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    Manejo da Adubao Verdecom Crotalria no Consrciocom o Quiabeiro sob Manejo

    OrgnicoRodolfo Gustavo Teixeira Ribas1

    Rodrigo Modesto Junqueira1

    Fbio Luiz de Oliveira2

    Jos Guilherme Marinho Guerra3

    Dejair Lopes de Almeida3

    Raul de Lucena Duarte Ribeiro4

    1Graduando em Engenharia Agronmica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, bolsista da Embrapa Agrobiologia/CNPq-PIBIC;2Lic. Cincias Agrcolas, Doutorando em Fitotecnia- Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;3Eng Agrnomo, Pesquisador da Embrapa Agrobiologia. C. Postal- 74505, BR-465, Km-7, Seropdica- RJ, Brasil, 23851-970, e-mail: [email protected];4Eng Agr, Professor Adjunto IV da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

    Introduo

    Agricultura orgnica o sistema de manejosustentvel da unidade de produo com enfoquesistmico, que privilegia a preservao ambiental,a agrobiodiversidade, os ciclos biolgicos e aqualidade de vida do homem (Neves et al.,2000).

    Os sistemas orgnicos de produo agropecuriabaseiam-se na rotao de culturas, no aporte decarbono e nutrientes atravs de estercos animais,da adubao verde e no uso de fontes naturais denutrientes e controle biolgico de pragas edoenas, afim de manter a estrutura eprodutividade do solo, fornecer nutrientes para asculturas, manter os nveis de insetos, doenas eervas espontneas sob controle (Ehlers, 1996,1999).

    A adubao verde uma tcnica que consiste noplantio de espcies nativas ou introduzidas,cultivadas em rotao ou em consrcio comculturas de interesse econmico. Estas espciespodem ser de ciclo anual, semi - perene ou perenee, portanto, cobrem o terreno em perodos de

    tempo ou durante todo o ano (Calegari et al.,1993; Espndola et al., 1997). Aps seremroadas, podem ser incorporadas, ou mantidas emcobertura sobre a superfcie do solo.

    Vrias famlias botnicas destacam-se comoadubos verdes. Aquelas da famlia Leguminosae,alm de proporcionarem benefcios similares aos

    obtidos com espcies de outras famlias, temcomo particularidade o fato de formarem

    associaes simbiticas com bactrias fixadorasde nitrognio atmosfrico dos gneros Rhizobiume Bradrhizobium. Como resultado da simbiose,quantidades expressivas de nitrognio tornam-sedisponveis aps o corte da leguminosa,acarretando, se adequadamente manejada, auto-suficincia desse elemento.

    O emprego da leguminosa na adubao verde,por ser um recurso natural e renovvel, podetornar-se importante para sustentao de

    unidades de produo orgnica, visto que o usode fertilizantes nitrogenados sintticos no admitido na agricultura orgnica, (InstruoNormativa n 07, de 17 de maio de 1999, doMinistrio da Agricultura).

    A adubao verde quando consorciada deve evitara competio com a cultura comercial (Ribas etal., 2001), o que pode acarretar reduo deprodutividade. A adaptao do manejoconsorciado, visando beneficiar a lavouracomercial no mesmo ciclo de cultivo do aduboverde um desafio, em contraposio ao manejona forma de pr- cultivo (antecedendo a lavouracomercial). Embora o pr-cultivo do adubo verdeproporcione bons resultados das lavouras (Arajo& Almeida, 1993; Oliveira, 2001), requer amanuteno de reas em pousio por longosperodos, o que dificulta a adoo por agricultores

    ISSN 1517-8862Novembro/2003

    Ser opdi ca /RJ

    Comun i c a do59T c n i c o

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    familiares, alm do fato da eficincia narecuperao de nutrientes, principalmente o N,nesse sistema de manejo ser relativamente baixa.

    Resultados de pesquisa relacionados adubaoverde para a cultura do quiabeiro sob manejoorgnico (Ribas et al., 2002), tm demonstrado aviabilidade do cultivo desta hortalia em consrciocom crotalria. Contudo, ajustes tornam-senecessrios, a fim de eliminar possveis efeitos decompetio provocados pela leguminosa emaximizar o benefcio da adubao verde. Nestesentido, o presente trabalho tem como objetivoavaliar o impacto da poda e da roada deCrotalaria juncea, cultivada em consrcio com oquiabeiro, no desempenho produtivo destahortalia sob manejo orgnico de produo.

    Material e Mtodos

    O trabalho experimental foi realizado na rea doSistema Integrado de Produo Agroecolgica(Fazendinha Agroecolgica km 47), uma unidadede pesquisa em produo orgnica de alimentos,formada a partir de convnio entre a Embrapa

    Agrobiologia e Embrapa Solos, a UFRuralRJ e aPesagro (Almeida et al., 1999).

    O experimento foi instalado em um Argissolo.Foram retiradas amostras de terra para anlisequmica, na profundidade de 0 0,20 m

    anteriormente ao plantio do quiabeiro, e osresultados revelaram: pH em gua = 6,9; Al +++=0,0 cmolc/dm

    3; Ca ++= 2,7 cmolc/dm3; Mg ++= 1,2

    cmolc/dm3; K+ = 201 cmolc/dm

    3 e P disponvel =116 mg/dm3 de solo. Por no apresentarproblemas de acidez e deficincia de nutrientes, apartir da interpretao da anlise de solo e deacordo com a recomendao do Manual de

    Adubao para o Estado do Rio de Janeiro(Almeida et al., 1988), no foi realizada a calagem.

    O delineamento experimental empregado foi deblocos ao acaso dispostos em fatorial 3 x 2 comquatro repeties. Os tratamentos constam de trssistemas de cultivo: monocultivo do quiabeiro;consrcio do quiabeiro com Crotalaria juncea,sendo esta roada; e consrcio do quiabeiro comcrotalria, sendo esta podada e roada, e duasdoses de esterco bovino equivalentes a 50 e 100kg N/ha. A Figura 1 ilustra a evoluo temporaldos tratamentos relacionados ao manejo dacrotalria no consrcio com o quiabeiro. A

    crotalria foi semeada um ms aps o transplantiodo quiabeiro, na densidade de 30 sementes/mlinear em duas linhas intercalares s fileiras doquiabeiro, com populao equivalente a 400.000plantas/ha, sendo mantida em cobertura sobre oterreno aps o corte. A cultivar de quiabeiro(Abelmoschus esculentus) utilizada foi a Santa

    Cruz 47, sendo as mudas produzidas em bandejasde poliestireno expandido com 128 clulas, queforam transplantadas (duas plantas/cova) para ocampo vinte dias aps a semeadura, noespaamento de 1 x 0,5m.

    Figura 1.Diagrama ilustrativo da evoluo temporal dos tratamentos.A-C: monocultivo do quiabeiro; D-F: consrcio do quiabeiro com

    crotalria, sendo esta roada; G-I: consrcio do quiabeiro comcrotalria, sendo esta podada e roada.

    Aos 50 dias aps a semeadura procedeu-se aroada da crotalria nos tratamentoscorrespondentes. Nos tratamentos com poda eroada estas operaes foram realizadas emlinhas alternadas, ou seja, em uma rua procedeu-se a roada, enquanto na outra foi realizada apoda na metade da altura da planta (0,80 m dasuperfcie do terreno) e aos 80 dias aps asemeadura da crotalria procedeu-se a roadadas linhas onde haviam sido realizadas as podas,aps a rebrota das plantas de crotalria.

    Ao longo do ciclo do quiabeiro foram realizadas 33colheitas, sendo efetuadas a medida que os frutos

    atingiam o ponto de comercializao. Avaliaram-se, o peso mdio, o nmero de frutos e aprodutividade da cultura.

    Resultados e Discusso

    A colheita do quiabeiro se estende por algunsmeses. Desta forma a adubao verde serealizada somente em uma poca, acarretafornecimento de nutrientes restrito a curtosperodos (Ribas et al., 2002). Consequentemente,

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    o aproveitamento dos nutrientes liberados aps adecomposio dos resduos da crotalria se darna fase inicial de colheita de frutos. Em contrapartida, se o corte for realizado tardiamente, oquiabeiro pode sofrer com a competio exercidapor esta leguminosa (Ribas et al., 2001).

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    50000

    100000

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    250000

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

    Semana

    Fruto

    (n/ha)

    Monocul tivo Consrc io-roada Consrc io-poda e roada

    1 2

    Figur a 2. Nmero de frutos do quiabeiro obtido a partir da adubaoverde na forma de consrcio com crotalria com diferentes tipos de

    manejo.

    1

    pocas de roada e poda da crotalria.

    2

    poca de roadada crotalria.

    A crotalria produziu 4,4 e 3,9 t matria seca/hano 1 corte, respectivamente, para os tratamentosroada, e podada e roada concomitante,acumulando respectivamente 130 e 116,5 kg N/hanestes tratamentos. A podada resultou aindaacrscimo de 1,2 t matria seca/ha obtida apsrebrota, acumulando mais 25,5 kg N/ha, quandocomparado com o tratamento que sofreu apenas aroada. A crotalria foi roada ou podada, de

    acordo com os respectivos tratamentos, na 1semana de colheita. Notou-se que, o benefcio docorte da crotalria j se fez sentir a partir da 3semana permanecendo at as ltimas colheitas defrutos (Figuras 2 e 3). Notou-se tambm que apoda na 1 semana de colheita e roada rente aosolo na 5 semana acarretou benefcios superioresa roada nica, realizada na 1 semana,principalmente quando comparada ao controlesem adubao verde, para os parmetros nmerode frutos (Figura 2) e produtividade (Tabela 1).

    Estes resultados mostram de forma inexorvel oaspecto positivo e promissor deste tipo de manejoda adubao verde com crotalria para a culturado quiabeiro.

    O peso mdio de frutos do quiabeiro no foiafetado por nenhum dos fatores testados, o queindica que o componente da produo sujeito aalterao foi o nmero de frutos, como pode serobservado na Tabela 1. A produtividade total defrutos aumentou aproximadamente 10 e 20%,

    respectivamente, no consrcio com roada nicada crotalria e com poda da crotalria e roadaem linhas alternadas, seguidas de roadaposterior, quando comparadas com o quiabeiroem monocultivo. Por outro lado, pode-se observarque a diferena de produtividade obtida quandocompararam-se as duas doses de N (50 e 100

    kg/ha) na forma de esterco bovino foi de apenas1%,no justificando, desta forma, dobrar a dosede N utilizada (Tabela 1), considerando que a reatem sido cultivada com hortalias que recebemadubaes orgnicas contnuas e por isso, o soloapresenta bons nveis de fertilidade. No foramobservados efeitos interativos entre a adubaoverde e a adubao com esterco bovino.

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    4,5

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

    Semana

    Pr

    oduti

    vidad

    e(t/

    Monocultivo Consrcio com roada Consrcio com poda e roada

    1 2

    Figura 3. Produtividade do quiabeiro obtido a partir da adubaoverde na forma de consrcio com crotalria com diferentes tipos demanejo. 1 pocas de roada e poda da crotalria. 2 poca de roada

    da crotalria.

    Tabela 1.Peso mdio e nmero total de frutos, eprodutividade do quiabeiro em diferentes modosde cultivo e a partir de doses de fertilizanteorgnico.

    Componentes da produo do Quiabeiro

    Tratamento Peso mdiofrutos (g)

    Nmero totalfrutos

    (frutos/ha)

    Produtividad(t/ha)

    Modo de cultivo

    Quiabeiro solteiro 18,94 A3 1.620.556 C 30,62 C

    Quiabeiro em consrcio comcrotalria roada

    19,00 A 1.773.611 B 33,75 B

    Quiabeiro em consrcio comcrotalria podada e roada

    19,09 A 1.915.833 A 36,58 A

    Adubao o rgni ca (kg N/ha)2

    50 18,99 A4 1.760.463 B 33,47 B

    100 19,02 A 1.779.537 A 33,83 A

    CV % 7,2 6,8 5,71 Valores referentes ao final das 33 colheitas2 Na forma de esterco bovino3 Valores seguidos de letras iguais na coluna no diferem entre si pelo teste deTukey (p0,05)4 Valores seguidos de letras iguais na coluna no diferem entre si pelo teste deF (p0,05)

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    Concluses

    A adubao com esterco bovino na doseequivalente a 100 kg de N/ha proporcionaaumento no nmero de frutos e naprodutividade do quiabeiro deaproximadamente 1%, quando comparada coma aplicao de 50 kg N/ha, no justificando ouso da dose mais elevada;

    A adubao verde com crotalria, manejada naforma de consrcio com a cultura do quiabeiro,proporciona aumento no nmero de frutos e naprodutividade desta hortalia, sendo o benefciomaximizado quando a leguminosa podada eposteriormente roada.

    Referncias Bibliogrficas

    ALMEIDA, D. L.; SANTOS, G. A.; DE-POLLI, H.,

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    ComunicadoTcnico, 59

    Exemplares desta publicao podemser adquiridos na:

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    BR465 km 47

    Caixa Postal 74505

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    Fax: (0xx21) 2682-1230Home page: www.cnpab.embrapa.br

    e-mail: [email protected]

    1impresso (2003): 50 exemplares

    Comit depublicaes

    Expediente

    Jos Ivo Baldani (Presidente)Jos Antnio Ramos Pereira

    Marcelo Grandi Teixeira

    Robert Michael Boddey

    Segundo Sacramento Urquiaga Caballero

    Vernica Massena ReisDorimar dos Santos Felix (Bibliotecria)

    Revisor e/ou ad hoc: Marcelo GrandiTeixeiraNormalizao Bibliogrfica: Dorimar dosSantos FlixEditorao eletrnica: Marta MariaGonalves Bahia