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Além - Duan Baptista

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Ao descobrir que seu grande amor do passado está de casamento marcado, Alice deseja com todas as suas forças a morte de seu ex-namora- do Marcelo. Um dia antes do casamento, este sofre um grave acidente de carro que o deixa em coma profundo. Abalada, Alice se sente ainda pior, até que em uma noite ela acaba sonhando com ele, e isso se torna uma constante;todas as noites Alice sonha com seu amor do passado, seu primeiro amor, sonhos que acabam sendo mais prazerosos que seu próprio dia-a-dia. Porém, ela não esperava que ao sonhar todas as noites, acabaria por liberar forças ocultas, e no mundo real sente que está sendo perseguida por algo. Agora Alice entende que seu mundo não se transformou numa maravilha, mas sim em um verdadeiro pesadelo.

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Além

1º edição

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Para todos os destruidores de corações e, principalmente, àqueles de corações partidos.

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PARTE 1

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Capítulo 1

Às vezes a persistência se torna um grande defeito. E

quando algo não é para ser seu, não adianta espernear, gritar, fazer o seu melhor, mudar o seu jeito. Ele vai se casar e não é comigo. Ele a ama, ele nunca me amou. Há coisas que são impossíveis de conquistar. E eu sou uma perdedora.

Este foi o pensamento de Alice enquanto chorava em sua cama agarrada ao seu travesseiro. Ela era linda, tinha um sorriso invejável, seu rosto era fino e seu cabelo castanho claro disputava destaque com seus olhos cor de mel. Ela fora apaixonada por Marcelo desde quando havia quinze anos, e agora já se encontrava com seus dezoito, ainda chorava por aquele jovem que tivera escolhido Simone, para ser sua noiva, para dividir uma vida inteira junto a ele.

Alice soubera da novidade por intermédio de um vizinho seu. E agora seu rosto estava ficando inchado de tanto chorar. Fazia dois anos que ele terminara o namoro sem um grande motivo. Ela sempre fora dedicada, alegre, era ciumenta, mas dava o seu melhor para esconder seu ciúme na maioria das vezes. Fazia tudo para agradá-lo, e esse era o grande problema: Marcelo percebia que ela amava mais ele do que ela própria e a grande maioria dos homens não dão tanto valor quando sua parceira faz todas as suas vontades. É até contraditório, pois o ser humano em toda sua vida procura alguém que lhe complete e que o faça feliz... Resumindo, as pessoas procuram alguém que realmente se importem e que sempre estarão ao seu lado e quando conseguem alguém com todas essas qualidades, acabam simplesmente se enjoando da outra pessoa.

Alguém bateu à porta. Alice não respondeu e desejou que quem estivesse querendo entrar, pensasse que não havia nin-

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guém lá dentro e desistisse. Porém, não foi isso o que acon-teceu; as batidas continuaram e ela ouviu uma voz:

– Alice! Eu sei que você está aí! Abra! É a Andrea.

Alice ficara pensativa sem se pronunciar por um instante refletindo se era melhor abrir a porta para sua amiga ou não. Ela precisava de um ombro amigo, porém se sentia envergonhada pelo fato de que estava muito debilitada e arrasada. Não queria que ninguém a visse daquele jeito, mas necessitava colocar tudo para fora.

– Eu já sei o que houve – Andrea continuava falando atrás da porta. – A Vanessa me contou.

Andrea já estava desistindo e acreditando que sua amiga não abriria a porta, quando percebera um barulho na fechadura; E enfim Alice abrira a porta. Ela apareceu com os olhos in-chados de tanto chorar e com o cabelo despenteado. As duas amigas se olharam por alguns segundos sem se pronunciarem até que Andrea decidiu falar:

– Já soube que o Marcelo se casará com a Simone. Acredi-to que você já saiba também. Então, vim lhe dar uma força.

Alice deu um longo suspiro e pediu para sua amiga entrar.

– E como você está?– Andrea perguntou assim que se sen-tou na beira da cama de Alice.

– Não... Nem um pouco... – Alice respondeu de cabeça baixa. – Sei que preciso seguir a minha vida, mas é tão difícil, é algo que eu não consigo esquecer. Eu já tentei tantas vezes...

– É isso mesmo, Alice. Você tem que ser feliz, mas, talvez, no fundo você não queira deixar de gostar do Marcelo.

– Não sei – ela balançou a cabeça demonstrando total confusão interna. – Eu queria que você me desse uma luz. O

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que você acha que está faltando para mim? Tem que haver um jeito – disse quase em súplica.

– Não sei ao certo, tem certas coisas que só nós mesmos descobrimos e não outras pessoas... Mas, acredito que nada é pra sempre. Você está muito nova pra ter noção disso. Ainda não sabe o que é sentir uma coisa e depois não sentir nada com o passar do tempo, é claro.

– Você fala de um jeito como fosse muito mais velha que eu – Alice mostrou um sorriso triste.

– Quatro anos a mais e te garanto; a gente amadurece bastante depois dos vinte.

– Deus te ouça – Alice virou seu rosto em direção à janela de seu quarto a qual estava aberta. – É tão ruim pensar que você sofre por uma pessoa que talvez nem se lembre de você.

– É isso que não entendo... Você sabe que ele não se im-porta com você. E você sabe o que tem que fazer.

Alice, que antes já não chorava, voltou a chorar depois de escutar as duras palavras de Andrea.

– Eu sei que deve ser difícil pra você, mas o que eu estou falando é a pura verdade... Ele não merece nenhuma lágrima sua.

Alice chorou ainda mais.

– Mas – ela fez uma pausa para conter seu choro. – Você não vai entender, ele tem um significado pra mim... Ele não é mais um Marcelo para mim, mas é o Marcelo. Ele é muito especial... Nós temos toda uma história que não dá pra es-quecer. Não tem como fazer de conta que ele não existe!

– Se ele gostasse tanto de você, estaria com você e não com outra – Andrea interrompeu.

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– Eu sei disso. Eu só quero ficar sozinha, quero pensar em tudo isso! – Ela levou suas mãos ao rosto fazendo o possível para acalmar-se e em seguida enxugava com as costas das mãos as lágrimas que escorriam pelo seu rosto e com vergonha de parecer tão vulnerável, mesmo que, quem estivesse à sua frente, fosse uma grande amiga.

– Alice – Andrea levantou-se da cama percebendo que chegara a hora de recuar, mas que ainda dava para dar um último conselho. - Você precisa sair mais, se divertir mais, conhecer gente nova... É isso que você deve fazer.

– Sair atrás de outro cara não adianta! Já fiz várias vezes isso, você fica com um cara e quando aquilo não passa de apenas de um ficar, fica pior ainda. Sei lá, ao mesmo tempo em que isso não dá certo, eu queria que desse! Eu preciso encon-trar um cara, eu preciso de alguém!

– Alice, não é disso que estou falando – Andrea falara e percebera que não cumprira sua promessa de se estender mais uma vez, mas agora tinha que ir até o fim. –Você precisa sair, mas é pra sair com os amigos e não pra conhecer outros caras... Aliás, você até pode conhecer outros caras, mas isso vai acontecer naturalmente. Agora você precisa dos amigos. – Andrea olhou o seu relógio de pulso. – E já está na hora de eu me arrumar para o trabalho, mas é isso aí: você tem que se levantar e procurar se distrair com outras coisas.

– Tudo bem – a jovem disse com pouca convicção na voz, mas por conveniência.

Andrea deu um abraço em Alice e se retirou do quarto.

Alice olhou ao seu redor e voltou a deitar em sua cama. Em seus olhos já não escorriam as lágrimas, mas, seu rosto continuava com aquela expressão tristonha e ela estava pior ainda por dentro.

*******

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Andrea desceu as escadas da casa de sua amiga e na sala de estar se deparou com Ângela, mãe de Alice.

– E aí? Como ela está? – Ângela perguntou enquanto assis-tia sentada a sua novela preferida.

– Ela está bem mal.

– Eu sabia, ela entrou com uma cara de choro e foi direto para o quarto. Minha filha não sabe nem disfarçar – Ângela usava óculos com armação preta e limpou-o em sua camisa de algodão. – Mas como tudo na vida, isso passa. Quando somos novos, pensamos que as coisas são pra sempre, mas na verdade não são.

As palavras ditas pela mãe de Alice eram a mais pura verdade, Andrea concordara com aquele pensamento. Ela lembrou-se de sua primeira decepção, o quanto aquilo foi doloroso na época. Bom que as coisas mudam – ela pensou e agradeceu por nada ser imutável, pois o que sentira pelo primeiro namorado, Jorge, mais conhecido como Jorginho, era algo que nem ela mesma sabia controlar e depois de tantas discursões, conseguira terminar com ele antes que ele termi-nasse com ela. Andrea sempre fora esperta o bastante a tal ponto de sentir orgulho ferido se caso aquele moleque rompesse com ela, onde ele é que ficaria com o triunfo. Então ela o fez, porém ficara muito triste pelo fim, chegara até a perder peso na primeira semana logo após o término, tinha na época 16 anos e ainda estava muito imatura para aceitar algumas coisas que o mundo fazia questão de impor. Também se lembrara das amizades que pensava que seriam para sempre, mas acabava confiando nas pessoas erradas e hoje em dia a amizade com Alice era uma das poucas que ainda não tinham deteriorado e a única desde a época de sua infância que ainda estava de pé.

– Então Dona Ângela– Andrea disse –. Vou ter que ir porque está na hora do meu trabalho.

– Tudo bem querida. E o que faço com ela?

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Não tem nada o que ser feito, o tempo cuidará disso.

– É melhor a senhora deixar como está. Ela precisa ficar sozinha, pensar um pouco.

– Espero que esse “pensar” dela seja pouco mesmo. Mas tudo bem. Vou deixar você ir. Até logo.

– Até.

*****

Quando Andrea saiu da residência de sua amiga percebera que o sol estava bastante forte, e retirou da sua bolsa seus óculos escuros. Ao andar menos de duas quadras, alguém falou:

– Nossa! Que morena, hein...

Ela olhou para seu lado esquerdo e se deparou com um rapaz dirigindo um carro lentamente para conseguir segui-la.

– Oi, Felipe – ela disse com pouca vontade.

– Você está indo aonde?

– Estou indo trabalhar. E você?

– Vou dar uma volta no shopping perto do seu trabalho. Você trabalha naquele edifício azul que fica do lado de uma escola particular, no centro, não é?

Andrea ficou um pouco impressionada pela determinação dele em conseguir algo com ela. Felipe havia dado uma carona a ela uma única vez, e há muito tempo atrás. Se tratando de centro, às vezes, as pessoas se perdiam ou não gravavam um lugar logo de início, por ter tantas ruas, tantos prédios... Não era o caso de Felipe.

– Isso

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– Entra aí então. Te dou carona.

Aquilo fez surgir uma pontada de interesse, até que ele era útil em alguns momentos. Felipe estacionou seu carro no meio-fio e abriu a porta para Andrea entrar.

– Você não perde uma mesmo – Andrea entrou no carro esboçando um sorriso.

Ao bater a porta, ela acomodou-se no banco tirando seus óculos escuros e em seguida fez um rabo de cavalo em seus longos cabelos negros.

– Você está muito bonita hoje... Quer dizer, você está mais bonita.

– E você não perde uma pra me cantar – Andrea disse.

– Gatinha, você é esperta.

– E suas cantadas sempre são as mesmas, nunca mudam.

– Você é difícil – Felipe rebateu levando na esportiva, pois ele era do tipo de pessoa com humor inabalável e se tratando de cantar alguma mulher, ele não poupava esforços para conquistar sua “presa”.

– Não sou não... Acho-me muito fácil. Tenho pontos fracos.

– Você poderia me dar algumas pistas – ele não perdia uma.

– Mas assim as coisas vão ficar muito fáceis. Você vai ter que descobrir sozinho.

– Não acredito – ele disse fingindo desapontamento.

Ao dobrar uma esquina, Felipe de repente mudou de as-sunto:

– E você já soube da nova? Do Marcelo?

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– Soube – Andrea respondeu com indiferença, aquele assunto deixou o ambiente pesado de uma hora para outra.

– Ele me disse ontem – Felipe continuou. – E eu já esperava por isso, porque ele e a Simone se gostam muito, até que enfim ele arranjou alguém que desse um jeito nele.

Neste momento, Andrea sentira uma irritação crescendo, ele não sabia o quanto Alice estava sofrendo com aquilo, ele não tinha o direito de falar dela como se ela fosse insignificante; com o que acabara de ouvir, ela disparou:

–Pode ser, mas ele talvez nunca ache uma mulher tão atenciosa, tão companheira quanto Alice.

– Sei que você é muito amiga dela e tal – ele dobrou em uma avenida. – E quando ela souber, provavelmente não se alegrará.

– Ela já sabe – Andrea disse bruscamente, não era mulher do tipo que deixar um cara qualquer se deliciar com uma notícia que ela já sabia de cor.

Felipe engoliu em seco ao perceber que talvez Andrea já estivesse visto o quanto a fraca da Alice havia lamentado referente ao noivado de Marcelo.

– Que coisa, essas notícias se espalham tão rápido, e como ela está?– perguntou com falsa preocupação.

– Não muito bem, mas com o tempo vai melhorar.

– Que tenso... Mas eu vou te falar uma coisa... Isso faz muito tempo e o Marcelo nem toca no nome dela há tempos.

Andrea sentiu sua irritação aumentar ainda mais, era como se sua mente estivesse igual a uma panela de pressão e já estava no limite, ao sentir isso, disparou num tom de voz baixo, porém ríspido:

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– E ela ainda fica sofrendo por esse filho da Pu– Andrea quase que não se segurou em soltar um palavrão – Deixa pra lá – ela olhou para a rua e percebera que estava perto de seu trabalho. – Já está perto do prédio onde trabalho.

– Posso te deixar na frente, só faltam duas quadras.

Andrea ficara pensativa por um momento bem breve, porém pensou nas fofoqueiras de seu trabalho que adoravam falar da vida alheia.

– Prefiro que você me deixe aqui mesmo. As pessoas do meu serviço gostam de saber da vida dos outros e irão perguntar quem me trouxe de carro.

– Era só falar a verdade...

– Irei falar que você é o cara que quer ser meu pretendente – ela o interrompeu, e logo em seguida forçou um sorriso. - É melhor você me deixar aqui – deu uma piscada com seu olho esquerdo.

– Tudo bem então – Felipe respondeu com um ar de desapontamento.

Ele, logo em seguida, estacionara o carro perto do meio-fio. Andrea o agradeceu e deu um beijo no rosto do rapaz.

Ao chegar à frente ao prédio, ela encontrou duas colegas de trabalho fumando e conversando. Quando ambas a enxer-garam, soltaram um sorriso e uma delas, a ruiva, perguntou:

– Andrea? Agora você será nossa nova supervisora?

– Acho que sim – ela respondeu ainda andando, porém com passos lentos para entrar no prédio. – E se eu for, tenha certeza que vocês trabalharão de verdade.

As duas fumantes se entreolharam e Andrea soltou um sor-riso para dar um ar de brincadeira e encontrou no prédio.

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Lá fora, a ruiva comentou com um ar de deboche para a outra:

– Essa aí se acha a Hitler.

– Só porque subiu de cargo um dia desses – sua colega completou.

*******

O sol estava bastante fraco, já se passara das quatro horas da tarde e Alice refletia sobre sua vida deitada em sua cama, olhando para o teto. Já estivera na hora de se levantar, aliás, a vida continuava e ela não poderia se permitir ficar mais triste, pois já havia ficado o suficiente nestes últimos dois anos. Então, ela se levantou andando em direção ao espelho e ficou parada observando seu próprio reflexo. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, o que aumentava ainda mais a suspeita de que chorara bastante nas últimas horas, e até suas bochechas mostravam vestígios de lágrimas.

Eu não posso mais chorar... Não posso... Tenho que sair, conhecer gente nova... Caras novos ou você vai se arrepender– ela disse para si mesma pensando em como poderia dar a volta por cima, imaginava conhecer um cara mais legal que Marcelo, e este um dia ia se arrepender do que fez a ela.

Alice ligou seu notebook e foi direto na pasta onde continha fotos dela junto com Marcelo na época em que namoravam. Ela abriu uma foto onde ambos estavam abraçados e sorridentes, vestidos com jaquetas porque a estação naquele momento era o inverno. Ela nunca imaginou que de um dia para o outro, ele iria romper o namoro. Eles estavam tão felizes, tão alegres. Neste dia, Marcelo teria dado de presente a ela um urso de pelúcia escrito a frase: “Eu te amo”. Será mesmo que um dia ele me amou? Depois ela escolheu outra foto na qual se beijavam. Esta foto fora batida em um parque que havia muita grama e o tempo estava nublado, e de alguma maneira a fotografia saiu num tom azulado. Alice sentiu um aperto no peito e selecionou todas as fotos para apagá-las, por fim ficou com o dedo sobre a tecla

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“delete”, porém não o pressionou, ficou um considerável tempo imóvel sobre o que faria em seguida. A vontade de apertar aquela tecla era grande, porém, lembrou–se dos momentos felizes, principalmente aquele dia da foto. Pensou bem e decidira que não apagaria. Alice refletiu e depois pensou que talvez um dia se arrependesse de ter feito.

Depois de desligar seu notebook, ela decidira que precisaria tomar um banho bastante demorado e o fez. A jovem nunca pensara tanto sobre a vida quanto desta vez debaixo do chuveiro e talvez tivesse passado vinte minutos refletindo e gastando água à toa, depois se arrependera do desperdício. Após enxugar-se um pouco, enrolou a toalha no corpo e olhou no espelho dizendo para si mesma: Eu preciso mudar um pouco o visual; que tal pintar meu cabelo de preto azulado?

*****

Alice saíra de sua casa predestinada a ser feliz. Porém, ao ver um casal de mãos dadas, sentiu inveja da felicidade deles. Eles pareciam tão felizes, principalmente a mulher que aparentava ter um pouco mais de 20 anos. Ela tinha uma pele morena e cabelo Black-Power, e seu sorriso era quase que contagiante se não fosse o fato de Alice querer ter aquela mesma felicidade para ela, de um modo nada saudável de desejar. O mundo era injusto, porque nem todo mundo tinha o direito de ser feliz?

A jovem rapidamente virou o rosto para não ter que continuar a ver a felicidade alheia e sua atenção foi direcionada para outro lugar; para a loja de cosméticos. Ao entrar, fora atendida por uma mulher muito bem maquiada.

– Em que posso te ajudar?

– Estou querendo pintar meu cabelo.

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Capítulo 2

– Simone, eu sou o homem mais feliz do mundo – Marcelo

dissera para sua noiva enquanto eles estavam deitados seminus, de frente um para o outro. Ele massageava suavemente os cabelos sedosos de Simone, que era uma ruiva de cabelos ondulados com um corte Chanel e pequenas sardas no rosto, além de ser dona de um corpo invejável, cintura bem delineada, glúteos bem definidos e seios fartos. – Eu te amo.

– Também te amo muito... Muito mesmo. Sinto-me segura com você.

– Eu também me sinto seguro ao seu lado.

Marcelo realmente estava feliz como nunca, pois iria se casar com a mulher que tanto um dia sonhara; ela era sua alma gêmea. O que ele sentira era forte demais e sabia que Simone estaria do lado dele para sempre. Marcelo trocara um beijo ardente enquanto a penetrava suavemente, porém firme.

Já Simone pensava em todos os caras que havia conhecido antes de Marcelo, homens que nenhum jamais havia chegado aos pés dele. E ainda na época que ele namorava Alice, ela já o desejava com ímpeto. Ele era dela e a jovem ruiva também esperava que isso fosse para sempre.

*****

Andrea estava à espera de sua amiga para a festa há uns vinte minutos e esse atraso já estava fritando a paciência dela.

Espero que ela realmente esteja se produzindo muito! Mas que demora!

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– Minha nossa – ela não se conteve e comentou com a mãe de Alice, Dona Ângela – a Alice deve estar se produzindo mesmo.

– Você terá uma surpresa – Dona Ângela falou.

Andrea arqueou uma de suas sobrancelhas. Ela e a mãe de Alice estavam na sala de estar. A senhora assistia a novela das nove, sentada em seu sofá branco enquanto Andrea atrás dela andava de um lado para o outro, respondendo mensagens de seus colegas a apressando para se encontrarem no local combinado. Ela respondia que a demora era devido à espera de Alice que estava se aprontando.

– Andrea! – Alice gritou. – Me ajuda num negócio aqui!

– Já vou! – Ela respondeu e olhou para mãe de sua amiga. –Dona Ang...

– Você é quase da família– a mãe de Alice interrompeu-a sem desgrudar os olhos da novela, onde se passava uma cena dos protagonistas se beijando. – Pode subir.

– Tudo bem – Andrea subiu as escadas.

Logo ao abrir a porta, deparou-se com Alice vestida com uma calça jeans branca bem apertada, calçando um sapato de salto alto e com um sutiã cor da pele. Porém o que mais chamou sua atenção fora a tonalidade da cor do cabelo mudada. Alice havia aplicado um preto azulado e esta cor destacou ainda mais os belos olhos claros da jovem, os quais antes disputavam quem mais ganhava destaque.

– Me ajude a escolher uma camisa – Alice disse enquanto segurava nas mãos duas camisas; uma de cor preta e outra de cor vermelha. – Ah... gostou da cor do meu cabelo?

– Gostei sim. – Andrea deixou escapar um sorriso, ela realmente estava surpresa pela mudança que sua amiga havia feito. – Ficou bastante diferente; aprovada!

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– Que bom que você gostou, eu também adorei pintar meu cabelo! Eu pensava que ia ficar seco. Mas então? Qual você acha melhor? – Alice pôs as camisas sobre a cama uma do lado da outra.

Andrea aproximou-se da cama e olhou melhor as duas camisas. Franziu a testa por alguns segundos e depois res-pondeu:

– A preta. Com certeza – ela apanhou a camisa preta.

– Sério?

– É não tem nem o que comparar. Essa camisa vermelha tá com muito detalhe – ela olhou para a camisa em que em sua opinião não iria cair bem em sua amiga. –Tem detalhe demais e você vai ficar muito colorida. Use a preta, sem contar que esta aqui tem esse decote maravilhoso, sexy, mas nada vulgar– ela estendeu a camisa de sua preferência para Alice.

– Então tudo bem – vou ir com essa.

– Vamos logo que os meninos já estão me mandando sms há muito tempo. Nós duas iremos arrasar hoje!

****

Alice e Andrea chegaram muito bem vestidas em frente a um restaurante que ficava próximo a boate. Três garotos e uma garota as esperavam, demonstrando em suas expressões certa inquietude. Todos também estavam bem vestidos.

– Nossa já não era tempo, hein– Téo falou.

Téo era um jovem de vinte e quatro anos; branco e um pouco acima do peso que vivia em um relacionamento conturbado com Andrea. O gênio dos dois era muito forte, porém eles se amavam e não queriam admitir. Houve uma época onde os dois decidiram oficializar um namoro, porém este não durou mais que uma semana. Téo queria tudo da maneira dele e

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Andrea não aceitava quase nenhuma de suas imposições. Eles acabaram rompendo e depois de não se falaram durante um mês, voltaram a ter encontros casuais sem haver a necessidade de darem satisfação de suas vidas um ao outro.

– Eu acabei me atrasando – Alice se pronunciou antes que Andrea falasse algo.

Téo ainda não tinha reparado na mudança de visual de Alice. Ele olhou e arregalou os olhos com a surpresa da mudança.

– Alice?

– Sim, sou eu mesma – ela respondeu soltando um sorriso pelo canto da boca.

– Está diferente – ele pigarreou– gostei e muito. – ele fitou Andrea e ficou um pouco sem jeito.

Andrea olhou para o restante do grupo e não gostou do que viu. Felipe estava entre eles mexendo em seu celular.

– Felipe? – ela perguntou.

– Oi – ele parou de digitar e ergueu a cabeça.

– Você por aqui?

– Sim, sim – ele respondeu com um brilho no olhar, porém nunca percebera que a mesma não ia muito com a cara dele devido às cantadas baratas e repetitivas que sempre usava.

– Que surpresa... Boa – Andrea forçou um sorriso que quase não saiu.

Ela desviou o olhar e percebeu o casal Michel e Samara que também estavam à espera delas. Michel estava atrás de sua namorada com seus braços na altura dos ombros dela que vivia com os cabelos tingidos de loiros com uma perceptível tintura barata, e suas maquiagens eram sempre pesadas. Andrea se

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perguntava como uma mulher daquelas estava namorando um cara tão boa pinta como Michel.

– Então – Téo soltou um suspiro. – Vamos?

– Onde é a balada? – Andrea perguntou.

– A quatro quadras daqui.

O grupo caminhou até a boate. Téo e Felipe iam na frente, pois Andrea e Alice conversavam sobre a assuntos da época que se conheceram no colegial, deixando os garotos totalmente de fora. Michel e Samara foram logo atrás de mãos dadas.

********

Ao entrar na boate, Alice sentira um frio na espinha, ela nunca fora acostumada a sair para festas, só estava por lá porque achava que isto iria deixá-la melhor de alguma maneira. Além do frio que sentira, ao descer uma rampa e olhar para direita, percebera um casal se beijando. Eles estavam em um beijo ardente e intenso que fez Alice esmorecer de repente, chegando ao ponto de virar o rosto para afastar o seguinte pensamento: Quase todo mundo tem um par essa noite, menos eu e preciso arranjar alguém, logo.

Alice forçou não demonstrar tristeza aos demais. Ela havia chegado à área onde havia um bar, neste ambiente, três homens sem camisas exibiam seus corpos malhados de aca-demia atrás de um balcão enquanto atendiam várias pessoas. Dois deles enchiam grandes copos descartáveis com várias bebidas e rapidamente serviam aos demais. Um deles, um loiro que usava os cabelos espetados para cima, modelados pelo grande excesso de gel, também tinha uma tatuagem de uma cruz em seu braço esquerdo, e estava colocando gelo dentro de um liquidificador já cheio até a metade de uma bebida vermelha.

O ambiente era bastante agradável e dava para escutar, mesmo baixa, a música que tocava na pista de dança. Também havia alguns jogos de mesa de ferro bordados com couro

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espalhados pelo local. Alice olhou para a entrada que dava à pista e percebeu uma fumaça lilás saindo dela. Nessa hora a jovem fora invadida por múltiplas sensações, sentia-se um corpo estranho naquele lugar, sentia só e também algo dentro de si ao escutar aquela música, que era eletrônica ao extremo, de fundo, dizia haver necessidade de dançar até o fim da noite.

– Alice?

Alice engoliu em seco, pois seu corpo estava naquela boate, mas sua mente estava em outro lugar, perdida entre sentimentos.

– Oi? – ela caiu em si e percebera que quem estava falando com ela fora Felipe.

– Vamos pegar algumas bebidas? Vai querer alguma?

Ela pensou antes de falar, perdida no que queria naquele momento.

– Eu... Melhor não, por enquanto– ela vasculhou o ambiente com o olhar a fim de saber onde Andrea estava.

– Tudo bem então – e Felipe se retirou.

Alice observou Andrea perto do balcão aguardando ser atendida ao lado de Téo, que segurava seu cartão de consumação. Sua amiga olhou para o lado e sua visão foi ao seu encontro. Andrea olhou-a e fez um gesto com a mão mostrando que logo iria estar ao seu lado. Porém, Alice sentiu-se como uma pessoa que só estava como um peso para sua amiga que poderia estar despreocupada e ficando com Téo.

Alice acabou não se envolvendo com ninguém a noite toda. Ela estava linda, uma garota que em outro momento poderia chamar atenção de muitos, porém, não naquela noite onde transparecia seu mal estar e por essa questão ninguém se aproximou dela.

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*******

– Não fica assim, amiga – Andrea tentava consolar Alice.

Mais uma vez ela tentava melhorar o ânimo de sua amiga, que estava depressiva, porém desta vez a jovem não estava com os olhos inchados de tanto chorar. Mas sua alto-estima nunca havia estado tão baixa. Depois de ser rejeitada, saber que seu ex-namorado estava de casamento marcado, ainda tinha que lidar com a última situação: não havia beijado ninguém na noite anterior.

– Eu não fiquei com ninguém – as palavras de Alice saíram ásperas e em tom baixo.

Andrea abriu a boca, mas não conseguiu formar nenhuma frase, sabia que qualquer coisa que falasse, não iria ajudar Alice que continuou:

– E não me venha falar que foi só uma noite – ela a fulminou com os olhos.

– Alice, mas foi só uma noite! E você estava muito ruim, dava pra ver que não estava à vontade – Andrea fez uma pausa. – Estou me sentindo culpada por isso, agora.

Alice que antes estava sentada na beira de sua cama, ao se levantar disse:

– Não se sinta culpada por isso, você não tem culpa nenhuma... Aliás, você queria me ajudar, mas não funcionou. Eu sou o problema.

Alice pensou em falar algo a mais, porém nada que ela ou sua amiga falasse iria mudar o que ela estava sentindo, sentia-se como fosse a última pessoa do mundo.

O silêncio reinou entre elas. A única coisa que se ouviu era vagamente o som de uma música romântica que estava tocando na casa do vizinho que morava ao lado. Alice foi até a janela e

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olhou a rua ficando de costas para Andrea. Ela ao mesmo tempo em que sentia tristeza e raiva, de repente também sentira ver-gonha de continuar conversando sobre aquele assunto. Que vergonha, eu reclamando que não consegui ficar com ninguém, nem um homem me olhou... Espero que ela vá embora logo.

– É melhor eu voltar outro dia – Andrea enfim falou e levantou-se.

– Tudo bem!

Andrea ficou sem reação com o jeito frio de sua amiga, porém entendia o porquê dela estar daquela maneira.

– Vou indo então...

– Ok! Pode ir – Alice disse tão rapidamente que chegou a ser grossa com Andrea.

Quando sua amiga bateu a porta, Alice enfim relaxou e deitou-se em sua cama. Por vários minutos ela simplesmente ficou olhando para o teto refletindo sobre sua vida. Lembrou dos momentos alegres e tristes, e sentiu saudade de grandes ami-gos do colegial que já não tinha contato. Lembrou-se princi-palmente de um menino chamado Gustavo, o qual era alto, loiro e cheio de sardas no rosto. Pelo jeito que ele falava que "pegava" geral dava a impressão que nunca havia amado de verdade, nunca sentira esse sentimento. Na época que contava suas aventuras, Alice percebera que ele nunca havia menci-onado algo relacionado a sentimentos e ficava indiferente com a forma que ele se referia às meninas, como se não passassem de objetos. Porém neste momento ela via com outros olhos a atitude dele que pelo menos não sofria por ninguém. E ele era do tipo que alegrava qualquer ambiente e curiosamente era um bom ouvinte quando Alice precisava desabafar quando tinha algum desentendimento com Marcelo.

O Marcelo... Droga, já estou pensando novamente nele.

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Seu ex-namorado nunca saía de sua cabeça, Alice se culpou por voltar a pensar nele, mas não percebera que ele sempre estava presente em seus pensamentos, muitas das vezes indiretamente.

O sol estava se pondo e Alice olhou o céu ficando cada vez mais avermelhado enquanto se entristecia mais ainda, vendo-o através da janela que estivera aberta. Era inacreditável como as coisas estavam dando erradas para ela, impossível não sentir-se um lixo, algo totalmente desprezível ao analisar os rumo que sua vida levava.

******

Brindes, risos e muita alegria em meio a músicas bastante animadas. Isso era o que podia se resumir da confraternização onde Marcelo e Simone estavam reunidos juntos a outros amigos. O local era a casa de Tito, um primo de Simone que teve a ideia de chamar os mais chegados para um churrasco.

– Um brinde a nós dois – Simone disse ao seu noivo e ergueu uma latinha de cerveja sorrindo de felicidade, ambos estavam a sós em pé, apoiado em um pequeno muro que separava o quintal da rua.

– Um brinde a nós – Marcelo repetiu e também ergueu sua latinha chocando-a com a de Simone. – Bem que poderia ser uma taça e dentro champanhe.

– Deixa de ser bobo – ela sorriu e deu um gole em sua cerveja.

Marcelo também deu um gole e em seguida a olhou de um jeito malicioso.

– O que você acha da gente ir pra um lugar mais calmo? - Ele perguntou com um olhar cheio de malícia, aquele olhar que sua namorada conhecia bem.

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Antes de responder, Simone deu mais um gole em sua cerveja.

– Como? – Simone se fez de desentendida, esse era o charme que sempre fazia e que Marcelo adorava.

– Você sabe – ele aproximou-se dela e sussurrou em seu ouvido: – ficar só nós dois, pra fazer aquilo.

– Humm – ela ergueu suas sobrancelhas e um arrepio correu todo o seu corpo. – Acho uma boa ideia, acho digno.

Ambos se despediram do restante dos amigos e Marcelo a levou até a casa dele, que se encontrava a uma quadra do local onde estavam.

– Bom que meus pais vão demorar a chegar – Marcelo disse enquanto girava a chave na fechadura para entrar.

– Mas você sabe se eles foram pra longe?

– Sim. Minha mãe foi visitar uns parentes nossos em São Bernardo e meu pai aproveitou e foi com ela... Na verdade ela fez o joguinho emocional que estava indo-sozinha-tão-longe – a porta se abriu e ele olhou para ela. – Meu pai sentiu pena dela e foi junto. Vamos entrar?

Eles entraram e se dirigiram até o quarto dele. Simone foi até a janela olhar a rua para confirmar se ninguém estava chegando.

– Eu já falei pra não se preocupar– Marcelo a abraçou por trás pressionado seu sexo duro nas nádegas dela. – Sempre que ela vai visitar, só chega depois das oito. Ainda são cinco... Quer dizer que temos três horas para aproveitar.

– Fico mais aliviada... Você trancou a porta?

– Sim – sussurrou e aquele jeito de falar, Simone já conhecia muito bem, ele estava a ponto de bala.

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– Não a porta da sala; sei! Essa do quarto.

– Já falei que sim.

– Então tudo bem...

Marcelo começou a beijar a nuca de sua amada, antes seus beijos eram suaves, porém não duraram muito. Em poucos instantes os beijos secos se transformaram quase em mordidas. Simone, naquele momento, significava algo quase comestível e Marcelo desejava mais do que nunca devorá-la.

Enquanto ele dava pequenas mordidas em seu pescoço, Simone gemia. Depois eles ficaram de frente um pra outro e o mundo poderia acabar lá fora, mas eles continuariam se beijando ardentemente.

– Eu te amo – Marcelo enfim disse quando parou de beijá-la e pôs suas duas mãos no rosto de Simone.

– Eu também – ela disse com toda a ternura possível. – Eu te amo muito.

Novamente os lábios do casal apaixonado se encontraram de um jeito feroz e eles acabaram caindo juntos na cama. Um arrepio correu em ambos os corpos, uma condução de energia circulava entre eles. A cama ficou pequena para tantas sensações juntas, não era puramente amor nem tão pouco puramente excitação, era tudo isso junto e muito mais.

Marcelo aos poucos desabotoava os botões da camisa de Simone. Depois de desabotoá-los por completo, ele retirou sua camisa deixando à amostra seu físico que não chegava a causar inveja. Ele era do tipo de homem magro que tinha um pouco de barriga, já havia tentado algumas vezes retirar esses pequenos excessos, mas não conseguia por sempre querer comer besteiras e nunca negara um copo de cerveja que sempre algum amigo oferecia quando estava em alguma confraternização. Mas aquilo não importava para a moça, ele era o homem mais legal, mais amigo e mais sexy do mundo. Ele não era apenas um

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homem a mais que ela conhecia, ele era o qual seria seu marido e enquanto ele a invadia, ela apenas sorria.

*******

Alice perdeu a noção de tempo enquanto lembrava-se de Marcelo. Lá fora o sol já estava com seus minutos contados e a noite enfim estava reinando.

Ela lembrara que dizia: – Eu te amo. E ele simplesmente respondia: – Eu também. Ela também se lembrou das palavras carinhosas e das picantes que ele sussurrava enquanto eles faziam amor. Aos poucos Alice estava ficando excitada ao lembrar-se dele e tentou imaginar o que estava acontecendo com Marcelo naquele exato momento. Mas uma onda de tristeza a derrubou ao imaginar com quem e onde seu ex-namorado estava naquele momento, lutando contra ela própria imaginando que ele talvez estivesse em outro lugar, talvez em uma simples roda de amigos conversando sobre o exaustivo trabalho. Porém, logo sua mente viajou para outro lugar e imaginou Simone compartilhando aqueles lábios que um dia tanto os sentiu... Ou compartilhando algo mais íntimo.

Como num passe de mágica, Alice estava com as mãos entrelaçadas nas mãos de Marcelo e deitada em uma cama com o corpo dele sobre o seu.

– Você está gostando? – Marcelo perguntou.

– Sim, eu estou gostando muito – ela respondeu quase num gemido e ele pôs a beijá-la.

Alice sentia suor descendo de sua testa, mas não deu importância para isso, pois Marcelo estava ensopado e aquilo era gerado pela paixão que ambos viviam. A jovem deslizou seus dedos pelas costas de seu amado chegando a arranhá-lo.

– Ai! – ele parou de beijá-la e grunhiu.

–Desculpa.

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– Tudo bem – Marcelo disse um pouco sem fôlego.

Em seguida, seu amado beijara de um jeito que ela quase chegara a perder o fôlego. Era maravilhosa a sensação de sentir os lábios dele aos seus e quando ele pausou, antes de retirar, mordeu suavemente os lábios dela.

Tudo ficara negro e Alice acordou um pouco grogue sozinha em sua cama. Droga. Foi só um sonho, pensou.

Segundos depois de conseguir se recompor completamente, ela olhou para sua janela que ainda estava aberta e constatou que a noite já havia chegado, rapidamente virou-se para sua esquerda e observou seu relógio de parede que marcava oito horas da noite. Sentiu-se como uma idiota ao deixar dormir no final da tarde comprometendo seu sono à noite. Melhor eu fazer alguns trabalhos da faculdade.

Decidira levantar-se, entretanto percebeu que algo estava errado, na verdade, estava molhado e era seu fino short branco de ficar em casa que estava ensopado e não era se suor. Uma onda de raiva a invadiu. Lembrou-se que muito provavelmente Marcelo estaria junto com Simone, com a qual ele iria se casar em breve. E ele tinha a deixado.

Eu queria que você morresse! Eu preferia isso ao invés de vê-lo com outra mulher! Você me deixou na pior! Eu te odeio! Eu te odeio! Espero que você morra!

Não pare por aqui. Continue lendo...