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4 Inforcef – n. 66 “Funções e práticas da avalia- ção” ou, mais precisamente, da avaliação formativa (for- madora), como garantia de bom desempenho profissional dos professores e de sucesso escolar dos alunos: foi a partir da constatação que os profes- sores são – devem ser – técni- cos da avaliação, que Marga- rida Castelão Dias, professora de Físico-Química do CEF e formadora do GAVE (dinami- zadora da ação), afirmou ser indispensável que os profes- sores sejam especialistas em avaliação, porque ela faz parte essencial e é uma constante do seu trabalho. E a este tema todos os profes- sores do CEF dedicaram uma tarde inteira de formação que deram por muito bem em- pregue: de facto, há sempre pormenores que escapam no exercício quotidiano desta componente fundamental do trabalho docente, aspetos que nunca foram suficientemente aprofundados e outros que é necessário rever para que, em contexto de sala de aula, um professor saiba sempre gerir a própria lecionação de modo a facilitar a aprendizagem dos alunos, sem esquecer também as dimensões de caráter psico- lógico exigidas na sua atuação. As ações de formação decor- reram nos dias 10, 11 e 12 de julho, das 13.30 às 17.30 ho- ras, na Biblioteca, tendo como objetivos atualizar e aprofun- dar conhecimentos sobre a avaliação das aprendizagens, a avaliação formativa e as prá- ticas dessa mesma avaliação. E começaram… pelo bom princípio de formular pergun- tas clássicas do bom jornalis- mo: avaliar… porquê? … o quê? … quando? … como? O “quem” e o “onde” eram ób- vios: os professores, na sala de aula e… onde quer que se cor- rigem e/ou avaliam trabalhos dos alunos. Esclarecendo que a avaliação deve estar ao serviço da apren- dizagem, mesmo quando serve também para “classificar”, ou “seriar” os alunos, ou para cer- tificar aprendizagens, conhe- cimentos, capacidades, o seu objetivo deverá ser sempre a melhoria das aprendizagens e o acompanhamento do percur- so dos alunos para os ajudar a descobrir o percurso que os torne excelentes nos conheci- mentos que adquirem e na sua aplicação. Neste processo, um aspeto importantíssimo – e em relação ao qual nem sempre se atua de forma correta – é sa- ber aproveitar o erro como um recurso para a aprendizagem, nomeadamente em contexto de sala de aula, conseguindo criar e gerir um cenário cole- tivo de interesse por parte de uma turma para a descoberta e construção dos saberes indivi- duais, por etapas, sem jamais contribuir para baixar a auto- estima dos alunos. Na avalia- ção formadora não se pretende promover o erro em si, fazen- do o elogio da ignorância do aluno, mas sim partir das con- ceções erróneas para combater a sua ignorância, aumentando o conhecimento e desenvol- Avaliação: funções e práticas Ensinar significa facilitar, gerir e orientar Alguns apontamentos de uma excelente ação de formação Avaliação formadora/formativa Na minha opinião, a avaliação formativa para ser formadora, implica uma mudança de atitude perante as práticas de avaliação. Não se trata apenas de introduzir novas práticas de avalia- ção, mas, antes, de assumir uma nova atitude em todo o processo de ensino-aprendizagem, deixando a avaliação de ser um processo contabilístico de soma de erros ou de soma de certos (não) erros, mas vendo no erro a oportunidade de evoluir quer a nível do saber, quer como indivíduo. O professor assume o papel de coach e o aluno de coachee. O juízo final, do trabalho do aluno enquanto aprendente, é substituído por uma avaliação contínua, sistemática e dirigida para a regulação das aprendizagens. A informação recolhida é usada ao serviço da aprendizagem e não como um fim último. É o aluno que traça o caminho para atingir determinados objetivos. É o aluno que avalia o seu percurso e toma decisões redefinindo a sua trajetória. Ele próprio encontrará lacunas ou falhas no seu percurso. Cabe ao professor ajudá-lo nessa busca, incentivando a reflexão e au- tocorreção do erro com intencionalidade: dando pistas sem corrigir erros, levantando questões e assinalando pontos fortes, sempre numa perspetiva positiva e salientando aquilo que o aluno sabe e é capaz de fazer. Aqui, observa-se a aprendizagem da crítica construtiva e o desenvolvimento sustentado da auto-estima do aluno. Não é o elogio pelo elogio, em que o aluno se julga capaz de fazer o que não é capaz. Mas, como carece da sua auto-avaliação, o aluno tem a perceção das suas dificuldades para melhor as atenuar. Neste contexto, o sucesso refere-se à adequação do trabalho face aos critérios de sucesso e não ao indivíduo. Se o aluno falhar no seu percurso, não é ele que falha, mas a trajetória que escolheu e pode ajustar o seu percurso de forma a ter mais sucesso. O facto de ser o aluno a identificar o erro e ser ele próprio a corrigi-lo e chegar às respostas corretas favorece uma aprendizagem que perdura no tempo. O erro apresenta-se sem estatuto diferenciado, não se destacando os que erram daqueles que acertam e lida-se de forma construtiva com respostas erradas. Ao tomar consciência dos seus erros, o aluno desenvolve capacidades para superar os obstáculos. Os resultados da investigação (Black e Wiliam, 1998) são muito promissores, pois segundo estes, os alunos aprendem significativamente mais e melhor, obtêm melhores resultados em exames externos e os alunos que mais beneficiam são os que têm mais dificuldades de aprendizagem. Margarida Castelão Dias Prof.ª Margarida Castelão Dias, dinamizadora das três ações de formação

Alguns apontamentos de uma excelente ação de formaçãoinfor.cef.pt/66/34-aval.pdfde Físico-Química do CEF e formadora do GAVE (dinami-zadora da ação), afirmou ser ... Alguns

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“Funções e práticas da avalia-ção” ou, mais precisamente, da avaliação formativa (for-madora), como garantia de bom desempenho profissional dos professores e de sucesso escolar dos alunos: foi a partir da constatação que os profes-sores são – devem ser – técni-cos da avaliação, que Marga-rida Castelão Dias, professora de Físico-Química do CEF e formadora do GAVE (dinami-zadora da ação), afirmou ser indispensável que os profes-sores sejam especialistas em avaliação, porque ela faz parte essencial e é uma constante do seu trabalho.E a este tema todos os profes-sores do CEF dedicaram uma tarde inteira de formação que deram por muito bem em-pregue: de facto, há sempre pormenores que escapam no exercício quotidiano desta componente fundamental do trabalho docente, aspetos que nunca foram suficientemente aprofundados e outros que é necessário rever para que, em contexto de sala de aula, um professor saiba sempre gerir a própria lecionação de modo a facilitar a aprendizagem dos alunos, sem esquecer também as dimensões de caráter psico-lógico exigidas na sua atuação.As ações de formação decor-reram nos dias 10, 11 e 12 de julho, das 13.30 às 17.30 ho-ras, na Biblioteca, tendo como objetivos atualizar e aprofun-

dar conhecimentos sobre a avaliação das aprendizagens, a avaliação formativa e as prá-ticas dessa mesma avaliação. E começaram… pelo bom princípio de formular pergun-

tas clássicas do bom jornalis-mo: avaliar… porquê? … o quê? … quando? … como? O “quem” e o “onde” eram ób-vios: os professores, na sala de aula e… onde quer que se cor-

rigem e/ou avaliam trabalhos dos alunos.Esclarecendo que a avaliação deve estar ao serviço da apren-dizagem, mesmo quando serve também para “classificar”, ou

“seriar” os alunos, ou para cer-tificar aprendizagens, conhe-cimentos, capacidades, o seu objetivo deverá ser sempre a melhoria das aprendizagens e o acompanhamento do percur-so dos alunos para os ajudar a descobrir o percurso que os torne excelentes nos conheci-mentos que adquirem e na sua aplicação. Neste processo, um aspeto importantíssimo – e em relação ao qual nem sempre se atua de forma correta – é sa-ber aproveitar o erro como um recurso para a aprendizagem, nomeadamente em contexto de sala de aula, conseguindo criar e gerir um cenário cole-tivo de interesse por parte de uma turma para a descoberta e construção dos saberes indivi-duais, por etapas, sem jamais contribuir para baixar a auto-estima dos alunos. Na avalia-ção formadora não se pretende promover o erro em si, fazen-do o elogio da ignorância do aluno, mas sim partir das con-ceções erróneas para combater a sua ignorância, aumentando o conhecimento e desenvol-

Avaliação: funções e práticasEnsinar significa facilitar, gerir e orientar

Alguns apontamentos de uma excelente ação de formação

Avaliação formadora/formativaNa minha opinião, a avaliação formativa para ser formadora, implica uma mudança de atitude perante as práticas de avaliação. Não se trata apenas de introduzir novas práticas de avalia-ção, mas, antes, de assumir uma nova atitude em todo o processo de ensino-aprendizagem, deixando a avaliação de ser um processo contabilístico de soma de erros ou de soma de certos (não) erros, mas vendo no erro a oportunidade de evoluir quer a nível do saber, quer como indivíduo. O professor assume o papel de coach e o aluno de coachee.O juízo final, do trabalho do aluno enquanto aprendente, é substituído por uma avaliação contínua, sistemática e dirigida para a regulação das aprendizagens. A informação recolhida é usada ao serviço da aprendizagem e não como um fim último.É o aluno que traça o caminho para atingir determinados objetivos. É o aluno que avalia o seu percurso e toma decisões redefinindo a sua trajetória. Ele próprio encontrará lacunas ou falhas no seu percurso. Cabe ao professor ajudá-lo nessa busca, incentivando a reflexão e au-tocorreção do erro com intencionalidade: dando pistas sem corrigir erros, levantando questões e assinalando pontos fortes, sempre numa perspetiva positiva e salientando aquilo que o aluno sabe e é capaz de fazer. Aqui, observa-se a aprendizagem da crítica construtiva e o desenvolvimento sustentado da auto-estima do aluno. Não é o elogio pelo elogio, em que o aluno se julga capaz de fazer o que não é capaz. Mas, como carece da sua auto-avaliação, o aluno tem a perceção das suas dificuldades para melhor as atenuar. Neste contexto, o sucesso refere-se à adequação do trabalho face aos critérios de sucesso e não ao indivíduo. Se o aluno falhar no seu percurso, não é ele que falha, mas a trajetória que escolheu e pode ajustar o seu percurso de forma a ter mais sucesso. O facto de ser o aluno a identificar o erro e ser ele próprio a corrigi-lo e chegar às respostas corretas favorece uma aprendizagem que perdura no tempo.O erro apresenta-se sem estatuto diferenciado, não se destacando os que erram daqueles que acertam e lida-se de forma construtiva com respostas erradas. Ao tomar consciência dos seus erros, o aluno desenvolve capacidades para superar os obstáculos.Os resultados da investigação (Black e Wiliam, 1998) são muito promissores, pois segundo estes, os alunos aprendem significativamente mais e melhor, obtêm melhores resultados em exames externos e os alunos que mais beneficiam são os que têm mais dificuldades de aprendizagem.

Margarida Castelão Dias

Prof.ª Margarida Castelão Dias, dinamizadora das três ações de

formação

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AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃOAlgumas apreciações expressas nas fichas de avaliação da

ação e enviadas por correio eletrónico à formadora

“… um ambiente super descontraído e, por isso mesmo, mo-tivador para a partilha e diálogo.”

“Nunca pensei que fosse possível em simultâneo aprender tanto, em tão pouco tempo e num ambiente tão descontraído! Venham mais ações destas!”

“ A forma como decorreu a ação, levou os formandos a desco-brirem novas formas de avaliação.”

“Agradou-me da informação escrita e oral e o espírito des-contraído da formação, não perdendo a importância do con-teúdo.”

“Ensinar é partilhar com o outro, com uma relação aberta. Foi o que aconteceu nesta ação. Houve partilha de experiências, ideias e sugestões.”

“…perspetiva inovadora de olhar a avaliação e o progresso do aluno.”

“Agradou-me a nova perspetiva sobre o valor do erro no pro-cesso ensino/aprendizagem.”

“Uma das melhores ações em que participei. Tentarei usar tudo o que aprendi.”

“Esta ação deu-me uma nova visão para a minha prática le-tiva.”

“Tratou-se de uma ação prática e muito útil para a implemen-tação de algumas estratégias nas aulas.”

vendo competências de quem erra. Aliás, a ciência sempre o fez, na busca da verdade. Nes-se processo, perante o erro, um bom professor saberá dar pistas para a compreensão e correção de um erro, que pode ser de sistematização (oca-sional, dado por distração), construtivo (devido a indevida generalização) e sistemático (estrutural, constante). Um capítulo importante abor-dado nas ações de formação – brevemente, pois a tarefa de apresentar em cinco horas uma formação que merecia cinco vezes mais tempo exigiu da formadora e dos participantes um esforço hercúleo de con-cisão – foram os critérios de avaliação, que devem estar definidos não só em termos gerais mas ser também especi-ficados para cada tarefa a rea-lizar. Em prática, segundo uma metáfora extraída da obra “O Pequeno Príncipe” (A. Saint--Exupéry), para se poder ir para um determinado lugar é necessário saber onde se está e que meios utilizar para atingir a(s) meta(s), ou os objetivos traçados. Além disso, para se chegar a objetivos elevados é preciso atingir patamares intermédios, e isso é já um êxito, pois nem todos podem alcançar os níveis máximos de desempenho. Importante é aceitar o desafio de progredir sempre, de forma competitiva, e nunca abandonar a esperança de progredir, sustentando-a de forma concreta. Definir critérios – por vezes, negociando-os com os alu-nos – é fundamental para se poder avaliar. O exemplo de um aluno que apresente um trabalho, por ele (e por ou-tros) considerado excelente mas que não corresponda aos

requisitos traçados por quem o “encomendou” (podendo, por conseguinte, não ter valor), é tão eficaz para documentar a necessidade de estabelecer previamente as regras da sua realização como a hipótese de um professor pedir aos alunos um trabalho sobre um tema in-definido (por exemplo, “sobre o que aprenderam”, ou “que o surpreenda”), que não poderá ser realizado e, muito menos, objetivamente avaliado, não tendo sido definidas as condi-ções para tal. Como não há ati-vidade humana sem intencio-nalidade, é oportuno também definir, e concordar com os alunos, os níveis de desempe-nho, especificando o conteúdo e a forma dos trabalhos pedi-dos. Se é verdade que, por ve-zes, os alunos que mais sabem não são os que “tiram” melho-res notas na escola, o mundo do trabalho é muito exigente e competitivo relativamente ao cumprimento de condições e normas em qualquer campo profissional (exceto se a criati-vidade e capacidade inovadora forem o critério principal de avaliação).Na segunda parte da ação, os participantes trabalharam em grupos de três elementos cada, simulando situações re-ais de conhecimento e aplica-ção da metodologia e filosofia ilustradas pela formadora, apresentando-as depois aos restantes participantes para co-mentários, debate e integração de conteúdos. Foram muitos e diversos os contributos apresentados nesta segunda parte da tarde, com exemplos concretos que mui-to enriqueceram a bagagem cultural dos participantes, particularmente intervenientes e interessados. Não podendo (nem querendo, por razões de espaço) referi-los a todos,

Avaliar…sirva como exemplo o questio-namento oral em contexto de sala de aula: concretamente, sabendo que o papel do profes-sor é o de ser interveniente e proponente, enquanto o aluno é geralmente só interveniente, foram indicados os cuidados a ter na colocação das perguntas e na gestão do processo de as tornar formativas e esclare-cidas as razões pedagógicas para valorizar eventuais res-postas inadequadas do aluno, de modo a nunca o rebaixar, dando-lhe tempo para elabo-rar as respostas e formulando questões de modo a conhecer o seu pensamento e fazendo com que a sua (eventualmente) ele-vada autoestima corresponda a um elevado grau de saber. Neste processo, é importante partir das respostas do aluno (para que ele possa atingir eta-pas sucessivamente superiores de descoberta da “verdade”, e não pretender “impor” a res-posta “certa”, como um mode-lo pré-definido e único e, por conseguinte, inútil para o seu processo de aprendizagem. Boa prática, a este respeito, é pedir que os alunos registem no final, por escrito, as res-postas corretas e verificar que todos o tenham feito, ouvindo a leitura de algumas. Dar op-ções de resposta e solicitar a justificação das mesmas pelos alunos é garantia de aprendi-zagem não só dos conteúdos mas sobretudo um bom méto-do de construção do conheci-mento. O questionamento oral tem sempre que apelar à refle-xão, o que se pode conseguir colocando ao aluno perguntas como… “Achas que…? Não te parece que…? Como che-gaste a essa conclusão?Nesta parte final da reflexão e partilha, que decorreu num ambiente distendido e bem--humorado, falou-se ainda da eficácia dos procedimentos de feedback da avaliação, concre-tamente, da forma como, na correção de trabalhos, o pro-fessor interage com o aluno, por exemplo, limitando-se a colocar a cotação na margem ou deixando dicas para ele se aperceber dos erros ou falhas que cometeu e os poder corri-gir por si próprio. De facto, e fique por aqui esta breve cró-nica, em avaliação formativa nunca se dão juízos de valor: as respostas são sempre um ponto de partida e parte inte-grante do processo de aprendi-zagem.

(Fp)

Bom, começo por me con-gratular pelas quatro horas de franco trabalho, boa disposi-ção e muita partilha.Quando? Como? Para quê? O quê?Tanto a explorar em tão pou-co tempo; hum… nada que não se resolva, uma vez que o grupo esteve lá todo o tempo (sem deserções), com von-tade férrea, para partilhar… a sua “avaliação”. As pistas dadas parecem-me muito consistentes, principalmente quando a tónica da avaliação assenta no apoio à aprendiza-gem. Igualmente interessante foi a forma como a dinâmica em grupo se impôs na ação. Todos a laborarem ativamen-te, com o “erro” a espreitar a qualquer momento; mas não é que a aprendizagem tam-bém se concretiza – “explo-

rando” o erro…Os níveis de desempenho foram-se verificando, decor-rendo claramente de patama-res galgados por uma grupo de formandos que acredita na Avaliação Formativa.Penso que este tempo de partilha criou um clima que potenciou a autonomia, de uma forma descontraída mas bastante empenhada. Um grupo autónomo, com ideias próprias, com uma formado-ra atenta e perspicaz (não são sinónimos…), que permitiu um desbravar de terreno por vezes agreste no que diz res-peito à avaliação.Uma nota final de apreço para o nosso fotógrafo aten-tíssimo e muito perspicaz…A todos – BEM HAJAM!Fernando Ferreira, Psicólogo

“Nunca pensei que fosse possível em simultâneo aprender tanto, em tão pouco tempo e num ambiente tão descontraído!"

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Agradecimento

O professor leva muito a sé-rio a avaliação. Tão a sério que muitas vezes esquece que a mesma é apenas uma das etapas (e provavelmente nem será a mais importante) do fas-cinante mundo da educação. Preocupa-se sobremaneira com momentos de avaliação, processos de avaliação, instru-mentos de avaliação, modali-dades de avaliação… Fichas, testes, provas, exames…Está muito longe do meu pen-samento desvalorizar tudo isto, aliás, tal é o reflexo de séculos de experiências educativas que jamais devemos descurar. Apenas queria chamar a aten-ção para algo que me parece essencial: será que a avaliação se pode sobrepor a tudo o resto no nosso sistema educativo e (passe o paradoxo) ser elevado ao “altar do inquestionável”? Não andaremos nós distraídos daquilo que é fulcral quando nos embrenhamos horas in-findas em grelhas e grelhas de diagnóstico, aferição, monoto-rização, avaliação?Toda esta reflexão vem a propósito de uma ação de formação em que todos nós,

professores, em boa hora par-ticipámos, subordinada preci-samente ao tema “Avaliação: funções e práticas”, magistral-mente dirigida pela professora Margarida Castelão. Foram quatro horas de intensa refle-xão e troca de experiências, em que as pessoas se envolveram de forma entusiasta. Gostei particularmente de ver a ora-dora defender, de forma desas-sombrada, o primado do erro. De facto, só através das falhas se pode corrigir, melhorar, en-fim, aprender de verdade. O estigma de que o erro é alvo é, também na minha opinião, completamente contraprodu-cente visto que impede muitas vezes a discussão, o confronto de ideias e opiniões, ou seja, não nos permite ver o melhor atalho para o conhecimento: o do questionamento partilhado. Quantos de nós não tentámos já por diversas vezes esconder, de forma mais ou menos en-vergonhada, os nossos erros? Quantas vezes não insistimos mesmo no exercício sofista de tentar argumentar uma tese duvidosa através de premissas erróneas, só para não revelar-mos as nossas dúvidas e falhas

“Foi muito útil e enriquecedor a troca de experiências entre os colegas.”

“O que mais me agradou foi a oportunidade de partilha de experiências e a reflexão promovida.”

“O que mais me agradou nesta ação foi a forte motivação para a mudança de práticas enraizadas na avaliação.”

“Tema pertinente, pela perspetiva positiva da avaliação e pela aplicabilidade no quotidiano da prática letiva.”

“Agradou-me o facto de a ação ter sido clara e ter sem dú-vida contribuído para a melhoria da minha prática letiva no futuro.”

“O que mais me agradou foi o envolvimento de todos os for-mandos e a perspicácia da formadora na condução da ação.”

“Agradaram-me os conteúdos expostos, a sua pertinência e a forma como foram apresentados.”

“Fica uma ideia geral de um tema que é muito vasto…. Bom ambiente, simplicidade e clareza.”

perante os outros, sejam alu-nos ou outras pessoas?Pois bem, devemos libertar--nos da ideia comum de que deve transparecer para o alu-no que o professor não erra e raramente tem dúvidas. Se queremos vestir a pele de ver-dadeiros pedagogos devemos, acima de tudo, mostrar a nossa dimensão humana, em qual-quer situação, com todas as virtudes e todos os perigos que isso acarreta. A utopia do co-nhecimento absoluto é vanta-josa enquanto mito, nunca en-quanto objetivo supostamente alcançável.

Tomé Vieira

Terapia do Erro“Avaliação: funções e práticas”

O aluno aprende a justificar, argumentar e a expor as ideias, reestruturando o seu próprio conhecimento. Desenvolve res-ponsabilidade e autonomia. Este processo de avaliação con-tribui para o aumento do interes-se/motivação dos alunos porque o aluno ao estar mais consciente da sua própria aprendizagem, envolve-se mais nela. É o aluno que define aonde está e aonde quer chegar. Por outro lado, é um processo que privilegia e respei-ta diferentes modos de pensar, adaptando-se às situações indivi-duais porque é flexível e aberto à diversidade e pluralidade.Os alunos interiorizam mais fa-cilmente os objetivos e atingem mais assertivamente as metas propostas. A avaliação forma-tiva dá também ao aluno a per-ceção daquilo que é importante aprender, por isso é um processo facilitador de aquisição de pré--requisitos, conhecimentos e competências. Os alunos sabem a opinião do professor antes do trabalho ser definitivo. O pro-cesso é interativo e contínuo, podendo ser sempre melhorado. Isto traduz-se na melhoria do

trabalho final.Os professores percebem melhor as dificuldades do aluno, porque compreendem melhor porque o aluno erra. De facto, a avaliação formativa permite aceder aos processos mentais do aluno e compreender como pensa e que relações estão a ser estabelecidas num dado momento. É também mais fácil para os professores perceber o envolvimento/empe-nho do aluno na aprendizagem/realização de tarefas. A recolha de informação sobre o processo de aprendizagem é facilitada (faz parte do próprio processo). A avaliação formativa permite o desenvolvimento das capacida-des metacognitivas e de pensa-mento crítico. Os alunos durante a autoavaliação refletem acerca do modo como o seu trabalho contempla os critérios estabele-cidos e, analisando a efetividade dos seus esforços, planeiam o seu aperfeiçoamento. Durante a coavaliação o aluno toma cons-ciência das soluções apresenta-das pelos seus pares e apercebe--se da diversidade de soluções e dos seus possíveis erros. É um olhar crítico sobre o que se faz,

enquanto se faz. O aluno toma consciência dos pontos positivos e negativos na estruturação do seu caminho. Aprende planear, recolher, selecionar e analisar in-formação, questionar, sintetizar, relacionar, integrar, avaliar, resol-ver problemas, mobilizar e utili-zar conhecimentos de um ou mais domínios, tomar decisões ade-quadas, justificar essas decisões e a saber comunicá-las. Aprende a refletir sobre as suas escolhas e a avaliar a qualidade do produto a que chega. Sabe que esta não resulta do acaso, mas do cami-nho que traçou e das decisões que tomou. São ativados processos complexos de pensamento. O aluno compreende-reflete mais profundamente, aprende a cons-truir o seu percurso de aprendi-zagem e a ultrapassar obstáculos. O aluno desenvolve a capacidade de comunicar e toma consciência de que o conhecimento é sempre um ato de partilha.A aprendizagem melhora por-que é um desafio constante e os esforços desenvolvidos são estratégicos, porque se chega onde se pretende, à aprendiza-gem proposta. O professor deixa

de estar centrado na tarefa de expor matéria e aparece como facilitador no processo ensino--aprendizagem, porque ensinar neste contexto significa facilitar, gerir e orientar. Há a partilha de responsabilida-des entre o professor e o aluno.

Potencialidades de uma prática de avaliação formativa Os alunos ao serem responsabi-lizados pelas suas aprendizagens tornam-se atuantes e a ação pro-duz resultados. É mais difícil o abandono escolar e o distancia-mento das tarefas propostas.

Margarida Castelão D.

A ação de formação – Avaliação: funções e práticas – foi uma sú-mula de uma ação de formação oferecida pelo GAVE aos profes-sores classificadores em regime e-learning. A Prof.ª Margarida Castelão Dias, docente do CEF e formadora do GAVE, integrou a equipa do GAVE que ministrou, a nível nacional, essa formação em regime e-learning. A direção do CEF achou da maior importância que todos os profes-sores desta escola, e não apenas os professores classificadores, beneficiassem desta mesma for-mação. Deste modo, lançou um desafio à Prof.ª Margarida Caste-lão Dias, convidando-a conceber uma ação sobre esta temática, adaptada à realidade do CEF, para professores não classificadores. É de salientar que foram pedidas as devidas autorizações ao GAVE,

mostrando a direção do GAVE grande apreço pelo interesse de-monstrado pela direção do CEF.Queremos deixar aqui um agra-decimento à direção do CEF por ter sido visionária ao tornar esta ação obrigatória para todos os docentes e um agradecimento ao GAVE por a ter lançado e autori-zado a sua repetição no contexto em que decorreu para os 90 pro-fessores do Centro de Estudos de Fátima.Sirva como reforço deste agra-decimento o comentário de um dos participantes na ação, cujo teor coincide com muitos outros que foram recebidos: “O tema desta ação não me dizia nada. Nunca me teria inscrito, muito menos nesta altura do ano. Ain-da bem que foi obrigatória. Teria sido uma pena, ter perdido esta ação.”

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Como follow-up das ações de formação, Margarida Castelão Dias disponibilizou aos participantes um conjunto de documentos que são ao mesmo tempo um convite a profundar os conteúdos abordados, no-meadamente, entre outros temas, a importância da definição de critérios de avaliação, a coavaliação, autoavaliação e heteroavaliação, outras formas de avaliação formativa [observação, interação professor e aluno, teste em duas fases, relatório escrito e o portefólio], dilemas e desafios da avaliação reguladora. Este último documento inclui uma abundante bibliografia que poderá ser útil a todos e, por isso, incluimo--la aqui quase integralmente.

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Bibliografia e referências sobre avaliaçãoExtraída do documento "Dilemas e desafios da avaliação reguladora" Leonor Santos,

DEFCUL, CIE, DIF, ProjectoAREA