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Revista Brasileira de Educação 5 As atuais tendências emergentes no âmbito da cultura e da ação juvenil têm que ser entendidas a partir de uma perspectiva macro-sociológica e, si- multaneamente, através da consideração de expe- riências individuais na vida diária. Neste ensaio, tentarei integrar esses dois níveis de análise e pro- porei que: 1) conflitos e movimentos sociais em socieda- des complexas mudam do plano material para o plano simbólico; 2) a experiência do tempo é um problema cen- tral, um dilema central; 3) pessoas jovens, e particularmente adolescen- tes, são atores-chaves do ponto de vista da questão do tempo em sociedades complexas. Da ação efetiva ao desafio simbólico Vivemos em uma sociedade que concebe a si mesma como construída pela ação humana. Em sis- temas contemporâneos, a produção material é trans- formada em produção de signos e de relações sociais. Uma codificação socialmente produzida intervém Juventude, tempo e movimentos sociais Alberto Melucci Universidade degli Studi di Milano Tradução de Angelina Teixeira Peralva Publicado em: Revista Young. Estocolmo: v. 4, nº 2, 1996, p. 3-14. na definição do eu, afetando as estruturas biológi- ca e motivacional da ação humana. Ao mesmo tem- po, existe uma crescente possibilidade, para os ato- res sociais, de controlarem as condições de forma- ção e as orientações de suas ações. A experiência é cada vez mais construída por meio de investimen- tos cognitivos, culturais e materiais. Tais processos, de caráter sistêmico, são diretamente vinculados às transformações, pela produção de recursos que tor- nam possível a sistemas de informação de alta den- sidade manterem-se e modificarem-se. A tarefa não é somente da ordem da domina- ção da natureza e da transformação de matéria- prima em mercadoria, mas sim do desenvolvimen- to da capacidade reflexiva do eu de produzir infor- mação, comunicação, sociabilidade, com um au- mento progressivo na intervenção do sistema na sua própria ação e na maneira de percebê-la e repre- sentá-la. Podemos mesmo falar de produção da reprodução. Tome-se o exemplo dos processos de sociali- zação: o que foi considerado no passado como trans- missão básica de regras e valores da sociedade é

ALBERTO_MELUCCI - Juventude Tempo e Movimentos Sociais

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Revista Brasileira de Educação 5

As atuais tendências emergentes no âmbito dacultura e da ação juvenil têm que ser entendidas apartir de uma perspectiva macro-sociológica e, si-multaneamente, através da consideração de expe-riências individuais na vida diária. Neste ensaio,tentarei integrar esses dois níveis de análise e pro-porei que:

1) conflitos e movimentos sociais em socieda-des complexas mudam do plano material para oplano simbólico;

2) a experiência do tempo é um problema cen-tral, um dilema central;

3) pessoas jovens, e particularmente adolescen-tes, são atores-chaves do ponto de vista da questãodo tempo em sociedades complexas.

Da ação efetiva ao desafio simbólico

Vivemos em uma sociedade que concebe a simesma como construída pela ação humana. Em sis-temas contemporâneos, a produção material é trans-formada em produção de signos e de relações sociais.Uma codificação socialmente produzida intervém

Juventude, tempo e movimentos sociais

Alberto MelucciUniversidade degli Studi di Milano

Tradução de Angelina Teixeira PeralvaPublicado em: Revista Young. Estocolmo: v. 4, nº 2, 1996, p. 3-14.

na definição do eu, afetando as estruturas biológi-ca e motivacional da ação humana. Ao mesmo tem-po, existe uma crescente possibilidade, para os ato-res sociais, de controlarem as condições de forma-ção e as orientações de suas ações. A experiência écada vez mais construída por meio de investimen-tos cognitivos, culturais e materiais. Tais processos,de caráter sistêmico, são diretamente vinculados àstransformações, pela produção de recursos que tor-nam possível a sistemas de informação de alta den-sidade manterem-se e modificarem-se.

A tarefa não é somente da ordem da domina-ção da natureza e da transformação de matéria-prima em mercadoria, mas sim do desenvolvimen-to da capacidade reflexiva do eu de produzir infor-mação, comunicação, sociabilidade, com um au-mento progressivo na intervenção do sistema na suaprópria ação e na maneira de percebê-la e repre-sentá-la. Podemos mesmo falar de produção dareprodução.

Tome-se o exemplo dos processos de sociali-zação: o que foi considerado no passado como trans-missão básica de regras e valores da sociedade é

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agora visto como possibilidade de redefinição e in-venção das capacidades “formais” de aprendizado,habilidades cognitivas, criatividade. Do ponto devista do planejamento demográfico e da biogenéticao que era considerado reprodução de aspectos na-turais de um sistema tornou-se um campo de inter-venção social. A ciência desenvolve a capacidadeauto reflexiva de modificação da “natureza inter-na”, das raízes biológicas, cognitivas e motivacio-nais da ação humana.

Isto revela os dois lados da mudança na nos-sa sociedade. Por um lado, existe um aumento dacapacidade social de ação e de intervenção na açãoenquanto tal, nas suas pré-condições e raízes; e poroutro, a produção de significados está marcada pelanecessidade de controle e regulação sistêmica.

Os indivíduos percebem uma extensão do po-tencial de ação orientada e significativa de que dis-põem, mas também se dão conta de que tal possi-bilidade lhes escapa, graças a uma regulação capi-lar de suas capacidades de ação, que afeta suas raí-zes motivacionais e suas formas de comunicação.Os sistemas complexos nos quais vivemos consti-tuem redes de informação de alta densidade e têmque contar com um certo grau de autonomia de seuselementos. Sem o desenvolvimento das capacidadesformais de aprender e agir (aprendendo a aprender),indivíduos e grupos não poderiam funcionar comoterminais de redes de informação, as quais têm queser confiáveis e capazes de auto-regulação. Ao mes-mo tempo, seja como for, uma diferenciação pro-nunciada demanda maior integração e intensifica-ção do controle, que se desloca do conteúdo parao código, do comportamento para a pré-condiçãoda ação.

O que eu quero dizer é que sociedade não é atradução monolítica de um poder dominante e deregras culturais na vida das pessoas, ela lembra umcampo interdependente constituído por conflitos econtinuamente preenchido por significados cultu-rais opostos. Os conflitos se desenvolvem naquelasáreas do sistema mais diretamente expostas aosmaiores investimentos simbólicos e informacionais,ao mesmo tempo sujeitas às maiores pressões por

conformidade. Os atores nesses conflitos são aque-les grupos sociais mais diretamente expostos aosprocessos que indiquei; eles são cada vez mais tem-porários e sua ação serve de indicador, como sefosse uma mensagem enviada à sociedade, a respeitode seus problemas cruciais.

A maneira pela qual os conflitos se expressamnão é, de qualquer forma, a da ação ‘efetiva’. De-safios manifestam-se através de uma reversão decódigos culturais, tendo então basicamente um “ca-ráter formal”. Nos sistemas comtemporâneos ossignos tornaram-se intercambiáveis: o poder apoia-se de forma crecente nos códigos que regulam o flu-xo de informação. A ação coletiva de tipo antago-nista é uma forma, a qual, pela sua própria existên-cia, com seus próprios modelos de organização e ex-pressão, transmite uma mensagem para o resto dasociedade. Os objetivos instrumentais típicos de açãopolítica não desaparecem, mas tornam-se pontuais,e em certa medida, substituíveis. Eu chamo essasformas de ação desafios simbólicos. Elas afetam asinstituições políticas, porque modernizam a cultu-ra e a organização dessas instituições, e influenciama seleção de novas elites. Mas ao mesmo tempo le-vantam questões obscurecidas pela lógica dominan-te da eficiência. Trata-se de uma lógica de meios:requer aplicação e operacionalização de decisõestomadas em nível de aparelhos anônimos e impes-soais. Mais uma vez os atores através dos conflitoscolocam na ordem do dia a questão dos fins e dosignificado.

Mas pode-se continuar a falar de “movimen-tos” quando a ação se refere a significados, a desa-fios face aos códigos dominantes que dão forma àexperiência humana? Mais apropriado seria falarde redes conflituosas que são formas de produçãocultural.

Experiência de tempo

Em uma sociedade que está quase que inteira-mente construída por nossos investimentos cultu-rais simbólicos, tempo é uma das categorias bási-cas através da qual nós construímos nossa experiên-

Alberto Melucci

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cia. Hoje, o tempo se torna uma questão-chave nosconflitos sociais e na mudança social. A juventudeque se situa, biológica e culturalmente, em uma ín-tima relação com o tempo, representa um ator cru-cial, interpretando e traduzindo para o resto da so-ciedade um dos seus dilemas conflituais básicos.

Viemos de um modelo de sociedade, o capita-lismo industrial, no qual o tempo era consideradoem termos de duas referências fundamentais. A pri-meira é a máquina. O tempo que a sociedade mo-derna conhece é medido por máquinas: relógios sãomáquinas por excelência. A máquina cria uma novadimensão do tempo: não mais “natural” (isto é,marcado somente pelos ciclos do dia e noite, as es-tações, nascimento e morte) e não mais “subjeti-vo”(isto é, ligado à percepção e experiência dos ato-res humanos). O tempo da máquina é um produtoartificial que tem a objetividade de uma coisa. Étambém uma medida universal que permite compa-ração e troca de desempenhos e recompensas, atra-vés do dinheiro e do mercado. Tempo é uma medi-da de quantidade: nos ritmos diários de trabalhocomo nos balancetes anuais das empresas. Aliás, emqualquer cálculo pautado na racionalidade instru-mental, a máquina estabelece uma continuidade en-tre tempo individual e tempo social.

A segunda característica da experiência moder-na de tempo é uma orientação finalista: tempo temdireção e o seu significado só se torna inteligível apartir de um ponto final, o fim da história. A pró-pria idéia de um curso da história, a ênfase com quea sociedade industrial tratou a história, deriva deum modelo de tempo que pressupõe uma orienta-ção para um fim: progresso, revolução, riqueza dasnações ou a salvação da humanidade (um tempolinear que se move em direção a um fim é a últimaherança dessacralizada de um tempo cristão). Existeentão uma unidade e uma orientação linear do tem-po; e o que ocorre nele, o que o indivíduo experi-menta, adquire sentido em relação ao ponto final:todas as passagens intermediárias são medidas emrelação com o final do tempo.

Na situação presente, podemos perceber nos-sa distância com respeito a esse modelo porque a

diferenciação das nossas experiências do tempo estáaumentando. Os tempos que nós experimentamossão muito diferentes uns dos outros e às vezes pa-recem até opostos. Há tempos muito difíceis de me-dir — tempos diluídos e tempos extremamente con-centrados. Pense na multiplicidade de tempos queimagens (televisão, gráficos, propaganda) introdu-zem na nossa vida diária. Isto também significa se-parações, interrupções mais definidas que no pas-sado — muito mais perceptíveis do que em estru-turas sociais relativamente homogêneas — entre osdiferentes tempos em que nós vivemos.

Existe particularmente uma clara separaçãoentre tempos interiores (tempos que cada indivíduovive sua experiência interna, afeições, emoções) etempos exteriores marcados por ritmos diferentese regulado pelas múltiplas esferas de pertencimentode cada indivíduo. A presença dessas diferentes ex-periências temporais não é novidade, mas certamen-te em uma sociedade rural ou mesmo na sociedadeindustrial do século XIX, existiu uma certa integra-ção, uma certa proximidade entre experiências sub-jetivas e tempos sociais, e entre os vários níveis dostempos sociais. Em sistemas mais altamente diferen-ciados, a descontinuidade tornou-se uma experiên-cia comum.

Tais mudanças refletem tendências amplas nosentido de uma extensão artificial das dimensõessubjetivas do tempo por meio de estímulos parti-culares ou de situações construídas. Uma experiên-cia comum de dilatação forçada do tempo internoé produzida por drogas. Drogas ocupam um lugarimportante em sociedades tradicionais, mas nos li-mites de uma ordem que lhes atribui uma funçãoespecífica. Não há separação entre a droga ritualdos índios americanos e seu papel na vida social ena vida interior dos indivíduos. Essa “fratura” ri-tual permitida, essa dilatação do tempo subjetivoinduzida pela droga, é parte de uma ordem sagra-da e contribui para a reafirmação de um equilíbrioentre a vida social e o espaço assegurado ao indiví-duo no grupo.

Nas nossas sociedades, no entanto, o extremoexemplo das drogas representa um sinal dramáti-

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co, o mais significativo e ambíguo sintoma de dife-rença entre tempo externo e tempo interno. Masexiste também, embora em uma escala menos dra-mática, um aumento de oportunidades artificial-mente construídas para viver e experimentar emo-ções livres dos limites do tempo social: desde o tu-rismo exótico ou experiências de “liberação” docorpo até os paraísos totalitários das seitas neo-místicas. A ambivalência desses fenômenos deve sersublinhada. Eles são sinais de uma tensão não re-solvida entre os múltiplos tempos da experiênciacotidiana.

A diferenciação do tempo produz alguns pro-blemas novos. Aumenta, em primeiro lugar, a difi-culdade em reduzir tempos diferentes para a homo-geneidade de uma medida geral. Mas existe tambémuma acentuação da necessidade de integrar essasdiferenças, tanto em um nível coletivo, quanto,acima de tudo, dentro da unidade de uma biogra-fia individual e de um “sujeito” da ação dotado deidentidade (Melucci, 1996a; Csikzentmihalyi, 1988e 1991).

Além disso, um tempo diferenciado é cada vezmais um tempo sem uma história, ou melhor, umtempo de muitas histórias relativamente indepen-dentes. Então é também um tempo sem um finaldefinitivo, o que faz do presente uma medida ines-timável do significado da experiência de cada umde nós. Por último, um tempo múltiplo e descontí-nuo indubitavelmente revela seu caráter ‘construí-do’ de produto cultural. A fábrica industrial já can-celou o ciclo natural de dia e noite. Agora todos osoutros tempos da natureza estão perdendo sua con-sistência. A experiência das estações se dissolve nasmesas de nossas salas de jantar, onde a comida per-de qualquer referência a ciclos sazonais, ou em nos-sas férias, que nos oferecem um sol tropical ou nevedurante todo o ano. Até o nascimento ou a morte,eventos por excelência do tempo natural estão per-dendo sua natureza de necessidade biológica, tor-nando-se produtos de intervenção médica e social.

A definição de tempo torna-se uma questãosocial, um campo cultural e conflitivo no qual estáem jogo o próprio significado da experiência tem-

poral. Como medir o tempo? Quando será encon-trado o significado ‘certo’ para o tempo individuale coletivo? Como podemos preservar nosso passa-do e preparar o nosso futuro em sociedades com-plexas? Tais questões sem respostas são alguns dosdilemas básicos com os quais se confronta a vidahumana em sociedades complexas.

A juventude, por causa de suas condições cul-turais e biológicas, é o grupo social mais diretamen-te exposto a estes dilemas, o grupo que os tornavisíveis para a sociedade como um todo.

Adolescência e tempo

Adolescência é a idade na vida em que se co-meça a enfrentar o tempo como uma dimensão sig-nificativa e contraditória da identidade. A adoles-cência, na qual a infância é deixada para trás e osprimeiros passos são dados em direção à fase adulta,inaugura a juventude e constitui sua fase inicial. Estaelementar observação é suficiente para ilustrar oentrelaçamento de planos temporais e a importân-cia da dimensão do tempo nesta fase da vida (Le-vinson, 1978; Coleman, 1987; Hopkins, 1983;Montagnar, 1983; Savin Williams, 1987; Schave,1989). Não há dúvida que, se a experiência do en-velhecimento está sempre relacionada com o tem-po, é durante a adolescência que essa relação setorna consciente e assume conotações emocionais.Pesquisas psicológicas e psico-sociológicas têm tidouma atenção toda especial durante os últimos anospara com a perspectiva temporal do adolescente(Tromsdorff et al., 1979; Palmonari, 1979; Nuttin,1980; Ricolfi & Sciolla, 1980 e 1990; Offer, 1981e 1988; Cavalli, 1985; Ricci Bitti et al., 1985; Ana-trlla, 1988; Fabbrini & Melucci, 1991).

Uma análise em termos de perspectiva tempo-ral considera o tempo como um horizonte no qualo indivíduo ordena suas escolhas e comportamen-to, construindo um complexo de pontos de referên-cia para suas ações. A maneira como a experiênciado tempo é vivenciada vai depender de fatores cog-nitivos, emocionais e motivacionais os quais gover-nam o modo como o indivíduo organiza o seu “es-

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tar na terra”. Nesse sentido, atitudes relacionadascom várias fases temporais podem ser levadas emconsideração (ex. satisfação ou frustração, abertu-ra ou fechamento com respeito ao passado, presenteou futuro); ou a direção que cada pessoa atribuipara a sua própria experiência do tempo (ex. pre-ferência por uma orientação direcionada para umaou outras fases temporais); ou o grau de extensãoassumido pelo horizonte temporal para cada indi-víduo (ex. perspectiva ampla ou limitada, contínuaou fragmentada). A organização de eventos e suaseqüência, a relação entre eventos externos e inter-nos, o grau de investimento emocional em váriassituações — tudo se torna meio de organizar a pró-pria biografia e definir a própria identidade.

A perspectiva temporal do adolescente tornou-se um tema interessante de pesquisa, porque a bio-grafia dos dia de hoje tornou-se menos previsível,e os projetos de vida passaram mais do que nuncaa depender da escolha autônoma do indivíduo. Nassociedades do passado, a incerteza quanto ao futuropodia ser o resultado de eventos aleatórios e in-controláveis (epidemia, guerra, colapso econômico),mas raramente envolvia a posição de cada um navida, a qual era determinada pelo nascimento e setornava previsível pela história da família e o con-texto social. Para o adolescente moderno, por ou-tro lado, a relativa incerteza da idade é multiplicadapor outros tipos de incerteza que derivam simples-mente dessa ampliação de perspectivas: a disponi-bilidade de possibilidades sociais, a variedade decenários nos quais as escolhas podem ser situadas.

A pesquisa indica várias tendências. A adoles-cência é a idade em que a orientação para o futuroprevalece e o futuro é percebido como apresentan-do um maior número de possibilidades. Uma pers-pectiva temporal aberta corresponde a uma forteorientação para a auto-realização, resistência con-tra qualquer determinação externa dos projetos devida e desejo de uma certa variabilidade e rever-sibilidade de escolha. Em comparação com o pas-sado, a tendência aponta no sentido de uma redu-ção dos limites da memória e de se considerar opassado como um fator limitativo, acima de tudo.

Tais resultados de pesquisas sugeririam que aperspectiva temporal do adolescente constitui umponto de observação favorável para o estudo damaneira pela qual nossa cultura está organizandoa experiência do tempo. Na sociedade contempo-rânea, de fato, a juventude não é mais somente umacondição biológica mas uma definição cultural. In-certeza, mobilidade, transitoriedade, abertura paramudança todos os atributos tradicionais da adoles-cência como fase de transição, parecem ter se des-locado bem além dos limites biológicos para torna-rem-se conotações culturais de amplo significadoque os indivíduos assumem como parte de sua per-sonalidade em muitos estágios da vida (Mitterauer,1986; Ziehe, 1991). Nesse sentido, a adolescênciaparece estender-se acima das definições em termosde idade e começa a coincidir com a suspensão deum compromisso estável, com um tipo de aproxima-ção nômade em relação ao tempo, espaço e cultura.Estilos de roupas, gêneros musicais, participação emgrupos, funcionam como linguagens temporárias eprovisórias com as quais o indivíduo se identificae manda sinais de reconhecimento para outros.

Na opinião que prevalece nos dias de hoje, serjovem parece significar plenitude como o oposto devazio, possibilidades amplas, saturação de presen-ça. A vida social é hoje dividida em múltiplas zo-nas de experiência, cada qual caracterizada por for-mas específicas de relacionamento, linguagem e re-gras. Complexidade e diferenciação parecem abriro campo do possível a tal ponto que a capacidadeindividual para empreender ações não se mostra àaltura das potencialidades da situação. Esse exces-so de possibilidades, que nossa cultura engendra,amplia o limite do imaginário e incorpora ao hori-zonte simbólico regiões inteiras de experiência queforam previamente determinadas por fatores bio-lógicos, físicos ou materiais. Nesse sentido, a expe-riência é cada vez menos uma realidade transmiti-da e cada vez mais uma realidade construída comrepresentações e relacionamentos: menos algo parase “ter” e mais algo para se “fazer”.

O adolescente percebe os efeitos dessa amplia-ção de possibilidades da maneira mais direta atra-

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vés de uma expansão dos campos cognitivo e emo-cional (tudo pode ser conhecido, tudo pode ser ten-tado); a reversibilidade de escolhas e decisões (tudose pode mudar); a substituição de constructos sim-bólicos pelo conteúdo material da experiência (tudopode ser imaginado).

O que acontece com a experiência? Ultrapas-sada e invadida pelo apelo simbólico da possibili-dade, ela ameaça se perder em um presente ilimi-tado, sem raízes, devido à uma memória pobre, compouca esperança para o futuro como todos os pro-dutos do desencanto. A experiência se dissolve noimaginário, mas o teste de realidade, na sua dure-za, produz frustração, tédio e perda de motivação.

Os novos sofrimentos, as novas patologias dosadolescentes, estão relacionadas com o risco de umadissolução da perspectiva temporal (Laufer, 1975;Copley, 1976; Selvini Palazzoli, 1984; Lawton, 1985;Meredith,1986; Noonan,1989). Presenças como acapacidade de atribuir sentido às próprias ações ede povoar o horizonte temporal com conexões entretempos e planos de experiências diferentes, são frá-geis e pouco sólidas. Exatamente ali onde a abundân-cia, a plenitude e capacidade de realização parecemreinar, nós nos deparamos com o vazio, a repetiçãoe a perda do senso de realidade. Um tempo de pos-sibilidades excessivas torna-se possibilidade sem tem-po, isto é, simplesmente um mero fantasma da dura-ção, uma chance fantasma. O tempo pode se tornarum invólucro vazio, uma espera sem fim por Godot.

Na experiência dos adolescentes de hoje, a ne-cessidade de testar limites tornou-se uma condiçãode sobrevivência do sentido. Sem atingir-se o limi-te não pode haver experiência ou comunicação; sema consciência da perda da existência do outro, comodimensões que compõem o estar-na-terra, não podehaver ação dotada de significado ou possibilidadede manter uma relação com outros.

Consciência do limite, o cansaço produzidopelo esforço para ultrapassá-lo, a percepção do queestá faltando — sentido de perda — criam raízespara que se presencie como algo possível a aceita-ção do presente e o planejamento do futuro: comoresponsabilidade para consigo mesmo e para com

outros, como reconhecimento daquilo que fomos edo que podemos nos tornar. Para os adolescentesde hoje a experiência de tempo como possibilida-de, mas também como limitação, é uma maneira desalvaguardar a continuidade e a duração; uma ma-neira de evitar que o tempo seja destruído em umaseqüência fragmentada de pontos, uma soma demomentos sem tempo.

Continuidade através da mudança

Está agora claro que a maneira pela qual osadolescentes constróem sua experiência é mais emais fragmentada. Adolescentes pertencem a umapluralidade de redes e de grupos. Entrar e sair des-sas diferentes formas de participação é mais rápi-do e mais freqüente do que antes e a quantidade detempo que os adolescentes investem em cada umadelas é reduzida. A quantidade de informação queeles mandam e recebem está crescendo em um rit-mo sem precedentes. Os meios de comunicação, oambiente educacional ou de trabalho, relações inter-pessoais, lazer e tempo de consumo geram mensa-gens para os indivíduos que por sua vez são cha-mados a recebê-las e a respondê-las com outras men-sagens. O passo da mudança, a pluralidade das par-ticipações, a abundância de possibilidades e men-sagens oferecidas aos adolescentes contribuem to-dos para debilitar os pontos de referência sobre osquais a identidade era tradicionalmente construída.A possibilidade de definir uma biografia contínuatorna-se cada vez mais incerta.

Nesse sentido, o significado do presente nãose encontra no passado, nem em um destino finalda história; o tempo perde sua finalidade linear e acatástrofe (nuclear, ecológica) torna-se uma possi-bilidade. Mas esta des-linearização do tempo reve-la a singularidade da experiência individual. O tem-po individual e cada momento dentro dele não serepete nunca. Não somente ele não retorna em umciclo repetitivo sem fim, mas tampouco será porta-dor de outro sentido, outra finalidade senão aque-la que os indivíduos e grupos são capazes de pro-duzir para si mesmos.

Alberto Melucci

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Nomadismo e metamorfose parecem consti-tutir respostas para essa necessidade de continuida-de através da mudança. A unidade e continuidadeda experiência individual não pode ser encontradasem uma identificação fixa com um modelo, grupoou cultura definidos. Deve ao invés disto ser basea-do na capacidade interior de “mudar a forma” deredefinir-se a si mesmo repetidas vezes no presen-te, revertendo decisões e escolhas. Isso também sig-nifica acalentar o presente como experiência única,que não pode ser reproduzida, e no interior da qualcada um se realiza.

Desafiando a definição dominante de tempo

Para lidar com tantas flutuações e metamor-foses, os adolescentes sentem que a identidade deveser enraizada no presente. Eles devem ser capazesde abrir e fechar seus canais de comunicação como mundo exterior para manter vivos seus relacio-namentos, sem serem engolidos por uma vasta quan-tidade de signos. Ainda mais, para abraçar um cam-po amplo de experiências que não pode ser confi-nado dentro dos rígidos limites de um pensamentoracional, eles precisam de novas capacidades paracontatos imediatos e intuitivos com a realidade.Essas exigências alteram os limites entre dentro efora e apontam para a necessidade de uma maiorconsciência de si mesmo e responsabilidade para umcontato mais estreito com a experiência íntima decada um.

Novamente, como a cadeia de possibilidadestorna-se muito ampla comparada com oportunida-des atuais de ação e experiência, o questionamen-to sobre limites torna-se um problema fundamen-tal para os adolescentes de hoje. Considerando odeclínio dos ritos de passagem que outrora marca-vam os limites entre infância e vida adulta (VanGennep, 1981; Kett, 1977) e sendo exposto a umnovo relacionamento com os adultos (McCormack,1985; Herbert, 1987) eles próprios expostos a umapressão crescente da mudança, a juventude contem-porânea tem que encontrar novos caminhos paravivenciar a experiência fundamental dos limites. A

definição e o reconhecimento de limites pessoais eexternos é a chave para se mover em qualquer dire-ção: através da comunicação com o exterior e con-formidade com as regras do tempo social ou atravésde uma voz interna que fala com cada pessoa emsua linguagem secreta. Somente assim um ciclo deabertura e fechamento pode ser estabelecido, atra-vés de uma oscilação permanente entre os dois ní-veis de experiência. Tais passagens marcam a evo-lução dinâmica, as metamorfoses da vida pessoal.

Aprendendo como empreender estas passagens— um problema de escolha, incerteza e risco — osadolescentes reativam no resto da sociedade a me-mória da experiência humana dos limites e da liber-dade. Eles vivem para todos como receptores sen-síveis e perceptivos da cultura contemporânea, osdilemas do tempo em uma sociedade complexa: otempo como medida de mudança para nossas so-ciedades que necessitam prever e controlar seu de-senvolvimento; o tempo como definição pontual daidentidade indivídual e coletiva; o tempo como umaflecha linear ou como campo de experiência rever-sível e multidirecional. Desafiando a definição do-minante do tempo, os adolescentes anunciam parao resto da sociedade que outras dimensões da ex-periência humana são possíveis. E fazendo isto, elesapelam à sociedade adulta para a sua responsabili-dade: a de reconhecer o tempo como uma constru-ção social e de tornar visível o poder social exerci-do sobre o tempo.

Tornar o poder visível é a mais importantetarefa na ordem dos conflitos em nossa sociedade.Revertendo a definição adulta do tempo, os adoles-centes simbolicamente contestam as variáveis do-minantes de organização do tempo na sociedade.Eles revelam o poder escondido atrás da neutrali-dade técnica da regulação temporal da sociedade.

Ação comunicativa

O antagonismo dos movimentos juvenis é emi-nentemente comunicativo do ponto de vista de suanatureza (Melucci, 1989, 1996b). Nos últimos trin-ta anos a juventude tem sido um dos atores centrais

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em diferentes ondas de mobilização coletiva: refi-ro-me a formas de ação inteiramente compostas dejovens, assim como à participação de pessoas jovensem mobilizações que também envolveram outrascategorias sociais. Começando pelo movimento estu-dantil dos anos 60 é possível traçar a participaçãojuvenil em movimentos sociais através das formas‘sub-culturais’ de ação coletiva nos anos 70 comoos punks, os movimentos de ocupação de imóveis,os centros sociais juvenis em diferentes países euro-peus, através do papel central da juventude nas mo-bilizações pacifistas e ambientais dos anos 80, atra-vés de ondas curtas mas intensas de mobilização deestudantes secundaristas dos anos 80 e começo dos90 (na França, Espanha e Itália, por exemplo) e, fi-nalmente, através das mobilizações cívicas nos anos90 como o anti-racismo no norte da Europa, Françae Alemanha ou o movimento da anti-máfia na Itá-lia. Todas estas formas de ação envolvem pessoasjovens como atores centrais; mesmo se apresentamdiferenças históricas e geográficas com o passar dasdécadas, elas dividem características comuns queindicam um padrão emergente de movimentos so-ciais em sociedades complexas, pós-modernas. Nes-ses sistemas cada vez mais baseados em informação,a ação coletiva particularmente aquela que envol-ve os jovens oferece outros códigos simbólicos aoresto da sociedade — códigos que subvertem a ló-gica dos códigos dominantes. É possível identificartrês modelos de ação comunicativa:

a) Profecia: portadora da mensagem de que opossível já é real na experiência direta dos que o pro-clamam. A batalha pela mudança já está encarnadana vida e estrutura do grupo. A profecia é um exem-plo notável da contradição a que me referi. Profe-tas sempre falam em nome de terceiros, mas não po-dem deixar de apresentar-se a si mesmos como mo-delo da mensagem que proclamam. Nesse sentido,como os movimentos juvenis se batem para subver-ter os códigos, eles difundem culturas e estilos de vidaque penetram no mercado ou são institucionalizados.

b) Paradoxo: aqui a autoridade do código do-minante revela-se através do seu exagero ou da suainversão.

c) Representação: aqui a mensagem toma aforma de uma reprodução simbólica que separa oscódigos de seus conteúdos os quais habitualmenteos mascaram. Ela pode se combinar com as duasformas acima (movimentos contemporâneos de ju-ventude fazem grande uso das formas de represen-tação como o teatro, o vídeo, a mídia).

Nestes três casos, os movimentos funcionampara o resto da sociedade como um tipo específi-co de veículo, cuja função principal é revelar o queum sistema não expressa por si mesmo: o âmagodo silêncio, da violência, do poder arbitrário queos códigos dominantes sempre pressupõem. Mo-vimentos são meios que se expressam através deações. Não é que eles não falem palavras, que elesnão usem slogans ou mandem mensagens. Mas suafunção enquanto intermediários entre os dilemasdo sistema e a vida diária das pessoas manifesta-se principalmente no que fazem: sua mensagemprincipal está no fato de existirem e agirem. Istotambém significa afirmar que a solução para oproblema relativo à estrutura do poder não é aúnica possível e mais do que isso, oculta os inte-resses específicos de um núcleo de poder arbitrá-rio e opressor. Pelo que fazem e a maneira comofazem, os movimentos anunciam que outros cami-nhos estão abertos, que existe sempre outra saídapara o dilema, que as necessidades dos indivíduosou grupos não podem ser reduzidas à definiçãodada pelo poder. A ação dos movimentos comosímbolo e como comunicação faz implodir a dis-tinção entre o significado instrumental e expressi-vo da ação, posto que, nos movimentos contempo-râneos, os resultados da ação e a experiência indi-vídual de novos códigos tendem a coincidir. E, tam-bém, porque a ação, em lugar de produzir resulta-dos calculáveis, muda as regras da comunicação.

Novas redes

Movimentos juvenis tomam a forma de umarede de diferentes grupos, dispersos, fragmentados,imersos na vida diária. Eles são um laboratório noqual novos modelos culturais, formas de relaciona-

Alberto Melucci

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Revista Brasileira de Educação 13

mento, pontos de vista alternativos são testados ecolocados em prática.

Estas redes emergem somente de modo espo-rádico em resposta a problemas específicos. Trata-se de uma mudança morfológica que nos força aredefinir as categorias analíticas de atores coletivos.Se os conflitos se expressam em termos de recursossimbólicos, os atores considerados não podem serestáveis. Primeiramente, porque os meios atravésdos quais se criam e distribuem na sociedade pos-sibilidades de identificação estão continuamentemudando e operando em campos variados. Segun-do, os atores vivem as exigências contraditórias dosistema como fonte de conflitos, não o fazem du-rante a vida inteira e não estão permanentementeenraizados em uma categoria social única.

A hipótese de conflitos sistêmicos antagônicospode se manter se preservamos a idéia de um cam-po sistêmico ou de um espaço no qual os atorespodem variar. O campo é definido pelos problemase diferentes os atores que o ocupam expõem paratoda a sociedade questões relacionadas com o sis-tema na sua totalidade e não só com um grupo ouuma categoria social. Evidentemente, as formas em-píricas de mobilização contêm, como vimos, nume-rosas dimensões. Mas através de certos aspectos daação a juventude sinaliza um problema relaciona-do não somente com as suas próprias condições devida mas também com os meios de produção e dis-tribuição de recursos de significado. Os jovens semobilizam para retomar o controle sobre suas pró-prias ações, exigindo o direito de definirem a si mes-mos contra aos critérios de identificação impostosde fora, contra sistemas de regulação que penetramna área da “natureza interna”.

A maneira pela qual o conflito se manifesta,no entanto, não é a da ação “efetiva”. O desafiovem através da inversão de códigos culturais e é porisso eminentemente “formal“. Em sistemas onde ossignos tornam-se intercambiáveis o poder reside noscódigos, nos ordenadores dos fluxos de informação.

A ação coletiva antagonista é uma “forma” que,pela sua própria existência, pela maneira como seestrutura, envia sua mensagem. Objetivos com cer-

teza existem, mas eles são esporádicos e até certoponto substituíveis. Tais formas de ação exercemefeitos sobre instituições, modernizando seu pensa-mento e organização, formando as novas elites. Masao mesmo tempo, suscitam questões para as quaisnão há espaço. Enquanto nós aplicamos e executamoso que um poder anônimo decretou, os jovens pergun-tam para onde estamos indo e por quê. Sua voz éouvida com dificuldade porque fala pelo particular.

A natureza precária da juventude coloca paraa sociedade a questão do tempo. A juventude dei-xa de ser uma condição biológica e se torna umadefinição simbólica. As pessoas não são jovens ape-nas pela idade, mas porque assumem culturalmen-te a característica juvenil através da mudança e datransitoriedade. Revela-se pelo modelo da condiçãojuvenil um apelo mais geral: o direito de fazer re-troceder o relógio da vida, tornando provisóriasdecisões profissionais e existenciais, para dispor deum tempo que não se pode medir somente em ter-mos de objetivos instrumentais.

Se compararmos agora informações relativasa grupos de jovens em diferentes países europeus eas diferentes ondas de mobilização mencionadasacima não é difícil encontrar elementos deste siste-ma de ação. Os movimentos de jovens dividem-seentre o radicalismo político e a violência de algunsgrupos extremistas (às vezes grupos de direita, àsvezes revolucionários, anarquistas, etc) a expressi-va marginalidade da contra-cultura, a tentativa decontrolar uma parte das organizações políticas e detransformar grupos juvenis em agências para polí-ticas juvenis e uma orientação conflituosa, que to-ma a forma de um desafio cultural aos códigos do-minantes. Em um ambiente que favorece a “pobre-za” de recursos internos (desemprego, desintegra-ção social, imigração) este último componente nãopode ser bem sucedido na combinação com outrose o “movimento” juvenil se divide. Evapora-se napura exibição de signos (variedade de tribos metro-politanas) produz a profissionalização pelo mercadode recursos culturais inovadores e, de forma aindamais trágica, declina na marginalidade das drogas,da doença mental, do desabrigo. Quando a demo-

Juventude, tempo e movimentos sociais

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cracia for capaz de garantir um espaço para que asvozes juvenis sejam ouvidas, a separação será me-nos provável e movimentos juvenis poderão tornar-se importantes atores na inovação política e socialda sociedade contemporânea.

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Alberto Melucci