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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO: PARCEIRAS NA CONSTRUÇÃO DO SUJEITO COGNITIVO E DO SUJEITO SOCIAL PATRÍCIA COSTA SANTIAGO DE CARVALHO Orientadora: Profª Dayse Serra NITERÓI -RJ 2011

AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO: PARCEIRAS NA … · Monografia apresentada à ... pensar sobre a importância do afeto na práxis da ... havia divisão territorial e de atividades as crianças

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO: PARCEIRAS NA CONSTRUÇÃO DO SUJEITO COGNITIVO E DO

SUJEITO SOCIAL

PATRÍCIA COSTA SANTIAGO DE CARVALHO

Orientadora: Profª Dayse Serra

NITERÓI -RJ

2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO: PARCEIRAS NA CONSTRUÇÃO DO SUJEITO COGNITIVO E DO

SUJEITO SOCIAL

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Niterói, como exigência parcial para a conclusão do curso de pós-graduação em Psicopedagogia.

NITERÓI- RJ 2011

PATRÍCIA COSTA SANTIAGO DE CARVALHO AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO: PARCEIRAS NA CONSTRUÇÃO DO SUJEITO COGNITIVO E DO SUJEITO SOCIAL Monografia aprovada em: ___/___/___

Banca Examinadora: Nota: ____________

________________________________ Profª Dayse Serra

Orientadora

________________________________ Examinador (a)

AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus que me proporcionou a oportunidade de

chegar até aqui, ao meu amado esposo que sempre me apoiou, mesmo nos

momentos mais difíceis, aos meus filhos que são fonte inspiração para mim e

aos meus amigos que sempre estiveram me apoiando.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de pesquisa ao

meu esposo, aos meus filhos, irmãos e

aos professores que sempre estiveram

ao meu lado para eventuais dúvidas e

suporte.

RESUMO

O ensino e o aprendizado sempre foi um desafio para mestres e alunos

diante do processo de construção do sujeito. Pressupondo que a dimensão

afetiva tem relação direta na construção do sujeito cognitivo e do sujeito social,

como podemos dinamizar a aprendizagem diante da falência afetiva familiar de

muitos alunos e o papel do professor no processo pedagógico para uma

educação de qualidade onde vise o ser integralmente?

O objetivo desta obra é investigar a formulação desse problema considerando

que a afetividade é um fenômeno que tem estado presente com mais

freqüência no discurso dos educadores e dos pais, pois os mesmos estão

percebendo a relevância de sua presença no processo de ensino e

aprendizagem. Entendendo que as dificuldades de aprendizagem podem ser

resultados de conflitos que estão diretamente relacionados à prática

pedagógica, ao sistema de ensino e a vínculos que a criança estabelece com

os atores que estão presentes em sua vida. E considerando ainda que a

presença do afeto, ou a falta do mesmo, pode resultar na aceleração ou no

retardamento psíquico e cognitivo de uma criança. Destarte, esta obra propicia

aos atores envolvidos na educação infantil uma análise sobre a implicação do

afeto no desenvolvimento cognitivo e emocional da criança, buscando uma

abordagem equilibrada e enriquecedora.

METODOLOGIA

Para a realização do presente trabalho, foram realizadas pesquisas

bibliográficas e artigos que propiciaram a reflexão e a fundamentação teórica

do objeto da pesquisa. O que possibilitou uma ampla analise do tema proposto

e concomitantemente tornou-se possível a elaboração do trabalho de forma

simples e delimitada na construção do sujeito cognitivo, e psicossocial.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO 09 CAPITULO I A CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE INFÂNCIA E O SURGIMENTO DO AFETO EM MEIO ÀS RELAÇÕES ESCOLARES 11 1.1- A construção histórica do conceito de infância 11 1.2- O surgimento da escola como promotora de educação e do afeto em meio às relações escolares 16 CAPITULO II A CONSTRUÇÃO DO INDIVÍDUO E SUA INTERAÇÃO COM O MEIO EDUCACIONAL 22

2.1- O afeto e sua colaboração para construção do sujeito 22 2.2- A relação professor/aluno 25 2.3- A importância do afeto na relação professor/aluno 30

CAPITULO II O EFEITO DO AFETO NA APRENDIZAGEM 35

3.1- O afeto no desenvolvimento da auto-estima da criança 35 3.2- Afeto e cognição: instâncias indissociáveis 37

CONLUSÃO 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44

INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende através de uma pesquisa bibliográfica,

pensar sobre a importância do afeto na práxis da educação, pois é fato

observável que a questão da afetividade tem sido discutida com mais

freqüência entre as famílias e os educadores.

Percebemos que o contexto em que vivemos está imerso na

praticidade e no imediatismo, tornando as relações entre as pessoas cada vez

mais distantes e despidas de afeto. Os valores capitalistas sustentam essa

forma de vida imediatista e prática enfatizando que para ser é preciso ter e

essa forma de se conceber a vida e as relações, tem de alguma forma afetado

não apenas as relações familiares, mas também a prática do ensino.

Afetados por esses conceitos e valores, as instituições de ensino

podem estar empenhando-se mais na formação do indivíduo preparado para o

mercado de trabalho, ou para ocupar melhores cargos com melhores salários,

criando dessa forma competidores. O ato de educar não pode Ser reduzido à

simples transmissão de conhecimentos e informações é preciso considerar que

também faz parte do trabalho do educador, à formação do sujeito equilibrado

apto para relacionar-se de forma saudável em meio à sociedade no

desenvolvimento da cidadania.

Porém, não se podem desconsiderar os profissionais da área da

educação que, como já citamos acima, tem se preocupado com as questões

que permeiam o processo de ensino e aprendizagem. Considerando que a falta

de afeto tanto nas relações familiares, quanto na relação professor-aluno, pode

gerar conflitos que prejudiquem o desempenho do processo de ensino e

aprendizagem.

Ao longo dessa pesquisa bibliográfica, cremos que poderemos chegar

à conclusão de alguns conceitos que poderão colaborar para o enriquecimento

da prática do ensino e um deles é:

O aluno precisa do humano. Em um mundo onde a violência

grassa cada vez mais, onde a agressividade é absolutamente

assustadora, a solução não está em mais agressividade nem em

armamentos modernos. A solução está no afeto. Em um mundo

onde a criança, o jovem, o idoso são desrespeitados, onde a

liberdade dá lugar à escravidão, onde milhões passam fome e

vivem à mercê da caridade de outros, a solução está no afeto.

Em um mundo onde se atingiram patamares de excelência na

robótica e na ciência, na evolução cibernética e na revolução da

informação, mas não se conseguiu entender o humano, a

solução está no afeto. (Chalita, 2001, p.260).

O presente trabalho se dividirá em três capítulos, o primeiro tratará

sobre a contextualização histórica do conceito de infância e o surgimento do

afeto em meio às relações escolares, pois entendemos que assim como a

infância o afeto é um fenômeno que ao longo dos séculos passou a ser mais

evidenciado e ganhou certa importância nas relações. O segundo capítulo vai

tratar a construção do indivíduo e sua interação com o meio educacional,

buscaremos nesse momento abordar questões que permeiam a relação

professor/aluno entendendo que é um eixo fundamental para aprendizagem. E

o terceiro e ultimo capítulo, versará sobre o efeito do afeto na aprendizagem.

CAPÍTULO I

A CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE

INFÂNCIA E O SURGIMENTO DO AFETO EM MEIO ÀS

RELAÇÕES ESCOLARES.

1.1- A construção histórica do conceito de infância.

O conceito de infância, como processo e como etapa do

desenvolvimento humano, passou por significativas transformações ao longo

dos últimos séculos, ele foi sendo historicamente construída, por isso a infância

não pode ser concebida como uma categoria natural, mas sim profundamente

histórica. Por muito tempo, a criança não foi considerada como um ser em

desenvolvimento com características e necessidades próprias. Mas o conceito

de infância não pode ser considerado como algo estático, pois ao longo dessa

pesquisa bibliográfica perceberemos que o mesmo está em permanente

construção.

Tomando como base que “o conceito de infância vem sendo alterado ao

longo da evolução do homem, e aliado a isso, também vem sendo modificada a

concepção do papel social desses primeiros anos de vida.” (Gontijo, 2008).

Entendemos, então, que este foi configurando-se ao longo do tempo de acordo

com as exigências e os imperativos sociais.

Na idade média não existia por parte da sociedade um olhar diferenciado

para esse período da infância, ou melhor, não havia sequer a existência do

conceito de infância. Era uma sociedade que concebia a criança como um ser

frágil, debilitado e pouco dotado e em conseqüência dessa concepção pouco

valor era dado à vida das mesmas. Os bebês, até aproximadamente os dois

anos de idade, sofriam com um descaso assustador, os pais consideravam

pouco aconselhável investir muito tempo ou esforço em seres tão debilitados

que apresentavam tantas possibilidades de morrer. Devido a essas atitudes e

pensamentos, a morte das crianças era considerada como algo natural. Essa

visão se justificava pelo alto índice de mortalidade infantil decorrente da

precariedade higiênica e da falta de cuidados com a saúde. A falta de um olhar

mais atento para essa fase do desenvolvimento humano criava uma atmosfera

de negligencia para com as crianças. Como por exemplo, a prática do

infanticídio tolerada e pouco condenável nessa sociedade. Segundo Ariès:

“A vida da criança era então considerada com a mesma

ambigüidade com que hoje se considera a do feto, com a

diferença de que o infanticídio era abafado no silêncio, enquanto

o aborto é reivindicado em alta voz.” (1978, p 18).

Nessa época a infância foi limitada ao período de dependência, as

crianças que sobreviviam, assim que alcançavam alguma autonomia, não eram

vistas nem consideradas como crianças, não possuíam uma identidade própria,

mas eram vistas e assim tratadas como adultos em miniatura. A dependência

era o que marcava uma idéia prematura do que poderíamos considerar,

naquele momento, de infância. “A duração da infância era reduzida ao seu

período mais frágil, enquanto o filhote do homem não conseguia abastar-se.”

(Ariès 1978, p 10).

Diante desses fatos podemos observar que a criança no período

medieval era logo inserida no mundo dos adultos através do trabalho, pois

ainda pequenas exerciam atividades produtivas, o que era constante nas

classes mais baixas. A vida era relativamente igual para todas as idades, as

crianças nesse contexto ficavam expostas à violência dos adultos. As crianças

e os adultos compartilhavam os mesmos lugares e situações, fossem elas

domésticas, de trabalho ou de festas, ou seja, não existia vida privada. Não

havia divisão territorial e de atividades as crianças participavam de todas as

experiências dos adultos. A aprendizagem se dava em meio a essas práticas,

não havendo uma preocupação em adequar a aprendizagem a idade da

criança, pois o sentimento predominante na época levava ao um total

descrédito a necessidade de tal adequação, como se a criança já obtivesse

toda uma estrutura psíquica e biológica para tal formação. Até mesmo nos

trabalhos artísticos da época a infância foi desconsiderada, como ressalta

Ariès:

Até por volta do século XII, à arte medieval desconhecia a

infância ou não tentava representá-la. É difícil crer que essa

ausência se devesse a incompetência ou a falta de habilidades.

É mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse

mundo. (1978, p 50).

Porém como já citamos acima, o conceito de infância não é estático e

com o passar do tempo ganha outra roupagem, outro significado. Surge o

primeiro olhar direcionado e diferenciado à infância através do sentimento de

paparicação, momento em que podemos observar alguns aspectos afetivos no

envolvimento relacional familiar. Esse sentimento considerava a criança ainda

bem pequena como: ingênuas, inocentes e graciosas. A paparicação vinha dos

cuidados das amas, escravas que eram designadas para cuidarem dos bebês

e até amamentá-los, no período em que a criança necessitava de maior

atenção. Posteriormente esse sentimento passou a fazer parte do olhar dos

pais sobre a criança. Um ser de extremo encanto, que traz alegria para todos

que a observam.

Um novo sentimento da infância havia surgido, em que a criança,

por sua ingenuidade, gentileza e garça, se tornava uma fonte de

distração e de relaxamento para o adulto, um sentimento quer

poderíamos chamar de “paparicação”. Originalmente, esse

sentimento pertencera às mulheres, encarregadas de cuidar das

crianças – mães ou amas. (Ariès 1978, p 158).

Mas, por volta do século XII, surge um sentimento em contraposição à

paparicação, caracterizado pela preocupação e até mesmo repulsa, que surgiu

não na família, mas entre os moralistas e os educadores da época por

reprovarem a mistura das crianças com os adultos. As idéias inovadoras dos

moralistas e educadores partiram do princípio de que a criança não havia

adquirido um nível de maturidade suficiente, para ser inserida no contexto

social dos adultos comungando de suas práticas. Esse novo sentimento

concebia a criança como um ser imperfeito e incompleto, que necessitava de

uma educação baseada na moralização e na disciplina. E essa nova forma de

se conceber a criança colocava-se ao inverso do primeiro sentimento.

É entre os moralistas e os educadores do século XVII que

vemos formar-se esse outro sentimento da infância que

estudamos no capítulo anterior e que se inspirou toda a

educação até o século XX, tanto na cidade como no campo, na

burguesia como no povo. O apego a infância e a sua

particularidade não se exprimia mais através da distração e da

brincadeira, mas através do interesse psicológico e da

preocupação moral. (Ariès 1978, p 162)

Esses sentimentos ocorridos nos séculos XVI e XVII foram auxiliares na

promoção do estabelecimento de valores morais e expectativas de uma nova

conduta, que possibilitou o surgimento de uma infância como categoria

autônoma e diferenciada. Podemos citar como exemplo desse novo olhar para

a infância a presença de crianças nas pinturas que retratavam as famílias no

século XVIII, antes sujeitos inexistentes.

Com essa nova concepção da infância, a criança pode estabelecer seu

espaço, expor suas reais necessidades e ganhar um lugar de destaque na

família e na sociedade. Segundo Gontijo; “A infância é percebida pela

sociedade, e em especial pela família, como uma fase de alegria, de

brincadeiras, e de inocência. Reconhecida como fase de extrema importância

para a formação do futuro adulto.” (2008, p 01).

Durante séculos a criança não foi considerada como sujeito de direitos

foi marginalizada, não expressava nenhuma relevância para a sociedade. A

infância não era considerada como um período de desenvolvimento humano,

um período que exigia cuidados tanto sociais quanto de saúde. O sentimento

de infância que predominou por muito tempo, não solicitava um cuidado

diferenciado com esta etapa da vida, mas, “uma vez estabelecida que a criança

é um ser singular, com características próprias, diferentes das do adulto,

passou-se à busca de sua condição de indivíduo” (Ghiraldelli 2002, p 15).

Essas mudanças possibilitaram o aparecimento da criança como sujeito social,

como sujeito de direitos que motivou o surgimento de algumas leis que visam

propiciar para a criança uma vida digna onde a mesma passa a ser enxergada

como um ser humano em desenvolvimento físico, mental, moral,espiritual e

social. De acordo com o ECA (Estatuto da criança e do adolescente):

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do

poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação

dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer

circunstancias;

b) Precedência de atendimento nos serviços públicos ou de

relevância pública;

c) Preferência na formulação e na execução das políticas

sociais públicas;

d) Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas

relacionadas com a proteção à infância e à juventude; (ECA

2003, Artg 4, p 13 e 14).

Nesta perspectiva evolucionista, a infância garante a vivencia da

condição peculiar da criança, se antes eram desconsideradas por serem

frágeis e pouco dotadas, agora possuem prioridades no cuidado por nascerem

e permanecerem dependentes por um tempo. Antes as idades não revelavam

considerável importância e logo eram misturadas aos adultos, menosprezando

suas necessidades.

Mas embora a primeira infância fosse assim isolada, a mistura

arcaica das idades persistiu nos séculos XVII e XVIII entre o

resto da população escolar, em que crianças de 10 a 14 anos,

adolescentes de 15 a 18 anos e rapazes de 19 a 25 anos

freqüentavam as mesmas classes. Até o fim do século XVIII, não

se teve idéia de separá-los. (Ariès 1978, p 84).

Atualmente, após tantas mudanças, entende-se que cada idade tem em

si mesma uma identidade própria, que traz consigo necessidades particulares,

que exige uma atenção diferenciada.

Em nome da perspectiva de um dia tornar as crianças em grandes

homens, sacrificava-se a infância, a adolescência e até a juventude. Mas a

visão atual é que existe a necessidade de que cada fase da vida do ser

humano precisa ser vivenciada em sua totalidade, pois se compreende que

esta proposta viabilizará a construção dos sujeitos enquanto seres humanos

que participam historicamente do processo de produção da humanidade. Sob

essa perspectiva Bock reitera:

A criança não é um adulto em miniatura. Ao contrário, apresenta

características próprias de sua idade... Existem formas de

perceber, compreender e se comportar diante do mundo,

próprias de cada faixa etária. (2002, p 98)

Diante dos fatos, podemos perceber que na sociedade medieval o afeto

era um fenômeno bem ausente nas relações familiares em virtude dos fatos

ocorridos com as crianças e a própria forma como a cultura predominante as

envolvia no contexto social. Mas que assim como a infância foi se configurando

ao longo do tempo, o afeto foi ganhando espaço nas relações tanto familiares

quanto social.

1.2 O surgimento da escola como promotora de educação e do afeto em

meio às relações escolares.

O progresso sofrido na forma de se conceber a infância, possibilitou o

surgimento da escola como promotora de educação. De acordo com Ariès,

“Essa evolução da instituição escolar esta ligada a uma evolução paralela do

sentimento das idades e da infância.” (1978, p 170)

Na idade média, os parâmetros da educação se fundavam na concepção

do homem como criatura divina, buscava-se a formação do homem de fé, as

crianças eram consideradas como criaturas de Deus, cristãos em potencial. A

visão que predominava na época era teocêntrica, uma visão que tinha Deus

como fundamento de toda ação, inclusive pedagógica.

No período medieval a educação estava restrita as igrejas. Os

salmos eram ensinados em monastérios, abadias e templos. No

ano de 787, Carlos Magno, rei de Franco, que viria ser coroado

Imperador do Ocidente no ano de 800, ordenou que todos os

monges e sacerdotes estudassem as letras. Portanto, todos os

mosteiros deveriam ter uma escola onde fossem ensinadas as

seguintes matérias básicas: aritmética, geometria, escrita,

música, canto e salmos. (Curkiercorn 2003, p 02)

Até o século XIV a educação permaneceu nas mãos dos monges e com

acesso restrito as elites. Nesse momento a escola atendia aos filhos das

famílias nobres da sociedade. A escola, então, era privilégio da igreja e da

aristocracia. De acordo com Bock;

A partir da idade média a educação tornou-se produto da escola.

Pessoas especializaram-se na tarefa de transmitir o saber, e

espaços específicos passaram a ser reservados para essa

atividade. Poucos iam à escola, que era destinada às elites.

Serviu aos nobres e, depois, à burguesia. Acultura da

aristocracia e os costumes religiosos eram o material básico a

ser transmitido. (2002, p 261)

No século XVI, educar tornou-se uma questão essencial para a

sociedade, ou seja, uma exigência. Com o novo lugar dado a criança um novo

olhar para o período da infância, reconheceu-se que as crianças precisavam de

um tratamento especial. Nesse período ocorreu a reforma religiosa trazendo

mudanças significativas a educação medieval, uma delas foi o estabelecimento

da educação pública, porém religiosa composta de disciplinas rigorosas

mantendo o objetivo da educação voltada para a formação do fiel, ou seja, do

homem cristão. O mestre ou educador da época era considerado como

autoridade máxima e a ele era dado o poder de disciplinar, quando

considerasse necessário, demonstrando assim uma grande distancia entre o

mestre e o aprendiz e uma relação esvaziada de afeto. Segundo Ariès;

A nova disciplina se introduziria através da organização já

moderna dos colégios e pedagogias com a série completa de

classes em que o diretor e os mestres deixavam de ser prime

inter pares, para se tornarem depositários de uma autoridade

superior. Seria o governo autoritário e hierarquizado dos colégios

que permitiria, a partir do século XV, o estabelecimento e o

desenvolvimento de um sistema disciplinar cada vez mais

rigoroso.

Para definir esse sistema, distinguiremos suas três

características principais: a vigilância constante, a delação

erigida em princípio de governo e em instituição, e a aplicação

ampla de castigos corporais. (1978, p 180)

No século XVII, o caráter disciplinar e autoritário das escolas estava

voltado para a formação de súditos, em especial do militar e do funcionário,

ainda muito distante da preocupação de estabelecer na relação educacional

um ambiente afetivo que promovesse um sujeito também apto para relacionar-

se de forma saudável no ambiente social.

Para que essa formação fosse eficazmente aplicada à educação vigente

aderiu um sistema disciplinar pautado na vigilância constante e na aplicação de

castigos corporais, também considerado como uma espécie de quarentena.

Neste contexto a escola precisou reorganizar-se para se ocupar da função

disciplinar e instrutiva em favor das mudanças e demandas sociais. A escola e

a família, devido a nova postura que lhe foi posta através dos novos

sentimentos, retirou as crianças do mundo dos adultos, mas a confinou nas

escolas num regime cada vez mais rigoroso.

Essa nova postura acabou envolvendo a família na educação das

crianças. Diferente do que acontecia anteriormente, pois antes não era

responsabilidade das famílias assegurar a educação dos filhos e tão pouco

participar ativamente desta. Esta tarefa era dividida com o social. Logo que as

crianças adquiririam alguma autonomia eram inseridas no mundo dos adultos e

dessa forma é que eram educadas e preparadas para vida.

A família deixou de ser apenas uma instituição do direito privado

para a transmissão dos bens e do nome, e assumiu uma função

moral e espiritual, passando a formar os corpos e as almas.

Entre a geração física e a instituição jurídica existia um hiato,

que a educação iria preencher. O cuidado dispensado às

crianças passou a inspirar sentimentos novos, uma afetividade

nova que a iconografia do século XVII exprimiu com insistência e

gosto: o sentimento moderno da família. Os pais não se

contentavam mais em pôr filhos no mundo, em estabelecer

apenas alguns deles, desinteressando-se dos outros. A moral da

época lhes impunha proporcionar a todos os filhos, e não apenas

ao mais velho – e, no fim do século XVII, até mesmo às meninas

– uma preparação para a vida. ( Ariès 1978, p 277)

Esses fenômenos possibilitaram através de suas exigências uma

preocupação maior e mais responsabilizada pela formação das crianças que

passou a envolver agora não apenas a escola, mas também a família e que

acabou por iniciar uma reconfiguração nas relações estabelecidas entre pais e

filhos e mestres e aprendizes.

No final do século XVII e início do século XIX, ocorreu um fato que

consideramos importantíssimo, pois marcou a história da humanidade e

conseqüetemente a história da educação, a Revolução Industrial. Foi um

evento que marcou com grandes mudanças, toda história social.

A Revolução Industrial sofisticou o trabalho com a implantação

das máquinas, exigindo do trabalhador o aprendizado da

tecnologia. Esta sofisticação do trabalho levou novas funções

para a escola, com a de prepara o indivíduo pra o mercado de

trabalho, ensinando-lhe o manuseio de técnicas até então

desconhecidas, ou de fornecer-lhe conhecimento básico da

língua e do cálculo. (Bock 2002, p 262)

A Revolução Industrial afetou a vida dos homens, não apenas

modificando o processo de trabalho, mas trouxe mudanças significativas nas

idéias e na moral que por sua vez também resignificaram as relações escolares

e familiares. Nesse sentido afetou também os ideais de educação e de sua

transmissão afetando diretamente o papel da escola. A escola, agora estava

voltada também para a mão de obra, portanto na forma de instrução que

possibilitou a abertura do espaço para o surgimento da escola como instituição

moderna. Que agora dizia pautar seus objetivos, na necessidade de educar

humanamente os homens buscando capacitá-los para viverem socialmente e

estarem aptos para as exigências do mercado de trabalho.

Porem cremos que o maior objetivo da educação no momento, não

estava na preocupação de educar o homem para conviver em harmonia tanto

na escola como na sociedade, mas sim preocupada em educar profissionais

que respondessem eficazmente as demandas do novo tempo. Criando assim

os primeiros germes de uma educação voltada para a criação de profissionais

prontos para o mercado de trabalho e também prontos par competirem nesse

mesmo mercado, mas totalmente desprovidos da condição de estabelecerem

relações saudáveis e duradouras tanto no ambiente educacional quanto no

social.

Hoje após muitas mudanças favoráveis e desfavoráveis podemos

considerar a escola como uma instituição que se define como portadora e

transmissora de conhecimentos, pedagógicos, culturais, sociais humanos e

alimentares. Tais mudanças permitem que a criança experimente as

dimensões, ações, informações, construções que promovam a formação da

cidadania.

A escola agora é reorganizada para ser o mundo da criança nas

quais as intromissões não poderão ser feitas em nome do

“mundo exterior,” mas, ao contrário é este que esta errado no

tratamento das crianças e que portanto, deve mudar. (Ghiraldelli

2002, p 17)

Embora acreditemos que sem a presença do afeto nas relações

escolares poderemos condicionar pessoas, e preparar para o mercado de

trabalho excelente profissionais, mas, não obteremos sucesso na formação de

sujeitos sociáveis, felizes e equilibrados. Que possua habilidade social para

conviver em grupo tendo capacidade de trabalhar em um mundo multicultural

onde as diferenças sejam respeitadas e a prática da compreensão e da

solidariedade sejam visíveis em suas ações.

CAPÍTULO II

A CONSTRUÇÃO DO INDIVÍDUO E SUA INTERAÇÃO COM O

MEIO EDUCACIONAL.

2.1- O afeto e sua colaboração para construção do sujeito.

Estamos vivendo em uma época em que as mudanças estão ocorrendo

de forma muito acelerada no bombardeio de informações que chegam até a

sociedade a cada instante por meio do rádio, televisão, internet e outros meios

de comunicação. Informações que mostram os atos de corrupção, violência,

crueldade que ganham cada vez mais destaque no contexto social. A educação

recebida dos pais e das escolas, valores como: ética, moral e caráter, a

religião, a solidez dos casamentos e conseqüentemente das famílias, estão

perdendo espaço para um novo contexto social que passou a ser regido pelas

leis do mercado do consumo. Um tempo onde se observa mais barbárie e

pouca solidariedade, que vem gerando alta competitividade baseado na lógica

da acumulação de bens e das aparências, onde o que passa a ser mais

importante para o ser humano é o reconhecimento, a admiração e uma

infinidade de produtos e serviços que lhe proporcione prazer. Cunha reitera:

O mundo atual comanda uma diligencia insaciável por consumo

e satisfação, Jovens, crianças e adolescentes são estimulados

nas suas emoções e sentimentos pelo sucesso imediato. Em

razão disso, desejam encontrar suas identidades mediante um

modo de vida perdulário e material.

A velocidade do mundo fragmentou o homem moderno. Uma

mudança estrutural esta transformando as sociedades, mudando

as nossas identidades, internalizando nos indivíduos significados

e valores externos, que expressam as características deste

tempo e os seus objetivos. O sujeito pós-moderno torna-se

maleável, capturado pela celeridade dos acontecimentos, pelas

necessidades e manifestações, esquecendo dos rudimentos que

tornaram elementares o desejo e o amor a vida. (2010, p 18 e

22)

E em meio a esse turbilhão acelerado de informações e acontecimentos,

nos deparamos com o ser humano que precisa construir-se como sujeito e em

meio a essa construção fazer muitas escolhas, pois o ser humano não nasce

sujeito, ou seja, não nasce pronto, mas se torna sujeito através das vivencias

ocorridas no estabelecimento das relações sociais.

Ao nascer, encontramo-nos em estado animal. Evidentemente,

temos uma estrutura biofisiológica bem mais desenvolvida e

complexa que a do animai irracional, mas ainda não somos um

“ser humano”. Passamos, então, por uma segunda gestação que

vai de zero a mais ou menos seis anos, isto é, um

“desenvolvimento embriológico” fora do útero da mãe biológica,

que deve agora formar o Ser, tendo como núcleo o sistema

sensório-motor apto a estabelecer conexões e interações entre o

sujeito e o meio, gerando, assim, a construção de uma

consciência. (Saltini 2008, p 12)

A sociedade do século XXI, com seus avanços tecnológicos e científicos

transformou a vida das pessoas e a maneira como elas interagem, trazendo

conseqüências que estão se repercutindo nas relações familiares culminando

nas diversas disfunções que presenciamos nas famílias atuais.

Parece que o desenvolvimento social e tecnológico trouxe a

dissolução das famílias.

Nas sociedades antigas existiam as aldeias, as tribos.

Na época da revolução industrial tivemos a família conhecida

como nuclear: pai-mãe-filhos.

Hoje temos a família monoparental: casais divorciados após o

nascimento de filhos e estes ficam com o pai ou com a mãe.

As crianças ficam desprendidas do amor, da segurança.

Parece que não são mais descendentes de ninguém: estão

abandonadas, sem raízes, sem referências.

Precisamos de pais que realmente desempenhe o papel de

paie mãe com firmeza. Que estejam prontos a atender os filhos

em suas necessidades básicas sem protecionismo, atentos às

diferentes fases evolutivas pelas quais seus filhos passaram:

primeira infância, adolescência... (Rossini 2004, p 41)

E em meio a todo esse sistema social imediatista voltado para as demandas

do mercado de consumo, que a construção do sujeito vem sofrendo grandes

prejuízos, pois é na relação com o outro que o ser humano vai se construindo

como sujeito. E é da família, considerada como célula-mãe da sociedade, a

responsabilidade de oferecer ambiente próprio para que o ser humano possa

encontrar as ferramentas necessárias para se construir como pessoa. Pois

sobre ela recai uma maior parcela de responsabilização pela formação do

sujeito e de sua socialização, servindo de mediadora entre o indivíduo e a

sociedade, preparando-o assim para a vida como um todo. Considerando que

os indivíduos que vivem em ambientes onde são amados, respeitados e

recebem carinho e a atenção adequada tem desempenho social e escolar

acima da média. De acordo com Chalita: “A família tem a responsabilidade de

formar o caráter, de educar para os desafios da vida, de perpetuar valores

éticos e morais. (2004, p 20)

E um dos elementos imprescindíveis para formação do ser humano em

sujeito social é o afeto, que através dessa nova configuração social tem sido

pouco evidenciado nas relações familiares e escolares.

O afeto pode ser traduzido pela capacidade do ser humano de

estabelecer relações nas quais ocorre a criação de vínculos, resulta da

interação do indivíduo com o meio em que está inserido. A questão afetiva é de

extrema importância para o desenvolvimento mental, emocional e intelectual de

um indivíduo podendo assegurar a continuidade do processo desenvolvi mental

ao longo das várias fases que compõe o ciclo da vida. Podendo ser

considerado como principal componente de superação das mudanças que

ocorrem durante as vivencias dessas várias fases da vida, pois se constitui, em

um elemento que assegura estabilidade e segurança. Como já citamos é

através do afeto que o ser humano se relaciona e tem a capacidade de ir além

de sua individualidade, já que, apesar de o desenvolvimento humano ser

individual e único, ele necessita do outro para que ocorra, perante a

estimulação mútua de sentimentos e experiência.

2.2- A relação professor/aluno

Entendemos o homem com um ser social por natureza. Desde que

nasce, vive em sociedade, faz parte e forma grupo com pessoas das mais

diversificadas crenças, origens e personalidades. E em meio a essas relações

é dada ao homem a oportunidade de vivenciar emoções e atitudes tais como:

desilusões, enaltecimentos, constrangimentos, erros e acertos que possibilitam

a construção da personalidade dos mesmos, lhes permitindo a habilidade para

interagir com o universo que o cerca.

Entre essas relações o homem se depara com pessoas que, através das

experiências compartilhadas e a conquista de sua confiança, admiração e

respeito, poderão contribuir para o seu crescimento emocional, intelectual e

social. Influenciando-os de maneira positiva na melhoria de certos aspectos e

comportamentos inadequados. Pois de acordo com Bock;

O indivíduo é construído ao longo de sua vida a partir de sua

intervenção no meio e de sua relação com os outros homens.

Somos únicos, mas não autônomos, no sentido de termos um

desenvolvimento independente ou já previsto pela semente de

homem que carregamos. (2007, p 89)

Embora complexas, as relações humanas são fundamentais para a

ocorrência do processo de socialização e de mudança nas diversas áreas da

vida. E não poderia ser diferente na relação professor/aluno, pois a escola é

considerada como uma extensão da sociedade. Dentro de suas dependências

não ocorre apenas um aprendizado para prepará-los para ser um bom

profissional ou passar no vestibular, a escola não deve ser outra fase da

produção em massa, uma industria de indivíduos bem adaptados e úteis ao

sistema, mas no ambiente escolar pode, também ocorrer relações que poderão

promover a socialização, pois “ a finalidade da escola é adequar as

necessidades individuais ao meio social e, para isso, ela deve se organizar de

forma a retratar, o quanto possível a vida.” (Libâneo 1985, P 25)

A escola foi se distanciando da vida cotidiana e se enclausurando atrás

dos muros e principalmente atrás das teorias pedagógicas, que não

observando as singularidades e a riqueza contida nas vivencias de cada aluno,

contribuiu para tornar a escola um lugar esvaziado de sentido.

As teorias pedagógicas, ao conceberem a escola como uma

instituição isolada da sociedade, criaram-lhe um dos principais

problemas. A escola que deveria fazer a mediação entre o

indivíduo e a sociedade, tornou-se uma instituição fechada,

destinada a proteger a criança desta mesma sociedade

construiu-se, então, uma fortaleza da infância e da juventude.

(Bock 2007, p 264)

Foi baseada nessa perspectiva de educação que a relação

professor/aluno se estruturou ao longo dos anos, uma relação que por muito

tempo foi pautada na arbitrariedade e na idéia de que o professor era o único

detentor do saber. Mas devemos considerar que atualmente algumas

mudanças redirecionaram essa relação, tais como: já algum tempo não é dado

ao professor o direito de castigar os alunos de maneira a sentirem-se

lesionados física ou emocionalmente. Porém algumas coisas ainda não

mudaram no sistema educacional e conseqüentemente na relação

professor/aluno, ainda hoje, podemos observar professores que sustentam

uma relação com seus alunos baseada no autoritarismo e no distanciamento.

De acordo com o pensamento de Libâneo, a educação nos últimos cinqüenta

anos, tem sido marcada pelas tendências liberais, que ora se apresenta

conservadora, ora renovada. Tais tendências se manifestam concretamente,

nas práticas escolares e no ideário pedagógico de alguns professores, ainda

que muitos deles não se dêem conta da ocorrência de tal influência. Segundo o

autor:

Predomina a autoridade do professor que exige uma atitude

receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre

eles no decorrer da aula. O professor transmite o conteúdo na

forma de verdade a ser absorvida; em conseqüência, a

disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a

atenção e o silêncio. (1985, p 24)

Em face dessas colocações, podemos constatar que ainda hoje, para

muitos professores educar se restringe ao simples fato de passar conteúdos,

em muitos casos, conteúdos que são separados da experiência de vida do

aluno e das realidades sociais que o cercam, sendo esse validado pelo valor

intelectual. Essa postura é muitas vezes assumida pelo professor e está

marcada pelo distanciamento, revela que seus interesses estão pautados em

transmitir informações eficientes, precisas, objetivas e rápidas. Não

pretendemos desconsiderar a importância de o professor prepara-se de forma

eficaz, buscando aprimorar-se no intuito de melhorar sua prática educacional

na aplicação de aulas ministradas de maneira segura e organizada.

Compreende-se que o professor deve conhecer muito bem o assunto que está

ensinando, um fraco domínio do conteúdo poderá comprometer o aprendizado

de toda turma.

O professor que não prepara as aulas desrespeita os alunos e

o próprio ofício. É como um médico que entra no centro

cirúrgico sem saber o que vai fazer e sem instrumentação

adequada. Tudo na vida exige uma preparação. Uma aula

preparada, organizada, com o conteúdo refletido, muito

provavelmente será bem sucedida. (Chalita 2004, p 166)

Porem, como já observamos, considera-se que os aspectos negativos

citados acima, caracterizam a relação professor/aluno, como uma relação

deficiente, pois não alcança o aluno como um todo, como um ser que necessita

muito mais que um preparo para o mercado de trabalho. Muitos professores

consideram que a relação entre eles e seus alunos precisa estar estruturada

em um vínculo de dependência dos alunos com relação a eles, que facilita a

delimitação do lugar de quem detêm o saber e de quem só pode aprender.

Assim a relação professor/aluno limita-se apenas ao ato de repassar

informações e armazenar informações.

O professor pode achar que suas intenções são “boas” e

realmente elas podem sê-lo a um nível consciente pode

pretender desenvolver no aluno a reflexão crítica, a

aprendizagem criativa, o ensino ativo, promover a

individualidade do aluno, seu resgate enquanto sujeito, mas

uma vez definido o vínculo pedagógico como um vínculo de

submissão, seria estranho que tais objetivos se

concretizassem. (Bohoslavsky 1986, p 322)

Em face de vários aspectos já abordados, observa-se que ainda hoje o

sistema educacional tem como meta a preparação do aluno para o mercado de

trabalho, e não para a vida, mas no exercício dessa prática a escola acaba por

fracassar na preparação do aluno como pessoa o que conseqüentemente vai

refletir na sua postura como profissional.

O aluno necessita de uma relação que seja marcada pele interação e

que leve em consideração as experiências vivenciadas fora da escola, pois se

entende que as mesmas também proporcionam aprendizado. Não se pode

considerar que o aluno chega à escola, esvaziado de saber como se fosse um

carrinho de supermercado onde o professor escolhesse quais produtos seriam

mais adequados para encher o carrinho. O professor não deve conformar-se

em ser apenas aquele que ensina conteúdos visando preparar os alunos para

as provas de final de bimestres, mas compreender que, a relação que se

estabelece entre ele e o aluno têm como função primeira a educação e o

aprimoramento do aluno como pessoa.

A relação professor/aluno passa pelo interesse em aprender, mas o

interesse de prender do aluno dependerá do significado que o conteúdo terá

par ele. Podemos citar como exemplo o fato de o aluno gostar ou detestar

matemática estar relacionado com a maneira como o professor, na qualidade

de mediador, transmitiu a matéria. Então baseados nessa colocação

concluímos que se o professor considerar que o aluno não tem em sua

bagagem anterior nenhum conteúdo que lhe facilitará o aprendizado da matéria

explicitada, desconectando as experiências de vida dos alunos das

informações obtidas na escola, sua tarefa não passara de mero cumprimento

do dever. De acordo com Tiba;

Existe uma fisiologia do aprendizado. É possível fazer uma

analogia do ato de. aprender com o de comer.

O processo de digestão dos alimentos é semelhante em todos

os seres humanos, já que se trata de uma função fisiológica. O

aprendizado, entretanto, pode ser bastante pessoal, porque

depende do aparelho psicológico e por ser uma função

complementar.

Fazem parte do aparelho psicológico a motivação ou a

indiferença para aprender, a facilidade ou a dificuldade de

compreender a informação, a capacidade de transformação da

informação em conhecimento e o nível cultural e de

conhecimento prévio. (Tiba 1998, p 33)

O professor precisa questionar e repensar sua prática pedagógica, tendo

a consciência de que lecionar está pra além de dominar bem os conteúdos

para ter segurança em aplicá-los, é executar mais que as tarefas que lhes são

solicitadas, é ter atitudes que vão superar suas obrigações. É desenvolver a

habilidade de olhar o aluno e vê-lo não apenas como um recipiente vazio

pronto para ser cheio de conteúdos, mas como um ser que possui uma história

contínua de vida e que ele pode ajudar o mesmo a continuar escrevê-la.

O aluno deve ser amado, respeitado, valorizado. O aluno não é

uma tábua rasa, sem nada, em que todas as informações são

jogadas. Não é um carrinho de supermercado em que alguém

coloca o que bem entende, e o carrinho vai agüentando tudo o

que nele é jogado. Ao contrário, o aluno é um gigante que

precisa ser despertado. Todo e qualquer aluno tem capacidade

para brilhar, em áreas distintas, mas é um ser humano e como

tal possui inteligência, potencial; se não for destruído pelos

maus educadores, poderá produzir, crescer e construir

caminhos de equilíbrio, de felicidade. (Chalita 2004, p 261)

A relação professor/aluno constitui o núcleo de todo processo

pedagógico. Considerar que é inviável a separação da realidade escolar da

realidade de mundo vivenciada pelos alunos é indispensável para que ocorra

um aprendizado que possibilite ao aluno um preparo para vida como um todo.

O professor que entende a importância de sua relação com os alunos,

busca se construir como educador, que conhece o universo de seus alunos,

que permite e propicie o desenvolvimento da autonomia de seus alunos.

Reconhece que tem nas mãos a responsabilidade de conduzir cada aluno ao

processo de desenvolvimento humano que implica a formação de cidadãos, de

fomento de novos líderes.

2.3- A importância do afeto na relação professor/aluno.

Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o

egoísmo. Quem não é capaz de amar seres humanos

inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como

não há amor imposto. (Freire Paulo, apud, Cunha, 2010, p 05)

A afetividade acompanha o ser humano desde a sua vida intra-uterina

até a sua morte, nos primeiros meses de vida ela tem a função de estabelecer

a comunicação através de impulsos emocionais promovendo os primeiros

contatos da criança com o mundo, dessa forma a criança mobiliza o adulto e

garante os cuidados que necessita. Segundo Cunha; “O afeto é assim. No

mundo atual, parece uma novidade, mas ele existe desde que respiramos.

Decerto, é uma respiração; transpiração e inspiração para vida. (Cunha 2010, p

20). Portanto, é o vínculo afetivo estabelecido entre a criança e o adulto, que

sustenta a etapa inicial do processo de aprendizagem. Considera-se ainda que

a afetividade se manifeste como fonte geradora de energia e potencialidade,

incitando a construção do conhecimento racional. Então, no decorrer de todo o

desenvolvimento do indivíduo observa-se que o afeto tem um papel

fundamental, pois se pode constatar que toda aprendizagem está impregnada

de afetividade.

Conclui-se que na relação professor/aluno o afeto é um componente

indispensável, pois viabiliza o desenvolvimento da criança de forma saudável e

dispõe para o professor a oportunidade de estabelecer uma relação que

realmente será útil para o crescimento pessoal do aluno que abrangera todos

os aspectos de sua vida. E que em contra partida também será útil para o

crescimento do professor como profissional e como pessoa, pois ninguém sai

de um encontro sem afetar e ser afetado pelas experiências que esse

promoverá. Podendo o professor desenvolver sua prática de forma mais

prazerosa resultando na busca de alternativas que facilitaram o processo de

aprendizagem dos alunos.

Na relação da criança com uma pessoa que lhe cuide, alimente, abrace,

escute e lhe de carinho, existirá uma possibilidade muito grande de que a

criança projete na pessoa sentimentos positivos e que a mesma se torne um

valor para ela. E vale a pena ressaltar que as pessoas também projetam

sentimentos negativos sobres pessoas, relações ou sobre si mesmas.

Trazendo essa realidade para a escola, constataremos que se a criança é bem

tratada, respeitada, se vê sentido no que aprende ali, a instituição escolar pode

tornar-se alvo de projeções afetivas positivas para ela e também um valor. Mas

se o contrário acontece e a criança é desrespeitada, humilhada, questionada

em suas capacidades e competências intelectuais e sociais, provavelmente

esse espaço se tornará alvo de projeções afetivas negativas, que não se

constitua em um valor para ela.

Entendemos que a escola que surge preocupada com uma educação

integral, visa reorganizar seus conteúdos entendendo que os sentimentos, as

emoções, e os valores devem ser inseridos nas práticas educativas,

considerando a importância do afeto nas relações interpessoais que se

estabelecem no espaço escolar.

Par um adulto, torna-se demasiadamente difícil o controle das

emoções por meio apenas do esforço mental. Para criança é

altamente improdutivo. Somente pelo afeto e amor, ela poderá

reeditar as lembranças negativas, melhorando seu

aprendizado.

As emoções são importantes para a saúde psíquica. Somos um

ser social e afetivo. Afetivo, principalmente, porque nos

relacionamos uns com os outros. A nossa primeira forma de

aprendizagem vem pelas relações sociais, que sempre estarão

conosco. Ainda que deixemos de ler, estudar, assistir à

televisão e i à escola, continuaremos a prender aprender pela

convivência. Todo e qualquer distúrbio que interfere em nossas

relações sociais é profundamente danoso à aprendizagem.

(Cunha 2010, p 39)

Portanto, acredita-se que é pela afetividade que se estrutura todo cenário de

relacionamento humano. Na escola não poderia ser diferente, pois como já

citamos, espera-se que a escola ofereça para os alunos o que há de melhor

com relação a aprendizagem, não apenas conteúdos encaixados nos currículos

escolares, mas no que se refere as aspectos emocionais, sociais e culturais.

De acordo com Cunha;

A escola é um lugar privilegiado para a socialização, onde as

relações afetivas possuem substancial valor. O professor que

não considerar os aspectos sociais e humanos da sua

atribuição correrá o risco de não ser bem-sucedido. O aluno

possui a necessidade de conviver, estabelecer relações,

adquirir conhecimento. (2010, 41)

Ainda buscando demonstrar a importância do afeto na relação

professor/aluno, será imprescindível comentarmos a postura do profissional da

área da educação que assume a postura de professor, e do profissional que

assume a postura de educador. Podemos considerar que professores existem

aos milhares, pois a postura de professor pode ser encarada apenas como

uma profissão, mas um meio de se garantir um salário. Ao contrário, a postura

do educador não é encarada como uma profissão, mas como uma vocação,

nasce de um grande amor. O professor habita no mundo do cumprimento do

dever, o educador habita no mundo onde o que vale é a relação.

...Uma das explicações para isso é a falta de mestres.

Professores, existem muitos hoje em dia. Mas poucos podem

ser chamados de mestres.

Professor é função consagrada em sala de aula de ser a fonte

de informações e o responsável pelo estabelecimento da

ordem na classe.

Mestres é quem exerce a função sem se valer da sua posição

de autoridade.

Professores têm alunos; mestres, discípulos, que procuram

quase imitá-los.

Professor é aquele que exerce sua função como um

computador. Mestre é um computador que tem alma.

Enquanto o professor acha que sabe tudo o que é necessário,

o mestre se considera sempre um aprendiz.

O professor não se deixa questionar, não aceita sugestões e

nem sempre acata reclamações.

O mestre é um caminho para o discípulo chegar a sabedoria. O

verdadeiro mestre se orgulha de ter sido um degrau na vida do

aprendiz que o superou e venceu na vida, de ter colaborado

para o seu sucesso. (Tiba 1998, p 61 e 62)

A afetividade proporciona uma relação de troca que gera ambientes

sociais saudáveis que envolvem o dialogar, o ensinar e o aprender, e o afeto

contribui para que isso aconteça.

A presença do afeto na relação professor/aluno possibilitará para o

educador posturas que vão desencadear comportamentos que vão

conseqüentemente gerar no ambiente escolar, atitudes de proximidade,

acolhimento e cumplicidade, acolhimento e cumplicidade. Que promoverão no

processo de aprendizagem segurança, tranqüilidade e prazer diante das

atividades a serem desenvolvidas, facilitando para o aluno a descoberta de

suas capacidades e a compreensão do sentido da sociabilidade, permitindo ao

aluno a experiência de um amadurecimento tanto subjetivo, quanto social.

Se o sistema escolar pretende combater no exercício de sua prática, a

insensibilidade, o desrespeito, a apatia e a agressividade, ele precisa agir

contrário a essas atitudes, precisa compreender que em “educação o afeto é a

solução.” (Chalita 2004, p 264)

CAPÍTULO III

O EFEITO DO AFETO NA APRENDIZAGEM

3.1- O afeto no desenvolvimento da auto-estima da criança.

O desenvolvimento humano não está pautado somente em aspectos

cognitivos, mas também e principalmente em aspectos afetivos, sabe-se que o

ser humano tem grande necessidade de ser acolhido, ouvido e valorizado, pois

esses aspectos contribuíram para a formação de uma boa imagem de si.

Nesse sentido a afetividade está intimamente ligada à construção da auto-

estima, sendo assim a presença do afeto nas relações se torna essencial.

Teóricos da educação e os próprios educadores tratam da afetividade como

fator preponderante para a construção do auto-conceito. Segundo Cunha;

É preciso conquistar não apenas as habilidades acadêmicas,

mas também as aptidões emocionais que o capacitarão para

lidar com fracassos, falhas, decepções, e até com o próprio

sucesso. (2010, p 17)

A auto-estima é algo que se aprende por meio do contato com seu

próprio corpo, com o ambiente e da interação com outras crianças e adultos.

Numa abordagem simplificada a auto-estima configura-se pela forma como a

pessoa se sente com relação a si mesma, quando positiva significa que a

pessoa construiu uma boa imagem de si, gosta da pessoa que vem se tornado

assim como acredita que os outros também gostam, confia em suas

habilidades valorizando seu potencial tendo assim condições de enfrentar os

desafios.

Nenhum ser humano nasce bom ou mau, porém o auto-conceito que

cada um tem de si e a visão que o mundo tem de cada pessoa, faz com que

ela acredite nesta imagem e viva segundo a mesma. Assim, a pessoa que

sofre em meio às relações estabelecidas durante o transcorrer de sua vida,

com a marginalização e com a discriminação pode sentir-se rejeitada passando

a considerar-se como incapaz, inferior aos outras pessoas. Podendo

apresentar diante desses fatos comportamentos agressivos, hostis, apáticos e

indiferentes que resultaram na dificuldade de estabelecerem relacionamentos e

culmina na dificuldade de aprendizagem.

Em contrapartida, a pessoa que é amada e que em meio às relações

depositaram nela confiança, cresce com uma imagem positiva que lhe da

condição emocional e cognitiva para enfrentar os desafios que a vida lhe

apresentar de forma mais otimista e segura.

Uma auto-estima elevada pode estimular a aprendizagem, o aluno que

desfruta de uma elevada auto-estima aprende com mais facilidade, tem

confiança e entusiasmo, sente-se capaz para enfrentar os desafios das novas

tarefas da aprendizagem. Seu desempenho tende a ser um sucesso, pois a

reflexão e o sentimento precedem a ação.

Os sentimentos modificam o pensamento, a ação e o entorno;

a ação modifica o pensamento, os sentimentos e o entorno;

o entorno influi nos pensamentos, nos sentimentos e na ação;

os pensamentos influem no sentimento, na ação e no entorno.

(Marina, apud, Arantes, 2003, p 07)

O desempenho bem sucedido reforça os bons sentimentos do aluno e a

cada sucesso alcançado, ele se considera mais competente aumentando sua

capacidade de superar os obstáculos, tornado-se psicologicamente mais

saudável. Diferente do aluno que tem uma imagem negativa de si, achando-se

um derrotado, incapaz de superar os obstáculos, temendo situações que

possam expor seus sentimentos e pensamentos. De acordo com porto; “A

maioria dos alunos que não apresenta bons resultados no processo de ensino-

aprendizagem é classificado como detentor de problemas emocionais.” (Porto,

2009, p 25)

O contato com diferentes grupos sociais possibilita a construção do alto

conceito da pessoa. A família e outras pessoas que estão presentes no

convívio da criança fazem parte de seu primeiro grupo social, representando

nesse momento seu contato afetivo que pode ser positivo ou negativo. Mas é

da família o papel fundamental de desempenhar a formação da auto-estima,

pois ela ainda é considerada como o primeiro grupo social que as crianças têm

contato. O auto-conceito que a criança desenvolverá se refletirá de forma

positiva em suas ações futuras. O importante é que os pais compreendam que

quanto mais cedo atenderem as necessidades afetivas de seus filhos eles se

tornaram mais satisfeitos consigo mesmo e com os outros, tendo mais

facilidade e disposição para aprender. Pois se os mesmos assumirem uma

postura contrária onde estarão sempre opinando a partir de uma perspectiva

negativa com relação aos filhos, fazendo-os sentirem-se inúteis e incapazes,

formaram nos filhos uma imagem pequena de seu valor.

A auto-estima depende, inicialmente, do amor dos pais ou das

figuras que os substituem. Se esses indivíduos apresentarem

características pessoais distorcidas, também a auto-estima da

criança poderá sofrer distorções. (Tiba, 2006, p 153)

A educação do contexto familiar influencia no desenvolvimento da auto-

estima da criança, formando-a e constituindo-a, como ser humano completo.

Os anseios, desejos e expectativas familiares que envolvem a criança,

promovem bem-estar e equilíbrio quando dosados e colocados a disposição de

maneira correta. E cremos que uma criança que tenha sido suprida de afeto e

de atenção necessária, terá condições tanto físicas quanto psíquicas para

desenvolver-se de forma saudável considerando-se um ser capaz de

estabelecer relacionamentos e de aprender enquanto viver.

3.2- Afeto e cognição: instâncias indissociáveis

Muito escutei na infância: ‘criança não pensa’. Criança

pensa. Mas faz também algo mais importante, que

amadurecendo desaprendemos: ela é. Contemplando uma

mancha na parede, um inseto no capim ou a revelação de uma

rosa, ela não está apenas olhando. Está sendo tudo isso em

que se concentra. (Lya Luft, apud, Cunha, 2010, p. 53)

Para falar do afeto como instância indissociável da cognição, falaremos

ainda que de forma restrita sobre vygotsky, que foi um dos renomados teóricos

a abordar de maneira significativa a questão da afetividade e cognição.

Vygotsky defendeu a idéia de que as teorias existentes sobre a

afetividade estavam baseadas em pressupostos essencialmente dualistas, pois

permaneciam pautadas nos desígnios da filosofia cartesiana que separava

corpo e mente. Para Vygotsky o legado deixado por Descarte afetou de

maneira intensa a forma como se estudava e se pensava as questões

relacionadas à afetividade e cognição, deixando marcas que afetaram até

mesmo a psicologia. Em conseqüência desses fatos ocorreu uma dissensão

entre os dois campos, onde um passou a ser governado pelas ciências naturais

e sua preocupação era o estudo do comportamento humano, e o outro que se

aproximando da filosofia pautou sua compreensão dos significados que o

homem dava as coisas e o que motivava e despertava vontades nos mesmos.

A influência cartesiana da separação de corpo e alma, ou seja, da concepção

do homem como um ser fragmentado foi tão intensa que tem repercussões até

os dias de hoje. Talvez por isso muitos educadores não consigam compreender

a grandiosidade de sua função, entendendo que sua prática precisa alcançar

os seus alunos como um todo.

Porém vygotsky, influenciado pelo filósofo holandês Espinosa,

empenhou-se na elaboração de uma nova perspectiva que configurou toda a

forma de se tratar as relações entre cognição e afeto, trazendo uma

abordagem essencialmente dialética e desenvolvimentista. E no desenvolver

de seu trabalho ele foi enfático em afirmar que só se poderia chegar à

compreensão completa do pensamento humano, quando se considerasse sua

base afetivo-volitiva.

Quem separa desde cedo o pensamento do afeto fecha para

sempre a possibilidade de explicitar as causas do pensamento,

porque uma análise determinista pressupõe seus motivos, as

necessidades e interesses, os impulsos e tendências que

regem o movimento do pensamento em um ou outro sentido.

De igual modo, quem separa o pensamento do afeto, nega de

antemão a possibilidade de estudar a influência inversa do

pensamento no plano afetivo, volitivo da vida psíquica, porque

uma análise determinista desta última inclui tanto atribuir ao

pensamento um poder mágico capaz de depender o

comportamento humano única e exclusivamente de um sistema

interno do indivíduo, como transformar o pensamento em um

apêndice inútil do comportamento, em uma sombra sua

desnecessária e impotente. (Vygotsky, 1993, apud, Oliveira e

Rego, 2003, p. 18)

Baseados nos aspectos até então abordados, podemos concluir que

pensar e sentir são ações indissociáveis, pois concebemos a intrínseca relação

entre os processos cognitivos e afetivos no funcionamento psíquico humano.

Acreditamos que o conhecimento das emoções e dos sentimentos requer

ações cognitivas da mesma forma que tais ações cognitivas pressupõem a

presença de aspectos afetivos. Pois estes aspectos estão presentes na mente

humana não podendo se constituir em universos opostos, pois são

indissociáveis em nossos pensamentos e ações.

Os estados emocionais influenciam no pensamento e na ação tanto

quanto na capacidade cognitiva. Na resolução de um problema a forma como o

homem organiza seu raciocínio parece depender tanto dos aspectos cognitivos

quanto dos aspectos afetivos, que estão presentes durante o funcionamento

psíquico não tendo como medir quem é mais importante nesse processo.

Assim como a organização do pensamento influencia nossos sentimentos, o

sentir também configura nossa forma de pensar.

Desse modo, as dimensões do afeto e da cognição estariam,

desde cedo, íntima e dialeticamente relacionadas. Nessa

perspectiva a vida emocional está conectada a outros

processos psicológicos e ao desenvolvimento da consciência

de modo geral. Sendo assim, seu papel na configuração da

consciência só pode ser examinado por meio da conexão

dialética que estabelece com as demais funções e não por

suas qualidades intrínsecas. Nessa conexão, o repertório

cultural, as inúmeras experiências e a interação com outras

pessoas representam fatores imprescindíveis para a

compreensão dos processos envolvidos. (Oliveira e Rego,

2003, p. 19)

A cognição configura-se como um aspecto profundamente necessário na

vida das pessoas, é fato que sem ele não teríamos condições de compreensão

alguma, não poderíamos desenvolver as tecnologias que facilitam a vida nos

beneficiando no suprimento de nossas necessidades e até desejos. Mas para

que a cognição se desenvolva de forma eficaz, onde o aprender e o realizar

ganha sentido, é preciso que esteja atrelada aos aspectos afetivos. Deste

modo não poderemos privilegiar nem um aspecto nem o outro, percebendo que

ambos os aspectos colaboram com suas prioridades dando significado para as

realizações e aprendizados decorrentes na vida humana.

Diante de todos esses fatos a que se levar em consideração na prática

educativa a relação que a cognição e o afeto estabelecem para que o

aprendizado ocorra de forma completa.

(...) à necessidade de incorporarmos, no cotidiano de nossas

escolas, o trabalho sistematizado com os sentimentos e afetos,

rompendo com aquelas concepções educacionais que

fragmentam os campos científico e cotidiano do conhecimento,

e as vertentes racional e emocional do pensamento. Para tanto,

precisamos ter coragem para mudar a educação formal e

transformar os sentimentos, as emoções e os afetos em

objetos de ensino e aprendizagem. (Arantes, 2003, p. 124)

É preciso construir um sistema educativo que supere a prática baseada

em pressupostos tradicionais que atribui o desenvolvimento do intelecto

apenas aos aspectos cognitivos e racionais relegando os aspectos afetivos da

vida do indivíduo a um segundo plano. Se o sistema educacional compreender

a necessidade da quebra desse paradigma incorporando essa perspectiva a

sua atuação, acreditamos que a escola estria aproximando-se cada vez mais

do seu real papel que seria a educação do homem pronto tanto para atuar no

mercado de trabalho quanto para exercer sua cidadania. Ou seja, uma

educação que alcance o homem como um todo e não como um ser

fragmentado.

Conclusão

Discorremos neste trabalho monográfico sobre a importância da

afetividade na prática educacional e de como ambas podem ser parceiras na

construção do sujeito social e cognitivo, e como todo esse conhecimento pode

auxiliar o processo de ensino aprendizagem. E após toda explanação feita foi

nos dada à oportunidade de conhecermos um pouco mais sobre a história da

construção do conceito de infância, entendendo que o mesmo construiu-se ao

longo dos séculos, e que de forma bem semelhante à afetividade em meio às

relações sociais ganhou à devida importância.

Hoje pensamos que, o que se pretende relacionado à infância é um

tratamento que possa alcançá-la como um todo respeitando cada etapa de sua

vida, entendendo que cada idade tem em si mesma uma identidade própria,

que vai demandar suas necessidades. Porém devemos considerar que a

infância não é algo estático, pois se encontra em permanente construção,

sempre acompanhando as mudanças que afetam as culturas.

O presente trabalho também nos permitiu pensar na construção de uma

nova sociedade escolar mais justa e solidária, onde nos permite rever a prática

educacional possibilitando aos atores envolvidos nessa prática a vivência de

relações que realmente permitiram o aprendizado para todos em todos os

aspectos presentes na vida. E um dos atores principais é o professor,

considerado por Chalita; (2001, p. 161) como: “A alma de qualquer instituição

de ensino”, que deve estar sempre preocupado com sua atuação para que não

incorra no erro de pensar que sua função se dá apenas na transmissão de

conhecimentos, pois seria minimizar e até desmerecer sua real função. Pois

através de uma atuação pautada no afeto o professor poderá formar mais que

um ser pronto para atuar no mercado de trabalho. Mas poderá participar

diretamente da formação de uma pessoa tanto pronta para compor o mercado

de trabalho, quanto pronta para relacionar-se com seus semelhantes sabendo

respeitar as diferenças e os direitos de cada um no exercício de sua cidadania.

Para tanto, é preciso que o professor busque uma formação continuada que

inclua em sua visão e prática educacional a dimensão afetiva.

No decorrer deste trabalho, ainda nos foi dada a oportunidade de

conhecermos a importância de se conceber que afeto e cognição não são

instâncias que atuam nas estruturas psíquicas do ser humano separadamente,

mas que ambas cooperam de maneira indissociáveis para a ocorrência do

aprendizado. Assim a afetividade exerce influencia de maneira significativa na

forma pela qual os seres humanos resolvem seus conflitos, a organização do

pensamento prepondera o sentimento e o sentir também configura a forma de

pensar. Dessa forma a afetividade perpassa o funcionamento psíquico

influenciando tanto nas ações quanto nas reações.

Em suma, hoje pensamos que educar significa também preocupar-se

com a construção e organização da dimensão afetiva das pessoas, afinal a

escola para cumprir seu papel deve empenhar-se na formação de seres

humanos com capacidade para relacionar-se de forma saudável e de intervirem

no mundo em que vivem.

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