5
Agravo de Instrumento n. 2012.085256-1, de Blumenau Relator: Des. José Carlos Carstens Köhler AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INTERLOCUTÓRIA QUE DETERMINA A REALIZAÇÃO DE PERÍCIA E ATRIBUI OS HONORÁRIOS DO PERITO À EXECUTADA. IRRESIGNAÇÃO DO CREDOR. PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA POR SIMPLES CÁLCULO QUE SE AFIGURA INCOMPATÍVEL COM A REALIZAÇÃO DE LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO, COM A DETERMINAÇÃO DE PERÍCIA NO CURSO DA EXECUÇÃO E, SOBRETUDO, COM O JULGAMENTO DA IMPUGNAÇÃO POR MERA HOMOLOGAÇÃO DO LAUDO PERICIAL, SEM APRECIAÇÃO DIALÉTICA DAS TESES AVENTADAS PELAS PARTES. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 475-B, 475-J, 475-L E 475-M, TODOS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. POSSIBILIDADE EXCEPCIONAL DE PRODUÇÃO DE PROVA TÉCNICA EM SEDE DE IMPUGNAÇÃO PARA ESCLARECIMENTO DO JUÍZO, QUE, NO ENTANTO, DEMANDA FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA E CONCRETA. INTELECÇÃO DO ART. 93, INCISO IX, DA "CARTA DA PRIMAVERA". CASO CONCRETO EM QUE O MAGISTRADO DE ORIGEM TRAÇA AS DIRETRIZES A SEREM SEGUIDAS PELO VISTOR. SITUAÇÃO QUE AUTORIZA A MANUTENÇÃO DA PROVA PERICIAL, CASO JÁ TENHA SIDO REALIZADA, COMO NORTE NA REALIZAÇÃO DA PENHORA E COMO ELEMENTO SOMATÓRIO NA FORMAÇÃO DO CONVENCIMENTO DO TOGADO POR OCASIÃO DO JULGAMENTO DA IMPUGNAÇÃO. REBELDIA PROVIDA. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n. 2012.085256-1, da 1ª Vara Cível da Comarca de Blumenau, em que é agravante Elmo Strutz, e agravada Brasil Telecom S.A.: A Quarta Câmara de Direito Comercial decidiu, por unanimidade,

Agravo de Instrumento 2012.085256-1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Agravo do TJ-SC

Citation preview

  • Agravo de Instrumento n. 2012.085256-1, de BlumenauRelator: Des. Jos Carlos Carstens Khler

    AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAO AOCUMPRIMENTO DE SENTENA. INTERLOCUTRIA QUEDETERMINA A REALIZAO DE PERCIA E ATRIBUI OSHONORRIOS DO PERITO EXECUTADA. IRRESIGNAODO CREDOR.

    PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENA PORSIMPLES CLCULO QUE SE AFIGURA INCOMPATVEL COMA REALIZAO DE LIQUIDAO POR ARBITRAMENTO, COMA DETERMINAO DE PERCIA NO CURSO DA EXECUOE, SOBRETUDO, COM O JULGAMENTO DA IMPUGNAOPOR MERA HOMOLOGAO DO LAUDO PERICIAL, SEMAPRECIAO DIALTICA DAS TESES AVENTADAS PELASPARTES. INTELIGNCIA DOS ARTS. 475-B, 475-J, 475-L E475-M, TODOS DO CDIGO DE PROCESSO CIVIL.POSSIBILIDADE EXCEPCIONAL DE PRODUO DE PROVATCNICA EM SEDE DE IMPUGNAO PARAESCLARECIMENTO DO JUZO, QUE, NO ENTANTO,DEMANDA FUNDAMENTAO IDNEA E CONCRETA.INTELECO DO ART. 93, INCISO IX, DA "CARTA DAPRIMAVERA". CASO CONCRETO EM QUE O MAGISTRADODE ORIGEM TRAA AS DIRETRIZES A SEREM SEGUIDASPELO VISTOR. SITUAO QUE AUTORIZA A MANUTENODA PROVA PERICIAL, CASO J TENHA SIDO REALIZADA,COMO NORTE NA REALIZAO DA PENHORA E COMOELEMENTO SOMATRIO NA FORMAO DOCONVENCIMENTO DO TOGADO POR OCASIO DOJULGAMENTO DA IMPUGNAO.

    REBELDIA PROVIDA.

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n.2012.085256-1, da 1 Vara Cvel da Comarca de Blumenau, em que agravanteElmo Strutz, e agravada Brasil Telecom S.A.:

    A Quarta Cmara de Direito Comercial decidiu, por unanimidade,

  • conhecer em parte e dar provimento ao Recurso. Custas legais.Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Des.

    Jos Incio Schaefer e Jlio Csar Knoll.Florianpolis, 4 de junho de 2013.

    Carstens KhlerPRESIDENTE E RELATOR

  • RELATRIOElmo Strutz interps Agravo de Instrumento (fls. 2-10), com pedido de

    efeito suspensivo, contra deciso prolatada pelo Magistrado a quo (fls. 90-91) naimpugnao ao cumprimento de sentena autos n. 008.07.023929-8 que, deofcio, determinou a realizao de percia e atribuiu os honorrios periciais Executada.

    Alegou que a realizao de percia despicienda, pois o valor dacondenao pode ser obtido por simples clculo aritmtico. Afirmou que aimpugnao frgil e deve ser rejeitada, pois se trata de mera remisso ao parecercontbil elaborado pelo Assistente Tcnico da R. Ao final, pugnou pelo provimentodo Recurso e requereu a concesso do efeito suspensivo.

    Em deciso unipessoal, o ento Desembargador Relator indeferiu oefeito suspensivo (fls. 98-99).

    Fludo o prazo legal sem a apresentao das contrarrazes (fl. 102), osautos foram redistribudos a esta relatoria.

    o necessrio escoro.VOTO

    cedio que a execuo de provimentos jurisdicionais condenatrioscomo o presente no exige a instaurao da fase procedimental de liquidao desentena seja por arbitramento ou por artigos porquanto a apurao quantitativado quantum debeatur pode ser feita mediante a elaborao de simples clculoaritmtico, nos termos do art. 475-B do Cdigo de Processo Civil.

    Consoante se depreende dos critrios estabelecidos na sentena (fls.23-34) e no acrdo de fls. 36-42, o quantum da obrigao a ser executada pode serextrado da comparao entre o nmero de aes que foram efetivamente subscritas,com base no valor patrimonial incorreto, e a quantidade de valores mobilirios quedeveriam ter sido entregues caso a mesma prestao tivesse levado em conta o valorpatrimonial dos ttulos de investimento calculado com fundamento no balancetemensal correspondente poca da contratao.

    Alm disso, na converso da obrigao de subscrio acionria empecnia, basta multiplicar o nmero de aes encontrado com fundamento nacomparao suso mencionada pelo valor pecunirio adequado para a obteno daquantia correspondente ao dano emergente e ao lucro cessante suportados.

    Por seu turno, a quantia correspondente aos dividendos e sbonificaes pode ser alcanada a partir do cotejo entre o valor efetivamente recebidoa este ttulo pelo Postulante e aqueles que teria percebido se no lhe faltasse pocaos valores mobilirios reconhecidos como devidos pela sentena, mediante juzo deproporo.

    Outrossim, os juros moratrios e a correo monetria so apenaspercentuais que devem ser aplicados sobre o valor encontrado por intermdio doraciocnio expendido.

  • Alis, desnecessria a realizao de prova pericial para apurao domontante exequendo e, como corolrio, a instaurao de liquidao de sentena porarbitramento. Deve a fase expropriatria ser deflagrada desde logo, medianteapresentao de simples clculo aritmtico pelo Credor.

    A propsito, haure-se da jurisprudncia deste Arepago:AGRAVO DE INSTRUMENTO. AO DE ADIMPLEMENTO CONTRATUAL.

    SUBSCRIO DE AES. PROCESSO EM FASE DE CUMPRIMENTO DESENTENA. DIVERGNCIA ENTRE OS CLCULOS. LIQUIDAO DESENTENA POR ARBITRAMENTO. HOMOLOGAO DO LAUDO PERICIAL.INSURGNCIA DA BRASIL TELECOM S.A. QUANTO AO MONTANTE APURADO.INTELIGNCIA DO ART. 475-B CUMULADO COM O ART. 475-L, AMBOS DOCDIGO DE PROCESSO CIVIL. TTULO EXECUTIVO JUDICIAL LQUIDO, CERTOE EXIGVEL. POSSIBILIDADE DE APURAO DO QUANTUM DEBEATUR PORSIMPLES CLCULO ARITMTICO. MOMENTO PROCESSUAL INADEQUADOPARA A HOMOLOGAO DO LAUDO PERICIAL. NULIDADE DOPROCEDIMENTO. NECESSIDADE DE CASSAO DA DECISO COM OCONSEQUENTE PROSSEGUIMENTO DO CUMPRIMENTO DE SENTENA.RECURSO PREJUDICADO.

    (Agravo de Instrumento n. 2011.064145-3, Rel. Des. Raulino Jac Brning, j.24-5-12).

    Pelo mesmo motivo, afigura-se despicienda a realizao de provatcnica quando j iniciado o cumprimento de sentena acompanhado de simplesclculo, haja ou no apresentao de impugnao. Ora, a anlise da ocorrncia, ouno, de excesso de execuo torna-se possvel com fundamento exclusivamente emcmputo aritmtico e, principalmente, sob o prisma das teses e antteses construdasprocessualmente pelas Partes arts. 475-B, 475-J, 475-L e 475-M, todos do CPC.

    O Cdigo de Processo Civil deixa claro que o entendimento segundo oqual, no caso concreto, o cumprimento de sentena deve ser iniciado mngua deprvia liquidao (art. 475-B do CPC) incompossvel com o posicionamento nosentido de que se faz necessria percia (art. 475-C do CPC).

    Ora, havendo dvida acerca da adequao do valor exigido peloExequente, para ser fins de penhora, deve o Magistrado valer-se da permissocontida nos 3 e 4 do art. 475-B do Estatuto Processual Civil. Nessa hiptese,poder ser penhorado o valor indicado pelo contador do juzo, mas a execuocontinuar seu curso considerando o quantum apresentado pelo credor.(destacou-se).

    Face o quadro esmiuado, conclui-se que, em princpio, nos casos emque se afigura aplicvel o cumprimento de sentena acompanhado de simples clculo(art. 475-B do CPC), no se mostra cabvel a prvia liquidao por arbitramento, nema realizao de percia no curso do cumprimento j iniciado haja ou noapresentao de impugnao por parte do Credor tampouco o afastamento dasteses aventadas em impugnao ao cumprimento de sentena por intermdio damera homologao da prova tcnica.

  • Registre-se que, excepcionalmente, admissvel a produo de provapericial no bojo da impugnao ao cumprimento de sentena. No entanto, forosoque tal deciso seja devidamente fundamentada, de modo a explicitar aspeculiaridades do caso concreto que demandam a realizao de percia para asoluo da controvrsia instaurada pelo devedor.

    Para tanto, faz-se mister que o magistrado expressamente consigne queo exame pericial servir somente ao seu esclarecimento, como um elemento a maisdestinado formao de sua convico acerca da plausibilidade da impugnao, eque no se trata de hiptese de instaurao de liquidao por arbitramento por viaoblqua. O laudo pericial no se presta a subsidiar uma deciso judicial meramentehomologatria, que despreze a argumentao jurdica expendida pelos Litigantes, sobpena nulidade absoluta.

    Outrossim, no dado ao Magistrado delegar a funo jurisdicional aoExpert: incumbncia do Togado, jamais do Perito, valorar as provas e decidir, apartir das alegaes contrapostas dos Litigantes, quais os dados devero serconsiderados para subsidiar o clculo. Em tese, a percia contbil tem espaosomente nas hipteses em que o prprio clculo matemtico destinado apurao dovalor exequendo demandar conhecimentos tcnicos especficos.

    No caso concreto, observa-se que embora a R j tenha apresentadosua Impugnao, a penhora ainda no foi realizada, de modo que a prova pericial caso j tenha sido produzida poder ser utilizada pelo Togado a quo para mensuraro quantum a ser penhorado, e como elemento somatrio na formao de seuconvencimento por ocasio do julgamento da Impugnao, pois este tomou o cuidadode fixar as diretrizes a serem seguidas pelo Expert na elaborao do laudo clculodos dividendos, dobra acionria, critrio de converso das aes em valor pecunirio.

    Brota que merece provimento a Insurgncia do Agravante, pois a provapericial realmente no se faz necessria para o julgamento da Impugnao. Porm,considerando que o Juiz de primeiro grau deixou claro que a percia no tem porfinalidade a instaurao de liquidao de sentena, caso a prova j tenha sidorealizada, no h bice para que esta seja utilizada como parmetro para aperfectibilizao da penhora e como elemento auxiliar na formao do convencimentodo Togado no julgamento da Impugnao, oportunidade em que sero enfrentadas asteses arguidas pelos Contendores.

    Por consectrio lgico, e em respeito ao princpio do duplo grau dejurisdio, fica prejudicado o exame das demais matrias arguidas pelo Agravantesobre a improcedncia da Impugnao, pois estas ainda no forma objeto de enfoquepelo Juzo de origem.

    o quanto basta.Ante o exposto, por unanimidade, conhece-se em parte e d-se

    provimento ao Agravo de Instrumento, para afastar a realizao da prova pericial.Comunique-se imediatamente ao Juzo a quo.