessa Sampaio de Abreu Ribeiro e Márcio Aquio Hoshiba pelas
orientações que me fizeram ser uma pessoa melhor dentro e fora da faculdade com
seus exemplos.
Aos locais que me acolheram para estágio, parte essencial na minha formação, a
partir deles obtive ótimos ensinamentos para o mercado de trabalho, para a vida.
E por fim meus amigos que me apoiaram e ficaram ao meu lado me escutando,
aturando nos períodos mais difíceis.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Exemplar de tambaqui (Colossoma macropomum) .............................. 5
Figura 2 Exemplar de matrinxã (Brycon amazonicus) .......................................... 5
Figura 3. Exemplar de pirarucu (Arapaima gigas) ................................................ 6
Figura 4. Fazenda Paraíso de Deus, Amajari/RR ................................................ 11
Figura 5. Fazenda Água doce, Amajari/RR .......................................................... 12
Figura 6. Fazenda Três Marias e Palmito, Amajari/RR ........................................ 13
Figura 7. Monge utilizado para fazer o escoamento da água em um dos açudes da
Fazenda Paraíso de Deus, Amajari/RR. ................................................ 14
Figura 8. Arraçoamento dos peixes estocados em um dos açudes da Fazenda
Paraíso de Deus, Amajari/RR. ............................................................... 17
Figura 9.Caixas plásticas (2.000 L) para estocagem das matrizes ereprodutores
usados na reprodução artificial (esquerda). Casal de tambaqui (C.
macropomum) estocado em uma das caixas plásticas (direita). ........... 19
Figura 10. Óvulos coletados de tambaqui (Colossoma macropomum). ............... 19
Figura 11.Massagem abdominal em tambaqui (Colossoma macropomum) para
extrusão do sêmem. .............................................................................. 20
Figura 12. Mistura dos óvulos com o sêmen de tambaqui (Colossoma macropomum).
.............................................................................................................. 20
Figura 13. Hidratação dos ovos. ........................................................................... 21
Figura 14. Incubadoras para estocagem dos ovos ............................................... 21
Figura 15. Peneira usada para peneirar o zooplâcnton para treinamento alimentar de
alevinos de pirarucu (Arapaima gigas). ................................................. 23
Figura 16. Mistura da ração em pó (48%PB) com o zooplâncton já peneirado para
alimentação de alevinos de pirarucu (Arapaima gigas) durante treinamento
alimentar. ............................................................................................... 24
Figura 17.Chipagem de tambaqui (Colossoma macropomum) pertencente ao
programa de melhoramento genético da Fazenda Paraíso de Deus
(Amajari/RR) em parceria com a Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas,
TO). ....................................................................................................... 25
Figura 18. Caminhão para transporte de peixes (esquerda) e soltura dos alevinos em
viveiros de engorda da Fazenda Paraíso de Deus (Amajari/RR) (direita).
.............................................................................................................. 26
LISTA DE ABREVIATURAS
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
CTA- Centro Tecnológico de Aquicultura
EBHC- Extrato Bruto de Hipófise de Carpa
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1
2. OBJETIVO ........................................................................................................ 3
3. REVISÃO ......................................................................................................... 4
3.1. Principais espécies nativas produzidas na Região Norte .............................. 4
3.1.1.Tambaqui (Colossoma macropomum) ............................................... 4
3.1.2. Matrinxã (Brycon amazonicus) .......................................................... 5
3.1.3. Pirarucu (Arapaima gigas) ................................................................ 6
3.2. Reprodução de peixes em cativeiro ............................................................ 7
4. DESCRIÇÃO DO LOCAL ................................................................................. 10
5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO ........................................... 15
5.1. Monitoramento semanal dos parâmetros físico-químicos da água ............... 15
5.2. Arraçoamento dos peixes .............................................................................. 16
5.3. Reprodução de tambaqui e matrinxã em cativeiro ........................................ 18
5.4. Treinamento alimentar:.................................................................................. 22
5.5 Chipagem de tambaqui melhorado geneticamente ........................................ 24
5.6. Transferência de peixes entre as unidades de produção .............................. 26
5.7.Comercialização de alevinos .......................................................................... 27
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 29
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 30
RESUMO
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a piscicultura
brasileira produziu 640,51 mil toneladas de pescado em 2016. A região Norte reteve
30,6% da produção do país, com a produção de 158.900 toneladas de peixe, o que
corresponde a mais de 2,3 % da produção nacional. Dentre os peixes nativos
cultivados nesta região, destaca-se o tambaqui, matrinxã e pirarucu. A produção do
estado de Roraima foi de 17.752 toneladas de peixe, o que corresponde a 2,3% do
total produzido no Brasil. O objetivo do estágio foi acompanhar a rotina de uma
piscicultura comercial no estado de Roraima que atua na cria, recria e engorda de
peixes nativos. O estágio supervisionado foi realizado no complexo das Fazendas
“Paraíso de Deus”, “Água Doce” e “Três Marias e Palmito”, localizadas em Amajari –
RR, no período de 01 de junho a 01 de julho de 2017. As três fazendas juntas
apresentavam um total de 834 ha de lâmina d’água, com uma produtividade de
aproximadamente 6 toneladas por hectare. No período de estágio foram
desenvolvidas atividades de manejo, como monitoramento da qualidade da água;
arraçoamento dos peixes; reprodução de tambaqui e matrinxã em cativeiro;
treinamento alimentar de alevinos de pirarucu; chipagem de peixes; despesca e
comercialização de alevinos. O conhecimento teórico vivenciado em piscicultura
durante o curso foi colocado em prática durante a realização do estágio, permitindo
o aperfeiçoamento na área e contribuindo para a formação profissional em
Zootecnia.
Palavras-chaves: manejo de peixes, pirarucu, reprodução em cativeiro
1
1. INTRODUÇÃO
A aquicultura brasileira apresentou um contínuo crescimento nos últimos
anos, atingindo um valor de produção de R$ 4,39 bilhões, com a maior parte
(69,9%) oriunda da criação de peixes, seguida pela criação de camarões
(20,6%) (IBGE, 2015). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a produção total da piscicultura brasileira foi de 483,24 mil
toneladas em 2015, representando um aumento de 1,5% em relação ao ano
anterior e em 2016 chegou a 640.510 toneladas (IBGE, 2016)
No ranking de peixes mais produzidos no país, a tilápia, o tambaqui,
tambacu e tambatinga totalizaram 392.630 toneladas, mais de 80 % do total da
produção. O matrinxã e o pirarucu ocuparam a 7ª e 8ª posição,
respectivamente, do ranking de espécies cultivadas no Brasil, totalizando cerca
de 17.752 toneladas, o que representa 3,6% da produção nacional. A região
Norte retém 30,6 % da produção do país, sendo que o estado de Roraima
produziu cerca de 14.700 toneladas de peixe, o que corresponde a 2,3 % da
produção do país (IBGE, 2016).
O sucesso do empreendimento de produção de peixe está relacionado a
uma série de fatores fundamentais, como: analise de o mercado,
disponibilidade de recursos naturais, principalmente de recursos hídricos,
sistemas de criação ou processo produtivo adequado às condições do produtor
e da propriedade, assistência técnica de qualidade para formulação do projeto,
implantação e funcionamento da piscicultura (BARROS et al., 2010).
Além disso, o domínio da reprodução da espécie a ser criada é
fundamental, pois sem ele, o manejo e a viabilidade econômica da produção
ficam prejudicados (LIMA et al, 2013). Para a piscicultura, a produção em
cativeiro de formas jovens de peixes (larvas, pós-larvas e alevinos) é a
característica principal para que haja produção de pescado (ANDRADE e
YASUI, 2003).
A fase de planejamento da piscicultura merece atenção especial, pois,
além de possibilitar uma boa avaliação dos riscos e incertezas quanto à
2
viabilidade econômica, esclarece as dúvidas quanto à concepção, design,
construção e operação das instalações, poupando o investidor de gastos
desnecessários na implantação e operação do empreendimento (KUBITZA e
ONO, 2002).
O controle adequado dos indicadores zootécnicos e do custo de produção
realizado pelo piscicultor, aliado à adoção de boas práticas de manejo como, o
uso correto de fertilizantes, rações, materiais para calagem e terapêuticos,
descarte de peixes mortos, alimentação adequada entre outros, podem levar a
atividade a obter melhor rentabilidade (BARROS et al., 2010).
3
2. OBJETIVO
Objetivo do estágio foi acompanhar a rotina de uma piscicultura comercial
no estado de Roraima, que atua no sistema de cria, recria e engorda de peixes
nativos.
4
3. REVISÃO
3.1. Principais espécies nativas produzidas na Região Norte
A região Norte no ano de 2015 reteve 30,6 % da produção do país, com a
produção de 147.699 toneladas de peixe, o que corresponde a 2,3 % da
produção do país (IBGE, 2015). Em 2016, houve um aumento na região, com a
produção de 158.900 toneladas de pescado (IBGE, 2016). Dentre os peixes
nativos cultivados nesta região, destaca-se o tambaqui, matrinxã e pirarucu.
3.1.1. Tambaqui (Colossoma macropomum)
O tambaqui (Colossoma macropomum) (Figura 1) é da família
Serrasalmidae e caracteriza-se por apresentar corpo robusto com formato
arredondado, dorso alto e região das costelas amplas, o que possibilita bons
cortes para a indústria. Além da boca com dentes molariformes e mandíbulas
fortes que permitem triturar alimentos, apresentam rastros branquiais
desenvolvidos e capazes de fazer a captura de plâncton como fonte alimentar e
seu potencial se deve a grande rusticidade e boas taxas de crescimento e
conversão alimentar (MORO, et. al., 2013). Segundo estes autores, o tambaqui
apresenta hábito alimentar onívoro com comportamento frugívoro, na natureza
se alimentam de folhas, caules moles, flores, frutos, sementes, zooplâncton,
artrópodes, moluscos e peixe. É principalmente produzido na região norte em
sistema de barragens e viveiros escavados, sendo nativo da região Amazônica.
5
Figura 1. Exemplar de tambaqui (Colossoma macropomum)
Fonte:http://pescariamadora.blogspot.com.br/2012/03/diferenca-entre-tambaqui-tambacu-e-pacu.html
3.1.2. Matrinxã (Brycon amazonicus)
O matrinxã (Brycon amazonicus) (Figura 2) pertence à família Characidae
e são peixes de corpo alongado e robusto, alcançando porte entre um a dois
quilos no primeiro ano de cultivo. Possuem a boca relativamente ampla com
dentes molariformes e, semelhante aos peixes redondos, possuem rastros
branquiais o que possibilita a captura de zooplâncton ajudando na nutrição
desses peixes. Ela possui habito alimentar onívoro, consumindo frutos,
sementes, aracnídeos, anelídeos, insetos e peixes. Tem grande potencial para
produção em cativeiro devido ao excelente sabor da carne. É nativa da bacia
Amazônica (MORO, et. al., 2013).
Figura 2. Exemplar de matrinxã (Brycon amazonicus)
Fonte: http://www.peixinhoslange.com.br/p/matrinxa.html
6
3.1.3. Pirarucu (Arapaima gigas)
O pirarucu (Arapaima gigas) (Figura 3) é uma espécie conhecida como o
“gigante da Amazônia”, por atingir grande porte quando adulta, podendo
superar os 200 kg de peso e atingir 3 metros de comprimento (ONO e
CAMPOS, 2016), tendo boas condições climáticas, qualidade de água e
disponibilidade de alimento, quando criado em condições favoráveis.
Apresentam formato torpediforme, com elevado rendimento de filé, escamas
grandes e possibilidade de aproveitamento de couro pelas indústrias de
curtume (MORO, et. al., 2013). De acordo com os autores, é um peixe rústico,
com um excelente crescimento e que apresenta uma característica especial,
como a necessidade de respirar fora da água, o que faz com que ele seja
obrigado a vir à superfície de tempos em tempos, não sofrendo com o
problema de oxigênio.
Figura 3. Exemplar de pirarucu (Arapaima gigas)
Fonte:http://seafoodbrasil.com.br/especie/pirarucu-arapaima-gigas/
A criação do pirarucu é uma atividade dentro da piscicultura tropical que
tem atraído a atenção de muitos produtores, onde a espécie habita o ambiente
natural. O interesse por esse peixe por parte dos produtores é devido ao seu
rápido crescimento, boa adaptação e sua carne de alta qualidade, sendo um
animal com alto rendimento de filé, que está na faixa de 45 a 50%, quando
produzido de forma adequada (ONO e CAMPOS, 2016).
Esse animal possui dois aparelhos respiratórios, as brânquias, para a
respiração aquática, e a bexiga natatória modificada, especializada para
funcionar como pulmão na respiração aérea, dessa maneira não sofre com o
7
problema de água com baixa oxigenação, pois ele sobe a superfície da água
para respirar.
3.2. Reprodução de peixes em cativeiro
Os peixes ocupam os mais diversos ambientes aquáticos e apresentam
diferentes estratégias reprodutivas, portanto, compreender a reprodução destes
animais envolve conhecer sua biologia reprodutiva (ANDRADE e YASUI,
2003).
O dimorfismo sexual que, em determinadas espécies de peixes, pode
ser facilmente identificado, em outras, requer exame pormenorizado para sua
identificação (GODINHO, 2007).
Nos peixes reofílicos, por exemplo, o reconhecimento do sexo é muito
difícil, a não ser no período da reprodução, quando estas espécies apresentam
características sexuais secundárias. Nas fêmeas, o ventre fica mais abaulado e
macio, a abertura urogenital intumescida, saliente e avermelhada. No entanto,
deve-se tomar cuidado para não confundir o ventre abaulado de fêmeas aptas
para a desova com peixes recém-alimentados ou gordos. Os machos liberam
algumas gotas de sêmen, quando pressionados levemente no abdômen, no
sentido do opérculo para o poro urogenital (JÚNIOR et al., 2012).
Há espécies que atingem a maturidade sexual apenas após alcançarem
um grande tamanho corporal, como o pirarucu, que atinge a maturidade sexual
a partir do quarto ano de vida, com o peso entre 40 a 60 kg (CAVERO e
FONSECA, 2008). Nesse caso, os custos para se formar e manter um plantel
de reprodutores é muito alto. Por outro lado, há espécies que, mantidas sob
determinadas condições, aceleram o processo de maturidade e atingem a fase
reprodutiva ainda com tamanho reduzido (exemplos: tilápias, carpas e algumas
espécies nativas) (GODINHO, 2007).
Nessas condições, um peixe com pouco peso na puberdade prejudica
seu rendimento como reprodutor. Assim, o tamanho de primeira maturidade é
variável dependendo principalmente da espécie e das condições de sua
manutenção em cativeiro (GODINHO, 2007).
Os peixes reofílicos, quando em cativeiro, necessitam de um estímulo
hormonal exógeno, uma vez que, em cativeiro, não ocorrem a maturação final
8
do ovócito e a desova espontânea das fêmeas nos tanques, ou a liberação de
uma boa quantidade de sêmen. A utilização do hormônio permite que o peixe
continue o desenvolvimento ovocitário até a liberação. Caso não ocorra a
indução hormonal em peixes maduros, estes ovócitos serão reabsorvidos em
um processo conhecido como regressão gonadal (JÚNIOR et al., 2012).
Dentre as principais técnicas de reprodução artificial, se destaca, de
modo geral, a indução reprodutiva de peixes que habitam águas correntes,
(reofílicos), grupo onde se enquadram os peixes que realizam migração
reprodutiva (piracema). Em outra vertente, estão os peixes que se reproduzem
em ambientes de água não correntosa ou lêntica (lagos, lagoas, tanques, etc),
conhecidos como peixes lênticos, os quais não realizam migração reprodutiva
(piracema) e neste caso pode-se dispensar a indução hormonal para obtenção
da reprodução em cativeiro. Nesses peixes, cuja resposta fisiológica aos
estímulos ambientais reprodutivos não está baseada na piracema, a
manipulação da reprodução em cativeiro, se faz principalmente por alterações
no manejo, buscando reproduzir as condições naturais para a desova destes
peixes e a reprodução pode ser estimulada pela presença de abrigos e ninhos
(ANDRADE e YASUI, 2003).
A indução reprodutiva realizada através da aplicação de hormônios é o
controle mais eficaz da reprodução de peixes reofílicos mantidos em cativeiro
(LIMA et al., 2013). Segundo Andrade e Yasui (2003), a indução reprodutiva
em peixes reofílicos é feita mediante o uso de hipófise desidratada de carpa,
que é aplicada na forma de extrato bruto, diluída em solução fisiológica.
Nas fêmeas, tais hormônios devem ser capazes de promover a
maturação final dos gametas (LIMA et al., 2013). Neste caso, o extrato
hipofisário é aplicado em fêmeas cujas gônadas apresentem ovócitos em
vitelogênese completa. O momento de aplicação é um dos principais aspectos
na reprodução induzida, visto que tanto umas aplicações precipitadas quanto
tardias tendem a comprometer o processo de maturação das gônadas, e para
estimar esse momento ideal de aplicação cabe ao produtor fazer observações
como a época de reprodução verificada na região, comportamento,
abaulamento e consistência da região abdominal e aspectos da papila genital
(ANDRADE e YASUI, 2003).
9
Calcula-se a quantidade de extrato de hipófise a ser injetado com base
no peso do animal. Para a fêmea, adota-se a utilização de 5,5 mg de extrato de
hipófise/kg do peso vivo e, para os machos, 2,5 mg de extrato de hipófise/kg de
peixe vivo (JÚNIOR et al., 2012). Depois de calcular a quantidade de extrato de
hipófise a ser utilizada em cada um dos sexos, a hipófise liofilizada é pesada e
macerada em um gral de porcelana, adicionando-se uma gota de vaselina ou
glicerol para melhorar a maceração, e diluída em soro fisiológico (0,7% a 0,9%)
para aplicação nos animais (LIMA et al., 2013). A solução hormonal é injetada
sob a nadadeira peitoral do animal, intramuscular ou intraperitoneal (ANDRADE
e YASUI, 2003). Para a fêmea, 10% da dose total é aplicada inicialmente e,
após 12 horas, o restante. Nos machos, a dose total deve ser aplicada no
momento da segunda aplicação das fêmeas (JÚNIOR et al., 2012).
Para determinar o momento da ovulação o produtor observa sinais
comportamentais como a natação em carrossel, ruídos, espasmos musculares
etc (ANDRADE e YASUI, 2003). De acordo com estes autores, na extrusão, os
animais são colocados com o maior cuidado possível em uma superfície plana,
macia e enrolados em pano seco, para em seguida realizar a massagem
abdominal, no sentido da cabeça para cauda, observando fácil liberação de
óvulos nas fêmeas ou de uma boa quantidade de esperma nos machos.
Segundo protocolo de reprodução artificial descrito por JÚNIOR et al.
(2012), os óvulos são recolhidos em uma vasilha limpa e seca, para evitar a
hidratação, o que levaria ao consequente fechamento da micrópila (região por
onde o espermatozóide entra), reduzindo sensivelmente a taxa de fertilização.
O sêmen deve ser, então, colocado sobre os ovócitos recolhidos, misturados, e
então hidratados para ajudar na fertilização dos ovócitos, abrindo a micrópila e
facilitando que os espermatozóides fecundem o óvulo. Logo após esse
processo, os óvulos são colocados na incubadora. E observar até o momento
que começa a eclosão (LIMA et al., 2013). A larvicultura nas incubadoras pode
levar de 6 a 10 dias, quando as larvas devem ser transferidas para um viveiro
preparado para recebê-las (JÚNIOR et al., 2012)
10
4. DESCRIÇÃO DO LOCAL
O estágio supervisionado foi realizado no complexo das Fazendas
“Paraíso de Deus” (Figura 4), “Água Doce” (Figura 5) e “Três Marias e
Palmito” (Figura 6), localizadas em Amajari – RR, aproximadamente 170 km da
capital de Roraima, Boa vista, no período de 01 de junho a 01 de julho de 2017,
tendo como responsável técnico o engenheiro de pesca Diêgo José Nogueira
de Barros. As três fazendas juntas apresentava um total de 834 ha de lâmina
d’água, com uma produtividade de aproximadamente 6 toneladas por hectare.
A Fazenda “Paraíso de Deus” continha maior infra-estrutura,
apresentando a casa sede, cozinha comunitária, alojamento para funcionários
e depósito para estocagem de insumos (ração, fertilizantes, entre outros) e
máquinas agrícolas. As demais apresentavam somente unidade de produção
(açudes e viveiros).
As fazendas praticam a piscicultura há mais de 10 anos, tendo como
principal foco a produção de peixes como, tambaqui (Colossoma
macropomum), matrinxã (Brycon amazonicus) e pirarucu (Arapaima gigas).
A água utilizada nas fazendas para abastecimento dos viveiros e açudes
era proveniente de água da chuva. Os açudes contavam com sistema de
drenagem tipo monge (Figura 7) enquanto os viveiros, por serem menores,
contavam com sistema de cachimbo para o escoamento de água.
11
Figura 4. Fazenda Paraíso de Deus, Amajari/RR.
Fonte: Aniceto, Wanderley.
A
12
Figura 5. Fazenda Água Doce, Amajari/RR.
Fonte: Aniceto, Wanderley.
B
13
Figura 6. Fazenda Três Marias e Palmito, Amajari/RR.
Fonte: Aniceto, Wanderley.
C
14
Figura 7. Monge utilizado para fazer o escoamento da água em um dos açudes da Fazenda
Paraíso de Deus, Amajari/RR.
Fonte: Arquivo pessoal
Na Fazenda “Paraíso de Deus” havia ainda um laboratório destinado à
reprodução artificial de peixes, era equipado com oito incubadoras de 200
litros; 10 caixas d’água, com capacidade de 2.000 litros, e seis caixas de
d’água com capacidade de 5.000 litros. Estas caixas eram utilizadas para
estocar matrizes e reprodutores destinados ao processo de reprodução
induzida ou estocagem de alevinos para depuração antes da comercialização.
No laboratório trabalhavam além do responsável técnico, três outros
funcionários que auxiliavam nas funções de análise de água e nas atividades
de produção de alevinos. O laboratório dispunha de um aparelho
multiparâmetro e kits comerciais para análise rotineira de parâmetros físico-
químicos da água, como oxigênio dissolvido, temperatura, gás carbônico,
amônia, nitrito e nitrato.
Cerca de 25 funcionários revezavam-se nas fazendas em outras
atividades, como peixamento, arraçoamento dos peixes e despesca.
15
5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO
Durante o período de estágio (01 de junho a 01 de julho de 2017), foram
desenvolvidas as seguintes atividades:
• Monitoramento dos parâmetros físico-químicos da água;
• Arraçoamento dos peixes;
• Reprodução de tambaqui e matrinxã em cativeiro;
• Treinamento alimentar de alevinos de pirarucu;
• Chipagem de tambaqui melhorado geneticamente;
• Transferência de peixes entre as unidades de produção;
• Comercialização de alevinos
5.1. Monitoramento semanal dos parâmetros físico-químicos da água
Na atividade de piscicultura, a disponibilidade e qualidade da água são
fatores fundamentais. O ambiente aquático é o meio onde os peixes vivem e
desenvolvem-se, estão em constante contato com a água, utilizando-a para
obtenção de oxigênio e liberação de gás carbônico, além de resíduos
nitrogenados e outras substâncias de excreção (MORO et al., 2013). Dessa
maneira a água necessita estar em condições específicas para que possam se
reproduzir, alimentar-se e crescer.
Condições inadequadas de qualidade da água resultam em prejuízo ao
crescimento, à reprodução, à saúde, à sobrevivência e à qualidade dos peixes,
comprometendo o sucesso dos sistemas aquaculturais (KUBITZA,1998)
No decorrer do dia, alguns fenômenos químicos e biológicos, que
ocorrem naturalmente nos tanques de piscicultura, podem proporcionar
variações em diversos parâmetros da qualidade de água. Por isso, a frequência
de aferição dos principais parâmetros deve ser feita da seguinte forma:
diariamente, antes do nascer do sol e no final da tarde para o oxigênio
16
dissolvido, temperatura, pH e amônia total; e semanalmente, uma vez ao dia
para dureza, alcalinidade e transparência (KUBITZA,1998).
No local onde foi realizado o estágio as análises de oxigênio, pH (média
8,0), gás carbônico e amônia foram feitas diariamente nas primeiras horas da
manhã, com auxílio de um pHmetro, oxímetro e kit comerciais. Em alguns
açudes havia recorrentes problemas com a baixa quantidade de oxigênio
dissolvido na água, pois, possuíam uma grande quantidade de macrófitas,
tornando-se um problema para o produtor, que não fazia o controle das
mesmas.
5.2. Arraçoamento dos peixes
Os peixes cultivados na fazenda apresentavam hábitos alimentares
distintos, sendo matrinxã e tambaqui onívoros e o pirarucu, carnívoro. No
entanto, todos eram alimentados com ração comercial extrusada para peixe
onívoro (32%PB). .
Por ser um peixe carnívoro, para que o pirarucu tenha rápido
crescimento e saúde, deve consumir rações balanceadas, contendo altas
concentrações de proteína (por volta de 45%) e lipídeos (cerca de 14%), com o
mínimo de carboidratos possível, uma vez que seu aproveitamento é baixo
(ONO e CAMPOS, 2016), mas na propriedade onde realizou-se o estágio, os
pirarucus foram alimentados com ração de menor nível protéico (32%PB) do
que o recomendado para a espécie.
A alimentação dos pirarucus na fazenda era baseada na ração de peixes
onívoros, fornecida também para todos os outros peixes da fazenda (tambaqui
e matrinxã) e complementada com outros peixes vivos presentes no viveiro de
criação como tilápias, piavas entre outros peixes pequenos. Segundo Ono e
Campos (2016) o fornecimento de peixes vivos é inviável economicamente e,
principalmente, porque limita a expansão da produção por conta dos grandes
volumes de peixes necessários para a alimentação. De uma forma geral, o
pirarucu precisa consumir de 6 a 8 kg de peixes para cada quilo que ele ganha
de peso.
A quantidade de ração ofertada baseava-se na biomassa de estocagem
de cada viveiro ou açude e através da realização de biometrias, foi recalculada
17
a biomassa e aplicada nova taxa de arraçoamento condizente com fase do
desenvolvimento do peixe.
A taxa de arraçoamento representa a quantidade de ração fornecida aos
peixes, e sua determinação deve associar o ganho de peso, a conversão
alimentar, o retorno econômico e a qualidade da água (FURUYA, 2007). De
acordo com o autor, a subalimentação piora o desempenho sem comprometer
a qualidade da água, enquanto o excesso de ração pode comprometer o
desempenho de forma direta, piorando a conversão alimentar e, indiretamente,
a redução na qualidade da água.
No local do estágio, dependendo da quantidade de ração a ser ofertada,
o trato diário podia ser realizado uma ou duas vezes ao dia. Frequentemente,
nos açudes, por serem maiores, e estocarem mais peixes, a quantidade de
ração nestes ambientes foi maior que a ofertada nos viveiros, devido a
quantidade de animais nos mesmos. Nestes casos, a alimentação dos peixes
foi realizada duas vezes ao dia e nos viveiros apenas uma vez.
Para arraçoamento, a ração foi carregada até os açudes em um trator e
lá o trato era realizado em barcos (Figura 8). Nos viveiros menores, este
procedimento era feito a lanço na beira dos viveiros.
Figura 8. Arraçoamento dos peixes estocados em um dos açudes da Fazenda Paraíso de
Deus, Amajari/RR.
Fonte: Arquivo pessoal
18
5.3. Reprodução de tambaqui e matrinxã em cativeiro
O sucesso de uma produção zootécnica inicia-se pelo controle da
reprodução da espécie, sem o qual o manejo e a viabilidade econômica da
produção ficam prejudicados (LIMA et al., 2013). Para a piscicultura, a
produção em cativeiro de formas jovens de peixes (larvas, pós-larvas e
alevinos) é a característica principal para que haja produção de pescado
(ANDRADE e YASUI, 2003).
Durante o estágio foi acompanhada a reprodução de dois tipos de
peixes, o tambaqui e o matrinxã. Quinzenalmente era escolhida uma dessas
espécies para realização da reprodução induzida. Esse processo era realizado
no CTA (Centro tecnológico de Aquicultura) onde se localizava o laboratório.
Os peixes eram capturados com redes de arrasto nos viveiros localizados ao
redor do laboratório. Geralmente eram capturadas três fêmeas e cinco machos,
e acondicionados um casal em cada caixa de alvenaria (2000 L) (Figura 9). Os
machos sobressalentes eram colocados nas caixas restantes.
Após pesar os animais, calculava-se a quantidade de hormônio
necessário (Extrato bruto de hipófise - EBHC) e realizava-se a aplicação da
primeira dose do hormônio nas fêmeas (0,5 mg/kg). Após doze horas,
realizava-se a aplicação da segunda dose nas fêmeas (5,0 mg/kg) e da dose
única no macho (2 mg/kg). Foi realizado o cálculo das horas- grau para estimar
o momento da ovulação. Não era feita a sutura nos peixes enquanto esperava
o momento da extrusão.
No momento da extrusão os animais eram anestesiados com óleo de
cravo, para evitar que se debatessem e diminuir o estresse. Após se
acalmarem, eram colocados e uma maca onde era feita a extrusão dos
gametas. Os ovócitos eram colocados em bacias de plástico (Figura 10)
enquanto era feita a massagem abdominal nos machos para a obtenção dos
espermatozóides (Figura 11).
Após misturar ovócitos e o sêmen (Figura 12), estes eram hidratados,
abrindo a micrópila e facilitando que os espermatozóides fecundem o óvulo
(Figura 13) a fim de ocorrer a fertilização e após 15 minutos, os ovos eram
colocados nas incubadoras (Figura 14). Caso um macho não produzisse
19
sêmen o suficiente, um dos machos sobressalentes era extrusado e o sêmen
utilizado para fertilização dos ovócitos coletados.
Figura 9. Caixas plásticas (2.000 L) para estocagem das matrizes e reprodutores usados na
reprodução artificial (esquerda). Casal de tambaqui (C. macropomum) estocado em
uma das caixas plásticas (direita).
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 10. Ovócitos coletados de tambaqui (Colossoma macropomum).
Fonte: Arquivo pessoal
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Figura 11. Massagem abdominal em tambaqui (Colossoma macropomum) para extrusão do
sêmem.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 12. Mistura dos ovócitos e o sêmem de tambaqui (Colossoma macropomum).
Fonte: Arquivo pessoal
21
Figura 13. Hidratação dos ovos.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 14. Incubadoras para estocagem dos ovos
Fonte: Arquivo pessoal
22
5.4. Treinamento alimentar de alevinos de pirarucu
O pirarucu é um peixe carnívoro e necessita de um treinamento para
consumir ração e o fato dele ser filtrador e consumir plâncton facilita o
treinamento (ONO e KEHDI, 2013).
Alevinos pequenos de pirarucu formam, instintivamente, cardumes bem-
organizados que para se alimentarem, realizam movimentos sincronizados
para capturar o alimento. Os animais abrem e fecham a boca sem visualizar ou
identificar sua presa, e entrada do zooplâncton na boca é cega e aleatória
(ONO e KEHDI, 2013). Segundo estes autores, na fase em que os alevinos
nadam em cardume não é indicado alimentá-los com ração, pois não vão parar
para visualizar o alimento e vai acabar acontecendo o desperdício de ração na
água. Com aproximadamente 7 cm, os peixes começam a procurar presas
individualmente, parando para olhar e apreender os organismos da água,
sendo este o momento correto para começar o treinamento alimentar, com
ração de alta qualidade misturada com zooplâncton.
Os alevinos de pirarucu eram produzidos nos viveiros, através da
reprodução dos casais e então eram capturados e levados para os tanques
dentro do laboratório onde era feito o treinamento alimentar.
No início do estágio, o treinamento alimentar dos pirarucus consistia em
capturar o plâncton com uma rede própria nos viveiros que continham maior
população planctônica e fornecer diretamente nos tanques onde estavam os
alevinos de pirarucu. Em seguida, era fornecida ração em pó (48%PB). Após
visita da pesquisadora da EMBRAPA Pesca e Aquicultura (Palmas, Tocantins)
realizada durante o estágio, o protocolo de treinamento alimentar foi
modificado. O plâncton passou a ser capturado da mesma forma, porém era
peneirado (peneira plástica de 25 micras) (Figura 15) e misturado com a ração
(Figura 16), formando uma “massa” de ração + zooplâncton, a qual era
fornecida aos alevinos, sendo mais atrativa para os peixes. Após esta mudança
no protocolo de treinamento alimentar, verificou-se aumento no consumo de
alimento e maior taxa de sobrevivência.
Inicialmente era fornecido aos peixes 50% zooplâncton e 50% ração
moída, diminuindo gradativamente a quantidade de zooplâncton ofertado em
relação à ração. Segundo Ono e Kehdi (2013) em10 dias os peixes estarão
23
comendo exclusivamente ração. Não foi possível verificar durante o estágio o
fornecimento exclusivo de ração, devido ao término do estágio enquanto os
peixes ainda estavam em treinamento alimentar.
Figura 15. Peneira usada para filtrar o zooplâcnton para treinamento alimentar de alevinos de
pirarucu (Arapaima gigas).
Fonte: Arquivo pessoal
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Figura 16. Mistura da ração em pó (48%PB) com o zooplâncton já peneirado para alimentação
de alevinos de pirarucu (Arapaima gigas) durante treinamento alimentar.
Fonte: Arquivo pessoal
5.5 Chipagem de tambaqui melhorado geneticamente
A marcação eletrônica consiste na introdução de um "chip" próximo à
nadadeira dorsal do animal, com uma numeração, que passa a ser a
identificação do indivíduo. É como se fosse o “RG” do peixe, fundamental para
o produtor conhecer cada animal do seu plantel, acompanhar seu crescimento
e conduzir sua reprodução (LIMA, 2015).
A "chipagem" de peixes possibilita quatro importantes etapas para a
piscicultura comercial: o controle zootécnico, de reprodução, o manejo genético
e, em última instância, a rastreabilidade do produto (LIMA, 2015). Segundo a
autora, a partir do controle zootécnico, o produtor pode acompanhar
mensalmente o tamanho, o peso e o número de indivíduos no seu plantel. Além
disso, ele identifica facilmente os machos e fêmeas e dessa forma pode
conduzir melhor a produção de alevinos.
O proprietário da fazenda mantém uma parceria técnica com a Embrapa
Pesca e Aquicultura (Palmas, TO) e possuía famílias de tambaquis melhoradas
25
geneticamente para ganho de peso. Neste caso, para continuidade do
programa de melhoramento genético, era necessário realizar a chipagem dos
peixes, a fim de identificar os de maior desempenho e usá-los para reprodução.
Para chipagem, os tambaquis eram capturados nos viveiros com rede de
arrasto e eram selecionados aqueles que tivessem o corpo mais arredondado,
regiões das costelas mais altas e amplas. O chip era inserido na musculatura
dorsal, no lado esquerdo próximo a nadadeira dorsal (Figura 17) através de um
aplicador e em seguida os peixes eram soltos no viveiro destinado
exclusivamente a estes animais chipados para facilitar a captura
posteriormente quando fosse necessário utilizá-los.
Figura 17. Chipagem de tambaqui (Colossoma macropomum) pertencente ao programa de
melhoramento genético da Fazenda Paraíso de Deus (Amajari/RR) em parceria
com a Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO).
Fonte: Arquivo pessoal
26
5.6. Transferência de peixes para as unidades de produção
A transferência de larvas para os viveiros é a fase mais sensível do
processo de reprodução, podendo ocorrer alta taxa de mortalidade devido à
predação ou também alimentação inadequada. Desta forma, para larvicultura é
indicado usar viveiros pequenos, não maiores que 2.000m2 (LIMA et al., 2013).
As larvas de tambaqui e matrinxã produzidas no laboratório de
reprodução, e os alevinos de pirarucu capturados no viveiro, após treinamento
alimentar, eram soltos em viveiros de 600m2 ou em açudes de maior dimensão,
mas, não era realizado um controle criterioso do número de animais soltos em
cada unidade de produção. Durante o estágio também foi possível verificar a
soltura de larvas de tambaqui em um açude de 8 ha de lâmina d´água,
discordando do preconizado pela literatura.
Após três meses, os alevinos eram capturados destes viveiros iniciais e
liberado sem viveiros direcionados a engorda. Para isso, eram capturados com
rede de arrasto em malha própria para a espécie e acondicionados em um
caminhão com uma caixa de transporte com três compartimentos (Figura 18)
cada um com capacidade de até 1000 kg de peixe. Se o transporte fosse
realizado a distâncias maiores era colocado nas caixas entre 600 a 800 kg de
peixe, dependendo do tamanho do mesmo.
Figura 18. Caminhão para transporte de peixes (esquerda) e soltura dos alevinos em viveiros
de engorda da Fazenda Paraíso de Deus (Amajari/RR) (direita).
Fonte: Arquivo pessoal
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5.7. Comercialização de alevinos
A maior parte dos alevinos produzidos no laboratório era destinada a
engorda realizada nas três fazendas do complexo. O excedente era destinado
à comercialização e tinha como compradores os proprietários das fazendas
vizinhas ou até de outras cidades, que vinham até ali para adquirir alevinos
devido ao preço baixo.
No caso do transporte de pequenas quantidades de peixes a curtas
distâncias, o mesmo era realizado com sacos plásticos de 60 litros abastecidos
com água (20 litros) e oxigênio. A caixa de transporte utilizada na entrega de
peixes a maiores distâncias e em grande quantidade era abastecida
constantemente com um cilindro de oxigênio.
O transporte de peixes vivos é uma rotina dentro e fora das pisciculturas
e representa um considerável custo e risco aos piscicultores, sendo
necessárias estratégias adequadas de transporte a fim de minimizar tais riscos
e custos (KUBITZA, 1997). Neste sentido, a propriedade adotava como
procedimento adicionar sal à água para minimizar o estresse durante o
transporte, tanto o realizado em caixas como em sacos plásticos.
A mistura de sais e outras substâncias podem ser usadas para amenizar
os efeitos do estresse fisiológico sobre os peixes durante o transporte
(KUBITZA, 1997). Segundo o autor, sal comum (cloreto de sódio) pode ser
usado no transporte em concentrações de 0,1 a 0,3% (1 a 3 kg/m3 de água) e
concentrações de até 0,5% (5kg/m3) podem ser usadas, embora algumas
espécies possam não tolerar tal salinidade.
Durante as operações que precedem o transporte (despesca, manuseio,
classificação por tamanho, depuração e carregamento), os peixes
invariavelmente sofrem alguma injúria física (perda de escamas, esfoliações,
batidas, etc.) e perdem parte da proteção provida pelo muco e escamas. Estes
ferimentos facilitam as perdas de sais e promover a hidratação excessiva dos
peixes, dificultando a manutenção do equilíbrio osmorregulatório. (KUBITZA,
2007).
Isso pode resultar em significativa mortalidade dos peixes durante e,
mais comumente, uma a duas semanas após o transporte (KUBITZA, 2007).
28
Neste sentido, o sal estimula a produção de muco e diminui este
desequilíbrio osmoregulatório resultante do estresse provocado pelos
procedimentos de transporte (KUBITZA, 1997).
Tendo em vista o citado acima o proprietário para evitar perdas com a
mortalidade dos alevinos, utilizava o sal nos manejos de transporte da
propriedade.
29
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estágio foi realizado em uma propriedade grande e bastante
representativa para a produção do estado de Roraima e foi muito produtivo, por
possibilitar a oportunidade de realizar vários manejos rotineiros na produção de
peixes e vivenciar a realidade produtiva da região Norte do Brasil.
Adquiriu-se experiência trabalhando com produção de peixes nativos da
região, dentre eles o pirarucu, que é atualmente pouco explorado em Mato
Grosso.
Em outros estágios voluntários realizados durante a graduação, foi
possível acompanhar a reprodução de outras espécies nativas, como peixes de
couro, mas, foi durante este estágio supervisionado que foi possível trabalhar
com a reprodução do tambaqui e matrinxã, bem como o pirarucu, que
apresenta particularidades reprodutivas as quais puderam ser conhecidas
durante o estágio.
O conhecimento teórico vivenciado em piscicultura durante o curso foi
colocado em prática durante a realização do estágio, permitindo o
aperfeiçoamento na área e contribuindo para a formação profissional em
Zootecnia.
Com essas experiências foi possível a carência de informações na área
de sanidade para a piscicultura, a qual necessita ser mais estudada.
30
REFERÊNCIAS
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sua importância na produção de peixes no brasil. Rev. Bras. Reprod.
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do Estado de Mato Grosso. Cáceres. Ed. UNEMAT, p. 85, 2010.
CAVERO, B. A.S;, FONSECA, F. A. L. Pirarucu: situação atual e perspectivas
na região amazônica. Panorama da Aquicultura. Edição 110, 2008.
FURUYA, W. M. Redução do impacto ambiental por meio da ração. In: Palestra
VII Seminário de Aves e Suínos – Acesui Regiões. III Seminário de
Aqüicultura, Maricultura e Pesca. Anais. Belo Horizonte-MG. p. 121-139.
2007.
GODINHO, H. P. Estratégias reprodutivas de peixes aplicadas à aqüicultura:
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31
KUBITZA, F. Transporte de Peixes Vivos. Panorama da Aquicultura, v.7 n.43
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