Upload
mel-sampaio
View
180
Download
9
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Livro do Alfabetizando foi concebido a partir da compreensão de que vivemos num mundo onde as mensagens circulam por meio de diferentes suportes e linguagens e, por tanto, no qual o compromisso com a alfabetização vai além do domínio da palavra, exigindo outros níveis de leitura, como a imagem.
Citation preview
COOPERAO TCNICA
EDITORA
J o v e n s e A d u l t o sAlfabetizao de
Manual do Alfabetizador
Autores
ngela Maria Biz Rosa Antunes
Eduardo Girldez
Luiza Helena da Silva Christov
Maria Alice de Paula Santos Maria Jos Vale
Marinete DAngelo
Moacir Gadotti
Paulo Roberto Padilha
Snia Couto Souza Feitosa
J o v e n s e A d u l t o sAlfabetizao de
Manual do Alfabetizador
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Alfabetizao de jovens e adultos : manual do alfabetizador. -- 1. ed. -- Rio de Janeiro : Escola Multimeios, 2007. Vrios autores. `Cooperao tcnica Instituto Paulo Freire` ISBN 978-85-99243-07-7 1. Alfabetizao 2. Alfabetizao (Educao de adultos) 3. Alfabetizao (Educao de jovens) I. Instituto Paulo Freire.
07-4822 CDD-372.19
ndices para catlogo sistemtico:1. Ensino integrado : Livros-texto : Ensino
fundamental 372.19
Ilustraes
CECIP - Centro de Criao de Imagem Popular Claudius Sylvius Petrus Ceccon Diretor de Arte e ilustrao ISBN
978-85-99243-07-7
Edio
1 Edio, Rio de Janeiro / RJ, 2007
Editora
Escola Multimeios
Av. das Amricas, 3434 - sala 412
Barra da Tijuca - Rio de Janeiro / RJ
CEP.:22640 - 102
EDITORA COOPERAO TCNICA
3:: Mocir Gadotti :: Maria Alice de Paula Santos :: Eduardo Girldez
:: Moacir Gadotti
:: Maria Alice de Paula Santos
:: Sonia Couto
:: Maria Jos Vale
:: ngela Antunes
:: ngela Antunes
:: ngela Antunes
Prefcio 7
Projeto pedaggico 11
Um cenrio possvel da educao de jovens e adultos no Brasil 31
O educando da educao de jovens e adultos 49
O Mtodo Paulo Freire 59
A construo da leitura e da escrita 71
Leitura do mundo em Paulo Freire 89
Temas geradores 107
Princpios de convivncia 115
Manual do Alfabetizador
4SUMRIO
Livro do Alfabetizando
:: Paulo Roberto Padilha
:: Paulo Roberto Padilha
:: Luiza Helena da Silva Christov
Planejamento dialgico, projeto poltico-pedaggico e proposta pedaggica da escola: desfazendo ns, apontando caminhos 121
O crculo de cultura na perspectiva da intertransculturalidade 135
Avaliao dialgica 147
Orientaes metodolgicas 159
Eu e o mundo da leitura e da escrita 173 Tema 1 - Tempo de recomear 175 Tema 2 - Ecritas por toda parte 185 Tema 3 - Os nmeros... e se eles no existissem ?
195Eu e o mundo do trabalho e do conhecimento 205 Tema 4 - O que me identica 207 Tema 5 - Todo mundo tem um nome 217 Tema 6 - A importncia dos documentos 227 Tema 7 - O mundo do trabalho 237 Tema 8 - A importncia do ato de estudar 247 Tema 9 - Escola da vida 257
5Lendo o mundo para transform-lo 267 Tema 10 - Leitura de imagem 269 Tema 11 - Leitura de mapas 279 Tema 12 - Tecnologia e desenvolvimento no campo 289 Tema 13 - O direito terra 299 Tema 14 - Contrastes nas grandes cidades 309 Tema 15 - O direito moradia 319
As relaes interpessoais e redes de comunicao 329 Tema 16 - Amigos e amigas de f 331 Tema 17 - Solidariedade: participao e mobilizao coletiva 341 Tema 18 - Felicidade: a alegria de conviver 351 Tema 19 - O mundo da comunicao 361 Tema 20 - De olho na TV 371 Tema 21 - Rever, avaliar 381
Almanaque 391
Bibliograa 419
7PREFCIO
Moacir GadottiMaria Alice de Paula Santos
Eduardo Girldez
8PREFCIO
Estudos e pesquisas mostram que quando as polticas sociais vo bem, quando h emprego, escola, moradia, transporte, sade, alimentao... no h analfabetismo. Da dizer-se que o analfabetismo no um problema pedaggico, mas um problema social. Contudo, tambm sabido que ainda no foram exploradas todas as possibilidades educacionais para eliminar o analfabetismo no Brasil.
Sabemos que a educao um processo ao longo de toda a vida e limit-la no tempo aprisionar o educando em concepes envelhecidas de alfabetizao. Interessa-nos despertar em todas as pessoas que precisam iniciar ou retomar os estudos, o desejo de continuar aprendendo. Alm disso, interessa-nos mostrar caminhos possveis, fundamentados numa educao que responde prioritariamente s necessidades humanas da vida das pessoas e no s necessidades do mercado, da instruo pblica, das escolas, do saber escolar, portanto, uma educao centrada na vida.
Nesse sentido, o Livro do Alfabetizando foi concebido a partir da compreenso de que vivemos num mundo onde as mensagens circulam por meio de diferentes suportes e linguagens e, por tanto, no qual o compromisso com a alfabetizao vai alm do domnio da palavra, exigindo outros nveis de leitura, como a imagem. Dessa forma, pensando nos educadores que seguem os princpios freirianos, e particularmente nos que ensinam em regies aonde no chegam jornais e revistas, o Livro do Alfabetizando congura como uma soluo.
O Livro foi elaborado a partir da temtica geral Eu no mundo, com o mundo, construindo novos caminhos, com o propsito de levar o aluno ou a aluna a ser capaz de buscar informaes necessrias vida social e do trabalho; ter compreenso crtica da realidade; dialogar com o outro em igualdade de condies e compreender situaes onde a linguagem escrita se diferencia da fala cotidiana.
As atividades pedaggicos associam as muitas linguagens pluralidade cultural brasileira por meio de matrias e fotos publicadas em jornais, imagens de Portinari, poesias de Cora Coralina e Carlos Drummond de Andrade, crnicas de Fernando Sabino, charges e ilustraes de Claudius, letra da msica do grupo Razes Caboclas, reprodues do Mestre Vitalino e tantas outras referncias que so fontes de estudo para os educandos.
O princpio poltico-pedaggico freiriano e scio-construtivista do conhecimento se operacionaliza nas aulas presenciais. Atravs de intervenes problematizadoras, a mediao docente provoca o educando a pensar, perguntar mais, buscar a resposta interativamente e avanar no conhecimento do sistema escrito.
9 Moacir GadottiMaria Alice de Paula Santos
Eduardo Girldez
O primeiro texto apresenta o Projeto Pedaggico do Livro do Alfabetizando.
Dois textos abordam questes mais macro da situao atual da EJA, suas perspectivas e apontam a importncia de se conhecer e respeitar os saberes dos jovens no processo de ensino e aprendizagem. Quatro textos abordam a teoria do conhecimento, seus princpios e prticas que caram universalmente conhecidos como a metodologia freiriana. Um texto sobre o scio-construtivismo que explica as pesquisas realizadas por Emlia Ferreiro e Ana Teberosky sobre a evoluo da escrita dos alfabetizandos. Trs textos abordam os temas que envolvem o planejamento dialgico: princpios de convivncia, crculo de cultura, avaliao dialgica e a importncia do registro. Um texto com sugestes de atividades.
A bibliogra a foi organizada por temas para que os educadores e educadoras possam pesquisar, quando julgar necessrio.
Temas e atividades do Livro do Alfabetizando.
O Manual do Alfabetizador foi concebido a partir da concepo terico-metodolgica de Paulo Freire e se constitui numa valiosa fonte de consulta e inspirao para as pessoas que vo desenvolver a educao de jovens e adultos partindo da alfabetizao.
Os textos aqui reunidos tm o objetivo de colaborar para que possam re itir sobre suas prticas e obtenham elementos para transform-las.
Para isso, os textos esto organizados da seguinte maneira:
10
PREFCIO
Assim, nossos esforos na direo de uma boa formao, buscam levar o educador a reconhecer e rearmar a diversidade de experincias, assumir o carter pblico da educao, reconceituar a educao de jovens e de adultos como um processo permanente de aprendizagem, fortalecer a sociedade civil, resgatar a tradio de luta pela democracia e pela justia social da agenda da EJA.
Sucesso na sua caminhada!
11
PROJETO PEDAGGICO
12
PROJETO PEDAGGICO
Ao se pensar uma proposta de alfabetizao de adultos, h que se
pens-la levando em conta duas dimenses: a social e a cognitiva.
No Livro do Alfabetizando buscou-se integrar essas duas dimenses
j que a educao entendida como um ato poltico.
A alfabetizao concebida no apenas como a aquisio do
domnio da leitura e da escrita, mas como a capacidade de usar
essa habilidade no desenvolvimento pessoal e coletivo com vistas
construo de uma sociedade cidad. A aquisio mecnica da
relao som/gra a no habilita o educando ou educanda a ser
agente transformador, uma vez que resvala no imediatismo, na emergncia de viver o hoje,
de dar respostas s estatsticas. A construo e consolidao desta sociedade, alicerada pela
tica, justia e solidariedade uma competncia que se aprende, da entendermos a educao
como um processo amplo, permanente e contnuo, um projeto para toda uma vida.
Neste contexto, a educao permanente surge hoje como uma exigncia da nova sociedade
que, por sua vez, exige novas formas de encarar o conhecimento.
Hoje, no basta ter conhecimento, mas saber o que fazer com este
conhecimento. Este saber fazer , impregnado de autonomia, da
capacidade de fazer mltiplas leituras sabendo relacion-las, um
dos desa os da educao permanente.
preciso que um projeto de alfabetizao contemple a plena
formao do desenvolvimento da pessoa. Essa concepo de
educao busca ampliar os saberes j incorporados pelos educandos
e educandas e fortalecer a curiosidade epistemolgica latente em
cada pessoa, para que essa busca no se esgote ao nal de cada
aula ou do curso, mas sirva para desencadear o desejo de saber mais.
Princpios Freirianos
13
Nessa perspectiva, no se ensina apenas contedos, mas a aprender, isto , a pensar certo;
e pensar certo, segundo Freire, estar sempre em dvida com as prprias certezas, a partir
da observao do mundo. Como especicidade humana, o ato de aprender requer um olhar
humanizador dos fatos. a pergunta e no a resposta que aponta caminhos e o trilhar desses
caminhos exige um compromisso com a pesquisa, com a busca solidria, com a descoberta.
Nesse livro, o espao pedaggico procurou garantir a aplicao dos contedos construdos nas
aulas, na vida dos educandos e educandas, permitindo que se concretizassem modicaes
signicativas na vida individual e coletiva desses cidados e cidads, na medida em que
compreendam que a educao uma forma de interveno no mundo.
Ensinar no transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produo e
construo. Portanto, imprescindvel que os envolvidos no processo reitam e incorporem
algumas das exigncias do ato educativo: respeito autonomia do educando; a conscincia
que ambos, educando e educador, so seres em constante transformao; a convico de que
a mudana possvel; a humildade; o bom senso; a tolerncia e a luta em defesa dos direitos
dos educadores. Enm, saberes contrrios prtica comum da educao bancria, mera
transferidora de conhecimentos. Na perspectiva freiriana, o conhecimento entendido como
construo interacionista resultante da relao entre o sujeito e a realidade.
Ainda como um dos princpios freirianos est a necessidade de o educador de jovens e adultos
rever o seu papel, conceber-se como ser em constante transformao. Perceber que ningum
sabe tudo e ningum ignora tudo. A conscincia do inacabamento e do reconhecimento de
seres condicionados que somos ajuda a promover a superao do imobilismo, fortalecendo a
conscincia do papel do educador como sujeito histrico.
Os princpios polticos-pedaggicos deste material esto
vinculados aos princpios e ideais de Paulo Freire buscando
recuperar a boniteza do sonho e a crena na possibilidade que
podemos resistir ao fatalismo neo-liberal e construirmos uma
sociedade mais humana, sustentvel, amorosa e efetivamente
cidad.
14
PROJETO PEDAGGICO
Contedos revelam objetivos
Os contedos so desenvolvidos a partir de temas contextualizados com a realidade local. Todos
contribuem no s para a formao de novas aprendizagens, mas estimulam a curiosidade natural
e favorecem a expresso espontnea e a criatividade do educando. Isso, graas introduo de
diferentes tipos de textos: opinativo, publicitrio, crnica, literrio, epistolar, cordel.
No contedo de cada tema esto implcitos objetivos mais gerais, que se baseiam no princpio
de que ser alfabetizado vai alm da possibilidade de identi car e reproduzir palavras. ser
Na compreenso da histria como possibilidade, o amanh problemtico. Para que ele venha preciso que o construamos mediante a transformao do hoje. H possibilidades para diferentes amanhs.A luta j no se reduz a retardar o que vir ou a assegurar a sua chegada; preciso reinventar o mundo. A educao indispensvel nessa reinveno. Assumirmo-nos como sujeitos e objetos da histria nos torna seres da deciso, da ruptura. Seres ticos.
Paulo Freire
15
capaz de buscar informaes necessrias vida social e do trabalho; ter compreenso crtica da
realidade; dialogar com o outro em igualdade de condies e compreender como a linguagem
escrita se diferencia da fala cotidiana.
Saber ler e escrever capacita a pessoa a organizar o prprio pensamento, falar ou escrever com
expressividade prpria e registrar memrias passadas e lembretes atuais; amplia a participao
ativa em conversas e debates, alm de ser um fator que ajuda a superar a timidez e a inibio.
Garantir aos jovens e adultos os conhecimentos indispensveis alfabetizao da
leitura, escrita e clculo.
Preparar os alunos para a continuidade de seus estudos, assegurando-lhes o
acesso a outros nveis de ensino.
Garantir aos alunos, em processo de escolarizao, a aquisio de
conhecimentos que lhes permitam o pleno exerccio de sua cidadania.
Favorecer o resgate da prpria identidade dos alunos, a valorizao de sua
histria pessoal e a liberao da criatividade e expressividade.
Favorecer a socializao nas aulas, estimulando o dilogo pedaggico.
Promover a construo coletiva do conhecimento, valorizando o saber de cada
aluno.
Possibilitar aos educandos a aprendizagem atravs de diferentes linguagens, de
forma a prepar-los e inseri-los nas exigncias do mundo atual.
Garantir aos jovens e adultos os conhecimentos indispensveis alfabetizao da
leitura, escrita e clculo.
Preparar os alunos para a continuidade de seus estudos, assegurando-lhes o
acesso a outros nveis de ensino.
Garantir aos alunos, em processo de escolarizao, a aquisio de
conhecimentos que lhes permitam o pleno exerccio de sua cidadania.
Favorecer o resgate da prpria identidade dos alunos, a valorizao de sua
histria pessoal e a liberao da criatividade e expressividade.
Favorecer a socializao nas aulas, estimulando o dilogo pedaggico.
Promover a construo coletiva do conhecimento, valorizando o saber de cada
aluno.
Possibilitar aos educandos a aprendizagem atravs de diferentes linguagens, de
forma a prepar-los e inseri-los nas exigncias do mundo atual.
Garantir aos jovens e adultos os conhecimentos indispensveis alfabetizao da
Dessa forma, os temas buscam:
16
PROJETO PEDAGGICO
OBJETIVOS SCIO-POLTICOS
Objetivos Gerais
Ampliao das trocas de experincias entre colegas.
Ajuda mtua vivenciada na sala de aula.
Ampliao da autonomia pessoal no ato de conhecer.
Valorizao do cotidiano, da discusso de temas da atualidade.
Valorizao da anlise de fatos passados para a compreenso da realidade histrica.
Ampliao do conhecimento crtico da realidade.
Compreenso das relaes de poder no uso social da linguagem.
Ampliao das experincias escolares de participao, mobilizao e organizao coletiva.
A rmao do sujeito social-histrico.
OBJETIVOS AFETIVOS
OBJETIVOS COGNITIVOS
Resgate da prpria identidade.
Valorizao da histria pessoal.
Liberao da criatividade e expressividade:
podendo dizer a sua palavra;
podendo falar na sua variedade lingstica;
ampliando a participao ativa em discusses e demais atividades coletivas;
desenvolvendo a sensibilidade esttica utilizando variadas formas de linguagem: verbal, pictrica, cnica
e musical.
Acesso variedade lingstica socialmente prestigiada.
Construo do conhecimento da leitura e escrita.
Construo dos principais conceitos e operaes
matemticas bsicas.
17
Objetivos Espec cos
ORALIDADE
LEITURA
LER PARA:
Superar a timidez e a inibio de falar usando a sua prpria variedade lingstica.
Ampliar a participao ativa em conversas e debates.
Expressar opinies de modo claro e expressivo, sem monopolizar a palavra.
Ouvir com respeito a fala dos colegas.
Ampliar o conhecimento da variedade lingstica considerada padro social e aumentar o seu uso
em situaes sociais oportunas.
Buscar informaes necessrias no cotidiano do trabalho e da vida social.
Buscar informaes para estudar um tema.
Compreender como a linguagem escrita espec ca e diferente da fala cotidiana.
Usufruir, apreciar o contedo lido, apreciar a linguagem literria esttica.
Ampliar a compreenso crtica da realidade.
Dialogar com outros autores.
18
PROJETO PEDAGGICO
LER O QU:
LER COMO:
Ler o mundo, sem as letras.
Interpretar imagens e sons do mundo.
Discutir signicados particulares e scio-polticos.
Interpretar gestos, movimentos corporais, sionomias, comportamentos.
Observar conguraes globais e detalhamentos, ampliar o potencial da memria visual e auditiva.
Observar e discutir signicaes sobre cenas do cotidiano e acontecimentos sociais relevantes.
Ler o mundo atravs das letras e outros smbolos.
Ler sempre o que escreveu em sala de aula.
Ouvir leituras feitas pelo alfabetizando.
Ler textos, cujo contedo o alfabetizando j sabe de cor.
Ler as escritas que encontra no seu cotidiano.
Ler textos didticos, tcnico-cientcos, informativos e literrios.
Dizendo ou escrevendo com expressividade prpria o que foi que leu.
Relacionando o lido com experincias signicativas vividas e com outras leituras j feitas.
Identicando a especicidade de linguagem do material escrito e o veculo da divulgao escrita.
Avaliando o contedo da leitura e ressaltando suas mltiplas signicaes.
Recriando, modicando o texto atravs de atividades.
Produzindo novo(s) texto(s) a partir do texto lido.
Lendo em letra de imprensa, em letra cursiva e nos mais variados tipos de letras.
19
ESCRITA
ESCREVER PARA:
ESCREVER O QU:
ESCREVER COMO:
Exercer a liberdade de auto-expresso e autorecreao.
Organizar o prprio pensamento.
Sistematizar conhecimentos e socializ-los.
Registrar memrias passadas e lembretes atuais.
Cumprir funes sociais, comunicando fatos, idias,
sentimentos.
Escrever texto desde o primeiro dia de aula, individualmente ou coletivamente.
Recriar e criar textos de diferentes tipos.
Escrevendo alfabeticamente, escrevendo como fala.
Ampliando a compreenso da escrita.
Compreendendo que h uma forma socialmente padronizada para a escrita.
Compreendendo que h diferenas entre fala e escrita.
20
PROJETO PEDAGGICO
Na dinmica pedaggica da sala de aula a presena do educador ou da educadora fundamental.
Trata-se de uma pessoa em quem o educando con a, de quem recebe ateno, uma palavra
amiga e que o introduz ao mundo do conhecimento. O processo de construo coletiva que
ocorre na sala de aula nico, e se renova a cada encontro. Neste espao, o educador mais
que um transmissor de saberes, um formulador de problemas, um organizador de debates, um
coordenador de equipes de trabalho, um sistematizador de experincias, en m, um mediador
entre o que o aluno sabe e o que passa a saber.
Para apoiar o educador neste processo, o Livro do Alfabetizando conta com 21 temas, 126
atividades e 1 Almanaque. Considerando que os temas propostos fazem parte do cotidiano
das pessoas, nas aulas o educador deve ouvir os educandos, reconhecer suas preocupaes
e anseios, aprofundar o tema, e introduzir temas complementares que os estimulem a re etir,
dialogar, trocar experincias e produzir em interao com os colegas.
Neste espao em que Paulo Freire denominou de crculo de cultura, os educandos expem
suas idias, relatam experincias e prestam ajuda mtua. O educador ou educadora prope
atividades em grupo como a construo coletiva de textos, dramatizaes, jogos de memria,
caa-palavras, quebra-cabea e outras
atividades ldicas.
Dinmica da sala de aula
21
Os 21 temas propostos buscam o saber espec co tcnico-cient co de reas disciplinares
como a lngua portuguesa, estudos sociais, cincias e matemtica num processo integrado e
interdisciplinar. A transdisciplinaridade proveniente do encontro de princpios e paradigmas
comuns entre uma loso a da educao, a freiriana; uma psicologia da aprendizagem da
escrita e leitura, a psicognese da lngua escrita; as artes; e os saberes tcnico-cient cos das
tradicionais disciplinas escolares. A elaborao coletiva das atividades, que so parte de um
projeto sistmico, pensado como um todo, considerou os seguintes princpios pedaggicos:
Eixos geradores construdos a partir de temas sociais
Trata-se de garantir o estudo da realidade, fazendo com que temas relevantes que problematizem
a prtica social sejam erigidos como eixos geradores. Os temas sociais retomam o seu lugar
de colunas verticalizadoras atravessadas horizontalmente pelas reas disciplinares tradicionais,
reinterpretadas como meios, numa mudana de perspectiva: as reas disciplinares assumem
seu lugar instrumental de meio para se pensar e atuar sobre a vida concreta, abandonando
o papel historicamente equivocado de m em si mesmas. Implica na seleo e no enfoque de
contedos histrico-crticos, pois, como Paulo Freire, compreende-se que a educao uma
opo poltica, no um espao neutro de conhecimentos puros e ideologicamente imunes,
e que, aliem a denncia ao anncio de solues historicamente construdas. As aulas e o livro
so espaos pedaggicos complementares, onde pode-se reinventar esse fazer pedaggico de
formao da cidadania ativa (crtica e criativa), como tarefa primeira da educao.
Superao do espontanesmo e da mera permanncia no senso comum
Na seleo do contedo, foi includa uma diversidade de materiais pesquisados em diferentes
portadores: fontes bibliogr cas tcnico-cient cas, publicaes para-didticas, artigos de jornais
e revistas peridicas, sites da internet.
Os 21 temas propostos buscam o saber espec co tcnico-cient co de reas disciplinares
Livro do Alfabetizando
22
PROJETO PEDAGGICO
Alfabetizao partindo do texto
O processo de alfabetizao ocorre no contexto signicativo de linguagem, concebida como
interlocuo, e no de letras, slabas ou partes desvinculadas do signicado e do sentido. No
exerccio da interatividade dos diversos espaos constitutivos, os alfabetizandos vivenciam o uso
social da linguagem, expressam recortes signicativos de sua histria de vida, compartilham
signicados, confrontam e modicam seus conhecimentos e valores no processo recursivo da
relao intersubjetiva eu com o outro social.
Atividades estruturadas como situaes de desaos
A partir do conhecimento anterior do alfabetizando, de suas condies existenciais e cognitivas de
chegada, dos diferentes nveis de conhecimento, o alfabetizando convidado a realizar tarefas,
por meio de situaes que problematizem e reinventem a realidade, onde o aprender pensando
substitui a simples reproduo da informao.
Este princpio poltico-pedaggico freiriano e scio-construtivista do conhecimento se
operacionaliza, por meio do livro, nas aulas. Atravs de intervenes problematizadoras,
a mediao docente provoca o alfabetizando a pensar, perguntar mais, buscar a resposta
interativamente e avanar no conhecimento do sistema escrito.
Apresentao criativa, ldica e esttica do contedo de carter crtico-social
O universo simblico da linguagem, rico e variado no mundo, pode ser vivenciado
pedagogicamente na alfabetizao: no apenas a forma verbal da linguagem, mas tambm na
beleza dos textos sem palavras, nas imagens artsticas, nas ilustraes especialmente criadas,
que so consideradas partes essenciais na composio dos temas. Alm de textos informativos,
poemas, crnicas, letras de composies musicais, jogos e desaos matemticos expem o
alfabetizando a situaes envolventes e prazerosas no ato de estudar.
23
CIRCULARCALCULAR COLAR COLORIR CONTARCOMPLETAR
DESENHAR ESCREVER LER LIGAR PRODUZIR REFLETIR
A temtica Eu e o mundo da leitura e da escrita marca o incio do processo de alfabetizao. Com ele, o aluno vai
descobrir o quanto j sabe sobre uma srie de coisas e vai ser desaado
a construir novos saberes. Vai observar as escritas que esto ao seu
redor e com a ajuda da educadora ou educador, vai ampliando o
seu conhecimento e desenvolvendo a capacidade de responder aos
desaos que sero propostos.
Tema 1 - Tempo de recomear
Mostra que sempre tempo de recomear. Fala da importncia da leitura e
da escrita na emancipao de cidados e cidads.
Indicadores de atividades
As atividades so acompanhadas de indicadores de ao dos alunos. Esses indicadores so
representados por guras, e tm como nalidade levar o educando a perceber, de maneira clara
e prtica, o que deve ser feito na atividade proposta.
24
PROJETO PEDAGGICO
Tema 2 - Escritas por toda parte
Convida o alfabetizando a prestar ateno s escritas em seu entorno. Inicia
o processo contextualizado da leitura e da escrita a partir do seu signicado
e de sua funo social.
Tema 3 - Os nmeros ... e se eles no existissem?
Introduz o estudo da matemtica, no como um m em si mesma, mas
aplicada compreenso do mundo.
A temtica Eu e o mundo do trabalho e do conhecimento prope uma reexo crtica acerca do mundo do trabalho e do conhecimento. Parte do conhecimento pessoal, da
identidade, da constituio de cada um como cidado na busca de
melhores condies de vida e de trabalho.
A identidade pessoal do sujeito que aprende aqui focalizada: seu
nome, seus dados pessoais, preferncias, documentos, trabalho, o
conhecimento construdo na escola da vida, a problematizao social
da situao do analfabetismo e a revalorizao do estudo atravs da
escola.
25
Tema 4 - O que me identica
Fala da constituio da identidade pessoal e coletiva. Mostra que os
aspectos fsicos e emocionais marcam a identidade pessoal enquanto que as
manifestaes scio-culturais, dentre outros aspectos, nos identica como
povo e nao.
Tema 5 - Todo mundo tem um nome
Apresenta o nome como uma primeira marca de identidade. Convida cada
alfabetizando a descobrir a histria de seu nome, sua origem e signicado e
o desaa a escrever nomes das pessoas que lhe so caras.
Tema 6 - A importncia dos documentos
Reete sobre a importncia dos documentos, sua utilidade e obrigatoriedade.
Convida os educandos a vericar os documentos que possuem, sugerindo que
providenciem sua aquisio caso no os tenha ou tenha apenas alguns.
Tema 7- O mundo do trabalho
Analisa o mundo do trabalho a m de promover o conhecimento da legislao
que assegura os direitos do trabalhador.
26
PROJETO PEDAGGICO
Tema 8 - A importncia do ato de estudar
Busca resgatar a importncia dos estudos. Mostra que ainda existe um nmero
alarmante de pessoas no alfabetizadas e que programas de alfabetizao
se propem a diminuir essa estatstica.
Tema 9 - Escola da vida
Coloca o saber popular em evidncia a m de valorizar o conhecimento de
vida de cada educando. Mostra que o conhecimento escolar no mais
importante que o conhecimento nascido da experincia vivida, ou vice-versa,
mas que ambos se completam.
A temtica Lendo o mundo para transform-lo sugere a leitura do mundo a partir da observao de imagens e de
palavras, sem idealizao ingnua, mas dialogando sobre as profundas
contradies das sociedades humanas. Temas atuais como as novas
tecnologias aplicadas a servio do desenvolvimento no campo so
contemplados nesta temtica, bem como temas como direito terra
e moradia.
Os temas buscam anunciar que a transformao dessa realidade
possvel, desde que aes solidrias e cooperativas sejam adotadas.
Tema 10 - Leitura de imagem
Convida os educandos a observar imagens sob diferentes pontos de vista. As
imagens apresentadas foram selecionadas com o objetivo de problematizar
a realidade. Alm do texto escrito, podemos ler pinturas, fotograas, charges
e desenhos.
27
Tema 11 - Leitura de mapas
Prope conhecer melhor os elementos presentes em um mapa, saber se
localizar, entender o que viso vertical, ndice de desenvolvimento humano,
quantas e quais so as regies geogrcas do Brasil e quais so os estados
que as compem.
Tema 12 - Tecnologia e desenvolvimento no campo
Procura mostrar a importncia das novas tecnologias aplicadas a servio do
desenvolvimento no campo. Como ao propositiva, apresenta experincias
de sucesso envolvendo trabalho cooperativo.
Tema 13 - O direito terra
Mostra as questes relacionadas ao direto terra.
Tema 14 - Contraste nas grandes cidades
Aponta os contrastes das cidades grandes e mostra que os problemas nelas
enfrentados podem ser minimizados com aes solidrias e cooperativas.
28
PROJETO PEDAGGICO
Tema 15 - O direito moradia
Apresenta textos sobre carncias habitacionais, xodo rural, populao de
rua e aponta algumas das alternativas existentes para a conquista desse
direito.
A temtica As relaes interpessoais e redes de comunicao tem como objetivo promover a reexo sobre a importncia desses temas na busca de qualidade de vida, entendendo
este conceito como valorizao da amizade, da solidariedade e da
felicidade como ao coletiva.
Diante de um mundo cada vez mais competitivo, importante
tratar de temas como estes, visando preparar os educandos para a
participao da construo de uma sociedade mais justa e fraterna
para todos.
Referncias retiradas da literatura e da histria ajudam a reetir sobre o papel da pessoa no
mundo e o compromisso que se precisa ter com a sua melhoria.
Tema 16- Amigos e amigas de f
Fala do valor da amizade e das qualidades de um verdadeiro amigo.
29
Tema 17 - Solidariedade: participao e mobilizao coletiva
Mostra que a solidariedade entendida como mobilizao e participao
coletiva, apoiada na fora de um povo organizado em prol de melhorias.
Mostra tambm que algumas pessoas comeam essa mobilizao sozinhas,
mas no deixam de fazer a sua parte.
Tema 18 - Felicidade: alegria de conviver
Mostra que as coisas simples da vida podem ser verdadeiros mananciais de
felicidade e devem ser valorizadas. um tema sempre presente em msicas,
poemas e outras manifestaes artsticas. A felicidade obtida na relao
com o outro apresentada como a arte de conviver. Nesta convivncia com
o prximo e com a natureza, vivemos momentos felizes.
Tema 19 - O mundo da comunicao
Apresenta os portadores de textos informativos - cartazes e jornais - e mostra
a variedade de recursos utilizados para a comunicao entre as pessoas.
Tema 20 - De olho na TV
Prope uma reexo crtica da televiso atravs da anlise das informaes
que ela veicula. Mais do que promover entretenimento, ela forma opinio,
dene conceitos, estabelece padres de comportamento e valores.
30
PROJETO PEDAGGICO
Tema 21 - Rever, avaliar
Convida educandos e educandas a avaliar o percurso de seus estudos e
sugere a avaliao da prpria vida.
Almanaque
Com cerca de 100 referncias, o Almanaque desperta a curiosidade
e o interesse do educando para a leitura de textos e imagens
instigantes, apresentados atravs de artigos, crnicas, poesias, jogos
e adivinhaes.
31
UM CENRIO POSSVEL DA EDUCAO
DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
Moacir Gadotti
32
UM CENRIO POSSVEL DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
Ao longo das ltimas dcadas, o Brasil assumiu, formalmente, uma srie de compromissos
internacionais relativos universalizao da alfabetizao e da educao bsica, tornando-
se signatrio de uma srie de documentos, especialmente os que se liam Organizao das
Naes Unidas. Em 1990, rmou a Declarao e o Plano de Ao da Conferncia Mundial sobre
Educao para Todos, realizada em Jomtien, na Tailndia. Trs anos depois, o pas participou
ativamente das reunies e dos ajustes rmados entre os nove pases mais populosos e com maior
nmero de analfabetos, assinando, com os rgos e agncias responsveis pela educao no
mundo, compromisso com metas tendentes universalizao da educao bsica de jovens
e adultos alijados da escola regular na idade prpria. As conferncias da China, de Paris e de
Nova Dlhi deram seqncia e raticaram responsabilidades anteriormente assumidas.
Posteriormente, na V Conferncia Internacional de Educao de Adultos da UNESCO
(Hamburgo, 1997), o Brasil foi instado a raticar compromissos anteriores e a se comprometer
mais, primeiramente porque, embora gurasse entre os dez maiores Produtos Internos Brutos
(PIBs) do planeta, apresentava desconfortveis ndices de analfabetismo e de pessoas com baixa
escolaridade. Alm disso, nessa Conferncia, moralmente, passou a ter mais responsabilidade,
j que seu educador maior foi homenageado com a proclamao da Dcada Paulo Freire de
Alfabetizao. Finalmente, o Frum de Dacar (2000) avaliou os resultados das aes nacionais e
apontou a necessidade de novos esforos para a universalizao da alfabetizao e da educao
bsica.
Vale lembrar que o Governo Federal brasileiro, em 1994, por meio da Conferncia Nacional de
Educao para Todos, fez uma mobilizao de todos os estados e mais de trs mil municpios,
que se colocaram disposio para um esforo nacional no setor.
Essas iniciativas reforam a convico de que no h sociedades que tenham resolvido seus
problemas sem equacionar devidamente os problemas de educao e no h pases que
tenham encontrado solues para seus problemas educacionais sem equacionar devida e
simultaneamente a educao de adultos e a alfabetizao.
33
Moacir Gadotti
Qual o tamanho do desao a enfrentar? O que fazer para que realmente o Brasil esteja
alfabetizado?
Antes de mais nada preciso reconhecer que as nossas altas taxas de analfabetismo so
decorrentes da nossa pobreza. O analfabetismo representa a negao de um direito fundamental
decorrente de um conjunto de problemas sociais: falta de moradia, alimentao, transporte,
escola, sade, emprego... Isso signica que, quando as polticas sociais vo bem, quando h
emprego, escola, moradia, transporte, sade, alimentao, no h analfabetismo. Quando tudo
isso vai bem, a educao vai bem. Isso signica ainda que o problema do analfabetismo no
ser totalmente resolvido somente atravs da educao.
Eis algumas informaes sobre o nosso atraso educacional.
Segundo dados distribudos pelo MEC no nal de 2002, a taxa de analfabetismo diminuiu de
16% (1994) para 13,3% (1999). Graas ao esforo realizado no ensino fundamental, a taxa de
analfabetismo diminuiu de 7,5% para 4% no grupo de 15 a 19 anos e de 8% para 5,9% no grupo
de 20 a 24 anos, no mesmo perodo.
Segundo o CENSO 2000, o nmero de analfabetos (maior ou igual a quinze anos) era de
16.294.889 (13,53%), assim distribudos: zona urbana, 10.130.682, (10,28%) e zona rural,
6.154.207 (29,79%).
Para o PNAD-1996, os chamados sem instruo so 14.018.960 (13,3%). Destes, 5.749.714
(26,8%) so da zona rural e 3.607.057 (23,7%) esto localizados no Nordeste. No perodo de
1992 a 1999 a taxa de analfabetismo caiu de 17,2% para 13,3%, segundo o Censo de 2000
do IBGE. O nmero de pessoas com menos de quatro anos de escolaridade de 20.644.950
(19,3%); 28.515.093 (33,8%) tm mais de quatro e menos de oito anos. Portanto, um total de
49.160.043 (53,1%) no completaram o ensino fundamental.
Os nmeros do nosso atraso
34
UM CENRIO POSSVEL DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
Se considerarmos o analfabeto funcional aquele(a) que no completou oito anos de
escolaridade em 1996, existiam, no Brasil, 63.179.003 (66,4%). Coincidentemente, em
1994 o TSE divulgou dados dos eleitores de FHC: 66,4% ou eram analfabetos ou no haviam
concludo o ensino fundamental. Oito anos de escolaridade considerado como patamar mnimo
de alfabetismo funcional. Segundo o PNAD-2001, 69,7 milhes de brasileiros com mais de 15
anos no tm o ensino fundamental (57,64%).
Segundo o Censo IBGE-2000, no grupo de 15 e mais de idade, a taxa passou de 20,1%
em 1991 para 13,6% em 2000, o que mostra que os dados de 1996 no foram alterados
substancialmente.
Segundo o IBOPE-2000, a pedido do Instituto Paulo Montenegro, em 2000 existiam 9%
de analfabetos entre 15 e 64 anos. Os demais 91% distribuam-se nos seguintes grupos de
letramento: a) 31% lem e entendem um pequeno anncio ou ttulo de um jornal (um bilhete
simples); b) 34% lem e entendem pequenas matrias de jornal; c) 26% tm domnio da leitura
e da escrita.
Em 1999 o MEC, atravs do INEP, distribuiu nmeros referentes ao atendimento demanda,
incluindo o supletivo: em 1996, atendeu 2.136.508; em 1997, 2.210.325; em 1998, 2.081.750.
Da demanda atendida em 1998, 63,2% era atendida pelos Estados, 30,2% pelos Municpios e
6,5% pelo ensino particular.
A Alfabetizao Solidria divulgou dados (Folha de S.Paulo, 24/11/2002, p. 2) de que teria
alfabetizado 2,5 milhes de analfabetos entre 1997 e 2001 (curso de seis meses), contribuindo
para a reduo da taxa de analfabetismo de 19,8% em 1990 para 12,8% no ano 2000 da
populao maior de 15 anos.
35
Moacir Gadotti
Uma longa caminhada comea por um pequeno passo e esse primeiro passo acreditar na
educao de jovens e adultos. H muitos que no acreditam, mesmo porque, nos ltimos
anos, assimilaram uma viso necr la de EJA sustentada por uma poltica governamental que
desprezava a educao de adultos, esperando que o analfabetismo fosse extinto no dia em que
os adultos analfabetos morressem.
At bem pouco tempo julgava-se que:
a) os analfabetos mesmos no demandam alfabetizao, quem deseja alfabetizar a populao
so os educadores;
b) a alfabetizao no in ui no rendimento das pessoas, nem na busca de um emprego;
c) para os governos, o investimento muito maior do que o retorno.
A importncia da Educao de Jovens e Adultos
c) para os governos, o investimento muito maior do que o retorno.c) para os governos, o investimento muito maior do que o retorno.c) para os governos, o investimento muito maior do que o retorno.
36
UM CENRIO POSSVEL DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
Para acreditar em EJA devemos contra-argumentar. Segundo a Pastoral da Criana, em pesquisa
realizada em 2002, a falta de alfabetizao das mes uma das principais causas de desnutrio
infantil. At o Banco Mundial mudou de opinio em relao poltica de EJA. Uma pesquisa
realizada pelo Banco Mundial (Oxenham, J. & Aoki, A., 2000) mostrou que os participantes em
programas de alfabetizao:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
2.
3.
4.
5.
6.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
tm maior con ana e autonomia no interior de suas famlia e comunidades;
esto mais vontade que os no-alfabetizados quando levam e trazem seus lhos da escola
e monitoram o seu progresso;
alteram suas prticas de sade e de nutrio em benefcio de suas famlias;
aumentam sua produo e seus ganhos usando informaes recebidas nos programas de
alfabetizao ou acessando outras informaes;
participam mais efetivamente na comunidade e na poltica;
mostram melhor compreenso das mensagens disseminadas pelo rdio e pela mdia
impressa;
desenvolvem novas e produtivas relaes sociais atravs de seus grupos de aprendizagem;
guardam suas habilidades de alfabetizao e as usam para expandir sua satisfao na vida
diria.
37
Moacir Gadotti
Uma viso prospectiva do campo de EJA dever levar em conta as numerosas lies deixadas
pela Conferncia de Hamburgo (1997), a Conferncia Internacional de Educao de Adultos
(CONFINTEA V) da UNESCO. Entre elas podemos destacar:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
Ao temor devemos contrapor a esperana ativa: exigir a EJA como direito subjetivo. No h
justi cativa tica, e nem jurdica, para excluir os analfabetos do direito de ter acesso educao
bsica.
reconhecer o papel indispensvel do educador bem formado;
reconhecer e rea rmar a diversidade de experincias;
assumir o carter pblico de EJA;
ter um enfoque intertranscultural e transversal;
a importncia de EJA, para a cidadania, o trabalho e a renda numa era de desemprego
crescente;
reconhecer a importncia da articulao de aes locais (no se isolar);
reconceituar EJA como um processo permanente de aprendizagem do adulto;
rea rmar a responsabilidade inegvel do Estado diante de EJA;
fortalecer a sociedade civil;
integrar EJA como uma modalidade da Educao Bsica;
resgatar a tradio de luta poltica de EJA pela democracia e justia social;
criar uma agenda prpria de EJA;
sistematizar e difundir experincias relevantes.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
reconhecer o papel indispensvel do educador bem formado;
reconhecer e rea rmar a diversidade de experincias;
assumir o carter pblico de EJA;
ter um enfoque intertranscultural e transversal;
a importncia de EJA, para a cidadania, o trabalho e a renda numa era de desemprego
crescente;
reconhecer a importncia da articulao de aes locais (no se isolar);
reconceituar EJA como um processo permanente de aprendizagem do adulto;
rea rmar a responsabilidade inegvel do Estado diante de EJA;
fortalecer a sociedade civil;
integrar EJA como uma modalidade da Educao Bsica;
resgatar a tradio de luta poltica de EJA pela democracia e justia social;
criar uma agenda prpria de EJA;
sistematizar e difundir experincias relevantes.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
a importncia de EJA, para a cidadania, o trabalho e a renda numa era de desemprego
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
a importncia de EJA, para a cidadania, o trabalho e a renda numa era de desemprego
38
UM CENRIO POSSVEL DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
A Sociedade Civil pode dar uma grande contribuio para a eliminao do analfabetismo no
Brasil, mas o Estado precisa fazer a sua parte. Educao dever do Estado. At o momento,
porm, a educao pblica no assumiu esse dever, deixando para a Sociedade Civil essa
responsabilidade. Veja-se o exemplo da ONG Alfabetizao Solidria criada durante o governo
FHC.
Para a escola pblica receber um contingente to grande de analfabetos sem instruo,
segundo o IBGE, ou com baixa escolaridade, ela precisa modi car-se substancialmente j que
foi criada para atender prioritariamente crianas e jovens. Para passar a atender agora tambm a
adultos, ela precisa repensar-se, precisa de uma reestruturao e de uma reorientao curricular.
A escola atual no foi pensada como Escola de EJA. Por isso, precisa preparar-se para facilitar
o acesso e a permanncia do adulto. Essa preparao supe:
a) uma estrutura adequada da escola EJA;
b) um projeto poltico-pedaggica que inclua a EJA;
c) uma concepo de EJA que estabelea a sua especi cidade no como uma carncia
(suplncia) de algo, mas como uma modalidade de educao bsica.
a) uma estrutura adequada da escola EJA;
b) um projeto poltico-pedaggica que inclua a EJA;
c) uma concepo de EJA que estabelea a sua especi cidade no como uma carncia
(suplncia) de algo, mas como uma modalidade de educao bsica.
c) uma concepo de EJA que estabelea a sua especi cidade no como uma carncia c) uma concepo de EJA que estabelea a sua especi cidade no como uma carncia
Responsabilidade da escola pblica diante da educao de jovens e adultos
39
Moacir Gadotti
O que preciso para a reorientao curricular da escola atual para que atenda educao de
jovens e adultos?
No h dvida de que uma reorientao curricular, para que seja bem-sucedida, necessita de:
a) referenciais, uma teoria;
b) propostas concretas, prticas, e
c) estratgias.
O melhor referencial e a melhor proposta no tm nenhum signi cado se no forem assumidos,
coletivamente, pelas escolas como um todo. As estratgias so essenciais. Elas podem levar a
perder as melhores propostas. Por isso necessrio:
1. uma comunicao e ciente;
2. adeso voluntria;
3. um ambiente favorvel;
4. credibilidade tcnica e poltica de quem faz a proposta.
preciso tambm pensar num tempo prprio, apropriado, para a reorientao e a reestruturao
escolar, tempo para amadurecer as idias, tempo para promover as mudanas necessrias.
Temos pouca experincia democrtica e nosso sistema educacional vertical, no favorecendo
o envolvimento das pessoas.
Para que as escolas possam aderir a esse novo desa o, voluntariamente, com autonomia,
precisam ser respeitadas. Democracia respeito, levar em conta as pessoas e o que elas
zeram e fazem. respeitar o que j existe, a experincia de cada um, de cada uma. Na
verdade, todas as escolas pblicas querem enfrentar as inmeras di culdades e barreiras que
existem para construir essa nova escola pblica de adultos, mas querem que sejam respeitados
os diferentes contextos e propostas. Cada escola tem sua histria, encontra-se em determinado
tempo institucional, que preciso que seja respeitado.
a) referenciais, uma teoria;
b) propostas concretas, prticas, e
c) estratgias.
a) referenciais, uma teoria;
b) propostas concretas, prticas, e
c) estratgias.
a) referenciais, uma teoria;
b) propostas concretas, prticas, e
c) estratgias.
1. uma comunicao e ciente;
2. adeso voluntria;
3. um ambiente favorvel;
4. credibilidade tcnica e poltica de quem faz a proposta.
1. uma comunicao e ciente;
2. adeso voluntria;
3. um ambiente favorvel;
4. credibilidade tcnica e poltica de quem faz a proposta.
1. uma comunicao e ciente;
2. adeso voluntria;
3. um ambiente favorvel;
4. credibilidade tcnica e poltica de quem faz a proposta.
40
UM CENRIO POSSVEL DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
Por que a reestruturao curricular importante?
Porque existem questes estruturais que determinam o sucesso ou o fracasso de um currculo.
Elas interferem no rendimento escolar do aluno, nas relaes sociais e humanas, no ambiente
que pode ser favorvel ou no ao ensino-aprendizagem. Questes como a falta de professores e
a rigidez dos horrios da EJA devem ser enfrentadas solidariamente, co-responsavelmente entre
a escola, as coordenaes regionais e o gabinete da Secretaria de Educao. Uma instncia no
pode jogar a responsabilidade exclusivamente sobre a outra. Em qualquer das trs instncias
de poder existe muito espao para a criatividade que at hoje no foi su cientemente utilizado
em favor dos excludos. sabido que as escolas at hoje no descobriram ou no utilizaram
todo o seu potencial de mobilizao social e sua capacidade criadora. Falta-lhes talvez uma
dose de rebeldia, essencial ao ato pedaggico, para se transformarem em escolas radicalmente
democrticas.
O que so escolas democrticas?
Segundo Michael Apple (1997), existem sete condies bsicas para que possamos chamar
uma escola de escola democrtica. So elas:
41
Moacir Gadotti
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Michael Apple que escreveu um dos mais importantes livros sobre o currculo nacional
das escolas dos Estados Unidos, que prepara o cidado norte-americano para a guerra, a
dominao poltica e a explorao econmica: Educando direita: mercados, padres, Deus e
desigualdade. So Paulo, IPF/Cortez, 2003 nos adverte que essas condies foram encontradas
nas experincias de gesto democrtica das escolas pblicas que ele analisou. E conclui que
importante no desconhecer experincias exitosas de gesto democrtica, que do vida a uma
democracia autntica. A democracia e a cidadania tornaram-se o eixo da educao escolar
do nosso tempo. Nesse aspecto, a tica no se distingue da democracia e da cidadania, pois a
democracia est no centro dos valores da educao atual e da escola como conjunto de valores,
conjunto de relaes sociais e humanas. Ao rede nir, reestruturar e reorientar seus currculos, a
escola est justamente pensando num novo projeto tico-poltico, democrtico e cidado.
A gesto democrtica , assim, parte desse novo projeto que inclui novas normas de convivncia,
novas relaes pessoais, humanas e interpessoais, en m um novo currculo (no sentido amplo)
para as escolas, radicalmente democrtico.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
2.
3.
4.
5.
6.
2.
3.
4.
5.
6.
7
O livre uxo das idias, independentemente de sua popularidade, que permite s pessoas serem bem informadas;
F na capacidade individual e coletiva de as pessoas criarem condies de resolver problemas;
O uso da re exo e da anlise crtica para avaliar idias, problemas e polticas;
Preocupao com o bem-estar dos outros e com o bem comum;
Preocupao com a dignidade e os direitos dos indivduos e das minorias;
A compreenso de que a democracia no tanto um ideal a ser buscado, como um conjunto de valores idealizados que devemos viver e que devem regular nossa vida como povo;
A organizao de instituies sociais para promover e ampliar o modo de vida democrtico.
42
UM CENRIO POSSVEL DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
H outro ponto a considerar ao se re etir sobre o cenrio e as perspectivas da educao de jovens
e de adultos no Brasil: o da concepo de EJA. Desde os anos 50 at hoje, os materiais didticos
utilizados em programas de EJA ainda no superaram uma viso infantilizada da educao
de adultos. uma humilhao para um adulto ter que estudar como se fosse uma criana,
renunciando a tudo o que a vida lhe ensinou. preciso respeitar o aluno por meio de uma
metodologia apropriada, uma metodologia que resgate a importncia da sua biogra a. Nisso
temos que considerar o que distingue um jovem de um adulto. Os jovens e adultos alfabetizandos
j foram desrespeitados uma vez quando tiveram seu direito educao negado. No podem
agora, ao retomar sua instruo, serem humilhados mais uma vez por uma metodologia que
lhes nega o direito de a rmao de sua identidade, de seu saber, de sua cultura. Por isso, essa
incluso do jovem e do adulto precisa ser uma incluso com uma nova qualidade. No a
qualidade da escola que eles no freqentaram quando eram crianas. No se trata de uma
qualidade formal, mas de construir uma qualidade social e poltica. uma nova escola, uma
escola para jovens e adultos. preciso esforo, lucidez e fora para constru-la. Ser preciso
muito dilogo, respeito, competncia tambm.
Os jovens e adultos trabalhadores lutam para superar suas condies de vida (moradia, sade,
alimentao, transporte, emprego etc.) que esto na raiz do problema do analfabetismo. O
desemprego, os baixos salrios e as pssimas condies de vida, comprometem o seu processo
de alfabetizao. Falamos de jovens e adultos referindo-nos educao de adultos, porque
aqueles que freqentam os programas de educao de adultos so majoritariamente os jovens
trabalhadores.
O analfabetismo a expresso da pobreza, conseqncia inevitvel de uma estrutura social
injusta. Seria ingnuo combat-lo sem combater suas causas: preciso partir do conhecimento
das condies de vida do analfabeto, sejam elas as condies objetivas, como o salrio, o
Concepo popular da educao bsica de jovens e adultos
43
Moacir Gadotti
emprego, a moradia, sejam as condies subjetivas, como a histria de cada grupo, suas lutas,
organizao, conhecimento, habilidades, enm, sua cultura, mas conhecendo-as na convivncia
com ele e no apenas teoricamente. No pode ser um conhecimento apenas intelectual,
formal.
Um programa de educao de adultos, por essa razo, no pode ser avaliado apenas pelo seu
rigor metodolgico, mas pelo impacto gerado na qualidade de vida da populao atingida.
A educao de adultos est condicionada s possibilidades de uma transformao real das
condies de vida do aluno-trabalhador. Os programas de educao de jovens e adultos estaro
a meio caminho do fracasso se no levarem em conta essas premissas, sobretudo na formao
do educador. O analfabetismo no doena ou erva daninha, como se costumava dizer entre
ns. a negao de um direito ao lado da negao de outros direitos. O analfabetismo no
uma questo pedaggica, mas uma questo essencialmente poltica.
Quem o educador de jovens e adultos? J foi comprovado que, sendo o educador do prprio
meio, facilita muito a educao de jovens e adultos. Contudo, nem sempre isso possvel.
preciso formar educadores provenientes de outros meios no apenas geogrcos, mas tambm
sociais. Todavia, no mnimo, esses educadores precisam respeitar as condies culturais do
jovem e do adulto analfabeto. Eles precisam fazer o diagnstico histrico-econmico do grupo
ou comunidade que iro trabalhar e estabelecer um canal de comunicao entre o saber tcnico
(erudito) e o saber popular. Ler sobre a educao de adultos no suciente. preciso entender,
conhecer profundamente, pelo contato direto, a lgica do conhecimento popular, sua estrutura
de pensamento em funo da qual a alfabetizao ou a aquisio de novos conhecimentos tem
sentido.
No se pode medir a qualidade da educao de adultos pelos palmos de saber sistematizado
que foram assimilados pelos alunos. Ela deve ser medida pela possibilidade que os dominados
tiveram de manifestar seu ponto de vista e pela solidariedade que tiver criado entre eles. Da a
importncia da organizao coletiva. preciso criar o interesse e o entusiasmo pela participao:
o educador popular um animador cultural, um articulador, um organizador, um intelectual (no
sentido gramsciano). O educador popular no pode ser nem ingnuo, nem espontanesta. O
espontanesmo princpio que consiste em car esperando que a mudana venha de cima,
sem esforo, sem disciplina, sem trabalho sempre conservador. O educador popular, no
contato direto com a cultura popular, descobrir rapidamente a diferena entre espontanesmo
e a espontaneidade, que uma caracterstica positiva da mentalidade popular.
44
UM CENRIO POSSVEL DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
Construmos o futuro a partir de um lugar, isso quer dizer que a partir de uma referncia local
que possvel pensar o nacional, o regional e o internacional. Ns, latino-americanos, temos
uma longa experincia de regimes autoritrios tentando impor uma identidade nacional sem
levar em conta a mentalidade popular, muitas vezes baseando-se em pressupostos autoritrios
como o conceito de segurana nacional. Conhecemos o mundo primeiro pelos nossos pais,
pelo nosso crculo imediato e s depois que, progressivamente, alargamos nosso universo.
O bairro e logo em seguida a cidade so os principais meios educativos de que dispomos. A
cidade a nossa primeira instncia educativa. ela que nos insere num pas e num mundo em
constante evoluo.
No se trata de negar o acesso cultura geral elaborada, que se constitui num importante
instrumento de luta para as minorias. Trata-se de no desprezar e, sobretudo, no matar a
cultura primeira do aluno. Trata-se de incorporar uma abordagem do ensino/aprendizagem que
se baseia em valores e crenas democrticas e procura fortalecer o pluralismo cultural num
mundo cada vez mais interdependente. Por isso que a educao de adultos deve ser sempre
uma educao multicultural, uma educao que desenvolve o conhecimento e a integrao
na diversidade cultural. uma educao para a compreenso mtua, contra a excluso por
motivos de raa, sexo, cultura ou outras formas de discriminao. A loso a primeira na qual
o educador de jovens e adultos precisa ser formado a loso a do dilogo. E o pluralismo
tambm uma loso a do dilogo.
O conhecimento o grande capital da humanidade. No apenas o capital da transnacional
que precisa dele para a inovao tecnolgica. Ele bsico para a sobrevivncia de todos. Por
isso ele no deve ser vendido ou comprado, mas disponibilizado a todos. Essa a funo de
instituies que se dedicam ao conhecimento, apoiado nos avanos tecnolgicos. Esperamos que
a educao do futuro seja mais democrtica, menos excludente. Essa ao mesmo tempo nossa
causa e nosso desa o. Infelizmente, diante da falta de polticas pblicas no setor, acabaram
Educao de jovens e adultos na sociedade da informao
45
Moacir Gadotti
surgindo indstrias do conhecimento, prejudicando uma possvel viso humanista, tornando-o
instrumento de lucro e de poder econmico.
Na sociedade da informao a educao de adultos deve servir de bssola ao educando para
navegar nesse mar do conhecimento, superando a viso utilitarista de s oferecer informaes
teis para a competitividade, para obter resultados. Deve oferecer uma formao geral na
direo de uma educao integral. O que signica servir de bssola? Signica orientar criticamente
os adultos na busca de uma informao que os faa crescer e no embrutecer.
Hoje vale tudo para aprender. Isso vai alm da reciclagem e da atualizao de conhecimentos
e muito mais alm da assimilao de conhecimentos. A sociedade do conhecimento uma
sociedade de mltiplas oportunidades de aprendizagem: parcerias entre o pblico e o privado
(famlia, empresa, associaes), avaliaes permanentes, debate pblico, autonomia da escola,
generalizao da inovao. As conseqncias para a escola e para a educao em geral so
enormes: ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocnio lgico; fazer
snteses e elaboraes tericas; saber organizar o seu prprio trabalho; ter disciplina para o
trabalho; ser independente e autnomo; saber articular o conhecimento com a prtica; ser
aprendiz autnomo e a distncia.
Nesse contexto de impregnao do conhecimento cabe educao de adultos: amar o
conhecimento como espao de realizao humana, de alegria e de contentamento cultural;
selecionar e rever criticamente a informao; formular hipteses; ser criativa e inventiva
(inovar); ser provocadora de mensagens e no pura receptora; produzir, construir e reconstruir
conhecimento elaborado. E mais: numa perspectiva emancipadora da educao, a educao
de adultos tem que fazer tudo isso em favor dos excludos. No discriminar o pobre. Ela no
pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir conhecimentos, saber, que poder. Numa
perspectiva emancipadora da educao, a tecnologia contribui muito pouco para a emancipao
dos excludos se no for associada ao exerccio da cidadania.
Trs dcadas de debates sobre nosso futuro comum deixaram algumas pegadas ecolgicas
tanto no campo da economia quanto no da tica, da poltica e da educao que podem nos
indicar um caminho diante dos desaos do sculo XXI. A sustentabilidade tornou-se um tema
gerador preponderante neste incio de milnio para pensar no s o planeta mas tambm um
tema portador de um projeto social global e capaz de reeducar nosso olhar e todos os nossos
sentidos, capaz de reacender a esperana num futuro possvel, com dignidade, para todos.
46
UM CENRIO POSSVEL DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
Como educar para um mundo sustentvel?
O cenrio no otimista: podemos destruir toda a vida no planeta neste milnio que se inicia.
Uma ao conjunta global necessria, um movimento como grande obra civilizatria de todos
indispensvel para realizarmos essa outra globalizao, essa planetarizao, fundamentada em
outros princpios ticos que no os baseados na explorao econmica, na dominao poltica
e na excluso social. O modo pelo qual vamos produzir nossa existncia neste pequeno planeta
decidir sobre a sua vida ou a sua morte, e a de todos os seus lhos e lhas. A Terra deixou de
ser um fenmeno puramente geogr co para se tornar um fenmeno histrico.
Os paradigmas clssicos, fundados numa viso industrialista predatria, antropocntrica e
desenvolvimentista, esto se esgotando, no dando conta de explicar o momento presente e de
responder s necessidades futuras. Necessitamos de um outro paradigma, fundado numa viso
sustentvel do planeta Terra. O globalismo essencialmente insustentvel. Ele atende primeiro
s necessidades do capital e depois s necessidades humanas, e muitas das necessidades
humanas a que ele atende tornaram-se humanas apenas porque foram produzidas como tais
para servirem ao capital.
Precisamos de uma Pedagogia da Terra, uma pedagogia apropriada para esse momento de
reconstruo paradigmtica, apropriada cultura da sustentabilidade e da paz. Ela vem se
constituindo gradativamente, bene ciando-se de muitas re exes que ocorreram nas ltimas
dcadas, principalmente no interior do movimento ecolgico. Ela se fundamenta num paradigma
los co (Paulo Freire, Leonardo Boff, Sebastio Salgado, Boaventura de Sousa Santos, Milton
Santos, Edgar Morin) emergente na educao que prope um conjunto de saberes/valores
interdependentes. Entre eles podemos destacar:
1) Educar para pensar globalmente. Na era da informao, diante da velocidade com que o
conhecimento produzido e envelhece, no adianta acumular informaes. preciso saber
pensar. E pensar a realidade. No pensar pensamentos j pensados. Da a necessidade
de recolocarmos o tema do conhecimento, do saber aprender, do saber conhecer, das
metodologias, da organizao do trabalho na escola.
1) Educar para pensar globalmente. Na era da informao, diante da velocidade com que o
conhecimento produzido e envelhece, no adianta acumular informaes. preciso saber
pensar. E pensar a realidade. No pensar pensamentos j pensados. Da a necessidade
de recolocarmos o tema do conhecimento, do saber aprender, do saber conhecer, das
metodologias, da organizao do trabalho na escola.
Educar para pensar globalmente. Na era da informao, diante da velocidade com que o
conhecimento produzido e envelhece, no adianta acumular informaes. preciso saber
pensar. E pensar a realidade. No pensar pensamentos j pensados. Da a necessidade
de recolocarmos o tema do conhecimento, do saber aprender, do saber conhecer, das
metodologias, da organizao do trabalho na escola.
Educar para pensar globalmente. Na era da informao, diante da velocidade com que o
conhecimento produzido e envelhece, no adianta acumular informaes. preciso saber
pensar. E pensar a realidade. No pensar pensamentos j pensados. Da a necessidade
de recolocarmos o tema do conhecimento, do saber aprender, do saber conhecer, das
metodologias, da organizao do trabalho na escola.
47
Moacir Gadotti
2) Educar os sentimentos. O ser humano o nico ser vivente que se pergunta sobre o sentido
de sua vida. Educar para sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para viver com sentido
em cada instante da nossa vida. Somos humanos porque sentimos e no apenas porque
pensamos. Somos parte de um todo em construo.
3) Ensinar a identidade terrena como condio humana essencial. Nosso destino comum no
planeta, compartilhar com todos sua vida no planeta. Nossa identidade ao mesmo tempo
individual e csmica. Devemos educar para conquistar um vnculo amoroso com a Terra, no
para explor-la, mas para am-la.
4) Formar para a conscincia planetria. Compreender que somos interdependentes. A Terra
uma s nao e ns, os terrqueos, os seus cidados. No precisaramos de passaportes. Em
nenhum lugar na Terra deveramos nos considerar estrangeiros. Separar primeiro de terceiro
mundo signi ca dividir o mundo para govern-lo a partir dos mais poderosos; essa a diviso
globalista entre globalizadores e globalizados, o contrrio do processo de planetarizao.
5) Formar para a compreenso. Formar para a tica do gnero humano, no para a tica
instrumental e utilitria do mercado. Educar para comunicar-se. No comunicar para explorar,
para tirar proveito do outro, mas para compreend-lo melhor. A Pedagogia da Terra funda-se
nesse novo paradigma tico e numa nova inteligncia do mundo. Inteligente no aquele
que sabe resolver problemas (inteligncia instrumental), mas aquele que tem um projeto
de vida solidrio, porque a solidariedade no hoje apenas um valor, mas condio de
sobrevivncia de todos.
6) Educar para a simplicidade e para a quietude. Nossas vidas precisam ser guiadas por novos
valores: simplicidade, austeridade, quietude, paz, saber escutar, saber viver juntos, compartir,
descobrir e fazer juntos. Precisamos escolher entre um mundo mais responsvel frente
cultura dominante que uma cultura de guerra, de competitividade, sem solidariedade, e
passar de uma responsabilidade diluda a uma ao concreta, praticando a sustentabilidade
na vida diria, na famlia, no trabalho, na escola, na rua. A simplicidade no se confunde
com a simploriedade e a quietude no se confunde com a cultura do silncio. A simplicidade
tem que ser voluntria como a mudana de nossos hbitos de consumo, reduzindo nossas
demandas. A quietude uma virtude, conquistada com a paz interior e no pelo silncio
imposto.
2) Educar os sentimentos. O ser humano o nico ser vivente que se pergunta sobre o sentido
de sua vida. Educar para sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para viver com sentido
em cada instante da nossa vida. Somos humanos porque sentimos e no apenas porque
pensamos. Somos parte de um todo em construo.
3) Ensinar a identidade terrena como condio humana essencial. Nosso destino comum no
planeta, compartilhar com todos sua vida no planeta. Nossa identidade ao mesmo tempo
individual e csmica. Devemos educar para conquistar um vnculo amoroso com a Terra, no
para explor-la, mas para am-la.
4) Formar para a conscincia planetria. Compreender que somos interdependentes. A Terra
uma s nao e ns, os terrqueos, os seus cidados. No precisaramos de passaportes. Em
nenhum lugar na Terra deveramos nos considerar estrangeiros. Separar primeiro de terceiro
mundo signi ca dividir o mundo para govern-lo a partir dos mais poderosos; essa a diviso
globalista entre globalizadores e globalizados, o contrrio do processo de planetarizao.
5) Formar para a compreenso. Formar para a tica do gnero humano, no para a tica
instrumental e utilitria do mercado. Educar para comunicar-se. No comunicar para explorar,
para tirar proveito do outro, mas para compreend-lo melhor. A Pedagogia da Terra funda-se
nesse novo paradigma tico e numa nova inteligncia do mundo. Inteligente no aquele
que sabe resolver problemas (inteligncia instrumental), mas aquele que tem um projeto
de vida solidrio, porque a solidariedade no hoje apenas um valor, mas condio de
sobrevivncia de todos.
6) Educar para a simplicidade e para a quietude. Nossas vidas precisam ser guiadas por novos
valores: simplicidade, austeridade, quietude, paz, saber escutar, saber viver juntos, compartir,
descobrir e fazer juntos. Precisamos escolher entre um mundo mais responsvel frente
cultura dominante que uma cultura de guerra, de competitividade, sem solidariedade, e
passar de uma responsabilidade diluda a uma ao concreta, praticando a sustentabilidade
na vida diria, na famlia, no trabalho, na escola, na rua. A simplicidade no se confunde
com a simploriedade e a quietude no se confunde com a cultura do silncio. A simplicidade
tem que ser voluntria como a mudana de nossos hbitos de consumo, reduzindo nossas
demandas. A quietude uma virtude, conquistada com a paz interior e no pelo silncio
imposto.
2) Educar os sentimentos. O ser humano o nico ser vivente que se pergunta sobre o sentido
de sua vida. Educar para sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para viver com sentido
em cada instante da nossa vida. Somos humanos porque sentimos e no apenas porque
3) Ensinar a identidade terrena como condio humana essencial. Nosso destino comum no
planeta, compartilhar com todos sua vida no planeta. Nossa identidade ao mesmo tempo
individual e csmica. Devemos educar para conquistar um vnculo amoroso com a Terra, no
4) Formar para a conscincia planetria. Compreender que somos interdependentes. A Terra
uma s nao e ns, os terrqueos, os seus cidados. No precisaramos de passaportes. Em
nenhum lugar na Terra deveramos nos considerar estrangeiros. Separar primeiro de terceiro
mundo signi ca dividir o mundo para govern-lo a partir dos mais poderosos; essa a diviso
5) Formar para a compreenso. Formar para a tica do gnero humano, no para a tica
instrumental e utilitria do mercado. Educar para comunicar-se. No comunicar para explorar,
para tirar proveito do outro, mas para compreend-lo melhor. A Pedagogia da Terra funda-se
nesse novo paradigma tico e numa nova inteligncia do mundo. Inteligente no aquele
que sabe resolver problemas (inteligncia instrumental), mas aquele que tem um projeto
de vida solidrio, porque a solidariedade no hoje apenas um valor, mas condio de
6) Educar para a simplicidade e para a quietude. Nossas vidas precisam ser guiadas por novos
valores: simplicidade, austeridade, quietude, paz, saber escutar, saber viver juntos, compartir,
descobrir e fazer juntos. Precisamos escolher entre um mundo mais responsvel frente
cultura dominante que uma cultura de guerra, de competitividade, sem solidariedade, e
passar de uma responsabilidade diluda a uma ao concreta, praticando a sustentabilidade
na vida diria, na famlia, no trabalho, na escola, na rua. A simplicidade no se confunde
com a simploriedade e a quietude no se confunde com a cultura do silncio. A simplicidade
tem que ser voluntria como a mudana de nossos hbitos de consumo, reduzindo nossas
demandas. A quietude uma virtude, conquistada com a paz interior e no pelo silncio
imposto.
2) Educar os sentimentos. O ser humano o nico ser vivente que se pergunta sobre o sentido
de sua vida. Educar para sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para viver com sentido
em cada instante da nossa vida. Somos humanos porque sentimos e no apenas porque
3) Ensinar a identidade terrena como condio humana essencial. Nosso destino comum no
planeta, compartilhar com todos sua vida no planeta. Nossa identidade ao mesmo tempo
individual e csmica. Devemos educar para conquistar um vnculo amoroso com a Terra, no
4) Formar para a conscincia planetria. Compreender que somos interdependentes. A Terra
uma s nao e ns, os terrqueos, os seus cidados. No precisaramos de passaportes. Em
nenhum lugar na Terra deveramos nos considerar estrangeiros. Separar primeiro de terceiro
mundo signi ca dividir o mundo para govern-lo a partir dos mais poderosos; essa a diviso
5) Formar para a compreenso. Formar para a tica do gnero humano, no para a tica
instrumental e utilitria do mercado. Educar para comunicar-se. No comunicar para explorar,
para tirar proveito do outro, mas para compreend-lo melhor. A Pedagogia da Terra funda-se
nesse novo paradigma tico e numa nova inteligncia do mundo. Inteligente no aquele
que sabe resolver problemas (inteligncia instrumental), mas aquele que tem um projeto
de vida solidrio, porque a solidariedade no hoje apenas um valor, mas condio de
6) Educar para a simplicidade e para a quietude. Nossas vidas precisam ser guiadas por novos
valores: simplicidade, austeridade, quietude, paz, saber escutar, saber viver juntos, compartir,
descobrir e fazer juntos. Precisamos escolher entre um mundo mais responsvel frente
cultura dominante que uma cultura de guerra, de competitividade, sem solidariedade, e
passar de uma responsabilidade diluda a uma ao concreta, praticando a sustentabilidade
na vida diria, na famlia, no trabalho, na escola, na rua. A simplicidade no se confunde
com a simploriedade e a quietude no se confunde com a cultura do silncio. A simplicidade
tem que ser voluntria como a mudana de nossos hbitos de consumo, reduzindo nossas
demandas. A quietude uma virtude, conquistada com a paz interior e no pelo silncio
imposto.
48
UM CENRIO POSSVEL DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
claro, tudo isso supe justia, e justia supe que todas e todos tenham acesso qualidade
de vida. Seria cnico falar de reduo de demandas de consumo, atacar o consumismo, falar
de consumismo aos que ainda no tiveram acesso ao consumo bsico. No existe paz sem
justia.
Diante do possvel extermnio do planeta, surgem alternativas numa cultura da paz e uma cultura
da sustentabilidade. Sustentabilidade no tem relao apenas com a biologia, a economia e a
ecologia. Sustentabilidade tem a ver com a relao que mantemos conosco mesmos, com os
outros e com a natureza. A pedagogia deveria comear por ensinar sobretudo a ler o mundo,
como nos diz Paulo Freire, o mundo que o prprio universo, porque ele nosso primeiro
educador. Essa primeira educao uma educao emocional que nos coloca diante do mistrio
do universo, na intimidade com ele, produzindo a emoo de nos sentirmos parte desse sagrado
ser vivo e em evoluo permanente.
No entendemos o universo como partes ou entidades separadas, mas como um todo sagrado,
misterioso, que nos desaa a cada momento de nossas vidas, em evoluo, em expanso, em
interao. Razo, emoo e intuio so partes desse processo, no qual o prprio observador est
implicado. O Paradigma-Terra um paradigma civilizatrio. E como a cultura da sustentabilidade
oferece uma nova percepo da Terra, considerando-a como uma nica comunidade de
humanos, ela se torna bsica para uma cultura de paz.
O universo no est l fora. Est dentro de ns. Est muito prximo de ns. Um pequeno jardim,
uma horta, um pedao de terra, um microcosmo de todo o mundo natural. Nele encontramos
formas de vida, recursos de vida, processos de vida. A partir dele podemos reconceitualizar nosso
currculo escolar. Ao constru-lo e ao cultiv-lo podemos aprender muitas coisas. As crianas o
encaram como fonte de tantos mistrios! Ele nos ensina os valores da emocionalidade com a
Terra: a vida, a morte, a sobrevivncia, os valores da pacincia, da perseverana, da criatividade,
da adaptao, da transformao, da renovao... Todas as nossas escolas podem transformar-
se em jardins e professores-alunos, educadores-educandos, em jardi de, deciso, iniciativa,
igualdade, biodiversidade, cores, classes, etnicidade e gnero.
49
O EDUCANDO DA EDUCAO
DE JOVENS E ADULTOS
Maria Alice de Paula Santos
50
O EDUCANDO DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS
Para falar dos alunos da Educao de Jovens e Adultos (EJA) necessrio, em primeiro lugar,
esclarecer qual a concepo de aprendizagem e de sujeito que estaremos abordando no
decorrer deste texto. Iniciamos a partir de uma a rmao: os jovens e adultos que esto inseridos
nessa modalidade ou que querem se inserir j possuem saberes que ns, educadores apesar
de no ser novidade para muitos , ainda no aprendemos a considerar no processo de ensino
e aprendizagem.
O que necessrio ento para que isso acontea? O primeiro passo conhecermos quais so
os seus saberes, a sua situao socioeconmica, as diferenas culturais e, principalmente, como
eles aprendem; o segundo passo modi car a nossa prtica considerando essas informaes,
num movimento de ao-re exo-ao.
Este texto ser desenvolvido da seguinte maneira: primeiro sero abordadas algumas questes
que podem nos auxiliar no levantamento do per l dos educandos e estudos sobre esse tema
para, nalmente, indicar algumas possibilidades para a nossa prtica de sala de aula.
So muitas as informaes de que precisamos para conhecer o educando e, mais importante
ainda, sabermos usar esses dados como facilitador do processo ensino-aprendizagem. Algumas
questes podem nos auxiliar no levantamento do per l dos educandos, como:
a) aspecto socioeconmico - So trabalhadores? Pertencem a que categorias? Esto desempregados? So migrantes? So moradores da periferia da cidade? So
moradores da zona rural?
b) aspecto cognitivo - J dominam o sistema da escrita ou ainda no sabem o que a escrita representa? Quais as informaes que eles trazem para a sala de aula que
podem ajudar no seu processo de alfabetizao?
c) aspecto afetivo - Quais so as questes afetivas que di cultam ou que facilitam o seu processo de aprendizagem?
Destaco que uma organizao em categorias no signi ca que o aluno deva ser visto de maneira
compartimentada, mas essa possvel organizao apenas uma maneira de ajudar na anlise
do per l dos educandos.
a) aspecto socioeconmico - So trabalhadores? Pertencem a que categorias? Esto desempregados? So migrantes? So moradores da periferia da cidade? So
moradores da zona rural?
b) aspecto cognitivo - J dominam o sistema da escrita ou ainda no sabem o que a escrita representa? Quais as informaes que eles trazem para a sala de aula que
podem ajudar no seu processo de alfabetizao?
c) aspecto afetivo - Quais so as questes afetivas que di cultam ou que facilitam o seu processo de aprendizagem?
aspecto socioeconmico - So trabalhadores? Pertencem a que categorias? Esto
desempregados? So migrantes? So moradores da periferia da cidade? So
aspecto cognitivo - J dominam o sistema da escrita ou ainda no sabem o que a
escrita representa? Quais as informaes que eles trazem para a sala de aula que
aspecto afetivo - Quais so as questes afetivas que di cultam ou que facilitam o seu
aspecto socioeconmico - So trabalhadores? Pertencem a que categorias? Esto
desempregados? So migrantes? So moradores da periferia da cidade? So
aspecto cognitivo - J dominam o sistema da escrita ou ainda no sabem o que a
escrita representa? Quais as informaes que eles trazem para a sala de aula que
aspecto afetivo - Quais so as questes afetivas que di cultam ou que facilitam o seu
51
Maria Alice de Paula Santos
Quanto aos estudos do processo cognitivo dos jovens e adultos realizados por Marta Kohl de
Oliveira, Angela Kleiman e outros estudiosos que podem nos ajudar a compreender os diferentes
aspectos que compem o perl dos nossos educandos, destaco alguns.
O primeiro aspecto apontado por esses estudiosos quanto especicidade dos educandos
da EJA.
Quando falamos dos educandos dessa modalidade, no falamos de jovens e adultos em geral,
mas sim de um pblico muito especco. Por exemplo, preciso levar em considerao a sua
condio de no-crianas, sua condio de excludos da escola e a sua condio de membros
de determinados grupos culturais (Oliveira,1999:3).
Como indica Oliveira (1999:3), esse adulto no o estudante universitrio, o prossional
qualicado que freqenta cursos de formao continuada ou de especializao, ou a pessoa
adulta interessada em aperfeioar seus conhecimentos em reas como artes, lnguas estrangeiras
ou msica, por exemplo. Esse jovem no aquele com uma histria de escolaridade regular, o
vestibulando ou o aluno de cursos extracurriculares em busca de enriquecimento pessoal. No
tambm o adolescente no sentido naturalizado de pertinncia a uma etapa bio-psicolgica da
vida.
Os adultos a que nos referimos geralmente apresentam o seguinte perl socioeconmico:
moradores da zona rural; migrantes, lhos de trabalhadores rurais no qualicados e com baixo
nvel de instruo escolar. Eles buscam a escola para alfabetizar-se ou para continuar os estudos
interrompidos quando crianas.
Quanto aos jovens, segundo o documento Adolescncia: escolaridade, prossionalizao e
renda1, existem, no Brasil, em torno de oito milhes de adolescentes cujos nveis de renda e
escolaridade limitam suas condies de desenvolvimento e comprometem a construo de seus
projetos e o futuro do pas. Esse documento aponta que entre os adolescentes, assim como
entre os adultos, o perl do analfabetismo mantm um forte vis regional, que reete e reproduz
as desigualdades socioeconmicas existentes no pas.
Para conhecer o pblico que a EJA atende no primeiro segmento do ensino fundamental, a partir
dos 14 anos, e no ensino mdio, a partir dos 18 anos, podemos destacar os seguintes dados do
documento citado anteriormente:
52
O EDUCANDO DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS
So 79.392 os jovens de 12 a 17 anos responsveis por seus domiclios; 13% das mulheres de
15 a 19 anos tm pelo menos um lho, o que revela uma situao extremamente precria e que,
certamente, impede que vivam situaes da idade em sua plenitude.
Em um contexto no qual grande parte das famlias sobrevive com baixos nveis de renda, a
participao dos rendimentos do trabalho de adolescentes na composio da renda familiar
bastante signicativa: 18,2% das famlias com adolescentes trabalhadores entre 15 e 19 anos
residentes no meio urbano tinham entre 50% e 100% da sua renda advinda do trabalho de
adolescentes, ao passo que no meio rural essa situao ocorre com 20,9% das famlias (IBGE/
PNAD, 1998).
Ainda segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD, 2001), outros
fatores de desigualdade mostram que a pobreza concentra-se fortemente na infncia, na
adolescncia e na juventude, e, de forma mais categrica, entre os negros e as mulheres dessas
faixas de idade.
A situao desses adolescentes ca ainda mais grave quando analisado o seu desempenho
no sistema de ensino. Encontramos, por um lado, elevada defasagem entre a srie cursada e
a idade dos estudantes e, de outro, os escassos resultados da aprendizagem revelados pelos
instrumentos de avaliao disponveis (Adolescncia: escolaridade, prossionalizao e renda).
Para completar a informao sobre o aproveitamento escolar dos adolescentes, o Censo Escolar
realizado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) apontou que a
taxa mdia de distoro idade-srie no ensino fundamental foi de 39% em 2001, quando um
quinto dos alunos da 1. srie e metade dos estudantes da 4. srie encontravam-se defasados
em relao idade/srie para cursar essa etapa do ensino. A reteno dos estudantes ao longo
do ensino fundamental repercute no ensino mdio, em que mais da metade dos estudantes
esto defasados em relao srie cursada. (Adolescncia: escolaridade, prossionalizao e
renda).
O segundo aspecto refere-se aprendizagem do adulto. Nessa faixa etria, Oliveira (1999) alerta
que na rea da psicologia as teorias sobre o desenvolvimento referem-se predominantemente
criana e ao adolescente, e que a rea no tm estabelecido uma boa psicologia do adulto.
Em estudos mais recentes foi apontado como uma questo importante, considerar a vida adulta
como etapa substantiva do desenvolvimento, levando em conta os fatores culturais na denio
53
Maria Alice de Paula Santos
das caractersticas da vida adulta. Mas, apesar dessa di culdade, segundo Oliveira (199:4),
podemos arrolar algumas caractersticas desta etapa da vida que distinguiriam, de
maneira geral, o adulto da criana e do adolescente. O adulto est inserido no mundo
do trabalho e das relaes interpessoais de um modo diferente daquele da criana e do
adolescente. Traz consigo uma histria mais longa (e provavelmente mais complexa) de
experincias, conhecimentos acumulados e re exes sobre o mundo externo, sobre si
mesmo e sobre as outras pessoas. Com relao insero em situaes de aprendizagem,
essas peculiaridades da etapa de vida em que se encontra o adulto faz com que ele traga
consigo diferentes habilidades e di culdades (em comparao criana) e, provavelmente,
maior capacidade de re exo sobre o conhecimento e sobre seus prprios processos de
aprendizagem...
O jovem, embora excludo da escola da mesma forma que o adulto, est inserido em outro
contexto. Ele geralmente ligado ao mundo urbano, ocupando seu tempo com atividades
relacionadas com a sociedade letrada (no trabalho, no lazer grupos musicais, gra tagem
etc.). Em decorrncia de usar estratgias da sociedade letrada em sua vida, as di culdades dos
jovens no so as mesmas das dos adultos quanto escola: para aqueles, o desa o parece ser
a construo de um espao de sociabilidade.
No processo de aprendizagem do jovem e do adulto importante, tambm, analisar sua forma
de aquisio da escrita, pois isso permite, segundo estudos realizados por Picoli (2000:105),
revelar quanto desse conheci