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  • A PROTEO FAUNA E BIODIVERSIDADE:O PRINCPIO DA PREVENO E OS POSSVEIS

    EFEITOS NOCIVOS DECORRENTES DA INTRODUO E CRIAO DE TILPIAS

    E BAGRE-DO-CANAL (CATFISH)

    LETCIA AYRES RAMOSAssessora Jurdica - Diviso de Assessoramento Tcnico -

    Ministrio Pblico do Rio Grande do Sul

    DENISE ALMEIDA PIRES DO ROSRIOBiloga - Diviso de Assessoramento Tcnico -

    Ministrio Pblico do Rio Grande do Sul

    ANA MARIA MOREIRA MARCHESANPromotora de Justia - Promotoria de Justia de Defesa do

    Meio Ambiente de Porto Alegre - Ministrio Pblico do Estado do Rio Grande do Sul

    1. INTRODUO1

    O comrcio global tem propiciado, de uma forma sem precedentes, o movi-mento e estabelecimento de espcies ao redor do mundo, beneficiando as socie-dades modernas e enriquecendo a vida das pessoas com o acesso a uma fraomaior da diversidade biolgica. Contudo, algumas espcies exticas conseguemse estabelecer, reproduzir e irradiar em um novo ambiente, tornando-se prejudi-ciais aos ecossistemas, biodiversidade, sade, economia ou a outros inte-resses humanos. Estas espcies so denominadas espcies exticas invasoras, esua identificao e controle vm se tornando um grande desafio2.

    Atualmente, a introduo de espcies exticas invasoras, tambm chamadade poluio biolgica, considerada uma das maiores causas de perda dabiodiversidade3 e uma das grandes ameaas aos ecossistemas, representando

    1 As autoras agradecem aos(s) ictilogos(as) Cristiano Silveira, Daniela Gelain, Fbio Silveira Vilella, Fernando G.Becker e Mnica Brick Peres pela valiosa colaborao neste trabalho.2 McNEELY, J.A.; MOONEY, H.A.; NEVILLE, L.E.; SCHEI, P.J. & WAAGE, J.K. Global strategy on invasive alien spe-cies. Cambridge, IUCN, 2001.3 MOYLE, P.B. & J.E. WILLIAMS. Biodiversity loss in the temperate zone: decline of the native fish fauna of California.Conservation Biology 4(3): 275-284, 1990.

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    problemas custosos e complexos para a maioria das naes4, tantas vezes arcadospela coletividade que, desinformada, acaba absorvendo as externalidades geradaspor atividades arriscadas e danosas ao sensvel equilbrio planetrio.

    Os impactos desta prtica sobre a biota nativa podem variar de mnimos acatastrficos5, uma vez que estas espcies podem causar alteraesecossistmicas6 (como eutrofizao7 e perda de qualidade da gua) e na estruturatrfica das comunidades8, provocar a reduo dos estoques9 das populaesnativas, causar a hibridizao10 com espcies indgenas, competir pelos recursos11

    (alimento, stios de reproduo) utilizados pelas espcies autctones, levar proliferao de outros organismos como pragas, transmitir parasitas epatgenos12 s espcies nativas e aos seres humanos, promover extines13 locaise globais de peixes, anfbios, invertebrados e plantas aquticas. Os diferentesimpactos causados pela introduo de espcies podem interagir entre si e comoutros fatores, como a contaminao dos recursos hdricos e as mudanasclimticas, gerando efeitos sinergticos14, cujos resultados podem serimprevisveis.

    A gravidade dos danos socioambientais decorrentes da introduo deespcies exticas invasoras globalmente reconhecida, o que evidenciado porBecker e Grosser15 em excelente reviso sobre o assunto. Os autores demonstramque a preocupao com as espcies exticas invasoras reflete-se em mais de 45convenes e instrumentos legais internacionais16, no tratamento normativo dadoao tema em diversos pases, nos vrios cdigos de conduta e diretrizes deprocedimentos para anlises de introdues17, na existncia de uma srie depublicaes cientficas especializadas18, na criao do Programa Global de

    4 McNEELY, J.A e outros. 2001. Op. cit.5 COURTENAY, W.R. Jr. Biological pollution through fish introductions. 35-61. In: B.N.McKnight (ed.). Biological pol-lution: the control and impact of invasive exotic species. Indianpolis, Indiana Acad. Sci., 1993.6 AGOSTINHO, A.A. & JULIO Jr., H.F. Ameaa ecolgica. Peixes de outras guas. Cincia Hoje, 21 (124). 1996. p. 38.;WELCOMME, R.I. International Introductions of inland aquatic species. FAO Fisheries Technical Papers (294), 1988. 7 A eutrofizao o enriquecimento da gua com nutrientes importantes para a vegetao, freqentemente associada aolanamento de esgoto ou ao aporte de fertilizantes das lavouras, resultando num crescimento bacteriano excessivo e nadepleo do oxignio (RICKEFS, 2003; p.485). No caso da piscicultura, a eutrofizao est relacionada rao adicio-nada para a alimentao.8 WELCOMME, R.I. 1988. Op. cit.9 AGOSTINHO, A.A. & JULIO Jr., H.F. 1996. Op. cit. p. 38-40.10 AGOSTINHO, A.A. & JULIO Jr., H.F. 1996. Ibidem. p. 41.11 AGOSTINHO, A.A. & JULIO Jr., H.F. 1996. Ibidem. 38; WELCOMME, R.I. 1988. Op. cit.12 AGOSTINHO, A.A. & JULIO Jr., H.F. 1996. Ibidem. p. 41; WELCOMME, R.I. 1988. Op. cit.13 HERNNDEZ, G. Invasores en Mesomrica y El Caribe. San Jos, C.R., UICN, 2002. p. 14; AGOSTINHO, A.A. &JULIO Jr., H.F. 1996. Op. cit. p. 38.14 WELCOMME, R.I. 1988. Op. cit.15 BECKER, F.G. & GROSSER, K.M. Piscicultura e a introduo de espcies de peixes no-nativas no RS: riscos ambien-tais. Parecer Tcnico, Porto Alegre, Fundao Zoobotnica do Rio Grande do Sul, 2003.16 A Conveno sobre a diversidade biolgica (http://www.biodiv.org), a Conveno Internacional de Proteo dosVegetais (http://www.ippc.int) e a Conveno de Ramsar (http://www.ramsar.org) podem ser citadas como exemplos.17 IUCN. IUCN Guidelines for the Prevention of Biodiversity Loss Caused By Alien Invasive Species, 2000.(http://iucn.org/themes/ssc/pubs/policy/invasivesEng.htm); ICES. ICES Code of Practice on the Introduction andTransfers of Marine Organisms, 1994. (http://www.ices.dk/pubs/itmo.pdf); FAO. Code of Conduct for ResponsibleFisheries, 1995. (http://www.fao.org/DOCREP/005/v9878e/v9878e00.htm#92); FAO. Code of Conduct for the Importand Release of Exotic Biological Control Agents, 1996. (http://193.43.36.94/servlet/BinaryDownloaderServlet?filena-me=1027428945171_ispm3_en.pdf&refID=13697);18 Biological Invasions; Diversity and Distributions: a Journal of Biological Invasions and Biodiversity; Aliens Newsletter.

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  • Espcies Invasoras19 e na elaborao de uma srie de bancos de dados20, com oobjetivo de organizar e divulgar informaes sobre as espcies.

    No Rio Grande do Sul, o mexilho-dourado (Limnoperna fortunei) e ocapim annoni (Eragrostis plana) so exemplos bastante preocupantes dasconseqncias ambientais e econmicas da introduo de espcies exticasinvasoras, e demonstram que os prejuzos causados so geralmente irreversveis.Alm disso, as aes de controle e erradicao so incertas e drenam recursosfinanceiros, humanos, logsticos e de pesquisa que poderiam ser utilizados paraoutros objetivos, como o desenvolvimento de tecnologias de produo deespcies nativas21.

    Entre as atividades relacionadas introduo de espcies exticas, apiscicultura considerada o principal mecanismo de disperso de espciesexticas para novos ambientes, pois os escapes dos cativeiros para ambientesabertos so inevitveis, conforme diagnsticos feitos em diversos pases,inclusive no Brasil22. A contaminao dos ambientes naturais pelas espciesintroduzidas para a aqicultura pode ser considerada certa, uma vez que aexperincia demonstra que, mesmo nos caso de confinamento em sistemasfechados, com todas as medidas de segurana e controle conhecidas, os animaiscultivados escapam para os ambientes naturais23.

    Partindo desse acmulo cientfico, passaremos a abordar um caso prticorecentemente ocorrido no Rio Grande do Sul que, em funo da edio de umaportaria expedida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande doSul, publicada em 13.03.03, na qual foi autorizada a introduo do bagre-do-canal (Ictalurus punctatus) e de espcies de tilpias24 na Bacia do Rio Uruguai,para fins de aqicultura, desencadeou a atuao do Ministrio Pblico nas esferasestadual e federal, a fim de evitar a consumao das terrveis conseqncias, japontadas, que poderiam advir da liberao dessas espcies naquele ecossistema.

    2. APRESENTAO DO CASO

    O caso envolve a edio pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente, em 13de outubro de 2003, da Portaria n. 63/03, a qual autoriza a criao das espciesexticas de tilpias e de bagre-do-canal (Ictalurus punctatus) na Bacia doUruguai, reportando-se legislao federal e desde que atendido ao disposto naLei Estadual n. 11.520/00 (Cdigo Estadual de Meio Ambiente do Rio Grandedo Sul), no que concerne ao licenciamento ambiental.

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    19 Global Invasive Species Program (GISP), do qual participam IUCN, GEF, UNEP, UNESCO e outras entidades inter-nacionais. Stio na internet: http://www.gisp.org 20 Global Invasive Species Database (http://www.issg.org/database/welcome) Nonindigenous Fish DistributionInformation (http://nas.er.usgs.gov/fishes/index.html); Aquatic Invasions Research Directory(http://invasions.si.edu/aird.htm).21 BECKER, F.G. & GROSSER, K.M. 2003. Op. cit.22 AGOSTINHO, A.A. & JULIO Jr., H.F. 1996. Op. cit.23 WELCOMME, R.I. 1988. Op. cit.24 Embora a Portaria n 63/03, da SEMA, autorize a introduo de tilpias, de modo genrico, a espcie citada na Portarian 145-N, do IBAMA, a tilpia-niltica (Oreochromis niloticus).

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  • Em nvel federal, o IBAMA editou a Portaria n. 145-N , de 29 de outubrode 1998, que dispe sobre:

    estabelecer normas para a introduo, reintroduo e transferncia depeixes, crustceos, moluscos e macrfitas aquticas para fins de aqicultura,excluindo-se as espcies animais ornamentais (art. 1).

    Tratando especificadamente da introduo de peixes, reza o art. 3 dareferida Portaria:

    Fica proibida a introduo de espcies de peixes de gua doce, bem como demacrfitas de gua doce.

    Por introduo deve-se entender, conforme previso contida no art. 2 dadita Portaria:

    importao de exemplares vivos de espcie extica (e/ou seus hbridos) noencontrada nas guas da UGR onde ser introduzida. (grifamos)

    J por reintroduo disciplina o art. 2 da mencionada Portaria ser a:

    importao de exemplares vivos de espcie extica (e/ou seus hbridos) jencontrada em corpos dgua inseridos na rea de abrangncia da UGR ondeser reintroduzida.

    importante esclarecer o que a Portaria disps sobre a UGR listou a Baciado Uruguai como uma delas:

    UGR: rea abrangida por uma bacia hidrogrfica ou, no caso de guas mari-nhas e estuarinas, faixas de guas litorneas compreendidas entre dois pontosda costa brasileira.

    Atualmente, a questo no Estado ensejou duas iniciativas. Uma delas, porparte da Procuradoria da Repblica do Estado do Rio Grande do Sul, quequestionou, em sede de ao civil pblica25, as duas portarias. At a data defechamento deste trabalho no havia sido deliberado judicialmente acerca damedida liminar que postula pela suspenso dos efeitos das referidas portariasentre outros pedidos. A segunda, encabeada pela Promotoria de Defesa do MeioAmbiente de Porto Alegre, subsidiada por trabalho tcnico oriundo da Diviso deAssessoramento Tcnico, que possui como uma das suas atribuies dar amparotcnico para os Promotores do Estado na matria ambiental, consistiu naexpedio de duas recomendaes, no contexto de um mesmo Inqurito Civil,uma endereada ao Senhor Secretrio Estadual de Meio Ambiente, para querevogasse a Portaria n. 63/03, a fim de que no se perpetuasse a falsa idia de queas criaes de tilpias e bagre-do-canal (catfish) na Bacia do Rio Uruguai, e outraendereada ao Senhor Diretor-Presidente da FEPAM (rgo ambiental estadual),

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    25 Conforme Ao Civil Pblica que tramita na Subseo Judiciria de Passo Fundo de n. 2003.7104018848-0

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  • para que se abstivesse de licenciar tais criaes, de vez que potencialmentecausadoras de danos regionais e at transnacionais. Essa ltima recomendao foiacatada. Em relao primeira, houve silncio por parte do Secretrio do MeioAmbiente, o que tambm comps um quadro favorvel ao ajuizamento, por parteda Procuradoria da Repblica, de uma ao civil pblica contra o Estado do RioGrande do Sul e contra a Unio Federal, nos termos anteriormente expostos.

    3. ANLISE DE ACORDO COM O ORDENAMENTO BRASILEIRO

    Inicialmente, importante plasmar a idia de que estamos frente a um risco,tpico de nossa sociedade contempornea, que deve ser enfrentado pela cincia epelo Direito26. Mas a avaliao jurdica do caso, requer uma viso global doordenamento, enfocado como um todo e coordenado por uma norma maior que a Constituio Federal.

    EROS GRAU, em seu magnfico trabalho A Ordem Econmica naConstituio de 1988, destaca a importncia de que a Constituio no sejainterpretada em tiras, aos pedaos27.

    Ou seja, para anlise de um determinado caso importante que se leve emconsiderao o ordenamento como um todo, sob pena de afrontarmos, merc dasedutora anlise de um dispositivo de aplicao mais direta, normas basilares dosistema - os to festejados (e lamentavelmente pouco observados) PRINCPIOS.Esta diretiva de fundamental importncia no direito ambiental, pois dificilmenteresolvemos um problema sem a anlise sistmica do conjunto normativo,subsdios das disciplinas metajurdicas e contextualizao ftica.

    Para darmos incio ao trabalho, fundamental a referncia ao artigo 225 daConstituio Federal, dispositivo que consubstancia a espinha dorsal de todo osistema jurdico de proteo ao meio ambiente no Brasil, assim vazado:

    Art.225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-seao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para aspresentes e futuras geraes.

    1. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pblico:

    I - preservar e restaurar os processos ecolgicos essenciais e prover o mane-jo ecolgico das espcies e ecossistemas; (...)

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    26 BELLO FILHO enfatiza a importncia do Direito para a sociedade de risco, na medida em que capaz, como reali-dade normativa que - de estabelecer parmetros de atuao que permitam a tomada de decises que envolvam riscos,apenas quando houver um processo de discusso que cria a opo poltica atravs do direito (BELLO FILHO, Ney deBarros. Teoria do Direito e Ecologia: Apontamentos para um Direito Ambiental no Sculo XXI, in Estado de DireitoAmbiental: Tendncias. So Paulo, Editora Forense Universitria, 2004. p. 90).27 GRAU, E.R. A ordem econmica na Constituio de 1988. 1a ed, So Paulo, Revista dos Tribunais, 1990. p. 181.

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  • IV - exigir, na forma da lei, para instalao de obra ou atividade potencial-mente causadora de significativa degradao do meio ambiente, estudo prviode impacto ambiental, a que se dar publicidade; (...)

    VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as prticas que colo-quem em risco sua funo ecolgica, provoquem a extino da espcies ousubmetam os animais crueldade; (...)

    O artigo 225 da Constituio Federal, sem dvida, reflete uma preocupaocom o meio ambiente que no se encontrava expressa nas Constituiesanteriores. Porm, no podemos esquecer que outras idias, aparentementeconflitantes, permeiam o nosso texto constitucional. Esse artigo caracteriza-sepor ser um freio destruio do meio ambiente nos ltimos tempos. Mas eleest inscrito na mesma Carta Legal que protege a livre iniciativa,desenvolvimento econmico, livre emprego, funo social da propriedade, entreoutros. Tais direitos, no raras vezes, entram em rota de coliso expondo amacroconflituosidade caracterstica das questes envolvendo o meio ambiente.

    Pela leitura do art. 225 e seus pargrafos, podemos verificar que oconstituinte objetivou dar contedo proteo do meio ambiente. O contedo seexpressa, entre outras ferramentas, com a numerao exemplificativa dosinstrumentos para a referida proteo. Assim, temos o que o ilustre jurista ErosGrau28 anuncia em seu livro:

    A Constituio, destarte, vigorosa resposta s correntes que propem aexplorao predatria dos recursos naturais, abroqueladas sobre o argumen-to, obscurantista, segundo o qual as preocupaes com a defesa do meioambiente envolvem proposta de retorno barbrie. O captulo VI do seuTtulo VIII, embora integrado por um s artigo e seus pargrafos - justamen-te o art. 225 - bastante avanado.

    Semelhante grau de proteo externado pela Constituio Estadual do RioGrande do Sul, in literis:

    Art. 251: Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo, preser-v-lo e restaur-lo para as presentes e futuras geraes, cabendo a todos exi-gir do Poder Pblico a adoo de medidas nesse sentido.

    1 - Para assegurar a efetividade desse direito, o Estado desenvolver aespermanentes de proteo, restaurao e fiscalizao do meio ambiente, incum-bindo-lhe, primordialmente: (...)

    VII - proteger a flora, a fauna e a paisagem natural, vedadas as prticas que

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    28 GRAU, E.R. Op. cit. p. 255.

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  • coloquem em risco sua funo ecolgica e paisagstica, provoquem extinode espcie ou submetam os animais a crueldade.

    Ao impor a necessidade de preservao e de proteo dos processosnaturais, da flora e da fauna e das funes desempenhadas por essas, oConstituinte, tanto da esfera federal como da estadual, escreve, com foranormativa, o princpio da preveno. Esse basilar em matria ambiental,concernindo prioridade que deve ser dada s medidas que evitem o nascimentode atentados ao ambiente, de molde a reduzir ou eliminar as causas de aessuscetveis de alterar a sua qualidade. A prpria jurisprudncia j vemreconhecendo, inclusive no Estado do Rio Grande do Sul, a eficcia normativa doaludido princpio, in verbis:

    Direito Ambiental. Ao Civil Pblica. Danos causados por invasores emrea de preservao ambiental. Responsabilidade da administrao pblica.(...). Em direito ambiental vige o Princpio da Preveno, que deve atuar comobalizador de qualquer poltica moderna do meio ambiente. As medidas que evi-tam o nascimentos de atentados ao meio ambiente devem ser priorizadas29.

    Considerando a normativa internacional, podemos analisar o caso concretosob a tica da Conveno sobre Diversidade Biolgica, assinada em 05/06/92, eincorporada na Legislao Ptria pelo Decreto Federal no 2.519, de 16/03/1998.A dico do art. 3 impe aos Estados a responsabilidade de assegurar queatividades sob sua jurisdio ou controle no causem dano ao meio ambiente deoutros Estados ou de reas alm dos limites da jurisdio nacional, a par deestabelecer que os Estados signatrios exijam a avaliao de impacto ambientalde seus projetos propostos que possam ter sensveis efeitos negativos nadiversidade biolgica, a fim de evitar ou minimizar tais efeitos e, conforme ocaso, permitir a participao pblica nesses procedimentos e tomemprovidncias adequadas para assegurar que sejam devidamente levadas em contaas conseqncias ambientais de seus programas e polticas que possam tersensveis efeitos negativos na diversidade biolgica (art. 14).

    Em nosso caso, os efeitos transfronteirios so preocupantes. A Bacia doRio Uruguai situa-se nos territrios brasileiro, argentino e uruguaio, abrangendouma rea de aproximadamente 384.000 km2, dos quais 176.000 km2 localizam-se em territrio nacional30. A despeito dos limites polticos, os 130.000 km2 dabacia situados no Rio Grande do Sul integram, de nordeste a sudoeste, anatureza, a economia e a cultura gachas com o estado de Santa Catarina, aArgentina e o Uruguai. Nesta interface to vasta, praticamente impossvelgarantir que a introduo da tilpia e do catfish no RS no afetar os pasesvizinhos, uma vez que as espcies introduzidas em cultivos experimentais,

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    29 Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul, Apelao Cvel n. 598080894, 2 Cmara Cvel, Rel. Des. Arno Werlang, j.em 30.12.1998. 30 Informaes obtidas no stio da ANEEL, em maro de 2004: http://www.aneel.gov.br

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  • comerciais ou em pesque-pagues podem atingir os corpos dgua prximos aoscriadouros de diversas formas. Na piscicultura intensiva, o escape das espciespode ocorrer pelo rompimento, transbordamento ou esvaziamento dos tanquesdurante as atividades normais de manejo. Nos sistemas semi-intensivo eextensivo, as guas muitas vezes so represadas de modo rstico, ao longo doscursos dgua naturais, sendo comum o rompimento das barragens durante ospicos de vazo no previstos31.

    Embora a avaliao dos impactos ambientais da piscicultura de tilpia ebagre-do-canal no mbito da Bacia do Rio Uruguai no tenha ocorrido, os efeitosda introduo destas sobre a diversidade biolgica so conhecidos em outroslocais.

    Becker e Grosser32 citam inmeros estudos acerca dos danos causados pelobagre-do-canal, como a diminuio das populaes de espcies nativas nosestados da Virginia e Maryland33 e no rio Colorado34 (EUA), a predao de umaespcie de r (Rana chiricahuensis), considerada parcialmente responsvel pelodeclnio das populaes desta espcie35, entre outros.

    Courtenay e Taylor36 relatam que, desde a II Guerra, vrias espcies detilpia tm sido cultivadas em regies com condies adequadas de temperatura.Nos locais em que houve o estabelecimento da tilpia, as exploses populacionaisdesta foram acompanhadas do declnio das populaes de peixes nativos, cujosefeitos variaram de moderados a dramticos. Becker e Grosser37 relatam tambmque as tilpias so consideradas graves problemas ambientais em diversos pases,estando proibidas na Austrlia (estados de Western Australia, New South Wales,Victoria) e nos EUA, vrias espcies de tilpia so proibidas ou fortementereguladas em nvel federal ou estadual (nos estados de Minnesota e Oklahoma,por exemplo). Segundo os mesmos autores, impactos ambientais de tilpias no-nativas foram bem documentados no caso dos Grandes Lagos da frica, sendoeste considerado um exemplo clssico das conseqncias da introduo deespcies exticas. Impactos causados pela introduo de tilpias j foramrelatados tambm na Amrica Central, como no caso do Lago da Nicargua, noqual a introduo da tilpia (Oreochromis niloticus) promoveu, em cerca de oitoanos, a reduo de cerca de 80% da biomassa dos cicldeos nativos, o querepresenta a perda de quatro em cada cinco peixes nativos38.

    Em relao s espcies invasoras, especificamente, o artigo 8(h) da

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    31 AGOSTINHO, A.A. & JULIO Jr., H.F. 1996. Op. cit. p. 37.32 BECKER, F.G. & GROSSER,K.M. 2003. Op. cit.33 JENKINS & BURKHEAD, 1994, apud BECKER, F.G. e GROSSER,K.M, 2003. Op. cit.34 DILL, 1944, apud BECKER, F.G. & GROSSER,K.M, 2003. Op. cit.35 ROSEN e outros, 1995, apud BECKER, F.G. e GROSSER,K.M, 2003. Op. cit.36 CORTENAY JR., W.R. & TAYLOR, J.N. The exotic ichthyofauna of the contiguous United Sates with preliminaryobservations on intranational transplants. EIFAC Tech. Pap. 42:466-487, 1984.37 BECKER, F.G. & GROSSER,K.M. 2003. Op. cit.38 HERNNDEZ, G. 2002. Op. cit.

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  • Conveno da Diversidade Biolgica39, determina que se impea a introduo eque se busque o controle e a erradicao de espcies exticas que ameacem osecossistemas, hbitats ou espcies. Ao explorarmos as normas internacionaisacerca da proteo biodiversidade, importante que tenhamos em mente,conforme destacado pelo Prof. GUIDO SOARES,

    que existe um inestimvel valor na biodiversidade, tanto animal quanto vege-tal. A uniformidade um valor de extrema importncia nas atividades indus-triais e econmicas e tanto mais uniformes forem os materiais e os procedi-mentos industriais, mais rapidez e racionalidade na utilizao dos fatores deproduo sero alcanadas40.

    Na natureza, contudo, tal uniformidade indesejvel, uma vez que promovea eroso gentica e reduz a robustez dos ecossistemas, tornando-os maisvulnerveis a distrbios.

    O Decreto Federal no 4.339, de 22/08/2002, que institui os princpios ediretrizes da Poltica Nacional da Biodiversidade, incorpora os princpios daConveno sobre Diversidade Biolgica, determinando, como objetivo especficopara a conservao de ecossistemas, a promoo da preveno, erradicao econtrole de espcies exticas invasoras que possam afetar a biodiversidade (item11.1.13).

    Tambm se impe aluso Lei n. 6938/81, que traz os conceitos dedegradao da qualidade ambiental e de poluio, aquele mais abrangente, esseltimo mais restrito, nos seguintes termos:

    art. 3. (...)II - degradao da qualidade ambiental, a alterao adversa das

    caractersticas do meio ambiente. III - poluio, a degradao da qualidade ambiental resultante de atividades

    que direta ou indiretamente:a) prejudiquem a sade, a segurana e o bem-estar da populao;b) criem condies adversas s atividades sociais e econmicas;c) afetem desfavoravelmente a biota;d) afetem as condies estticas ou sanitrias do meio ambiente;e) lancem matria ou energia em desacordo com os padres ambientais

    estabelecidos;Dos estudos cientficos envolvendo a temtica da introduo das espcies

    antes citadas, possvel prever o que essa representaria para a biota eleita - nocaso, a bacia do Rio Uruguai. Sem qualquer margem a dvidas, essa prtica

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    39 O IUCN assim definiu diversidade biolgica; Diversidade Biolgica significa a variabilidade entre organismos, de todos os luga-res, incluindo os inter alia , terrestres, marinhos e outros ecossistemas e complexos ecolgicos dos quais eles fazem parte (IUCN,1994). Outro conceito nos dado pela Lei 9.985, de 18/07/2000, em seu art. 2o, III: a variabilidade de organismos vivos de todasas origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquticos e os complexos eco-lgicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espcies, entre espcies e de ecossistemas.40 SOARES, G.F.S. A Proteo Internacional do Meio Ambiente. So Paulo, Manole, 2003. p. 128.

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  • redundaria em poluio, com srios danos fauna e flora, gerando, porsinergismo, um total desequilbrio no ambiente.

    Neste contexto, merecem ainda ser ponderados os prejuzos sade e ascondies adversas s atividades sociais e econmicas desencadeadas pelaintroduo de espcies exticas invasoras.

    A introduo de espcies exticas contaminadas com patgenos e parasitaspode promover a infeco/infestao das populaes nativas e dos seres humanos,mesmo que a espcie introduzida no consiga se estabelecer. Conforme oProfessor Dr. Joaber Pereira Jr.41, os peixes constituem, entre os vertebrados, ogrupo mais intensamente parasitado, sendo hospedeiros intermedirios de umnmero significativo de parasitas, muitos j registrados no Brasil. Considerandoque no h legislao regulamentando as formas de acompanhamento do cultivode espcies exticas, no h um sistema de monitoramento que permita o rpidodiagnstico e definio de medidas de controle no caso de proliferao dedoenas, tampouco estrutura fsica e recursos humanos aptos a tal tarefa. Destaforma, qualquer epidemia pode propagar-se depressa em ambientes aquticos,causando impactos ecolgicos, econmicos e sociais. Alm disso, os cursos deVeterinria, cujos profissionais tm a incumbncia da inspeo sanitria dosprodutos de origem animal, no esto preparando seus profissionais para a oreconhecimento de parasitas de peixes, tampouco as escolas de Medicina,Enfermagem, Farmcia e Bioqumica, reas fundamentais para oacompanhamento, diagnose e tratamento de doenas. Tambm deve serponderado que no Brasil, so raros os grupos de pesquisa de doenas parasitriascausadas por microorganismos (protozorios, bactrias, fungos, vrus), o quedificulta uma avaliao segura das doenas introduzidas, tanto por falta deestudos prvios como por dificuldade de acompanhamento sistematizado.

    Os prejuzos causados pela introduo de espcies exticas invasorasconstituem outro aspecto que recomenda a cautela na adoo desta prtica. Osdanos econmicos globais anuais causados pelas espcies exticas invasoras satividades produtivas so estimados em 400 bilhes de dlares42. Alm dosprejuzos diretos nas atividades econmicas, os gastos anuais com controle,erradicao e mitigao dos impactos das espcies exticas invasoras nos EUA,frica do Sul, Reino Unido, Austrlia, Brasil e ndia ultrapassam os 300 bilhesde dlares por ano43.

    Vale tambm ressaltar o teor do Cdigo Estadual do Meio Ambiente do RioGrande do Sul44, pela dico dos seguintes artigos:

    Art. 171: proibida a introduo, transporte, posse e utilizao deespcies de animais silvestres no-autctones no Estado, salvo as autorizadaspelo rgo estadual competente, com rigorosa observncia integridade fsica,

    476 8 CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO AMBIENTAL

    41 PEREIRA Jr., J. Parecer preliminar sobre a introduo de peixes exticos e associaes parasitrias. Parecer Tcnico,Rio Grande, Fundao Universidade Federal do Rio Grande, 2003.42 HERNNDEZ, G. 2002. Op. cit. p. 16. 43 HERNNDEZ, G. 2002. Ibidem. p. 16.44 Lei Estadual n. 11520, de 03 de agosto de 2000.

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  • biolgica e sanitria dos ecossistemas, pessoas, culturas e animais do territrioRio-grandense. 1 - No caso de autorizao legal, os animais devem serobrigatoriamente mantidos em regime de cativeiro, proibido seu repasse aterceiros sem autorizao prvia (...).

    Art. 180:

    Poder ser autorizado o cultivo ou criao de espcies silvestres no-autc-tones ao Estado, ou daquelas com modificaes genotpicas e fenotpicas fixa-das por fora de criao intensiva em cativeiro, obedecidos os dispositivoslegais, em ambiente rigorosamente controlado, comprovado seu benefciosocial, garantindo-se mecanismos que impeam sua interferncia sobre oambiente natural, o ser humano e as espcies autctones, cumpridos os requi-sitos sanitrios concorrentes.

    Conforme o Cdigo Estadual do Meio Ambiente, nos casos em que orgo estadual competente autorizar a introduo de espcies de animais silves-tres no-autctones no Estado, a integridade fsica, biolgica e sanitria dos ecos-sistemas, pessoas, culturas e animais do territrio rio-grandense deve ser rigoro-samente observada.

    De acordo com as informaes apresentadas acima, a introduo da tilpia edo bagre-do-canal pode comprometer a integridade fsica, biolgica e sanitria dosecossistemas, pessoas, culturas e animais. Alm disso, o 1 do art. 171 do Cdigodetermina que os animais sejam obrigatoriamente mantidos em regime de cativeiro,o que parece ser impossvel, uma vez que sempre acabam ocorrendo escapes.

    Ao contrrio de comprovar os benefcios sociais exigidos pelo CdigoEstadual do Meio Ambiente, as informaes existentes reforam os argumentosdesfavorveis autorizao. De acordo com a FAO45 estima-se que mais que 250milhes de pessoas no mundo dependem, de alguma forma, da pesca artesanal,sendo que nos pases em desenvolvimento, como o Brasil, os pescadoresartesanais vivem perto ou abaixo do nvel de subsistncia, estando entre osgrupos socioeconmicos mais pobres que se conhece46. Como o nvelsocioeconmico destas famlias j baixo, qualquer diminuio da renda podecomprometer sua sobrevivncia. No RS, existem mais de 21.000 pescadoresartesanais cadastrados na Secretaria Especial de Aqicultura e Pesca, sem estaremconsiderados, neste cadastro, filhos e mulheres, nem pescadores industriais47.Alm destes, estima-se que sejam gerados 5 empregos indiretos para cadaemprego direto, ampliando para mais de 150.000 o nmero de pessoas quedependem da pesca para a subsistncia48.

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    45 FAO. Report of the Sustainable Fisheries Livelihoods Programme (GCP/INT/735/UK) and FAO Advisory Committeeon Fisheries Research Joint Working Party on Poverty in Small-Scale Fisheries. Promoting the Contribution of theSustainable Livelihoods Approach and the Code of Conduct for Responsible Fisheries in Poverty Alleviation. Rome, 10- 12 April 2002. FAO Fisheries Report. N 678.46 SMITH, 1979, e PANAYOTOU, 1982, apud PERES, M.B. Impactos socioeconmicos: a aquacultura de espcies ex-ticas e a pesca de pequena escala. Parecer Tcnico. Porto Alegre, Fundao Estadual de Proteo Ambiental (FEPAM),2003.47 PERES, M.B. 2003. Op. cit.48 PERES, M.B. 2003. Op. cit.

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  • Em relao aos efeitos sociais, deve ser ponderado que a reduo dosestoques das espcies nativas pela introduo de espcies exticas impeimpactos na atividade pesqueira que afetam no apenas a produo de alimento,mas tambm uma fonte de produo de patrimnio cultural. De acordo comPeres49, a pesca, como atividade humana, gera e mantm nas comunidades depescadores um patrimnio cultural importante, na forma de tecnologiaspatrimoniais, lendas, festas, culinria, conhecimento ecolgico tradicional, almde valores e acordos socioculturais. A reduo ou extino dos recursos naturaisnativos promove a ruptura deste sistema socioecolgico, extinguindo,gradualmente, a cultura local. Na perspectiva inversa, a depleo doconhecimento tradicional das comunidades pesqueiras pode comprometer aindamais a manuteno da biodiversidade regional.

    4. UMA PROPOSTA PARA DECISO NO CASO CONCRETO

    No presente caso, temos duas portarias que esto tratando, em ltimaanlise, sobre a possibilidade ou no de se cultivar determinadas espcies depeixes. A ttulo de preliminar, cabe a anlise da pertinncia do instrumento eleitopara liberar a prtica deletria ao meio ambiente. Segundo BANDEIRA DEMELLO, portaria50 definida como sendo:

    (...)

    b) Portaria - frmula pela qual autoridades de nvel inferior ao de Chefe deExecutivo, sejam de qualquer escalo de comandos que forem, dirigem-se aseus subordinados, transmitindo decises de efeito interno, quer com relaoao andamento das atividades que lhes so afetas, quer com relao vida fun-cional de servidores, ou, at mesmo, por via delas, abrem-se inquritos, sindi-cncias, processos administrativos. Como se v, trata-se de ato formal de con-tedo muito fluido e amplo.

    Apesar do atributo de legitimidade, premissa para a validade do atoadministrativo que o rgo que o edite tenha competncia para faz-lo. No oque visualizamos no caso, haja vista que o interesse envolvido transcende oestadual.

    Ocorre que a Portaria SEMA 63/2003 autoriza a criao de duas espcies depeixes e enfoca o licenciamento ambiental, nos termos do Cdigo Estadual doMeio Ambiente. A referida Portaria disps sobre a bacia do Uruguai, ou sejaregio que, por si s, demanda a participao do IBAMA como rgo competentepara as atividades de licenciamento. Uma anlise rpida j confere a pecha de

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    49 PERES, M.B. 2003. Ibidem.50 Portaria um dos veculos de exteriorizao do ato administrativo, conforme Gasparini, Digenes. DireitoAdministrativo. 8a ed, So Paulo, Saraiva, 2003. p. 89.

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  • invalidade da referida Portaria Estadual, pois assinada por autoridade nocompetente para dispor sobre liberao capaz de causar impactos que suplantama territorialidade estadual . Sobre competncia, ensina, novamente, BANDEIRADE MELLO51:

    Sujeito o produtor do ato. Evidentemente, quem produz um dado ser no seconfunde nem total nem parcialmente com o ser produzido; logo, no pode serdesignado, com prioridade, como elemento dele. (...)

    Sob este tpico - atinente ao sujeito - deve-se estudar a capacidade da pessoajurdica que o praticou, a quantidade de atribuies do rgo que o produziu,a competncia do agente emanador e a existncia ou inexistncia de bices sua atuao no caso concreto.

    (...)

    Claro est que vcio no pressuposto subjetivo acarreta invalidade do ato.

    Ainda com relao s matrias de competncia do IBAMA, ou do rgoestadual, para dispor sobre a matria, cabe a lio de Paulo Rgis da Silva52:

    a) matrias de interesse local, isto , que no extrapolem os limites fsicos doMunicpio, devem ser administradas pelo Executivo Municipal;

    b) quando a matria extrapola os limites fsicos do Municpio, ou seja, os seusefeitos no ficam confinados na rea fsica do Municpio ou envolvam mais deum Municpio, desloca-se a competncia do Executivo Municipal para oExecutivo Estadual;

    c) tratando-se de bens pblicos estaduais e de questes ambientais supramu-nicipais, a competncia ser do Executivo Estadual;

    d) nas hipteses em que as matrias envolvam problemas internacionais depoluio transfronteiria ou duas ou mais unidades federadas brasileiras, acompetncia ser do Executivo Federal.

    Por isso, baseado nos critrios do autor supra mencionado, pode-se concluirque no foi por motivo diverso que a Lei n. 6938/81, seu regulamento e aResoluo do CONAMA n. 237/97 dispem sobre a competncia dos rgosfederal, estadual e municipal aproximadamente nos termos acima dispostos.

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    51 Mello, C.A.B. Curso de Direito Administrativo. 14a ed, So Paulo, Malheiros, 2002. p. 350.52 Silva, P.R.. Repartio constitucional de competncias em matria ambiental. Revista do Ministrio Pblico, PortoAlegre, Nova fase, v.1, n.27, p. 193-199, 1992.

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  • Diz a resoluo:

    Art. 4 - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renovveis - IBAMA, rgo executor do SISNAMA, o licenciamentoambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei n. 6938, de 31 de agosto de 1981,de empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental dembito nacional ou regional, a saber:

    (...)

    II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;

    III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais doPas ou de um ou mais Estados;

    (...)

    Ora, a abrangncia da Portaria cobre a Bacia do Uruguai, o que configu-ra impactos em mais de um Estado, inclusive mais de um pas, o que, certamen-te, justifica a presena do IBAMA como rgo licenciador.

    Pelo que se infere do teor da portaria, podemos concluir que a disposiovisa ao desenvolvimento econmico de uma determinada regio e, nestemomento, nos deparamos com mais de um bem jurdico sendo sopesado.

    Paulo Jos Leite de Farias53 faz uma anlise singular da ponderao de doisbens jurdicos tutelados na Constituio.

    Deve, pois, haver ponderao entre o desenvolvimento econmico e aproteo ambiental no contexto do ordenamento jurdico como um todo, nocomportando antinomias entre normas definitivas. Assim, a contradio entrecontedos de normas abertas, a valorao, no importa eliminao de uma delasdo texto da Constituio, mas apenas harmonizao de interesses em umdeterminado caso concreto.

    O mesmo autor discorre sobre o poder dos princpios:

    Como proposies normativas a conferir parmetros interpretativos do siste-ma normativo, os princpios veiculam valores fundamentais ao sistema, emregra positivados na Constituio. Esse conjunto de princpios permite visouna das regras que integram o ordenamento, por relacion-la por meio de umamesma escala valorativa. De outra parte, os princpios jurdicos, escritos ouimplcitos, conformam e limitam a aplicao de regras jurdicas atinentes vida poltico-econmico-social da nao.

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    53 FARIAS, P.J.L. Competncia Federativa e Proteo Ambiental. Porto Alegre, Srgio Antonio Fabris, 1999. p.269.

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  • Esta unidade nos induz a observar que a proteo ambiental no est slocalizada na ordem social e, isto fica claro na Constituio de 1988, que dispe,em seu artigo 170, a defesa do meio ambiente como princpio informador daordem econmica:

    Art. 170. A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano ena livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conformeos ditames da justia social, observados os seguintes princpios:

    (...)

    VI - defesa do meio ambiente;

    Concordamos com Canotilho54 quando diz que um sistema formadoexclusivamente por regras ou por princpios nos conduziria a uma sistema falhoe inseguro. Assim dizendo, podemos concluir que convivem harmoniosamenteambos, regras e princpios e ser de tarefa dos rbitros do direito aresponsabilidade de conform-los ao caso concreto.

    Vrios so os princpios formadores do direito ambiental, os mais diversosautores arrolam um conjunto deles. Alm do princpio da preveno, jmencionado, acreditamos que, como Derani55, um deles desponta como essencialno direito ambiental: o princpio da precauo. Este princpio corporifica apreocupao da comunidade cientfica no que diz respeito recuperao do meioambiente aps uma agresso. E, no sentido de consagr-lo, que a Declarao doRio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 o erigiu a princpio:

    Com o fim de proteger o meio ambiente, o princpio da precauo dever seramplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades.Quando houver ameaa de danos graves ou irreversveis, a ausncia de certe-za cientfica absoluta no ser utilizada como razo para o adiamento demedidas economicamente viveis para prevenir a degradao ambiental.

    Sem adentramos na discusso acerca das possveis diferenas entreprincpio da precauo e preveno, podemos dizer que, quando h a incerteza dodano ambiental, a precauo que impera e, quando h a certeza, temos apreveno. Acreditamos que a discusso desnecessria, pois o que interessa que, de algum modo, o meio ambiente saia resguardado. A Conveno daDiversidade Biolgica consagra os princpios da precauo e preveno, vedandoprticas que ponham em risco - ainda que desconhecidos - os aspectos essenciaisda fauna e flora e demais elementos integrantes da biota.

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    54 CANOTILHO, J.J.G. apud Farias, P.J.L. 1999. Op. cit. p. 234.55 DERANI, C. Direito ambiental econmico. So Paulo, Max Limonad, 2001. p.169.

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  • A ttulo de reduo, pois impossvel analisar, neste exguo trabalho, todosos princpios que do contedo proteo ao meio ambiente, vamos analisar oprincpio do desenvolvimento sustentvel. Acreditamos que ele resume aponderao dos dois bens envolvidos no caso: desenvolvimento econmico e aproteo ambiental. Desta forma, pretendemos dar um mtodo para a avaliaodo caso concreto e tomadas de atitudes.

    Paulo Jos Leite Farias56, mais uma vez, dispe de maneira interessantecomo devemos compreender este princpio:

    A Constituio de 1988 adotou, como conceito de desenvolvimento sustent-vel, aquele que no permite a privatizao do meio ambiente, prioriza a demo-cratizao do controle sobre o meio ambiente ao definir meio ambiente comobem de uso comum do povo, e exige o controle do capital sobre o meio porintermdio de instrumentos como o Estudo de Impacto Ambiental, e muitosoutros, que chamam a comunidade a decidir. Para uma aplicao eficiente dodesenvolvimento sustentvel faz-se necessrio um levantamento da medida desuporte do ecossistema, ou seja estuda-se a capacidade de regenerao e deabsoro do ecossistema e se estabelece limite para a atividade econmica.Este limite permite que as atividades econmicas no esgotem o meio ambien-te, mas que este seja protegido para o futuro.

    Entretanto, importante mencionar a crtica que Humberto vila faz tcnica de ponderao de valores57:

    A ponderao de valores consiste num mtodo destinado a atribuir pesos aelementos que se entrelaam, sem referncia a pontos de vista materiais queorientem esse sopesamento. Fala-se, aqui e acol, em ponderao de bens, devalores, de princpios, de fins, de interesses. Para este trabalho importanteregistrar que a ponderao, sem uma estrutura e sem critrios materiais, instrumento pouco til para a aplicao do Direito. preciso estruturar aponderao com a insero de critrios. Isso fica evidente quando se verifica queos estudos sobre a ponderao invariavelmente procuram estruturar a ponderaocom os postulados de razoabilidade e de proporcionalidade e direcionar aponderao mediante utilizao dos princpios constitucionais fundamentais,

    O mesmo autor defende a utilizao do postulado da proporcionalidade parao controle dos atos, porm indica para isso uma situao58:

    ... em que h uma relao de causalidade entre dois elementos empiricamentediscernveis, um meio e um fim, de tal sorte que se possa proceder aos trs exa-mes fundamentais: o da adequao (o meio promove um fim?), o da necessida-de (dentre os meios disponveis e igualmente adequados para promover o fim,no h outro meio menos restritivo do(s) direito(s) fundamentais afetados?) e oda proporcionalidade em sentido estrito (as vantagens trazidas pela promoodo fim correspondem s desvantagens provocadas pela adoo do meio ? ).

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    56 FARIAS, P.J.L. 1999. Op. cit. p. 276-277.57 VILA, H. Teoria dos Princpios. 1a.ed, So Paulo, Malheiros, 2003. p. 86.58 Ibidem, p.108.

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  • Vamos, nesta parte final do trabalho, realizar a anlise das portarias emvigor sobre o tema sob a tica da proporcionalidade.

    O meio promove o fim? Ou seja, a edio da Portaria Estadual atinge oobjetivo de proporcionar o desenvolvimento econmico de uma determinadaregio?

    Considerando que sempre h um custo ecolgico associado introduo deespcies exticas invasoras, os benefcios decorrentes da introduo deveriam serevidentes. Em regra, a produo de alimentos, a recreao e o desenvolvimentoeconmico so as razes alegadas para justificar a introduo de espcies.Contudo, no h mecanismos que permitam avaliar a concretizao destesobjetivos. Na realidade, a introduo de cada nova espcie nova no Brasil passouda euforia decepo59. expectativa de alta rentabilidade, normalmentepropagada pelos produtores de alevinos60, apoiados pelos rgos oficiais, sucedeo descrdito dos produtores, o que torna as justificativas para a introduo deespcies exticas ainda mais efmeras.

    Tambm deve ser observado que a introduo das espcies exticasinvasoras pode alterar completamente a estrutura da comunidade biolgica,afetando significativamente a pesca e, conseqentemente, um grupo socialbastante vulnervel.

    Dentre os meio disponveis adequados para promover o fim, no houtro menos restritivo do(s) direito(s) fundamentais afetados?

    Pelo menos dois meios podem ser apreciados para a consecuo da mesmafinalidade. De um modo direto, os riscos ambientais decorrentes da pisciculturacom espcies nativas so sensivelmente reduzidos. Indiretamente, a atuao sobreos diversos efeitos que levam reduo dos estoques pesqueiros nos cursosdgua naturais, desmatamento da vegetao ciliar, a poluio orgnica e qumicae a construo de barragens de usinas hidreltricas, possibilitaria a restaurao dopotencial pesqueiro de nossos rios.

    As vantagens trazidas pela promoo do fim correspondem sdesvantagens provocadas pela adoo do meio?

    Agostinho e Jlio Jr.61 observam que os benefcios de introdues de peixes,quando existem, so imediatos, em regra, enquanto os efeitos nocivos, na maiorparte irreversveis, ocorrem ao longo do tempo. Alm disso, deve ser ponderadoque a introduo das espcies em questo pode causar considerveis prejuzoseconmicos, tanto pela reduo dos estoques pesqueiros, como para o posteriorcontrole e mitigao dos efeitos sobre a biota nativa.Destarte, afigura-se-nos no recomendvel e at reprovvel a autorizao e ofomento da criao dessas espcies, porque se, no curto prazo, essa atividade eco-nmica poder ser positiva para os seus empreendedores, numa perspectiva

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    59 AGOSTINHO, A.A. & JULIO Jr., H.F. 1996. Op. cit. p.43.60 Filhotes de peixes.61 AGOSTINHO, A.A. & JULIO Jr., H.F. 1996. Op. cit. p.44.

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  • ampliada no tempo e no espao, afinada com os princpios da solidariedadeintergeracional e do direito ao desenvolvimento sustentvel, tambm muito carosao Direito Ambiental, certamente produzir efeitos nocivos e possivelmente irre-versveis ao meio ambiente . Considerados estes fatos, percebe-se que a ativida-de da introduo demonstra evidente a desproporcionalidade entre os objetivoseconmicos e os efeitos socioambientais.

    5. CONCLUSES ARTICULADAS

    5.1 A introduo de espcies exticas em qualquer ecossistema deve atentar aodisposto na Constituio Federal, s normas internacionais de proteo biodi-versidade, s normas estaduais que eventualmente disponham sobre o tema, luzdos megaprincpios de Direito Ambiental, especialmente os da preveno, da pre-cauo e do desenvolvimento sustentvel.5.2 Autoridade estadual encarregada de traar polticas ambientais no tem com-petncia para editar atos normativos com possvel repercusso negativa para almda territorialidade estadual. 5.3 Na disputa entre bens jurdicos igualmente protegidos na rbita constitucio-nal, mister que se apliquem os princpios e o critrio da proporcionalidade parasalvaguarda do interesse coletivo.5.4 Em face dos princpios do direito ao desenvolvimento sustentvel e da soli-dariedade intergeracional no se justifica autorizar o desempenho de atividadeeconmica que, mesmo inicialmente agregadora de lucro, no mdio e longo pra-zos apresente danos graves e irreversveis ao sensvel equilbrio ambiental.

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