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Alfredo d'Escragnolle Taunay - Questões Politicas e Sociaes

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Alfredo d'Escragnolle Taunay - Questões Politicas e Sociaes

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  • Ie ne fay rien sans

    Gayet (Montaigne, Des livres)

    Ex Libris Jos Mindl in

  • QUESTES POLTICAS E SOCIAES.

    wsotmsos

    P R O F E R I D O S

    NAS DUAS PRIMEIRAS SESSES DA

    16.a LEGISLATURA DA

    ssembla Geral Legislativa POf \

    ^Ifredo de Escragrolle Taunay Deputado pela Provncia de Goyaz.

    Rio DE JANEIRO

    Jyp. -Q. ^euzixgep ifc" J^il^es, Tivior e.

    1 8 7 7

  • QUESTES POLTICAS E SOCIAES.

    msotmsos P R O F E R I D O S

    NAS DUAS PRIMEIRAS SESSES DA

    16.a LE&ISLATURA DA

    ssembla Qeral Legislativa P O t \

    jpfredo de Escragjolle Taunay Deputado pela Provncia de Goyaz.

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    R i o D E J A N E I R O

    Tyr- ^k- ^eTiz^gei? & Filhos, a.Tt(.r fid.

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  • igowms P R O F E R I D O NA

    SESSO DE 18 OS A88tt DE (8?? POR^ OCCASI&O DA

    V DISCUSSO DO PROJECTO DE LEI QUE FIXAVA AS FORAS DE ( i >

    ox^oo

    O SR. ESCRAGNOLLB TAUNAY: Ao tomar, Sr. Presi : dente, parte neste importante delate, e antes de responder ao illustrado orador que acaba de sentar-se, e que com phrase singela, mas enrgica, atacou o gabinete 25 de Junho e a actual situao conservadora, hade V. Ex. permittir que com todo o respeito eu sade o nobre Sr. ministro da Guerra e Presidente do Conselho, por enxergar nelle no s o Ge-neral que tantas vezes guiou as armas brasileiras victoria, como tambm o poltico leal e firme (apoiados) que no ultimo quartel da vida presta ainda servios relevantissimos ao paiz e ao partido a que pertence, no regateando a ambos sacrifcios de qualquer natureza que sejo. (Muitos apoiados.)

    A ns conservadores, deve encher de orgulho vermos comparecer nesta augusta casa esse eminente cidado, que poderia comtudo estar commodamente descansando som-bra dos louros que com tanta dignidade colheu. (Apoiados.) Como conservadores, temos sem duvida desvanecimento por

    (*) O orador respondia ao Sr. Deputado pela Tnia Leo Velkso.

  • contempla-lo neste recinto affrontando as recriminaSes 0 os despeites sempre vivazes dos contrrios. . .

    O SR. CESARIO A L V I M E OUTROS SRS. DEPUTADOS: <

    Despeito por que? O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: ...e supportando at as

    injustias de seus prprios amigos. O SR. LEO VELLOSO : Despeito, no; direito nosso. VOZES: Oh! oh! O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: A essa alma to rija-

    mente temperada, a esse homem to illustre, devemos, pois, duplo reconhecimento, porque a um tempo temos que pagar avultada divida de gratido, j como brazileiros, j como homens militantes na poltica. (Apoiados.)

    Senhores, a vida do venerando Duque de Caxias um pharol seguro e radiante para quem busque bem servir sua ptria, conservando sempre a coherencia e lealdade com que estreiou na carreira publica. (Apoiados.)

    N a verdade, desde que apparece na historia dos acon-tecimentos ptrios o nome do major Luiz Alves de Lima, que depois com o tempo se transformou no glorioso titulo de Duque de Caxias, sempre esse nome o assignalamento de uma aco brilhante, de um servio valiosissimo, de um rasgo de nobreza, de moderao e acrysolado patrio-tismo. (Apoiados e apartes.) E ' uma vida longa, cheia de peripcias, mas uma vida sem manchas nem desfallecimen-tos. (Apoiados e apartes.)

    O SR. LEO VELLOSO: Ningum negou isto. (Apoiados u opposio.)

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Eis a razo de orgulho, e justificado orgulho, do partido conservador, que v no nobre Duque o seu chefe natural, desse partido em cujas fi-leiras tenho a honra de militar como soldado raso, mas dedicado.

    Cumprido, Sr. Presidente, este dever, que manifesta no j o accordo, mas o enthusiasmo com que ns, mem-

  • bros da commisso de Marinha e Guerra, procuramos e procuraremos auxiliar o nobre Ministro...

    O SR. DANTAS: Palia pelos seus collegas? O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: ...vou tentar responder

    perfunctoriamente ao illustrado e valente opposicionista que me precedeu com a palavra.

    Asseverou S. Ex. que trs havio principalmente sido os fins da organisao do Ministrio 25 de Junho: 1." re-conciliar o partido conservador; 2. fazer as eleies, e 3." amparar a regncia e ajuda-la, esperando pela volta de Sua Magestade o Imperador.

    Sr. Presidente, o nobre Deputado assignalou perfeita-mente dous dos importantssimos servios que ao paiz e ao partido prestou o gabinete 25 de Junho. Eeconeiliou o partido conservador, sem duvida, e eis a explicao mais completa, mais satisfactoria, da indeclinvel necessidade da asceno do inclyto Sr. Duque de Caxias direco suprema do Ministrio. Nenhum outro cidado como elle preenchia todas as precisas condies; nenhum outro reunia em si tantos elementos para que todos ns, maioria do 7 de Maro e antiga dissidncia, o vssemos, cheios de confiana e for-as novas, frente do gabinete que resultava de nossa reconciliao. (Apoiados.)

    Segunda misso desse gabinete: fazer as eleies. E a esse respeito affirmou o nobre Deputado que se ns con-servadores no estivssemos de posse das posies officiaes, -teramos com certeza perdido quasi todas as cadeiras que presentemente occupamos nesta casa. Acredito sincera-mente nisso, porque, Senhores, com o systema de violncias a que est acostumado o partido liberal quando galga o poder, rarissimos havio de ser aquelles de entre ns que poderio conseguir voltar a occupar estes lugares. (Muitos .apoiados da maioria e reclamaes da opposio.) Eis a razo por que o chefe do Poder Executivo com elevadssimo critrio entendeu que, sobretudo na applicao da nova lei

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    eleitoral, era o partido conservador o mais prprio para dirigir o paiz n 'uma poca agitada, como , e muito mais poderia ter sido, o perodo eleitoral. (Apoiados e diversos apartes.)

    O SR. LEO VELLOSO: O Sr. Gomes de Castro que responda ao nobre Deputado.

    (Ia odros apartes.) O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : Tfouve evidente boa f

    na execuo da lei; os factos que contra ella depem com mais fora so isolados, e a presena aqui de uma jooderosa minoria, composta dos homens mais, eminentes cio partido liberal a resposta eloqente a todas as accusaes. (Apoia-dos da maioria.)

    O SR. DUARTE DE AZEVEDO: E o Sr. Saraiva disso que, salvo o defeito das qualificaes, o Governo desempe-nhou-se do empenho de honra.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Se o nobre Deputado quizer procurar o vicio radical das eleies, ha de decerto encontra-lo exarado com leal, patritica e severa franqueza no discurso pronunciado ultimamente na Cmara vitalcia pelo Sr. Conselheiro Saraiva. J foi tambm dito em de-bate anterior, e com toda a razo, que, se os liberaes no obtivero tr iumpho mais assignalado, que em tempo no tomaro as providencias devidas e apontadas na lei, e aban-donaro as qualificaes. (Apoiados.)

    O SR. CARLOS PEIXOTO: JTouve lugares em que no querio votar, querio somente supjDrimir as qualificaes!

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Ainda mais: em mui-tas provncias, e nomeadamente naquella a que pertence o illustre ojDjosicionista, distincto filho da Bahia, no foi raro o facto de irem conservadores levar s urnas nomes de li-beraes, que lhes parecio com justia dignos de bem zelar os interesses, no de uma determinada parcialidade polti-ca, mas do Brazil em geral.

    O SR. LEO VELLOSO: E vice-versa.

  • O SR. DUARTE DE AZEVEDO: Prova de tolerncia. O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Sr. Presidente, com

    toda a confiana affirmo, que se os liberaes procederem na applicao da vigente lei eleitoral com tanta lealdade como procedero os conservadores, uma numerosa phalange desta feio poltica ha de vir aqui representar a verdadeira opi-nio e as legitimas aspiraes do paiz. (Muitos apoiados da maioria. Cruzo-se apartes.)

    O SR. LEANDRO BEZERRA: O Sr Silva Nunes foi sempre festejado pelos liberaes da Bahia. (Ha outros apartes.)

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: A terceira condio, Srs., que presidio organisao do Ministrio e que acta para sua conservao no poder foi e , segundo o illustre membro da opposio liberal, esperar pela volta de S. M. o Imperador; e a esse respeito fez S. Ex.a varias e longas considei-aes, com visos de censura, acerca dos passeios transatlanticos^emprehendidos pelo chefe do poder execu-tivo, apresentando, para melhor corrobora-las, um exemplo que me parece perfeitamente contraproducente ao fim que tinha em vista. Elogiou, om efeito, o procedimento do rei Leopoldo, que, sahindo da Blgica, viajou por diversas ter-ras, para que o povo fosse se acostumando ao regimen es-tabelecido, de modo que a exclamao habitual e um tanto acrimoniosa E o rei passeia! que nestes ltimos tempos o partido liberal costuma trazer a propsito de tudo, no conceito do nobre orador, no tem razo de ser.

    O Gabinete 25 de Junho no tem misso limitada (apoia-dos), nem espera pela volta de S. M. o Imperador: vive da confiana da Cmara dos Srs. Deputados (muitos apoiados da maioria) e est nica e absolutamente sujeito opinio que se manifeste com franqueza no Parlamento.

    O SR. MARCOLINO M O U R A : Que se manifeste..., se fosse possvel manifestar-se.

    O SR. DUARTE DE AZEVEDO : Isso suppr o ab-surdo.. .

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    O SR. ESCRAGNOLLE T A U N A Y : O eontrario fora c o aniquilamento de nossas instituies.

    O SR. CESARIO A L VIM: Isso negar uma cousa < o prprio Sr. Duque de Caxias confessa.

    O SR. ESCRAGNOLLE T A U N A Y : Assim, pois, Sr. I sidente, foi o nobre Deputado o prprio que forneceu va sas razes para que o Gabinete se constitusse do m por que se constituio, mantenha-se firme e continue a d gir os negcios pblicos.

    O SR. MELLO EEGO : Emquanto tiver o apoio Parlamento.

    O SR. CESARIO A L V I M : J dous Ministros quei sahir. (Apartes.)

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : Tocando nos mais riados assumptos, no podia o digno representante da I vincia da Bahia esquecer as questes que com tama: facilidade so aqui trazidas baila, e enxertadas, com t sem ceremonia, em qualquer discusso: a questo religi e a questo eleitoral.

    O nobre orador declarou-se, como alis se declaro te os liberaes da Cmara, sectrio enthusiasta da eleio dire

    O SR. DUARTE DE AZEVEDO : E' a panaca. O SR . LEO VELLOSO: O Sr. Paulino de Souza

    lhe responda. (Apartes.) O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: No paiz, com effe

    tm se j manifestado opinies, umas favorveis elei directa e outras indirecta, mais ainda no conhecide que lado fica a maioria. (Oh! Oh! da opposio.) Po r quanto ns, que representamos a opinio dominante paiz, nos pronunciamos em favor da eleio indirecta. (( da opposio.) Portanto, deve-se ter por certo que essa a opinio mais numerosa no Brazil. (Apoiados. No ap< dos e apartes.)

    U M SR. DEPUTADO : A ultima prova foi favorave eleio indirecta.

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    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Apoiado, Pelo menos foi este o resultado conhecido das manifestaes que se produziro, quando se discutio as vantagens da eleio indirecta sobre a directa. (Apoiados e apartes.)

    Em todo o caso, no houve ainda votao neste recinto que pudesse fazer crer que o pronunciamento do paiz era em favor da eleio de um s gro.

    O SR. AFFONSO CELSO: O que significa ento a vo-tao que obteve o projecto do Sr. Ferreira Vianna?

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : Foi para que entrasse em discusso (apoiados), dando-se-lhe as honras, que bem merece, do estudo e reflexo da Cmara; mas nunca no sentido de approva-lo de afogadilho.

    Nesta questo, Sr. Presidente, ponderarei ao partido liberal que, devendo ser programma seu a ampliao dos direitos cio cidado, tornando-os extensivos ao maior nu-mero possvel de indivduos, com essa constante propaganda de eleio directa, elle trabalha comtudo para uma reforma de caracter eminentemente aristocrtico (apoiados e no apoiados), caso no queira se atirar nos perigos do suffragio universal, isto , proporcionar ao despotismo de quem quer que seja, governo ou povo, uma arma muito fcil de ser manejada (apartes), como provou o ultimo domnio napo-leonico. (Apoiados.)

    Sou, Sr. Presidente, partidrio conhecido da eleio de dous gros; mas, se eu vir e me convencer que a nao toda quer indeclinavelmente, e considera indispensvel con-dio de felicidade e de maior verdade na representao a eleio de um s gro, acclamada ainda mais essa neces-sidade por aquelles mesmos que sero esbulhados do direito, de que hoje gozo, de votar, no terei duvida em aceitar esse to preconisado systema eleitoral, na certeza de que seus resultados no ho de ser tantos e de tal natureza, que a reforma no seja quasi immediatamente reformada.

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    O SR. L I M A D U A R T E : Pde estar tranquillo que no hade ser.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : Assim procedendo e conservando as minhas convices intimas, busco demon-strar que, se o Parlamento deve, no maior numero dos casos, guiar a opinio publica, em muitas occasies obrigado a receber delia imposies, s vezes caprichosas, mas irresis-tveis, para no representarmos de marcos inabalveis, quando tudo caminhou, embora atropelladamente, em redor de ns.

    Clamo, Sr. Presidente, os liberaes quando tem o me-nor ensejo, contra o poder pessoal, trazendo essa these afeioada como ponto obrigado em todos os debates; clamo, e muitas vezes por modo inconveniente, para o prestigio da nossa forma cie governo, e entretanto so elles os pr-prios que com facilidade appello para esse poder caso julguem que lhes seja de vantagem a to fallada e no provada interveno. (Apartes e apoiados.)

    Ainda ha poucas semanas, o illustre e sympathico Senador pela Provncia do Eio de Janeiro, uma das pri-meiras illustraes e legitimas influencias do partido liberal, o Sr. Conselheiro Octaviano, lamentava, por oceasio da discusso das eleies do Eio Grande do Norte, que Sua Magestade o Imperador no tivesse estado na direco dos negcios pblicos para impedir a apresentao da candida-tura do Sr. Conselheiro Diogo Velho por aquella Provncia.

    Haver, Senhores, mais brilhante prova da necessidade que em determinadas circumstancias o partido liberal acha na interferncia do poder pessoal ?

    O SR. IGNACIO MARTINS : E V Ex. o que diz a isso ? (Ha outros apartes.) O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: N o externo a minha

    opinio, no quero externa-la e nada me obriga a isso nesta oceasio. Estou apenas referindo as palavras de um emiuente chefe politico e membro do Parlamento, que

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    quando falia, o faz em nome dos sentimentos e princpios, do seu partido.

    (Apartes.) Ei porm, tempo, Sr. Presidente, de notar que a dis-

    cusso de fixao de foras de mar e terra, debate de sua natureza muito especial, costuma servir quasi sempre de base seno de pretexto, para largas explanaes de todos* os assumptos, menos daquelles que so particularmente indicados na ordem dos trabalhos desta casa.

    Assim, para no incorrer em igual censura, que no-meu caso cresceria de gravidade, e apezar de mudar para thema qne agracia muito menos atteno da Cmara,, no lhe merecendo idntico interesse, vou, embora ligeira-mente, tocar em questes cie feio puramente militar.

    Sr. Presidente, a commisso de Marinha e Guerra, de accrdo com o Governo, julga conveniente propor alguns additivos ao projecto de lei que se discute agora.

    Esses additivos so todos de caracter econmico. Assim,, segundo nossa opinio, dever o Governo ficar autorisado para desde j : (L)

    Eeduzir o deposito de instruco da Provncia de Santa Catharina a um corpo de duas companhias, com-mandudo por um Major, e a supprimir o deposito de re-crutas da Provncia de Pernambuco e o de caadores a cavallo da da Bahia.

    A ida da creao e conservao de um deposito de instruco na capital da Provncia de Santa Catharina incontestavelmente til...

    O SR. BITANCOURT COTRIM : Apoiado. O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: ...visto como, em loca-

    lidade apropriada pelas suas condies climatericas e geo-graphicas, tem por fim formar soldados para os diversos corpos do exercito.

    Mas, Sr. Presidente, sem dar de mo a esse pensamen-to previdente, por isto que a lei de fixao de foras

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    annua, e pde em oceasio conveniente ser modificada, que-rendo o nobre Ministro da Guerra e Presidente do Conse-lho que de seu Ministrio partissem os bons exemplos, jul-gou acertado e assim tambm entendeu a Commisso, que esse deposito ficasse reduzido a um Corpo de duas compa-nhias.

    Apezar dos bons desejos do Governo e do zelo e con-tinuadas requisies do distinetissimo commandante que possuio e que lhe incutio excellentes princpios de disci-plina e ordem, o Tenente-Coronel Enas Galvo, como por mim mesmo verifiquei, nunca pde o deposito ter o pessoal marcado por lei. Assim, pois, o que sempre alli houve foro simples cascos de companhias, que debalde esperavo pelo completo de suas fileiras.

    Reduzindo-o a duas companhias, poder at ser aug-mentado o numero de praas de pret, tendo melhor destino os officiaes dos outros batalhes, que at hoje ero l em-pregados.

    Por consideraes tambm econmicas e sem prejuzo algum para o servio publico, sero suppriniidos os dep-sitos de recrutas das capites das Provncias de Pernam-buco e Bahia.

    O Governo, Sr. Presidente, vem tambm ante a Cmara pedir autorisao para rever o regulamento do curso de infantaria e cavallaria da Provncia de S. Pedro do Eio Grande do Sul, harmonisando-o com o da Escola Militai desta Corte, medida que sem duvida alguma representa elevado beneficio feito mocidade rio-grandense.

    O SR. SEVERINO RIBEIRO: E' uma necessidade. O SR. FLORES: Ha dous annos que reclamei isso. O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: O curso de infantaria

    e cavallaria compe-se em ambas as escolas de dous annos mas no Rio-Grande do Sul os estudos no se acho em p de igualdade com os do estabelecimento de instruco da Praia Vermelha. Acontece, pois, que o alumno que naquella

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    Provncia se tiver distinguido em exames e der ba conta de si, no pde presentemente, e segundo os regulamentos vigentes, aspirar completar os cursos de categoria superior, quaes sejo os de artilheria, estado-maior e engenheiros, o que sem duvida injusto por impedir a completa expanso de intelligencias aviclas de saber. Assim, equiparando am-bos os cursos, ter o Governo, sempre no domnio conser- < vador, prestado importantssimo servio de ordem intellec-tual e moral Provncia do Rio-Grande do Sul....

    O SR. SEVERINO RIBEIRO : Apoiado. O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: ....e com toda a razo,

    porque alli existe algum espirito militar. Tal additivo ha de importai- em ligeiro augmento do

    despeza, mas entendo que todo o dinheiro gasto na educa-o e direco da mocidade, na qual est encerrado o fu-turo da nao, dinheiro posto a prmio e prmio muito alto. (Apoiados.)

    O SR. AEEONSO CELSO: Qual a economia do pri-meiro additivo?

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : A reduco nas com-panhias.

    O SR. AEEONSO CELSO: Em algarismos no a pde dar?

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY :' No posso. Supprimem-se tambm companhias em duas Provncias.

    Se por um lado avultar um pouco o oramento da guerra, por outro diminuir com a transferencia do obser-vatrio astronmico para o Ministrio do Imprio, porque no ha razo para que continue a pesar sobre ns esse estabelecimento, que depende intimamente da Escola Poly-technica. (Apoiados.)

    U M A Voz: E no poder ser supprimido? O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Respondo a V. Ex.a

    as exigncias da sciencia. A Cmara, no entender da commisso, deve ainda au-

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    torisar o Governo para dar novo regulamento s colnias e presdios militares. No p em que se acho, s ha dis-pendios sem a esperada compensao. (Apoiados.) O typo da despeza jus ta gastar em vista de um determinado resultado, que deve ser colhido. (Apoiados.) A autorisao, pois, dada ao nobre Duque, que tantos servios de ordem administrativa tem prestado como ministro da guerra nas diversas vezes que occupou essa pasta, ha de t razer pro-veitosa economia.

    Quanto s colnias, e neste ponto muito t inha que fal-lar,- direi que medida indeclinvel reformar radicalmente o pessoal que nellas empregado. Os graves vieios hoje arraigados s podem desapparecer quando desapparecerem todos os elementos que recordem pocas de indecente e flagrante abuso, acorooado por completa impunidade.

    Ainda mesmo naquellas em que os commandantes no meream to dura profligao, nada se faz, nada se adian-ta. Os ncleos coloniaes no apresento nenhum progresso e vivem como vivio annos atraz, desde os primeiros tem-pos de sua creao.

    A esse respeito, Sr. Presidente, e para confirmar minha asseverao, peo licena a V Ex.a para lr os seguintes trechos do relatrio do meu particular amigo, o distinctis-simo major Dr. Pereira do Lago, leal companheiro da cam-panha de Mato-Grosso e engenheiro de grande mrito, que explorou, nos annos cie 1872 a 1874-, a zona do Araguaya e Tocantins com o zelo, proficincia e inteireza com que desempenha as mais rduas commisses. (Apoiados.)

    Diz elle : Os commandantes e directores, quasi sempre oficiaes

    do exercito reformados, ou em effectivo servio, e ofciaes honorrios, aceito essas commisses com o fim, salvo ra-rissimas e honrosas excepes, de formarem algum peclio.

    (t Para isto o melhor e mais prompto meio que encon-t r o tornarem-se taverneiros e negociarem com as praas

  • 15

    ficando-lhes nas mos o soldo que a cilas deveria pertencer. Dahi provm a completa negao pela agricultura. Os

    commandantes no tm plantaes, como fora para desejar e convinha que tivessem (apoiados); no se importo com lavouras; no se prendem terra, arroteando-a; no pro-curo braos para abrirem caminhos, afim de entreter re-laes; no obrigam as praas a fazerem roados e hortas; emfim, de nada cuido.

    Tudo tambm corre com to grande deleixo e rela-xao, que muitas vezes vai-se a grandes distancias procu-rar at mesmo farinha de mandioca, para alimentar os pr-prios colonos, quer militares quer paisanos.

    A falta de trabalho torna o soldado vicioso, e seu soldo gasto em aguardente comprada na taverna do pr-prio commandante. Este estado de cousas, deplorvel e avil-tante, parece vir de longa data, e para que se tenha man-tido por tanto tempo tem concorrido, sem duvida, a falta de inspeco das colnias.

    Assim fica o Governo central sem conhecimento da pouca atteno, do nenhum zelo que sem constrangimento manifesto os commandantes e directores das colnias mi-litares.

    (( De lavoura do que menos cuido. Depois de palavras to enrgicas, que verbero o pro-

    cedimento inslito desses ou desleaes ou desidiosos .servi-dores do Estado, accrscenta o Dr. Florencio do Lago:

    Apezar dos defeitos, das faltas que aponto com a maior franqueza, me parece que devem ser conservadas taes colnias, ainda que no melhorem ou no posso desde j melhorar. Ha naquelles sertes uma cousa imprescind-vel : a presena do militar para manter os indios bravos e os mesmos mansos, em respeitosas relaes com os bran-cos. Convm, porm, muito e muito dar nova organisao quelles ncleos coloniaes.

    Passando, Sr. Presidente, ao 6. additivo que apresen-

  • 16

    tamos, basta enuncial-o para delle resaltar sua completa justificao. (L):

    So isentos do servio militar os professores pblicos. ), Fallou ainda o nobre Deputado que com t an ta vanta-

    gem me precedeu nesta tribuna, na convenincia de dimi-nuir o pessoal do exercito.

    A uste respeito, Srs., conferenciamos com o nobre Sr. Ministro da Guerra, e, em atteno a manifesta e bem en-tendida aspirao de economia da Cmara , chegmos a concordar em que poder-se-ia reduzir de mil praas de pre t o effectivo proposto para o exercito. No podemos, porm, acompanhar os nobres deputados da bancada libe-ral nos desejos constantes de ver ainda mais diminuda a fora publica.

    O nobre Deputado por Minas-Geraes, que tanto se distingue pelas suas luzes, pela sua palavra, pelo cuidado com que se entrega ao estudo acurado das cousas publicas (apoiados), queria que immediatamente supprimisse-mos 4,000 homens da proposta. Entre tanto , convm prudente-mente a t ten ta r para a vastido deste immenso Imprio, para as nossas fronteiras dilatadissimas (apoiados), cerca-das, quando menos, de inclios bravios, que, como acaba de ponderar a memria do Dr. Pereira do Lago, constituem um verdadeiro e incessante perigo para os desgraados mo-radores daquellas zonas invias e desprotegidas.

    V Ex.a, Sr. Presidente, pde estar certo que, se na Provncia de Mato-Grosso, na fronteira do Apa, no exis-tisse permanentemente um corpo de cavallaria, ha muito talvez alli houvesse toda a populao branca desapparecido s mos dos indomitos e prfidos Cadiuos. Tiraramos de certo sanguinolentas e completas represlias, como fazem os Americanos do Norte com os Sis e Pelles-Vermelhas mas , sem contestao, prefervel actuar por meio da fora moral e ir cuidando de amansar aquelles entes, que tam-bm s;To brazileiros. Alm disto, sabem todos que cada

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    Provncia do Imprio deseja t e r em seu seio pelo menos-um batalho de tropa d linha. E ' isto considerado como um elemento de ordem, como uma garant ia de segurana, e mesmo como fonte de consumo, como meio de alimentar e proteger o commercio e a industria local.

    O SR. AEEONSO CELSO : No para isso que quere-mos exercito.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Bem sei, mas um

    facto que se d. O exercito brazileiro, Srs., diminutissimo, insuffi-

    ciente para o servio. O SR. AEEONSO CELSO : Comparado com o americano

    e guardada a devida proporo, no . O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Os Americanos do

    Norte tm 22,000 homens em tempo de paz ; territrio me-nor, e alli a iniciativa municipal toma grande par te na manuteno de corpos de natureza especial, mas que pres-to continuo apoio autoridade.

    O SR. AEEONSO CELSO: Tambm ns temos guardas,, policia, etc.

    O SR. ESCRAGNOLLE T A U N A Y : O exercito brazileiro, aos olhos do homem profissional, no constitue mais do que um ncleo, onde se conservam as boas normas da dis-ciplina e da ordem, e que deve servir de centro para orga-nisaes mais completas e regulares, quando o patriotismo da nao, como aconteceu por oceasio da campanha do-Paraguay, lhe t raga elementos novos de fora.

    Se no attendermos para isto, teremos com as reduc-es pedidas, de pr margem numerosa officialidade, ma-tando-lhes o estimulo, incutindo em todos os militares desanimo que redundar em verdadeiro perigo para o futuro do Brazil.

    U M A VOZ: Por esta regra onde iramos pa ra r? (Ha outros apartes.) O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Actualmente se acha

  • 1 8

    o exercito completo, o que serve tambm de valioso elogio reforma da lei do recrutamento e administrao do nobre Sr. Duque de Caxias. Deu-se extraordinria affluen-cia de voluntrios, de maneira que no tem havido neces-sidade de recorrer ao recrutamento forado.

    Tendo, Sr. Presidente, justificado as medidas que a Commisso prope, e desalinhadamcnte respondido ao illus-t rado orador que me precedeu.. .

    VOZES : Desalinhadamente, no apoiado. O SR. ESCRAGNOLLE T A U N A Y : .. .pretendo agora tocar

    em questes de caracter social, questes que podem e ho de poderosamente influir nos destinos do paiz, que aqui estamos representando.

    Se desta tribuna, Senhores, cada um de ns tem obri-gao de vir com franqueza expor as razes de apoio ou de formal opposio a um determinado gabinete, cumprindo assim um dever de lealdade para com o throno e para -com o povo, tambm nos corre o dever de externar pen-samentos e idas, que, auxiliando o Governo em sua penosa tarefa, concorro para que tenho soluo grandes dificul-dades na marcha dos negcios pblicos.

    N a quadra melindrosa que actualmente atravessa o Brazil, mais do que nunca, acho eu, de urgncia fallar, fallar em termos e obrar; fallar j)ara avisar, e, se possvel fr, aconselhar; fallar para, pelo menos, salvar os impulsos da conscincia in t ima; obrar por meio de leis vastas, de -determinaes 'amplas e expedientes completamente novos. (Apoiados.) A quadra que atravessa o paiz melindrosa, como sempre delicada toda situao em que se confessa um dficit, o qual representa, para assim dizer, um desmo-ronamento em terreno pouco firme a ar ras tar outros, abrindo-se cada vez mais largo o fosso em que tem de se afundar as melhores intenes e at enrgica iniciativa se de prompt no se procurar dar remdio a to momentoso mal .

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    O SR. AEEONSO CELSO : Por isso queremos reduces. O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: E', Sr. Presidente, me-

    lindrosa a presente situao, porque, alm da questo finan-ceira sempre grave, outros e momentosos problemas esto pendentes, pedindo, quando no exigindo, soluo, para que o paiz se sinta desembaraado das pas que tm entor-pecido seu movimento gradativo, e possa caminhar desas-sombrado na estrada do progresso que elle tem trilhado, fora confessar, com passo demais demorado e vagaroso.

    O SR. APFONSO CELSO: De quem a culpa? O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: No , meu nobre

    collega,, deste ou daquelle Ministrio. E ' que at agora ainda no se voltou a atteno publica e da Cmara para assumptos da maior importncia em suas conseqncias, e que se transformaro em leis aceitas hoje e proclamadas pelas naes mais civilisadas do mundo.

    O SR. AEEONSO CELSO : Quem o culpado ? O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Todos ns; V Ex.

    tambm, mais cio que muitos, pois j esteve no poder e para elles no attencleu, preoccupado na verdade e debaixo da obsesso de uma diffculdade immensa qual foi a guerra.

    O SR. AFFONSO CELSO : E os que no tivero guerra, de que se occupr?

    O SR, ESCRAGNOLLE TAUNAY : Respondo elles a V.Ex. O SR. CESARIO A L V I M : i E ' que temos tido alguns

    Ministros que no devio estar no poder. O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Sr. Presidente, cos-

    tume repetirmos todos ns e com verdadeiro movimento de orgulho que o Brazil uma nao nova, formada ha poucos lustros, uma nao criana; mas uma nao que tem gozado durante larguissimos annos dos benefcios de profunda paz in te rna ; paiz que pde aproveitar a expe-rincia dos outros povos (apoiados); paiz que deveria, graas ao sculo em que se constituio, assumir posio e minente entre as naes (apoiados); tendo sobretudo em

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    seu seio elementos incalculveis de grandeza e prosperidade^ O Brazil, Senhores, como nao, pde ser comparado com um navegante que encontrou os mais terrveis parceis as-signalados, e achou collocados os mais importantes pharea para sua rota certa e desimpedida.

    O SR. CESARIO A L V I M . Mas no tem tido bons pi-lotos.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: N a questo de colo-nisao temos o exemplo dos Estados-Unidos, que to bem soube encaminhar o problema sua soluo, ao passo que ns nelle temos marchado sempre mal e inconsidera-damente.

    O SR. AFFONSO CELSO: Como V Ex. observou em Santa Catharina, escrevendo magnficos trechos em seu relatrio.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : Acredito piamente que na nossa indole, nas nossas instituies e nos nossos cos-* tumes, acharamos correctivo para os males que se originaro na grande Confederao Americana, quando se formou dos matizes de todos os povos do mundo.

    Na ' questo da colonisao todos os nossos homens de estado tm errado.

    O SR. AFFONSO CELSO d um aparte, O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : A colonisao tem sido

    dirigida por todos os ministei-ios, passados e presentes, cio modo o mais absurdo; tem s servido para descrdito do paiz e para desbarato de milhares e milhares de contos de ris. (Apoiados.) Mas V Ex. quer saber onde se acha o mal? E ' principalmente no espirito da populao.

    O SR. CESARIO A L V I M : No apoiado. Demos mais garantias ao estrangeiro, que elle vir para c.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Os Estados-Unidos e Platinos so sem duvida centros de grande attraco, mas ns nos temos tornado completamente antipathicos, de ma-neira a provocar, e no por culpa deste ou daquelle ga-

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    bnete, essas medidas restrictivas e vexatrias, que os gover-nos europeus tm imposto emigrao com destino s nossas plagas.

    V Ex., porm, quer saber onde est o mal, Sr. Conse-lheiro Celso? Attenda para o que se passa nos ncleos colo-niaes, que, custa de muito esforo e sobretudo a poder de muito dinheiro, se tm formado na Provincia de S. Pedro do Rio-Grande do Sul. Apenas se emancipo, e quando deverio entrar no grmio da communho geral, torno-se centros de caracter exclusivamente europeu, verdadeira encravao de territrio estrangeiro em terras brazileiras (apoiados), e a causa est na indifferena e quasi repulso que sentem os mais antigos colonos estabelecidos no Brazil em se na-turalisarem cidados brazileiros.

    O SR. CESARIO ALVIM : Sim. porque tem apenas nus sem regalia.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY; [O Governo ha feito alguma cousa no sentido de facilitar as naturalisaes, mas ainda no cahio a ingente barreira que tem impedido a identificao do Brazil com os filhos de outros paizes, que aqui vm buscar uma nova ptria. (Apoiados; muito bem.)

    Essa barreira s hade alluir-se aos golpes de uma grande cruzada, que se levante no seio desta generosa nao (apoiados; muito bem), hasteando, como sagradas ban-deiras, as idas da grande naturalisao (apoiados), casa-mento civil (apoiados), liberdade de cultos e todas essas medidas largas, e adiantadas, aceitas pelos povos mais civi-lisados do mundo, e que se o tempo no impuzer pelo menos a este paiz, que seu destino tem de certo muito curta mitao. (Apoiados; muito bem; muito bem.)

    A ida da grande naturalisao- hoje considerada pelos maiores pensadores do mundo, no j como medida poltica de elevadas conseqncias moraes e materiaes, mas, como dever de reciprocidade entre as naes. (Apoiados; imuito bem.)

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    O eminente Rouher a define a frma mais perfeita da hospitalidade moderna, e quando a Inglaterra, to ciosa das prerogativas cie seus filhos, a abraa em toda a sua inte-gridade, acha-se o Brazil inhibido at de pensar nessa gene-O ' "-

    rosa e fecunda medida. (Apoiados e apartes.) Hoje, Sr. Presidente, que na Europa o systema de

    paz armada tomou tamanha amplido que esto ameaados o respeito e a tranquillidade que requerem as seiencias, as . artes e industrias, nenhum homem illustre-, nenhum Agassiz, nenhum Erickson, nenhum Malte-Brun, poder pensar em adoptar o Brazil por ptria (apoiados); porque, se de certo encontra aqui todos os requisitos de socego, se se v ro-deado das magnificencias da natureza (apoiados), em com-pensao achar-se-ha no seio da nossa sociedade civil e poltica, n 'um p de dolorosa inferioridade (apoiados), assig-nalada no nosso cdigo fundamental. (Repetidos apoiados; muito bem.)

    O SR. LEANDRO BEZERRA : Comeou to bem e agora vai to mal ! (Hilaridade.)

    O SR. DANTAS : H a dez minutos que o estamos apoiando com ardor. (Apoiados da opposio.)

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Com as providencias tomadas pelos Estados-Unidos e Platinos, elles no conse-guiro e conseguem s braos e actividade corporal, no; chamaro a si illustraes, intelligencias formadas, homens eminentes, que levaro e levo como contingente quelles paizes um cabedal enorme de experincia e de conhecimentos. (Apoiados.)

    Ent re ns o que se v ? L o estrangeiro sente-se a com-modo, realiza o ubi bene ibi ptria, principio que qualquer constrangimento de ordem moral ou material modifica de modo sensvel, e esse constrangimento existe no Brasil, vivaz-e constante.

    Vou, Sr. Presidente, apresentar a esta casa um exem-pio da mais elevada significao.

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    V. Ex.a conhece e toda a Cmara deve conhecer, pelo-monos de nome, 'o illustre Sr. Augusto Leverger, hoje Baro de Melgao. Este cidado, filho da Frana, e residente ha mais de 45 annos no Brazil, foi pelo Governo Imperial e pela natureza dos misteres de sua profisso, mandado Provncia de Mato-Grosso, onde se estabeleceu, ganhando honrosa nomeada no s pela dedicao ao paiz que pro-curara, como pelos seus multiplicados trabalhos scientificos. Chegou a graduado posto na marinha nacional, e tem por varias vezes presidido com' applauso de toda a populao aquella nobre e longnqua Provncia,

    Houve, porm, uma oceasio, Sr. Presidente, em que os servios desse eminente cidado, tomaro taes propor-es, que no ha voz bastante eloqente para devidamente narra-los.

    V. Ex.a sabe quo temerosa foi a invaso paraguaya em Mato-Grosso. Os inimigos atacaro a Provncia por gua e por terra; apoderro-se muito folgadamente, com excepo apenas de Coimbra, onde houve honrosa resis-tncia, de todas as posies assentes margem direita e esquerda do rio Paraguay e de todo o districto de Miranda, e marcharo sobre a capital. A populao aterrada, sem direco, completamente hallucinada, tratava de em massa abandonar a cidade, quando o Sr. Leverger, alquebrado pelos annos, alquebrado pelas enfermidades, apresentou-se nico para iniciar e dirigir a resistncia. Houve ento uma in-verso completa no espirito publico; todos "cobraro cora-gem, todos se reanimro, e o velho Leverger, no meio de patriticas ovaes e de immenso enthusiasmo, partio a oc-cupar o ponto de Melgao e fazer frente ao inimigo.

    Posso, Sr. Presidente, afoutamente afiirmar que a ini-ciativa desse homem naquella conjunetura fez vezes de um poderoso exercito, que se levantasse pera pr peito ne-fanda invaso e barreira conquista paraguaya.

    Pois bem, esse homem, que salvou a dignidade do

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    Imprio, que resguardou a honra daquella Provncia, que impediu o estrago de milhares e milhares de propriedades publicas e particulares; esse homem, que gastou quasi 50 annos de sua vida a estudar e explorar o immenso terri-trio em que exercitava a sua actividade; esse homem, Sr. Presidente, popularissimo ehi todo o Mato-Grosso at nas cabildas dos indios, no ainda julgado digno pela lei bra-zileira de ter aqui entre ns uma cadeira, elle que, mais do que ningum, poderia esclarecer nossos debates, advogar com pleno conhecimento de causa os interesses da Provn-cia que tanto extremece, elle que poderia illuminar-nos com sua immensa experincia dos homens e das cousas. (Sensa-o.) E'- ou no injustia flagrante da nossa lei?!

    No acredito, Srs., que haja imprudncia nem inoppor-tunidade em fallar to sem rebuo a verdade; elevemos diz-la ao paiz, cada um com as foras de que dispe; se hou-ver repercusso favorvel na opinio publica, que chegou o momento de tomar medidas no sentido determinado, con-veniente.

    Quando, Sr. Presidente, passei pelo Rio da P ra t a vi com admirao a identificao perfeita do estrangeiro com os interesses aquelles paizes ; elle t ra ta logo de aprender o hespanhol, discute a vantagem dos governos de Sarmi-ento, de Mitre, Avellaneda, esquece-se de Thiers, Mac-Mahon, Bismark, Gortschakoff e outras entidades culminantes da vida europa.

    Que vemos, porm, entre ns ? Os indivduos das diver-sas nacionalidades formando o que chamam colnias, e ao passo que influem poderosamente nos nossos negcios inter-nos pelo dinheiro que conseguem com seu trabalho e pelas idas que trouxero da Europa, terem os olhos voltados sempre para a querida metrpole. (Apartes.)

    O SR. DANTAS: Est fatiando perfeitamente bem. O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Um exemplo frisante,

    e direi at doloroso, o da colnia portugueza, raa de

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    que emana a massa da nao, e da qual tanto nos appro-ximamos pela conformidade de vistas, pela religio e pelos costumes. Entre tanto , para ella tambm, e talvez ainda de modo mais accentuado, ha essa linha de separao.com a populao nacional.

    E u quizra, Sr. Presidente, que todos ns meditasse-mos, ou melhor, considerando que sou individualidade dema-siado insignificante (no apoiados),, eu quizra que os homens de estado que temos comeassem a meditar em todas essas ponderosas questes; apreciassem todas essas anomalias > iniciando uma serie de medidas que dessem a este enorme Imprio, to necessitado de gente e de trabalho, no s braos mas tambm cabeas, ida que j comea, felizmente, apezar do meticuloso e inconsiderado brazileirismo, a me-recer alguma atteno e decididas sympathias. (Apartes.)

    U M SR. DEPUTADO: Proponha a reforma da consti-tuio.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : No vamos de chofre, meu nobre collega; preciso comear; preciso aventar a questo, atira-la tela do debate, provocar o concurso dos grandes oradores, que, incitados pela agitao do espirito publico, devero levar por diante essas indeclinveis medi-das, sumindo-se ento a fraca voz que ousou tomar a ini-ciativa. (Apartes.)

    O SR. LEANDRO BEZERRA: No ida nova. (Ha outros apartes.)

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Esta questo de bra-os deve, de hoje em diante, ser para ns um contnuo pesa-delo. Sob dous pontos de vista podemos consideral-a uti-lisao e introduco.

    V. Ex . sabe que o interior do Brazil muito povoado, mas a populao est afeita aos hbitos da mais completa e enervante indolncia e s ha um meio de arranca-la desse pernicioso estado, pela educao e instruco. (Apoiados.)

    O typo primordial do brazileiro o indio a anti-

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    these perfeita da actividade. S urgido pela fome que sabe da rede em que se embala para colher alguns alimentos que a natureza lhe proporciona com mo demasiado prdiga.

    Quem viaja pelo interior das Provncias v faetos quasi idnticos sob um ligeiro verniz de civilisao. Durante as horas mais quentes do dia esto os homens deitados sombra das arvores, ou em suas casas mettidos nas redes, durando to prejudicial ssta, que prolongo a gosto, o dia quasi inteiro sem fazerem nada e, quando muito, a tocarem viola. Ha, dissemos j, um nico meio de arrancar essa populao, numerosa, Srs., muito mais do que geralmente se suppe, dessa molleza congenial a instruco, a edu-cao.

    O Governo, Sr. Presidente, desde o Ministrio de que V Ex. to dignamente fez parte, tem tomado providencias no sentido de diffundir esse elemento modificador da popu-lao.

    Mas, se muita eousa se tem feito, muito ha ainda por fazer.

    A questo cie braos, repito, deve ser para todos ns um pesadelo. Com elle vive nossa lavoura ha muito tempo. Seu estado actual incommodativo, afliictivo at, embora prefervel apathia e fatalismo em que vivamos, at que a lei de 28 de Setembro raiou como aurora de novos dias, lei que constitue o padro de gloria do Gabi-nete 7 de Maro, entre tantos servios que prestou nao e que hoje pertencem apreciao da historia, sem que haja possibilidade cie risca-los de nossa legislao; (Apoiados.)

    Essa lei, quer queiro quer no, gravou com caracteres indelveis no livro da posteridade o nome do benemrito Sr. Visconde do Rio-Branco; pois, a no serem os esforos daquella poderosa intelligencia, aquelles effluvios da verda-deira eloqncia ^parlamentar, teria cabido no seio desta Cmara e no vigoraria ainda no Brazil. (Apoiados.)

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    Sr. Presidente, se s com a utilisao dos braos nacio-naes fosse possvel solver as dificuldades, que j se nos apresento graves, gravssimas, no haveria necessidade de modificar disposies terminantes e positivas de nosso c-digo fundamental; mas como, sem colonisao expontnea, sem essa corrente de [immigrantes que se escoaro nos Estados-Unidos, no poderemos talvez caminhar com algum desembarao, mais ou menos tarde hade o Parla-mento ser obrigado a retocar artigos da Constituio que, contendo disposies tacanhas e anachronicas (apoiados), s e justamente aceitveis no tempo em que ella foi formulada, preciso de reforma, por isso que apenas do a pequena naturalisao, e nos trazem em troca milhares de contra-riedades e antipathias. (Apoiados.)

    O SR. FRNCO DE S : Nestas questes penso que V Ex. no conservador.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Nestas e outras ques-tes quero, antes de tudo, ser brazileiro. (Apoiados.) No so idas deste ou daquelle partido; pertencem a todos que aspiro vr o Brazil caminhar com passo firme em sua marcha ascensional. Julgo que todos devemos procurar na pyra do patriotismo o fogo sagrado, para defender com valor, e fazer prevalecer quantas idas sirvo para aquelle fim, buscando na experincia de outros paizes a razo de nosso procedimento.

    O SR. FRANCO DE S : Est fallando muito bem, porm defendendo idas liberaes.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : Protesto contra a- as-sero que amesquinha essas aspiraes. Alem disto no as vejo em programma nenhum do partido a que pertence o nobre Deputado.

    Porventura, continuando eu, o casamento civil modi-ficou a qualidade de eatholicissima que tem a ustria e de christianissima que cabe Frana? E no existe na lei daquelles paizes, com applauso de todos e para faci-

  • 28

    lidade de relaes entre todas as religies, o preceito do casamento civil?

    O nobre Deputado que me precedeu na tribuna, quiz obrigai- o distincto Sr. Ministro do Imprio a declarar como considerava uns casamentos intitulados civis e de que falia hoje o Jornal do Commercio, casamentos arranjados de mo-mento e vista dos embaraos levantados pelo clero.

    O SR. ANDRADE FIGUEIRA: U m a mascarada. O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Para mim, partidista

    declarado do casamento civil, considero comtudo as ligaes a que alludo como verdadeiros concubinatos, e pensarei assim, emquanto no houver lei do paiz que as autorise.

    Sr. Presidente, para prepararmos o Brazil a receber a grande, a legitima colonisao, deveramos tambm t ra ta r da applicao do imposto territorial, medida de que se oc-eupa o relatrio do nobre Ministro da Fazenda. . .

    U M A voz: Mais impostos ainda ? O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: ...imposto que v ferir

    a grande propriedade em superfcie, e proteja a pequena lavoura.

    O SR. FRANCO DE S : A propriedade agrcola j est muito onerada.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : Mas a grande proprie-dade constitue um verdadeiro bice pequena agricultura e diviso de territrio.

    No valle do Amazonas, Sr. Presidente, ha posses par-ticulares extensissimas, que o torno o menos povoado do mundo, apezar de ser um dos mais bem dotados pela na-tureza, e capaz de constituir uma zona feliz, riqussima e populosa. (Apoiados e apartes.)

    Esses abusos de propriedade s podero ser cerceados pelo tributo, e vou apresentar um exemplo do que acon-teceu commigo quando, ultimamente dirigi a Provncia de Santa Catharina. Retive no meu gabinete alguns autos de revalidaes de posses, vista de representaes de muitas

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    e muitas centenas de famlias que se tinho alli estabele-cido como intrusas, e que serio lanadas para o meio das estradas, se houvesse reconhecimento do direito dos pos-, seiros. No nosso Brazil ha muita terra, mas infelizmente ha muitas questes de terras. (Apoiados.)

    Tenho, Sr. Presidente, occupado importunamente a at-teno da casa... (no apoiados)

    O SR. DANTAS : Tem fallado brilhantemente na ultima parte.

    O SR, ESCRAGNOLLE TAUNAY : ... mas, se assim fiz, foi por estar convencido da magnitude, e grandeza das me-didas que perfunctoriamente hei apontado. Se eu dispuzesse de dotes oratrios, como muitos distinctos parlamentares d'esta casa, se eu tivesse a magia da palavra, confiadamente tomava essas reformas para alvo nico de minha carreira poltica, certo de que, como o illustre Cobden em outra especialidade, no fim de alguns annos de esforos, conse-guiria os applausos e as sympathias da nao brazileira.

    Acudirei agora, Srs., ao appello que nos fez o nobre Ministro da Fazenda, no sentido de propor providencias que posso, se no fazer desapparecer, pelo menos minorar os terrores oriundos do dficit.

    Entre essas providencias apontarei a convenincia de reduzir de 3 a 5 /0 os vencimentos de todos os funccionarios pblicos (no apoiados), comeando ns por lanar o tributo de 10 /0 no subsidio dos Augustos e Dignssimos Senhores Representantes da Nao.

    U M A v o z : V por ahi.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Sei que a medida vexatria e onerosa; mas os empregados pblicos devem compenetrar-se desta grande verdade: qe o dinheiro com que so pagos os servidores do Estado sahe quasi todo da agricultura, a qual v todos os dias diminuir os seus meios de aco, est rodeada de milhares de diffculdades, e dia

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    e noite vive debaixo da influencia de sinistras apprehenses. (Apoiados e diversos apartes.)

    Sr. Presidente, no consultei o Gabinete a este respeito, mas tenho teno de apresentar o projecto por oceasio da discusso do oramento. Limitando o prazo de reduco a um ou dous annos, conseguiremos no pequena diminuio nos oramentos, dando todos ns ao mesmo tempo uma prova inequvoca da considerao que nos merece o estado da nossa desfalleeida agricultura.

    V Ex. sabe, Sr. Presidente, que em 1796 o Parlamento inglez, por indicao do eminente Pit t , votou quasi por unanimidade, com excepo talvez de 2 ou 3 votos, a lei do incorne tax, que gravava de 5 /0 os rendimentos de di-versas categorias.

    Esse imposto foi duplicado em 1806 e s supprimido em 1816.

    E m 1842 Sir Robert Peel o restabeleceu com limitao a t 1845, mas desde ento tem continuado a ser cobrado, porque considerado como um dos impostos mais razoveis, parecendo a Stuart Mill o mais aceitvel, debaixo do ponto de vista da justia.

    V. Ex. sabe tambm que a lei de income tax encerra cinco ordens de renda e que na quinta est comprehendida a classe geral dos funecionarios pblicos.

    Ns, depois da guerra do Paraguay, possuimo-nos de nm desvanecimento um tanto imprudente; augmentro-se e muito, relativamente s foras dos nossos oramentos, os ordenados dos empregados pblicos (apoiados); a nao toda deixou-se levar por uma agitao febril, de caracter norte-americano, que j produzio perniciosos resultados. Antes da guerra havia exagerados 'receios de se gastar, depois houve verdadeira prodigalidade.

    O SR. CESARIO A L V I M : Antes e depois da guerra quem foro os culpados?

    (Troco-se apartes.)

  • 31

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Actualmente, Srs., pre-cisamos marchar com muita prudncia. Por isto entendo que a.resoluo que proponho de eficacia para darmos todos exemplo desse desejo, de que se devem achar pos-sudos os brasileiros, de vr em uma verdadeira poca de transio, como esta, restabelecido o almejado equilbrio entre a receita e a despeza.

    Sr. Presidente, como a hora se adianta, vou concluir, declarando que, se proponho esta medida de reduco, na-tural e justamente impopular, porque desejo vr caminhar com patrionismo e franqueza o Gabinete 25 de Junho, a quem presto o meu apoio,- por ver sua frente o homem que mais exemplos de civismo tem dado a todos ns (muitos apoiados); o brazileiro que mais tem concorrido para a grandeza e integridade do Imprio (apoiados); o homem que entre ns mais illustrou e illustra o seu nome, o nome de Duque de Caxias.

    VOZES GERAES: Muito bem! Muito bem! O SR. DANTAS: Muito bem, pela parte liberal. (Apoiados

    fia opposio.) (Muitos Srs. Deputados felicito o orador.)

  • PROFERIDO NA

    SESSO DE 14 DE MAIO DE 1877. (*)

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : Sr. Presidente, dou graas fortuna ter podido comparecer sesso do dia 2 do corrente mez, afim de procurar pr embargos facili-dade com que a Provncia de Minas-Geraes, por meio de seus dignos e numerosos representantes, tenta chamar a si a. posse de uma nesga no insignificante do j to reta-lhado territrio da Provncia de Goyaz, cujos interesses e direitos tenho aqui o dever de advogar e defender.

    Antes, porm, de entrar no exame da matria em de-bate, cumpre-me dar uma explicao ao nobre deputado por Minas-Geraes, que nesta questo occupou a tribuna, sobre um aparte meu que pareceu magoar sinceramente a S. Ex.a. Suppondo eu que esse nobre orador buscava esta-belecer uma ligao impertinente e forada entre o pro-jecto em discusso e a analyse de questes importantssi-mas que foro aqui motivo de um discurso por mim pro-ferido, discurso que tem sido bastante commentado em sentido favorvel e desfavorvel, no pude deixar de obser-var a S. Ex.a que havia inopportunidade, sofreguido, e repetirei mesmo leviandade, em procurar discutir simulta-neamente e de mistura assumptos to disparatados e di. versos.

    (*) 0 orador respondia a um discurso dn Sr. deputado Diogo de Vasconcellos so-bre limites da Provncias de Minas-Geraes e Goyaz.

  • 34

    O SR. PRESIDENTE : O nobre deputado talvez no se recorde, mas eu devo lhe lembrar, que o que se acha em discusso o requerimento de adiamento.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : Estou respondendo ao discurso do nobre deputado que me precedeu; tenho por-tanto de acompanha-lo tpico por tpico.

    No me passou pela mente nem de leve oflender o melindre daquelle distineto representante. O que procurei to somente fazer, foi chama-lo ao terreno limitado da pre-sente controvrsia, observando-lhe que convinha deixar o debate daquellas graves theses para uma discusso parte, larga e desenvolvida, theses a que S. Ex.a, como era natu-ral, se mostrou logo infenso, mas tambm s quaes nin-gum poder recusar as honras de mais reflectida e demo-rada considerao. (Apoiados.)

    Agora, Sr. Presidente, seja-me permittido por meu turno estranhar quelle nobre orador o epitheto que buscou sobre mim lanar de cosmopolita com tendncias at socialistas.

    Eu, Sr. Presidente, no disse, como se propalou, nem fora capaz de dizer, que o nobre deputado ignorava geo-graphia, e ainda mais chorographia de sua provncia na ta l ; mas o que posso talvez alirmar com alguma segu-rana que S. Ex.a ainda no pensou maduramente na questo da grande naturalisao, nem a estudou com a de-vida calma e reflexo.

    O SR. PRESIDENTE : Peo licena ao nobre deputado para rogar-lhe que se cinja matria em discusso.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : Obedecerei sempre com todo o respeito a V. Ex.a, mas tenho que responder pari passu a todas as observaes que fez aquelle nobre depu-tado e contestar as suas interpretaes por vezes pouco amigveis a meu respeito.

    Se, Sr. Presidente, externo juizo um tan to arriscado, pela confuso que o nobre orador fez entre as idas de grande naturalisao e as aspiraes cosmopolitas.

  • 3 5

    Com efleito, me abalo, assim como abalaro ao emi-nente Terencio e devem abalar a qualquer homem de in-stinctos generosos e reflectidos, os factos que interesso a humanidade em geral, mas dahi utopia do cosmopolitismo que engendrou a imaginao de S. Ex.a, exaltada sem du-vida pelas praticas rigorosas e ascticas da vida de devoo que leva, dahi a essa utopia ha uma grande distancia. (Muitos apoiados.)

    Amo, Sr. Presidente, como bom brazileiro, a minha ptria, mas por isto mesmo que procuro incessantemente pensar em todos os meios que posso engrandec-la e dar-lhe posio vantajosa no mundo civilisado. (Apoiados.)

    No ser por certo com idas acanhadas de tacanho brazileirismo (apoiados), cujas exageraes ainda ha pouco produziro as indignas e horrorosas scenas occorridas na Provncia do Par (apartes e apoiados), no ser com esses sentimentos que havemos de chegar ao resultado desejado. (Apoiados.)

    S. Ex. fallou em nome do seu velho Brazil,. . . pois bem, fique-se com elle, o Brazil do papelorio, do patronato e da rotina (apoiados); eu procurarei seguir com o novo Brazil ao encontro dos grandes princpios, que ja vo abrindo ca-minho na nossa sociedade e que afinal ho de ser impostos ao Parlamento, se daqui no par t i r a almejada iniciativa. (Apoiados; muitos apartes.)

    O SR. IGNACIO MARTINS:Estou ouvindo um liberal.

    O SR. CARDOSO DE MENEZES:Qual liberal! (Ha outros apartes.) O SR. ESCRAGNOLLE T A U N A Y : Sr. Presidente, o temor

    do estrangeirismo que a ida da grande naturalisao bate radicalmente, o receio da adopo do casamento civil, da liberdade de cultos, do respeito igual para todas as religies, ho de infallivelmente desapparecer. (Apoiados e no apoiados ; apartes.)

    O SR. PINTO DE CAMPOS :Em um paiz de unidade re-

  • 36

    ligiosa- seria um erro, uma calamidade admitt ir a plurali-dade de religies, porque era o mesmo que no ter nenhuma. (Apoiados e no apoiados.)

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:O que no padece du^ vida que o paiz se acha em verdadeiro estado mrbido, claramente assignalado por um desgosto geral, um mal estar commum a todos. (Apoiados.)

    O SR. PINTO DE CAMPOS.Isto no se diz s aqui, diz j

    se em toda a par te : hoje moda afeiar-se o estado das cousas de uma nao.

    O SR. ESCRAGNOLLE T A U N A Y : H a visvel incommodo moral e, o que peior , descrena nos homens polticos de ambos os partidos. (Apoiados.)

    O SR. PRESIDENTE:Peo ao nobre deputado que se restrinja matria.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:Estou, como V Ex. e-a Cmara vem, seguindo passo a passo o orador que me precedeu e que no foi interrompido. (Ap>oiados.)

    O SR. CARLOS P E I X O T O : O orador referio-se incidente-mente a estes pontos.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:No estado innegavel de esmorecimento geral, manifesta-se como que a necessidade de achar um responsvel, e nessa indagao muitos no duvido atirar todas as culpas sobre a entidade poltica que pela nossa Constituio justameute goza dos foros de irres-ponsvel. Uns compro com o jardineiro que apara, torce emar ty r i s aa s arvores de uma alameda do jardim bot-nico, alameda que, como muito bem observou o Sr. ConseJ

    lheiro Zacarias, no existe seno na imaginao cie quem nella fallou; outros a chamo o invisvel; outros a ames-quinho, dando-lhe posio de chefe de partido. (Apartes.)

    Sr. Presidente, a descrena existe funda, mas provm unicamente da convico intima que todos tm, de que este paiz marcha lenta e mancamente, quando deveria caminhar com rapidez e deFassombro. (Apoiados e no apoiados.) No

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    estamos ainda nem sequer nas condies do homo robustus puer. S nos cabe a fragilidade da meninice. Quando pode-ramos te r os movimentos desimpedidos, vivemos presos n 'um circulo acanhado de pequenas idas. D'ahi o desanimo e a incerteza do futuro. J tempo, Senhores, mais que tempo recebermos o abalo salutar que deve transformar esta nao, abalo oriundo, seno da applicao immediata de todos os grandes princpios que collocro os Estados-Unidos entre as primeiras potncias do globo, pelo menos da agitao dessas idas, de seu cuidadoso estudo, da discusso das vantagens que delles emano, ou dos inconvenientes que posso produzir. (Apoiados.)

    O SR. DANTAS:Muito bem! U M A VOZ:Discusso perigosa. (Oh! oh!) O SR. GUSMO LOBO :Mandar buscar estrangeiros para

    nos governar. . . No de conservador! O SR. ESCRANOLLE TAUNAY:Quem disse is to?. . . Oua-

    me V. Ex., porque vai ao encontro da declarao que eu pretendia fazer. Pronunciando-me assim com toda a fran-queza, como me hei de em qualquer oceasio pronunciar, no me arredo das fileiras conservadoras, sob cujas gloriosas bandeiras na minha vida poltica procurarei sempre militar com fidelidade.

    O SR. GUSMO L O B O : A s idas de V. Ex. no so de conservador, nem de liberal, so de radical. (Apoiados e no apoiados.)

    (Ha grande numero de apartes.) O SR. ESCRAGNOLLE T A U N A Y : V O U immediatamente

    responder aos nobres deputados. Primeiro que tudo, Sr. Presidente, no quero reformas

    apressadas, alcanadas de chofre e simultaneamente; j disse, quero a discusso, a considerao desses assumptos, dignos sem duvida da atteno dos mais illustrados parla-mentos : quero a propaganda prvia, a apreciao da oppor-tivnidade e das circumstanias do paiz. Desejo que se con-

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    sigo victorias com o auxilio da opinio da maioria da na-o e no se imponho imprudentemente medidas de t an to alcance social, sem a preparao indispensvel do espirito publico. Mas, Sr. Presidente, incontestvel que para con-servar preciso renovar incessantemente; renovao radical, embora insensvel, de que usa para a conservao da vida a cada passo a natureza; em tudo, sem excluso da poltica, nossa grande mestra. (Apoiados, muito bem e apartes.)

    Como pde a illustre minoria liberal pretender que essas grandes idas, de caracter meramente social (apoiados), perteno ao seu partido ?

    Porventura vejo alguma dellas inscripta no programma das aspiraes daquella valente bancada ?

    (Apartes, susurro.) O SR. PRESIDENTE:Peo aos nobres deputados que no

    interrompo o orador. Rogo a V. Ex. que se cinja o mais possvel matria em discusso.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:Daqui a dous momentos satisfao a Y Ex.

    Sr. Presidente, a nica aspirao manifestada clara e at ardentemente pelo partido liberal hoje a eleio directa; entretanto quanto mais penso no assumpto, quanto mais o estudo, menos enthusiasmo me incute essa medida que con-sidero, alis, mero aceessorio.

    O SR. GUSMO LOBO :Nesta par te muito apoiado. (Ha outros apartes.) O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:Ainda ha poucos dias

    consultando as obras de Tocqueville, o conceituado publi-cista que tanto reflectio sobre a grandeza e o futuro das instituies americanas, achei as seguintes e judiciosas pa-lavras que, com licena de V Ex. e da Cmara, vou repro-duzir.

    Diz Tocqueville: E' fcil perceber no futuro o momento em que as re-

    publicas americanas sero obrigadas a multiplicar os dous

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    gros no seu systema eleitoral, sob pena de se perderem desgra-adamente nos escolhos da democracia.

    No ponho duvida em confessar; vejo no duplo gro eleitoral o nico meio de collocar o uso da liberdade poltica ao alcance de todas as classes do povo. Os que busco tornar esse meio arma exclusiva de um partido e os que delle se arreceio cahem, a meu vr, em erro idntico.

    No se pde ser mais positivo, e a opinio pesa dupla-mente, partida de quem , do admirador enthusiasta da de-mocracia em todas as suas manifestaes.

    Mais ou menos tarde, Senhores, havemos de chegar a um ponto em que os homens de coragem e boa von-tade se ho de unir intimamente para, de commum accrdo, estudarem a causa reale verdadeira dos males materiaes e moraes que, se no acabrunho nossa ptria, pelo menos impedem o desenvolvimento e o progresso, de que de certo digna. Tenho plena convico de que no acharemos como motivo desses males o to fallado poder pessoal, poder que no existe e que serve de thema para discusses in-convenientes aos interesses nacionaes, visto como podem concorrer para o desprestigio da monarchia, sem a qual, de accrdo com o illustre Snr. Baro de Cotegipe, no com-prehendo Brazil forte, unido e grande. (Apoiados e muitos apartes.)

    (O orador entra no estudo da matria em discusso.)

  • PROFERIDO NA

    g>mw k 17 k Stkmka k 1S77 POR OCCASIO

    da discusso do projeoto de fixao da fora de terra. (*)

    oo

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:Sr. Presidente; V Ex.a e a Cmara ho de consentir que, ao subir eu a esta tri-buna, deixe de lado as questes de especialidade que no presente debate se devem discutir e elucidar, e me apro-veite da latitude que nos permitte o regimento, occupan-do-se os oradores com assumptos de poltica geral e de esphera mais ampla.

    A razo deste modo de proceder est na inscripo a que me obrigava a qualidade de opposicionista, ao passo que toda a minha inclinao fora empregar sinceros esfor-os na sustentao e defesa dos actos da administrao do illustre e actual ministro da Guerra, o Sr. Duque de Caxias.

    Com effeito, Sr. Presidente, ao chefe mais prestigioso do meu partido (apoiados), to cheio de prestigio que o seu nome a gide nica, mas gide invulnervel, de um mi-nistrio hoje gasto e imprestvel (apoiados da opposio) ; ao eminente general carregado de servios e que em si resume a historia militar da Nao Brasileira (apoiados),

    (*) O orador pronuncira-se em oppoaiSo ao gabinete na Sesso de 11 de Junho de 1877.

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    no posso deixar de t r ibutar a mais profunda venerao como homem de guerra e cie partido (apoiados; muito bem); assombrado de um facto ser o valor de sua individuali-dade de tal quilate que ainda no sofreu quebra, embora envolvida n'uma ordem de eousas polticas verdadeiramente detestvel. (Apoiados e no apoiados.)

    O SR. COELHO RODRIGUES : E' a bandeira que cobre a carga.

    (Ha outros apartes.) O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: De facto, no meio do

    naufrgio completo das esperanas dos melhores amigos do gabinete 25 de Junho, no meio da descrena geral que inspiro os nossos maiores vultos polticos, com rarissimas excepes, achando-se a nao n 'um estado cataleptico em que v e sente grandes desgraas moraes e materiaes, sem comtudo poder reagir ou pelo menos protestar, ainda ap-parece o A^enerando Duque como um typo nobre qe sabe alliar a lealdade e pureza de intenes ao desejo de bem servir ptria at p ultimo sopro da existncia. (Apoiados.)

    Deixando, pois, margem, por to ponderosos motivos, as questes de caracter meramente militar, e no desenvol-vimento do programma de idas, que applaudi sem con-strangimento desde que entrei nesta casa, e accentuei em discurso proferido no principio desta legislatura, vou t ra tar de assumptos de elevada significao, e que no meu con-ceito entendem immedatamente com o futuro, a prospe-ridade e a grandeza do Brazil.

    Se licito, Senhores, como diz o provrbio latino, das eousas grandes t i rar termo de comparao para as peque-nas, eu, para explicar melhor a minha posio e escudar a liberdade de minhas opinies, lembrarei, neste momento, as memorveis palavras de Sir Robert Peel, quando aceu. sado pelos seus parentes e amigos, no s de abandonar e repudiar os princpios do partido a que pertencia, rnsm at de atraioar os seus co-religionarios.

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    Em to apertada contingncia dizia aquelle eminente cidado: A pusllanimidade e a falta de coragem moral ter-me-io sem duvida impellido para outra direco que no a que tomei. Se em mim actuasse o receio da res-ponsabilidade, das recriminaes e dos debates no Parla-mento, de certo teria cuidadosamente occultado minha opinio real sombra do pretexto deshonesto de uma falsa e mal entendida constncia.

    Por professar, Sr. Presidente, idas que podem parecer a alguns demasiado adiantada% embora estejamos em um paiz novo, sem tradices e que indubitavelmente precisa de grandes reformas, no saio, no quero sahir do partido em cujas fileiras tenho a honra de militar desde os meus primeiros annos. O que quero desenvolvei- essas idas; averiguar e estudar a impresso que produzem no paiz; procurar adeptos, quer na opinio publica, quer no seio dos meus lliads polticos.

    Ora, esse resultado s poder produzir-se gradual e paulatinamente, de conformidade, portanto, com um dos princpios cardeaes da escola partidria a que perteno. Sempre que me fr possvel, procurarei animar, activar a aceitao e propaganda dessas opinies que no apresento, comtudo, nem posso apresentar, como programma realizvel em prazo certo e fatal. Se no medrarem to cedo, no ser para mim causa de divergncia, de estremecimentos nem de desgostos insanveis, porque saberei insistir como homem convencido; saberei sobretudo esperar. No circulo completo das grandes medidas a tomar, umas podem e devem ter no Brazil mais prxima realizao do que outras. Tudo, porm, que se conseguir ter de ante-mo meus applausos, minha completa adheso.

    Posso estar em erro; mas, Sr. Presidente, nutro a con-vico funda e sria daquillo que expendo desta tribuna. Espero que os factos e os argumentos me conveno do engano em que labora o meu espirito; acredito, porm,

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    que cumpro com lealdade os meus deveres de representante da Nao, estudando as medidas que em outras naes promovero benefcios de grande esphera e expondo, sem rebuo nem vacillaes, tudo quanto julgo ser de utilidade para o meu paiz e de applicao imprescindvel em tempo mais ou menos breve, sobretudo hoje que estamos entrados n'um perodo melindroso, cujas difficuldades podem ir se aggravando cada vez mais, depois da declarao de um dficit, que, como primeiro grito de alarma, deveria ter acor-dado todos os espritos e faz-los attentar cuidadosamente para a gravidade da causa publica.

    A confisso desse dficit foi, Sr. Presidente, como a Gamara sabe, de proveitoso effeito durante algum tempo, infelizmente curto, pois manifestro-se logo desejos de derrubar as pequenas barreiras que se havio levantado contra os desperdcios da Cmara e do Governo.

    Passados os primeiros momentos de estranheza, des-envolvro-se tendncias evidentes de uma propaganda em favor do optimismo, de maneira que se desvanecessem quaes-quer apprehenses e aos olhos, sobretudo dos que tinho que gastar, se desenhassem as cores fagueiras da situao mais prospera e promettedora que possa ter uma nao.

    Se ha inconvenientes no pessimismo, com ha em tudo quanto se deriva da exagerao, nesse optimismo cego encerro-se males de tal natureza, de tamanhas conseqn-cias, que a ningum dado calcular-lhes todo o alcance. (Apoiados.)

    Os espirites despreoccupados, que no querem consi-derar o futuro, aproveitando s as facilidades do presente, encaro o dficit como um facto normal, natural, nos ora-mentos de todas as naes.

    Mas, Senhores, o Brazil se acha hoje em condies ex-cepcionaes, to extraordinrias, que, a meu vr, em nenhum outro paiz encontra a lio que devidamente lhe aproveite.

    Se presentemente no ha ainda dficit, amanh ou de-

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    pois ha de apparecer, e por uma razo muito simples, que a renda tende imperiosamente a descer e a produco a decrescer. (Apoiados.)

    O SR. AEEONSO CELSO : Tanto que o Governo j recebe dinheiro a prmio.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY: Duas razes obrigo a esse movimento de descenso: o desapparecimento rpido do trabalho servil e a transformao sempre laboriosa e lenta deste em trabalho livre. Se pois no houver muito cuidado, muito patriotismo, se no se tomarem medidas enrgicas, quando no esbarrarmos comella, havemos pelo me-nos de entrever a medonha carranca da banca-rta, e oexemplo j nos vo dando muitas .Provncias do Norte do Imprio, que esto em verdadeira liquidao forada. (Apoiados.)

    A situao me parece grave, Sr. Presidente, no pela existncia reconhecida do dficit, que se procurou abafar a todo o transe e que ficou em aberto, mas pelas circum-stancias especiaes que o rodeio. O caso de tal ordem que no julgo suffcientes os expedientes, meios e tradies da guarda conservadora, de que ha pouco tempo nos fallou aqui um dos seus dignos e eloqentes representantes.

    Ha annos podia a escola conservadora contar com um elemento indispensauel vida regular normal das na-es : o trabalho em todas as suas manifestaes, em toda a sua expanso. Hoje vemos reduzir-se nossa fonte, seno exclusiva, incontestavelmente mais abundante de produc-o, o elemento escravo, sem que lhe demos substituio, de modo a se efieetuar, j no digo insensivelmente, mas sem grandes abalos, a transio para o trabalho livre.

    Se formos indo como vamos, de certo chegaremos a um periodo doloroso para todo corao patritico, qualquer que seja o lado a que pertena, porque ha de pulsar como brazileiro. (Apoiados.)

    No podemos, como parecem querer os espritos cr de rosa, no podemos entregar tambm os mais graves e at

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    perigosos problemas da sociedade ao calor e humidade. (Apoiados.)

    O Brazil, Sr. Presidente, acha-se actualmente nas con-dies do operrio que v seu melhor instrumento de tra-balho gasto e incapaz de bem servir os seus interesses. Suas preoecupaes, seus pensamentos, devem de certo ser outros que no no tempo em que esse instrumento t inha toda a pujana. Antes do mais, o que urge reparar, restabelecer aquillo que se foi perdendo.

    E ' por isto que no cabe agora a limitao que a guarda conservadora impunha como barreiras iniciativa dos po-lticos daquelle partido. A ns da moderna gerao e filhos dessa gloriosa escola que tantos servios prestou ao Brazil, principalmente nas suas pocas mais criticas e penosas, o que compete, primeiro que tudo, guardarmos illeso um principio que considero salvador e capaz d constituir segura linha divisria entre ns e qualquer outro dos partidos po-lticos : o respeito autoridade.

    Fora m f e desconhecimento da verdade histrica, sppr que da observncia desse principio pde resultar a estagnao das foras do paiz, podem nascer obstculos ao desenvolvimento dessas mesmas foras (apartes e apoiados); mas tambm fora erro e erro grave repellir de ns as idas de mxima civilisao, de actualidade, impedir as aspiraes modernas, hoje brilhantes realidades nas mais adiantadas naes do mundo, e sem as quaes o Brazil no pde mar-char desafogadamente na senda do progresso, como deve e como merece.

    (O Sr. Andrade Figueira d, um aparte.) O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:As idas, Sr. Presi-

    dente, de transformao de uma sociedade no podem pertencer a um determinado lado part idrio; no podem ser apangio nem monoplio de ningum. Tempo vir, e Deus permitta no seja muito longe do momento em que fallo, em que ser considerado como poltico impossvel,

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    quem impugne com o ardor da defeza natural e a todo o transe essas idas, essas tendncias. (Apartes.)

    U M A Voz:Mas quaes so? (Apartes.) O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:Oua-me o nobre depu-

    tado. Tenho diante de mim seno quanto tempo quizer, pelo menos as duas horas que marca o regimento.

    O SR. AEEONSO CELSO :A velha guarda parece que no est muito unida. (Apartes.)

    O SR. GOMES DE CASTRO:Conforme o sentido que se der velha guarda.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:Dizia eu, Senhores, que ser considerado como poltico impossvel, aquelle que re-pellir intransigente a maior par te dos pensamentos gene-rosos que accelero hoje o progresso dos povos. O caso fora, pois, simplesmente de pacincia, se com as naes no se desse o mesmo que com os indivduos; se ellas no tivessem seus perodos de robustez, fora e sade, suas pocas de decadncia e abatimento. (Apoiados.)

    O SR. ANDRADE FIGUEIRA d um aparte. O SR. AEEONSO CELSO :A pacincia a nica linha

    divisria entre V. Ex . e o nobre deputado pelo Rio de Janeiro.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:A pacincia que no co-nhece limites pde deixar desaproxeitadas preciosas oppor-tunidades. No me mostro comtudo sfrego de mais. Como j deixei bem claro, o que quero por ora a discusso, e uma discusso em regra admitte pausas e pausas s vezes bem longas. (Apartes.) Continuando nesta ordem de idas, lem-brarei que, se emquanto moo, isto , na plenitude de seus mais valentes meios de aco, o cidado no cuidar inces-santemente de seu futuro, no ser nunca cousa que preste nem para si nem para sua pt r ia ; assim tambm devem os estadistas aproveitar os tempos de profunda paz externa e interna da nao, actividade e energia do espirito publico, para considerarem todos os problemas que podem atrazar

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    ou adiantar o desenvolvimento dos estados entregues sua direco e dar a esses problemas a mais conveniente so-luo.

    O SR. ANDRADE F I G U E I R A : E abalar a sociedade mais do que tem sido.

    (Ha outros apartes.) O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:Se acho longas estas

    consideraes, vou encurtar o que t inha que dizer. (No apoiados.)

    A lei do elemento servil foi, Senhores, uma lei mora-lisadora, que entendia com a dignidade do Brazil perante o mundo civilisado, lei sem duvida regeneradora dos nossos costumes, mas foi um golpe fundo no nosso principal meio de produco.

    Os Estados-Unidos cortaro o mal pela raiz, mas nas condies que to judiciosamente havio sabido arranjar, estavo os meios completos de reparar as foras perdidas.

    Com razo preferimos a brandura aos recursos violentos; ms no temos at agora tomado providencias para o perodo, talvez mais prximo do que geralmente se acredite, do de-pauperamento das foras vivas do paiz. (Apoiados.)

    Alm das causas que vo tornando muito srio e es-pinhoso o problema de retemperar a vitalidade da nao brazileira ( apoiados), ha outra, que est na conscincia de todos: a tradicional indolncia que produz no s o desamor actividade, como a falta de iniciativa, tradicional porque desde os tempos coloniaes, o brao escravo foi rebaixando a nobreza e importncia do trabalho e facilitando a fatal inoculao da preguia, virus perigoso e lethal, cujos effeitos desanimadores se manifesto principalmente nas Provncias do Norte. (Apoiados.) Felizmente, comeou j o perodo da reaco, mas durante ainda muito tempo hade o Brazil pagar a culpa da creatura escravisada. (Apartes.)

    Houve uma prosperidade que se firmava em fraquissi-mos alicerces; destrudos estes, ficaro os hbitos contra-

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    hidos desde infncia, os preconceitos e a madraaria, fa-zendo par te de nosso systema social. (Troco-se muitos apartes.) Procuro, Senhores, quando estou neste posto de honra, dizer a verdade como ella , ainda que dolorosa. Tenho, porm, plena confiana que a nao brazileira so-brepujar quantas difficuldades e tropeos se ergo para empecer sua marcha progressiva.

    Com a proteco de Deus, com o esforo de melhores estadistas do que temos tido, feitas limitadssimas excepes entre as quaes toma um dos primeiros lugares o eminente Visconde do Rio-Branco, com o bom senso de que tem dado tantas e to bellas provas o nosso povo, chegaremos de certo a realisar a brilhante profecia do publicista John Le-moine, que s via no mundo trs imprios em condies de representar um papel eminente e preponderante no futuro : a Rssia, os Estados-Unidos e o Brazil.

    Ms, Senhores, para isto convm no cerrar os olhos aos factos e evidencia: convm abrir os ouvidos aos brados da verdadeira civilisao e saber repellir com energia as tresloucadas exigncias do espirito ultramontano, tenaz e persistente em suas tentat ivas e perigoso pelas illimitadas conquistas que premedita. (Apoiados, no apoiados e apartes.)

    No posso, Sr. Presidente, vr cie sangue-frio que-rerem dispensar o concurso dos conservadores na trans-formao gradual da sociedade brazileira. Sei bem que o meu primeiro discurso provocou estranhezas da parte de dignos co-religionarios meus, mas tambcm, de outros, dis-tinctos pela posio e talentos, recebi provas de adheso, e V Ex . se ha do recordar que nesta casa j se levantou a voz sympathica de um nobre deputado por S. Paulo, pugnando com louvvel franqueza pelas idas que querem considerar fates e subversivas, quando so pelo contrario salvadoras. (Apartes.)

    A alguns espritos causou verdadeiro assombro a possi-bilidade da grande naturalisao, que se lhes afigurou de

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    repente a confuso anarchica de todos os povos, uma Babel, um mal gravssimo, que em suas menores conseqncias t rar ia inevitavelmente o anniquillamento da nao ou seu completo avassalamento ao elemento estrangeiro. (Apartes.)

    Para combater este argumento ad terrorem basta a simples ba f; basta olhar para a historia dos povos que aceitaro desde os primeiros dias de sua organisao poltica esse principio digno e elevado. No quero, Sr. Presidente, no posso querer, e commigo todos quantos sinto no corao pulsar a fibra do patriotismo, o avassalamento do Brazil; o que desejo que todos os homens de boa von-tade, leaes e enrgicos, concorro para o engrandeci-mento e a prosperidade da minha ptria. (Apoiados. Muito bem.)

    O SR. DANTAS.Era o argumento mutatis mutandis contra a abertura do Amazonas.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:No estado actual das eousas, que vemos no paiz?

    De um lado estrangeiros, que, vivo quantos annos viverem, so sempre estrangeiros; de outro nacionaes, que, no podendo prescindir do concurso daquelles, no os ad-mittem comtudo na completa communho civil e poltica, de maneira que no seio da nao ha uma classe verdadei-ramente privilegiada, sem nus, nem grandes ligaes de deveres, mas que, aos olhos da lei brazileira e perante o sentimento nacional, so de categoria e condio inferior. Dahi resulto esquivanas, aborrecimentos recprocos e in-supportaveis, maneira de um casal que no se entende, mas que no pde divorciar.

    Como sempre foro as nossas eousas e ainda permanecem, no pde o elemento estrangeiro deitar raizes verdadeiras no solo do Brazil (no apoiados; apartes), e, sem aprofundar muito, acharemos como causa essa malquerena intima que os Portuguezes buscaro, no desenvolvimeuto de seu sys-

  • 5 1

    tema colonial, implantar neste continente e de que so hoje as primeiras victimas.

    (Reclamaes). Peo aos nobres deputados que me attendo. Observem;

    viajem pelo interior; analy&em osfactosque se do mesmo nas grandes cidades, e vero se tenho ou no alguma razo.

    Se os estrangeiros aqui domiciliados mantm relaes seguidas e nexo com a ptria donde viero, o nico e in-cessante objectivo que elles tem diante dos olhos adqui-rirem rapidamente meios de fortuna, explorar quanto pos-svel o paiz, para se re t i rarem logo, levando to somente saudades da esplendida natureza, no seio da qual vivero durante algum tempo. (No apoiados e apartes).

    Se, porm, se conservo no Imprio at o ultimo dia de existncia, tm dous alvitres a seguir: ou se naturalisa-rem, ficando em posio inferior do nacional, recebendo portanto dos . seus novos concidados um t ra tamento de duvidosa cordialidade, ou ento persistirem em sua nacio-nalidade, que afinal vm a perder, quando no satisfazem $s exigncias dos respectivos consulados.

    E ' na verdade durssima contingncia! U m escriptor, Sr. Piesidente, que estudou seriamente

    :as questes de emigrao, assignala com toda a ver-dade as regalias em essncia acanhadas que proporcio-namos aos naturalisados e os inconvenientes dessas mal entendidas iestrices. Diz Jlio Duval: (L)

    N a maior4 par te dos Estados sul-americanos a natu-ralisao, sem duvida muito fcil, parece antes nus do que beneficio; antes meio de subtrahir o novo cidado pro-teeo dos cnsules do que de lhe abrir os privilgios da lo-ualdade poltica; desejo-no mais como trabalhador auxiliar, do que na qualidade de membro activo e influente de uma sociedade nova. Por isso elle foge com desconfiana da -naturalisao, em lugar de procura-la pressuroso.

  • 5 2

    No ha desenho mais fiel do que se passa no Brazil, que obteve comtudo do mesmo Duval as seguintes e me-recidas palavras: (L)

    Aqum e alm do equador, a republica domina com grande liberdade pessoal, e a monarchia brazileira no menos liberal do que as republicas que a cerco. Ella apresenta, alm disso, a estabilidade de governo, que falta aos seus visinhos, sempre agitados pelas lutas de partido, e freqentemente dilacerados pelas guerras civis. E m rela-o s garantias de ordem, o Brazil leva a palma aos E s . tadosUnidos .

    V Ex. v, Sr. Presidente, que este homem falia com imparcialidade e conhecimento de causa, depois de te r es-tudado e comparado as condies que apresento os diversos Estados americanos e o Brazil.

    E' sem duvida facto que deve causar extranheza ao es-pirito reflectido, no vr um s estrangeiro illustre pedir cartas de naturalisao, quando comtudo muitos tm vivido largos annos entre ns, viajado nossos extensos sertes e sobretudo dado inequvocas provas da maior sympathia, de amizade e at admirao, seno aos homens, pelo menos nossa organisao como esperana fagueira a espritos ele-vados.

    VOZES:Muitos se tem naturalisado. O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY :Quantos estrangeiros illus-

    trs o tm feito? O SR. SILVEIRA M A R T I N S : O almirante Grenfell nunca

    quiz ser brazileiro. (Apoiados). O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY:Porque todos esses viajan-

    te* de nomeada, Spix, Martius, Saint-Hilaire, Pohl, Schwegue e tantos outros nos deixaro para sempre? Porque que Lund, cuja vida consagrada sciencia em beneficio do Brazil, (apoiados), Liais e outros sero estrangeiros at o derradeiro sopro de vida? (Apartes.)

    E', Sr. Presidente, que sentiro e sentem correr no es-

  • 5 3

    pirito da populao um movimento, talvez involuntrio, mas existente de constante repulsa. E ' que os Estados novos que comprehendem devidamente os seus interesses aceito como uma honra o desejo de homens daquella ordem pertencerem ao seu mechanismo poltico, ao passo que a lei brazileira impe reservas, seno offensivas, pelo menos vexatrias ao sentimento da dignidade.

    Distinguo-se quanto puderem nas sciencias, lettras, ar tes e industrias eminentes personalidades, a nossa constituio no os aceitar como capazes e aptos de bem praticarem todos os direitos que devem pertencer ao cidado de um paiz livre.

    O SR. ANDRADE FIGUEIRA : A lei ctual favorece muito as naturalisaes.

    O SR. ESCRAGNOLLE TAUNAY : E depois, Sr. Presidente, quaes os incentivos, quaes os centros de attraco para as grandes correntes de immigrao de que tanto carecemos? Ent re tan to que contraste com os Estados-Unidos que sa-bem chamar a si e prender para sempre vultos como Agas-siz, Erickson, Lesquereux, Guyot, Brown Sequard, um dos luminares da sciencia medica, Martle, o Conde de Portals, Bennet, Stewart, Schurtze, ha poucos annos membro desco-nhecido da sociedade berlineza, hoje chefe do partido de-mocrtico, uma das mais eloqentes figuras do senado ame-ricano e ministro do interior!

    Quantos milhares de contos de ris, Srs., no vale a ac-quisio completa, absoluta, de homens dessa esphera, que, nascidos e educados em outros paizes, levo de chofre para a ptr ia que adopto um nome respeitado em todo o orbe civilisado e um cabedal espantoso de conhecimentos, de es-tudos e de experincia?!

    O SR. DANTAS :Ns no carecemos de nada disso. O S R ANDRADE FIGUEIRA:Os Estados-Unidos j tem uma

    populao superior a 40 milhes. O SR. SILVEIRA MARTINS:Isso razo de mais.

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    O SR. ESCRAGNOLLE T A U N A Y : S r . Presidente, ha poucos mezes, referiro os jornaes que o Santo Padre Pio IX, em uma de suas inspiradas allocues aos peregrinos, mos--trra-se vivamente impressionado da grandeza dos Estados Unidos e dos progressos que nelles fazia o catholicismo.

    Como, porm, se formou essa gigantesca nao ? Como chegou ao gro de pujana e prosperidade que tanto as--sombra a quantos a contemplo?

    Porventura pela applicao dos princpios retrgrados e rotineiros, ou pela pratica das idas mais adiantadas do s-culo em que temos a felicidade de viver ? Da combinao, -Senhores, de elementos que o espirito ul t ramontano con-sidera positivamente demonacos, formou-se, entretanto, uma ordem de eousas na qual o catholicismo foi lanar as bases de uma de suas mais valentes columnas.

    E ' que a doutrina verdadeira de Christo quer a liberdade . afieia a luta. Por meio dellas que mais se expande e resplandesce. S pde convir o circulo de ferro que em ma-tria de religio mantemos, a um clero sem estudos, sem energia e iniciativa; mas no havemos por certo de sacri-ficar o futuro de uma grande nao mera commodidade de uma classe que assim mais depressa se deseonceitua e desprestigia. (Apoiados).

    A este respeito ouamos a autorisada e insuspeita pa-lavra do Conde de Montalembert em seu livro Los interes. ses catholicos no sculo XIX: (L)

    K Proclamo, diz elle, sem receio de contestao, que devemos o xito maravilhoso e imprevisto dos interesses catholicos liberdade. Sim, por toda a par te a luta tem aproveitado Igreja, e a luta no possvel sem a liber-dade. Por toda a parte tem sido essa regenerao tan to mais completa e fcil, quanto mais sincera e sria a liber-dade. Digo mais , que tal regenerao s se deu onde foi precedida ou provocada pela liberdade poltica debaixo de uma frma mais ou menos perfeita.

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    Nessa luta constante, Sr. Presidente, que o catholicismo ha de progredir e se apurar. Da estagnao religiosa em que vivemos, e que muitos julgo indispensvel, deve elle mais se arreceiar do que do embate e do cotejo com outras crenas livres de se manifestarem. (Apoiados e apartes.)

    Entre ns, Senhores, se escreveu um livro que no me canarei de elogiar, o livro do Sr. conselheiro Cardoso de Menezes. (Muitos apoiados.) Esse meu illustre collega de de-putao, conservador conhecido, poltico firme em suas convices, distincto publicista (apoiados), encarou todas as theses que se ligo s questes de immigrao e colonisao com verdadeira sinceridade de vistas, cem verdadeira con-scincia. (Apoiados.)

    Porque razo, porm, o apparecimento desse livro, fructo sazonado do estudo e da meditao, no causou a estra-nheza que produzio o discurso em que eu trouxe a esta tribuna as mesmas idas que elle advoga com igual calor, com igual enthusiasmo e muito mais eloqncia? Porque no se levantou contra o autor o brado de que no estava mais no seu partido, delle se separara para sempre, tor-nra-se radical e no sei mais o que? (Apartes.)

    O SR. COELHO RODRIGUES : E' que o livro no foi lido. O SR ESCRAGNOLLE TAUNAY : Tambm assim creio; en-

    tretanto, se ha obra digna de acurada leitura esta em que o nobre relator, com firmeza, com phrase incisiva, pede a realisao das grandes necessidades do Brazil, encerradas na decretao da liberdade religiosa, do casamento civil, das medidas complementares e implicitamente da grande naturalisao.

    V Ex. sabe, Sr. Presidente, que todo homem de digni-dade naturalmente cioso das crenas que recebeu de seus pais. Emquanto no fr convencido do erro em que labora, ha de zelar a f que tem em si, ha de buscar rodeal-a do m-ximo prestigio, alimentando cuidadosamente a chamma de guas eonvices. Pois bem, em nossa constituio ha uma

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    disposio terminante que s permitte immigrao espon-tnea a povos catholicos, os menos prprios sem contestao para os fins da colonisao.

    Por que to somen