Allan Kardec - A Prece Segundo o Evangelho

Embed Size (px)

Citation preview

  • A PRECESEGUNDO O EVANGELHO

    ALLAN KARDEC

  • A Prece

  • A PRECECONFORME

    O EVANGELHOSEGUNDO O ESPIRITISMO

    DE

    ALLAN KARDEC

    ED IO EM PO RT UG US PELA

    FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA

    FEDERAO ESPRITA BRASILEIRADEPARTAMENTO EDITORIAL

    Rua Souza Valente, 1720941-040 Rio-RJ Brasil

  • 44 edio

    Do original em lngua francesaLVANGILE SELON LE SPIRITISME(Paris, abril, 1864) caps. XVII e XXVII, juntamente com asInstrues de Allan Kardec aos Espritas do Brasil,ditadas ao mdium Frederico Jnior, em 1888 e 1889,na Sociedade esprita Fraternidade; aPrece de Critas, psicografia de W. Krell, eo artigo A Casa de Ismael.

    capa de CECCONI

    B.N. 6.835

    Copyright 1944 byFEDERAO ESPRITA BRASILEIRA(Casa-Mter do Espiritismo)Av. L-2 Norte Q. 603 Conjunto F70830-030 Braslia-DF Brasil

    Departamento Grfico da FEBRua Souza Valente, 1720941-040 Rio, RJ BrasilC.G.C. n 33.644.857/0002-84 I.E. n 81.600.503

    Federao Esprita Brasileirahttp://www.febrasil.org.br

    Produzido por: A Palavra Digitalhttp://www.apalavradigital.com.br

  • 7ndiceINSTRUES DE ALLAN KARDEC AOS ESPRITAS

    DO BRASIL

    I Exortao ao estudo, caridade e unificao ..11II Estudos sobre obsesses ..................................24Concluso ..................................................................43

    A PRECE

    I PEDI E OBTEREIS

    Qualidade da prece .......................................................................46Eficcia da prece ...........................................................................48Ao da prece. Transmisso do pensamento ...............................51Preces inteligveis ..........................................................................56Da prece pelos mortos e pelos Espritos sofredores .....................57

    II INSTRUES DOS ESPRITOS

    Maneira de orar ..............................................................................62Satisfao decorrente da prece......................................................64

  • 8III COLEO DE PRECES ESPRITAS

    Prembulo .....................................................................................66

    A Preces Gerais

    Orao dominical .............................................................69Reunies espritas ............................................................78Para os mdiuns ..............................................................81

    B Preces por si mesmo

    Aos anjos de guarda e aos Espritos protetores ...............85Para afastar os maus Espritos ........................................88Para pedir a corrigenda de um defeito ..............................89Para pedir foras a fim de resistir a urna tentao ...........90Em ao de graas por uma vitria obtida contra uma

    tentao ..................................................................91Para pedir conselhos ........................................................92Nas aflies da vida .........................................................93Em ao de graas por um favor obtido ...........................94Ato de submisso e resignao .......................................95Em perigo iminente ...........................................................97Em ao de graas quando se escapa a um perigo .........98No momento de repouso ..................................................98Prevendo a aproximao da morte ...................................99

    C Preces pelos encarnados

    Por qualquer que se ache em aflio .............................103Ao de graas por um benef c io concedido a

    outrem .................................................................104Em ao de graas pelo bem concedido aos nossos

    inimigos .................................................................106Pelos inimigos do Espiritismo .........................................106

  • 9Por uma criana que acaba de nascer ...........................109Por um agonizante .........................................................111

    D Preces pelos desencarnados

    Por algum que acaba de desencarnar ..........................113Pelas pessoas que nos sejam afeioadas ......................116Pelas almas sofredoras que pedem preces ...................118Por um inimigo morto .....................................................120Por um criminoso ...........................................................121Por um suicida ...............................................................121Pelos Espritos arrependidos .........................................122Pelos Espritos endurecidos ...........................................124

    E Preces pelos doentes e pelos obsidiados

    Pelos doentes .................................................................129Pelos obsidiados ............................................................130

    *

    Prece de Critas .........................................................................137A Casa de Ismael ........................................................................139

  • 11

    INSTRUES DE ALLAN KARDECAOS ESPRITAS DO BRASIL

    I EXORTAO AO ESTUDO, CARIDADEE UNIFICAO

    Paz e amor convosco.Que possamos ainda uma vez, unidos pelos laos da

    fraternidade, estudar essa doutrina de paz e de amor, dejustia e de esperanas, graas qual encontraremos aestreita porta da salvao futura o gozo indefinido eimorredouro para as nossas almas humildes.

    Antes de ferir os pontos que fazem o objetivo da minhamanifestao, devo pedir a todos vs que me ouvis atodos vs espritas a quem falo neste momento que meperdoeis se porventura, na externao dos meuspensamentos, encontrardes alguma coisa que vos magoe,algum espinho que vos v ferir a sensibilidade do corao.

    O cumprimento do dever nos impe usemos delinguagem franca, rude mesmo. Por isso que cada um dens tem uma responsabilidade individual e coletiva e,

  • 12

    para salv-la, lanamos mo de todos os meios que senos oferecem, sem contarmos, muitas vezes, com apobreza da nossa inteligncia, que no nos permite dizeraquilo que sentimos sem magoar, no raro, coraesamigos, para os quais s desejamos a paz, o amor e asdouras da caridade.

    Certo de que ouvireis a minha splica; certo de que,falando aos espritas, falo a uma agremiao de homenscheios de benevolncia, encetei o meu pequeno trabalho,cujo nico fim desobrigar-me de graves compromissosque tomei para com o nosso Criador e Pai!

    Sempre compassivo e bom, volvendo os piedososolhos Humanidade escrava dos erros e das paixes domundo, Deus torna uma verdade as palavras do Cristo, emanda o Consolador o Esprito de Verdade queabertamente fale da revelao messinica a essa mesmaHumanidade esquecida dAquele que foi levado pelas ruasda amargura, sob o peso das iniqidades e dasingratides dos homens!

    Corridos os sculos, desenvolvido intelectualmenteo esprito humano, Deus, na sua sabedoria, achou que erachegado o momento de convidar os homens meditaodo Evangelho precioso livro de verdades divinas at ento ensombrado pela letra, devido deficincia dapercepo humana para compreend-lo em esprito.

    Por toda a parte se fez luz; revelou-se Humanidade o Consolador prometido, recebendo ospovos de acordo com o seu preparo moral e intelectual misses importantes, tendentes a acelerar a marchatriunfante da Boa-Nova!

  • 13

    Todos foram chamados: a nenhum recesso da Terradeixou de apresentar-se o Consolador em nome desse Deusde misericrdia, que no quer a morte do pecador nem oextermnio dos ingratos e sim os deseja ver remidos dosdesvarios da carne, da obcecao dos instintos.

    Sendo assim, a esse pedao de terra, a que chamaisBrasil, foi dada tambm a Revelao da Revelao,firmando os vossos Espritos, antes de encarnarem,compromissos de que ainda no vos desobrigastes. Eperdoai que o diga: tendes mesmo retardado ocumprimento deles e de graves deveres, levados porsentimentos que no convm agora perscrutar.

    Ismael, o vosso Guia, tomando a responsabilidadede vos conduzir ao grande templo do amor e dafraternidade humana, levantou a sua bandeira, tendoinscrito nela Deus, Cristo e Caridade. Forte peladedicao, animado pela misericrdia de Deus, quenunca falta aos trabalhadores, sua voz santa e evanglicaecoou em todos os coraes, procurando atra-los paraum nico agrupamento onde, unidos, teriam a fora doslees e a mansido dos pombos; onde, unidos, pudessemafrontar todo o peso das iniqidades humanas; onde,enlaados num nico sentimento o do amor pudessem adorar o Pai em Esprito e Verdade; onde selevantasse a grande muralha da f, contra a qual viessemquebrar-se todas as armas dos inimigos da Luz; onde,finalmente, se pudesse formar um grande dique ondatempestuosa das paixes, dos crimes e dos vcios queavassalam a Humanidade inteira!

    Constituiu-se esse agrupamento; a voz de Ismael foisentida nos coraes. Mas, semelhana das sementes

  • 14

    lanadas no pedregulho, elas no encontram terra boapara as suas razes, e quando aquele anjo bom aqueleEnviado de Deus julgava ter em seu seio amigos eirmos capazes de ajud-lo na sua grande tarefa, santa eboa, as sementes foram mirrando ao fogo das paixes,foram-se encravando na rocha, apesar de o orvalho damisericrdia divina as banhar constantemente para suavivificao.

    Ali, onde a humildade devera ter erguido tenda, oorgulho levantou o seu reduto; ali, onde o amor deviaalar-se, sublime e esplndido, at junto do Cristo, aindiferena cavou sulcos, justia se chamou injustia, fraternidade dissenso!

    Mas, pela ingratido de uns, haveria de sacrificar-sea gratido e a boa-vontade de outros?

    Pelo orgulho dos que j se arvoraram em mestres nasua ignorncia, havia de sacrificar-se a humildade dodiscpulo perfeitamente compenetrado dos seus deveres?No!

    Assim, quando os inimigos da Luz quando oesprito das trevas julgava esfacelada a bandeira deIsmael, smbolo da trindade divina; quando a voz inquaj reboava no Espao, glorificando o reino das trevas eamaldioando o nome do Mrtir do Calvrio, elerecolheu o seu estandarte e fez que se levantasse pequenatenda de combate com o nome Fraternidade!

    Era este, com certeza, o ponto para o qual deviamconvergir todas as foras dispersas todos os que norecebiam a semente do pedregulho.

    Certos de que acaso palavra sem sentido, etestemunhas dos fatos que determinaram o levantamento

  • 15

    dessa tenda, todos os espritas tinham o dever sagrado devir aqui se agruparem ouvir a palavra sagrada do bomGuia Ismael nico que dirige a propaganda daDoutrina nesta parte do planeta e nico que tem aresponsabilidade da sua marcha e desenvolvimento.

    Mas, infelizmente, meus amigos, no pudestescompreender ainda a grande significao da palavra Fraternidade!

    No um termo, um fato; no uma palavravazia, um sentimento, sem o qual vos achareis semprefracos para essa luta que vs mesmos no podeis medir,tal a sua extraordinria grandeza!

    Ismael tem o seu Templo, e sobre ele a sua bandeira Deus, Cristo e Caridade! Ismael tem a sua pequeninatenda, onde procura reunir todos os seus irmos todosaqueles que ouviram a sua palavra e a aceitaram porverdadeira: e chama-se Fraternidade!

    Pergunto-vos: Pertenceis Fraternidade? Trabalhaispara o levantamento desse Templo cujo lema : Deus,Cristo e Caridade?

    Como, e de que modo?Meus amigos! possvel que eu seja injusto para

    convosco naquilo que vou dizer: o vosso trabalho, feitotodo de acordo no com a Doutrina mas com o queinteressa exclusivamente aos vossos sentimentos, nopode dar bom fruto. Esse trabalho, sem regime, semdisciplina, s pode, de acordo com a doutrina queesposastes, trazer espinhos que dilacerem vossas almas,dores pungentes aos vossos Espritos, por isso que,desvirtuando os princpios em que ela assenta, daisentrada constante e funesta quele que, encontrando-vos

  • 16

    desunidos pelo egosmo, pelo orgulho, pela vaidade,facilmente vos acabrunhar com todo o peso da suainiqidade.

    Entretanto, dar-se-ia o mesmo se estivsseis unidos?Porventura acreditais na eficincia de um grandeexrcito dirigido por diversos generais, cada qual com oseu sistema, com o seu mtodo de operar e com pontos demira divergentes? Jamais! Nessas condies sencontrareis a derrota, porquanto vede bem , o queno podeis fazer com o Evangelho: unir-vos pelo amordo bem, fazem os vossos inimigos, unindo-se pelo amordo mal!

    Eles no obedecem a diversas orientaes, nemcolimam objetivos diversos; tudo converge para aDoutrina Esprita Revelao da Revelao que nolhes convm e que precisam destruir, para o queempregam toda a sua inteligncia, todo o seu amor domal, submetendo-se a uma nica direo!

    A luta cresce dia a dia, pois que a vontade de Deus,iniciando as suas criaturas nos mistrios da vida dealm-tmulo, cada vez mais se torna patente.Encontrando-se, porm, os vossos Espritos em face daDoutrina, no estado precrio que acabo de assinalar,pergunto: Com que elemento contam eles, os vossosEspritos, na temerosa ao em que se vo empenhar,cheios de responsabilidade?

    Em que canto da Terra j se ergue o grandetabernculo onde ireis elevar os vossos pensamentos; emque canto da Terra construstes a grande muralha contraa qual se ho de quebrar as armas dos vossosadversrios?

  • 17

    Ser possvel que, semelhana das cinco virgenspouco zelosas, todo o cuidado da vossa paz tenhaisperdido? Que conteis com as outras, que no dormem eque ansiosamente aguardam a vinda do seu Senhor?

    Mas, se assim, em que consiste o aproveitamentodas lies que constantemente vos so dadas a fim detornar uma verdade a vossa vigilncia e uma santidade avossa orao?

    Se assim , onde os frutos desse labor fecundo detodos os dias, dos vossos amigos de alm-tmulo?

    Acaso apodreceram rodos pela traa tocadospelo bolor os vossos arquivos repletos de comunicaes?

    Onde, torno a perguntar, a segurana da vossa f, aestabilidade da vossa crena, se, tendo uma nicadoutrina para apoio forte e inabalvel, a subdividis, amultiplicais ao capricho das vossas individualidades,sem contar com a coletividade que vos poderia dar afora, se constitusseis um elemento homogneo,perfeitamente preparado pelos que se encarregam darevelao?

    Mas, onde a vantagem das subdivises? Onde ointeresse real para a Doutrina e seu desenvolvimento, nadisperso que fazeis do vosso grande todo, dando j,desse modo, um pssimo exemplo aos profanos, por issoque pregais a fraternidade e vos dividis cheios dedissenses?

    Onde as vantagens de tal proceder? Estaro nadiversidade dos nomes que dais aos grupos? Por queisso? Ser porque este ou aquele haja recebido maiordoao do patrimnio divino? Ser porque convenha propaganda que fazeis?

  • 18

    Mas, para a propaganda, precisamos dos elementosconstrutivos dela. Pergunto: onde a escola dosmdiuns? Existe?

    Porventura os homens que tm a boa-vontade deestudar convosco os mistrios do Criador, preparandoseus Espritos para o ressurgir da outra vida, encontramem vs os instrumentos disciplinados os mdiunsperfeitamente compenetrados do importante papel querepresentam na famlia humana e cheios dessa seriedade,que d uma idia da grandeza da nossa Doutrina?

    Ou a vossa propaganda se limita to-somente a falardo Espiritismo? Ou os vossos deveres e as vossasresponsabilidades individuais e coletivas se limitam a dara nota do ridculo queles que vos observam julgando-vos doidos e visionrios?

    Meus amigos! Sei quanto doloroso tudo isto quevos digo, pois que cada um dos meus pensamentos umador que atinge profundamente o meu Esprito. Sei que asvossas conscincias sentem perfeitamente todo o peso dasverdades que vos exponho. Mas, eu vos disse aocomear: temos responsabilidades e compromissostomados, dos quais procuramos desobrigar-nos por todosos meios ao nosso alcance!

    Se completa no est a minha misso na Terra; semereo ainda do Senhor a graa de vir esclarecer adoutrina que a me foi revelada, dando-vos novosconhecimentos compatveis com o desenvolvimento dasvossas inteligncias; se vejo que cada dia que passa davossa existncia iluminada pela sublime luz darevelao, sem produzirdes um trabalho altura da graaque vos foi concedida um motivo de escndalo para

  • 19

    as vossas prprias conscincias; devo usar destalinguagem rude de amigo, a fim de que possais,compenetrados verdadeiramente dos vossos deveres decristos e de espritas, unir-vos num grande agrupamentofraterno, onde avigorados pelo apoio mtuo e pelaproteo dos bons possais enfrentar o trabalhoextraordinrio que vos cumpre realizar paraemancipao dos vossos Espritos, trabalho queinegavelmente ocasionar grande revoluo naHumanidade, no s quanto parte da Cincia e daReligio, mas tambm na dos costumes!

    Uma vez por todas vos digo, meus amigos: Osvossos trabalhos, os vossos labores no podem ficar noestreito limite da boa-vontade e da propaganda, sem osmeios elementares indicados pela mais simples razo.

    No vem absolutamente ao caso o reportar-vos spalavras de Jesus-Cristo quando disse que a luz no sefez para ser colocada debaixo do alqueire. No vem aocaso e no tem aplicao, porque no possuis luzprpria!

    Fazei a luz pelo vosso esforo; iluminai todo o vossoser com a doce claridade das virtudes; disciplinai-vospelos bons costumes no Templo de Ismael, templo ondese adora a Deus, se venera o Cristo e se cultiva aCaridade. Ento, sim; distribu a luz, ela vos pertence!

    E vos pertence, porque um produto sagrado dovosso prprio esforo, uma brilhante conquista do vossoEsprito empenhado nas lutas sublimes da Verdade.

    Fora desses termos, podeis produzir trabalhos quecausem embriaguez vista, mas nunca que, falem

  • 20

    sinceramente ao corao. Podeis produzir emoesfortes, por isso que muitos so os que gostosamente seentregam ao culto do maravilhoso; nunca, porm,deixaro as impresses suaves da Verdade vibrando ascordas do amor divino no grande corao humano.

    Fora dessa conveno ortodoxa, possvel que asplantas cresam nos vossos grupos, mas bem possvelque tambm seus frutos sejam bastante amargos, bastantevenenosos, determinando, ao contrrio do que deviaacontecer, a morte moral do vosso Esprito adestruio, pela base, do vosso Templo de trabalho!

    Se o Evangelho no se tornar realmente em vossosespritos um broquel, quem vos poder socorrer, uma vezque a Revelao tende a absorver todas as conscincias,emancipando o vosso sculo? Se o Evangelho nas vossasmos apenas tem a serventia dos livros profanos, quedeleitam a alma e encantam o pensamento, quem vospoder socorrer no momento dessa revoluo planetriaque j se faz sentir, que dar o domnio da Terra aosbons, preparados para o seu desenvolvimento, queocasionar a transmigrao dos obcecados e endurecidospara o mundo que lhes for prprio?

    Que ser de vs quem vos poder socorrer se, lmpada do vosso Esprito, faltar o elemento de luzcom que possais ver a chegada inesperada do Cristo,testemunhando o valor dos bons e a fraqueza moral dosmaus e dos ingratos?

    Se fostes chamados s bodas do filho do vosso Rei,por que no tomam os vossos Espritos as roupagens

  • 21

    dignas do banquete, trocando conosco o brinde do amor eda caridade pelo consrcio do Cristo com o seu povo?

    Se tudo est preparado, se s faltam os convivas,por que cedeis o vosso lugar aos coxos e estropiados que,ltimos, viro a ser os primeiros na mesa farta dacaridade divina?

    Esses pontos do Evangelho de Jesus-Cristo, apesarda Revelao, ainda no provocaram a vossa meditao?

    Esse eco que reboa por toda a atmosfera do vossoplaneta, dizendo Os tempos so chegados! ser umgracejo dos enviados de Deus, com o fim de apavorar osvossos espritos?

    Ser possvel nos preparemos para os tempos quechegam, vivendo cheios de dissenses e de lutas, como seno constitussemos uma nica famlia, tendo pararegncia dos nossos atos e dos nossos sentimentos umanica doutrina?

    Ser possvel nos preparemos para os tempos quechegam, dando a todo momento e a todos os instantes anota do escndalo, apresentando-nos aos homens sob oaspecto de homens cheios de ambies, que no trepidamem lanar mo at das coisas divinas para o gozo dacarne e satisfao das paixes do mundo?

    Mas seria simplesmente uma obcecao do Esprito pretender desobrigar-se dos seus compromissos epenetrar, no reino de Deus, coberto dessas paixes edessas misrias humanas!

    Isso eqivaleria no acreditardes naquilo mesmo emque dizeis crer; seria zombar do vosso Criador que, no

  • 22

    exigindo de vs sacrifcio, vos pede, entretanto, notransformeis a sua casa de orao em covil de ladres!

    Meus amigos! Sem caridade no h salvao semfraternidade no pode haver unio.

    Uni-vos, pois, pela fraternidade, debaixo das vistasdo bom Ismael, vosso Guia e Protetor. Salvai-vos pelaCaridade, distribuindo o bem por toda a parte,indistintamente, sem pensamento oculto, queles que vospedem lhes deis da vossa crena ao menos umtestemunho moral, que os possa obrigar a respeitar emvs o indivduo bem-intencionado e verdadeiramentecristo.

    Sobre a propaganda que procurais fazer,exclusivamente para chamar ao vosso seio maior nmerode adeptos, direi se os meios mais fceis que tendesencontrado so a cura dos vossos irmos obsessos, so asvisitas domicilirias e a expanso dos fluidos aitendes um modesto trabalho para vossa meditao eestudo.

    E, lendo, compreendendo, chamai-me todas asvezes que for do vosso agrado ouvir a minha palavra e euvirei esclarecer os pontos que achardes duvidosos virei, em novos termos, se preciso for, mostrar-vos queesse lado que vos parece fcil para a propaganda daDoutrina o maior escolho lanado no vosso caminho a pedra colocada s rodas do vosso carro triunfante ser, finalmente, o motivo da vossa queda desastrosa,se no souberdes guiar-vos com o critrio exigvel dequantos se empenham numa to grande causa.

    Permita Deus que os espritas a quem falo, que oshomens a quem foi dada a graa de conhecer em esprito

  • 23

    e verdade a Doutrina do Cristo, tenham a boa-vontade deme compreender a boa-vontade de ver nas minhaspalavras unicamente o interesse do amor que lhesconsagro.

    Allan Kardec

  • 24

    II ESTUDOS SOBRE OBSESSES

    Paz e Amor! Diante da grande responsabilidade queassumimos para com o nosso Criador, quando noscomprometemos a defender a Doutrina do seu amadoFilho, selada com o seu prprio sangue no cimo doCalvrio, para redimir as culpas dos homens; diante doscompromissos tomados pelo nosso prprio Esprito, certoento de triunfar da carne e suas paixes; de estabelecerna Terra o reino do amor e da fraternidade das criaturas;em face das lutas que crescem dia a dia, mais escabrosotornando o caminho da vossa existncia em via deregenerao, elevo o meu pensamento ao Ser dos Seres,ao nosso Criador e Pai, e suplico, em nome da caridadedivina, que se estendam as asas do seu amado Filhosobre a Terra, colocando-vos sombra do seu Evangelho garantia nica da vossa crena segura estabilidadeda vossa f!

    Amigos! Ainda h pouco, atravessando com osolhos do Esprito o reinado das trevas, raciocinandosobre os fatos que atormentam a Humanidadeconstantemente, reconheceis a necessidade do perdodas ofensas, de pagar com benefcios os malefcios, de

  • 25

    responder ao dio com o amor, reconheceis anecessidade que o homem, revestido de um Mandatumto santo sobre a Terra, tem da virtude e dos altossentimentos que o nobilitem aos olhos do seu Criadorpara, desassombrado, empenhar-se na tremenda luta daLuz contra as trevas, em nome do Cristo o Mestre, oModelo, o Redentor.

    Com efeito, louco seria aquele que, reconhecendonos sofrimentos alheios a plena execuo da justia deum Deus clemente e misericordioso, tentasse apazigu-los apenas com palavras seno vazias de sentido baldas completamente do sentimento cristo.

    Louco seria quem, sem as armas que lhe do aspalavras de Jesus, se entregasse a essa luta inglria,agravando quem sabe! os sofrimentos e as doresdaqueles por quem se dispe a lutar.

    Compreendeis que vos falo dos obsessos, dessesinfelizes irmos que encontrais a todo momento e quedespertam a vossa curiosidade ou os vossos sentimentos.Falo dessas vtimas de erros e faltas que escapam vossapercepo e aos quais, olhando-os com olhos piedosos,procurais ministrar a palavra consoladora o blsamosanto da caridade divina.

    Se fora possvel, a todos os que estremecem diantedesses quadros horrorosos, praticar o jejum de que falavaJesus aos seus apstolos; se fora possvel a cada umcompreender o papel de verdadeiro sacerdote, de que seacha incumbido, quando procura repartir a hstiasagrada, no altar de Jesus, com seus irmos da Terra; sefora possvel a elevao de vistas sobre estes fatos, emque a justia de Deus se manifesta e, qui, o prprio

  • 26

    arrependimento daquele cujo sofrimento tanto comove,certamente a tristeza no invadiria a vossa alma, adesiluso no perturbaria a vossa crena, a dor nodominaria os impulsos da vossa f!

    Quereis os fins, procurai os meios. Os fins quevisais so bons, empregai os bons meios compreendendo sempre, constantemente, que Deus velasobre todas as suas criaturas e que at os cabelos de cadauma esto contados.

    Compreendei o que quer dizer Misericrdia;compreendei o que quer dizer Justia!

    No entra nas questes altamente divinas que essasduas palavras encerram, isso a que chamais na Terra boa-vontade, assim mesmo desmentida, muitas vezes,pela direo que dais aos vossos atos e s vossas aes.

    Compreendei a imutabilidade da lei de Deus; elapode ter a sua execuo sustada, mas nunca revogada.

    A execuo sustada quando no a boa-vontade,mas o amor de suas criaturas, os eflvios santos dacaridade lhe sobem nas asas de uma prece e vo chorarjunto do seu poder misericordioso. Ento, ele apazigua ossofrimentos temporariamente, por isso que o princpio dajustia prevalece sempre, distribuindo a cada umsegundo as suas obras.

    Compete, pois, ao verdadeiro esprita, ao verdadeiroimitador de Jesus, munir-se dos meios santos e purospara chegar a fins to divinos e to sagrados. Fazer pormerecer eis a grande questo!

    Deus bom; procuremos, ao menos, no ser maus.Deus a misericrdia; procuremos, na medida das

  • 27

    nossas foras, repartir com os nossos semelhantes noos lodos da alma, que desbotam os sentimentos mas oamor que bebemos no grande Jordo do Evangelho,lavando-nos de culpas e de erros do passado.

    Humildes, caridosos, vereis claro o vosso rumo;podereis, como o disse Jesus, levantar os paralticos, darvista aos cegos, quais os Apstolos que no limitavam oseu amor ao Mestre s boa-vontade, mas o estendiam prtica das boas aes.

    Humildes e caridosos, no caireis nos barrancoscom aqueles que conduzirdes pela mo. Humildes ecaridosos, podereis trancar a casa varrida e ornada,derrotando as potestades malvolas que hoje vosintimidam, porque (infelizes que sois!), de posse doEvangelho, vos encontrais sem foras!

    Sim! Invoquemos com amor a graa de Jesus,supliquemos com humildade a misericrdia de Deus, paraque, de posse do Evangelho, recebamos a sua fora possamos dar batalha a todos os sentimentos que no falemdo seu nome, propagar pelo exemplo a sua palavra, nicomeio de chegarmos ao nosso desiderato sem agravar aresponsabilidade, que porventura atualmente pese sobre cadaum de ns, na distribuio da sua doutrina.

    Invoquemos o seu amor para que tenhamos fora nocorao e luz na inteligncia, para que nos esclarea osditames da conscincia no terreno calmo e sereno onde oEsprito vai, segundo a sua palavra, fecundando as boassementes pelo trabalho contnuo das aes, com a enxadadas virtudes.

    Procuremos por essa graa, que invocamos, dar ojusto valor ao sentimento a que chamamos caridade

  • 28

    chave com que abrimos as portas do cu , isto : chavecom que alcanamos a paz da conscincia, o templo doamor, o sacrrio da justia, o tabernculo da f!

    Procuremos dar justo valor a esse sentimento, quetalvez profanemos, consciente ou inconscientemente, ecom a profanao do qual perturbamos a paz, aserenidade da justia, que se cumpre no pela vontadedos homens, mas pela vontade de Deus, de acordocom a lei que, emanada da sua sabedoria e do seu amornunca desmentidos, distribui a cada um segundo as suasobras.

    Perguntemos a ns mesmos, para que a nossaconscincia responda, se a caridade, essa virtude divina,exclui porventura a prudncia, a razo, quando sabemospreviamente que tudo tem sempre uma razo de ser, quetudo se faz pela vontade de Deus!

    Perguntemos a ns mesmos, sempre que osentimento da filantropia, que se aninha em nosso ser eque supomos ser o da caridade, nos permite momentos demeditao, sugerindo-nos consideraes sociais epessoais, modelando mesmo os coraes nos estreitosmoldes dos prejuzos do mundo, sempre que aquelesentimento no receba de ns e espontaneamente osimpulsos da f, os alentos da esperana e a certeza deque caridade o que se quer realizar; perguntemos a nsmesmos se h em nosso ntimo sentimentos to grandes eto divinos que possam suplantar o amor de Deus scriaturas!

    Perguntemos nossa razo e nossa inteligncia seacima das nossas cabeas, onde fermentam, s vezes,idias bastante pecaminosas, existe um vu to denso e

  • 29

    to impenetrvel que no possa ser atravessado pelosolhos de Deus, que tudo v, tudo sente!

    Meus amigos! Chamo bastante a vossa ateno paraesta passagem da minha plida comunicao, falando-vos da caridade em face das obsesses. Chamo a vossaateno, porque quero deixar firmado um princpiorelativo s vossas condies, a fim de vos poupardesgostos e, talvez, revoltas, quando, sem saberdes dar overdadeiro peso s inconseqncias dos vossos atos, simprudncias das vossas aes permiti que vos faleassim pretendeis chegar a grandes fins, usando delimitados meios.

    No vos probo e seria uma aberrao do meuEsprito proibir-vos tratar de obsesses. Notai bem! oque condeno, se condenar possa alguma coisa em nomeda Doutrina, que, a pretexto de caridade, caridadegeralmente falada e poucas vezes sentida vosexponhas a conflitos com o esprito das trevas, perturbeisa justia de Deus que se realiza nos vossos semelhantes eagraveis, por conseqncia, a responsabilidade do vossoEsprito, por isso que muitas vezes, nesses tentames,longe de distribuirdes os sazonados frutos do Evangelho,distribuis os agudos espinhos da dor e do martrio!

    A caridade que exclui a razo, a prudncia e o bom-senso a verdadeira caridade instintiva!

    No argumentemos com ela. Essa caridade constituia poderosa fora da alma, que j no conhece restriesno infinito.

  • 30

    No argumentemos com ela, que, sendo averdadeira caridade, no discute conosco. Pela suapureza, paira numa regio que no podemos ainda tocar.Ela se orvalha da Misericrdia Divina, participa dobafejo do Criador, grande, imensa, no podemosmedi-la.

    Mas a caridade que obriga o Esprito a cogitar dosmeios, a caridade que discute, que atende aconsideraes sociais e prejuzos, essa caridade antessentimento filantrpico precisa ser analisada, precisaser medida para servir de norma nossa conduta sobre aTerra, na distribuio das palavras do Evangelho, nadepurao dos vossos Espritos, at que possais chegar aofim, ao desejado porto, que Jesus nosso Mestre enosso amigo.

    imprescindvel o estudo do obsesso, em quemvamos operar o trabalho que nos reclama a filantropia docorao: estudo fisiolgico e patolgico, estudo dascausas determinantes dos sofrimentos que nos comovem;estudo do meio em que vamos atuar; dos sentimentosreligiosos daquele a quem pretendemos curar; das suasqualidades morais; dos seus princpios; da sua educao,do tempo, de tudo, finalmente, que possa concorrer paranossa orientao no trabalho que pretendemos fazer.Nesse estudo srio, seguro, que podemos encontrar ofio de Ariadne que nos guiar na obra de salvao doinfeliz irmo, ovelha desgarrada, na frase do Evangelho para a qual seremos o pastor, mas com os sentimentosdo pastor.

    A palavra s deve entrar na casa do obsesso comocoisa secundria; o que lhe devemos levar so

  • 31

    sentimentos, so qualidades morais que se imponham: a f do verdadeiro Levita, a seriedade do verdadeiroSacerdote!

    E no h fugir desse pensamento, e no h fugirdesse princpio, quando a razo nos diz que vamoscolocar-nos entre a justia de Deus e um infeliz quevamos colocar o nosso corao como antemural vontade do Eterno, que tudo v, tudo sente.

    No h fugir dessa doutrina, quando sabemos quede Deus so completamente desconhecidas as frmulasda boa-vontade e que nos seus domnios s pode penetraro esprito da f.

    Curar! Quem no procura curar?Suavizar os sofrimentos alheios, participar as dores

    dos seus semelhantes, beber no clice das suasamarguras; quem no o procura fazer?

    Todos quantos tm o sentimento cristo todos osque no pulverizam os sentimentos do amor, inato nocorao das criaturas e a colocado pela mo de Deus!

    Mas, que todos se revejam no Mestre; que todos selembrem de suas palavras quando, procurado pelos enfermose obcecados, do corpo e do esprito, lhes dizia no convir quese curassem, porque no convinha, na linguagem doEsprito, fossem agravar suas responsabilidades, fazendomau uso de uma graa recebida. Ainda mais: noconvinha se curassem porque necessitavam das provaes edas expiaes para se elevarem aos ps de Deus, o que noconseguiriam com a sade do corpo, mas, sim, com a sadedo Esprito.

    Amigos! Deixo-vos, para repouso do aparelho queme serve, e no continuarei enquanto no me honrardes,

  • 32

    solicitando o meu concurso para o vosso estudo. Rogo-vos, como verdadeiro amigo, me interrogueis sobre ospontos que porventura no puderdes aceitar, para que eu,com os elementos de que disponha no vosso mdium, mefaa melhor compreender, ou seja por vs esclarecido.

    Sinto-me bem no meio de amigos que procuram

    comigo investigar a verdade necessria ao progresso daHumanidade, e isso sem os preconceitos e os prejuzosque desvirtuam um estudo que deve ser feito comhumildade e verdadeiro interesse.

    Da comunicao apresentada ao vosso estudocrtico, procuremos tirar as necessrias premissas e suasconseqncias imediatas.

    Deixando de parte a forma, que nada interessa questo de que tratamos, vejamos o que podemosencontrar no fundo, que aproveite aos nossos Espritosvidos de luz e de novos conhecimentos.

    Primeira questo: Deve o esprita tentar a curade obsesses, quando sabe previamente que tudo tem asua razo de ser que tudo feito pela vontade de Deus e que at os cabelos da cabea de cada um estocontados?

    Responderei, como regra absoluta: Sim!

    Segunda questo: Pode o esprita, cnscio da suafraqueza, da deficincia da sua fora moral, ir aoencontro dos obsessos, procurando salv-los daperseguio, da dor e do sofrimento que os comovem?

  • 33

    Ainda respondo: Sim! tambm como regraabsoluta.

    Terceira questo: Mas deve o esprita, levadoto-somente pelo conhecimento que tem da Doutrina epela esperana da graa que h de receber, tentar a cura,desprezando os meios aconselhados?

    No!E isso, meus amigos, pela simples razo de no ser

    admissvel colocar-se cabeceira de um enfermo ummdico que ignore completamente a Medicina!

    De igual modo que o mdico, que trata do corpo,no cura apenas com a sua boa-vontade, mas procura osmeios teraputicas para combater a enfermidadedenunciada pelo estado patolgico do enfermo, assim oesprita, mdico que deve ser da alma, tem que procuraros meios adequados higiene da alma para cur-la,debelando as causas determinantes do mal que oentristece e lhe desperta a vontade de praticar o bem.

    Admitir que do simples encontro de um espritacom um obsesso pudesse resultar o afastamento do algoze a garantia da vtima, fora admitir um capricho daDivindade, suscetvel de ser desfeito ao primeiro gestohumano.

    Mas, se Deus justo, se Deus misericordioso e seningum o pode exceder em sentimento de caridade,compreendereis a impossibilidade de qualquer tentativanesse sentido; compreendereis, ainda mais, aresponsabilidade que advm, para o vosso Esprito, daprofanao das coisas santas, sujeitas justia de Deus!

  • 34

    Falando do sentimento que muitas vezes vos fazestremecer a alma e que supondes ser o da caridade, porisso que no podeis ainda compreender a grandeza e asantidade deste sentimento, deixei perceber a todos vsque melhor seria lhe chamssemos sentimentofilantrpico, sentimento este que, no sendo a caridade,mas o seu princpio a desabrochar no vosso Esprito, novos inibe contudo, de tratar dos vossos irmos vtimas deobsesses, desde que, com prudncia, com critrio e coma razo, saibais dar direo aos vossos atos defilantropia, exercitando assim o vosso Esprito na prticado bem, proporcionando-lhe dia a dia novas foras enovas luzes para o seu alevantamento moral, e para oprogresso da Doutrina.

    Quando o esprita tem f, mas f sentida; quando oesprita tem amor, mas amor esclarecido; quando oesprita tem caridade, mas a caridade provada, vai, semcogitaes estranhas, ao encontro dos que sofrem e, aexemplo do Mestre e dos Apstolos, expele os demnios,d vista aos cegos e faz andar os paralticos.

    Quando, porm, o esprita apenas por tradioconhece esses sentimentos; quando o primeiro a terconscincia da fraqueza de sua alma para se fazer deantemural entre a justia de Deus e o sofrimento do seusemelhante; quando, apesar de tudo isso, aspira o que muito natural , deseja o que nobre chegar condio daquele que possui os grandes sentimentos daalma, o esprita no pode deixar de ser prudente,criterioso e sensato, procurando os meios de suprir ossentimentos que lhe faltem na alma, a fim dedesempenhar o seu dever de cristo e de esprita.

  • 35

    neste ponto que intervm o estudo fisiolgico epatolgico das causas determinantes do sofrimento, oestudo do meio onde se vai agir, do tempo, de tudo,finalmente, que respeita ao trabalho que se tem de fazer.

    O esprita, diante do obsesso, est diante dodesconhecido, e, de igual modo que nenhum homem seaventura a explorar certa zona desconhecida, sem fazer onecessrio reconhecimento para caminhar comdesassombro e abrir a sua estrada, assim tambm esseestudo patolgico das causas determinantes dosofrimento constitui o reconhecimento necessrio aotrabalho que se vai tentar, por isso que nele se encontramos elementos substitutivos da f que opera a remoo dasmontanhas do amor que faz a unificao das almas da caridade que se distende por todo o infinito!

    Princpio invarivel: Em todos os casos deobsesso h sempre um estado mrbido a combater estado mrbido esse que causa ou efeito.

    Sendo assim, o estudo fisiolgico imprescindvel,meus amigos, os meios teraputicas so mais quenecessrios, por isso que se trata de entrar num jogo se assim me posso exprimir de desequilbrio de rgosdesmantelados pela absoro de fluidos que tm alteradoa economia peculiar a cada ser.

    Restabelecer os rgos, traz-los s funesnormais, um trabalho tanto mais necessrio quantosabemos que, s vezes, a sua desorganizao quepermite o estabelecimento do lao entre o obsessor e oobsesso. Isso quanto parte fisiolgica.

    Quanto parte moral, porque o vosso fito sejarestabelecer o obsidiado, no podeis, contudo, abandonar

  • 36

    o obsessor que tendes diante de vs e que, por mau, nempor isso deixa de ser vosso irmo e de estar debaixo damisericrdia de Deus. Por convir sejam concomitantes ascuras de ambos, que se torna impossvel, simplesmentepela boa-vontade, obter a graa que muitas vezes idesinvocar da misericrdia e do amor do Altssimo.

    Sem dvida, Deus, na sua sabedoria e vontade,pode, num dado momento, afugentar todas as legies demaus Espritos. Mas, se Deus no quer a morte dopecador e sim que ele se salve, Deus no permite que,pela simples evocao do seu nome, se restabelea umque precisa sofrer e expiar faltas cometidas, e se lancems trevas, ao desespero, outros, que tambm so filhos eque se no o amam porque o no conhecem!

    Assim, pois, o bem deve ser feito indistintamente,seja qual for o terreno em que houvermos de o praticar.Mas, nem o prprio bem pode excluir a nossa razo,quando, tratando-se da justia de Deus, pretendemoscontrari-la.

    O Pai ama seus filhos e abre seu amoroso seio areceb-los, quando os filhos sabem ir a Ele. Deusapazigua os males da Humanidade; Deus retira a espadada sua justia de sobre a cabea dos seus filhos; porm,somente quando da alma destes mesmos filhos brota,santificado, o doce eflvio da caridade divina, cujosgermes foram ali depositados para se desenvolverem evoltarem ao seu seio.

    Se tendes f, se tendes amor, se tendes caridade,cerrai os olhos, marchai mesmo para o desconhecido eproduzireis assombros!

    Se tendes paixes, se tendes vcios, se tendescrimes, sede prudentes. Marchai tmidos, reconhecei o

  • 37

    terreno em que pisais, cercai-vos dos meios necessriosao vosso empreendimento e curai obsidiados e obsessorespela graa do Senhor, que reconhece a vossa humildade eo vosso firme desejo de praticar o bem, apesar de serdespequeninos.

    Meus amigos! no quero fatigar a quem me serveto passivamente. Que Deus em seu infinito amorpermita, por intermdio dos vossos Guias, possais terbem claro o vosso entendimento para compreenderdes no os conselhos do mestre, e sim as provas de amizadeque vos d o vosso amigo e irmo.

    Bendito seja o Senhor, que permite a um pobre

    Esprito, desejoso de luz e de progresso, vir junto de seusirmos da Terra expender plidos pensamentos doutrinrioscom o fim justo no de ensinar mas de permutar comeles os sentimentos que lhe vo na alma, estabelecendo destasorte o lao da amizade espiritual prenncio indubitveldo amor a que tendemos.

    Voltando s comunicaes apresentadas ao vossoexame, procuremos ainda tirar as conseqncias daspremissas formuladas, completando o nosso estudorelativamente cura das obsesses.

    Ficou estabelecido que aquele que tem a f, conforme aqueria Jesus, isto , a do gro de mostarda no precisa defrmulas e cuidados prescritos pela patogenesia para areabilitao dos enfermos da alma e do corpo.

    Ficou tambm estabelecido que aquele que sereconhece fraco espiritualmente; aquele em que se podemapontar erros e culpas no se deve levar simplesmente

  • 38

    pela boa-vontade, esperando da graa do Senhor aquilo ques pode conquistar pelo esforo prprio, no trabalhoconsecutivo e cotidiano do aperfeioamento das suas funesespirituais, por isso que disse eu , a admitir-se hiptesecontrria, teramos, no um Deus justo e bom, mas um Deuscaprichoso e suscetvel dos erros e crimes das suas prpriascriaturas.

    Ficou tambm estabelecido que uma necessidade oexame patolgico do enfermo, por isso que h sempreum estado mrbido a combater estado mrbido quepode ser a causa da obsesso, mas que tambm pode serefeito desta.

    So duas coisas distintas, meus amigos, cada qualrequerendo tratamento especial, porquanto no primeirocaso a vossa ao se deve exercer toda sobre o obsidiado,ao passo que no segundo deve ser toda exercida sobre oobsessor.

    O estudo patolgico tanto mais necessrio econveniente se torna aos nossos olhos, quantoprecisamos conduzir-nos com todo o critrio na vida derelao, com todo o bom-senso na vida social vida derelao, vida social onde as molstias, mal ou bem, estoclassificadas e conhecidas onde seria um desar para aDoutrina confundir a encefalite, a esplenite, a mielite, ohisterismo e a epilepsia com a presena de Espritosobsessores, aos quais pretendeis levar a luz, o conselhosalutar, o restabelecimento, finalmente.

    Bem compreendeis que, na hiptese de uma dessasmolstias, natural haja sempre influncias estranhas,que se aproveitam do estado mrbido, mas no isso oque realmente se pode chamar obsesso.

  • 39

    Em tal caso, feito o tratamento com os agentesteraputicos, tem-se o restabelecimento dos rgos, avolta da sade: cessando a causa, cessam os efeitos.

    Entretanto, quando os rgos so levados aodesequilbrio pela absoro de fluidos, pela presenaconstante do Esprito que obsidia, o tratamento deveconvergir todo para a causa estranha que se apresentadeterminando as desorganizaes mentais, a perda davontade, o aniquilamento do livre-arbtrio.

    nesse ponto que quase sempre vos encontraisfracos; nesse trabalho mecnico por isso que umtrabalho todo de fluidos que vos encontrais em sriosembaraos, sofrendo, quem sabe, muitas vezesdesfalecimentos que vos levariam descrena, aoabandono da Doutrina de Jesus, se os vossos Guias novos viessem tocar a conscincia, mostrando aimprocedncia dos vossos raciocnios, que vos impelem avos julgardes alucinadamente superiores a Deus.

    Assim como para combater uma causa fsica seantepe uma fora fsica, assim tambm para combateruma causa moral preciso antepor-lhe a fora moral.

    Sendo certo que o Esprito obsidiado tem o seuperisprito impregnado, saturado de fluidos maus eperniciosos, deveis, pela potncia da vontade, produzir otrabalho que nada tem de material ou mecnico e queconsiste em lhe antepor fluidos puros e salutares; e essapureza, essa salubridade dos fluidos s pode vir dasuperioridade moral do vosso eu superioridade moralque vos d autoridade a que nenhum Esprito pode

  • 40

    resistir, pois que no h em absoluto a homogeneidadeque permitiria o exerccio de fora contrria Lei, e vsestareis dentro da Lei!

    Eis por que eu disse que convinha toda a prudnciaao vos conduzirdes nesses trabalhos espinhosos, porque ohomem, que no tem consigo elementos de salvao, nose atira sobre as ondas do oceano revolto que o podesorver, que o pode tragar no seu seio tempestuoso.

    A boa-vontade pode ser um meio, mas no tudo.O homem que quer destruir a montanha no cruza

    os braos, limitando-se a dizer a Deus, ou Natureza,que tem vontade de que a montanha seja destruda: vaibuscar a ferramenta, trabalha at mortificao docorpo, cava a rocha e faz a destruio.

    Tendes boa-vontade de curar, justo, eu j o disse.Mas a obsesso uma montanha extraordinria depaixes e sentimentos desordenados, para cuja destruioprecisais das ferramentas do amor, das ferramentas dahumildade e da verdadeira abnegao.

    Se o vosso Esprito comporta todos essessentimentos grandes; se a vossa alma pode absorver todaa doutrina emanada do Evangelho de Jesus; por que noo dilatar de todo?

    Por que no amar por que no ser humilde,desde que sabeis que s o amor e a humildade darocapacidade moral para produzir os assombros obtidospelos Santos Apstolos quando, em nome do DivinoMestre, iam de cidade em cidade, de aldeia em aldeia,pregando a sua doutrina limpando os corpos epurificando as almas?

  • 41

    Irmos! No vos iludam os caprichos da carne; novos iludam esses fogos-ftuos das grandezas humanas,que no podem aclarar a nvia estrada da vossaexistncia sobre a Terra, nem vos apontar os marcos dogozo que no morre!

    Em cada um de vs vejo, certo, um pecador; mas,antes, vejo em cada um de vs uma vontade; e, se essavontade souber exercitar-se, se souber fazer uso do poder,os arruinados castelos de dificuldades sero destrudospara todo o sempre e sobre os seus destroos selevantaro os vossos Espritos, pecadores de hoje, puros eglorificados por um Deus que justo!

    Dar pouco j dar alguma coisa. Se reconheceis novosso Esprito a fraqueza para os grandes cometimentosda alma, orai, pedi foras a Jesus, e nem de longeacrediteis que vos seja negada a gota de gua para oslbios ressequidos um raio de luz da misericrdiadivina ao vosso corao que se humilha, ao vossoEsprito que se abate para se levantar!

    Quando assim fizerdes; quando compreenderdes queser esprita no ser homem, mas cristo; quandosouberdes dar todo o valor a essa graa que vos concedida pelo esposamento completo da doutrina que sevos prega; quando, finalmente, vos convencerdes de quereis nufragos nesse mundo, e que Deus bondosamentefez chegar s vossas mos a tbua do Evangelho; entopodereis ir casa do doente obsidiado e, dizendosimplesmente A paz de Jesus esteja nesta casa odoente ter a paz, ter a sade no corpo e na alma, porJesus-Cristo, em nome do qual tereis ido praticar o bem,cumprindo a sua lei!

  • 42

    Meus Irmos! Meus dedicados Amigos! No querofatigar o vosso companheiro.

    O que vos tenho dito basta para compreenderdes omodo por que deveis proceder quando vos achardes empresena de um obsidiado.

    Que Deus aclare o vosso entendimento, que Jesus,por intermdio dos bons Guias, vos d todas as intuiesdo bem para a vossa felicidade nesse mundo e no mundoonde vos espero.

    Que assim seja!

    Allan Kardec

  • 43

    CONCLUSO

    Publicando as instrues dadas por Allan Kardec, aSociedade Esprita Fraternidade no s satisfaz vontade daquele missionrio, como tambm cumpre umdever imposto sua conscincia e manifesto nas opiniesdos seus associados.

    No pode, porm, calar a necessidade que h defazer-se alguma coisa de srio e positivo a respeito doque tem sido aventado e proposto por muitos, emdiversas pocas, relativamente a uma unio geral everdadeira, debaixo de uma nica direo, que determineo mtodo, a disciplina e o movimento de todos os grupos,estabelecendo a escola e a fora que nos faltam.

    No ser chegado o tempo de algo produzirmos?No basta de ridculo e de falsas apreciaes sobre aDoutrina e seus adeptos? No estaremos ainda cansadosde esterilidade?

    No temos a pretenso de que s conosco esteja averdade e de que sejamos os nicos no bom caminho,nem julgamos e muito menos condenamos a quem querque seja. Mas, mantendo a Fraternidade sempre

  • 44

    perseverante e de p, apesar de todas as lutas eadversidades, apesar da desero da maior parte dos seusirmos e filhos, que aqui foram criados, que aquireceberam a luz e aqui desenvolveram suas faculdades,aceitando as comunicaes do Mestre, sem idiaspreconcebidas; estamos certos de que o Guia Ismaelempunha o seu estandarte no seio desta Sociedade tenda levantada por ele mesmo e para ela chamatodos os de boa-vontade e sinceros nas suas convices,que queiram concorrer para a formao do grandeagrupamento donde parta a orientao e se irradie a luzda verdade.

    Se o trabalho em comum e com grande nmero uma dificuldade, muito maior , com efeito, a desunio,a adoo de mtodos e direes diferentes, semprudncia, disciplina e fiscalizao daqueles que, maisprticos, mais entendidos, podem ser os transmissores davontade e direo do Guia.

    Se a fascinao e a imprevidncia tm levado algunsa constituir grupos onde, debaixo de um mal-entendidoprincpio de publicidade, se prestam ao motejo ezombaria dos que os freqentam e no encontram aomenos a seriedade e o bom-senso; se a pretenso e oorgulho de outros temerrios os tm levado a provocartrabalhos que intitulam de Espiritismo e que s hoservido para o estrago dos mdiuns, obcecao dos seusEspritos e representao de uma farsa aplaudida to-somente pelos zombeteiros do Espao, acarretando oridculo para a Doutrina e a pecha, que todos temos, dedoidos e visionrios; se os mais santos trabalhos, tais osdas curas fsicas e morais, s tm servido para despertara inveja, a especulao, o interesse srdido e a

  • 45

    curiosidade dos falsos crentes, que profanam e nodoamuma fonte de propaganda e de provas; dever de todosos sinceros dos que compreendem e sentem aresponsabilidade individual e coletiva que lhes toca vir em socorro dos que se desviam e comprometem,estabelecendo essa unio, esse agrupamento homogneoe solidrio, invarivel no seu mtodo e no seu objetivo,onde, com a fora e a luz que lhes adviro do Alto,podero arrebanhar as ovelhas transviadas, orientar oscegos e, em nome da Doutrina, protestar contra os que,falsos profetas, a desvirtuam e profanam, tornando-seinstrumentos dos filhos das trevas e no a personificaoda Verdade.

    Sociedade Esprita Fraternidade (1)

    (1) Nota da Editora, em 1973: As diversas mensagens doEsprito Allan Kardec, aqui reunidas, foram transmitidas atravs domdium FREDERICO Pereira da Silva JNIOR, na SociedadeEsprita Fraternidade, no Rio de Janeiro, em 1888 e 1889.

    Foram elas enfeixadas num opsculo para distribuiogratuita, pela Federao Esprita Brasileira, intitulado Ditadosde Allan Kardec, do qual circularam pelo menos trs edies,a 3 em 1934. Mas a primeira publicao das mensagensocorreu em 1893.

    Pela sua grande importncia e permanente atualidade, aCasa-Mter do Espiritismo as incluiu, de h muito, nestevolume.

    Para os que desejam maiores detalhes a respeito dotrabalho pioneiro dos espiritistas brasileiros, recomendamos asobras, editadas pela FEB, Brasil, Corao do Mundo, Ptriado Evangelho, do Esprito Humberto de Campos (mdiumFrancisco Cndido Xavier), e Grandes Espritas do Brasil, deZus Wantuil.

  • 46

    I PEDI E OBTEREIS

    Qualidade da prece. Eficcia da prece. Aoda prece. Transmisso do pensamento. Precesinteligveis. Da prece pelos mortos e pelos Espritossofredores. INSTRUES DOS ESPRITOS. Maneira de orar. Satisfao decorrente da prece.

    QUALIDADE DA PRECE (1)

    1. Quando orardes, no vos assemelheis aoshipcritas, que fingem orar conservando-se em p nassinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos peloshomens. Em verdade vos digo que j receberam a suarecompensa. Mas, quando quiserdes orar, entrai no vossoquarto e, fechando a porta, orai a vosso Pai em segredo; eo vosso Pai, que v tudo o que se passa em segredo, vosdar a recompensa.

    (1) Uma explanao evanglica, feita de modo completo,sobre as teses que fundamentam as preces, ser encontrada emO Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec,editado pela FEB.

  • 47

    No afeteis orar muito em vossas preces, comofazem os pagos, julgando que pela quantidade depalavras sero atendidos. No vos torneis semelhantes aeles, porque vosso Pai sabe do que necessitais antes delho pedirdes. (Mateus, cap. VI, 5 a 8.)

    2. Quando vos aprestardes para orar, se tiverdesalguma queixa contra algum, perdoai-lha a fim de quevosso Pai, que est nos cus, vos perdoe tambm os pecados.Se no lhe perdoardes, vosso Pai, que est nos cus, tambmno perdoar os vossos pecados. (Marcos, cap. XI, 25 e 26.)

    3. Props tambm esta parbola aos que confiavamem si, como se fossem justos, e desprezavam os outros:

    Dois homens subiram ao templo para orar; um erafariseu, publicano o outro. O fariseu, de p, oravaintimamente desta forma: Meu Deus, graas vos dou porno ser como o resto dos homens, que so ladres,injustos e adlteros, nem mesmo como este publicano;jejuo duas vezes por semana e dou o dzimo de tudo oque possuo.

    O publicano, pelo contrrio, conservando-seafastado, nem mesmo ousava levantar os olhos para ocu, mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, tendepiedade de mim, que sou pecador.

    Eu vos declaro que este voltou para sua casa,justificado, e o outro no; porque aquele que se exaltaser humilhado e aquele que se humilha ser exaltado.(Lucas, cap. XVIII, 9 a 14.)

    4. As qualidades da prece foram, assim,distintamente definidas por Jesus. Quando quiserdes

  • 48

    orar, disse ele, evitai que vos vejam; orai secretamente;evitai orar muito, pois no pela multiplicidade daspalavras que sereis atendidos, mas pela sinceridade daprece. Se, antes de orar, tiverdes algum ressentimentocontra algum, perdoai-lhe, porque a prece deixa de seragradvel a Deus, quando no parte de um corao purode todo sentimento contrrio caridade. Orai, enfim,com humildade, como o publicano, e no com orgulho,como o fariseu; examinai as vossas faltas e no as vossasqualidades, e, quando vos comparardes aos outros,procurai o que de mau existe em vs.

    EFICCIA DA PRECE

    5. Tudo quanto pedirdes pela prece, crede queobtereis e que vos ser concedido. (Marcos, cap. XI, 24.)

    6. H pessoas que contestam a eficcia da prece,fundadas em que, conhecendo Deus as nossasnecessidades, suprfluo que lhas exponhamos.Acrescentam que, encadeando-se todo o Universo pormeio de leis eternas, no podem os nossos votos alteraros decretos de Deus.

    Sem dvida alguma, existem leis naturais eimutveis, que Deus no derrogaria conforme o caprichode cada um; mas da a se crer que todas as circunstnciasda vida so submetidas fatalidade vai grande distncia.Se assim fora, o homem no seria mais que uminstrumento passivo, sem livre-arbtrio e sem iniciativa,hiptese em que s lhe restaria curvar a cabea sob opeso de todos os acontecimentos, sem buscar evit-los,

  • 49

    sem procurar desviar-lhes os golpes. Se Deus lheconcedeu raciocnio e inteligncia, foi para que deles seservisse, assim como lhe deu a vontade para querer, aatividade para ser posta em ao. O homem, pelaliberdade que tem de agir em outro sentido, que fazcom que seus atos lhe tragam para si e para outremconseqncias derivadas do que ele praticou ou deixoude praticar. Da sua iniciativa se originam acontecimentosque escapam forosamente fatalidade e que nem porisso destroem a harmonia das leis universais, do mesmomodo que o adiantamento ou o atraso do ponteiro de umrelgio no derroga a lei do movimento a que est sujeitoo mecanismo.

    Assim, Deus pode aceder a certos pedidos seminfirmar a imutabilidade das leis que regem o conjunto,dependendo sempre isso do assentimento de sua vontade.

    7. Seria ilgico concluir desta mxima: Tudoquanto pedirdes pela prece vos ser concedido, quebaste pedir para obter; como injusto fora acusar aProvidncia por no anuir a todos os pedidos que lhe sofeitos, porquanto, melhor que ns, ela sabe o de quenecessitamos. Dessa maneira que procede o paiprudente: recusa ao filho o que seja contrrio ao interessedeste. Em geral, o homem s v o presente. Ora, se osofrimento til sua felicidade futura, claro est queDeus o deixar sofrer, como o cirurgio deixa que odoente sofra numa operao que lhe trar a cura.

    O que Deus poder conceder, se confiante o homemlha suplicar, a coragem. Na pacincia e na resignao,igualmente encontra ele meios de escapar aos embaraos,pelo auxlio das idias que os bons Espritos lhe

  • 50

    sugerem, deixando-lhe, porm, o mrito da ao. Deusassiste os que se ajudam a si mesmos, confirmando estamxima: Ajuda-te e o cu te ajudar. No auxilia osque tudo esperam do socorro estranho, sem usar dasprprias faculdades, sem nada fazer, preferindo a maiorparte das vezes ser socorrido por milagre.

    8. Exemplifiquemos: Um homem se extraviou nodeserto. Sofreu horrvel sede, sente-se desfalecer, deixa-se cair no cho, e pede a Deus assistncia. Espera, masnenhum anjo lhe vem trazer gua. Todavia, um bomEsprito lhe sugere a idia de se levantar e seguir um dosatalhos que v diante de si. Por movimento maquinal,reunindo todas as foras, levanta-se e caminha ao acaso.Chegando a uma proeminncia, descobre ao longe umregato, e, ao v-lo, recobra a coragem. Ora, se ele tiverf, exclamar: Obrigado, meu Deus, pela idia que meinspiraste e pela fora que me deste. Se no tiver f,exclamar: Que boa idia tive eu! Que fortuna empreferir o atalho da direita ao da esquerda; realmente oacaso nos auxilia muitas vezes! Como me felicito pelaminha coragem e por me no haver deixado desanimar!

    Mas, perguntaro, por que no lhe disse claramenteo bom Esprito: Segue este atalho e ao fim encontrars oque precisas? Por que no se mostrou para gui-lo eergu-lo do abatimento? Por esse modo o convenceria dainterveno providencial.

    Tal no se deu, primeiro, para que ele aprendesseser preciso ao homem auxiliar-se a si mesmo, fazer usodas prprias foras; segundo, para, deixando-o naincerteza, despertar-lhe a f. Deus pe em prova aconfiana nele depositada e a submisso sua vontade.

  • 51

    Aquele homem se achava na situao de uma criana quecai e, se percebe algum, grita e espera que esse algumvenha levant-la. Se, porm, no v ningum, fazesforos e ergue-se sozinha.

    Se o anjo que acompanhou Tobias lhe houvera dito:Sou enviado de Deus para te guiar na tua viagem epreservar-te dos perigos, Tobias no teria tido mritoalgum. Confiando no companheiro, nem precisaria pensar;por isso, o anjo s se deu a conhecer quando ele regressou.

    AO DA PRECE.TRANSMISSO DO PENSAMENTO

    9. A prece uma evocao. Por meio dela pomos opensamento em relao com o ente a quem a dirigimos.Pode ter por escopo um pedido, um agradecimento, umaglorificao. Quem a faz pode pedir para si ou paraoutrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidasa Deus so ouvidas pelos Espritos encarregados daexecuo da vontade divina; as que se dirigem aos bonsEspritos so levadas a Deus. Quando se ora a outrosseres, alm de Deus, simplesmente como aintermedirios ou intercessores, pois nada se pode obtersem a vontade de Deus.

    10. O Espiritismo faz compreender a ao da prece,explicando o processo da transmisso do pensamento,quer o ser por quem se ora venha ao nosso chamado,quer o nosso pensamento chegue at ele. Paracompreender o que se passa nessa circunstncia, convmimaginar que todos os seres, encarnados e

  • 52

    desencarnados, se acham mergulhados no mesmo fluidouniversal que enche o Espao, tal qual o estamos, nesteplaneta, na atmosfera. Aquele fluido recebe umaimpulso da vontade. o veculo do pensamento, talqual o ar o veculo do som, com a diferena de que asvibraes do ar so circunscritas, ao passo que as dofluido universal se estendem ao infinito.

    Ento, logo que o pensamento dirigido para umser qualquer, na Terra ou no Espao, de encarnado adesencarnado, ou vice-versa, uma corrente fludica seestabelece, de um para outro, transmitindo opensamento, tal qual o ar transmite o som.

    A energia da corrente est na razo da energia dopensamento e da vontade. por esse meio que a precechega aos Espritos, estejam onde estiverem; que eles secomunicam entre si; que nos transmitem suasinspiraes; que as relaes se estabelecem a distncia,entre os encarnados, etc.

    Esta explicao principalmente dada a quem nocompreende a utilidade da prece puramente mstica. Notem por fim materializar a prece, mas dar-lhe efeitointeligvel, demonstrando que ela pode ter ao direta,efetiva, sem que por isso o seu efeito deixe de estarsubordinado vontade de Deus, juiz supremo de todas ascoisas, de quem, somente, depende a eficcia daquela ao.

    11. Pela prece o homem atrai o concurso dos bonsEspritos, que vm sustent-lo nas boas resolues einspirar-lhe bons pensamentos. Assim, adquire ele afora necessria para vencer as dificuldades e entrar nobom caminho, se deste se houver afastado. Tambm

  • 53

    assim, desviar de si os males que por sua culpa atrasse.Por exemplo: um homem v a sua sade arruinada pelosexcessos cometidos e arrasta, at ao fim de seus dias,uma vida de sofrimentos. Ter razo de se queixarquando no alcanar a cura? No, porque pela precepoderia ter obtido fora para resistir s ms tentaes.

    12. Separando-se os males da vida em duas partes,uma formada pelas tribulaes que o homem no podeevitar e a outra pelas que lhe causam sua incria eexcessos, ver-se- que esta excede de muito quela.Torna-se, pois, evidente que o homem o autor da maiorparte das suas aflies, e que as evitaria se sempre agissecom prudncia e acerto.

    igualmente real que essas misrias resultam deinfringirmos as leis de Deus, e que, se as observssemos,fielmente, seramos perfeitamente felizes. Se noexcedssemos o limite do necessrio na satisfao dasnossas necessidades, evitaramos as enfermidades queso a conseqncia dos excessos, e as vicissitudes a queessas molstias nos arrastam; se limitssemos as nossasambies, no teramos a runa; se no quisssemos subiralm do que podemos, no teramos a queda; se fssemoshumildes, no passaramos pela decepo de ver abatidoo nosso orgulho; se praticssemos a lei da caridade, noseramos mendigos, nem invejosos, ou ciumentos;evitaramos as questinculas e as dissenses; se nofizssemos mal aos outros, no recearamos asvinganas, etc.

    Admitindo que o homem nada possa contra os outrosmales, e que a prece seja ineficaz para deles preserv-lo, j

  • 54

    no ser bastante que possa libertar-se de todos os queprovm de si mesmo? Ora, aqui a ao da prece se concebefacilmente, pois tem por fim obter a inspirao salutar dosbons Espritos e a fora para resistir aos maus pensamentos,cuja execuo pode ser funesta. Neste caso, no o mal queeles desviam, mas o nosso mau pensamento que, alis, nospode causar grande mal; no embaraam, em coisaalguma, os decretos de Deus; no suspendem o curso dasleis da Natureza; apenas impedem que infrinjamos essasleis dirigindo o nosso livre-arbtrio. Mas fazem-no sem queo saibamos, de modo oculto, para no nos tolher a vontade.O homem ficar, ento, na posio de quem solicita bonsconselhos e os pe em prtica, mas conservando sempre aliberdade de os seguir ou no. Deus assim o quer para que ohomem tenha responsabilidade dos seus atos e para lhedeixar o mrito da escolha entre o bem e o mal. Isso, ohomem pode ter a certeza de obter sempre, se pede comfervor. A esse caso que se aplicam estas palavras doEvangelho: Pedi e obtereis.

    Reduzida mesmo a esta proporo, a eficcia daprece no traria imensos resultados? Ao Espiritismoestava reservado demonstrar-nos seus efeitos, revelandoas relaes existentes entre o mundo corporal e oespiritual. Mas aqueles no so os seus nicos efeitos. Aprece recomendada por todos os Espritos; renunciar aela desconhecer a bondade de Deus, renunciar suaassistncia e ao bem que pode alcanar aquele que ore, ebem assim aquele por quem se ore.

    13. Acedendo ao pedido que lhe dirigido, Deustem muitas vezes em vista recompensar o intuito, a

  • 55

    dedicao e a f daquele que ora. Eis por que a prece dohomem de bem tem mais mrito aos olhos de Deus, esempre mais eficcia. O homem viciado e mau no podeorar com fervor e com a confiana que somente averdadeira piedade inspira. Do corao do egosta, queapenas pelos lbios ora, s palavras saem, jamais osimpulsos caridosos que do prece grande poder. toreal isto, que, instintivamente, os egostas recorrem depreferncia s preces daqueles que, por sua conduta maisagradvel a Deus, so mais ouvidos.

    14. Uma vez que a prece exerce uma espcie deao magntica, poder-se-ia supor o seu efeitosubordinado potncia fludica. Mas, assim no . OsEspritos, pela ao fludica que exercem sobre oshomens, suprem, se preciso, a insuficincia de quem ora,quer atuando diretamente em seu nome, quer dando-lhemomentaneamente uma fora excepcional, quando dignodesse favor ou quando a splica possa ser til.

    Aquele que no se julgue em condies de exercersalutar influncia, nem por isso deve abster-se de orarem favor de outrem, acreditando-se indigno de serouvido. A conscincia de sua inferioridade uma provade humildade, sempre agradvel a Deus, que leva emconta a inteno caridosa. O fervor e a confiana emDeus so o primeiro passo para o bem, passo que os bonsEspritos se sentem felizes em incentivar. Repelida s o a prece do orgulhoso que, confiante na sua fora e noseu merecimento, cr poder substituir-se vontade doEterno.

  • 56

    15. O valor da prece est no pensamento, semdependncia de local, de palavras e de ocasio em queseja formulada. Portanto, pode-se orar em qualquer lugare a qualquer hora, s ou em comum.

    A influncia do local ou da ocasio depende de ascircunstncias favorecerem ou no o recolhimento. Aprece em comum tem ao mais poderosa, quando todosse associam de corao ao mesmo pensamento,objetivando o mesmo fim, porque como se muitoscantassem, em coro, ao mesmo tempo. Mas, que importaseja grande o nmero dos que orem, se cada qual orarinsuladamente e por conta prpria? Cem pessoasreunidas podem orar com o sentimento de egostas;enquanto que duas ou trs, unidas pelo pensamento,podem orar irmanadas em Deus, obtendo a sua precemais resultado que a daquelas cem.

    PRECES INTELIGVEIS

    16. Se eu no entender o que significam as palavras,serei um brbaro para aquele a quem falo, e aquele queme fala ser para mim um brbaro. Se oro numalngua que no entendo, meu corao ora, mas minhainteligncia nenhum fruto colhe. Se apenas com ocorao louvardes a Deus, como que um daqueles ques a sua prpria lngua entendem dir amm, quandoterminardes a vossa ao de graa, uma vez que ele noentende o que dizeis? No que a vossa ao no sejaboa; ela, porm, no concorrer para a edificao dosoutros. (Paulo, 1. Epstola aos Corntios, cap. XIV, vv.11, 14, 16 e 17.)

  • 57

    17. O que d valor prece o pensamento que selhe liga. Ora, impossvel que se ligue o pensamento aoque no se compreende, porquanto o que no secompreende no pode tocar o corao. Na sua imensamaioria, as preces feitas numa linguagem que aquele queas faz no compreende, no passam de um agregado depalavras que nada dizem ao Esprito. Para que a precetoque a alma, preciso que cada uma de suas palavrasdesperte uma idia. Ora, se no lhe compreendermos aspalavras, ela nenhuma idia despertar. Ser a repetiode uma frmula cuja maior ou menor virtude dependerdo nmero de vezes que seja repetida. Muitos oram porobrigao e alguns unicamente em obedincia a umcostume. Assim, uns e outros se julgam exonerados dodever de orar, desde que repetiram certo nmero devezes, em tal ou qual ordem, a mesma orao.

    Deus, porm, que l nos coraes, conhece opensamento e a sinceridade de cada um. Julg-lo maissensvel forma do que ao fundo rebaix-lo.

    DA PRECE PELOS MORTOSE PELOS ESPRITOS SOFREDORES

    18. Os Espritos sofredores reclamam as preces.Estas lhes so teis porque lhes mostram que neles sepensa e isso basta para que se sintam menosabandonados, menos desgraados. Mais direta ao temainda sobre tais Espritos a prece: reanima-lhes acoragem, excita-lhes o desejo de se elevarem peloarrependimento e pela reparao, e chega mesmo aimpedir que pensem no mal. Neste sentido, as preces

  • 58

    logram, no s lhes aliviar, mas tambm abreviar ossofrimentos. (Vede o livro de Allan Kardec, O Cu e oInferno, 2. Parte, Exemplos.)

    19. Certas pessoas (1) no admitem a prece pelosmortos porque, segundo a crena que professam, duasunicamente so, para a alma, as alternativas: salvar-se ouser condenada s penas eternas, sendo intil a prece,num caso e noutro. Sem discutir o valor dessa crena,admitamos, por um instante, a realidade das penaseternas e irremissveis, e admitamos, tambm, que asnossas preces sejam impotentes para lhes pr termo.Dada essa hiptese, perguntamos: ser lgico, sercaridoso, ser cristo rejeitar a prece pelos rprobos? Porimpotentes que fossem para libert-los, as preces noseriam para eles uma demonstrao de piedade, capaz delhes amenizar os sofrimentos?

    Quando, na Terra, um homem condenado galperptua, embora no haja a menor esperana de se obterpara ele o perdo, seria defeso a uma pessoa caritativa ircarregar com ele as correntes que o algemam, a fim dealivi-lo do peso delas? Quando algum atacado de ummal incurvel, ser-nos- lcito, por no haver para elenenhuma esperana de cura, abandon-lo, sem queprocuremos dar-lhe algum alvio? Lembremo-nos de queentre os rprobos pode encontrar-se algum que nos sejacaro, um amigo, talvez um pai, me ou um filho, edigamos se, pelo fato de no podermos esperar hajaperdo para ele, lhe recusaramos um copo dgua para

    (1) Os protestantes.

  • 59

    lhe matar a sede, um blsamo que lhe cure as chagas?No sereis capaz de fazer por ele o que fareis por umgal? No, isso no seria cristo. Uma crena quepetrifica o corao no se pode aliar com a de um Deusque, em primeiro lugar, coloca, no rol dos deveres dacriatura, o amor ao prximo.

    O no admitir a eternidade das penas, no implica anegao de uma penalidade temporria, porquanto Deus,na sua justia, no pode confundir o bem com o mal.Ora, negar, neste caso, a eficcia da prece, fora negar aeficcia do consolo, fora negar que haurimos foras naassistncia moral dos que nos querem bem.

    20. Outros se fundam em razo mais especiosa: aimutabilidade dos decretos divinos. Deus, dizem esses,no pode mudar suas decises porque lho peam ascriaturas; no fosse assim, e o mundo careceria deestabilidade. O homem nada tem, pois, que pedir a Deus;s tem que se submeter e ador-lo.

    H neste modo de pensar uma falsa aplicao daimutabilidade da lei divina, ou melhor ignorncia da lei,no que respeita penalidade futura. Essa lei os Espritos doSenhor a revelaram agora, quando o homem j se achasuficientemente maduro para compreender o que, na f, estconforme ou contrrio aos atributos divinos.

    Segundo o dogma da eternidade absoluta das penas,em nenhuma conta so tidos o pesar e o arrependimentodo culpado. Suprfluo lhe qualquer desejo de se tornarmelhor, uma vez que est condenado a permanecer nomal perpetuamente. Se foi condenado por limitadotempo, a pena cessar quando expirar o prazo da

  • 60

    condenao. Mas quem nos diz que, ao se verificar isto,no sejam mais acentuadas as suas disposies paramelhorar? Quem nos diz que, a exemplo do que ocorrecom muitos condenados da Terra, ao sair da priso eleno se conserve to mau quanto antes? No primeiro caso,seria aumentar o castigo continuar a afligir um homemque se converte ao bem; no segundo, seria conceder agraa a um que permaneceu culpado. A lei de Deus mais previdente do que isso. Sempre justa, eqitativa emisericordiosa, ela no prefixa durao pena, seja qualfor, e se resume assim:

    21. O homem sofre sempre a conseqncia de suasfaltas. Nem uma s infrao da lei de Deus deixa de teradequada punio.

    A severidade do castigo proporcionada gravidade da falta.

    A durao do castigo de uma falta qualquer indeterminada, depende do arrependimento do culpadoe da volta ao caminho do bem. A pena dura tanto quantoa obstinao no mal. de curta durao se pronto oarrependimento.

    Desde que o culpado brade: Misericrdia! Deus oouve e lhe manda a esperana. Mas no basta que oculpado apenas deplore o mal que fez; necessria areparao. Da vem o ser submetido a novas provas, emque pode, sempre por sua livre vontade, praticar o bem,reparando o mal que haja feito.

    Assim, o homem , constantemente, o rbitro dasua prpria sorte. Pode abreviar o suplcio ou prolong-lo

  • 61

    indefinidamente. Sua felicidade ou desgraa dependemda vontade que tenha de fazer o bem.

    Tal a lei, lei imutvel e conforme bondade e justia de Deus.

    O Esprito culpado e desgraado pode, pois, salvar-se por si mesmo; a lei de Deus lhe diz em que condieso conseguir. O que mais amide lhe falta a vontade, afora, a coragem. Ora, se, por nossas preces, lheinspiramos essa vontade, se o amparamos e animamos;se, pelos nossos conselhos, lhe damos as luzes de quecarece, em lugar de pedir a Deus que derrogue sua lei,ns nos tornamos instrumentos da execuo da lei deamor e de caridade, da qual permite Ele participemos,dando ns mesmos, com isso, uma prova de caridade.(Vede: O Cu e o Inferno, citado, 1. Parte, caps. VI,VII, VIII.)

  • 62

    II INSTRUES DOS ESPRITOS

    MANEIRA DE ORAR

    22. O dever primordial de toda criatura humana, oprimeiro ato que deve assinalar a sua volta vida ativade cada dia a prece. Quase todos vs orais, mas quopoucos sabem orar! Que importam ao Senhor as frasesque, em seguida umas s outras, articulaismaquinalmente, constituindo isso um hbito queconsiderais cumprimento de dever que vos pesa, qualpesam todos os deveres?

    A prece do cristo, do esprita, qualquer que seja oseu culto, deve ser feita logo que o Esprito retoma o pesoda carne. Deve elevar-se Majestade Divina comhumildade, vinda das profundezas do eu, numtransporte de gratido por todos os benefcios at aqueledia concedidos; pela noite que acaba de passar e durantea qual lhe foi permitido, ainda que a mau grado, ir tercom os vossos amigos, ou Guias, a fim de haurirdes docontacto com eles mais fora e perseverana. Ela deveelevar-se humilde ao Senhor, para lhe recomendar vossafraqueza, para suplicar amparo, indulgncia,

  • 63

    misericrdia. Deve ser profunda, pois a alma nas asas daprece deve elevar-se ao Criador, transfigurando-se, qualJesus no Tabor, a fim de l chegar nvea e radiosa deesperana e de amor.

    Na prece deveis formular o pedido das graas deque tiverdes necessidade, mas necessidade real. Intilser pedirdes ao Senhor que abrevie vossas provas, quevos d alegria e riquezas. Pedi-lhe vos conceda os bensmais preciosos da pacincia, da resignao e da f. Nodigais, como fazem muitos: No vale a pena orar, poisque Deus no me atender. Na maior parte das vezes,que pedis a Deus? Quantas vezes j vos lembrastes depedir o vosso melhoramento moral? Decerto, bempoucas. Mas, em compensao, vos tendes lembrado depedir bom xito nas vossas empresas terrenas e muitasvezes haveis exclamado: Deus no se ocupa conosco; sese ocupasse, no haveria tantas injustias. Insensatos!ingratos! se descsseis ao fundo das vossas conscincias,descobrireis quase sempre em vs mesmos o ponto departida dos males de que vos queixais. Pedi, portanto,antes de tudo, a vossa melhoria, e vereis que torrentes degraas e de consolaes vos banharo.

    Deveis orar incessantemente, sem que para isso sejanecessrio vos recolhais ao vosso oratrio ou vos lanceisde joelhos nas praas pblicas. A prece de cada diaconsiste no cumprimento dos vossos deveres, semexceo de nenhum, qualquer que seja a natureza deles.No praticar um ato de amor para com Deus oprestardes aos vossos irmos a assistncia de que elestenham necessidade, moral ou fsica? No praticar atode reconhecimento o elevardes o vosso pensamento a

  • 64

    Ele quando vos vem uma felicidade, quando evitaisum acidente, quando uma contrariedade apenas vos roa,dizendo: Sede bendito, meu Pai? No praticar umato de contrio o vos humilhardes diante do JuizSupremo, quando sentis que falistes, ainda que lhedirigindo somente um pensamento fugitivo e dizendo:Perdoai-me, meu Deus, pois que pequei (por orgulho,por egosmo, ou por falta de caridade), dai-me a fora deno mais falir e a coragem de reparar a minha falta?

    SATISFAO DECORRENTE DA PRECE

    23. Vinde, vs todos que desejais crer: os Espritoscelestes acorrem e vos vm anunciar grandes coisas.Deus abre seus tesouros para vos dar todos os benefcios.Homens incrdulos! se soubsseis quanto bem faz a f aocorao e como encaminha a alma para oarrependimento e para a prece! A prece! Quo tocantesso as palavras que saem da boca daquele que ora! Aprece o orvalho divino que abranda o excessivo calordas paixes. Filha primognita da f, ela nos leva senda que conduz a Deus. No recolhimento e na solido,estais com Deus. Para vs no h mais mistrios: Ele sevos desvenda.

    Apstolos do pensamento, a vida toda para vsoutros. Vossas almas se desprendem da matria e rolampor esses mundos infinitos e etreos, que os pobreshumanos desconhecem.

    Marchai, marchai pelas veredas da prece e ouvireisas vozes dos anjos. Que harmonia! Nada mais que se

  • 65

    parea com o rudo confuso e com os estridores agudosda Terra. So as liras dos arcanjos, so as vozes ternas esuaves dos serafins, mais leves do que as brisasmatutinas quando brincam na folhagem dos grandesbosques terrenos. Por entre quantas delcias caminhais!A vossa linguagem no poder definir essa felicidade quevos entra abundante pelos poros, to viva e refrigerante a fonte em que se bebe quando se ora! Doces vozes,embriagadores perfumes, que a alma ouve e aspiraquando se transporta, pela prece, a essas esferasdesconhecidas e habitadas! Sem mescla de desejoscarnais, todas as aspiraes so divinas.

    Orai semelhana do Cristo quando levava a suacruz ao Calvrio. Carregai tambm a vossa cruz esentireis as dulcssimas emoes que sua almaexperimentava, ainda que o oprimisse o peso de ummadeiro infamante. Ele ia morrer, mas para viver a vidacelestial na morada de seu Pai. (Santo Agostinho, Paris,1861.)

  • 66

    III COLEO DE PRECES ESPRITAS

    PREMBULO

    1. Os Espritos tm dito sempre: A forma da precenada significa, o pensamento tudo. Cada um que ore,de conformidade com as suas convices e da maneiraque mais lhe toque o ntimo. Um bom pensamento valemais do que grande nmero de palavras, com as quaisnada tenha de comum o corao.

    Nenhuma frmula absoluta de prece nos prescrevemeles. Quando nos do alguma, com o objetivo de fixaridias e, principalmente, com o de chamar a ateno paracertos princpios da Doutrina Esprita. tambm com ointuito de vir em auxlio daqueles que se sentemembaraados para exprimir suas idias, pois muitos hque no acreditam ter orado realmente, desde que noformularam seus pensamentos.

    A coleo de preces que este captulo encerra oresultado de uma escolha feita entre as que os Espritosditaram em diversas ocasies. Poderiam ter ditadooutras, concebidas em termos apropriados a certas idias

  • 67

    ou a casos especiais, mas a forma pouco importa, umavez que o pensamento fundamental seja o mesmo. Aprece tem por fim elevar nossa alma a Deus. Adiversidade das frmulas no deve constituir fundamentopara estabelecer uma diferenciao entre os que nelacrem e ainda menos entre os adeptos do Espiritismo,porquanto Deus aceita todas as preces, quando sinceras.

    No se considere, pois, esta coleo um formulrioabsoluto e, sim, espcimes vrios de preces, tirados dasinstrues que os Espritos do. uma aplicao dosprincpios da moral evanglica, um complemento do queeles ditaram sobre os deveres para com Deus e para como prximo, complemento em que se recordam todos osprincpios da Doutrina.

    O Espiritismo tem por boas as preces de todos oscultos, desde que sejam proferidas com o corao e nocom os lbios somente. No impe nenhuma e anenhuma condena. Deus, segundo o Espiritismo, muitogrande para repelir a voz daquele que lhe implora ou quelhe entoa hosanas, pela s razo de o fazer deste oudaquele modo. Quem quer que lance antema sobre aspreces que no estejam no seu formulrio, prova quedesconhece a grandeza de Deus. Acreditar que Deusprefira determinada frmula atribuir-lhe a pequenez eas paixes da Humanidade.

    condio essencial da prece, segundo So Paulo,ser inteligvel, a fim de que possa falar ao nosso Esprito.Para isso no basta seja pronunciada numa lnguafamiliar quele que ora. H preces formuladas em lnguavulgar que no falam ao pensamento mais do que se ofossem numa lngua estrangeira e que, por isso mesmo,

  • 68

    no vo ao corao. As raras idias que encerram seencontram quase sempre abafadas pela superabundnciadas palavras e pelo misticismo da linguagem.

    A qualidade principal da prece est em ser clara,simples e concisa, sem fraseologia intil, nem luxo deeptetos, que no passam de enfeites de lentejoulas. Cadapalavra deve ter determinado alcance, despertar umaidia, fazer vibrar uma fibra. Em suma: Deve levar-nos arefletir. S debaixo dessa condio a prece atingir suameta. Fora da, no ser mais do que rudo. No entanto,observai o ar de distrao e de volubilidade com que soditas a maior parte das vezes. V-se que os lbios semovem, mas, pela expresso da fisionomia, pelo sommesmo da voz, se verifica que aquilo no passa de umato maquinal, puramente exterior, conservando-se a almaindiferente.

    As preces aqui colecionadas se dividem em cincocategorias: A preces gerais; B preces por simesmo; C preces pelos encarnados; D preces pelosdesencarnados; E preces pelos doentes e pelosobsidiados.

    Com o fim de mais particularmente chamar aateno para o objeto de cada prece e de maiscompreensvel lhe tornar o alcance, a todas precede umainstruo preliminar, uma exposio de motivos, sob otitulo de prefcio.

  • 69

    A PRECES GERAIS

    Orao dominical

    2. PREFCIO. Os Espritos recomendaram que aOrao dominical fosse posta frente desta coleo, nos a ttulo de prece, mas tambm valendo por smbolo.Essa , de todas as preces, a que eles colocaram emprimeiro lugar, j porque provm do prprio Jesus(Mateus, cap. VI, vv. 9 a 13), j por ser de molde asubstituir as outras, conforme o pensamento com que aprofiram. o mais perfeito modelo de conciso,verdadeira obra-prima de sublimidade em sua singeleza.Com efeito, debaixo da mais restrita forma, ela resumetodos os deveres do homem para com Deus, paraconsigo mesmo e para com o prximo, encerra umaprofisso de f, um ato de adorao e de submisso, opedido das coisas necessrias vida, e o princpio dacaridade. Diz-la na inteno de algum, pedir paraeste o que pediria quem a proferisse para si prprio.

    Entretanto, mesmo em conseqncia da suabrevidade, maioria das pessoas escapa o sentidoprofundo de algumas das palavras que a compem. Davem que muitos a dizem, geralmente, sem deter opensamento nas aplicaes de cada uma de suas partes.

  • 70

    Dizem-na como se se tratasse de uma frmula, cujaeficcia est na proporo do nmero de vezes que serepete. E este quase sempre um dos nmeroscabalsticos, trs, sete e nove, buscados na antiga crenasupersticiosa da virtude dos nmeros, de uso nasoperaes da magia.

    Para suprir o que de vago a conciso desta precedeixa no pensamento, juntou-se-lhe, a conselho e com aassistncia dos bons Espritos, a cada proposio umcomentrio, que lhe desenvolve o sentido, mostrandosuas aplicaes. Conforme as circunstncias e o tempode que disponha, qualquer pessoa poder recitar aOrao dominical na sua forma simples ou com odesenvolvimento, que aqui se lhe d.

    3. PRECE. I. Pai nosso que estais nos cus,santificado seja o vosso nome.

    Cremos em vs, Senhor, porque tudo revela o vossopoder e a vossa bondade. A harmonia do Universo dtestemunho de sabedoria, prudncia e previdncia queultrapassam todas as faculdades humanas. O nome deum ser soberanamente grande e sbio se acha inscrito emtodas as obras da Criao, desde a folhinha do arbustoat o mais pequenino inseto, at os astros que se movemno Espao. Por toda parte vemos a prova de umasolicitude paternal. Cego , pois, aquele que no vosglorifica em vossas obras, e ingrato aquele que no vosrende aes de graas.

    II. Venha a ns o vosso reino.Senhor, destes aos homens leis cheias de sabedoria,

    que os fariam felizes se eles as observassem. Obedecendo

  • 71

    a essas leis, fariam reinar entre si a paz e a justia,auxiliar-se-iam mutuamente, em vez de se hostilizarem,como o fazem. O forte sustentaria o fraco, em vez de oesmagar. Todos evitariam os males que se originam dosabusos e dos excessos de toda ordem. Todas as misriasdeste mundo provm da violao das vossas leis,porquanto nenhuma dessas violaes deixa de terconseqncias fatais.

    Destes ao bruto o instinto que lhe traa os limites donecessrio e ele maquinalmente se conforma. Aohomem, porm, alm desse instinto, destes a liberdade deobservar ou infringir aquelas de vossas leis quepessoalmente lhe dizem respeito, isto , a liberdade deescolher entre o bem e o mal, a fim de que lhe pertenamo mrito e a responsabilidade de suas aes.

    Ningum poder pretextar a ignorncia das vossasleis, pois que, com a vossa paternal previdncia,quisestes que na conscincia de cada um, sem distinode culto, nem de naes, ficassem elas gravadas.Desconhecem-vos aqueles que as violam.

    Dia vir, entretanto, conforme prometestes, em quetodos as praticaro. Ento, a incredulidade terdesaparecido. Todos vos reconhecero soberano Senhorde todas as coisas e o reinado das vossas leis estarimplantado na Terra.

    Dignai-vos, Senhor, apressar-lhe o advento, dandoaos homens a luz que os guie no caminho da verdade.

    III. Faa-se a vossa vontade, assim na Terra comono Cu.

  • 72

    Se a submisso um dever do filho para com o pai, doinferior para com o superior, quo maior no dever ser a dacriatura para com o seu Criador! Fazer-vos a vontade,Senhor, obedecer s vossas leis, submeter-se, semmurmurar, aos vossos decretos divinos. O homem se lhessubmeter quando compreender que sois a fonte de toda asabedoria e que sem vs ele nada pode. Far ento a vossavontade na Terra, como os eleitos a fazem no Cu.

    IV. Dai-nos o po de cada dia.Dai-nos o alimento que mantenha as foras do

    nosso corpo. Dai-nos tambm o alimento espiritual parao desenvolvimento do nosso Esprito.

    O bruto encontra nas pastagens com que sealimentar. O homem, porm, tem que adquirir, com suaatividade e com os recursos da sua inteligncia, oalimento necessrio, por isso que o criastes livre.

    Assim que lhe dissestes: Tirars da terra o teualimento, com o suor do teu rosto. Por essa forma lhefizestes do trabalho uma obrigao, a fim de que eleexercitasse a inteligncia, procurando meios de prover ssuas necessidades e ao seu bem-estar, uns por meio dotrabalho material, outros pelo trabalho intelectual. Semter que trabalhar, permaneceria estacionrio e nopoderia aspirar felicidade dos Espritos superiores.

    Auxiliais o de boa-vontade que em vs confia paraobter aquilo de que necessita, mas no auxiliais aqueleque se compraz na ociosidade, desejando tudo alcanarsem trabalho, como tambm no auxilias o que busca osuprfluo.

  • 73

    Quantos sucumbem por sua prpria culpa, por efeitoda incria, da imprevidncia, da ambio e por noterem querido contentar-se com o que lhe haveis dado!Esses so os obreiros do seu prprio infortnio e no tmo direito de se queixar, porquanto se vem punidosnaquilo mesmo que lhes foi causa de pecar. Mas, nemsequer a esses abandonais, porque sois infinitamentemisericordioso. Mo protetora lhes estendeis desde que,qual o filho prdigo, se voltem para vs sinceramente.

    Antes de nos queixarmos da nossa sorte, inquiramosde ns mesmos se ela obra nossa. Toda vez que umainfelicidade nos suceda, perguntemo-nos se no esteveem nossas mos o evit-la. E reconheamos tambm queDeus nos dotou de inteligncia para que possamos sairdo lodaal e que de ns depende o bom uso dessaInteligncia.

    Pois que lei do trabalho est sujeito o homem naTerra, dai-nos coragem e fora para preenchermos essacondio. Dai-nos tambm a prudncia, a previdncia e amoderao, a fim de que no percamos o fruto dessacondio.

    Dai-nos, portanto, Senhor, o po de cada dia,dando-nos os meios de a