Afonso Arinos - Viagens de Índios Brasileiros à Europa

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  • que o padre Yves d'Evrcux no fica atrs do seu companheiro Claude d'Abbeville nos louvores que dispensa aos nossos ndios.

    No cremos ser necessma a citao de outros textos. Seria alon .. o trabalho sem proveito especial para o leitor. O objetivo vi.sadI pode ser considerado atingido com os viajantes cujos livros percam mos rapidamente. Tem-se por eles uma sntese das idias exisleo" nos sculos dezesseis e dezessete a respeito do selvagem brasileinl sendo que deixamos para mais tarde o exame dos escritores sculo dezoito, como Lafitau e Rayoal. Aquelas idias, como marcavam uma grande evoluo sobre as que predominavam Europa antes da era dos descobrimentos. A noo do selvagem e monstruoso, graas aos depoimentos dos viajantes, tinha sido pletamente suplantada pela idia do bom selvagem. Esta velha __ ~ cepo interpretativa do homem natural passara do plano espccult tivo em que se situava, desde a antiguidade, para um outro piaM que o pbHco do tempo poderia considerar como sendo de verdadeit verificao experimental. Fora superada a etapa das abstratas coDJI: deraes indagativas sobre a bondade natura] do animal humano As proposies hipotticas, avanadas sobre este tema, antes e depoil da era crist, viam se, agora, coroadas por uma sensacional demon .. trao, trazida atravs do conhecimento e da experincia. Os tros, ou maus selvagens, se esbatiam nas brumas do improvvel, evaporavam, pouco a pouco, na incredulidade dos povos, graas progresso da observao geogrfica e, tambm, graas negati\1 continuada da existncia deles, que traziam as revelaes . mundos, dentro dos quais a presena de tais figuras ou era mente desmentida pelos observadores, ou, ento, era vagamente gada mas nunca constatada por autor que merecesse f.

    Enquanto isso, os bons selvagens eram descritos com fantsticas, pelos viajantes que regressavam das Indias Ocidentais. Atravs das suas obras cada vez mais se consolidava na Europa I convico de que eram gentes que desfrutavam uma verdadeira Idade de Ouro, t60 suspirosamente cobiada pelos poetas e to gravemente entrevista pelos filsofos.

    Foi deste movimento evolutivo da opinio pblica europia __ sentido da formao da teoria da bondade natural que procuramos dar uma idia, resumindo os autores mais responsveis por limitando voluntariamente, tanto quanto possvel, o campo da __ tigao ao selvagem do nosso pas e sua influncia na Europa em Frana em particular. Assim no fugimos nossa tese, q_ procura situar a figura do ndio brasileiro dentro do movimento ideolgico da Revoluo Francesa.

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    CAPITULO SEGUNDO

    VIAGENS DE lNDIOS BRASILEIROS A EUROPA

    NESTE CAPiTULO procuraremos demonstrar que, alm de freqente-mente descritos pelos livros de viagens, os selvagens eram vistos na Ruropa de corpo presente, tocados, examinados, interrogados. Com deito, desde que se estabeleceu o intercmbio martimo com a Am-raca, no cessou a expedio dos naturais desta para a Europa. Era h'bito dos navegantes, na ocasio dos descobrimentos, enviarem ou trazerem como uma espcie de prova da empreitada, plantas, animais c homens da nova terra.

    Este bbito no foi peculiar ao nosso continente, e j era praticado Intes que ele fosse conhecido. Mas com a Amrica se intensificou, Incontestavelmente, e cremos que foi ainda mais freqente com o Indio brasileiro do que com qualquer outro silvcola. O nosso ndio, e o da Amrica Central, despertavam maior curiosidade Da Europa do que os de outra procedncia, por causa do fato de andarem nus na sua grande maioria. Os que provinham da Amrica do Norte ou das plancies meridionais da Amrica do Sul eram obrigados a se cobrirem de peles e tecidos, por causa do clima. Davam assim uma Impresso de maior adiantamento, gozavam de rudimentos de civili-

    lo, que se chocavam com a idia romntica da existncia pura-'nte natural, que era cara aos europeus. Quanto aos habitantes do

    Peru e do Mxico, o grau elevado da sua cultura foi logo constatado pelos primeiros invasores. No poderiam tambm, assim, dar ao mundo a lio de inocncia que os intelectuais humanistas estavam

    :Iamando. Mais adiante voltaremos a este assunto, explanando-o melhor.

    Por enquanto o que convm acentuar a freqncia das viagens do Brasil aos diferentes pases do Velbo Mundo, a

    escandalosa que despertavam, e o sucesso, por vezes com que eram recebidos.

    Colombo foi quem iniciou este estranho turismo, levando consigo, volta da sua primeira viagem, dez ndios centro-americanos dos

    apenas, chegaram vivos, e provocaram tanto interesse na que cbegaram a ter o rei e a rainha por padrinho e ma. batismo.

    exemplo do descobridor no deixou nunca mais de ser seguido navegantes que se dirigiam ao Brasil, e a estes vamos cingir

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  • r

    Mas o que interessa especialmente a este estudo 6 a escravido do selvagem. Ela foi. desde os primeiros tempos, conforme j ficou acentuado acima. largamente praticada pelos portugueses. Alis, no se lhes deve nenhuma severidade por isso. A escravido era uma conseqncia natural da economia agrcola, tal como ento se entendia e praticava. E, portanto, no podia deixar de ser aceita pela moral corrente e pelo sistema jurdico do tempo. A prpria Utopia, de Toms MOTUS, livro que contm nas suas pginas um verdadeiro resumo de todas as reivindicaes revolucionrias do pensamento da poca, chegando at a abolio da prop riedade privada, inclui a escra\lido, pelo resgate dos prisioneiros, entre as instituies daquela republica ideal.

    A escravido sempre existiu na antiguidade, e foi praticada pelos povos de maior adiantamento cultural. Os gregos baseavamse no fala da desigualdade natural dos homens; os romanos, no poder irrecusvel do conquistador sobre os povos vencidos; e, finalmente, a Igreja Medieval, no conceito adotado pejos povos navegadores, da Renascena, de que os cristos podiam conquistar e dominar os desconhecedores da Verdade revelada salvandoos do pecado e dI ignorncia e incorporando-os ao rebanho do Senhor. A explicae romana do instituto da escravido foi a que serviu de base idil do "resgate" dos escravos, ou melhor, da apropriao da liberdade do homem, em retribuio ao salvamento da sua vida.

    Informa, a este respeito, Wilfredo Pareto, que durante se acreditou que a palavra servus, escravo, era derivada do servare, conservar, ou manter com vida. Tal o conceito estabelecidc nas Institutas de Justiniano. Entretanto, verificouse posteriormenb que tal elnnologia era falsa, e que a palavra servlIS indicava, no latin antigo, a pessoa encarregada de guardar a casa. Mas o princpit do resgate, isto , do direito que o vencedor tinha de poupar a do vencido, escravizandcro como compensao, transportouse sistema romano para os usos e costumes medievais, e era corrente na ocasio dos descobrimentos. O conceito de resgate ainda fortalecido com a tolerncia com que a princpio a Igreja siderou a escravido dos brbaros, sob pretexto de evitarlhes a _ o das almas. No nos esqueamos, porm, de que esta tolernci logo se extinguiu porque cedo verificaram os padres em misso lica nos pases gentlicos a miservel e desumana opresso que se condia sob esse manto hipcrita. Da a reao provocada pelo no, que se iniciou publicamente com a bula de Paulo III, a que

    Pareto _ Trai" de Sociofogie Glnirale. Paris, 1917, voi. I, pp.

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    aos referimos, e continuada nas colnias, pela pregao ardellle dos missionrios. Ningum esquece a grande obra que os jesutas reali IAram a este respeito, no Brasil.

    Parece que, a princpio, os portugueses no tencionavam exportar ('.cravos do Brasil. Tanto que Pera Vaz Caminha, na sua carta, H:tere o fato de terem os mais avisados chefes da esquadra de Cobrai se oposto idia de se levarem, pela fora, alguns naturais

    ~o terra, como peas de convico e como informantes das riquezas uistentes no pas, conforme era hbito. Pensavam de incio, e com ,azo, os lusos, que a morte desses selvagens, acaso ocorrida em viaaem, daria m impresso aos que tivessem ficado, fazendo com que estes hostilizassem os brancos, chegados depois.

    Essa idia est bem expressa no regimento da nau Bretoa, que veio ao Brasil em 1511, regimento este que foi publicado por Varohagen.

    O trecho o seguinte:

    Nom Irares na dY'D niioo em nem 11110 maneyra nem 11110 p.4 dos na/u-,., da terra do dy/o brasr/l [etc.l.

    O que, alis, foi recomendao de pouco peso, porque constam dOI assentamentos da nau alguns destinados aos escravos que ela prpria transportou.

    Essa curiosa inobservncia da proibio regulamentar exemplifica bem o que em geral se dava. Os portugueses no atendiam s con-lKJeracs humanas ou polticas, em face das possibilidades do lucro .onmico. E comearam logo a escravizar o ndio. A princpio, .aturalmente, como a terra estava inteiramente inculta e abandonada, .. lo existindo aldeias, plantaes nem lavouras, era o escravo man dado para o reino, a fim de l servir ao seu amo ou ser por ele vendido a outrem. Este foi o perodo de maior remessa dos fndios IICravizados Europa. Mais tarde eles eram poucos para as necessi-

    da terra colonial, e foi necessrio lanar mo do negro. Ento, vez da exportao, passou O Brasil a fazer a importao de

    l_ravos. Em todo caso, o que convm lembrar que os povos ib-ts foram os principais agentes do comrcio de escravos ndios. franceses, se o fizeram, foi em muito menor escala, pelo que

    ina Capistrano de Abreu.

    r Varnhagen - Histria Geral. S.II. ed., vo!. T, pg. 60 _ " ... com Autorj. ~ Apostlica, pel~ teor da presente ~eterm.inamos. e declaramo~ que os .di!os -- e todas as mais gentes que daqUI em diante vierem noticia dos cnstaos

    que estejam fora da F6 de Cristo, no esto privados, nem devem $!-lo, IUI liberdade ... "

    Varnhagen - Histria G tral. 1.& ed., voi. t , pa. 429. O descobrimento do BrflJil. (Ed. da Soe. Cap. de Abreu, Rio, 1929.)

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  • A Espanha, desde 1504, declarava legtimo o cativeiro dos ca nibais,. merecendo esta medida franco apoio de autoridades ecle-II sisticas.

    Em Portugal, as cartas de doao das capitanias estipulavam formemente que os donatrios poderiam mandar para o reino escravos ndios cada ano, livres de direitos de entrada, alm dos estariam sujeitos a eles. Havia excees a esta regra, como a se concedeu a Pero Lopes de Souza, o qual foi autorizado com 39 ndios sem nada pagar.

    Quando deixavam os donatrios a terra e recolhiam ao reino, hbito levarem toda a sua escravatura, para o que obtinham misso, como aconteceu com Pero Capico, capito de uma das tanias reais, que em 1526 regressou do Brasil.

    Conforme se v por esses dados, no possvel uma eStimati"". nem mesmo aproximada, do nmero de ndios brasileiros que entra-ram no reino escravizados.

    Sabemos que era corrente o trfico, e isto vemos por vrios cumentos insuspeitos, como O regimento da nau Bretoa, que fala 36 escravos, homens e mulheres; como a Nova Gazeta do Brasil, 1514, que fala em inmeros escravos chegados de fresco; como cartas de doao das capitanias, que permitiam o trlico; ou co_. as referncias fe itas ao degredado Duarte Peres, que era, provavclo mente, o chamado "Bacharel de Canania", o qual, em 1526, cuidaw de apresar e enviar 800 escravos para a Espanha, empreitada qiM no se sabe se levou avante.

    Alis, a regio de So Vicente foi de grande importncia na tao do gado humano. O velho porto de S. Vicente, que j -'" com este nome em um mapa de 1502, era um verdadeiro entreposli de escravos, mais ou menos o que viriam a ser, depois. em correol de direo inversa, as regies de Angola ou Mina. Em So Vio . costumavam vir verdadeiras armadas pegar os pobres silvcolas, a de carreglos para a Europa. Entre outros documentos o que nos mostra que Caboto levou daquele porto cinqenta vos, na sua armada.

    Os escravos eram, segundo diziam os senhores, resgatados prprios ndios, isto , tratava-se de vencidos e prisioneiros nas ras, que os portugueses salvavam de morte certa. Mas isso no verdade, e os jesutas se encarregam de desmentir tais pretextos suas cartas.

    Varnhasen _ op. cit . 1.. cd., voI. 1, pg. 34. Varnhagen _ op. cit., I . ed., vai. I, pg. 127. ... Eugnio de Castro _ "Sam Vicente." ln Di4rio de Navegao, cit., 389 c sei!.

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    Afinal, em 1570, por proviso de 20 de maro, o Rei D. Sebas-tiio probe a ida dos selvagens escravizados para o reino. Da por diante a faculdade da exportao de 26 peas de escravos por aoo, Hvres de direitos, desaparece das cartas de doao de terras.

    Mas a proibio real veio num momento em que a lavoura do .car no Brasil j se utilizava muito do brao escravo para o seu desenvolvimento, tendo sido, mesmo, obrigada a apelar para o brao negro. Num momento, portanto, em que a exportao de ndios para Portugal j deveria ser muito menor, seno quase nula.

    Alis, muito depois desta proibio, os portugueses ainda reme-l'lm ndios escravizados para o exterior. Em 1641, por exemplo, lemos notcia de que o almirante ComeLius Jol, chamado "o Perna de Pau", levou consigo trezentos ndios brasileiros como lropa de desembarque, no assalto que levou a efeito contra a ilha de S. Tom~ e a colnia de Luanda, com o fim de arrebanhar escravos pretos para as plantaes holandesas do BrasiL

    Porm no eram ~omente como mercadoria venal que os ndios brasileiros atravessavam o Atlntico, em direo ao Velho Mundo, ou s colnias deste. Costumavam, tamb6m, ser conduzidos como uma espcie de meio de prova dos progressos da conquista, junta-mente com outros produtos e curiosidades da terra, Neste carter foram levados no s pelos portugueses como por navegantes e con-quistadores de outras nacionalidades, que (izeram incurses na Brasil. Alis, no era difcil aos estrangeiros convencer os ndios de que deviam acompanhlos. Ao cootrrio, estes ltimos 6 que se ofere-ciam com aodamento, almas infantis que eram, imprevidentes, des-conhecendo os riscos e amando as aveoturas. Provavelmente, se sen-tiriam engrandecidos no conceito dos patrcios, com a idia de que partiam dentro daquelas embarcaes bizarras, em companhia de leres to estranhos, em busca de costumes superiores. Vemos bem o estado de esprito dos selvagens, com relao s suas viagens para a Europa, no depoimeoto insuspeito da Nova Gazeta do Brasil, Diz O autor annimo desta carta publicada no princpio do sculo dezes-seis que os nossos ndios estavam sempre dispostos a emba rcar nos navios europeus, porque "supunham partir para o du".

    S. interessante ootar que, antes mesmo da viagem de Pedro lvares Cabral, antes, portanto, que o Brasil fosse oficialmente revelado Europa, j os habitantes do oosso litoral eram conduzidos ao Velho Mundo.

    " Inventrio dos Documentos do Arquivo Ultramarino", ln Anais da Biblio-'a Nacional do Rio de Janeiro, vaI. XLVI (1934) , pg . .537 . Watjcn - Das Holljindisclle Kolonlalreich in BrtlSllitlf. Haia, 1921, pS. 108 c Vamhagcn, op. cit., S . d., vaI. II, pg. 398.

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  • De fato Vicente Pinz.n, que tocou nas costas brasileiras em 1499. nas alturas da foz do Amazonas (que ele chamou Maranho), levou consigo 36 ndios para a Europa, dos quais chegaram, apepas, vivos. 20, tendo os outros morrido durante a travessia.

    Diego do Lepe, que chega ao litoral do Brasil logo depois de pinzn e, tambm, um pouco antes de Cabral, arrebanha, igualmente, como escravos, vrios ndios e os entrega, em Sevilha, ao Bispo Joio da Fonseca.

    Cabral mandou, na caravela de Gaspar de Lemos, que foi comu-nicar ao rei o descobrimento da nova terra, um dos ndios dela. Simo de Vasconcelos, nos seus habituais transportes, nos informa que este nosso selvagem foi recebido em Portugal com alearia do Rei e do Reino. No se fartavam 01 arandc:s e pequenos de ver e ouvir o gesto, a faUa, os meneios daquelle novo individuo da aerao bumana. Huns o vinho a ter por hum Semicapro, outrOl por um Fauno, ou por alguns daquelles monstros anliguos, entre poetas cele-brados.

    Reconheamos que, como estria, no foi muito mal sucedido nosso indiozinho, que to viva curiosidade provocava entre "gra des e pequenos". Notemos tambm a coexistncia das duas tendn-cias antag6nicas, em relao ao bom e ao mau selvagem. Enquanto alguns cortesos, mais ou menos literrios, se esforavam por nosso tupiniquim (que esta foi a tribo com que se defrontou uma espcie de fauno ou semicapro, o bom Rei Manuel, depois conhec-lo e de, provavelmente, com ele tentar se entreter, mandava dizer ao Rei da Espanha, oa carta que acima citamos, que os homens da Santa Cruz eram "inocentes, mansos e pacficos".

    No ano seguinte viagem de Cabral, Amrico Vespcio consigo trs odios para o reino, a fim de que aprendessem a lngua.1 Diz o florentino que convidara dois selvagens, constantes de grupo que se encontrava na praia, apreciando a evoluo das Mas um terceiro logo se ofereceu para embarcar com os compa-nheiros. Pela localizao que Vespcio fornece da tribo (um dia de viagem, para o norte, a contar do Cabo de Santo Agostinho) , conclui-se que seriam ndios caets. E o curioso que o autor . Letera, que se queixa de maus tratos so[rjdos por tribos que esta" 150 lguas ao sul (portanto tupinambs), louva a cordura dos que passaram mais tarde por irascveis e violentos. No se sabe _ fim tiveram esses primeiros intrpretes, conduzidos a Portugal.

    Em janeiro de 1504 chegou ao Brasil o navio Espoir, de Honfleurl comandado pelo Capito Binot Paulnier de Goneville. Aportou

    Simo de Vasconcelos _ Crnica da Companhia de Jesus. Lisboa, pg. XXXlll. Carta a Sonderini, in Vila e Lttltre di .Amerigo Vespucci, cit.

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    parte sul do nosso litoral, onde se demorou em oegociaes com 01 fndios carljs, que habitavam a regio. O cacique local era cha-mado Arosca e tinha um filho, por nome Essomeriq, jovem de quinze anos, curioso e sedento de aventuras.

    Quando a nau francesa regressou, em julho de 1504, consentiu "rosca que o seu filho acompanhasse OS brancos, sob a guarda de 11m outro ndio, por nome Namoa. Destinava-se o pequeoo prncipe 1;11 nossas selvas a aprender o manejo e a fabricao das armas de 'Ola, que o velho cacique, na sua ingenuidade, julgava realizvel ~ desejava para o esmagamento dos seus vizinhos inimigos. Namoa e I $IOmeriq foram atacados a bordo pelo escorbuto, tendo o primeiro morrido e o segundo conseguido se salvar. Receando, porm, que do sobrevivesse, o capito francs batizou-o com o seu prprio nome. Chegou, pois, Europa, cristo e chamado BinoL Contava n capito de Goneville fazer voltar o seu pupilo ao Novo Mundo, conforme prometera ao velbo pai, mas isto no lhe foi possvel. RelOlveu, ento, educar o jovem ndio com esmero e carinho, o que Ct:lnseguiu. Mais tarde, tomou-se de tal afeio pelo hspede brasi-leiro que o casou, em 1521, aos trinta anos, com a sua prpria rllha, Susana, e deixou-lhe todos os bens em testamento, com a Ctlndio de que ele usasse o escudo e o nome de Goneville.

    Este venturoso carij, que to prodigiosa reviravolta teve na vida, passando da condio de brbaro nmade, habitante de um mundo perdido, a nobre e abastado cidado de um grande pas, com o seu lar organizado e a sua fanulia constituida, deve ter sido o primeiro INlsileiro que pisou terras de Frana. O capito de Goneville, nas .formaes que prestou, mais tarde, sobre a sua viagem s autori-

    porto, diz que o jovem ndio brasileiro audit HonlJeur el lOlts Jes Iieux de la pass, estoit bien regard poltr n'avoir jamais

    ln France personnage de s/ loingtain pays. () ex-ndio Essomeriq, agora senhor Binot Paulnier de Goneville,

    - rc descendentes do seu consrcio com a jovem Susana. Entre esses a..cendentes conta-se um padre do mesmo nome o qual foi cnego . Catedral de S. Pedro, em Lisieux, e que escrevia obras histricas

    COrrer do sculo dezessele, denominando-se a si prprio pr/re V-se pois que no se envergonhava do sangue que lhe corria

    veias . Nos primeiros anos, que se seguiram descoberta da Amrica

    informa com exatido a data o livro de que nos servimos para este episdio), o embaixador de Veneza junto Corte de

    - Op. cit. pgs. 30 a 54. O fato lambm referido pelo viajante no xu livro Vo]age aUlOllr du Monde. Paris, Ed. Feste, rs.d.],

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  • Carlos V viu, em Sevilha, um grupo de meninos selvagens jogando s cabeadas e rebatendo com as costas, bolas de borracha do ta~ manha de um melo. - :E. um jogo semelhante ao que , o general Rondon chamou matanaariti, e que ainda hoje se pratica entre as tribos da regio amaznica. Com efeito, o autor deste livro teve opor-tunidade de assistir no Rio, em 1922, por ocasio dos festejos do Centenrio da lodependncia, a uma demonstrao do jogo, feita por ndios provavelmente amaznicos. Dava~se, ento, ao jogo o nome de ,;el/nali. Foi tentada a sua aplicao por alguns clubes esportivos cariocas, mas sem resultado.

    A pequena equipe de meninos que se exibia em Sevilha tinha sido levada Espanha por um frade. Eram, provavelmente, brasileiros da regio amaznica, e embarcados nalgum porto do litoral por qualquer navio espanhol, o que era freqente. Funda~se esta vico no fato de a contribuio cultural do uso da borracha adstrita, natu ralmente, regio delimitada pelo habitat da bra.siliensis. Quanto tribo qual pertenceriam esses ndios diHcil de esclarecer, pois, conforme j ficou dito, o ma/anaari, z.icunati comum a toda a zona da borracha, tendo-o, mesmo, don, encontrado em pleno serto de Mato Grosso, entre os parecis; Nordenskiold, no seu livro sobre a civilizao indgena do Chacal acha que o jogo pode ser at originrio dessa regio.

    Em 1509, O Capito Toms Aubert, que andou navegando as do Brasil no comando do navio La Pense, pertencente ao famOSCl armador Ango, primeiro do nome, levou consigo para a Frana ndios brasileiros. Henri Estienne, que imprimiu em 1512 uma edio da Cronologia de Eusbio de Cesareia, ajunta, em continu& o a esta obra, uma descrio do desfile que fizeram esses selvagens pelas ruas de Ruo. Diz ele que esses homens

    eram originrios des5a ilha que se chama Novo Mundo, e chegaram a com a sua barca, os seus adornos e as suas armas. Tm a cor carrep.da e lbios grossos, seus rostos so recortados de cicatrizes, dirseia que veias azuladas partem das orelhas para se encontrarem no queixo. No plos na harba, nem no pbis, nem em qualquer outra parte do corpo, "-os cabelos e as sobrancelhas. Usam uma sorte de cinto com uma esp6cie bolsa que lhes cobre as partes pudendas. Falam pela boca e nlio tm ~-_ .... -religio. A barca 6 de casca de rvore e pode ser carregada sobre a de um s homem. Suas armas so grandes arcos, cuja corda 6 feita de ou nervos de animais. Desconhecem o po, o vinho e o dinheiro. Andam e no tm nenhuma religio. Seu pak estA no paralelo do stimo clima abaixo para o Ocidente que a reiio francesa."

    Gilberto Freyre _ Cosll.(;rllnde &; S~ntplll. 1.1. til., pg. 156. .. Apud GaUarel _ Op. cit., pgs. 58 e 59.

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    Esta curiosa descrio parece ter sido feita por quem assistiu CCna. Alis, no seria difcil que Estienne estivesse presente ao desfile de Ruo. Por ela se v como ainda andavam confusas as idias .obre a humanidade dos ndios. Parece que ainda se os considerava \:omo entes parte, pois Estienne os descreve como bichos estranhos,

    ~ chega, mesmo, a anotar, quase com surpresa, que eles "falam l'!tla boca". Mas ao mesmo tempo j despontam as observaes sobre ausncia da religio, a nudez, o desconhecimento do dinheiro, bases da rutura noo da bondade natural.

    Quanto localizao geogrfica desses ndios, ela bastante vaga. NIo h dvida que so brasileiros, porque do Brasil foi que os levou roms Aubert. A expresso "stimo clima", que procura localizar a ' ''&io de onde eles provm, no tem nenhuma segurana e parece I~r sido usada de forma puramente arbitrria, por Henri Estienne. (;oro efeito, na cincia cosmogrfica da poca, o stimo clima com-preendia no o Novo Mundo, mas, exatamente, uma parte da Frana ftlm a embocadura do Loire e, precisamente, a cidade de Ruo, onde os ndios desfilaram.- Pela descrio, entretanto, se pode ounclu ir que os selvagens eram da nao tupi, qual eram mais ou meoos comuns os costumes e caractersticos indicados, alis sem "ande exatido, por Estienne. A tribo a que pertenciam esses ndios llria, provavelmente, alguma das regies mais quentes, pelo fato de filo trazerem nenhuma coberta ou vestimenta. Nessas condies po~ deremos t~los por tupinambs, potiguares ou caets.

    m 1511 a j mencionada nau Bretoa, comandada por Cristvo 'Ires e pertencente a um consrcio de comerciantes, de que faziam

    os famosos Ferno de Noronha e Bartolomeu Marchione, levou Lisboa 36 ndios, entre homens e mulheres. Eram tamoios,

    a nau os embarcou na zona de Cabo Frio, onde andara carre~ [:"._0 pau-brasil . Toda a sua tripulao, entre oficiais, marinheiros, ",metes e pajens era de 35 homens, e assim, ela recambiou mais .'vagens do que tinha trazido de tripulantes. Foram os ndios como .ravos, mas as preferncias dos lusos se mostram antes pelas rapa~

    do que pelos homens. No difcil de se atinar com a razo . . Os servios que poderiam prestar as jovens tamoias, tanto na

    ilvessia como em terra, pareciam, decerto, aos navegan tes, dados amores aacHares, mais proveitosos do que quaisquer outros.

    Se acompanh armos o livro dos escravos, anexo ao regimento da veremos como se distriburam essas presas humanas.

    n Capito Cristvo Pires levou cinco, sendo dois moos e trs alm de outra moa, chamada Bu~ysyde, que levou de enco-a um certo Francisco Gomes, que ficara em Portugal. O

    C"( Pierre d 'Ailly - Imago MUlJdi. Paris, 1930, vol. lU, pgs. 569.571.

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  • -escrivo Duarte Fernandes. casado e morador na Alfama, tambm, cinco, sendo um moo e quatro moas, e mais qu___ _I lIycenas" (sic). Estas quatro eram destinadas a EU8tr.o indivduOl! que no faziam parte da viagem, por nomes PeTO Lopes, Lus lvarClt Joo Fernandes e Gonalo lvares. O mestre da nau, Feroando --tambm casado e morador na Alfama, levava um homem e mulheres. O piloto (cujo nome no consta do regimento, mas deveria sec um certo Joo Lopes, porque este nome consta, designao de ttulo. entre os graduados de bordo, separado marinheiros e grumetes), levou nove, sendo trs homens e mulheres. O dispenseiro Jurami, criado do armador Marquione, teyt cinco, um moo e quatro moas. O marinheiro Nicolau Rodriguel casado, se contentou com uma escrava. Igualmente modesto, mongamo, foi o contramestre Antnio, tambm casado, que duziu apenas uma moa. O marinheiro calafate Pedro ADes _ ~ grumete Diogo Fernandes, ambos solteiros, preferiram levar escrav~ homens, o que fizeram, tocando um a cada um. Ao todo 22 res e 14 homens.

    No ano de 1513, segundo relata Damio de Gis, estava o D. Manuel em Santos o Velho, despachando papis em uma de madeira, quando dele se acercou Jorge Lopes Bixorda, que naquele tempo, o contratador de pau-brasil da Terra de Santa Vinha Bixorda acompanhado de trs nativos desta mesma terra. ___ ., Damio de Gis que os selvagens eram bem dispostos, esta-vestidos de penas, e conversavam com o rei, por intermdio de intrprete. Depois fizeram, diante do soberano, e com grande rao dele, vrios exerccios de pontaria com as suas flechas, tando com grande destreza em alvos mveis, que desciam o rio por perto passava. No informa a que tribo pertenciam esses dores, que foram to graciosamente recebidos pelo rei. Alis, D. nuel, conforme vimos acima, j tinha tido prazer em se avistar o ndio, que, em 1500, Ibe mandara Cabral.

    Em 1514 (convm notar que muito discutida a exatido data), chega Europa a nau de que trata a clebre Nova do Bras:!, Conta este escrito annimo que o referido navio um selvagem, provavelmente influente na sua tribo, que se entreter com o rei de Portugal a propsito das minas de ouro prata. Alm disso, estava a coberta da embarcao cheia de ndios de ambos os sexos, trazidos como mercadoria venal, e

    Varnhagen _ Op. cit., l.a ed., pg. 451. Conservamos as expresses mem" e "mulher", "moo" e "moa", tal qual se encontram no regimento I nau. Provavelmente a distino diz respeito s idades dos ndios e~raviuldl Damio de Gis _ Chronica dc EI Rcy D. Manucl. Usboa. 1740. pa. Nova Galcta .A Icm _ Ed. Record, Rio, pgs. 49 e 50.

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    IC)I no fora difcil, porquanto eles acreditavam embarcar para uma ,pcie de paraso. Esses ndios, segundo os costumes e vestimentas

    umariamente descritos, e tambm segundo a regio em que foram . mbarcados que a das cercanias do Rio da Prata, deviam ser carijs.

    Em 1519 partia o primeiro cidado brasileiro para uma viagem "lIlta do mundo. Alis, esta viagem se fazia, tambm, pela primeira \.'1 na Histria, pois foi precisamente a de Ferno de Magalhes. Infelizmente o pobre ndio da Guanabara, que o grande portugus ""bareara na frota, no conseguiu cumprir at o fim o seu estranho de.tino de sair de uma taba carioca, circundar o globo, na primeira "'fI que esta viagem era realizada, e acabar na Europa. Morreu de ,'.:orbuto, quando a frota de Magalhes, depois de atravessar o

    I"'teito, que traz o seu nome, velejava, j sobre as guas do Pacfico . I!m 1526 regressava Europa, na armada de Sebastio Cabot, que,

    dissemos acima, levava cinqenta escravos ndios, o portugus 111,~nrique Montes, o qual, tendo embarcado dez anos antes, na ta1luadra de Dias de Solis, fizera naufrgio, j na volta, pelos arre-

    Ires do porto dos Patos. Este porto dos Patos, segundo ensina ,lIanio de Castro, ficava no continente, fronteiro ilha de Santa .. Iarina, e bem sombra dela . Ali viveu Montes, ent re os silv-

    rolas, at o ano referido em que tornou ao Velho Mundo. Na sua ~j.gem de regresso levou duas ndias libertas como suas concubinas. Ikmorouse com as duas na Espanha, durante algum tempo. Em .. ,uida deixou uma, tendo partido, em companhia da outra, para 'urtugal.

    mulheres de Henrique Montes deveriam ser carijs ou taps, eram as tribos que habitavam o litoral, por perto do porto dos

    1529 os navios que participaram da malograda expedio dos Parmentier sia, recolheram, na ilha de Santa Helena, seis

    que os portugueses a haviam deixado. Foram estes selvagens a Dieppe, segundo conta na sua narrativa GujJJaume Lefvre,

    participou da viagem. Um deles se casou, naquela cidade, onde, em 1569, depois de quarenta anos de vida europia. No

    que estes ndios fossem brasileiros, mas bem provvel. Em 1530 o viajante William Hawkins, de Plymouth, que parece

    _ o primeiro ingls que visitou o Brasil, segundo informam os ~!IIis.tas da poca, .levou corte um "rei" brasileiro que foi apre. . ao ReI Hennque VIII e sua nobreza. tendo causado grande

    111,.fclta - Op. ci!., pig. 51. Varnbagen - Op. cit., 5.8 ed., '101. 1, pg. 144.

    E. de Castro - Dirio da Nal'cgao, '101. I, pg. 63. discours de la navigalion de Jcan CI Raoul Parmcntier, Paris, 1883,

    XXV1 e 3.

    43

  • sensao entre todns os presentes cerimnia. No resistiu, o principaJ brasileiro s brumas britnicas. Depois de uma nncia de quase um ano na Inglaterra, morreu em viagem, voltava ptria em companhia de Hawkins. Como garantia do cacique, ficara no Brasil um certo Cockeram que os recearam (asse morto, pelos ndios, em represlia morte chefe. Mas tal no se deu e o refm pde ser devolvido aos patriciCl Vinha da zona do litoral da Bahia e era, portanto, com certeza, chefe tupinamb.

    Em dezembro de 1532 ou janeiro de 1533, chegava a Pera Lopes de Souza, regressando do Brasil. Em Pernambuco embarcado quatro principais, provavelmente caets, e os deixou bordo, no porto de Faro, enquanto se ia entender com D. Joo [ que se achava com a corte em E.vora. Sabedor da presena d ndios, assim se dirigiu EI-Rei ao seu ministro, Conde de Castanheir

    E porque 'Vem nas ditas naoos quatro reys da terra do brasil tanto que caoos cheaarem {aliarei!! a afonso de torres que os mande agasalhar e lhes [ dareis dar de 'Vestir de seda, como 'Vos dira pero topes e nisto mandareis muyla diligencia por ser coisa que tanto cumpre a meu scr'Yio.

    Assim, ao mesmo tempo que abria aos selvagens este acolhimea principesco, mandava o rei portugus que trinta franceses aprisiOll dos em Pernambuco por Pera Lopes fossem metidos na cadeia Limoeiro.

    Entre o ano de 1547, que foi aquele em que subiu ao trono Frana o Rei Henrique n, e 1557, que foi o da morte de Alvares Corra, que deve ser situada a famosa viagem da Paraguau, imortalizada pelo poema de Santa Rita Duro.

    A ida do Caramuru Europa, com os episdios conhecidos que se revestiu, foi assegurada, com modificao apenas de por vrios cronistas e historiadores sucessivos. No sculo contada por Frei Vicente do Salvador, e por Simo de VascoDcel No sculo dezoito referida por Rocha Pita.

    No sculo dezenove Varnhagen, em erudita memria apresentada Instituto Histrico, e por este premiada procurou desfazer

    SoUlhey - Histria do Brasil (Traduo portuguesa). Rio, 1862, pg. 7. Varnhagen _ Op. cit., l.a ed., vol. I, pg. 55, e Histria da ColoniUl! Portuguua no Brasil, 'Vol. III, Porto, 1924, pls. 156157. Frei Vicecte do Salvador _ H/st6rU! do Brasil, 1931, pg. I!H . conceJOI _ Cr6nica, P:l.I. 26. Rocha Pita _ Histria da Amrica Portu,. Usboa, 1880, pS. 30. Revista do Instituto Histrico, vol. 10, pAp. 129 e sep.

    44

    1,I'"lmente a tradio da viagem Frana. Com a plUXao que o erizava na defesa das suas convices, critica e ataca o grande

    Iftlriador, s vezes com violncia, a Vasconcelos, Brito Freire, Ro-"1 Pita e Jaboato. Guarda, porm, a maior reserva sobre o depoi-

    _1110 de Frei Vicente do Salvador. E este silncio voluntrio sobre unlco texto que destri, irremediavelmente, toda a sua engenhosa

    um trao caracterstico do feitio intelectual de Var-

    lIoge de ns a idia de acus-lo de m f. No chega realmente m f esta desenvoltura, nem censurvel a paixo fogosa com

    o grande visconde de Porto Seguro mantm as suas posies, vez assumidas. Simples tonalidade de temperamento, que, alis, posta em relevo por vrios dos seus crticos e bigrafos.

    que, entretanto, no pode sofrer dvidas que Varnhagen, ao ao Instituto Histrico a sua memria, contestando (onnalmente

    l ~~Iem de Caramuru Europa, j tinha lido (e com todas as como s ele sabia ler). o livro de Frei Vicente. Com

    o estudo de Varnhagen sobre Diogo Alvares (ai publicado em tendo j o autor mais de trinta anos. E desde adolescente,

    assegura Capistrano, ao fazer a histria do livro de Frci e segundo provam vrios trechos da obra de mocidade de

    j este conhecia o livro indito do padre, atrav6s de exemplar existente nas Necessidades, em Lisboa.

    entretanto, em 1848, ningum, entre ns, ainda pusera os Hist6ria do Brasil de Frei Vicente do Salvador, podia

    irnhagen, escamotear sorrelfa este testemunho, decisivo contra t_pretenses que ele sustentava. - hoje se sabe que a ndia Paraguau esteve, mesmo, erp

    onde foi batizada, no com o nome de Catarina, mas com -- _usa, e onde se casou com o seu amante Diogo Alvares. O ~imento de Frei Vicente irrespondvel, pois foi colhido direta-

    da herona, que ele chegou a conhecer, pessoalmente, n3 Bahia.

    (diz o autor no seu liYTol alcancei eu, morto j o marido, viva mui amiga de fazer esmolas aos pobres e outras obras de piedade. Morreu

    e viu em sua vida todas ruas filhas e algumas deslllS casadas .

    possvel, como quer Varnhagen, que Vasconcelos e os que se aeguiram tenham romanceado os episdios da aventura. Mas a

    propriamente, indiscutvel. 6 provvel que o padre Simo de Vasconcelos tenha, como

    Vicente do Salvador, conhecido pessoalmente a mulher de Ca-Com efeito o jesuta portugus, embora tivesse vindo menino

    Vicente do Salvador - Op. cit. pa. 151.

    45

  • pata o Brasil. era trinta anos mais moo do que o capucho E este alcanou a Paraguau j madura, viva honrada, __ ,. __ declnio da vida em que as mulheres de posses, como ela, cost~ se dedicar especialmente s obras de caridade.

    Mas a distncia relativamente muito prxima em que se frava Vasconcelos, do tempo da ndia viajante, permitiu-lhe, certo, recolher depoimentos autnticos de contemporneos e cidos dela.

    No seu relato da ocorrncia apresenta Vasconcelos uma i importante, desprezada por Varnhagen, e que parece concorrer sivamente para a autenticidade da tradio. Varnhagen sustenta dos representantes de Portugal junto corte (rancesa, no nenhuma referncia presena de Caramuru e sua mulher, o seria inadmissvel, visto as grandes pompas com que teriam recebidos. Mas Simo de Vasconcelos supre esta lacuna, informaa que o batismo, o casamento e as demais festas foram assistidas

    por meio de um Portugus por nome Pedro FernandCII Sardinba, em Paris seus estudos, c voltava a Lisboa, fez aviso a flRci D. "" .... ..... bondade da barra c terra da Babia, a fim de que a mandasse pa'----Pcdro Fernandes Sardinha_ .. __ bc o mesmo quc depois veio por bispo do Sruil, D. Pedro FernandeJ Sardinba.

    Nota-se neste texto a ligao das duas idias do autor, que representavam a realidade poltica do acontecimento. Por ter s cerimnias e festejos em honra de Caramuru e sua mulher, que os franceses procuravam captar as boas graas de um m; de ndios, o astuto Sardinha percebeu o perigo que isso representa para Portugal e deu aviso ao seu rei de que desse mais ateno deresa da Babia. Tanto mais quanto, como informam Vasconccl e Frei Vicente, os franceses no deixaram Caramuru passar Lisboa e despacharam-oo diretameote ao Brasil, de regresso. bem o plano dos Valais, de irem estabelecendo elementos de tgio e simpatizantes com a sua causa, 00 Brasil. Por todas razes parece-nos fora de dvida a viagem espetacular da ndia raguau, embaixatriz das nossas selvas junto requintada corte Frana.

    O ano de ISSO ia oferecer o mais extraordinrio espetculo at ento fora assistido, na Europa, e em que figuraram como sonagens os selvagens do Brasil. Trata-se da famosa festa de Rouen. Esta cidade ilustre da Normandia, cujo grande menta comercial, de eoto, datava da proteo especial que lhe cara Francisco I, preparou, naquele ano, uma luxuosa para o Rei Henrique II e sua esposa Catarina de Mdicis, andavam percorrendo a regio. As entradas eram festas usuais poca, como os torneios e cavalhadas, e consistiam em cortejos 46

    1'11.. triunfais, organizados em homenagem a algum hspede de Henrique rr tinha sido festejado, pouco antes, com uma

    '''II1()1a entrada em Lioo, e a cidade de Rouco resolveu no medir ,.11

  • assduo. E isso porque, se se tratasse realmente de duas tribos srias, a farsa degeneraria seguramente em tragdia, porquanto 4 dios americanos, transplantados por aquelas mentalidades primitivl para o palco europeu, poderiam atuar de modo a, no calor da d monslrao, fazer com que os combatentes tomassem excessivamen a srio o papel que estavam representando.

    Eram mais de trezentos os figurantes da cena brasileira, mas selvagens verdadeiros no iam alm de cinqenta, em nmero. O em que se apresentavam era uma espcie de campina, que vinha fortificaes da cidade at s margens do rio Sena, com a de duzentos passos de comprimento e trinta e cinco de largura. rvores. que naquele espao exisliam. foram cuidadosamente meoladas, com tufos de folhagens de (reixo e buxo, e carregadas {rutos artificiais de vrios tamanhos e cores, imitando o . uma autntica floresta brasileira. Nos extremos do campo se vam tabas indgenas, construdas a capricho. Entre as rvores agitavam numerosos animais brasileiros como macacos, micos, alm de papagaios de vrias cores. Os selvagens verdadeiros falsos (que eram marinhei ros b retes e normandos, habituados as viagens ao Brasil), apareciam completamente nus, inclusive mulheres, segundo mostra o desenho algum tanto ingnuo, mas lante since ro e minucioso que acompanha a descrio. No se cupavam os figurantes em COllvrir aucunement la portie que commande, como acentua, algo escandalizado, o autor pudico narrativa.

    E, nessa indumentria paradisaca, enlregavamse os selvagens todos os misteres e afazeres normais da sua vida natural. Uns atit vam setas contra os bichos; outros se balanavam preguiosamen: aos pares, nas redes adrede suspensas aos troncos, ainda alguns ca -gavam toros de madeira e entregavamnos a marinheiros, contra . quenos objetos, tais como machados ou foices . O pau assim resgatae era levado, em seguida, em pequenos batis at um grande ancorado prximo, provavelmente no rio, onde era recebido e Ihado. Faziase, desse modo, uma reproduo viva do que sistema do comrcio do paubrasil.

    Subitamente, e este foi o ponto culminante da representao, selvagens que figuravam como tupinambs foram violentamente tados por uma tropa de tabajaras, amigos dos portugueses. zaram, ento, um combate simulado, no qual os assalt antes completamente destroados, e em fuga desordenada, perseguidos inimigos que acabaram por lhes incendiar a taba.

    Ficava, com esta apoteose final, exposto tambm um captulo spera luta que portugueses e franceses travavam no Brasil predominncia no comrcio colonial. E provvel que o embaixadl

    48

    Portugal, que, como vimos, estava presente cerimnia, no visse 'm muito bons olhos aquela cena em que os aliados do seu pais, protetores inconscientes dos seus interesses mercantis. eram to

    ,Iuramente tratados, nem ouvisse com prazer os versos explicativos, j,dos em voz alta para o rei, no qual o seu pas era indicado como 1111 migo e derrotado.

    A festa brasileira de Ruo, cuja descrio foi acima resumida, talvez, a mais interessante demonstrao da freqncia e impor

    das relaes existentes no sculo dezesseis entre os povos ~ prlmitivos do Brasil e a Frana. No preciso que acentuemos o

    ela representa de importante para a nossa tese. A simples narra-sucinta desse curioso episdio prova, mais que quaisquer comen

    ios, como era fcil reunir, em um porto francs, dezenas de ndios como a vida, os costumes e as pessoas deles eram j coobecidos sempre apreciados pelos mais altos crculos sociais e culturais da

    na, a ponto de uma reconstituio do ambiente em que viviam preferida a qualquer outra simbolizao do Novo Mundo, dentro um programa feito para divertir e ensinar aos soberanos e a toda

    lua corte. O alemo Ulrich Schm.idel, voltando do Brasil em 1553, depois

    de uma estada de quase vinte anos na Amrica do Sul, levou coo a'&o vrios ndios. No se sabe quantos, pois ele apenas conta que

    ,ois dos ndios que levava consigo morreram em Lisboa". Provavel nte os selvagens que com ele embarcaram, eram a totalidade ou e do grupo de vinte carijs, que, segundo a sua narrativa, se-

    auiram na ltima expedio que empreendeu pelo interior, em direo ponto onde tomou o navio.

    Em julho ou agosto de 1552 o padre Manuel da Nbrega, em cana dirigida ao Provincial de Portugal, comunicaJhe que vai mandar

    o reino, no ano seguinte, quer dize r, em 1553, dois men inos, da terra, que sabiam ler, escrever e contar,

    aprenderem li!. virtudes um anDO e algum pouco de latim., para se orde. como tiverem idade, e folgari!. EI-Rei muito de os ver, por serem pri. desta terra.

    A carta datada da Bahia, e os pequenos selvagens deveriam ser, portanto, tupiniquins ou tupinambs. Antes disso j havia mandado um mameluco, que andava perdido pelo serto, comendo carne hu

    I .. ana.

    Ferdinand Denis - Une fite brisiUenne c:elebr RQuen en USO. Paris, IUO. Schmidel _ Op. cit., p",. 236, 240 e 2S2. Nbrega - CartQ.j do Brasil. Rio, 1931 , pAp. 115 e 131.

    49

  • Os jesutas agiam sobretudo politicamente, fazendo tomar aos naturais da terra, Seria mais fcil, com instrumentos como padres ndios, consolidar a confiana do gentio e convert-lo facilmente f6 catlica. O que, de certo modo, e num outro representava, tamb6m, um resultado de largo alcance para a portuguesa, porque equivalia submisso gradual dessas gentes tantemente fugitivas ou rebeladas. Alis, a medida era to sbia os franceses da Frana Antrtica no tardaram muito em enviando, tamb6m, ndios da Guanabara para Genebra, a fim de Calvino os transformasse em pastores protestantes. Sobre isso o depoimento do prprio Nbrega, que diz o seguinte:

    Estes franceses iCguiam as beresias da Alemanha, principaJmen\.e yino, que est' em Genebra e se;undo soube tinba mandado muit .... ""'"11 do gentio a aprendt.Jas ao mesmo Calyino e outras partes para t' mestres, e destes levou a alguns VilIaaalho (ViUeaaianon) que fizera aquela fortaleza e se intitulan rei do Bras.-

    Entre 1555 e J 560 que deve se ter dado a viagem infortunado ndio Antnio, de que nos fala Jean de Lry. O encontrou, certa vez, numa aldeia prxima ao acampa Villegaignon um prisioneiro que estava espera do dia de ser _ Percebeu Ury que o selvagem falava portugus, e, por interm6d de dois franceses que conheciam bem o espanhol, pde convet1 com o infeliz na presena dos outros brbaros, sem deles ser dido. Contou o pobre Antnio a sua odissia. Estivera em aprendera a lngua, convertera-se religio crist, assimilara princpios de civilizao, entre eles o amor vida e o medo da __ ., Eis porque, ao contrrio dos seus companheiros, estava apavoTII com a proximidade do sacrifcio, e pedia que o salvassem comido. Decidiu Lry voltar no dia seguinte, com os seus c_"-r nbeiras, trazendo instrumentos com que o msero pudesse escapar cordas que o cingiam, e assentou que o tomaria, uma vez fugido, praia, num stio combinado. Mas os algozes desconfiaram longa conversa em lngua estranha. Quando Lry voltou no o~ ...... .. e perguntou pelo prisioneiro da vspera, os brbaros mostraram-lhl entre risadas matreiras, a cabea do pobre Antnio, e os seus bras, j convenientemente espostejados, assando a fogo lento.

    Caso parecido e ainda mais terrvel o que nos conta Thevet que devemos situar na mesma poca do anterior, relatado por Diz ele que os normandos, habituados ao trfico do pau-levaram para a Europa um jovem tabajara, que viveu muitos

    - N6breaa - Op. cit., pS. 226. -- liry _ IIjstoirt d'utl ~oyagt 'altl tn la lerre du Brbi/. Paris, II, pp. 545$.

    50

    em Ruo, tendo l se educado, se integrado na religio catlica e te casado. Certa vez o pobre ndio civilizado se lembrou de acom-panhar alguns franceses numa viagem ao Brasil. Em m hora o fez, porque o navio que vinha tocou na Guanabara, habitada pelos ta-moias. Estes, ao saberem que havia um tabajara a bordo, invadiram nau como uns perversos e despedaaram o desgraado represen-time da raa inimiga, aos olhos pasmados dos cristos, impotentes para cont-los.

    lry indica tambm alguns selvagens enviados da Guanabara Suropa, antes dos que levou consigo VilIegaignon. Foram dez rapa-

    nhos, escravos de outros ndios, resgatados pelo chefe da Frana Amrtica, os quais partiram num navio que regressou da Guanabara

    4 de junho de 1557. Chegados em Frana (oram, como tantos QUtros anteriormente, apresentados ao rei, que, na ocasio, era ainda Henrique n. O soberano distribuiu-os, como presente, a vrios se-nhores da sua corte. Entre outros ele deu um selvagenunbo ao senhor

    Passy, que o fez batizar e conservou-o consigo. Lry, de volta uropa, em meados de 1558 ainda reconheceu o pequeno brasileiro

    ,jvendo em companhia do nobre francs. Estes dez ndios eram con-Irrios aos selvagens amigos dos franceses, e tinham sido escravizados cm guerra, situao de que os libertou Villegaignon pelo resgate. Esta indicao de Lry autoriza a concluir que eles (assem tamoios, que eram os adversrios dos rupinambs, amigos dos franceses na

    'gio da Frana Antrtica. Quanto aos tupinambs levados por Villegaignon, no seu regresso,

    tm fins de 1558, Gaffarel fornece um esclarecimento completo. Diz ele que Claude Halon, em um livro de memrias, atesta que o chefe francs levou consigo cerca de cinqenta selvagens brasileiros (quel que demy cem de personnes de ce pays-l) entre homens, mulheres crianas. Reteve uma meia dzia para o seu servio e o do seu lrmo, e distribuiu os outros, por diferentes amigos, em vrias lugares da Frana. Alguns viveram muitos anos, adaptando-se ao clima

    aos usos da Europa. O prprio Rei Henrique II recebeu mais de um, como presente. Os ndios oferecidos ao irmo do aventureiro

    'am dois rapazes de ]8 anos e se chamavam Donato e Doncart. ,nverteram~se, foram batizados na igreja de Provins, onde o irmo

    de Villegaignon era juiz, aprenderam o idioma francs e ficaram at morte ao servio do seu senhor, que os tratava com muita bondade.

    Em 1562, no ms de novembro, que se deu, provavelmente, o ,,~Iebre encontro entre os trs ndios brasileiros e o ilustre senhor de Montaigne, o qual escreveu sobre essa entrevista um dos seus mais

    Thevet _ SingulariUz de la Frante Anlarttiqut. Paris, 1878, pS. 208. Jean de liry - Op. til, pg'S. 99 e 100.

    ... OaHarel - Cp. ci!., pg. 316.

    51

  • famosos Ensaios, que , ao mesmo tempo, uma das mais expressi~ snteses do pensamento humanista da Renascena.

    GaHarel pretende que o encontro entre Montaigne e os selva,. teve lugar em novembro de 1566, quando Carlos IX terminava UI longa viagem que sua me Catarina de Mdicis com ele empreen&lll pelas diferentes provncias do reino. lnclinamo-nos, antes, pela' .. tese de 1562, afirmada por Pierre VilIey, no seu livro sobre taigne. Vrios so os elementos que nos autorizam a optar por __ data. Em primeiro lugar, Gaffarel, apesar dos seus mritos eminetd de pesquisador, era excessivamente apressado e pouco cuidadoso verj[jcao de datas e, mesmo, de fatos. Os historiadores brasilei~ tm recolhido inmeros erros e confuses desse benemrito do Brasil. Em seguida, se possvel que o Rei Carlos IX em Ruo, em fins de 1566, no parece provvel que Montaigne tornasse a se encontrar com o soberano, sendo certo que no ano 1562 ele estava naquela cidade, acompanhando o rei e a exerccio de certa misso oficial, que lhe fora confiada pelo menta de Bordus, onde o filsofo tinha assento e funo. sendo segura a presena simultnea do escritor e do rei em em 1562, fica bastante duvidosa a aluso a outra visita de mesma cidade, quatro anos mais tarde, sobretudo porque Montaij no seu ensaio sobre os canibais fala dessa estada cm companhia rei como se ela se tivesse verificado apenas urna vez. Finalrnen convm no esquecer que no Ensaio clebre, est acenlUado rei era "uma criana". Ora, se se podia dar esta designao a IX em 1562, quando ele devia ter doze anos, ela j no seria em 1566, poca em que o rei contava mais de dezesseis, tendo mesmo, a sua maioridade proclamada oficialmente.

    De qualquer maneira, porm, e abandonada essa questo do em que se verificou a entrevista, a qual no tem nenhuma im

    r_

    tncia, convm ressaltar o enorme interesse desses pobres tupinamb' que vo servir de pretexto a uma das mais terrveis pginas . cionrias da Ren ascena. Mais adiante voltaremos a Montaigne e seu Ensaio sobre os canibais.

    O que importa acentuar aqui que o sucesso da festa brasileir1 de Ruo, encorajou outros poderes municipais a repelirem tejos em que aparecessem selvagens. Foi assim que, em 1564, quando se realizou a visita oficial do Rei Carlos IX de Troyes, preparou-se um desfile no qual figuravam vrias selvagens. Esse episdio narrado num livro editado em 1619 e tem por ttulo Crmonial de France ou Description des crmollfe~ rangs et sanees observes aux eouronnements, entres e enterremelU,

    Gaffarel - Op. cil., pg. 332. VilIey - Monlaign~. [s.d.1 ps. 28.

    52

    Roys el Roynes de Franee el aulres aeles el QJsembls sole-,./lu. Ferdinand Denis atesta que o cerimonial no refere a nacio-, . hd,de dos ndios apresentados a Carlos IX em Troyes. Entretanto, , precedentes, que j conhecemos, nos autorizam perfeitamente a

    tllllOr que entre eles houvesse brasileiros. Nlo guardou o cerimonial a mesma reserva no que se refere a

    festa, realizada em homenagem ao mesmo soberano, na cidade no ano de 1566. A este desfile sabe-se, com certeza,

    compareceram selvagens brasileiros, os quais formaram em con-ao rei, tendo o cacique pronunciado uma saudao, dirigida

    que foi logo traduzida ao homenageado, por intermdio de um ~tcirpretc. No nos foi possvel colher elementos que informassem

    ~ue tribos perteociam esses ndios. No ano de 1573 o padre Rodrigo de Freitas, que esteve em Per-

    mbuco e na Bahia muitos anos, levou para Lisboa um ndio, que o nome cristo de Ambrsio Pires, provavelmente por causa

    um outro jesuta, deste nome, que estivera anteriormente no Brasi l regressara Europa com Duarte da Costa . Depois de prolon-estada em Portugal regressou ao Brasil o ndio Ambrsio Pires,

    se encontrava por ocasio da viagem de Cardim, em 1583. este cronista, que o civilizado silvcola organizou, certa vez,

    bailado, para divertir os padres o qual, embora algum taoto e passavelmente pago, no deixa de se r episdio bastante 'furioSO. Foi durante uma das viagens do visitador Gouva, em hora Idt calma, quando os missionrios se encontravam sob um bosque de '.roeiras em diligentes e copiosas mastigaes, enternecidas e umede-

    . com o vinhozinho de Portugal,

    nunca faltava, (e sem n qual], no se liustenlava bem a natureza, por a ser desleixada e os manlimentos fracos.

    Inesperadamente, saiu de um mato prximo Ambrsio Pires, Can-: !dado de Anhang, e, por isso, em horrenda figura. Cercado de l'Ienloos e de cunhs graciosas e nuas, a todos encantou, danando,

    seus muitos "trejeitos e gatimanhas". As frescas ndias nuas ("coisa para ns mui nova", diz Ca rdim, com gulodice), nuas e

    como as fontes, midas como os bosques, douradas como o 101 das praias, vieram saudar, depois daquele ba ilado agreste e ingnuo

    Ambrsio Pires, aos missionrios assentados sobre a relva, bem e lnguidos. E no ser talvez, temeridade, imaginarmos

    que o senhor visitador Gouva, austero pescador de almas perdidas,

    Denis _ Op. ti!., pg. 23 . GaUarel - Op. cil., pg. 136. .. Denis - Op. e loco dI. Gaffarel - Op. e loc. cito Ferno Cardim - Trlltados da T~"a ~ G~t1U do Brasil. Rio, 1925,

    :. 292.

    53

  • se tenha arriscado a colher em sonhos, na rede dos seus ~w_,. aqueies corpos bronzeados e virgens, em vez de atentar no danarfl das selvas, evoluindo ritmicameote, ao som iogouo e rude da brasileira.

    Passamse agora mais de vinte anos sem que tenhamos eocootl1l noticias da ida de ndios para a Europa. Nada, porm, autoria crer que o hbito se tenha interrompido. Ao contrrio, deve ter tinuado como dantes. Apenas no consta mais dos documento! ~poca, porque passara a ser coisa corriqueira. Agora s um ou caso especial ser relerido pelos cronistas.

    Entre semelhantes casos vemos, por exemplo, em 1605, ndio brasileiro que Jean Mocquet levou aos apartamentos de rique IV, que muito se divertiu com ele, principalmente qual nosso selvagem fez, diante do rei, uma demonstrao prtica pela qual as tribos conseguiam acender o fogo cm pleoa selva, meio de um rpido movimento de frico rotativa, da ponta de graveto bem seco, sobre outra supedcie de madeira.

    No ano anterior, em 1604, comearam as curiosas aventuras ndio Yapoco, que passamos a relatar.

    Este jovem cacique, sobrinho de um chefe respeitado, do nome, fora levado da regio amaznica para a Europa, com trs companheiros, a bordo do navio de La Ravard ire, conta Mocquet, que tomou parte nessa viagem. Ficou o Yapoco vivendo em Frana, provavelmente no castelo do seu e protetor, at o ano de 1612 quando, pelo que nos informa Ronci~re, regressou ao Brasi l na expedio de La Ravardire e bordo da nau La Rigente, que vinha comandada por Franois Razilly. Em 1613 voltou com este ltimo senhor e no mesmo para a Frana, onde se encontrou em Paris, com Jean Mocquet, o reconheceu e com ele se entreteve cordialmente. Contou, ento, ndio, as suas aventuras. Disse que voltava ainda uma vez, ao em companhia de um certo capito Ou Sos quando foi vtima ~ um oavio pirata, na costa inglesa, e, depois de vrios incidente! regressou Frana. Dirigiuse, eoto, para o castelo de La Ravardier situado em Poictou, cujo dono estava no Brasil, e obteve consen1 meoto da mulher dele para l permanecer. No tardou muito, que o seu gnio orgulhoso de pequeno cacique se chocasse incompreenso que a castel revelava quanto ao seu nvel e siderao que merecia.

    Mocquct _ Op. cit .. p,. 81. Cbarles de la Roocihe - Histoire de lo Morine Fronroist. Paris, vol. 4, pg. 350.

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    rerta vez um leito caiu dentro do fosso que circundava o castelo. " IRulher de La Ravardi~re incumbiu a um dos seus homens de

    IIflr o porquinho, mas como este no o conseguisse, ordenou a "rlC'lCO que o ajudasse no servio. O nosso ndio recusou secamente, .,Illndo que um trabalho como aquele era indigno de um chefe da

    c.tegoria. Como a senhora o maltratasse, chegando, mesmo, a recolheuse aos seus aposentos, despiuse, a fim de no

    nada da sua ama, e, com absoluta dignidade, desinteressado dos terrenos, que eram conseguidos a custa de tantas humilhaes, ~Ialuse para a cidade de La Rochelle e depois para Paris. Mocquet,

    a histria, levou-o ao Rei Lus XITI, o qual lhe forneceu dinheiro, seguindo ento Yapoco para o Havre, a fim de

    como o lobo de La Fontaine sua selva, onde pelo menos, usava a coleira da servido. Mas a mulher de La Ravardi~re,

    de sbita ternura pelo ndio a quem maltratara, mandou .... ____ _ , de novo, no Havre, provavelmente com promessas e de klnstraes de arrependimento.

    l)i2 Mocquet que, depois disso, perdeu de vista o jovem Yapoco, orgulho amolecera o corao rude da nobre camponesa.

    Sor-beb era um chefe potiguar, que, por ordem do Governador Botelho destruiu um quilombo de negros fugidos, existente na

    Matou muitos pretos e poucos restituiu aos seus senhores, os mais escravizou e vendeu, teodo com o produto dessas comprado cavalo, bandeira, tambor e vestido de seda. Atra

    , ..... ~._ as aldeias de ndios com grande estardalhao, precedido de .ledores, e exigia que os principais das tribos lhe rendessem espe ~.i, homenagens. Contra esses hbitos pomposos e irritantes se ..... ntou o velho cacique Brao de Peixe, que se deixou ficar ostensi

    ~.mente deitado na rede no momento em que o orgulhoso atravessava aldeia. E alegou o velho intratvel que s se levantari a para

    algum quando esse algum viesse para lhe fazer guerra ou uma dama. O despeito do velho potiguar, pela glria do outro,

    disfarava, assim, debaixo de aceitveis sentimentos de cavalhei e galanteria. Mas Sot!S ... beb estava ficando impossvel, mordido

    demnio da ambio. Dava audincia sentado em cadeira coberta pano de cores vivas, era belicoso e ardente, tinha muitas mu

    _._._s (fato que impedia a visita dos padres sua casa, o que muito [O desgostava), e, nos banquetes com que se regalava oferecia finos IL-cpipes aos convivas. Os padres o aconselhavam, mas Sor-beb

    tomava juzo com os conselhos dos padres e tanto se excedeu seus luxos e desmandos, inclusive no da embriaguez, que os

    I reillis, receosos de que a sua presena provocasse agitao e rebeldia

    Mocquct - Op. c loe. cil.

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  • no meio das tribos, O mandaram para Lisboa, em fins de 1603 princpios de 1609, como suspeito de insurreio. Tentaram os carcereiros, por vrias vezes, mat-lo com peonha, mas Sor-bt era atilado e prudente, e, quando lhe punham veneno na gua, a prpria urina, como antdoto. Como receassem que fugisse Lisboa, em algum navio, para o Brasil, foi enviado a E.vora, morreu.

    E aqui termina a histria tragicmica de Sor-beb, o exilado pollico brasileiro.'

    Em 1610, quando La Ravardiere veio. outra vez, em viagem estudos ao Brasil, para lanar as bases da futura colonizao cesa do Maranho, levou, de regresso, alguns "embaixadores" nambs e tabajaras, para que estes servissem de peas de e se entendessem pessoalmente com o Rei Henrique IV. Entrettul os selvagens brasileiros resistiram mal ao clima e travessia, . garam agonizantes a Cancale. Alis, o prprio rei, que, . vezes, Linha se encontrado com ndios do Brasil j fora assassinl havia pouco tempo (maio de 1610).

    Em 1613, a nau La Rgellte, na mesma viagem a que acima referimos, e em que regressou Frana o cacique Yapoco," tambm, os clebres tupinambs a que se refere o padre d'Abbeville e tantos outros escri tores do tempo, e que to extraol nrio sucesso alcanaram em Paris. Eram seis, dos principais nambs do Maranho, e embarcaram com Razilly, a fim de homenagem ao Rei de Frana, bem como lhe oferecer os seus vios, em nome de toda a nao tupinamb, dando, dessa uma demonstrao de que eram sditos reconhecidos da Equinocial. Depois de uma viagem tormentosa, em que se forados a arribar nas costas inglesas, chegaram RazilJy e _ comitiva ao Havre. Desembarcaram os ndios nesse porto, investicl das qualidades de verdadeiros embaixadores e recebidos com as honrarias. Foram conduzidos, preliminarmente, ao 'Palcio do vernador, diante de cuja porta Linha sido colocada uma bela tapel Da seguiram, acompanhados de grande procisso, em que vam muitas confrarias, at a igreja matriz. Durante o percurso vam os canhcs e enorme multido aclamava, nas ruas, os do Novo Mundo. Na entrada da igreja os ndios, para edifica; dos fiis, rezaram, em voz alta, e na sua prpria lngua, a ' Maria e o Padre-Nosso. Depois da missa solene visitaram o vento de freiras de Montvilliers, a pedido da abadessa, Senhora Vitry, porque as religiosas, que no podiam sair em virtude do

    Frei Vicente do Salvador - Op. cil., pgs. 400-403. Charles de Ronciere _ Op. cit., vo!. 4, pg. 349.

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    clausura, manifestavam grande curiosidade de ver os pobres br-,ros americanos. 00 Havre foram os tupinambs levados a Ruo, onde tiveram 11'"' acolhimento, tanto pela nobreza, quanto por toda a populao

    II. cidade, sendo que eles prprios no se fartavam de admirar .'fLlela estranha e requintada civilizao europia. to diferente dos

    primitivos que acabavam de deixar, no Maranho. De partiu a embaixada para Paris, onde o entusiasmo pblico ao paroxismo. As portas da cidade foram os ndios recebidos

    ___ ais de cem padres e, em procisso, com a cruz alada na frente, Mriairam-se para a igreja dos capuchinhos, onde teve lugar o ofcio

    . com a presena de tudo o que havia de mais fino e mais na nobreza de Frana. To grande foi, no entanto, a aglome .~"..~ popular, que tiveram os padres de recolher os tupinambs ao tI'nvento. Eles desfilaram pelas ruas un icamente vestidos das suas plumas e carregando os seus maraes, e bem se pode imaginar o ntusiasmo que causava aquele singular espctculo. Tal foi a nflun-.. de povo que os religiosos, com receio, pediram garantias, e o rei

    de mandar tropa armada para guardar as entradas do edifcio. Claude assegura que nunca nenhum outro episdio provocou

    interesse entre os parisienses. As ruas que conduziam ao con-viviam apinhadas de gente, que a ele se dirigia. O convento, o capuchinho, no era mais uma casa particular, mas uma pblica para a qual convergiam massas populares de vinte ao redor. Afinal tomou-se intil a de[esa das portas, porque

    quando fechadas. eram arrancadas pelas mulLides em delrio, desordens e injrias.

    , Foi nesse ambiente verdadeiramente triunfal que os silvcolas se 41rigiram ao Louvre, a fim de visitar oficialmente o rei. Todas as 'porsonalidades notveis da corte se achavam nas Tulherias na ceri-, da apresentao dos tupinambs, inclusive o ilustre Malherbe,

    fala dos "topinambous" (ortografia mantida tambm no reinado Lus XIV) e das habilidades do famoso intrprete Migan. Diante jovem soberano, e da rainha regente, o ndio Itapueu pronunciou

    discurso em lngua tupi cuja traduo francesa, inserida pelo Claude no seu livro, est longe de ser fiel ao original. O reve-capuchinho se preocupa em amoldar as palavras do selvagem

    desejos e interesses da sua Ordem, conforme se veririca pelo da traduo que apresenta. com a outra, verdadeira, ela-

    recentemente por Rodolfo Garcia. Tambm suprime o padre

    F. Denis, in Notes d YVe.f D'Evreur, op. cil., pAiS. 403 e 404. Rodolfo Garcia - Glossrio das pal(lYras e /ro.res em Ifngutl lup; contjdps

    ms/ria do Pe. Claude d'Ab~vme. (Separata da Rel'. lru/. His/.), pi. 95. 57

  • Claude, no se sabe por que, uma aluso clara que faz o necessidade do rei ir pessoalmente ao Maranho.

    A notcia dessas festas se espalhou rapidamente, e em Roma papa se entreteve a respeito com o embaixador francs. Mas festejos, essas exibies pblicas e essas fadigas excessivas, o tempo traioeiro do fim de inverno parisiense, no haveriam fazer muito bem queles filhos do trpico, habituados a o. a uma vida totalmente diversos. Pouco tempo depois da ndio Caripira, cujo nome de batismo foi Francisco, mas de uma molstia que, pela descrio do padre uma boa pneumonia dupla. E, em poucos dias, morre, receber o batismo e a extrema-uno. Caripira, que j contava de sessenta anos, era tabajara de origem, mas, por assim dizer, ralizado tupinamb, e nesta t.ribo estava, havia vinte anos. Seu foi enterrado no convento dos capuchinhos.

    No mesmo dia do seu enterro cai de cama o pequeno Patua, chamado Jacques, jovem cacique de dezesseis anos, . risica e moral o padre Claude no se farta de louvar. ungido e batizado. Depois de morto enterraram-no com So Francisco.

    O terceiro, chamado Maneo, no batismo Antnio, teve semelhante. Morreu provavelmente pela mesma causa, foi, batizado e ungido, e, fina lmente, enterrado junto aos seus nheiros, com o hbito de franciscano.

    Os t rs sobreviventes foram Itapucu, autor da saudao fei ta rei, que tomou, no batismo, o nome de Lus Maria; Uaroio, chamou Lus Henrique, e Japua, a quem fo i dado o nome de de So Joo. O primeiro parecia ser uma espcie de chefe dos outros, e o padre Claude conta, a seu respeito, algumas interessantes sobre fatos ocorridos em Paris, Existem trs no livro, que representam esses t rs selvagens, aparecendo, vestidos da mesma forma, com os seus trajes batismais, que __ .. tiam numa roupagem longa e rodada, de tafet branco, provida botes de seda do pescoo at os ps, colarinho moda dos VaI. e chapu de copa alta, com pluma. Em todas as gravuras os figurall aparecem tendo na mo um ramo de flores de !is, o que deve balizar a submisso deles Casa de Frana.

    A cerimnia do batismo se efetuou na igreja dos capuchinhos, Faubourg de Saint-Honor, tendo comparecido a ela o Rei Lus _. e a R ainha Regente, Maria de Mdicis, que foram o padrinho . madrinha dos novos cristos. No squito do soberano se encontrava naturalmente, toda a nobreza e os maiores dignitrios do -Quem deu o batismo foi o prprio arcebispo de Paris. Finda a mnia, o orador Itapucu tomou a palavra e, como haveriam de nos sculos seguintes tantos brasi leiros cm tantas emergncias,

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    dYldamente os soberanos e as pessoas presentes, congratulando-se ' t I lvissareiro acontecimento, e pedindo o auxlio do governo de "lia. Em resposta a rainha pronunciou algumas palavras e fez

    , mls promessas vagas. " lada da igreja organizou-se nova procisso, que foi visitar o

    de Santa Clara, porque as reirinhas clarissas, tambm pelo voto de clausura, consumiam-se no desejo de ver de

    aqueles estranhos indivduos, cuja presena estava causando tal em Paris.

    princpios de 1614, a nau La Rgente, a que vrias vezes nos referido, regressa ao Brasil trazendo os nossos trs tupinambs.

    Igora, para coroar deliciosamente a sua histria, eles vm casa-com trs mulheres francesas ."

    dezembro daquele mesmo ano de 1614, depois de sucessivos sofridos pelos franceses, o Sargento--mor Diogo de Campos

    r: ... _- fo i ao Maranho tratar com La Ravardiere as condies do .. ndono da praa pelo invasor. Em So Lus, durante as negocia-

    que conduzia, viu o sargento--mor um espetculo curioso. Conta ~ue, em dado momento vieram saud-lo

    P"" "" .. ~~ vestidos francesa, de cales e casacas curtas de veludo carmesim, .'fleCidas de passamanes de ouro fino, e gibes de tela de ouro fino lavrado,

    douradas e dargas, com talabartes de veludo carmesim lavrados o mais nesta conformidade, at chapus de castor com muitas ~nl" brancas, e bandas de Paris de resplandor de prata lavrada e cruzes de . , ._ . -~scoo como homens de hbi to de So Luis. Traziam consigo

    moas francesas brancas, vestidas de damas, com tais cotas, e adereos, que tudo era seda, guarnio e ouro.

    Ravardiere explica ao sa rgento-mar que eram dois dos trs levados por Razilly F rana, sendo que o terceiro morrera.

    o francs que os selvagens tinham sido, em Paris, recebidos todas as honras, sendo-Ihes, mesmo, conferidas mercs especiais

    o hbito da ordem de S. Lus e o ttulo de Cavaleiro, que era Incio da nobreza. Com eles se gastou mais de dez mil cruzados.

    alis inteis, como inteis foram os festejos e as pompas uma vez que os franceses perdiam a Frana Equinocial.

    H fica-se pensando na sorte que teriam tido aquelas "moas fran-_ brancas", aventurosamente ligadas aos tupinambs e exiladas ~hitamente, em plena barbrie maranhense, longe dos seus compa-

    Claude d'Abbeville _ Hisroiu de la Minion des P~'es Capucins en l'Isle Maragnan er Terres Circonvoisines. Paris, 1922, pgs. 334 a 38 1.

    La Ronci~re - Op. cil~ vaI. IV, pg. 354. Diogo de Campos Moreno - " Jornada do Maranho", in Cndido Men Mem6rias para a Histria do Exrinto Estado do Maranho. Rio, 1874,

    II, pg. 250.

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  • triotas e ao lado daqueles rsticos cavaleiros, mal sados da pofagia para os casacos de veludo carmesim e os chapus de com plumas ...

    Ainda no perodo da ocupao uancesa do Maranho verificou a viagem de um cacique caet, ao qual o Ph_ D'Evreux d o nome de Grand-Raye. Era um ndio honrado, amigo dos franceses. Conta-se dele que, por ocasio do r. __ de uma embarcao em que vinha, salvara a todos os companh. O padre Yves d, no seu livro, o resumo de um discurso caet, feito aos seus companheiros, no qual ele narra as as belezas das cidades de Frana, que visitara.

    A sua permanncia na Europa tinha durado um ano e, rodo, ele aprendera perfeitamente a lngua francesa, que com correo e facilidade.

    Em 1632 um principal dos tupinambs foi batizado e nome de D. Lus de Souza. Nesse ano estava em Lisboa e obter mercs do Rei da Espanha que era, ento, tambm, Portugal. Contra o ambicioso D. Lus de Souza intrigava tenazDl o capito-mor do Par, mas o Conselho de Portugal, despreZl essas influncias, sugeria ao rei espanhol que no tomasse nenh medida COntra o ndio, e, antes, o fizesse regressar, prestigiada Brasil, por ser do interesse da Coroa t-lo ao seu servio. D. Luis de Souza, ndio do Maranho, regressou ao Brasil em panhia de Coelho de Carvalho, que dera informaes favorveis respeito ao rei espanhol.

    O irlands Bernardo O'Brien (o mesmo que faz pitorescas _ laes a propsito das amazonas brasileiras), quando regresS