Adubação Verde Com Crotalária

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  • 7/25/2019 Adubao Verde Com Crotalria

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    Desempenho Agronmico de Crotalariajunceaem Diferentes ArranjosPopulacionais e pocas do Ano*

    Arison Jos Pereira1

    Jos Guilherme Marinho Guerra2

    Viviane Fernandes Moreira1

    Marcelo Grandi Teixeira2

    Segundo Urquiaga2

    Jos Carlos Polidoro3

    Jos Antonio Azevedo Espindola2

    *

    Trabalho realizado com apoio financeiro da FAPERJ. Parte da dissertao de mestrado do primeiro autor.1Bolsista de doutorado CAPES/UFRRJ, Br 465, Km 47, 23890-000 Seropdica-RJ. E-mail: [email protected], [email protected] Agrnomo. PhD. Pesquisador da Embrapa Agrobiologia, BR 465, km 7, caixa postal 74505, Cep. 23890-000, Seropdica/RJ. E-mail: [email protected];[email protected]; [email protected]; [email protected] Solos Rua Jardim Botnico 1024, 22460-000, Rio de Janeiro-RJ. E-mail: [email protected].

    Introduo

    Dentro da perspectiva de uma abordagem dos

    sistemas de produo agrcola, baseada nos

    aspectos de conservao de recursos locais e

    otimizao dos processos biolgicos, relevante

    destacar a utilizao da adubao verde,

    principalmente com a utilizao de leguminosas,

    como a crotalria.

    As leguminosas, alm de proporcionarem benefcios

    similares aos obtidos com espcies de outras

    famlias botnicas utilizadas para a adubao verde,

    tem como particularidade o fato de formaremassociaes simbiticas com bactrias fixadoras de

    nitrognio atmosfrico (FBN), proporcionando, desta

    forma, a incorporao de quantidades expressivas

    deste nutriente essencial nos sistemas de cultivo

    (GUERRA et al., 2004), fato que de grande

    importncia, principalmente, para sustentao de

    unidades de produo orgnica, visto que o uso de

    fertilizantes nitrogenados sintticos no permitido

    em agricultura orgnica.

    A Crotalaria juncea uma espcie de clima tropical

    da famlia das leguminosas, cujo uso como adubo

    verde amplamente preconizado face o seu rpido

    crescimento, supresso de ervas espontneas e ao

    grande potencial de produo de biomassa e FBN.

    Contudo, a crotalria sensvel ao fotoperodo

    (AMABILE et al., 2000), o que torna necessria a

    adequao de seu uso mediante estratgias

    agronmicas, como a variao das pocas de

    semeadura.

    Estudos de arranjo populacional de plantas, com

    novas disposies na lavoura, permitem minimizar a

    competio, aumentando o aproveitamento dos

    recursos ambientais disponveis. As modificaes na

    disposio das plantas podem ser feitas por meio da

    variao da densidade de plantas na semeadura e

    do espaamento entre os sulcos de plantio,

    tornando-se importante determinar o arranjo que

    permita otimizar a FBN, a produo "in situ" de

    biomassa e a de sementes, alm dos impactos sobre

    a populao da vegetao espontnea.

    Face o exposto, os objetivos do presente trabalho

    foram avaliar os efeitos da densidade de plantas e

    do espaamento entre sulcos de plantio de crotalria

    em duas pocas do ano, na acumulao total de

    nitrognio, produo de biomassa area e de

    sementes e a contribuio da FBN no acmulo de N

    desta leguminosa.

    Material e Mtodos

    Os experimentos foram conduzidos em duas pocas

    de plantio no Campo Experimental da Embrapa

    Agrobiologia, Seropdica-RJ, em Argissolo

    vermelho-amarelo. A anlise qumica da terra

    retirada em amostras da camada de 0-20 cm, na

    primeira poca (outono-inverno), revelou os

    seguintes resultados: pH (H2O)= 5,2; Al+++= 0,2 cmolc

    dm-3; Ca++= 1,9 cmolc dm-3; Mg++= 1,0 cmolc dm

    -3; P=

    ISSN 1517-8862Dezembro/2005

    Ser opdi ca /RJ

    Comun i c a d o82T cn i c o

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    Produo Orgnica de Inhame (Colocasia esculenta) no Sistema Plantio Direto: efeito de doses crescentes de camade avirio em adubao verde2

    4,5 mg dm-3 e K= 51,5 mg dm-3, enquanto, na

    segunda poca de cultivo (primavera-vero) as

    anlises revelaram os mesmos valores, exceto

    quanto aos teores de P (8,0 mg dm-3) e K (69,5 mg

    dm-3). Foram realizadas adubaes homogneas

    com P, na forma de termofosfato (17,5 % de P2O5total) e K na forma de sulfato de potssio (50% de

    K2O) em doses equivalentes a, respectivamente, 80

    e 60 kg/ha de P2O5e K2O.

    O delineamento experimental foi de blocos ao acaso,

    com os tratamentos dispostos em arranjo fatorial 4 x

    3 (quatro densidades de plantas: 5, 10, 20 e 40

    plantas metro linear-1 e trs espaamentos entre

    sulcos de plantio: 30, 60 e 120 cm), com quatro

    repeties. A semeadura ocorreu aps arao,gradagem e sulcamento.

    Anteriormente semeadura, bactrias do gnero

    Rhizobium (estirpe BR2003), da coleo de cultura

    de bactrias diazotrficas da Embrapa Agrobiologia,

    foram inoculadas nas sementes. Utilizaram-se altas

    densidades de semeadura (aproximadamente o

    dobro do nmero de sementes correspondente a

    cada tratamento) ajustando-se posteriormente a

    populao de plantas, por meio de desbaste aos 20

    dias aps a semeadura (DAS).

    A produo de biomassa area foi determinada por

    ocasio do florescimento, quando as plantas

    apresentavam aproximadamente 50% das flores

    abertas, cortando-as a 0,05 m acima da superfcie

    do solo. A florao ocorreu aos 60 e 125 dias,

    respectivamente, para a primeira poca (outono-

    inverno) e segunda poca de semeadura (primavera-

    vero). Retiraram-se amostras de cada tratamento,

    as quais foram pesadas e colocadas em estufa deventilao forada, 65oC, permanecendo por 96

    horas, para determinao da produo de biomassa

    seca. Para a determinao do teor de N, utilizou-se o

    mtodo Kjeldahl (ALVES et al., 1994). A contribuio

    da FBN foi estimada utilizando-se a tcnica de

    abundncia natural de 15N (SHEARER & KOHL,

    1986). Como referncia de plantas no fixadoras de

    N2, foram utilizadas as gramneas: colonio

    (Panicum maximum), p-de-galinha (Eleusine indica)

    e braquiria (Brachiaria sp.).A avaliao da produo de sementes foi realizada

    quando as plantas apresentavam-se no estdio de

    maturao completa, com todas as vagens secas,

    quando as mesmas foram trilhadas e os gros

    pesados.

    A amostragem da populao de plantas

    espontneas foi realizada na vspera da avaliaoda produo de biomassa, realizada em ponto

    central de cada parcela, com o auxlio de um quadro

    de PVC (0,25 m x 0,50 m). Aps contagem, as

    plantas espontneas foram pesadas e mantidas em

    estufa de circulao de ar forado a 65C, por 96

    horas para determinar a produo de biomassa

    seca.

    Resultados e Discusso

    A produtividade de biomassa area seca decrotalria foi elevada com o aumento de densidades

    de plantas e reduo de espaamentos entre sulcos

    de plantio, para ambos perodos avaliados (outono-

    inverno e primavera-vero). No perodo de outono-

    inverno, o maior rendimento foi obtido com sulcos

    espaados de 30 cm, na densidade de 40 plantas

    por metro linear, alcanando produtividade de 6,8

    (t/ha). No perodo primavera-vero, a maior

    produtividade de biomassa area foi obtida com

    sulcos espaados de 30 cm, na densidade de 30plantas por metro linear, alcanando 10,7 t/ha

    (Tabela 1).

    Estes resultados assemelham-se aos encontrados

    por FERNANDES et al. (1999), que ao avaliarem o

    efeito de diferentes densidades de plantas na

    produtividade de biomassa area seca de Crotalaria

    spectabilis e C. breviflora, verificaram que o

    adensamento populacional contribuiu para o

    aumento de produtividade de biomassa area seca

    destas leguminosas.

    A produtividade de sementes de crotalria no

    perodo outono-inverno apresentou comportamento

    semelhante acumulao de biomassa, visto que o

    incremento da densidade de plantas aumentou a

    produtividade de sementes. O maior rendimento de

    sementes foi obtido com sulcos espaados de 30

    cm, na densidade de 40 plantas por metro linear,

    alcanando produtividade de 1436,7 kg/ha. Contudo,

    no perodo de primavera-vero, no foramobservados efeitos da densidade de plantas e do

    espaamento entre sulcos de plantio, apresentando

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    Produo Orgnica de Inhame (Colocasia esculenta) no Sistema Plantio Direto: efeito de doses crescentes de camade avirio em adubao verde 3

    produtividade mdia de 162,5 kg/ha (Tabela 1).

    Torna-se importante destacar que o comportamento

    da crotalria quanto produtividade de sementes

    nas duas pocas de semeadura estudadas mostra-

    se distinto, evidenciando-se a maior produtividadeno perodo de outono-inverno. Este fato proporciona

    ao agricultor a alternativa de cultiv-la neste perodo,

    com vistas a obter sementes para cultivo na forma

    de adubo verde em maior escala no perodo de

    primavera-vero, perodo no qual grande parte das

    reas destinadas a produo, principalmente de

    hortalias estaro em pousio.

    A acumulao total de nitrognio na parte area da

    crotalria, nos perodos outono-inverno e primavera-

    vero, apresentaram resposta semelhante ocorridapara a produtividade de biomassa area. A maior

    quantidade de nitrognio total acumulado na parte

    area das plantas, no perodo de outono-inverno, foi

    obtido com sulcos espaados de 30 cm, na

    densidade de 40 plantas por metro linear (189,3

    kg/ha). Para o perodo primavera-vero, o maior

    contedo acumulado de nitrognio, foi obtido com

    sulcos espaados de 30 cm, na densidade de 30

    plantas por metro linear, obtendo-se 260,6 kg/ha

    (Tabela 1).

    No cultivo de outono-inverno, a maior acumulao

    de N derivado da FBN foi obtida com sulcos

    espaados de 30 cm, na densidade de 40 plantas

    por metro linear (140,2 kg/ha), significando que 74%

    do nitrognio contido nas plantas era proveniente do

    ar. No perodo primavera-vero, a maior contribuio

    da FBN foi obtida com sulcos espaados de 30 cm,

    na densidade de 30 plantas por metro linear,

    alcanando 183,1 kg/ha, onde69% do N contido nasplantas era proveniente do ar (Tabela 1).

    Outro importante fator relacionado com o ajuste

    populacional de espcies utilizadas como adubos

    verdes, diz respeito maior capacidade de

    competio com as plantas espontneas. A reduo

    do nmero de indivduos da vegetao espontnea

    no cultivo do perodo outono-inverno foi influenciada

    apenas pelo espaamento entre sulcos de plantio.

    Foram observadas maiores redues no nmero de

    indivduos quando os sulcos foram espaados de 30cm (502 indivduos/m2)*, obtendo-se uma reduo de

    aproximadamente 27%, quando comparados com o

    espaamento de 120 cm entre sulcos de plantio (690

    indivduos/m2)*. De forma semelhante, para o

    perodo primavera-vero, observou-se que quando

    os sulcos foram espaados de 30 cm, houve menor

    ocorrncia de indivduos de espcies espontneas

    na rea (74 indivduos/m2)*, representando reduo

    mdia de aproximadamente 36%, na comparao

    com o espaamento de 120 cm (116 indivduos/m2) .

    Tabela 1. Parmetros agronmicos estimados para

    o espaamento de 30 cm entre sulcos de plantio,

    nos perodos outono-inverno e primavera-vero.

    Perodo de cultivo Outono-Inverno Primavera-Vero

    Densidade de plantas (plantas/m)Parmetro

    40 plantas/m 30 plantas/m

    Ciclo da cultura (DAP**) 130 dias 186 dias

    Perodo at o corte (DAP) 60 dias 125 dias

    Altura (m) 1,67 m 2,84 m

    Prod. Biom. Area seca (t/ha) 6,8 t/ha 10,7 t/ha

    Produt. Sementes (kg/ha) 1436,7 kg/ha 162,5 kg/ha

    Acmulo total de N (kg/ha) 189,3 kg/ha 260,6 kg/ha

    Fixao Biolgica de N (%) 75 % 69 %

    Quantidade N-FBN (kg/ha) 140,2 kg/ha 183,1 kg/ha

    ** = Dias aps o plantio

    A produo de biomassa area seca da vegetao

    espontnea no perodo outono-inverno foi menor nadensidade de 40 plantas por metro linear, com

    sulcos espaados de 30 cm (546,5 kg/ha)*,

    verificando-se reduo de aproximadamente 87%

    em comparao com a menor densidade de plantas,

    no espaamento de 120 cm entre sulcos de plantio

    (4,4 t/ha)*, como pode ser visto nas figuras 1 A e B.

    A produo de biomassa area seca da vegetao

    espontnea no cultivo do perodo primavera-vero

    foi influenciada apenas pelo espaamento entresulcos de plantio. Observou-se que com a reduo

    do espaamento entre sulcos de plantio de 120 cm

    (10,3 t/ha)* para 30 cm (5,1 t/ha)*, possvel

    restringir o acmulo de biomassa seca na parte

    area da vegetao espontnea, em

    aproximadamente 51%.

    Observou-se que os arranjos populacionais deCrotalaria juncea, independentemente da pocade semeadura, so determinantes no

    desempenho agronmico dessa leguminosa

    Dados no apresentados

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    Produo Orgnica de Inhame (Colocasia esculenta) no Sistema Plantio Direto: efeito de doses crescentes de camade avirio em adubao verde4

    usada para adubao verde, onde o aumento dadensidade de plantas (5 para 40 plantas por metrolinear), associado reduo do espaamentoentre sulcos de plantio (120 para 30 cm)proporcionam maiores produtividades de

    biomassa area e de sementes e incremento nataxa de FBN, alm de reduzir a ocorrncia e abiomassa acumulada pela vegetao espontnea,tornando-se um fator importante para o manejoem sistemas integrados de produo.

    Figura 1. Viso detalhada da presena da vegetao espontnea, nadensidade de 5 plantas por metro linear, com 120 cm de

    espaamento entre sulco de plantio (A) e na densidade de 40 plantaspor metro linear, com sulcos espaados de 30 cm (B).

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    Physiology, Victoria, v. 13, p. 699-756, 1986.

    B

    A

    ComunicadoTcnico, 82

    Exemplares desta publicao podem

    ser adquiridos na:

    Embrapa Agrobiologia

    BR465 km 7Caixa Postal 7450523851-970 Seropdica/RJ, BrasilTelefone: (0xx21) 2682-1500

    Fax: (0xx21) 2682-1230Home page: www.cnpab.embrapa.bre-mail: [email protected]

    Comit depublicaes

    Expediente

    Eduardo F. C. Campello (Presidente)Jos Guilherme Marinho GuerraMaria Cristina Prata NevesVernica Massena ReisRobert Michael BoddeyMaria Elizabeth Fernandes CorreiaDorimar dos Santos Felix (Bibliotecria)

    Revisor e/ou ad hoc: Bruno JosRodrigues Alves e Helvcio De-PolliNormalizao Bibliogrfica: Dorimar dosSantos Flix.Editorao eletrnica: Marta MariaGonalves Bahia.