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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA REGIONAL DE MANGABEIRA. Processo nº. 2002010031127-9 ALLAN RODRIGUES PEREIRA DONATO, já qualificado nos autos em epígrafe, por seu advogado que esta subscreve, vem a digna e augusta presença de V.Exa., com o devido acatamento e respeito de que é merecedor, apresentar como efetivamente apresenta ALEGAÇÕES FINAIS com fulcro no artigo 403, §3º, do Código Processual Penal, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas: I – DOS FATOS O acusado foi denunciado como incurso nas penas do artigo 217-A, caput, do Código Penal Pátrio, c/c o artigo 226, inciso II, também do Código Penal, por ter supostamente participado de crime de estupro de vulnerável contra Matheus Enrich Cavalcanti de Sousa e Karen Beatriz

Alegações Finais

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Excelente peça juridica. Alegações finais em processo criminal.

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Page 1: Alegações Finais

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA REGIONAL DE MANGABEIRA.

Processo nº. 2002010031127-9

ALLAN RODRIGUES PEREIRA DONATO, já qualificado nos

autos em epígrafe, por seu advogado que esta subscreve, vem a digna e

augusta presença de V.Exa., com o devido acatamento e respeito de que é

merecedor, apresentar como efetivamente apresenta

ALEGAÇÕES FINAIS

com fulcro no artigo 403, §3º, do Código Processual Penal, pelas razões de

fato e de direito a seguir expostas:

I – DOS FATOS

O acusado foi denunciado como incurso nas penas do artigo 217-A,

caput, do Código Penal Pátrio, c/c o artigo 226, inciso II, também do Código

Penal, por ter supostamente participado de crime de estupro de vulnerável

contra Matheus Enrich Cavalcanti de Sousa e Karen Beatriz Cavalcanti de

Souza, o que não encontra nenhum suporte fático ou jurídico na verdade.

Após tomadas as declarações das partes e testemunhas, feito o

interrogatório do acusado, foi realizada audiência de instrução, fls. 77/78,

aberto prazo legal para apresentação de alegações finais por memoriais.

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Apresentadas as alegações finais do Ministério Público, fls. 79/84, onde

o nobre Parquet pugnou pela condenação do acusado.

Ocorre Excelência, que o nobre representante do Ministério Público

desvirtuou os fatos não vislumbrando a verdade devidamente demonstrada

pelo Sr. Allan Rodrigues Pereira Donato, que em momento algum opôs

qualquer resistência em colaborar com a justiça demonstrando os fatos como

realmente se deram, expondo todos os eventos de forma contínua e clara.

Resta claro e evidente que estamos diante de mais um caso da

Síndrome da mulher de Potifar.

Com maestria que lhe é peculiar, nosso saudoso professor Rogério

Greco (2010, v. III, pp. 471-473) explica o caso bíblico de José, então escravo

de Potifar, que sendo desejado pela mulher de seu senhor, resistia às

investidas da mesma; porém esta, para prejudicar José, o acusou de tentativa

de estupro. Na situação do suposto estrupo tentado, a vítima e o acusado

estavam sozinhos no local onde teria ocorrido o crime.

No caso em tela, a senhora Erika Iris Cavalcanti Vieira, genitora das

supostas vítimas, ao invés de imputar o fato a ela mesma, preferiu alienar as

crianças, imputando a estas as supostas agressões sofridas, criando os fatos

com o fito de prejudicar o acusado.

Acreditamos nessa hipótese pois se se alegasse que as agressões

elencadas na denúncia oferecida pelo Parquet tivessem sido sofridas por ela,

inevitável seria o exame de corpo de delito para constatar as referidas

agressões.

O mais intrigante Excelência, é que tanto o fato narrado pela denúncia

como pelas declarações das supostas vítimas são praticamente impossíveis e

improváveis de terem acontecido.

Na declaração prestada pela suposta vítima Matheus Enrich Cavalcanti

Vieira de Souza, afirmou que:

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“…duas horas da manhã, o declarante acordou sentindo

que seu pênis estava introduzido no ânus do acusado;

depois, o declarante tirou o pênis e foi dormir;”

Acordou sentindo que seu pênis estava introduzido no ânus do

acusado? Data vênia, Excelência, a possibilidade de isso ocorrer é

praticamente impossível! Muito espanto causa essa afirmação.

Imaginemos os fatos de acordo com a declaração da suposta vítima:

para que o acusado pudesse cometer as referidas agressões, primeiro teria

que encaixar a vítima com uma das mãos para que seu corpo ficasse rente ao

do acusado; com a outra mão, teria que introduzir o pênis do menor em seu

ânus, e ao mesmo tempo, abrir as nádegas para que se chegasse ao

pretendido.

É fisicamente muito difícil que isso tenha ocorrido pois, como se não

bastasse, o pênis do menor haveria de encontrar-se ereto. Mesmo que o

acusado tentasse realizar os fatos narrados na denúncia e nas

declarações das supostas vítimas, como o menor não acordou antes, e

sim depois que o seu pênis estava introduzido no ânus do acusado?

Como o acusado pode ter forçado o enteado a botar seu pênis em seu

ânus sem fazer nenhum movimento brusco? Como a genitora, que estava

dormindo ao seu lado não percebeu nada?

São questionamentos que se faz necessário para que seja alcançada a

verdade real, qual seja a inocência do acusado. O acusado nunca praticou

qualquer ato que atentasse contra a dignidade dos enteados.

Em contradição, a Sra. Erika Iris Cavalcanti de Souza, mãe dos

menores, disse em declaração:

“o denunciado se aproveitou da situação em que todos da

casa dormiam, aproximou-se do menor Matheus, que

também dormia na cama da declarante, juntamente com

esta, tirou vestes do citado menor, excitou-o e o fez

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penetrar seu órgão genital no ânus do acusado;…” (Grifo

nosso)

Em um momento o menor Matheus afirma ter acordado quando o seu

pênis já estava introduzido no ânus do acusado. Em outro, a mãe disse que o

acusado excitou o menor. As partes entraram em contradição!

Outrossim, é de se observar que a Sra. Erika Iris Cavalcanti de Souza já

tinha forjado uma agressão por parte do acusado, inclusive chamando a

polícia, que de prontidão constatou que tudo não se passava de mais uma crise

nervosa desta.

Diante disso, a mãe dos menores carece de credibilidade suficiente para

condenar uma pessoa apenas em suas alegações, pois conforme a mesma em

declaração, disse:

“a declarante tomava medicação controlada para

síndrome do pânico…”

Claro que o simples fato de se tomar medicação controlada não significa

que esta pessoa carece de credibilidade. Porém, no caso da Sra. Erika, vários

são os fatores que indicam essa afirmação, pois além dos distúrbios

psiquiátricos que a mesma padece, também sofre com psicoce, tentativa de

suicídio, ataques de ansiedade, despersonalização, distúrbios de memória,

confusão mental e desorientação.

Forçoso é analisar o depoimento do menor Matheus quando afirmou no

seu depoimento:

“…o declarante tirou o pênis e foi dormir; que não tem

nenhuma lembrança do que aconteceu antes; na manhã

do dia seguinte, o declarante acordou e foi cortar o

cabelo;”

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O menor afirmou que tirou o pênis e foi dormir, e que no outro dia

acordou e foi cortar o cabelo. Como uma pessoa sofre um abuso sexual e age

como se nada tivesse acontecido?

Já a mãe do menor, no seu depoimento, disse:

“…que na manhã do dia seguinte ao episódio ocorrido

com Matheus, este acordou agitado querendo ir embora a

qualquer custo, ainda que fosse a pé;”

Excelência, tudo isso não passa de uma vingança da Sra. Erika contra o

acusado, pelo simples fato do mesmo ter terminado o relacionamento.

Em relação a menor Karen Beatriz Cavalcanti de Souza, os fatos

alegados também são frutos da mesma armação elaborada pela mãe dos

menores.

Douto Julgador, há uma possibilidade plausível de haver uma falsa

imputação no caso, o que demanda cautela na avaliação negativa do

imputado!

Portanto Excelência, nesses tipos de casos, a palavra da vítima pode ser

vital para uma condenação injusta, pois normalmente acontece às escondidas,

sem testemunhas.

II- DO DIREITO

Após demonstrado que os fatos narrados na denúncia do Ministério

Público não ocorreram, resta evidente que Allan Rodrigues Pereira Donato é

inocente, não incorrendo no tipo descrito pelo artigo 217-A, caput, do Código

Penal Pátrio, c/c o artigo 226, inciso II, também do Código Penal.

Invoca-se o princípio do favor rei ou in dubio pro reo, implícito na regra

prescrita no artigo 386, II, do Código de Processo Penal, ex vi:

Page 6: Alegações Finais

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na

parte dispositiva, desde que reconheça:

(...)

VII – não existir provas suficientes para a condenação.

A garantia de liberdade deve prevalecer sobre a pretensão punitiva do

Estado. Não conseguindo o Estado angariar provas suficientes da

materialidade e autoria do crime, o juiz deverá absolver o acusado.

Comentando este dispoditivo legal, o emérito criminalista Roque de Brito

Alves, ensina:

“A “prova suficiente” de que nos fala o texto legal é

entendida, na doutrina, como sinônima de prova cabal,

concludente, plena, acima de qualquer dúvida ou hipótese

favorável ao acusado. Ou seja: é essencialmente a velha

“certeza de culpabilidade” de que nos falam os mestres da

prova em matéria criminal (Mittermaier, Malatesta, Ellero,

entre outros).”

No caso presente, MM. Julgador inexiste provas que possam alicerçar

uma sentença condenatória para o denunciado suso citado.

Nesse aspecto assim se expressa Rogério Greco:

“Mediante a chamada síndrome da mulher de Potifar, o

julgador deverá ter a sensibilidade necessária para apurar

se os fatos relatados pela vítima são verdadeiros, ou seja,

comprovar a verossimilhança de sua palavra, haja vista

que contradiz com a negativa do agente. A falta de

credibilidade da vítima poderá, portanto, conduzir à

absolvição do acusado, ao passo que a verossimilhança

de suas palavras será decisiva para um decreto

condenatório.”

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Tal tese é compartilhada pela melhor doutrina e jurisprudência,

conforme se vê:

APELAÇÃO PENAL. ARTIGO 213 DO CÓDIGO PENAL. SENTENÇA CONDENATÓRIA. ALEGAÇÃO E INSUFICIÊNCIA DE PROVAS PARA A CONDENAÇÃO. ARGUMENTAÇÃO IMPROCEDENTE. EXISTÊNCIA DE SUPORTE PROBATÓRIO CAPAZ DE EVIDENCIAR A MATERIALIDADE E A LIGAÇÃO DO APELANTE COM A AUTORIA DELITIVA. RELEVÂNCIA DA PALAVRA DA VÍTIMA NOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL. HARMONIA COM AS DEMAIS PROVAS EXISTENTES NOS AUTOS. VEROSSIMILHANÇA DAS DECLARAÇÕES DA OFENDIDA. PRECENDENTES JURISPRUDÊNCIAIS. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. UNANIMIDADE. 1. Compulsando os autos, constata-se que a materialidade do crime de estupro fora revelada por meio dos laudos de exame de corpo de delito (fls. 122 e fls. 123), enquanto que a autoria delitiva restou comprovada por intermédio dos depoimentos harmônicos e coesos prestados em juízo pela vítima (fls. 79/81) e pelas testemunhas arroladas pela acusação; 2. Os crimes contra a liberdade sexual normalmente são cometidos às escondidas ou na clandestinidade, sem a presença de testemunhas, razão pela qual a palavra da vítima assume especial relevância para a formação do convencimento do magistrado quanto à ocorrência da prática delitiva. Entretanto, por influência do fenômeno que em criminologia denomina-se de síndrome da mulher dePotifar, o qual é extraído dos ensinamentos bíblicos constantes do Livro de Gênesis - a advertir, em síntese, que por motivos variados aquele que figura como vítima eventualmente pode vir a falsear a verdade, acusando em vão o dito agressor - é necessário verificar se as declarações expendidas pela vítima são consentâneas com as demais provas coligidas aos autos, a fim   de   extrair a verossimilhança e a credibilidade dos fatos relatados pela ofendida, a exemplo do que ocorre no caso concreto. Doutrina e precedentes jurisprudenciais. 3. Recurso conhecido e, no mérito, improvido.

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O julgado acima transcrito vêm confirmar a posição da defesa, de que,

quando não possa extrair a verossimilhança das alegações e carecer a

ofendida de credibilidade dos fatos relatados, deve-se absolver o acusado.

Ante ao exposto, considerando os fatos supra, com fulcro no artigo

386, II, do CPP, espera a defesa, confiando no senso de Justiça que norteia os

passos dos Magistrados vocacionados, requer a V. Exa., a improcedência da

r. denúncia com a ABSOLVIÇÃO do acusado ALLAN RODRIGUES

PEREIRA DONATO, da imputação criminal que lhe foi atribuída.

Termos em que pede e espera deferimento.

João Pessoa, 11 de setembro de 2013.

 

THIAGO RODRIGUES PEREIRA MENDES

OAB/PB 18.918

AV. MAR VERMELHO, 164, INTERMARES, CABEDELO-PB

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