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Centro Universitário de Brasília FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS CURSO: PSICOLOGIA ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA BRASÍLIA JUNHO/2003

ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

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Page 1: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

Centro Universitário de Brasília FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS CURSO: PSICOLOGIA

ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

BRASÍLIA JUNHO/2003

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MAGDALA PAZ MARTINS

ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

Monografia apresentada como

requisito para conclusão do curso de

Psicologia do UniCEUB – Centro

Universitário de Brasília.

Prof. Orientadora: Tania Inessa

Martins de Resende

Brasília/DF, junho de 2003

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AGRADECIMENTOS Aos meus pais pelo legado que recebi.

Ao meu irmão Newton que me estendeu a mão num momento de imenso

desespero e desesperança e mostrou o significado da verdadeira irmandade.

A minha irmã Goretti e meu cunhado Maurílio pelo carinho como me

receberam em sua casa e por terem me dado sobrinhos que, de maneira tão terna, me

ensinaram o que é amor incondicional.

Aos mestres que encontrei pela vida e ensinaram a acreditar na essência

divina do ser humano, em especial aos professores Alexandre Marques e Suzana Joffily

pela amizade, estímulo e retidão de conduta.

Aos meus queridos amigos de antes, durante e depois, pelo carinho que

sempre me dedicaram.

Ao G4, que depois de algum tempo transformou-se em G4+2, pelo carinho

que dedico a cada um de seus membros.

A todos meus professores, em especial a minha orientadora, Tania Inessa,

pela postura firme e dedicada com que se entrega a profissão.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 06

DESENVOLVIMENTO .................................................................................. 08

CAPÍTULO I

HISTÓRICO DO ÁLCOOL

1.1. Histórico ............................................................................................................ 08

1.2. Etiologia ............................................................................................................ 09

1.3. Epidemiologia ................................................................................................... 11

1.4. Diferentes maneiras de abordar o tema alcoolismo ......................................... 13

CAPÍTULO II

SISTEMA FAMILIAR

2.1. Terapia Familiar ................................................................................................. 16

2.2. Famílias Alcoólicas ........................................................................................... 17

2.3. Negação ........................................................................................................... 19

2.4. Adolescente e o Álcool ..................................................................................... 21

2.5. Mulher e Álcool ................................................................................................. 23

CAPÍTULO III

E NO CONSULTÓRIO COMO FICA? Usando a Análise Transacional para Entender a Família

3.1. O que é AT? ...................................................................................................... 25

3.1.1. Análise Estrutural e Funcional ................................................................... 26

3.1.2. Análise das Transações............................................................................. 29

3.1.3. Carícias ...................................................................................................... 31

3.1.4. Programação do Tempo ............................................................................ 34

3.1.5. Emoções e Disfarces ................................................................................. 35

3.1.6. Posição Existencial .................................................................................... 36

3.1.7. Jogos ......................................................................................................... 37

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3.1.8. Script de Vida ............................................................................................ 41

3.1.9. Mini Script ................................................................................................. 45

3.1.10. Dinâmica de Grupo .................................................................................. 45

3.2. E o Terapeuta Como Atua? ............................................................................... 46

CONCLUSÃO ..................................................................................................... 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 51

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RESUMO

O presente estudo tem por objetivo fazer uma revisão bibliográfica a respeito de alcoolismo e família. Serão analisados os fatores históricos e etiológicos que contribuíram para a formulação de conceitos acerca do que é o alcoolismo. Os conceitos básicos sobre família alcoólica, as relações de dependência e interdependência desse sistema, com foco principal voltado para a Teoria Sistêmica e Análise Transacional. Estas teorias serão utilizadas para a formulação de uma nova proposta de conduta terapêutica frente ao problema do alcoolismo e da interação familiar.

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INTRODUÇÃO

O presente estudo tem por objetivo fazer uma revisão bibliográfica a

respeito de temas relevantes sobre alcoolismo.

Serão abordados os conceitos básicos sobre alcoolismo e família, as

relações de dependência dentro do sistema familiar e suas implicações.

Sabe-se, hoje, que a família, como grupo social primário, tem uma

contribuição fundamental a dar na recuperação e na reintegração social de pessoas

dependentes de álcool e outras drogas.

Para Elkaïm (1998) “as famílias humanas são unidade emocional. Seus

membros acham-se ligados uns aos outros de tal maneira que o funcionamento de

cada um deles automaticamente afeta o dos demais” (p. 72).

É fato que os membros das famílias alcoólicas muitas vezes desenvolvem

comportamentos e atitudes disfuncionais perante estes indivíduos, muitas vezes não

contribuindo para seu processo de recuperação. Freitas (2002) aborda muito bem essa

interdependência familiar, em seu livro Adolescência, Família e Drogas:

(...) Em um grupo familiar no qual surge de forma mais

proeminente um drogadependente, percebe-se que ele é apenas

o representante eleito da problemática dessa família. Esse eleito

surge comumente na adolescência, já que esse é um momento de

vida crucial, em que as transformações corporais e psicológicas

pelas quais passa o adolescente produzem também grandes

modificações na família (p. 41).

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13

Neste estudo serão elencados quais os papéis desempenhados por cada

membro dessa intrincada cadeia. Para isso serão utilizadas abordagens diferentes que

tratam de alcoolismo e grupo familiar, com foco principal na teoria sistêmica e análise

transacional.

Já no primeiro capítulo será mostrado quão difícil é estabelecer,

etiologicamente, um padrão que defina as causas do alcoolismo, bem como as

diferentes maneiras de encarar o problema.

Será realizado um comparativo entre as diversas abordagens teóricas em

psicologia com relação a estrutura do dependente e sua relação com o meio, com o

objetivo de mapear quais são seus padrões comportamentais e a melhor maneira de

lidar com o doente.

Utilizar-se-á da teoria de Análise Transacional e de exemplos práticos

para demonstrar as dinâmicas que envolve o grupo familiar alcoólico.

Assim, para que não existam distorções relativas a conceituação adotar-

se-á, para o presente estudo, a definição de alcoolismo dada por Cárter (1995):

(...) o alcoolismo constitui um processo sistêmico que afeta e é

afetado pela interação entre o bebedor e o álcool, o bebedor e ele

mesmo, e o bebedor e outros. Os efeitos do beber resultam em

mudanças adaptativas em todos os níveis sistêmicos, e uma vez

que ele é altamente destrutivo em todos esses níveis, assim como

uma ameaça potencial à vida, o alcoolismo é muito

adequadamente chamado de doença (p.416).

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CAPÍTULO I

HISTÓRICO DO ÁLCOOL

1. 1 Histórico

“Quero beber! Cantar asneiras No esto brutal das bebedeiras

Que tudo emborca e faz em caco... E voé Baco!”

(Manuel Bandeira, 2002, p. 20)

Vários autores, dentre eles Vaillant (1999), referem-se ao problema do

alcoolismo como sendo um costume antigo. A tecnologia para a fabricação de bebidas

alcoólicas data de quase oito mil anos atrás, sendo, portanto, um costume que tem

persistido por milhares de anos. O álcool tem sido usado como um elemento divino,

exemplos disso são encontrados na mitologia, Dioniso para os Gregos, Baco para os

Romanos.

No princípio as bebidas possuíam um teor alcoólico relativamente baixo, já

que dependiam unicamente do processo de fermentação, como por exemplo, o vinho e

a cerveja. Quando os Árabes introduziram na Europa medieval a tecnologia da

destilação a bebida passou a ser considerada como um medicamento para todos os

males, pois aliviava mais rapidamente a dor.

Com a revolução industrial, houve um aumento na oferta de bebidas

destiladas, o que contribuiu para um maior consumo e, por conseqüência, um aumento

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no número de pessoas com algum tipo de problema relacionado ao uso excessivo do

álcool.

Nesse mesmo século, cientistas e médicos, influenciados pelos conceitos

filosóficos da época, começaram a catalogar e a diagnosticar vários tipos de doenças,

particularmente as mentais, que até então eram tratadas pela igreja. Descreveram e

classificaram o problema com o álcool, mas poucos tinham interesse nos motivos que

levaram as pessoas a beber. Apesar da preocupação em dar uma classificação lógica

para o alcoolismo a atitude dos médicos era a de considerá-lo um vício e um sintoma de

degradação moral, mais que uma doença.

A denominação alcoolismo foi proposta pelo médico sueco Magnus Huss,

ainda no século XIX, para caracterizar toda a gama de problemas físicos e mentais

derivados do uso excessivos e continuado de bebidas alcoólicas (Vaillant, 1999).

Só depois da primeira década do século XX é que surgiram estudos sobre

alcoolismo que o relacionava a questões sociais, culturais e psicológicas, colocando-o

num contexto mais amplo e menos moralista.

A partir de 1951 o alcoolismo foi devidamente reconhecido como

enfermidade pela Organização das Nações Unidas (OMS), apesar de, ainda hoje,

existirem profissionais que trabalhem o problema com o álcool como uma questão de

caráter.

1.2. Etiologia

Para se iniciar o estudo da etiologia do alcoolismo é importante entender

que o álcool, assim como outras drogas, causa dependência física e/ou psíquica.

Schuckit (1991) afirma que é característica da dependência psicológica a necessidade

de experimentar ao máximo seus efeitos de “bem-estar”. O mesmo autor observa que a

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dependência física indica uma adaptação fisiológica ao uso abusivo da substância, com

o desenvolvimento de sintomas quando o uso da droga é interrompido.

Os fatores psicológicos e fisiológicos envolvidos na questão do alcoolismo

são subjetivos e praticamente não quantificáveis objetivamente, sendo limitado em

termos de diagnóstico.

Vaillant (1999) afirma que um estudioso do método experimental diria que

o alcoolismo deve ser um sintoma de uma ansiedade subjacente, pois o álcool é usado

para reduzir a tensão. Deve ser tanto um hábito auto-indugente quanto autodestrutivo,

pois deve ser uma conseqüência tanto de uma infância permissiva quanto traumática. O

álcool é fisiologicamente viciante, assim a cura deve resultar de um abandono

devidamente conduzido.

Ramos (1990) considera que o álcool é “uma droga psicoativa que admite

– dependendo da dose, da freqüência e das circunstâncias – um uso sem problemas.

Contudo, o seu uso inadequado pode trazer graves conseqüências tanto a nível

orgânico, como psicológico e social, caracterizando a condição conhecida como

alcoolismo” (p. 25).

Também se referindo a dificuldade em se determinar as causas do

alcoolismo, Melman (2000) propõe que: “querer, a seu propósito, ater-se às

modalidades de um comportamento eqüivale a fixar o nível de uma avaliação

quantitativa, necessariamente impreciso, misturando à sua rubrica determinações muito

diferentes” (p. 15).

Assim, não há como criar uma definição universal sobre a etiologia do

alcoolismo, seja ela biológica, psicológica ou social. Na origem dessa complexa

condição estão vários e diferentes fatores de vulnerabilidade. Com maior ou menor

probabilidade, todos os que bebem têm potencial para tornar-se um alcoolista, o que

dependerá da interação entre os diferentes fatores de vulnerabilidade ao qual o

indivíduo está exposto.

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17

1.3. Epidemiologia

É indiscutível que o alcoolismo é um grave problema de saúde pública,

não só no Brasil como no mundo. Griffith (1998), enfatiza que:

(...) muitos países da Europa central e oriental estão enfrentando

um crescimento preocupante no consumo de álcool e problemas

derivados. Em algumas áreas do mundo em desenvolvimento, o

consumo de bebidas produzidas comercialmente está crescendo,

mas, apesar da monitoração deste consumo ser relevante para o

planejamento nacional de saúde, geralmente não há dados

confiáveis disponíveis. Acompanhando as mudanças no consumo

geral estão as que envolvem a escolha da bebida, os padrões de

consumo e, às vezes, também uma nova divisão do consumo

entre subgrupos populacionais (p. 53).

Já Rouquayrol (1988) em seu livro Epidemiologia e Saúde, refere-se ao

tema como sendo:

(...) fenômeno que poderia atingir apenas alguns indivíduos

fragilizados pela genética, traumatismo ou azares constitucionais,

de fenômeno que somente se massificaria dentro de ritualizadas

cerimônias do ser humano com o cosmo e a magia, o alcoolismo

se transforma num dos maiores problemas de saúde pública. Os

outros vícios, somados, nem se aproximam da importância

epidemiológica do alcoolismo (p. 403).

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Em reportagem produzida para o jornal O Estado de São Paulo,

Scheinberg (2002) faz referência a pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria do

Hospital das Clínicas (GREA), em São Paulo, que demonstra que cerca de 13% da

população mundial tem problema com o álcool e no Brasil essa média sobe para 15%.

Também demonstram que o país gasta por ano 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB)

para tratar de problemas relacionados ao álcool. Outro dado interessante é o fato de a

indústria do álcool movimentar anualmente 3,5% do PIB, isto é, gasta-se mais que o

dobro para tratar os malefícios causados pela bebida alcoólica.

Outras pesquisas realizadas por este mesmo instituto mostram que nos

hospitais 9 a 32% dos leitos são ocupados por pacientes que apresentam um consumo

abusivo do álcool. Em hospitais psiquiátricos, 40% dos leitos são destinados a essa

clientela. É também considerada a oitava causa de requerimento de auxílio-doença no

Ministério da Saúde, e responsável por 20% dos suicídios e 40% das separações

conjugais. Cerca de 30% da população que bebe desenvolve algum tipo de problema

orgânico, social ou familiar.

Vale ressaltar que a grande maioria das pessoas adultas, fazem uso de

bebidas alcoólicas, de maneira esporádica, sem sofrer maiores conseqüências desse

uso. Organicamente podemos definir que um homem adulto, de setenta quilos,

metaboliza em um dia 80 gramas de álcool; o que corresponde a 700 ml de cerveja, ou

240 ml de vinho ou 56 ml de um destilado. Se a pessoa consumir mais que isso não

quer dizer que vá ficar embriagada, mas que ao final das vinte e quatro horas restará

alguma quantidade de resíduos, o que com o decorrer do tempo poderá produzir

conseqüências orgânicas.

É também importante analisar o contexto cultural ao qual a pessoa está

inserida quando se vai tratar de consumo de bebidas alcoólicas. Em determinadas

famílias, culturalmente existe o hábito de beber, os descendentes de italianos, por

exemplo, tem por costume tomar vinho durante as refeições.

O que tem se tornado uma preocupação cada vez mais constante é o fato

do álcool estar presente na maioria das ocasiões sociais, tornando-o quase onipresente

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em qualquer tipo de situação, fato esse que tem contribuído para aumentar a incidência

do uso do álcool entre jovens.

Em matéria publicada pela revista Época, em dezembro de 2002,

denominada “Movidos a Álcool”, levantou-se a questão do aumento do consumo de

bebidas alcoólicas entre os jovens. Nessa mesma matéria foi divulgada uma pesquisa

realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco), com 50 mil

estudantes do ensino médio e fundamental onde constatou-se que 34,8% deles tomam

bebidas alcoólicas, o que representa um contingente de 17,4 milhões de jovens

bebedores, que iniciam sua carreira no álcool entre os 10 e 12 anos de idade. 1

Esse tipo de manifestação da adolescência pode adquirir um caráter

intenso e ao mesmo tempo desagregador. Na adolescência o indivíduo busca compor a

si mesmo, isto é, a sua identidade e concomitantemente busca o contato grupal, além

de assumir atitudes sociais rebeldes, vivendo contradições excessivas em todas as

áreas. É sem dúvida, um período de extrema vulnerabilidade e o mais propício para o

desencadeamento de comportamentos viciantes. Muitos jovens tornam-se prisioneiros

de si mesmos, identificando-se com figuras parentais que os levam inconscientemente

a uma repetição de modelos parentais inadequados.

E em função deste caráter intenso e desagregador a relação do jovem

com o vício será retomada em capítulo específico.

1.4. Diferentes maneiras de abordar o tema alcoolismo

O tema alcoolismo pode ser abordado de várias maneiras, o leigo, por

exemplo, considera o alcoolista um beberão irresponsável, repulsivo, e que, por isso,

deve ser mantido à distância para não causar vergonha ou maiores problemas para a

família.

1 Revista Época, nº 241, de 30 de dezembro de 2002, página 50, reportagem de João Luiz Vieira e Beatriz Velloso.

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Bauer (1982), fazendo referência ao modelo depreciativo utilizado por

leigos, diz que:

(...) as pessoas piedosas e cheias de virtude devem compadecer-

se dele. De fato, não fosse a existência dessas ovelhas-negras,

os cidadãos honrados e bem-postos não teriam como medir a

própria virtude, de sorte que os beberrões tornam-se bodes

expiatórios com a missão de assumir os pecados coletivos (p. 23).

Apesar de Alcoólicos Anônimos (AA) ser considerado uma entidade

representada e coordenada por leigos eles assumem uma postura diferente do senso

comum. A finalidade do AA é ajudar a outros dependentes a se manterem sóbrios, já

que, para eles, o alcoolismo é uma doença incurável e progressiva e que deve ter como

foco principal o doente e não padrões sócio-culturais existentes (Alcoólicos Anônimos,

1989).

Em geral, quando o tema alcoolismo é tratado por profissional médico o

doente passa a ser considerada uma pessoa que apresenta intolerância física ao

álcool, e assim, precisa dos recursos clínicos necessários para promover a

desintoxicação, mas os cuidados posteriores passam a ser de responsabilidade do

sistema de apoio.

O psicólogo deve ver o alcoolismo como uma doença, que precisa ser

acompanhada por profissional da área, admitindo, porém, o auxílio de equipe

multidisciplinar, caso haja indicação terapêutica. Em geral, é interessante que o

psicólogo oriente seu cliente a procurar também grupos de apoio de AA, já que irá, no

grupo, trocar experiências com pessoas que padecem dos mesmos sofrimentos

emocionais, físicos que ele.

Uma outra forma de abordagem é o da interação familiar, onde esta é

vista como um jogo, onde um desempenha o papel de alcoolista e os demais

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21

desempenham papéis complementares2, como a esposa vitimizada, os filhos

negligenciados, etc. O comportamento do alcoolista é sempre visto como parte de um

jogo que reforça os comportamentos dos demais familiares.

Olivenstein (1985), em seu livro Destino do Toxicômano, aborda a questão

dos papéis familiares da seguinte forma:

(...) Como o idiota da família constitui na verdade o narcótico do

grupo familiar, e como ele mesmo ingere narcótico com a única

finalidade de executar seu papel, no lugar que lhe foi designado

para e pelos outros – nunca para si mesmo, quando poderia

talvez até obter algum benefício com isto –, se ele não existisse

em diferentes graus, “o vazio seria irrespirável” (p. 103).

Assim, torna-se necessário que todos os envolvidos no processo de

recuperação do doente aceitem que o alcoolismo é um processo interacional que

envolve vários contextos, inclusive o familiar.

No próximo capítulo serão discutidos os papeis da família na recuperação

do dependente.

2 Os temas Jogos e Papeis serão discutidos com maior profundidade no capítulo III.

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CAPÍTULO II

SISTEMA FAMILIAR

2.1. Terapia Familiar

“Você não tem do que se queixar, dizia Úrsula ao marido: os filhos herdam as

loucuras dos pais” (Gabriel Garcia Marquez, 1967, p. 45)

Para entender o que é terapia familiar primeiramente é preciso entender o

que é família. Para Castilho (1994), família é um “sistema, um organismo cujas

características não são redutíveis a um elemento isoladamente. Tem regras

específicas, válidas só para aquele sistema. Vive interações cuja causalidade circular

define relações que se realimentam num intercâmbio constante com outros sistemas”

(p. 118).

Considerando essa definição de família adequada para os propósitos

deste trabalho, serão agora elencados os fatores históricos que motivaram a criação da

terapia familiar.

Elkaïm (1998), no livro Panorama das Terapias Familiares, fez um

histórico sobre terapia familiar. Segundo esse autor, após a Segunda Guerra Mundial,

psicanalistas judeus-europeus radicados nos Estados Unidos e psiquiatras que

retornavam da guerra com um futuro profissional incerto iniciaram um grande

movimento psicanalítico que culminou com um movimento que dominou o cenário

psiquiátrico norte-americano até a década de quarenta. A maioria das cadeiras dos

departamentos de psiquiatria das universidades eram ocupadas por psicanalistas, o

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23

que proporcionou uma mudança considerável nas disciplinas relacionadas a saúde

mental.

Castilho (1994), também tratando do histórico dessa abordagem, afirma

que na década de cinqüenta a discussão sobre o tratamento de esquizofrênicos e suas

relações familiares levaram a formulação de hipóteses sobre a função que o sintoma

teria na família, desenvolvendo assim, técnicas e estratégias que ajudariam o sintoma a

desaparecer. Os padrões de comunicação se modificavam na medida em que a família

não precisasse do sintoma para expressar suas dificuldades.

Para Elkaïm (1998) o sintoma era visto como denúncia de algo que não ia

bem e, ainda, como a manutenção do conjunto das relações disfuncionais que, embora

patológico, garantia a não desintegração da família.

Fundamentados pela teoria de sistemas os terapeutas passaram a tratar o

doente não mais como objeto patológico e a atenção era mais dirigida às contribuições

do contexto relacional de onde surgia o problema.

O movimento difundiu-se na Europa e em pouco menos de uma década

nasciam centros de terapia familiar de grande importância, como a Escola de Milão e o

Instituto de Terapia Familiar de Roma. A terapia familiar foi se modificando e as escolas

se diferenciando.

Assim, considerando que família é um sistema de seres humanos em

interação mútua, pode-se afirmar, portanto, que a terapia familiar é a correlação entre

indivíduos e sistema, entre o sistema que cuida e sistema que é cuidado.

2.2. Famílias Alcoólicas

Como já foi mencionado, o objetivo deste estudo é discutir e analisar as

relações das famílias alcoólicas e o papel de cada membro nesse sistema.

Page 19: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

24

A maneira de agir do alcoolista é representada por um papel a ser

desempenhado dentro do mecanismo familiar. A família “organiza-se” em torno do

problema e adapta-se a ele.

A dinâmica da família alcoólica é abordada por Paupitz (1987) como jogos

psicológicos onde todos os membros da família estão envolvidos:

(...) o jogo psicológico do alcoolismo (alcooldrama) pode ser

encenado em uma peça teatral onde atuam vários personagens,

quase todas inadvertidamente dando permissão e proteção para

que o alcoólico continue bebendo sem maiores problemas.

Obviamente, a primeira personagem e protagonista do drama

tragi-cômico é o próprio alcoólico (p.10).

Famílias alcoólicas, em geral, vivem de “momentos de estabilidade”. Elas

vivem na expectativa de que algo sério e ameaçador está por acontecer, a família como

num intrigado jogo de cena, deve ficar atenta para saber qual será o desfecho do

próximo ato, já que eles nunca sabem como o alcoolista vai chegar em casa.

Melman (2000), referindo-se a essa pseudo estabilidade, diz:

(...) sabemos que o humor do alcoolista varia segundo um ciclo

rápido que vai da expansão eufórica e megalomaníaca à

depressão suicida, que alimentam culpabilidade e sentimento de

indignidade. Esta curva não é necessariamente simultânea à da

embriaguez e da abstinência. Medicamento do supereu, o álcool

pode ter, como parece ter todo tóxico, efeitos farmacodinâmicos

inversos (p. 18).

Page 20: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

25

Kalina (1988), referindo-se a relação entre o dependente e sua família,

afirma que ela é co-geradora do fenômeno da dependência. Onde existem

dependentes, encontram-se famílias nas quais, qualquer que seja sua configuração,

estão presentes a droga ou os modelos viciados de conduta, como técnica de

sobrevivência por um ou mais membros deste grupo.

Assim, o alcoolismo é tido como uma doença da família. Beattie (1992)

afirma que “não podemos começar a trabalhar por nós, viver nossas vidas, sentir

nossas emoções e solucionar nossos problemas se não nos distanciarmos do objeto de

nossa obsessão” (p.69).

O objetivo da terapia de famílias alcoólicas é “ensiná-las” a distanciar-se

dessa “obsessão” para que possam responder de maneira diferente aos padrões

comportamentais existentes, responsabilizando cada membro desse sistema pela

interrupção dos padrões pré-estabelecidos.

2.3. Negação

(...) ele faz o noivo correto E ela faz que quase desmaia Vão viver sob o mesmo teto

Até que a casa caia ...

Ele fala de cianureto E ela sonha com formicida

Vão viver sob o mesmo teto Até que alguém decida

(Chico Buarque, 1989, p. 158)

Colle (2001), em seu livro Toxicomanias, Sistemas e Família, refere-se a

dependência e como ela é encarada pela família da seguinte maneira:

Page 21: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

26

(...) a toxicomania remete para um comportamento individual e

para um estado. Esta designação contribui para alimentar, por um

lado, o mito da perturbação psíquica ligada aos tóxicos, e por

outro, o mito do toxicômano como indivíduo isolado, em ruptura

com a sua família e refratário a certas mudanças (p. 100).

É fato que conviver com uma pessoa que se embriaga com freqüência é

muito desagradável. Mas, por que tantas famílias escondem ou toleram um “bebedor

compulsivo”?

Sem dúvida, essa polêmica traspassa a questão bio-psico-social e remete

a discussão dos benefícios secundários que a família recebe ao negar o problema.

Em muitos momentos, para livrar-se da culpa, do medo, do desamparo ou

mesmo da pressão social os familiares acabam atuando de maneira a proteger o

alcoolista e negar o problema. É importante a família quebrar o sistema de proteção do

doente, atribuindo a responsabilidade pelo beber ao próprio alcoolista e tomar para si a

responsabilidade de cuidar de si mesmo.

Beattie (1992) aborda a questão do cuidar de si como sendo “uma atitude

de respeito mútuo. Significa aprender a viver de maneira responsável e permitir que os

outros vivam como julgarem mais adequado, desde que não interfiram em nossa

decisão de viver como escolhemos” (p.133).

Existem grupos de apoio aos familiares, como por exemplo, o Al-Anon,

que é uma entidade formada por amigos e familiares de alcoolistas, que funciona nos

mesmos moldes do AA, onde a família vai aprender a não se responsabilizar pela

doença do outro e nem por sua recuperação.

Vale ressaltar que apesar do Al-Anon e AA serem grupos de apoio

importantes é indispensável o acompanhamento psicológico para toda a família, pois é

Page 22: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

27

na terapia que cada um irá discutir e externar suas dores e compreender qual a

dinâmica de interdependência existente entre seus membros.

Quando se pensa em negação e vergonha surge uma outra questão

importante a ser abordada que é o fato da família esconder o alcoolismo mesmo depois

da morte do dependente. As verdadeiras causas de acidentes automobilísticos,

cânceres, ataques cardíacos, entre outras enfermidades, passam a ser consideradas

um segredo de família, intocável e que não pode ser discutido fora do contexto familiar.

Finalmente, é preciso entender que a negação pode ser tratada como um

dos sintomas do alcoolismo, que pode ampliar-se para uma negação tanto do beber

problemático quanto do impacto desse beber em outros membros da família, pois pode

acabar destruindo a auto-estima de todos os membros desse grupo.

2.4. Adolescente e o Álcool

“Você com as suas drogas E as suas teorias

E a sua rebeldia E a sua solidão

Vive com seus excessos Mas não tem mais dinheiro

P’rá comprar outra fuga Sair de casa então”

(Renato Russo)

Freitas (2002) considera que os adolescentes constituem um grupo de alto

risco para a utilização de quaisquer tipos de droga. Normalmente, o adolescente

começa bebendo em casa, com a anuência dos pais, principalmente os filhos homens.

É comum, em muitas casas, no canto da sala um bar. Como um altar o

adolescente aprende a cultuar e idolatrar as bebidas de forma nociva e perigosa.

Page 23: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

28

Também é comum que a experimentação da droga comece como forma de vincular-se

a um grupo. O grupo para o adolescente é o espaço onde ele vai experimentar sua

força e fazer a transição para o mundo dos adultos, se a família não estiver bem

estruturada o adolescente poderá cair no caminho das drogas.

Algumas crianças, desde muito cedo, envolvem-se nos problemas dos

pais na tentativa de serem os pacificadores de seus conflitos. Dependendo do contexto

familiar ela pode transformar-se em alvo da violência ou descaso dos pais, tornando-se

“presas fáceis” das drogas.

Muitas mães, esposas de alcoolistas, buscam formar uma aliança com

seus filhos, geralmente o primogênito, na tentativa de excluir o pai da relação familiar. O

garoto passa a ser ‘confidente’ da mãe ou até rival do pai na tentativa de exercer as

funções de ‘homem da casa’. Em alguns casos esse tipo de relação pode fazer com

que o jovem busque seguir o modelo do pai ou procurar relacionar-se com pessoas

com algum tipo de vício na busca pela complementariedade ou repetição do padrão

comportamental apreendido.

Freitas (2002), referindo-se ao funcionamento familiar, afirma que os pais,

geralmente, negam ou ignoram sua participação na composição do modelo sintomático

do filho. Acham que os modelos de convivência familiar não tem relação com a

dependência do adolescente.

Vale ressaltar que nem sempre os pais são os responsáveis pela iniciação

do jovem às drogas. É preciso perceber que cada família constitui um universo

diferente, onde diferentes fatores contribuirão para desencadear ou não o uso de

drogas.

Quando os pais não conseguem exercer seus papéis e não estabelecem

limites para os filhos esses deixam de representar figuras de autoridade para o

adolescente. Em geral, o usuário de droga não respeita leis e/ou ordens. Freitas (2002)

refere-se a esse fato da seguinte maneira:

Page 24: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

29

(...) poderíamos dizer que o problema dos limites é um problema

central na questão do uso de drogas, já que tem uma correlação

direta com o lidar com a frustração. É a possibilidade de se

equilibrar entre o que se pode e o que não se pode fazer. É esta

instância reguladora da Lei que vem faltar nestas famílias, é a

impossibilidade do exercício do dizer não, dos limites reguladores

da inserção na cultura – o eu absolutamente narcísico não pode

sobreviver frente ao outro, já que a negação do outro será a

própria negação deste eu (p.46).

O exercício dos limites na família alcoólica fica prejudicado pela

incoerência de atitudes e comportamentos. O humor dos pais é geralmente

imprevisível, as promessas são freqüentemente esquecidas e celebrações canceladas.

Devido a essa constante incoerência e mudança de humor o adolescente fica sem

referencial emocional que lhe permita sentir e expressar suas emoções de maneira

autêntica.

Assim, é importante para o adolescente ter a família como um referencial

seguro para expressar com liberdade, seus medos, suas vergonhas, desapontamentos,

bem como um lugar onde possa exercitar seus limites para entrar na vida adulta de

maneira saudável.

2.5. Mulher e o Álcool “Largar desse cais,

ir sem direção seguir os ventos

que clamam por mim tecer minhas teias com minhas mãos

sugar das entranhas desse chão meu fim.”

(Altay Veloso)

Page 25: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

30

As mulheres são, em termos biológicos e de maneira geral, mais

vulneráveis ao álcool que os homens. Lapa (1998) afirma que elas atingem

concentrações sangüíneas de álcool mais altas com as mesmas doses quando

comparadas aos homens. Também que sob a mesma carga de álcool os órgãos das

mulheres são mais prejudicados do que o dos homens. Quanto a distribuição pelo sexo,

os homens tendem a beber mais freqüentemente que as mulheres. As conseqüências

do alcoolismo sobre os órgãos é diferente nas mulheres, elas estão mais sujeitas a

cirrose hepática do que o homem, por exemplo.

Para Griffith (1987) a mulher tem o seu padrão de ingestão moldado por

um contexto diferente daquele que habitualmente afeta o homem. Em geral trata-se de

uma ingestão solitária, que leva a um nível de intoxicação leve. Este é o quadro de

alcoolismo, por exemplo, da dona-de-casa. A mulher que trabalha fora pode apresentar

um quadro parecido com o do alcoolismo masculino.

A mulher dependente do álcool sofre tanto com a doença quanto com o

preconceito. A atitude frente ao alcoolismo feminino é o de ignorá-lo ou tratar a mulher

como frágil, imoral ou mais doente que os homens. A mulher que bebe em excesso é,

geralmente, considerada antes uma perversa que enferma.

Ao realizar esse trabalho percebeu-se também a falta de compromisso

dos autores especializados com essa questão, pois não se vê trabalhos específicos

sobre o tratamento de mulheres alcoólicas. Autores renomados apenas comentam a

existência do problema, mas não se aprofundam e não fazem grandes discussões a

respeito do tema.

Portanto, muito ainda precisa ser considerado frente ao alcoolismo

feminino, inclusive a maneira como esse tema é abordado pela literatura científica

concernentes aos aspectos específicos do alcoolismo feminino.

Page 26: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

31

CAPÍTULO III

E NO CONSULTÓRIO COMO FICA?

Usando a Análise Transacional

para Entender a Família

3.1. O Que é Análise Transacional?

Não é objetivo deste trabalho fazer um aprofundamento teórico sobre

Análise Transacional (AT). Porém, é necessário compreender alguns aspectos sobre a

teoria de AT para que se possa perceber com maior clareza a utilização dessa

abordagem na condução do tratamento clínico.

Assim, serão citadas obras de alguns autores, dentre eles Eric Berne, o

criador dessa teoria. Também serão citados autores cujas obras vieram agregar novos

valores a essa abordagem. Para permear os conceitos de AT à dinâmica da família

serão utilizados, neste capítulo, exemplos hipotéticos de um grupo familiar alcoólico.

Desta forma ao apresentar esta revisão sobre os principais conceitos de

AT serão discutidos aspectos relevantes relacionados ao tema alcoolismo e sistema

familiar.

Eric Berne (1988) define a Análise Transacional como sendo:

Page 27: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

32

(...) uma teoria da personalidade e de ação social e um método

clínico de psicoterapia, baseada na análise de todas as possíveis

transações entre duas ou mais pessoas, com base em estados de

ego especificamente definidos ... qualquer sistema ou abordagem

que não se baseie na análise rigorosa de transações isoladas e

dos estados do ego específicos que a compõem não é análise

transacional (p.32).

A AT se utiliza de dez instrumentos básicos para compreender e modificar

o comportamento humano, são eles: análise estrutural; análise das transações; carícias;

emoções e disfarces; programação do tempo; jogos; posições existenciais; script; mini

script e dinâmica de grupo.

Todos esses instrumentos se interrelacionam, mas os que se destacam no

trabalho com famílias alcoólicas são os Jogos e Script. Contudo, para tratar desses dois

assuntos será necessário conhecer os conceitos básicos de todos os instrumentos

acima citados.

3.1.1. Análise Estrutural e Funcional

“Uma parte de mim, pesa, pondera Outra parte, delira...

Uma parte de mim é permanente Outra parte se sabe de repente

Uma parte de mim é só vertigem Outra parte, linguagem”

(Ferreira Gullar)

A Análise Estrutural é o processo da análise da personalidade em termos

dos estados do ego. Considerando que o ser humano é uma unidade bio-psico-social,

Page 28: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

33

Berne (1988) divide a personalidade em três Estados de Ego: o Pai, o Adulto e a

Criança.

Esse mesmo autor define Estado de Ego como sendo “um sistema

coerente de pensamento e sentimento manifestado por um padrão de comportamentos

correspondentes” (p. 25).

Em AT as expressões Pai, Adulto e Criança não têm o significado comum

dado a essas palavras; por isso usa-se letra maiúscula sempre que se refere a Estado

de Ego Pai, Adulto e Criança e letra minúscula quando empregadas com seus

significados convencionais.

Para Crema (1982) o Estado de Ego Pai é composto de mensagens que

foram gravadas na memória da criança a partir de estímulos externos, oriundos de

pessoas que lhe eram significativas ou mesmo de mensagens impessoais.

O Estado de Ego Adulto se origina do confronto da pessoa com a

realidade corrente, atuando no aqui-e-agora. Dessa forma, ele se orienta para a

realidade presente, pela coleta objetiva de informações, toma suas decisões baseado

naquelas informações e em dados colhidos nos Estados de Ego Pai e Criança. O

Adulto não julga, lida estritamente com os fatos.

O Estado de Ego Criança representa emoções como a alegria, raiva,

medo, tristeza e tudo o que se refere ao corpo. Crema (1982) afirma que esse Estado

de Ego é a parte mais autêntica de uma pessoa, porém a mais reprimida pelo processo

de educação ou socialização. Nela são gravadas o espanto, a alegria, a surpresa e

todos os sentimentos maravilhosos associados às primeiras descobertas sobre a vida;

também são gravados o terror, a agonia e todos os sentimentos desagradáveis que a

pessoa experimentou.

Esse mesmo autor afirma que “podemos dizer que conhecemos uma

pessoa quando sabemos o conteúdo da “gravação” ou programação em seu Pai e

Criança, o grau de informação e de responsabilidade de seu Adulto e quais os Estados

de Ego tomarão o controle da situação” (p. 18).

Page 29: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

34

Para entender a atuação dos Estados de Ego Pai e Criança é necessário

perceber a diferença, por exemplo, do Pai quando está orientando ou protegendo, ou

mesmo quando a Criança está obedecendo ou se rebelando, e isso se faz através da

Análise Funcional de Segunda Ordem, que é a subdivisão dos Estados de Ego.

Crema (1982) apresenta as subdivisões do Estado de Ego no diagrama

seguinte:

O mesmo autor explica o funcionamento de cada uma dessas subdivisões:

O Pai Crítico corresponde ao Pai do Pai, representa os valores morais, a

tradição cultural, os preconceitos e as normas e padrões de conduta;

O Pai Nutritivo corresponde ao Adulto do Pai, representa a parte parental

protetora, que nutre e ensina sem imposição;

O Adulto pensa objetivamente, analisa a realidade e vive no aqui-e-agora;

Criança Adaptada corresponde ao Pai da Criança. Ela pode ser Rebelde

quando contraria as ordens e expectativas parentais e Submissa quando

obedece automaticamente às ordens ou expectativas parentais;

PC

PN

A

S R

CL

PAI CRÍTICO PAI NUTRITIVO ADULTO

CRIANÇA ADAPTADA { Submissa ou Rebelde CRIANÇA LIVRE

FIGURA 1: Diagrama Funcional de 2ª ordem, (p. 22)

Page 30: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

35

Criança Livre corresponde a Criança Natural por ser a parte da

personalidade espontânea, intuitiva, que vive e goza emocionalmente a

vida.

Os Estados do Ego podem atuar tanto de maneira positiva quanto

negativa. Crema (1982) enfatiza que “o objetivo da AT é fazer com que o indivíduo

passe de seu circuito negativo para o seu circuito positivo” (p.24).

É o padrão positivo de atuação que a família vai buscar na terapia, e cabe

ao psicólogo proporcionar a ela essas novas possibilidades de atuação.

3.1.2. Análise das Transações

Assim como para entender o comportamento de uma pessoa é necessário

analisá-la em termos de Estados de Ego, o comportamento de duas ou mais pessoas é

examinado em termos de transações.

Kertész (1987) afirma que uma transação consiste em “trocas de

estímulos e respostas entre estados do ego específicos de diferentes pessoas” (p.56).

Essas transações podem ser:

Simples ou complexas, variando de acordo com o número de Estados

de Ego participantes;

Podem ser complementarres quando o Estado de Ego que responde

foi o solicitado, e cruzadas quando o Estado de Ego que responde não

foi o solicitado;

Para um melhor entendimento da teoria serão utilizados exemplos de

possíveis transações existentes em famílias alcoólicas.

Page 31: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

36

Exemplo de transação complementar:

(E) - Acho que precisamos de ajuda profissional para tratar desse

problema.

(R) - É, percebo que não tenho mais controle sobre a bebida.

Exemplo de transação cruzada:

(E) - Acho que precisamos de ajuda profissional para tratar desse

problema.

(R) - Puxa, só porque bebi ontem você vem com acusações.

E ainda pode ser ulterior quando há a emissão simultânea de duas

mensagens, uma social que é aparentemente aceitável e outra oculta

que é menos perceptível.

P

A

C

P

A

C

FIGURA 2: Diagrama Transação Complementar

Emissor Receptor

E R

P

A

C

P

A

C

FIGURA 3: Diagrama Transação Cruzada

Emissor Receptor

E

R

Page 32: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

37

Exemplo:

Mensagem Social:

(E) - Vamos convidar uns amigos para um churrasco?

(R) - Só se você jurar que não vai beber demais.

Mensagem Ulterior:

(E) - Deixa eu me embriagar?

(R) - Claro, você não tem jeito mesmo.

O que no nível social pode parecer um ato de preocupação ou

generosidade do Estado de Ego Pai Nutritivo ou Protetor do receptor para com a

Criança do emissor, no nível psicológico é visto como um convite para o início de

transações entre a Criança Adaptada e o Pai Crítico Negativo.

Nas transações ulteriores existem uma agenda oculta entre emissor e

receptor que são parte essencial da cadeia de jogos psicológicos.

3.1.3. Carícias

Kertész (1987) afirma que, dentre os instrumentos de AT, “Carícia” é o

mais poderoso e direto deles, pois é a essência das relações humanas. Ele define este

P

A

C

P

A

C

FIGURA 4: Diagrama Transação Ulterior

Emissor Receptor

R

R1

E

E1

Page 33: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

38

instrumento como “estímulos sociais dirigidos de um ser vivo a um outro, o qual, por sua

vez, reconhece a existência daquele” (p. 71).

As carícias são classificadas em positivas, negativas e falsas. Crema

(1982) a define da seguinte forma:

Carícias Positivas produzem no receptor uma sensação de bem-estar

e auto-estima;

Carícias Negativas produzem no receptor uma sensação de mal-estar,

inutilidade ou rejeição. Elas podem ser carícias agressivas causando

sofrimento e dano físico ou moral a seu receptor, ou ainda ser carícias

de lástima gerando um aparente conforto a quem recebe, mas

ocultando intenções de desqualificação e desvalorização;

Carícias Falsas parecem positivas, mas são utilizadas para tirar

vantagens de seu receptor.

As carícias podem ser incondicionais quando despretensiosas e

condicionais quando quem as dá exige algo em troca.

Em oposição à carícia existe a desqualificação que é o não

reconhecimento da existência do outro. As famílias alcoólicas encontram na

desqualificação uma forma de negação e de não responsabilizar-se por sua parte na

problemática existente no grupo familiar.

Schiff (1982) classifica em quatro tipos diferentes a desqualificação. Para

uma melhor compreensão serão utilizados exemplos de possíveis interações no

contexto familiar:

Desqualificação do problema. Ex.: O marido chega alcoolizado em

casa e a esposa finge não perceber;

Page 34: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

39

Desqualificação do significado do problema. Ex.: O marido chega

alcoolizado em casa e a esposa diz que isso é normal;

Desqualificação da possibilidade de solucionar o problema. Ex.: O

marido chega alcoolizado em casa e a esposa diz que isso não tem

jeito mesmo;

Desqualificação da pessoa. Ex.: O marido chega alcoolizado em casa

e a esposa diz que não pode interferir. “ – Eu não posso fazer nada”.

Ou o ignora completamente.

Uma outra forma de se obter carícias é a simbiose. Schiff (1982) salienta

que a simbiose é uma condição normal no estágio oral de desenvolvimento da criança e

que a patologia é, provavelmente, o resultado de perturbações nessa relação, e segue

afirmando que “os Jogos desenvolvem-se a partir de relações simbióticas não

resolvidas, com mecanismo de desqualificação. Representam uma reencenação do

relacionamento simbiótico numa tentativa de obter cuidados ou numa reação de raiva

para com o relacionamento simbiótico” (p.23).

No que se refere a simbiose Crema (1982) enfatiza que “nas relações

simbióticas é muito freqüente a utilização de condutas passivas, que excluem o pensar

e buscar uma solução adequada ao problema levando em conta todos os Estados de

Ego” (p.47).

Afirma que existem quatro formas de comportamentos passivos: o não

fazer nada; a sobreadaptação que é adaptar-se as expectativas que se imagina que o

outro tenha; a agitação que é a dispersão da energia em atividades sem propósitos ou

finalidade; e a incapacidade ou violência que é o causar dano físico ou psíquico a si ou

ao outro.

Afirma ainda que “nenhuma destas condutas representam a solução da

problemática do indivíduo, mas confirmam a sua alienação e negação da

Page 35: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

40

responsabilidade, reforçando o vínculo simbiótico” (p.48). O que é uma característica

básica das famílias alcoólicas.

3.1.4. Programação do Tempo

A programação do tempo pode ser classificada, já que ocorre numa série

programada e não ao acaso e que pode, inclusive, se estender por toda uma vida.

Berne explica que existem seis formas de estruturar o tempo (Crema, 1982):

A primeira delas é o Isolamento – neste tipo de estruturação de tempo

não há contato social, isto é, transações. Não existe, portanto, troca de carícias.

A segunda são os Rituais – estas são transações complementares

simples que, em geral, são determinadas pela estrutura social. Uma saudação ou uma

despedida são formas de rituais programados pelo Estado de Ego Pai.

A terceira delas é a Atividade – esta forma de estruturação do tempo é,

normalmente, programada pelo Adulto, que em contato com a realidade cumpre um

objetivo pré-fixado.

Uma forma patológica de atividade é o preencher todo o tempo com

atividades para evitar entrar em intimidade com o outro.

A quarta forma de estruturação de tempo são os Passatempos – para

Kertész (1987) “são simples bate-papos, transações complementares superficiais entre

duas ou mais pessoas, em torno de um interesse comum” (p. 21).

A quinta são os Jogos Psicológicos – definido por Berne (1988) como

“conjuntos de transações ulteriores, repetitivas por natureza, com um desfecho bem

definido” (p.34).

Page 36: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

41

Em função da importância para o trabalho, o tema Jogos será abordado

com maiores detalhes em tópico específico.

A sexta e ultima estrutura é a Intimidade – é definido por Crema (1982)

com maestria: “representa a maneira mais gratificante e satisfatória de relacionamento

social, fonte pródiga de carícias positivas incondicionais, permitida pela Criança Livre,

vivendo com naturalidade seu ‘aqui-e-agora’ ” (p. 51).

3.1.5. Emoções e Disfarces

A Análise Transacional considera que existem somente as seguintes

emoções autênticas: afeto, alegria, tristeza, raiva e medo. Crema (1982) salienta que

essas emoções são incondicionais por estarem contidas na Criança Livre. Os demais

sentimentos, como falsa alegria, culpa, vergonha, ciúme, etc., são denominados

emoções disfarces, e estão contidas na Criança Adaptada.

Em geral, nas famílias alcoólicas seus membros se sobreadaptam e usam

de disfarces para suprimir a emoção autêntica, não permitida.

Kertész (1987) dá a seguinte definição para disfarce “é uma emoção

substitutiva, inadequada, fomentada pelos pais ou seus substitutos na infância, que

entra no lugar da emoção autêntica, ignorada ou proibida por estes” (p. 105).

A troca de emoções autênticas por disfarce permite ao Estado de Ego

Criança de quem as recebe guardá-las para depois trocá-las por algo que tenha valor

psicológico. Para Crema (1982) isso representa “uma complacência com sensações

antigas que são colecionadas para um eventual resgate, sendo o benefício final de

vários Jogos Psicológicos” (p. 55).

Page 37: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

42

3.1.6. Posição Existencial

Crema (1982) conceitua posição existencial da seguinte maneira:

(...) são juízos de valor ou conceitos de si mesmo e dos demais,

adquiridos na infância através de tomadas de decisões, muitas

vezes imaturas e irreais, uma vez que baseadas nas condições

precárias de criança para raciocinar e pensar objetivamente

diante da realidade objetiva (p. 59).

As posições existenciais podem expressar uma impressão de si mesmo

ou sobre as outras pessoas. As posições existenciais foram denominadas como

posição OK e posição Não OK.

Kertész (1987) afirma que existem cinco posições existenciais diferentes:

a eu estou OK + / você está OK + – que representa uma posição

realista, adotada pelo Adulto, pois integra aspectos positivos e

negativos da pessoa;

a eu estou OK / você está Não OK – que representa uma posição

paranóide, perseguidora, salvadora ou superprotetora. Geralmente

esta posição se estabelece quando um familiar persegue uma

criança e outro a salva. Assim a criança fica ressentida contra o

primeiro.

Essa é uma posição, em geral utilizada pelo alcoolista na interação

com a família, onde em determinados momentos o companheiro

assume o papel de perseguidor, o filho de salvador e o alcoolista o

papel de vítima;

a eu estou Não OK / você está OK – representa uma posição

depressiva e submissa, adota-se esta posição quando se é

Page 38: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

43

perseguido, criticado, humilhado ou então superprotegido na

infância.

Essa posição existencial é, geralmente, assumida pelo filho quando

este se julga responsável pela bebedeira do pai ou agressividade

da mãe;

a eu estou Não OK / você está Não OK – representa um posição

niilista, com uma Criança Adaptada Não OK, submissa ou rebelde;

e por último a eu estou OK / você está OK – que representa uma

posição maníaca, o mundo é perfeito e tudo está sempre bem. Ela

é induzida por famílias que desqualificam e negam tudo o que é

desfavorável, como se as falhas e os erros pessoais não

existissem.

As frases utilizadas pela família alcoólica nesta posição existencial

geralmente são as seguintes: “isso é só uma fase”, “foi só um

acidente”, “ele nem bebeu tanto”, “o tempo resolve tudo”.

Dependendo do papel social assumido, o indivíduo mudará sua posição

existencial na tentativa de confirmar sua posição existencial inicial, criando mecanismos

que confirmem sua patologia.

3.1.7. Jogos

Berne (1995), em seu livro Os Jogos da Vida, da a seguinte definição para

Jogos:

(...) um jogo é uma série de transações complementares que se

desenrolam até um desfecho definido e previsível. Pode ser

descrito como um conjunto repetido de transações, não raro

Page 39: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

44

enfadonhas, embora plausíveis e com uma motivação oculta ...

todo Jogo é basicamente desonesto, e seu desfecho tem um certo

caráter de dramaticidade (p. 49).

Kertész (1987) afirma que os Jogos Psicológicos são como iscas

inconscientes para os jogadores, pois os envolvidos inter-atuam em dois níveis: um

social que é consciente e moralmente aceito, e outro psicológico que é inconsciente e

passível de desaprovação.

Os Jogos podem ser classificados de acordo com sua gravidade:

Jogos de 1º grau – são os socialmente aceitáveis;

Jogos de 2º grau – são os que não provocam danos irreparáveis ou

permanentes;

Jogos de 3º grau – são os que possuem um caráter definitivo e

terminam tragicamente numa sala de operações, num tribunal ou

necrotério.

Os Jogos trazem benefícios a quem dele participa, apesar de serem

negativos. Crema (1982) afirma que as vantagens gerais dos Jogos “consiste em suas

funções estabilizadoras, provendo o equilíbrio biológico pela estimulação recíproca

(carícias negativas) e psicológica, garantido pelo reforço das posições e atitudes

assumidas pelos jogadores” (p. 73).

Como já mencionado os Jogos tem um elemento dramático que alicerça a

troca de papéis. Berne (1995) salienta que todo Jogo tem influência importante e

decisiva nos destinos dos jogadores, mas que alguns oferecem mais oportunidades que

outros para se perpetuarem numa longa existência e para envolverem observadores

relativamente inocentes. A este grupo de Jogos o mesmo autor deu o nome de Jogos

da Vida. Faz parte desse grupo o denominado pelo próprio Berne (1995) de Jogo do

Page 40: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

45

Alcoólatra, que consiste num papel assumido por um indivíduo em certos tipos de

jogos.

Para este trabalho interessa a análise dos Jogos, das transações sociais

relacionadas com o álcool.

Berne (1995) considera que o Jogo do Alcoólatra é jogado por cinco

pessoas, podendo ser condensado de forma que ele começa e termina como um jogo

para dois. Ainda afirmava que “o objetivo transacional da bebida é produzir uma

situação em que a Criança possa ser severamente repreendida não apenas pelo Pai

interior, mas por quaisquer figuras parentais que queiram se dar a esse trabalho” (p.72).

Ele segue afirmando que o tratamento do alcoolismo deve se concentrar

nas manhãs de ressaca e não na bebedeira em si, pois se o ato de beber é um jogo o

benefício está na manhã seguinte com a punição interna ou social. O alcoolista tem

como passatempo preferido o desconforto psicológico da ressaca. O ato de beber,

numa análise mais profunda, é o que o próprio Berne (1995) chama de “um prazer

acidental” (p.72), cujo objetivo final do jogo é realmente a ressaca.

Para melhor entender essa dinâmica analisar-se-á o seguinte exemplo:

Um pai de família costuma chegar em casa alcoolizado. Enquanto está

sob o efeito da bebida esse homem está apenas desfrutando do “prazer” que o álcool

pode lhe dar. A grande “cena” do Jogo começa na manhã seguinte, pois é nesse

momento que ele vai tomar consciência, que vai ter que “encarar” a esposa e filhos e as

cobranças que certamente eles farão. Isso dará ao alcoolista o pseudo direito de

vitimizar-se e achar que o estão perseguindo.

Crema (1982), referindo-se a representação dos Jogos descritas por

Berne, apresenta o diagrama de Karpman, denominado de triângulo dramático.

Baseado no Jogo do Alcoólatra de Berne, Karpman desenhou um esquema para

representar as mudanças de comportamento em três papéis básicos: Vítima,

Perseguidor, Salvador.

Page 41: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

46

O exemplo anteriormente citado descreve bem a relação familiar existente

dentro do triângulo dramático. O esposo alcoolista assume o papel de Vítima, pois a

esposa, no dia seguinte, cobrará o marido pela bebedeira, assumindo nesse momento

o papel de Perseguidora. Os filhos entram para salvar ou a mãe ou o pai, geralmente o

Salvador resgatará a Vítima.

Esses três papéis são de ação. As pessoas podem trocá-los quando

melhor lhes convir, ainda que não saibam que o estão fazendo.

Usando-se ainda do mesmo exemplo pode-se compor uma triangulação

completamente diferente. Por exemplo, os filhos como Perseguidores da mãe por

aceitar que o pai se alcoolize, onde ela passa a ocupar o papel de vítima e o pai o de

Salvador da esposa que está sendo acusada pelos filhos.

Para Kertész (1987) as pessoas que se utilizam dos Papéis do Triângulo

Dramático aprenderam a desempenhá-los na infância, na interação familiar e depois de

muitas repetições passam a desempenhar estes papéis automática e

inconscientemente.

Perseguidor: Pai Crítico Negativo – dá carícias agressivas, manipula com o medo

Salvador: Pai Nutritivo Negativo

– dá carícas de lástima, manipula

com culpa

Vítima: Criança Adaptada – procura carícias negativas agressivas ou de lástima, manipula com culpa e medo

FIGURA 5: Diagrama Triângulo Dramático de Karpman (Crema, 1982, p. 75)

Page 42: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

47

Crema (1982) também afirma que “o significado histórico dos Jogos é o

fato de que são passados de geração à geração. Sabemos que o jogo favorito de

qualquer indivíduo, muito provavelmente teve sua origem em seus pais ou avós, e

tenderá a ser transmitido para seus filhos” (p. 76).

Os papéis do Triângulo Dramático são dinâmicos com mudanças nos

papéis, são manipulativos ou falsos, podendo deixar de ser utilizados mediante uma

decisão do Adulto que não aceitará compactuar com essa triangulação.

Geralmente quando um dos familiares entra em terapia e os demais não, a

família se une para tentar “resgatar” aquele que não mais aceita participar dos Jogos

Familiares.

3.1.8. Script de Vida

“Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo,

tudo, o que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos...

ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.”

(Belchior)

Script é denominado por alguns autores como Argumento ou Roteiro de

Vida. Dentre os instrumentos de AT, ele é o de verificação mais complexa.

Antes mesmo de nascer, a família já tem expectativas conscientes e

inconscientes a respeito dos papéis que a criança desempenhará. A sua personalidade

irá encaixar-se como uma peça de quebra-cabeças com as personalidades de seus

pais e parentes é o que afirma Kertész (1987). Ele segue enfatizando que o script é

grupal, pois “é um plano inconsciente de conjunto de vida. Para que se cumpra, cada

um deverá cumprir o Papel complementar dos outros” (p.131). Um bom exemplo disso é

o Triângulo Dramático: Perseguidor, Vítima, Salvador.

Page 43: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

48

Essa afirmação de Kertész vem de encontro a teoria de que o alcoolismo

é transgeracional e que a recuperação perpassa o ambiente familiar.

Uma outra definição apresentada para o que seja Script é oferecida por

Crema (1982) que o conceitua como sendo “um plano de vida não consciente que é

decidido pela Criança Adaptada antes dos 8 anos, sendo tal decisão determinada pelas

mensagens parentais, advindas das Crianças Adaptadas dos pais ou substitutos, que

denominamos mandatos” (p. 78).

É através das mensagens recebidas dos pais que a Criança da criança

começa a recolher dados que determinarão suas decisões básicas. Para isto, ela se

utilizará dos conceitos básicos a respeito de si e do outro, isto é, da Posição Existencial

que ocupa e do Script de Vida que possui.

Em oposição ao Script existe o Contra-Script que são as mensagens

parentais gravadas no Estado de Ego Pai da pessoa. Crema (1982) salienta que “o

objetivo do Contra-Script é opor-se às mensagens “bruxas”, que são os mandatos

negativos que as Crianças Adaptadas dos pais gravam na Criança Adaptada do filho e

que determinaram seu Argumento” (p. 81).

O mesmo autor segue falando dos impulsores que são as mensagens ou

mandatos do Contra-Script que, na verdade, contribuirão para que o indivíduo cumpra

seu Script negativo, pois é inevitável a frustração pelo não cumprimento desses

mandatos.

Kertész (1987) detalha as características de cada um dos impulsores:

Seja Perfeito – tem como mandato característico o “Não me supere”.

Prende-se a detalhes, não consegue distinguir o essencial do

acessório. O indivíduo que atua com esse impulsor acha que não está

fazendo bem aquilo a que se propôs;

Seja Forte – cujo mandato é “Não sinta”. Procura ocultar as emoções,

em especial o medo e a tristeza e também por se negar a pedir ajuda.

Page 44: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

49

Há, internamente, uma mensagem do Pai Crítico à Criança para que

ela não se mostre “fraco” ou vulnerável;

Apresse-se – onde a atribuição básica e “Apresse-se a crescer”. Há

uma desqualificação interna que diz ao indivíduo que ele não

conseguirá terminar o que começou, isso faz com que a pessoa, pela

velocidade com que toma decisões, erre, tome decisões prematuras,

seja confusa, etc.;

Seja Esforçado – com o mandato de “Não desfrutar”. As pessoas

tendem a fixar mal os objetivos, seguem métodos ineficientes para ter

que começar tudo de novo e confirmar seu fracasso e ter que se

esforçar ainda mais;

Agrade Sempre – com o mandato de “Não pense”. O intercâmbio

entre o dar e receber é regulado por ele. Refere-se tanto a dar demais,

como a pretender que o agradem em excesso. Um exemplo em família

é o de uma mulher que tiraniza o marido, mas é tiranizada pelos filhos.

Nesse impulsor a submissão é a principal característica, o sentimento

autêntico não é validado, quem atua nesse contexto é a Criança

Adaptada Negativa.

Crema (1982) afirma que, felizmente, existem além dos Impulsores os

Permissores, que são mensagens enviadas pelo Pai Nutritivo Positivo da pessoa que

diz: “é suficiente fazer bem”; “podes pedir ajuda”; “toma o tempo que necessitas”; “vive

o aqui e agora”; “não precisas agradar a todos, agrada-te a ti mesmo”.

O mesmo autor segue exemplificando através da ilustração abaixo a

matriz de Script e Contra-Script:

Page 45: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

50

O fim trágico do Alcoolista é temporariamente interrompido quando ele

decide viver “um dia de cada vez”, e isso pode ser chamado de contra-script, pois o

poder da vontade de viver no aqui-e-agora está no Pai (este é um ato do Pai Nutritivo

Positivo).

Para a AT o alcoolismo é um Script, e a menos que o bebedor pare, levará

a um fim trágico. O terapeuta deve ser capaz de distinguir entre o desenrolar do contra-

script e uma cura.

A

PC

AC

CC

P

MÃE

A

PC

AC

CC

P

FILHO

A

PC

AC

CC

P

PAI

AGRADE-ME

“NÃO

PENSE”

“SEJA PASSIVO”

“NÃO REAJA” “Seja um alcoólatra

ESFORCE-SE

“Tenha fé em Deus que tudo sairá bem. Não se preocupe, tudo se resolve com o tempo. É só esperar.”

CONTRA-SCRIPT

Quando tinha algum problema

ou dificuldade largava tudo e

se embriagava.

SCRIPT

FIGURA 6: Matriz de Script e Contra-Script (Crema, 1982, p. 87)

Page 46: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

51

3.1.9. Mini Script de Vida

Crema (1982) define mini script como sendo o que a “pessoa faz durante

todo seu dia (ou semana ou mês), para no final se sair mal (quando não OK) ou bem

(quando OK)” (p. 84).

Os mini script podem ser OK ou Não OK. Ele será Não OK quando partem

de um dos impulsores (seja forte, seja esforçado, apresse-se, seja perfeito e agrade

sempre), que desencadeiam emoções disfarces como angústia, culpa, ansiedade, fobia

vindos da Criança Submissa que permitirá a obtenção do benefício final Não OK, como

a solidão, depressão, fracasso, etc.

O mini script será positivo quando, no lugar dos impulsores estiverem os

permissores, emoções autênticas para um desfecho saudável.

3.1.10. Dinâmica de Grupo

Berne (1985) enfatiza que “o objetivo da Análise Transacional em terapia

de grupo é conduzir cada paciente através das etapas sucessivas da análise estrutural,

da análise transacional propriamente dita, da análise de jogos e da análise de

argumentos, até que ele obtenha o controle social” (p. 153).

O instrumento Dinâmica de Grupo é utilizado para compreender as

relações existentes dentro do grupo de terapia, suas condições de funcionamento, a

cultura, a liderança e a forma como ele trabalha.

Assim, apesar desse instrumento tratar das relações existentes no grupo

fica difícil contextualizá-lo às questões de famílias alcoólicas sem abordar temas

extremamente complexos dentro da teoria da AT, o que não é objetivo deste trabalho.

Page 47: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

52

3.2. E o Psicólogo como Atua?

(...) o amor talvez é a janela que a luz do sol nos traz

Nos convida a olhar por ela e mostra muito mais

E mesmo a quem não queira ver o sol com sua luz

O amor suavemente ao sol conduz. (Jonh Denver)

O psicólogo tem algumas tarefas básicas a cumprir no tratamento de

famílias alcoólicas, entre elas a tarefa primordial de não aceitar o convite para o Jogo.

Como citado anteriormente a ressaca é o grande benefício do jogo do alcoólatra. Cabe

ao terapeuta identificar os padrões utilizados pelo grupo familiar como meios de troca e

interação com o meio.

Outra tarefa primordial é fazer com que os indivíduos envolvidos dessa

dinâmica consigam descontaminar seu Estado de Ego Adulto, pois percebe-se pela

teoria e pelos exemplos citados que as transações básicas ocorrem entre o Pai (no

papel de quem persegue ou salva) e a Criança (no papel da vítima), o Adulto é excluído

da transação.

Pelo exposto durante todo o trabalho ficou evidente que o alcoolismo não

acontece pela simples supressão, mesmo que temporária, do Pai Crítico Positivo, mas

também pela manipulação de seus relacionamentos externos, isto é, da simbiose

existente entre o indivíduo e seu grupo familiar.

Cabe ao terapeuta saber diferenciar os papéis de cada membro desse

grupo e suas resultantes na condição alcoólica dessa família. Também cabe ao

terapeuta proporcionar a cada um as condições para aprender a diferenciar seus

sentimentos e atitudes dos sentimentos e atitudes do outro.

Page 48: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

53

Ao trabalhar com esse tipo de grupo é necessário ser cauteloso, pois a

toxidade presente em alguns de seus membros ajuda a intensificar as defesas do

grupo. Trabalhar as injunções é extremamente valioso nesse contexto.

É preciso encorajar a família a falar sobre o alcoolismo, esclarecendo o

grau em que o beber é mantido como um segredo. Ajudá-la a compreender como esse

problema pode ter sido criado como uma resposta a transições específicas do ciclo de

vida da família ou do indivíduo.

O terapeuta deve estar atento a potencial necessidade de um trabalho

multidisciplinar, em muitos casos há a necessidade de um acompanhamento médico e

até de grupos de ajuda como Alcoólicos Anônimos.

É importante que o terapeuta acredite na capacidade de recuperação do

Estado de Ego Adulto do cliente, pois como afirma Crema (1982):

(...) com o reconhecimento do Adulto do outro o relacionamento

torna-se imensamente mais produtivo, pois o canal de

comunicação enriquece-se com a participação mútua, em que

estão disponíveis todos os Estados de Ego do paciente,

especialmente o Adulto e a Criança Livre, possibilitando o

crescimento de todos os participantes (p. 94).

Utilizando-se de contratos terapêuticos o psicólogo pode estabelecer

mecanismos que objetivem uma mudança de comportamento. Essa mudança será

alcançada através do estabelecimento de metas mensuráveis e de mudança

comportamental, pois cada um dos familiares assumirá a responsabilidade por ganhar

ou perder algo. Esse passa a ser um compromisso do Adulto do cliente com o

terapeuta.

Page 49: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

54

O contrato deve ter seus objetivos gerais claros, quais os passos a serem

desenvolvidos para alcançá-los, o que deve ser feito e como fazer para alcançar as

metas que foram propostas.

Um outro fator importante a ser considerado pelo terapeuta é o fato de que

jogos de terceiro grau não podem ser interrompidos abruptamente, com o risco de

haver um colapso físico e psíquico do cliente. Devem ser retirados paulatinamente, com

contratos que interrompam os jogos mais nocivos até chegar nos de menor grau.

Por fim, o terapeuta deve ajudar a família a manter-se na sobriedade, uma

vez que passa a viver um momento tênue e importante. Ele deve procurar reduzir ao

máximo os conflitos interpessoais, orientando a família para que todos possam atuar

num padrão comportamental positivo.

Page 50: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

55

CONCLUSÃO

“Uns tomam éter, outros cocaína. Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.”

(Manuel Bandeira, 1981, p. 60 )

Neste trabalho de revisão bibliográfica utilizou-se tanto o alcoolismo para

abordar questões referentes a interação familiar quanto a família para entender as

dinâmicas relacionadas ao álcool.

Objetivou-se neste estudo repensar a prática clínica, utilizando-se da

teoria como elemento norteador de todo o trabalho.

O estudo de múltiplas abordagens foi peça fundamental para a

compreensão da dinâmica de funcionamento da família alcoólica e da interação entre

seus membros. A utilização da Teoria Sistêmica e da Análise Transacional puderam

proporcionar uma perspectiva, ao mesmo tempo, enriquecedora e polêmica e ainda

uma compreensão mais aberta desse tema.

Nas discussões levantadas observou-se que o equilíbrio da família é

conseguido através da “redefinição de papéis” consciente e inconsciente entre o

indivíduo e o grupo. A terapia deve ser usada para promover esse equilíbrio, sem criar

com isso mais rigidez ou novas patologias.

É importante que o psicólogo esteja aberto a “pluralidade”, a nível

conceitual do que seja alcoolismo, para não criar conflitos com outros profissionais que,

eventualmente, precisem interagir no processo de cura do grupo familiar por ele

assistido.

Page 51: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

56

Para compreender profundamente estes indivíduos o psicólogo deve ter a

capacidade de compreender e considerar todas as dores emocionais presentes na

dinâmica do indivíduo e do grupo a que pertence.

Aponta-se como possível desdobramento deste trabalho um estudo mais

aprofundado sobre a relação da mulher com o álcool, já que ao longo dessa revisão

percebeu-se não existirem muitos autores que tratem com profundidade esse tema.

Vale ressaltar o quanto foi gratificante perceber que, apesar das

dificuldades em unir teorias oriundas de campos teóricos distintos, é possível reunir

pressupostos teóricos diferentes na busca de um mesmo objetivo, isto é, a conquista da

estabilidade familiar.

Como a epígrafe retirada do poema Não Sei Dançar de Bandeira (1981),

que inicia e encerra este tópico, conclui-se que é a tomada de consciência das dores

causadas que conduzirá a decisão de viver de forma saudável.

Assim, há sempre algo que remete o ser humano a sua origem, seja como

indivíduo ou como parte de um grupo, ligados geneticamente ou por afinidades. Cabe a

cada um escolher, de maneira livre e saudável, a melhor forma de conduzir a própria

vida.

“Uns tomam éter, outros cocaína.

Eu tomo alegria!” (Manuel Bandeira, 1981, p. 60 )

Page 52: ALCOOLISMO E SISTEMA FAMÍLIA

57

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