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Artigo de Alberto Dines sobre o fenômeno Eduardo Cunha e a política brasileira.
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15/02/2015 Alberto Dines: O meteoro Eduardo Cunha | Opinião | EL PAÍS Brasil
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/14/opinion/1423922156_352806.html 1/2
ALBERTO DINES 14 FEB 2015 - 11:55 BRST
COLUNA
O meteoro Eduardo CunhaBastaram duas semanas de atuação para que o novo presidente da Câmara dos Deputados
exibisse o seu arsenal de atributos como caudilho, oligarca e cacique
Arquivado em: Opinião Eduardo Cunha Câmara Deputados Congresso Nacional Brasil
América do Sul América Latina Parlamento América Política
Bastaram duas semanas de atuação para que o novopresidente da Câmara dos Deputados exibisse o seu arsenalde atributos como caudilho, oligarca e cacique. Junto,mostrou como funciona uma blitzkrieg política emambientes dominados pela inércia. Exemplo perfeito dasvirtudes do voluntarismo onde campeia a apatia. Asupremacia da onipotência sobre a impotência, domandonismo escancarado sobre desmandos sussurrados.
Führer típico, determinado, ídolo dos medíocres, aliadopredileto dos pusilânimes. No mostruário de liderançasfornecido pela Revolução Francesa, situase entre GeorgesDanton, o demagogo audacioso e Joseph Fouché, oconspiradormanipulador, eterno sobrevivente, sacerdotecapaz de fingirse ateu para ganhar mais poder. Comparadocom antigos parceiros como Collor e Garotinho, é umprofissional padrão “Intocável”, tal como Daniel Dantas eoutros exassociados.
Eduardo Cunha é, neste exato momento, o político maispoderoso do país. Muito mais eficaz do que o partido queelegeu e reelegeu os dois últimos presidentes, mais safo eesperto do que o presidente honorário da sua agremiação evicepresidente da República com uma só cartadaconverteu Michel Temer em volumemorto e a presidentereeleita, a durona Dilma Rousseff, em figura decorativa.
Quando operava na esfera estadual metiase em constantestrapalhadas, chegou a sofrer um atentado e foi acusado defazer negócios com famoso narcotraficante. Carioca quejoga pesado, não brinca em serviço, foi quem descobriu umerro na documentação eleitoral do animador Sílvio Santos eassim tirouo da corrida presidencial.
Ao ingressar na esfera federal(2003), percebeu o alcance dos
novos holofotes, mudou o estilo, guardou a metralhadora,passou a servirse de fuzis de precisão não errou um tiro.Em apenas 12 anos, foi alçado ao Olimpo. O expresidenteLula não ousa desafiálo: recomendou publicamente àsucessora uma reconciliação.
Forte candidato a converterse no primeiro déspotaparlamentar, símbolo das deformadas democraciasrepresentativas do século XXI que fundiram ocorporativismo de Mussolini com um bolchevismo de
OPINIÃO
15/02/2015 Alberto Dines: O meteoro Eduardo Cunha | Opinião | EL PAÍS Brasil
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direita, messiânico. Preside a Casa do Povo, mas nãoconsegue esconder a forte vocação autoritária e o gosto peloexercício do poder absoluto. Já passou por três partidos PRN, PPBPP e PMDB, este o mais “progressista”. Naverdade é um espécime legítimo da era pósideológica,conservador, populista que poderá até proclamarseparlamentarista para mais rapidamente tomar o poder.
Sua adesão ao ideário evangélico e a obsessão emimplementalo a qualquer preço, faz dele um exemplarcalvinista. Como operador, porém, prefere a lógica docapitalismo.
A promessa de impedir qualquer tentativa de regulação damídia (como deseja parte do PT), nada tem de devoção àliberdade de imprensa. Qualquer projeto que corrijadistorções no sistema midiático, por mais leve que seja,passaria obrigatoriamente pela anulação de concessões derádio e TV a parlamentares e pela proibição de cultosreligiosos nas emissoras de TV aberta – largamenteutilizados por confissões religiosas, especialmenteevangélicas. Na última semana criou um comissariado paraunificar a orientação dos diversos veículos da Câmara(jornal diário, rádio, portal e TV).
Além das obsessões e preparo físico, ostenta umdesembaraço verbal de radialista, suficiente para nãocometer gafes grosseiras. Engravatado, certinho, sem barbanem bigode, óculos leves, passa a imagem de confiável,protetor, bom vizinho, bom burguês, capaz de sonhar comrupturas, mas não com o caos. Numa coleção de dez fotostomadas já na presidência da Câmara, cinco delasmostravamno com a mão na boca, truque que até jogar defutebol apreendeu para não ser surpreendido por expertsem linguagem labial.
Meteoro fascinante para acompanhar, preocupante comodono do poder.
© EDICIONES EL PAÍS, S.L.