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i ADRIANO COSTA PINTO CONTROLE INTEGRADO DE TENSÃO E POTÊNCIA REATIVA ATRAVÉS DE APRENDIZADO DE MÁQUINA CAMPINAS 2015

ADRIANO COSTA PINTO CONTROLE INTEGRADO DE TENSÃO E …repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/259987/1/Pinto_Adri… · Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica

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  • i

    ADRIANO COSTA PINTO

    CONTROLE INTEGRADO DE TENSÃO E POTÊNCIA REATIVA ATRAVÉS

    DE APRENDIZADO DE MÁQUINA

    CAMPINAS

    2015

  • ii

  • iii

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO

    CAMPINAS

    2015

    Dissertação de Mestrado apresentada ao

    Programa de Pós-Graduação em Engenharia

    Elétrica da Faculdade de Engenharia Elétrica e

    de Computação da Universidade Estadual de

    Campinas para obtenção do título de Mestre em

    Engenharia Elétrica, na área de Energia Elétrica.

    ADRIANO COSTA PINTO

    CONTROLE INTEGRADO DE TENSÃO E POTÊNCIA REATIVA ATRAVÉS

    DE APRENDIZADO DE MÁQUINA

    Orientador: Prof. Dr. Walmir de Freitas Filho

    Este exemplar corresponde à versão final da

    dissertação defendida pelo aluno Adriano Costa

    Pinto e orientada pelo professor Dr. Walmir de

    Freitas Filho.

    ________________________________________

  • iv

    Ficha catalográfica

    Universidade Estadual de Campinas

    Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura

    Elizangela Aparecida dos Santos Souza - CRB 8/8098

    P658c

    Pinto, Adriano Costa, 1989-

    PinControle integrado de tensão e potência reativa através de aprendizado de

    máquina / Adriano Costa Pinto. – Campinas, SP : [s.n.], 2015.

    PinOrientador: Walmir de Freitas Filho.

    PinDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de

    Engenharia Elétrica e de Computação.

    Pin1. Sistemas de energia elétrica - Distribuição. 2. Sistemas de energia elétrica -

    Controle. 3. Aprendizado de máquina. 4. Máquina de vetores de suporte. I. Freitas

    Filho, Walmir de,1971-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de

    Engenharia Elétrica e de Computação. III. Título.

    Informações para Biblioteca Digital

    Título em outro idioma: Integrated voltage and reactive power control using machine learning

    Palavras-chave em inglês:

    Electric power distribution systems

    Electric power systems control

    Machine learning

    Support vector machine

    Área de concentração: Energia Elétrica

    Titulação: Mestre em Engenharia Elétrica

    Banca examinadora:

    Walmir de Freitas Filho [Orientador]

    Fábio Bertequini Leão

    Luiz Carlos Pereira da Silva

    Data de defesa: 30-04-2015

    Programa de Pós-Graduação: Engenharia Elétrica

  • v

  • vi

  • vii

    Resumo

    A crescente demanda por energia elétrica, por vezes em ritmo mais acelerado que os

    investimentos em expansão das redes de distribuição, tem levado as distribuidoras a operarem

    próximo aos limites aceitáveis, o que torna toda a operação da rede mais complexa. Um dos

    desafios atuais é estabelecer um efetivo controle de tensão e potência reativa (Volt/Var) na rede

    buscando melhorar o nível de operação e de eficiência energética da rede. Muitas propostas para

    encontrar a solução do problema partiram de uma abordagem de forma desacoplada: o controle

    de tensão e o controle de potência reativa foram resolvidos separadamente. Neste trabalho,

    porém, foram estudados métodos de solução do problema visando à segurança da operação e à

    otimização global dos recursos da rede de modo integrado, ou seja, considerando a dependência

    entre tensão e potência reativa.

    Na literatura, grande parte dos trabalhos reportam soluções baseadas em modelos elétricos

    da rede de distribuição. Os métodos estudados nessa dissertação são baseados em técnicas de

    aprendizado de máquina com o objetivo de construir um modelo capaz de utilizar apenas as

    medições de tensão e corrente provenientes dos medidores instalados ao longo da rede e obter o

    melhor despacho dos ajustes dos dispositivos de controle, sem a necessidade de um modelo

    elétrico do sistema. A grande vantagem de não depender dos dados e modelo elétrico do sistema

    está associada às imprecisões tipicamente existentes na base de dados elétricos das

    concessionárias de distribuição de energia elétrica. Neste contexto, primeiramente, propõe-se o

    uso de aprendizado por reforço, no qual o agente interage com a rede enquanto acumula

    experiência de operação dos controles. A implementação através do algoritmo Q-Learning

    permite a construção de um operador virtual da rede de distribuição a partir dos dados

    provenientes dos medidores instalados em determinadas barras do sistema, dos quais é extraído o

    estado corrente da condição de carregamento da rede. Os principais aspectos da aplicação do

    método ao problema de controle integrado de tensão e potência reativa são simulados em redes

    típicas e as capacidades de aplicação prática ao cenário atual do sistema elétrico são discutidas.

    Em uma segunda etapa, propõe-se utilizar um algoritmo de aprendizado supervisionado

    baseado em Máquinas de Vetores de Suporte (em inglês, Support Vector Machine – SVM), uma

    técnica eficientemente aplicada a problemas de mineração de dados. O modelo é implementado

    através de técnicas de classificação, que extraem características relevantes nos conjuntos de

  • viii

    dados, a fim de otimizar a operação da rede para cada condição de carregamento, eliminando a

    necessidade de repetir o treinamento do modelo ou calcular uma nova solução do problema de

    otimização a cada novo cenário. Discute-se o desempenho do método baseado em SVM para

    diferentes características de entrada. Investiga-se ainda a generalização do modelo proposto na

    presença de ruídos nos dados e no caso de reconfiguração da rede. Estudos em sistemas típicos de

    distribuição mostram que o método proposto é eficiente na solução de problemas práticos do dia-

    a-dia das concessionárias, principalmente em ambientes com grande volume de dados.

  • ix

    Abstract

    The growing demand for electricity, sometimes at a faster rate than investments in

    distribution network expansion, has led utilities to operate close to acceptable limits, which

    makes the network operation more complex. One of current challenges is to establish an effective

    voltage and reactive power control, improving the operation as well as the efficiency of the

    distribution network. There are many methods reported to find solutions for the voltage and

    reactive power problem. Most of them have adopted a decoupled form, solving the voltage

    control and reactive power control separately. However, in this work, methods for solving this

    problem in an integrated mode, i.e., considering the dependence between voltage and reactive

    power, are investigated.

    Most of papers propose solutions based on electrical models of distribution network. In

    this work, the studied methods are based on machine learning techniques aiming to build a model

    that explores measurement data, in order to set optimal adjustments of controls devices, without

    the need of an electrical model of the system and, therefore, not susceptible to inaccuracies of the

    model of the distribution network under study. Firstly, it proposes the use of a reinforcement

    learning based method, in which the agent interacts with the network while earns control

    operating experience. The implementation of Q-Learning algorithm, from reinforcement learning

    theory, allows the operation of a distribution network based on data obtained from the meters

    installed throughout the feeder. From the meter data, the current state of the network loading

    condition is obtained. The main aspects of the application of the method of integrated voltage and

    reactive power control are simulated in typical networks and the possibilities of practical

    application in the current scenario of the electrical system are discussed. In a second step, an

    algorithm of supervised learning via the Support Vector Machine (SVM), a technique efficiently

    applied to problems in data mining, is proposed. The model is implemented by classification

    techniques, extracting relevant features in the data sets from the power meters in order to

    optimize the operation of the network for each loading condition. Thus it eliminates the need to

    retraining model or calculating a new optimization problem solution for each new scenario. The

    SVM performance under different features of input model is discussed. Also generalization

    capabilities of the proposed model in the presence of noise are studied.

  • x

    Studies in typical distribution systems show that the investigated methods are good

    candidates to solve the practical problem of the system, especially in large networks with huge

    amount of data.

  • xi

    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1

    1.1 OBJETIVO DA DISSERTAÇÃO ....................................................................................................................... 4

    1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ................................................................................................................... 5

    2. O PROBLEMA DE CONTROLE DE TENSÃO E POTÊNCIA REATIVA ............................ 7

    2.1 REGULAÇÃO DO SETOR DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ................................................ 7

    2.2 REGULAÇÃO DE TENSÃO ............................................................................................................................ 11

    2.3 PERDAS ELÉTRICAS NA REDE DE DISTRIBUIÇÃO ................................................................................ 12

    2.3.1 Dispositivos utilizados em sistemas de distribuição para controle de tensão e de potência reativa ......... 14

    2.3.2 Transformadores de subestação com comutação de tap sob carga ........................................................... 14

    2.3.3 Regulador de tensão .................................................................................................................................. 15

    2.3.4 Bancos de Capacitores .............................................................................................................................. 16

    2.4 CONTROLE DE TENSÃO E POTÊNCIA REATIVA ..................................................................................... 17

    2.4.1 Controle local ............................................................................................................................................ 18

    2.4.2 Controle centralizado ................................................................................................................................ 19

    2.4.3 Técnicas de otimização e controle aplicadas ao problema ....................................................................... 21

    2.5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................................................... 34

    3. APRENDIZADO DE MÁQUINA ........................................................................................... 41

    3.1 TEORIA DE APRENDIZADO POR REFORÇO ............................................................................................. 42

    3.1.1 Processos Markovianos de Decisão........................................................................................................... 45

    3.1.2 Métodos de Solução do Aprendizado por Reforço ..................................................................................... 47

    3.2 TEORIA DE APRENDIZADO SUPERVISIONADO ...................................................................................... 56

    3.2.1 Máquinas de Vetores de Suporte................................................................................................................ 56

    3.2.2 Teoria do Aprendizado Estatístico ............................................................................................................. 57

    3.2.3 Classificador baseado em Máquinas de Vetores de Suporte ..................................................................... 58

    3.2.4 Extração de características (atributos da classe) ...................................................................................... 59

    3.2.5 Classificação binária ................................................................................................................................. 60

    3.2.6 Margens Suaves ......................................................................................................................................... 62

    3.2.7 Mapear para dimensão maior .................................................................................................................... 65

    3.2.8 Mapeamento através de função Kernel ...................................................................................................... 65

    3.2.9 Classificador Multiclasse ........................................................................................................................... 66

    3.2.10 Definição dos hiperparâmetros................................................................................................................ 70

  • xii

    4. METODOLOGIA EMPREGADA ........................................................................................... 72

    4.1 FORMULAÇÃO MATEMÁTICA DO PROBLEMA ...................................................................................... 72

    4.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DO CONTROLE VOLT/VAR CENTRALIZADO POR

    APRENDIZADO POR REFORÇO ......................................................................................................................... 74

    4.2.1 Q-LEARNING APLICADO AO PROBLEMA CONTROLE DE TENSÃO E POTÊNCIA REATIVA ......... 75

    4.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DO CONTROLE VOLT/VAR CENTRALIZADO POR

    APRENDIZADO SUPERVISIONADO ................................................................................................................. 83

    4.3.1 Conjunto de dados ..................................................................................................................................... 84

    4.3.2 Normalização dos dados de entrada .......................................................................................................... 87

    4.3.3 Classificação Multiclasse .......................................................................................................................... 87

    4.3.4 Determinação da função objetivo .............................................................................................................. 88

    4.3.5 Fases de treinamento e teste do classificador ............................................................................................ 89

    5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................................. 91

    5.1 REDE TÍPICA DE ESTUDOS DE DISTRIBUIÇÃO....................................................................................... 91

    5.2 SIMULAÇÕES POR Q-LEARNING ................................................................................................................. 93

    5.2.1 Estratégia de exploração ........................................................................................................................... 95

    5.2.2 Utilização de experiência acumulada ........................................................................................................ 98

    5.2.3 Adição de capacitor ................................................................................................................................... 99

    5.3 SIMULAÇÕES POR MÁQUINAS DE VETORES DE SUPORTE ............................................................... 100

    5.3.1 Simulação de aplicação do método na rede IEEE 34 barras .................................................................. 101

    5.3.2 Redução do número de barras monitoradas ............................................................................................ 103

    5.3.3 Adição de ruídos aos dados ..................................................................................................................... 105

    5.3.4 Adição de capacitor ................................................................................................................................. 106

    5.3.5 Adição de gerador distribuído ................................................................................................................. 108

    5.3.6 Resultados da aplicação de SVM em uma rede de grande porte ............................................................. 110

    6. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS....................................................................... 114

    6.1 TRABALHOS FUTUROS .............................................................................................................................. 116

    7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 117

    APÊNDICE A – NÍVEIS DE TENSÃO NOS PONTOS DE CONEXÃO ................................. 126

    APÊNDICE B – DADOS DA REDE DE TESTE IEEE-34 BARRAS ...................................... 128

  • xiii

    AGRADECIMENTOS

    Ao meu orientador Prof. Dr. Walmir Freitas e ao Dr. Diogo Salles, minha gratidão pela

    amizade, profissionalismo e dedicação. Foram cruciais no incentivo e motivação para realização

    de trabalho.

    Agradeço também ao Prof. Dr. Luiz Carlos Pereira da Silva, sua dedicação ao ensino e à

    pesquisa despertou meu interesse pela área de sistemas de energia elétrica.

    Agradeço também a Profa. Dr. Fernanda Trindade e ao Tiago R. Ricciardi, toda a

    colaboração e auxílio foram de grande valor.

    Aos meus pais, cujo amor sempre me impulsionou a realizar meus sonhos.

  • xiv

  • xv

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1. Níveis de tensão especificados no PRODIST. ............................................................ 10

    Figura 2.2. Queda de tensão ao longo de um alimentador de uma rede típica [23]. ..................... 12

    Figura 2.3. Efeito da atuação do regulador de tensão no perfil de tensão. .................................... 16

    Figura 2.4. Representação de uma rede neural artificial. .............................................................. 26

    Figura 2.5. Sistema de interferência fuzzy. .................................................................................... 29

    Figura 3.1. Interação entre elementos da aprendizagem por reforço............................................. 43

    Figura 3.2. Representação de um classificador binário. Os pontos circulados são os dados

    utilizados como vetores de suporte à margem. .............................................................................. 61

    Figura 3.3. Introdução das margens suaves permite a classificação mesmo com dados violando as

    margens. ......................................................................................................................................... 63

    Figura 3.4. Mapeamento para hiperespaço no qual se pode separar por um hiperplano. .............. 65

    Figura 3.5. Classificadores multiclasse através do método um-contra-todos. .............................. 68

    Figura 3.6. Método um-contra-um para classificação multiclasse. ............................................... 69

    Figura 3.7. Método DAGSVM de classificação binária para problema multiclasse. .................... 70

    Figura 4.1. Sequência de execução do modelo baseado em classificador SVM. .......................... 89

    Figura 5.1. Diagrama unifilar da rede IEEE-34 modificada.......................................................... 93

    Figura 5.2. Perfil de tensão da rede para o caso base sem ajustes dos dispositivos de controle. .. 95

    Figura 5.3. Perfil de tensão obtido pelo agente após um episódio de aprendizado. ...................... 95

    Figura 5.4. Recompensas imediatas do algoritmo Q-Learning para o caso base e técnica ε-greedy.

    ....................................................................................................................................................... 96

    Figura 5.7. Diagrama unifilar da rede IEEE-34 modificada........................................................ 112

  • xvi

  • xvii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 3.1. O algoritmo de iteração de valor. ............................................................................... 49

    Tabela 3.2. O algoritmo de iteração de política. ............................................................................ 50

    Tabela 3.3. Algoritmo Q-Learning completo. ............................................................................... 54

    Tabela 4.1. Algoritmo de Q-Learning aplicado ao problema de controle ótimo. ......................... 76

    Tabela 4.2. Ilustração da formação da tabela Q(s,a). .................................................................... 79

    Tabela 5.1: Limites e discretização das variáveis de controle no controle por Q-Learning. ........ 93

    Tabela 5.2. Pontos de conexão em Tensão Nominal igual ou superior a 1 kV e inferior a 69 kV

    [20]. ............................................................................................................................................... 94

    Tabela 5.3. Resultados da execução do algoritmo de Q-Learning. ............................................... 98

    Tabela 5.4. Resultados da execução do algoritmo de Q-Learning utilizando memória inicial

    obtida do carregamento base. ........................................................................................................ 98

    Tabela 5.5. Resultados da execução do algoritmo de Q-Learning utilizando memória inicial e

    mantendo fixo o tap do regulador de tensão obtido para o caso base. .......................................... 99

    Tabela 5.6. Resultados da execução do algoritmo de Q-Learning quando um novo dispositivo de

    controle é adicionado. .................................................................................................................... 99

    Tabela 5.7: Limites e discretização das variáveis de controle na controle por SVM. ................. 101

    Tabela 5.8. Desempenho por otimização clássica e pelo método proposto (25 barras

    monitoradas). ............................................................................................................................... 102

    Tabela 5.9. Valores da função objetivo (25 barras monitoradas). ............................................... 103

    Tabela 5.10. Desempenho do classificador com número de características reduzido (6 barras

    monitoradas). ............................................................................................................................... 104

    Tabela 5.11. Valores da função objetivo (6 barras monitoradas). ............................................... 105

    Tabela 5.12. Desempenho do modelo na presença de ruídos nos dados. .................................... 106

    Tabela 5.13. Desempenho considerando um capacitor fixo adicional. ....................................... 107

  • xviii

    Tabela 5.14. Adição de capacitor e de informações do operador. .............................................. 108

    Tabela 5.15. Desempenho do método na adição de geração distribuída. .................................... 109

    Tabela 5.16: Limites e discretização das variáveis de controle para a rede de 8500 nós. ........... 111

    Tabela 5.17. Desempenho do método na rede IEEE de 8500 nós. ............................................. 113

  • 1

    1. INTRODUÇÃO

    O setor de energia elétrica, fundamental para o desenvolvimento da sociedade moderna

    e crucial para a economia de qualquer país, vem passando pelos maiores desafios e mudanças

    das últimas décadas [1],[2]. De um lado a demanda crescente por energia com qualidade e

    confiabilidade e, de outro lado, o alto custo associado à construção de novas unidades de

    geração, transmissão e distribuição, além das dificuldades relacionadas aos aspectos de

    impactos ambientais de novas construções e da queima de combustíveis fósseis. Acrescentam-se

    ainda a desregulação do mercado que aumenta a competitividade e consequentemente as

    restrições financeiras a novos investimentos. Esse conjunto de fatores tem levado as

    concessionárias a avaliar as medidas de eficiência como necessidade para resolver problemas de

    distribuição de energia [3],[4]. No cenário atual, destaca-se também a necessidade de

    diversificação da matriz energética, os incentivos à expansão da rede e a integração, na

    distribuição, de novas fontes de energia através dos geradores distribuídos, instalados ao longo

    de uma estrutura de rede elétrica originalmente concebida para operar com fluxo de energia

    unidirecional, isto é, fluindo dos geradores centrais e subestações aos consumidores. A operação

    da rede com fluxo bidirecional exige ainda mais investimentos financeiros em avanços

    tecnológicos. Nesse cenário, para fornecer energia com qualidade, eficiência e garantindo a

    segurança operacional em todas as condições exigem-se sistemas de monitoramento e controle

    mais sofisticados, aliando robustez, métricas de confiabilidade, comunicação e processamento

    de informações e tomadas de decisão precisas em tempo hábil [1].

    Particularmente no setor de distribuição de energia elétrica, as empresas, para atender

    aos novos desafios, tem iniciado uma modernização dos recursos de monitoração e acionamento

    da rede, implementando uma infraestrutura de comunicação bidirecional em tempo real ou

    periódico, instalando novos sensores, controladores com acesso remoto e mais relés digitais nos

    sistemas de proteção. Para que as vantagens e possibilidades trazidas pela nova estrutura sejam

    aproveitadas e economicamente justifiquem os investimentos necessários, é imperativo o

    desenvolvimento de novas ferramentas de operação e controle da rede, agregando segurança,

    inteligência e eficiência aos sistemas de distribuição de energia elétrica. Nesse novo cenário de

    crescente automação das redes de distribuição, a solução do problema de controle da tensão e da

  • 2

    potência reativa tem um papel crucial no esforço de aumentar a eficiência no uso da energia,

    além de ser apontada como uma aplicação promissora e que justifica o custo dos investimentos

    na modernização da infraestrutura de medição [5],[6].

    Basicamente, o controle de tensão e potência reativa está associado ao ajuste dos

    dispositivos de controle instalados nos sistemas de distribuição para que dois principais

    objetivos sejam atingidos: (a) manutenção das tensões dentro dos limites aceitáveis nas entradas

    de serviço de todos os consumidores do sistema em todas as condições de operação e (b)

    minimização da potência reativa injetada pela subestação na rede a fim de reduzir as perdas

    elétricas e melhorar o fator de potência [7]-[9].

    A regulação da tensão nos pontos consumidores é um requisito operacional fundamental

    em todos os sistemas de distribuição de energia elétrica. Habitualmente, essa regulação é feita

    através de dispositivos de controle instalados na subestação ou espalhados ao longo dos

    alimentadores. Tais dispositivos geralmente são os transformadores com mudança de tap sob

    carga, localizados na subestação de modo a compensar as variações em toda a rede, e

    reguladores de tensão ajustando as tensões nos trechos do alimentador em que estão instalados.

    Adicionalmente, para reduzir o fluxo de potência reativa nos alimentadores, as concessionárias

    instalam capacitores fixos e chaveados nas subestações e ao longo das linhas, que mantêm o

    fator de potência ao longo da rede próximo de um e reduzem a parcela de corrente elétrica

    reativa vinda da subestação. Como as perdas elétricas nos condutores são proporcionais ao

    quadrado da corrente, a redução desta tem impacto significativo nas perdas, além de reduzir as

    quedas de tensão ao longo dos trechos e melhorar o perfil de tensão nas barras próximas ao

    dispositivo de compensação reativa [3]. Esses capacitores e reguladores precisam então ser

    controlados de acordo com diferentes perfis de carregamento, caso contrário, eles não cumprem

    seu objetivo e podem causar problemas de tensão e aumentar as perdas elétricas [10].

    O problema de controle de tensão e potência reativa tem sido tratado há tempos nos

    sistemas de distribuição. Tradicionalmente, a estratégia de operação dos dispositivos de

    controles tem sido programada de maneira manual na instalação destes, de acordo com estudos

    prévios no momento da instalação, e suas ações de controle são determinadas de maneira

    independente para cada dispositivo, baseadas em medições locais de tensão e corrente [6].

    Portanto, nessa estratégia, cada dispositivo atua sem levar em conta a atuação conjunta de

  • 3

    outros dispositivos e, embora a técnica seja efetiva, o conjunto de operações individuais pode

    não estar de acordo com a estratégia global da rede ou ainda, surtir efeito contrário ao controle

    desejado. A dificuldade de obter sucesso aumenta ainda mais, devido à variação dos padrões de

    carga (horário, diário e sazonal), às mudanças no comportamento dos consumidores e à

    instalação de novas cargas na rede com impacto considerável. A falta de flexibilidade na

    operação dos dispositivos de controle nessa estratégia independente e local pode minimizar os

    benefícios oferecidos pela instalação dos mesmos [3]. Portanto, em outras palavras, embora seja

    efetivo, o controle local e individualizado pode não atuar de acordo com a estratégia global de

    otimização da rede, reduzindo as possibilidades de incremento de eficiência, além de não atuar

    de acordo com a estratégia global em situações de emergência.

    Para que o controle seja efetivo globalmente, deve-se fazer o melhor uso possível da

    infraestrutura de acionamento, sensoriamento e proteção existentes nos projetos das redes

    modernas para despachar adequadamente o ajuste de cada dispositivo de controle de acordo

    com o objetivo de operação [11]. Esse objetivo, também chamado de estratégia de operação,

    pode ser variável ao longo da operação da rede durante o dia, semana ou então de acordo com

    possíveis reconfigurações ou situações de emergência. Nesse contexto, é desejável que o

    modelo de controle permita a incorporação de várias estratégias de operação selecionáveis de

    acordo com a necessidade do operador da rede.

    Soluções para o problema de controle de tensão e potência reativa foram propostos

    através de técnicas que podem ser divididas em várias categorias e subcategorias. O grande

    desafio apresentado em todos os estudos está em oferecer soluções de qualidade, que permitam

    elevada eficiência de operação e execução em tempo satisfatório. Um dos fatores que

    minimizam a praticidade de parte das soluções propostas é a forte dependência de um completo

    modelo elétrico da rede de distribuição sob estudo. Muitas vezes, os dados, quando disponíveis,

    estão desatualizados e incompletos [12], tornando soluções baseadas em modelos quase

    impraticáveis. Uma alternativa é construir soluções baseadas nos dados de medição disponíveis

    nos sistemas de monitoramento, e assim preencher o requisito de aliar otimização do controle da

    rede com confiabilidade e segurança de operação necessária, mesmo para redes com poucas

    informações do ponto de vista de circuitos elétricos.

  • 4

    O uso direto de dados de monitoramento demanda conhecimento de outras áreas,

    principalmente de tecnologia da informação, no que se refere ao armazenamento e

    gerenciamento de dados, e à extração de informações relevantes do conteúdo armazenado. Não

    só nas aplicações de sistemas de potência, mas em tantas outras áreas, com uma quantidade

    crescente de dados sendo disponibilizados, há boas razões para acreditar que o desenvolvimento

    de técnicas inteligentes de análise desses dados será um aspecto crucial para o progresso

    tecnológico das aplicações envolvidas [13].

    Nesta dissertação, são estudados os aspectos do problema de controle de tensão e

    potência reativa (controle Volt/Var) de forma integrada e centralizada, a partir de abordagens

    que independam do conhecimento dos parâmetros elétricos da rede. São avaliadas técnicas de

    aquisição de conhecimento sobre a operação através da própria observação e experiência na

    atuação da rede, em cenários nos quais o controlador deve extrair informações dos dados vindos

    de medidores instalados ao longo dos alimentadores e nas subestações, além de ajustar

    adequadamente todos os dispositivos de controle segundo alguma estratégia de operação a ser

    adotada pela distribuidora.

    1.1 OBJETIVO DA DISSERTAÇÃO

    Para o problema de controle de tensão e potência reativa, várias propostas de solução

    são apresentadas na literatura, e são baseadas, principalmente, em regras determinísticas e

    abordagens como otimização combinatória. Porém a grande dificuldade na aplicação prática da

    solução é obter um modelo de controle e otimização que tenha execução rápida o suficiente para

    aplicações reais, e que ofereçam soluções robustas mesmo com baixa disponibilidade de dados

    elétricos da rede.

    Este trabalho aborda o problema de controle integrado de tensão e potência reativa

    baseando-se em técnicas de inteligência artificial, mais especificamente em aprendizado de

    máquina. O objetivo é construir um método de controle que agregue a robustez necessária à

    uma flexibilidade de operação em redes com baixa disponibilidade de dados elétricos, além de

    aumentar a eficiência dos recursos da rede através do despacho ótimo dos dispositivos

  • 5

    controladores a fim de minimizar perdas e melhorar os índices de qualidade da energia

    entregue. Os objetivos deste trabalho são os seguintes:

    Propor uma metodologia que considere a perspectiva de larga utilização de

    medidores inteligentes na rede de distribuição. Os algoritmos devem ser

    construídos de modo a controlar a rede elétrica de distribuição em tempo real,

    tomando decisões a partir de informações obtidas diretamente a partir dos dados

    enviados por esses medidores instalados ao longo do alimentador.

    Permitir a construção de uma plataforma de decisão que permita a escolha de

    uma estratégia de operação mais conveniente dentre várias possíveis. Em outras

    palavras, a distribuidora de energia deve ter a possibilidade de selecionar a meta

    global de otimização da rede mais apropriada para cada período de operação.

    Acrescentar o conhecimento do operador ao conhecimento da máquina (aquele

    adquirido por técnicas de inteligência artificial). O conhecimento do operador

    refere-se ao conhecimento prático (geralmente humano) adquirido pela

    experiência acumulada na operação da rede.

    1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

    A fim de investigar os aspectos do problema de controle integrado de tensão e potência

    reativa, esta dissertação de mestrado está estruturada da seguinte forma:

    No Capítulo 2 são apresentadas legislações pertinentes ao problema e os

    mecanismos práticos de solução do mesmo. É então exposta a importância da

    solução do problema com o objetivo de melhorar a eficiência da rede. Ao final

    do capítulo são discutidos os desafios técnicos relacionados ao estabelecimento

    de uma solução definitiva, bem como uma análise das estratégias de solução

    propostas na literatura.

    No Capítulo 3, os conceitos de aprendizado de máquina são descritos com foco

    em aplicações em sistemas de potência. São apresentados os embasamentos

    teóricos dos métodos de aprendizado por reforço e supervisionado. Ainda nesse

  • 6

    capítulo, são apontadas diferenças e semelhanças entre as técnicas de cada

    categoria, apontando quais características são úteis à solução do problema

    discutido nesta dissertação.

    O Capítulo 4 é dedicado à aplicação da técnica Q-Learning, de aprendizado por

    reforço, e da técnica de Máquinas de Vetores de Suporte, de aprendizado

    supervisionado, ao problema em estudo. A presente dissertação tem enfoque nas

    questões de implementação prática do método proposto, avaliando a

    aplicabilidade das soluções em redes reais e com desempenho adequado. Para

    tanto, os modelos propostos são simulados em redes de distribuição típicas para

    validar a abordagem.

    O Capítulo 5 traz os resultados das simulações de aprendizado de máquina

    aplicado à solução do problema de controle de tensão e potência reativa. São

    avaliados diferentes cenários de carregamento da rede, bem como contingências,

    instalação de novos equipamentos, dados contaminados com ruídos e penetração

    de geração distribuída. Neste capítulo, apresentam-se resultados da solução

    Volt/Var a um alimentador com aproximadamente 8500 nós distribuídos em

    cerca de 4800 barras monofásicas, bifásicas e trifásicas.

    O Capítulo 6 apresenta as conclusões desta dissertação e discute possíveis

    continuações para os estudos apresentados neste trabalho.

  • 7

    2. O PROBLEMA DE CONTROLE DE TENSÃO E POTÊNCIA REATIVA

    O controle de tensão e potência reativa, é umas das funções mais importantes dentre as

    implementadas em redes de distribuição [8],[14], e consiste em controlar adequadamente os

    dois parâmetros (tensão e potência reativa) de modo a garantir uma operação eficiente e segura

    da rede, para diferentes perfis de carregamento. Basicamente, o controle de tensão e potência

    reativa está associado ao ajuste dos dispositivos de controle instalados nos sistemas de

    distribuição para que dois principais objetivos sejam atingidos: (a) manutenção das tensões

    dentro dos limites aceitáveis, estabelecidos pela norma vigente, nas entradas de serviço de todos

    os consumidores do sistema em todas as condições de operação e (b) minimização da potência

    reativa injetada pela subestação na rede a fim de reduzir as perdas elétricas e melhorar o fator de

    potência [15]-[18].

    O estabelecimento de procedimentos de operação, a estipulação de limites e a definição

    da metodologia de medição e dos parâmetros de qualidade de energia elétrica são atribuições de

    órgãos reguladores. O controle das tensões nas barras para evitar violações de limites, é

    chamado de regulação de tensão, enquanto o controle das perdas elétricas tem relação com a

    tensão e principalmente com a parcela reativa da corrente elétrica fluindo pela rede. Nas redes

    de distribuição, devido à baixa relação X/R (relação entre indutância e resistência características

    da linha) as operações de correção de tensão podem afetar as perdas elétricas e o fluxo de

    potência reativa, e o contrário também é válido, o controle de potência reativa tem efeito sobre o

    perfil de tensão. Os aspectos da regulação do setor de distribuição e do problema do controle

    integrado de tensão e potência reativa são detalhados a seguir.

    2.1 REGULAÇÃO DO SETOR DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

    No atual modelo nacional de concessões e comercialização de energia elétrica, as

    empresas dividem-se em três categorias: geração, transmissão e distribuição. Particularmente no

  • 8

    segmento da distribuição, as empresas concessionárias são definidas através de processos

    públicos licitatórios, conforme a legislação vigente [19].

    Os processos licitatórios para distribuidoras são abertos especificamente para o

    fornecimento de energia elétrica em determinadas áreas de concessão, constituídas por alguma

    composição de consumidores residenciais, industriais e comerciais. A empresa vencedora firma

    então um contrato de concessão de distribuição de energia elétrica juntamente com o governo,

    através da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que define padrões para

    manutenção da qualidade dos serviços prestados pelas concessionárias, fornecendo parâmetros

    de referência denominados índices de qualidade e frequência de fornecimento [20].

    As atividades técnicas relacionadas ao funcionamento e desempenho dos sistemas de

    distribuição são padronizadas e normatizadas pela ANEEL. Os padrões a serem seguidos são

    publicados nos Procedimentos de Distribuição (PRODIST), que são documentos elaborados

    com a participação conjunta dos agentes de distribuição e de entidades e associações do setor

    elétrico brasileiro. Os principais objetivos apontados no PRODIST podem ser destacados:

    Garantir a operação dos sistemas de distribuição de modo eficiente, com

    qualidade e confiabilidade.

    Padronizar os procedimentos técnicos para as atividades relacionadas ao

    planejamento da expansão, à operação dos sistemas de distribuição, aos

    procedimentos de medição e à qualidade da energia elétrica.

    Assegurar o fluxo adequado de informações pertinentes ao interesse da ANEEL.

    O PRODIST é composto de vários módulos, entre eles, o de procedimentos operativos,

    que estabelece os métodos relativos à qualidade de energia elétrica do ponto de vista do produto

    e do serviço prestado. Qualidade do produto compreende a caracterização dos parâmetros e

    valores de referência relativos à conformidade de tensão em regime permanente e às

    perturbações na forma de onda da tensão (tais como flutuações de tensão, distorções

    harmônicas, entre outros) através de indicadores de qualidade de energia. Já sobre a qualidade

    dos serviços prestados, a ANEEL estabelece parâmetros relativos aos indicadores de

    continuidade do fornecimento e dos tempos de atendimento a ocorrências emergenciais,

    definindo padrões e responsabilidades da concessionária de distribuição de energia.

  • 9

    Os parâmetros que caracterizam a qualidade do produto em regime permanente ou

    transitório são [21]:

    Tensão em regime permanente: valor eficaz de tensão no ponto de conexão,

    obtido por meio de medição, podendo ser classificada em adequada, precária ou

    crítica, de acordo com a leitura efetuada.

    Fator de potência: a razão entre a energia elétrica ativa e a raiz quadrada da soma

    dos quadrados das energias ativa e reativa, consumidas num mesmo período de

    tempo, sendo a energia elétrica reativa a que circula continuamente entre os

    diversos campos elétricos e magnéticos de um sistema de corrente alternada, ou

    por efeito de chaveamento, sem produzir trabalho.

    Harmônicos: fenômenos associados às deformações nas formas de onda das

    tensões e correntes em relação à onda senoidal da frequência fundamental.

    Desequilíbrio de tensão: desvio máximo da média das correntes ou tensões

    trifásicas, expresso em percentual.

    Flutuação de tensão: uma variação aleatória, periódica ou esporádica do valor

    eficaz da tensão.

    Variações de tensão de curta duração: desvios significativos da amplitude do

    valor eficaz da tensão em curto intervalo de tempo.

    Variação de frequência: desvio significativo da frequência fundamental da

    tensão.

    No problema de controle de tensão e potência reativa, o principal aspecto a ser

    considerado no âmbito dos procedimentos operativos é a conformidade da tensão elétrica, que

    se refere à comparação do valor medido da tensão no ponto de conexão em relação aos limites

    adequados de tensão em regime permanente. Os níveis da tensão de leitura (TL), ilustrados na

    Figura 2.1, podem ser especificados como:

    Tensão de referência (TR).

    Faixa adequada de tensão (TR – ΔADinf, TR + ΔADsup).

  • 10

    Faixas precárias de tensão (TR + ΔADsup, TR + ΔADsup + ΔPRsup ou TR – ΔADinf –

    ΔPRinf, TR – ΔADinf).

    Faixas críticas de tensão (TL > TR + ΔADsup + ΔPRsup ou TL < TR – ΔADinf – ΔPRinf).

    Figura 2.1. Níveis de tensão especificados no PRODIST.

    sendo ΔADinf e ΔADsup correspondentes às faixas superiores e inferiores relacionadas à

    especificação do nível adequado de tensão, respectivamente. As faixas ΔPRinf e ΔPRsup

    correspondem à parte inferior e superior do nível precário de tensão.

    No sistema de distribuição brasileiro, as redes de distribuição podem ser divididas em

    baixa, média e alta tensão. De modo geral, classificam-se como de baixa tensão, redes com

    tensão eficaz entre fases de até 1 kV. As redes operando com tensões na faixa entre 1 kV e 69

    kV, são classificadas como média tensão, e a partir de 69 kV até 230 kV operam as redes de

    distribuição de alta tensão [20].

    Para cada uma dessas faixas de tensão, os procedimentos operativos determinados pela

    ANEEL devem ser cumpridos. No caso dos parâmetros de qualidade referentes à tensão de

    regime permanente, os níveis especificados como adequados, precários e críticos variam com a

    faixa de tensão da rede (baixa, média e alta) conforme os valores especificados no PRODIST e

    reproduzidos no Apêndice A.

    Pode-se concluir, portanto, que do ponto de vista do consumidor, qualidade significa o

    recebimento da energia elétrica com tensões em conformidade com as especificações técnicas

    recomendadas pelos fabricantes dos equipamentos elétricos e eletrônicos, de modo a garantir a

  • 11

    operação adequada dos mesmos durante a vida útil estimada. A qualidade de energia elétrica do

    ponto de vista da regulamentação do mercado de energia elétrica significa entregar energia e

    operar a rede conforme os requisitos técnicos do contrato de concessão, medidos através de

    parâmetros e índices de qualidade estipulados pela agência, sujeito à aplicação de multas e

    punições [22]. Os requisitos de qualidade de energia elétrica são ponto de partida para estudos e

    planejamento da operação da rede, por parte das distribuidoras. É através desses parâmetros e

    limites que se estabelecem critérios para a instalação de equipamentos de controle e proteção,

    para o ajuste de cada um deles e para o estabelecimento da estratégia global de operação da rede

    de distribuição.

    Neste trabalho, são estudados os aspectos do problema de controle integrado de tensão e

    potência reativa visando à eficiência na operação e mantendo a tensão em conformidade com os

    requisitos exigidos pela ANEEL.

    2.2 REGULAÇÃO DE TENSÃO

    A função básica da regulação da tensão no sistema de distribuição é fornecer energia a todos

    os pontos consumidores mantendo as tensões dentro dos limites aceitáveis para todas as

    condições de operação. Em um sistema de distribuição convencional, toda a energia do sistema

    vem de uma única fonte, a subestação. Portanto a corrente flui do transformador para todos

    consumidores finais conectados ao alimentador através das linhas, causando quedas de tensão

    proporcionais à impedância dos condutores. A Figura 2.2 ilustra um perfil de tensão para um

    alimentador, no qual a magnitude da tensão tem um valor máximo na subestação e atinge seu

    mínimo nos pontos mais afastados dos alimentadores. O perfil diário de tensão varia com as

    condições de carregamento da rede e, sem um ajuste do perfil de tensão, podem ocorrer

    sobretensões nos pontos consumidores nas condições de carregamentos mais leves e subtensões

    em condições de carregamento pesado.

    Os níveis de tensão podem ser controlados diretamente, através de dispositivos

    transformadores, ou indiretamente, através do fluxo de potência reativa no sistema. Os

    dispositivos de controle direto geralmente são o transformador da subestação com mudança de

    tap e os reguladores de tensão instalados ao longo dos alimentadores. O controle indireto é feito

  • 12

    através de fontes de potência reativa, como capacitores, condensadores síncronos e dispositivos

    STATCOM (do inglês, Static Synchronous Compensator). Essas fontes podem injetar potência

    reativa na rede, reduzindo o fluxo de potência reativa fluindo através da subestação, o que por

    sua vez, reduz as quedas de tensão nas redes, geralmente com muitos elementos indutivos,

    melhorando o perfil de tensão.

    Figura 2.2. Queda de tensão ao longo de um alimentador de uma rede típica [23].

    2.3 PERDAS ELÉTRICAS NA REDE DE DISTRIBUIÇÃO

    No sistema de potência, a maior parte das perdas elétricas ocorre nas redes de

    distribuição, que chegam a somar, pelo menos, 4% do total de energia gerada pelo sistema [24].

    As perdas elétricas nas redes de distribuição de energia decorrem, sobretudo, da dissipação de

    calor por efeito Joule nas linhas e em equipamentos da rede, como transformadores, reatores,

    bancos de capacitores. As perdas nas linhas são diretamente proporcionais à resistência de seus

    condutores e ao quadrado da magnitude da corrente fluindo através deles [9],[23]. Pode-se então

    calcular as perdas totais em uma rede de distribuição pela somatória das perdas em cada um dos

    ramos da rede, através da equação:

  • 13

    (2.1)

    onde Nr corresponde ao número total de ramos na rede, rk é a resistência do condutor k e ik o

    valor eficaz da corrente fluindo por esse ramo.

    A corrente é uma grandeza complexa, e pode ser decomposta nas suas componentes real

    (componente ativa) e imaginária (componente reativa). A componente ativa da corrente é aquela

    associada à potência ativa, e a componente reativa aquela associada à potência reativa, também

    chamada de corrente em quadratura [2]. Podem-se escrever as equações para cada componente:

    (2.2)

    (2.3)

    onde Vk é a tensão na barra k, Pk é a parcela de potência ativa e Qk a parcela de potência reativa.

    Uma vez que as perdas elétricas são proporcionais ao quadrado do módulo da corrente,

    tornam-se ainda mais relevantes nas condições de carregamento pesado da rede acarretando em

    significantes impactos operacionais e econômicos [25]. A energia perdida na distribuição é

    transmitida pelas redes de transmissão, aumentando então as correntes nesse sistema, o que

    aumenta ainda mais as perdas globais, afetando não só os custos da geração associada a essas

    perdas, mas também consumindo parte da capacidade de geração, transmissão e distribuição.

    Portanto, pequenos incrementos na eficiência podem contribuir em grandes economias para o

    sistema como um todo.

    Pela equação (2.1) pode-se observar que há duas maneiras de reduzir as perdas:

    reduzindo a resistência dos condutores ou reduzindo as correntes na distribuição. Alterar as

    linhas de distribuição para reduzir a resistência é uma solução que requer investimentos em

    novos componentes da rede, o que geralmente acaba sendo custosa, senão inviável. A

    alternativa, reduzir as magnitudes das correntes, frequentemente é a solução adotada pelas

    concessionárias que, para reduzir parcela reativa do fluxo de potência na rede, representada na

    equação (2.3), instalam dispositivos compensadores de reativos próximos às cargas

  • 14

    consumidoras e à subestação. A aplicação desses dispositivos ao longo do alimentador é

    comumente chamada de compensação reativa ou correção do fator de potência. Esses

    dispositivos podem ser controlados, local ou remotamente para compensarem a potência reativa,

    especialmente nos momentos em que o sistema opera com baixo fator de potência.

    Pode-se, portanto, perceber que distribuir a energia aos consumidores de modo eficiente

    e mantendo a tensão dentro dos limites é um problema que envolve a regulação de tensão e do

    fluxo de potência reativa, denominado: problema de controle de tensão e potência reativa. A

    regulação da tensão e o ajuste no fluxo de potência reativa são feitos através de dispositivos

    detalhados a seguir.

    2.3.1 Dispositivos utilizados em sistemas de distribuição para controle de tensão e de potência reativa

    As concessionárias devem garantir o fornecimento de energia elétrica dentro dos limites

    estabelecidos, em todos os pontos consumidores e em todas as condições de carregamento. Para

    minimizar os efeitos das variações de carregamento da rede e das quedas de tensão ao longo do

    alimentador, são utilizados vários dispositivos de controle, de modo a garantir uma operação

    segura e eficiente. Os dispositivos de controle comumente empregados incluem transformadores

    de subestação com comutação de tap sob carga, reguladores de tensão de linha e bancos de

    capacitores fixos e chaveados. Esses dispositivos podem ser controlados através de ajustes pré-

    estabelecidos, geralmente com ações disparadas por limiares, ou então podem ser controlados

    por acionamento remoto através de ajustes periódicos ou atuação em tempo real.

    2.3.2 Transformadores de subestação com comutação de tap sob carga

    Os transformadores de subestação ajustam a relação de transformação entre primário e

    secundário através da relação do número de espiras para compensar as variações de tensão. A

    rede de distribuição apresenta variação de carregamento entre estações do ano, dias de semana e

    finais de semana e, principalmente, ao longo do dia. Para acomodar as flutuações sem violar os

  • 15

    limites operacionais de tensão, os transformadores são equipados com comutador de tap sob

    carga, que ajusta a relação de transformação para regular a tensão na linha. Os valores possíveis

    de relação de transformação são limitados, geralmente em ±10% da magnitude de tensão

    divididos em níveis discretos, chamados de taps. O comutador de tap é um dispositivo

    eletromecânico que realiza a troca de relação de espiras sem a interrupção de corrente. Possui

    um relé regulador de tensão (em inglês, Automatic Voltage Regulador – AVR) que comanda as

    operações de mudança de tap baseado em grandezas elétricas locais ou remotas. A fim de evitar

    comutações excessivas e desnecessárias, o sistema de controle utiliza bandas mortas e

    temporizadores, que funcionam como uma tolerância a variações transientes e de pequena

    amplitude das tensões na rede.

    2.3.3 Regulador de tensão

    Principalmente em linhas longas, o ajuste da tensão na subestação pode não ser

    suficiente para garantir a tensão dentro dos limites em todos os pontos da rede durante as

    variações de carregamento da rede, ou ainda, para regular a tensão nos pontos finais do

    alimentador pode-se incorrer em sobretensões nas barras mais próximas à subestação.

    Para acomodar as flutuações de tensão, são então utilizados transformadores ao longo do

    alimentador, chamados de reguladores de tensão de linha (Figura 2.3). Geralmente são

    autotransformadores com regulação de tensão em ±10% em relação à entrada. Também

    possuem comutação de tap, com valores limitados em níveis de relação de transformação

    [8],[9].

  • 16

    Figura 2.3. Efeito da atuação do regulador de tensão no perfil de tensão.

    2.3.4 Bancos de Capacitores

    Os bancos de capacitores instalados na rede são fontes locais de potência reativa e atuam

    como mecanismo secundário de regulação de tensão, pois elevam as tensões localmente (nas

    barras vizinhas). São largamente empregados por serem de relativo baixo custo e de fácil

    instalação e manutenção. Utilizados principalmente para correção de fator de potência,

    compensam a potência reativa indutiva de cargas com baixo fator de potência, como motores,

    reduzindo a parcela reativa do fluxo de corrente no alimentador, o que também diminui as

    perdas. A redução da corrente reativa reduz as quedas de tensão ao longo do alimentador,

    portanto, além do efeito sobre as perdas elétricas, instalando os capacitores próximos às cargas,

    principalmente àquelas indutivas, eleva-se a tensão local. Acrescenta-se ainda que o

    fornecimento local de potência reativa reduz uma parcela de corrente fluindo desde a geração

    até a distribuição, portanto, a instalação de bancos de capacitores contribui para melhorar a

    capacidade da global da rede elétrica [8].

  • 17

    As maiores vantagens dos bancos de capacitores são o seu baixo custo de instalação e a

    flexibilidade de instalação e manutenção. Suas maiores desvantagens são que o ajuste de

    potência reativa fornecida é realizado em passos discretos e a potência reativa fornecida é

    proporcional ao quadrado da tensão. Consequentemente, o suporte reativo é reduzido com

    tensões baixas, justamente quando a necessidade de atuação é maior.

    Os bancos de capacitores podem ser instalados tanto na barra da subestação como ao

    longo dos alimentadores. Quando localizados na subestação, compensam os reativos de todo o

    sistema e elevam o fator de potência do secundário do transformador. No alimentador, são

    instalados ao longo das linhas, próximos aos pontos consumidores, especialmente àqueles com

    maior carga indutiva. A melhor localização para a instalação dos bancos de capacitores fixos e

    chaveados nos sistemas de distribuição é tratada como um problema de otimização de alocação

    cujo objetivo é determinar o número, a localização, o tipo e a capacidade de cada banco,

    considerando-se os custos de instalação e operação e os locais da rede em que o emprego de

    suporte reativo é mais efetivo [8],[9].

    A operação diária de chaveamento dos bancos de capacitores pode ser controlada e monitorada

    por sistemas supervisórios remotos centralizados (em inglês Supervisory Control And Data

    Acquisition – SCADA) ou então, podem operar por controles locais sem monitoramento

    centralizado. As técnicas de controle desses capacitores fazem parte do problema de controle de

    tensão e potência reativa, com pospostas baseadas em técnicas convencionais e através de

    inteligência artificial, detalhadas no próximo capítulo.

    2.4 CONTROLE DE TENSÃO E POTÊNCIA REATIVA

    O objetivo principal do controle de tensão no sistema de distribuição pode ser descrito

    como: fornecimento de energia elétrica pela rede de maneira eficiente, durante todas as

    condições, sem violar as restrições de conformidade de tensão nos pontos consumidores e os

    limites de corrente elétrica nos condutores. O controle de potência reativa tem como objetivo

    ajustar o fator de potência na rede e reduzir a parcela de corrente reativa fluindo pelos

    alimentadores.

  • 18

    De um modo prático, o controle de tensão e potência reativa significa a implementação

    de uma estratégia de coordenação e despacho dos equipamentos de controle disponíveis na rede

    de distribuição para a regulação da tensão e injeção ou absorção de potência reativa [23]. A

    complexidade do controle começa pelos objetivos e estratégias de operação. Do ponto de vista

    elétrico, muitas vezes é necessário um compromisso entre margem de segurança e eficiência da

    rede. As características desejáveis de um controle de tensão e potência reativa, do ponto de vista

    de estratégia e de infraestrutura, podem ser descritas como [26]:

    Manter o perfil de tensão dentro dos limites aceitáveis em todos os pontos

    consumidores da rede de distribuição e em todas as condições de carregamento, a

    fim de evitar danos em equipamentos e penalizações financeiras (indenizações e

    multas).

    Manter o fator de potência próximo à unidade.

    Ter a habilidade de monitoramento das redes e dos equipamentos.

    Ter habilidade de comunicação.

    Permitir ao operador assumir o controle dos equipamentos.

    Permitir considerar a reconfiguração da rede.

    Permitir o controle na presença de geração distribuída.

    Controlar os dispositivos de maneira otimizada e coordenada.

    Permitir a seleção de um ou mais objetivos de controle e operação.

    Com relação à estratégia de controle e de tomada de decisão, geralmente encontramos na

    literatura [10],[12],[27]-[33] dois tipos de controle: local (ou não centralizado) e centralizado.

    2.4.1 Controle local

    O controle local de tensão e potência reativa é o tipo de decisão tradicional e

    amplamente utilizado nas redes. Consiste em operar os dispositivos da subestação e da rede

    (transformadores de subestação, reguladores de tensão e capacitores chaveados) com ações

  • 19

    baseadas em regras determinísticas. Geralmente, o dispositivo atua monitorando grandezas

    elétricas locais, tais como tensão, corrente, fator de potência, e atuam quando essas grandezas

    disparam limiares pré-definidos.

    Na estratégia de controle local, esses limiares são programados na instalação do

    equipamento, com valores definidos através de estudos pré-instalação, e qualquer alteração

    requer a presença de um operador para rever os valores de ajuste. Dentre as vantagens desse

    tipo de controle, destaca-se o baixo custo do sistema, uma vez que não há necessidade de

    recursos sofisticados de controle e comunicação para operar o dispositivo. Embora o controle

    local seja efetivo e de relativo baixo custo, nessa estratégia, cada dispositivo atua sem levar em

    conta o efeito da operação conjunta de vários dispositivos e dificilmente leva à melhor operação

    global da rede. Além da dificuldade de obter uma operação otimizada da rede elétrica, o

    comportamento autônomo dos dispositivos pode levar a problemas de segurança, quando os

    limiares e atrasos são ajustados incorretamente, especialmente em situações de variações de

    carga não contempladas nos estudos para predefinir os ajustes. Ocorre por exemplo quando uma

    barra próxima ao fim do alimentador tem tensões baixas e o banco de capacitores chaveados

    atua para sustentar a tensão, elevando a tensão na referida barra. Se o capacitor estiver

    eletricamente próximo a um regulador de tensão, a elevação da tensão pode disparar seu limiar e

    o regulador atuar no sentido de reduzir a tensão em seu secundário, prejudicando a ação

    corretiva tomada anteriormente.

    2.4.2 Controle centralizado

    Uma estratégia mais eficiente do ponto de vista do sistema como um todo é obtida

    através do controle de tensão e potência reativa de maneira centralizada. A principal vantagem

    desse modo de controle é que a melhor solução pode ser encontrada, normalmente no centro de

    controle de distribuição, considerando mais de um dispositivo de controle (banco de capacitor

    e/ou regulador de tensão). No modo centralizado, a decisão do controle pode considerar várias

    fontes de dados, como medições elétricas de vários pontos da rede, base de dados históricos de

    operação, custos e limites envolvidos na operação e modelos matemáticos do impacto da

    atuação de cada dispositivo. Por exemplo, nesse caso, pode-se restringir a mudança de taps dos

  • 20

    reguladores e favorecer a ação de capacitores, visto que o custo de manutenção e de operação

    do primeiro é mais alto se comparado ao do segundo.

    O controle centralizado pode ser subdividido em: controle desacoplado e integrado

    (também chamado de coordenado). O primeiro, assim como o controle local, despreza a

    interdependência entre tensão e potência reativa, e, portanto, são tratados como problemas

    distintos e a atuação sobre as variáveis de cada um dos problemas é feita separada e

    sequencialmente, mas a decisão é tomada em uma central de controle [10],[30]. Já no controle

    centralizado e integrado, os dois problemas, de controle de tensão e de fluxo de potência reativa,

    são solucionados de forma unificada levando em conta, assim, a influência de uma variável no

    comportamento da outra. Outra vantagem da abordagem integrada de controle é a possibilidade

    de considerar mais de um objetivo de operação, inclusive simultâneos. O controle centralizado

    integrado permite, portanto, alcançar soluções com eficiência global, e não somente local ou por

    um curto período de tempo [31],[34],[35].

    Uma desvantagem é que, para a implementação de um controle centralizado e integrado,

    é necessária uma rede com grande quantidade de sensores instalados nos pontos de interesse e

    uma infraestrutura de comunicação entre o centro de controle, medidores e dispositivos de

    controle, cenário que ainda não é realidade na maioria das redes de distribuição. Porém, o atual

    estabelecimento de tecnologias confiáveis de automação de subestação e alimentadores, e o

    desenvolvimento de medidores inteligentes dotados de canal de comunicação com o centro de

    controle faz com que toda a rede sendo equipada com uma infraestrutura de medição avançada,

    com medidores inteligentes nos consumidores gerando um alto volume de dados não esteja em

    um futuro muito distante [1],[7],[26].

    Considerando o balanço entre as vantagens e desvantagens dos métodos de controle, o

    foco deste estudo é formular o problema e desenvolver métodos de solução para o controle da

    tensão e potência reativa em redes de distribuição de energia elétrica de maneira centralizada e

    integrada (coordenada).

  • 21

    2.4.3 Técnicas de otimização e controle aplicadas ao problema

    As ferramentas propostas na literatura para a formulação e solução do problema de

    controle de tensão e potência reativa podem ser divididas em três categorias:

    Técnicas baseadas em regras determinísticas.

    Técnicas baseadas em otimização clássica.

    Técnicas baseadas em metaheurísticas e inteligência artificial.

    As técnicas baseadas em regras determinísticas solucionam o problema de controle

    através de ajustes pré-estabelecidos, e essa é a técnica mais difundida na prática [6],[12]. De

    modo geral, os controladores dos dispositivos monitoram algumas grandezas elétricas e

    disparam o acionamento quando um ou mais limiares são ultrapassados (por exemplo, chavear

    banco de capacitor quando o fator de potência for menor que 0,8). Tradicionalmente, as

    ferramentas baseadas nessas técnicas são aplicadas para solucionar o problema de controle

    local, desconsiderando a coordenação entre dispositivos e a dependência entre o fluxo de

    potência reativa e a tensão nas barras monitoradas. Como analisado anteriormente, essas

    técnicas não garantem a operação otimizada da rede de distribuição nas diversas condições de

    operação, além de dificultarem a implementação de planos de operação em situações de

    emergência. Porém são de fácil implementação e de relativo baixo custo de instalação e

    operação.

    A segunda categoria, com técnicas baseadas em otimização, incluem abordagens que

    consideram a dependência entre os controles de tensão e da potência reativa, e, em comparação

    com as técnicas baseadas em regras determinísticas, podem fazer uso de mais informações sobre

    a rede como, topologia, impedâncias, grandezas elétricas medidas em diversos pontos e dados

    provenientes de estimadores de estado. O problema é formulado como a busca pelo despacho

    ótimo dos ajustes dos dispositivos visando à minimização de uma ou mais funções objetivo

    (minimizar perdas elétricas, reduzir a demanda de pico, melhorar o fator de potência, manter o

    perfil de tensão constante, entre outros) sujeito às restrições (equações de fluxo de potência,

    limites dos níveis de tensão nos pontos consumidores, limites das faixas de ajuste dos

    dispositivos). A solução do problema de controle de tensão e potência reativa através de

  • 22

    técnicas de otimização permite a inclusão de um grande conjunto de considerações, objetivos e

    restrições, alinhando a atuação de cada dispositivo individualmente com a estratégia global de

    operação da rede, inclusive em casos de emergência.

    Os problemas de otimização consistem em encontrar uma solução que receba a melhor

    avaliação possível e consiga satisfazer todas as restrições impostas. Uma solução é avaliada

    através de uma função objetivo que representa numericamente os objetivos da otimização. De

    forma geral, o problema de controle de tensão e potência reativa é resolvido pela otimização de

    uma ou mais funções objetivos sujeito às restrições:

    Funções objetivo:

    o Minimização das perdas elétricas.

    o Minimização dos picos de potência demandada.

    o Minimização do fluxo de potência reativa na rede.

    o Manutenção do perfil de tensão plano em torno do valor nominal.

    o Redução do perfil de tensão para redução de demanda.

    o Manutenção do fator de potência próximo ao valor unitário.

    Restrições:

    o Equações de balanço entre carga e geração na rede.

    o Limites elétricos das linhas de distribuição.

    o Limites inferiores e superiores da tensão nas barras consumidoras.

    o Limites operacionais dos dispositivos de controle quanto à faixa de

    operação e ao número máximo de chaveamentos diários.

    Os métodos para resolver os problemas de otimização podem ser divididos em duas

    categorias: aqueles de variáveis contínuas e os de variáveis discretas. Como citado

    anteriormente, o objetivo do problema de controle de tensão e potência reativa é alcançado

    através da atuação dos dispositivos de controle. Grande parte desses dispositivos não é

    controlada em níveis contínuos, mas em passos (níveis discretos), como por exemplo, os taps

    dos transformadores e os estados das chaves dos bancos de capacitores. Portanto a solução para

  • 23

    o problema de encontrar o melhor ajuste desses dispositivos é um conjunto discreto. Os

    problemas que utilizam variáveis discretas são chamados de otimização combinatória e podem

    ser matematicamente escritos como:

    onde f (·) é a função objetivo que avalia a qualidade da solução candidata x, que é uma solução

    factível pertencente ao espaço finito de soluções X.

    Uma maneira de resolver o problema de otimização combinatória é através de um

    método exato. Esses métodos têm como característica a garantia da obtenção de uma solução

    ótima para o problema. Existe uma ampla variedade de algoritmos apresentados na literatura,

    sendo os mais comuns o branch and bound, a programação dinâmica e o backtracking. Esses

    algoritmos são eficientes para problemas de pequeno porte e podem incorporar uma função

    multiobjetivo (composição simultânea de várias funções objetivo como: minimizar perdas

    ativas, melhorar o fator de potência, reduzir o desvio das tensões nas barras). Porém, para

    problemas maiores e mais complexos, o tempo de execução aumenta drasticamente

    inviabilizando seu uso em aplicações complexas e em tempo real.

    A otimização combinatória aplicada ao problema de controle de tensão e potência

    reativa é considerada um Problema Não Linear Inteiro Misto (PNLIM), devido à natureza

    discreta dos taps dos transformadores e estados dos capacitores, enquanto as tensões e correntes

    são variáveis contínuas que são obtidas através do cálculo de fluxo de carga que é não linear.

    Problemas PNLIM são de difícil solução e um algoritmo exato, mesmo com várias

    simplificações, não é adequado para oferecer soluções de qualidade em tempo hábil [6].

    A terceira categoria compreende as técnicas baseadas em heurísticas, metaheurísticas e

    inteligência artificial. Para contornar a desvantagem dos algoritmos exatos, muitos trabalhos são

    resolvidos através do uso de algumas regras, geralmente associadas ao conhecimento das

    características do problema que reduzem ou direcionam a busca de soluções ótimas dentro do

    espaço de soluções. Utiliza-se então um algoritmo heurístico e as regras, que descrevem o

    problema de uma forma simplificada e direcionam as buscas são chamadas de estratégias

    heurísticas [36]. Geralmente, a aplicação de heurística nos problemas de sistemas de potência é

  • 24

    realizada através de técnicas de metaheurística, que são uma generalização das heurísticas. A

    grande desvantagem da otimização combinatória com o uso de método heurístico, é que não há

    como garantir a otimalidade da solução indicada. Porém a grande vantagem é a capacidade de

    encontrar soluções de boa qualidade em tempo computacional aceitável, mesmo para problemas

    complexos como o de controle de tensão e potência reativa, tornando-se largamente utilizado

    em problemas nos quais soluções quase ótimas são aceitáveis. Além disso, funções objetivo ou

    multiobjetivo, bem como restrições de igualdade e desigualdade, podem ser facilmente

    implementadas.

    Ainda nessa categoria, podemos incluir as abordagens do problema do ponto de vista de

    inteligência artificial que utilizam heurísticas e conhecimento das características do problema

    para resolver o problema de uma maneira mais ampla e com enfoque na tomada de decisão, no

    armazenamento e na extração do conhecimento.

    O problema de controle de tensão e potência reativa, conforme mencionado, tem sido

    largamente estudado e divulgado na literatura, com soluções usando métodos convencionais

    (programação linear, programação dinâmica, programação inteira mista, programação não

    linear, entre outros) que, do ponto de vista matemático, resolvem o problema. Porém, há

    problemas que incorporam aspectos que não encontram uma solução utilizando as técnicas

    convencionais. Esses aspectos incluem [37]:

    Incorporação de conhecimento humano na base de dados para tomada de

    decisão.

    Julgamento humano do operador, especialmente em situações que envolvem

    soluções práticas.

    Agregação da experiência gerada com a interação do controlador com a rede,

    principalmente com relação à variação do carregamento, situações de

    emergência, tratamento de incertezas.

    Por incluir esses aspectos, a inteligência artificial tem se tornado popular para aplicações em

    problemas de otimização em sistemas elétricos de distribuição, principalmente em soluções

    multiobjetivo e com capacidade de aprendizado, classificação e reconhecimento de padrões. As

    principais aplicações são baseadas na teoria de lógica nebulosa, nos Algoritmos Genéticos, nas

  • 25

    redes neurais artificiais, sistemas especialistas, programação evolutiva e no aprendizado de

    máquina.

    Redes neurais artificiais 2.4.3.1

    Redes neurais artificiais são modelos computacionais biologicamente inspirados no

    sistema nervoso de um cérebro animal e são representadas por neurônios interconectados,

    capazes de responder a estímulos externos. Uma característica chave dessas redes é a habilidade

    para aproximar funções não lineares. As aplicações de redes neurais artificiais envolvem a etapa

    de treinamento, na qual a rede ―aprende‖ a responder adequadamente (saída) a diferentes

    estímulos (entradas) e encontrar padrões nos conjuntos de dados.

    Uma rede neural é descrita como uma máquina adaptativa [38], na qual os neurônios são

    unidades simples que processam as entradas e armazenam naturalmente o conhecimento e

    utilizam-no a partir de então. Os neurônios são altamente independentes entre si, característica

    que favorece o paralelismo de processamento. Pode-se dizer então que uma rede neural artificial

    guarda semelhança com o cérebro pelos seguintes motivos:

    O conhecimento da rede neural é adquirido a partir de informações sobre o

    ambiente. O processo de percepção é chamado de aprendizado.

    O processamento da informação recebida ocorre em vários elementos, chamados

    de neurônios.

    As informações traduzidas em conhecimento adquirido são armazenadas em

    forma de pesos sinápticos. Esses pesos modelam o potencial de ativação das

    conexões entre neurônios.

    A informação trafega de um neurônio a outro unidirecionalmente. A saída

    depende de um potencial de ativação e é determinada pela função de ativação.

    Uma rede neural pode ser vista como uma unidade de processamento como o cérebro,

    representada na Figura 2.4 [38].

  • 26

    Figura 2.4. Representação de uma rede neural artificial.

    Na rede neural artificial representada na Figura 2.4 cada unidade de processamento i é

    conectada a um conjunto de neurônios sensores, representados como entradas x1, x2, ..., xn.

    Matematicamente, o processamento pode ser descrito como:

    ∑( )

    (2.4)

    onde:

    xk é cada uma das entradas na unidade i de processamento.

    wik corresponde ao peso da entrada xk.

    b é um parâmetro de bias.

    A saída y i da unidade de processamento pode ser escrita como:

    ( )

    onde f(s i) é chamada de função de ativação de cada unidade de processamento, também

    chamado de nó, que define a saída para um conjunto de entradas. As funções de ativação mais

    utilizadas são:

    Função linear: f(x) = x

    Função de tangente hiperbólica: f(x) = tanh x

  • 27

    Função sigmoidal: f(x) = 1 / (1 + e -x)

    Os neurônios da rede podem ser conectados em uma estruturada de camadas. No modelo

    de redes neurais artificiais mais utilizado, conhecido como feed-foward, as saídas de todos os

    neurônios de uma camada são conectadas na entrada dos neurônios da camada subsequente e a

    informação flui apenas em uma direção (forward) da camada de entrada para as camadas

    intermediárias e então para a camada de saída. As camadas intermediárias, que não recebem

    sinais externos diretamente, ou seja, não são neurônios sensores nem ativadores, são chamados

    de camadas ocultas.

    As redes são caracterizadas pela sua arquitetura (número de camadas), topologia (padrão

    de conexão entre os neurônios) e regime de aprendizado [37]. A maior parte das aplicações em

    sistemas de potência usam redes multicamadas.

    Definida uma estrutura de rede neural artificial, para que possa ser aplicada, a rede deve

    ser treinada. A fase de treinamento consiste em ajustar, de um modo iterativo, os valores dos

    pesos e dos parâmetros de bias mostrados na equação (2.4). No aprendizado supervisionado, a

    rede é treinada para que um conjunto de entrada em particular produza um sinal de saída

    esperado.

    O algoritmo de treinamento é uma característica da rede e existem vários métodos

    aplicados ao regime de aprendizado sendo o mais difundido o baseado na técnica de

    retropropagação (em inglês, back-propagation). Essa técnica consiste em calcular o gradiente

    do erro da rede com relação aos pesos de cada neurônio. O gradiente de erro, então, é utilizado

    para corrigir os pesos de modo a minimizar o erro.

    As principais vantagens das redes neurais artificiais são:

    Embora a etapa de treinamento de uma rede neural seja cara

    computacionalmente, uma vez treinada a rede, o tempo necessário para

    responder às novas entradas é desprezível. Essas vantagens são muito úteis para

    a solução de problemas no sistema de distribuição.

    Possuem a capacidade de aprender, mesmo em ambiente com poucas

    informações, ou seja, com poucos exemplos de treinamento.

  • 28

    São facilmente adaptáveis aos dados de entrada, mesmo com magnitudes muito

    diferentes, são robustas e muito apropriadas para soluções que envolvam

    modelagem não linear.

    As desvantagens dos métodos de solução baseados em redes neurais artificiais são [39]:

    Há poucas indicações para a seleção da melhor configuração (topologia, número

    de camadas), pois ela depende da aplicação e utilização da rede. Uma boa

    topologia está relacionada com o método de treinamento, complexidade do

    ambiente no qual ocorre o aprendizado e da quantidade de informações com

    ruído. Como quase todos os métodos de aprendizagem, as redes neurais

    artificiais apresentam uma resposta (saída) supostamente válida mesmo para

    dados de entrada inválidos.

    Há vários métodos de treinamento que produzem resultados finais diferentes,

    portanto pode ser necessário testar vários deles antes de definir o método a ser

    utilizado.

    São dependentes da inicialização dos pesos. Dependendo dos valores dos pesos,

    o aprendizado pode ser muito ineficiente, então geralmente utilizam-se valores

    aleatórios de pesos e alguma métrica de sucesso do estágio de treinamento. Caso

    o aprendizado seja insatisfatório, deve-se reiniciar a etapa de treinamento com

    novos valores de pesos.

    O momento de interromper o treinamento também deve ser determinado.

    Geralmente a parada ocorre quando o erro de validação começa a crescer após de

    atingido um ponto de ótimo e não é possível determinar se este é um ótimo

    global ou local.

    Teoria de conjuntos nebulosos 2.4.3.2

    A teoria de conjuntos nebulosos (fuzzy) teve seu conceito introduzido por Lofti Zadeh em 1965

    para tratar os problemas de engenharia que envolvem imprecisões e incertezas. A lógica

    nebulosa, também chamada de lógica difusa, derivada do conceito de conjuntos nebulosos, lida

  • 29

    com quantidades imprecisas, vagas e mal definidas, em oposição às lógicas clássicas, nas quais

    os intervalos dos conjuntos são bem definidos [40].

    Pode-se então, implementar controles a partir de informações não-quantificáveis, como

    por exemplo a tensão em uma barra dividida em níveis abstratos (precária, crítica, adequada). O

    objetivo da lógica nebulosa é aproximar o mecanismo de tomada de decisões da máquina àquele

    utilizado pelo raciocínio humano, principalmente em ambientes com informações incertas e

    vagas e muitas vezes baseadas em expressões verbais, como: muito, pouco, talvez, aumentar.

    O controle construído com o uso da lógica nebulosa é chamado de sistema de inferência

    nebulosa (ou fuzzy), ilustrado na Figura 2.5.

    Figura 2.5. Sistema de interferência fuzzy.

    Basicamente, um sistema de inferência nebuloso é composto pelos seguintes

    componentes [40]:

    Um ―fuzzificador‖, que transforma as informações de entrada, geralmente

    valores numéricos, em conjuntos fuzzy para serem processados pelo mecanismo

    de inferência.

    A base de regras, geralmente do tipo SE-ENTÃO, também chamadas de regras

    fuzzy. Nesse tipo de regra, o comportamento das entradas é descrito através de

    um conjunto de condições associados a uma saída desejada.

    Uma base de dados que contém as funções de pertinência que indica o grau de

    pertinência entre os elementos e o conjunto. O grau de pertinência proposto por

  • 30

    Zadeh pode assumir qualquer valor entre o intervalo [0, 1], onde o valor 0 indica

    que o elemento não é membro do conjunto, e o valor 1 indica completa

    pertinência. A base de dados, portanto, compreende o universo dos conjuntos

    nebulosos utilizados.

    Um método de inferência que define como as entradas serão processadas, quais

    indicadores irão disparar a aplicação das regras e quais os operadores de

    conjuntos que serão aplicados sobre a base de dados. O modelo de inferência é

    específico da aplicação na qual se deseja utilizar um modelo baseado em lógica

    nebulosa.

    Um ―defuzzificador‖ que converte o resultado da inferência, feita de forma

    qualitativa, em valores numéricos que então podem ser utilizados pelo