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Alterações Sonoras

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Alterações Sonoras

A língua é dinâmica por sua própria natureza e está sujeita a modificações. Em qualquer momento, quando se combinam elementos para formar palavras ou frases ocorre uma série de modificações, determinadas por fatores fonéticos, morfológicos e sintáticos.

As modificações sofridas pelas palavras podem alterar ou acrescentar traços, eliminar ou inserir segmentos. Algumas dessas alterações ocorrem sistematicamente e atuam sobre o nível fonológico da língua, outras afetam apenas o nível fonético, ocorrendo assistematicamente.

Alterações sonoras são alterações na estrutura sonora das palavras.Podem ser estudados sob dois pontos de vista:

sincrônico (variações); diacrônico (mudanças).

Podemos observar o funcionamento desses processos do português no momento sincrônico, assim como é possível encontrar exemplos na evolução do português ao longo dos anos. Os processos que produziram mudanças históricas são os mesmos que estamos testemunhando a cada momento hoje. O comportamento fonológico não é amorfo, mas, ao contrário, é o aspecto mais estruturado da língua.

Variações (sincrônicas):

- diatópicas;- diastráticas.

Variações diatópicas: diferenças que uma mesma língua apresenta na dimensão do espaço, quando é falada em diferentes regiões de um mesmo país ou em diferentes países.

Variações diastráticas: diferenças que se devem a fatores socioculturais (nível de escolaridade, classe social, grupo) ou individuais (idade, sexo). Também se manifestam nos vários níveis da linguagem:

- sintaxe: Maria viu ele ontem à noite; subiu pra cima; mais melhor; a casa que eu morei nela.

- morfologia: desinfeliz.

- fonética: amontar, pobrema.

Mudanças (diacrônicas)

As alterações podem se cristalizar com a evolução da língua no tempo. Ex.: as mudanças que ocorreram do latim para o português. Decorrem do aspecto dinâmico da língua. Continuam acontecendo. Se as mudanças com o tempo prevalecem, elas passam a se incorporar à língua.

Mudança (diacrônica)

- É percebida comparando gerações.- Afeta a fonologia, a morfologia, a

sintaxe e o léxico.Fonologia: lupo> lobo; acetu>azedo.

Dois tipos de alterações sonoras:

1. Alterações de som que não afetam a estrutura silábica (ASSIMILAÇÃO)

 2. Alterações que afetam a estrutura

silábica (METAPLASMOS)

1. Assimilação1.1. palatalização1.2. sonorização1.3. harmonização vocálica1.4. metafonia

2. Metaplasmos1- por acréscimo a. prótese b. epêntese c. epítese ou paragoge 2.2- por queda a. aférese b. síncope c. apócope 2.3- por permuta a. metátese

2.4. por transformação

1. Assimilação

Há uma mudança na articulação dos fonemas.

“Consiste na extensão de um ou vários movimentos articulatórios além do seu domínio originário”(Grammont, 1933). Em outros termos, um som adquire traços articulatórios diferentes do original pela influência de outro contíguo.

O fonema cujos traços articulatórios se propagam ao outro é o ASSIMILADOR, ou fonema forte; esse outro é o ASSIMILADO, ou fonema fraco.

uma consoante pode tomar os traços distintivos de uma vogal;

uma vogal, os traços distintivos de uma consoante;

uma consoante pode afetar outra; uma vogal pode afetar outra.

1.1. palatalização:Mudança fonética que consiste na ampliação da zona articulatória para a produção de uma consoante, em virtude do desdobramento da parte média da língua no palato médio. É uma assimilação determinada por um fonema palatal /i/, assimilador, em contato com a consoante assimilada. O posicionamento da língua para a emissão de uma vogal anterior pode-se sobrepor a uma consoante adjacente. EX.:Em inglês, as alternâncias eletric/ eletrician e analogous/ analogy refletem uma palatalização histórica, com uma mudança no ponto de articulação.

No português, em termos sincrônicos temos a oposição : tocar, tirar e dotar, ditar. 

ND: n (e, i) + vogal > NH         vínea > vinha

       aranea > aranha juniu > junho       seniore > senhor       linea > linha

l (i, e) + vogal > LH          palea > palha

        folia > folha filiu > filho

milio > milho palia > palha             juliu > julho

d (e, i) + vogal > J            video > vejo

        hodie > hoje        invidia > inveja

pl, cl, fl > CH                     pluvia > chuva

clave > chave            masculu > masclu > macho            flamma > chama            inflare > inchar

cl, pl, gl >  LH                    oculu > oclo > olho

sc, ss (i, e) > X                  pisce > peixe

         passione > paixão          miscere > mexer          s ( i )   > J    

           cerevisia > cerveja             basiu > beijo            ecclesia > igreja

1.2. Sonorização: Espécie de assimilação que consiste na passagem das consoantes surdas a sonoras, por influência de fonemas sonoros.

As surdas que se sonorizam são:

p > b      - capio > caibo                 lupu > lobo

t > d       - civitale > cidade                    cito > cedo                 maritu > marido

Caritate> caridade

k > g          - pacare > pagar         aqua > água     amicu > amigo     aquila > águia acutu > agudo

profectu > proveito

s > z      - acetu > azedo vicinu > vizinho

facere > fazer

f > v       - profectu > proveito                aurifice > ourives

1.3- Harmonização vocálica:Processo pelo qual uma vogal átona se assimila a uma tônica.Mudança de uma vogal pretônica para harmonizar-se com o da vogal tônica ou vocábulo. No português há uma forte tendência para a harmonização na escala das aberturas, determinando a passagem de uma vogal alta para média, de acordo com o timbre da vogal tônica, independentemente da correspondência ou divergência entre elas na posição articulatória anterior ou posterior arredondada. EX.:/minino/.

1.4 - Metafonia:Na metafonia, a sílaba tônica se assimila à átona.Geralmente há uma mudança de timbre da vogal de uma raiz ou de um sufixo lexical por asssimilação à vogal do sufixo flexional. Também a vogal pode se assimilar à semivogal.EX.:NS .:a átono final português, que abriu o timbre de /ê, ô/ para /é,ó/. Ex. este/ esta, gostoso/ gostosa.ND.: feci > fizi > fiz

           auru > ouro       lacte > laite > leite

2. Metaplasmos

Designa literalmente “mudança de forma” (grego metá + plasmós) . Metaplasmos são processos de estruturação silábica que afetam a distribuição relativa de consoantes e vogais na palavra.

- Consoantes ou vogais podem ser eliminadas ou inseridas.

- Dois segmentos podem sofrer permuta.Qualquer desses processos pode causar uma alteração na estrutura original da sílaba.

 

O metaplasmo também pode ser considerado sob um ponto de vista sincrônico ou diacrônico. Sob o ponto de vista sincrônico, o metaplasmo indica uma forma que não é normal, mas é admissível, e os que a empregam, ou a encontram, logo a associam à forma normal. Os metaplasmos podem se dar por acréscimo, supressão,permuta ou transformação.

2.1. Metaplasmos por acréscimo:

a. próteseb. epêntesec. epítese

a. prótese: acréscimo de um fonema no início de um vocábulo. Na evolução da língua portuguesa, é particularmente importante a prótese de um /e/ diante de um /s/ inicial em grupo consonântico: EX.:ND. : stare > estar,

splendidu > esplêndidoscutu > escudo.

 Esse /s/ separou-se da outra consoante para entrar numa nova sílaba inicial, em que figura como consoante pós vocálica decrescente. NS: apois, abastar, alembrar, arreceio.

b. epêntese: alteração fonética que resulta do desenvolvimento de um fonema no interior do vocábulo.

ND.: Na evolução da língua portuguesa, merecem atenção três tipos de epêntese:

a. da semivogal anterior /y/ depois de /e/ tônico em hiato.

Ex.: creo > creio idea > idéia

Trata-se de uma ditongação que desmancha o hiato e que distingue o português moderno do português arcaico.

b. de uma consoante nasal depois de vogal nasal em hiato, porque o elemento nasal pós-vocálico, que caracteriza a vogal nasal, se desenvolve em consoante pré-vocálica na sílaba seguinte. Os exemplos sistemáticos são com i(n), quando se desenvolveu a nasal palatal nh.

Ex.: vio, em que i era escrito com til > vinho nio, idem > ninho ua > uma

c. da consoante /b/ no grupo /mr/ resultante da síncope de uma vogal pós-tônica ou pré-tônica.

Ex.: umeru > um’ro > ombro memorare > men’rare > membrar >

lembrar 

NS.: embonecrado, adevogado, Jesuis, voiz, arroiz.

c. epítese ou paragoge: é o acréscimo de um fonema no final de um vocábulo. No português verifica-se a epítese de um -e, como vogal de apoio em vocábulos terminados em consoante que não forma sílaba co a vogal precedente, i.e., oclusiva ou constritiva labial.EX.:ND.: São alguns vocábulos eruditos ou estrangeirismos. A ortografia atual já registra esse e (Judite, clube)< desde que o vocábulo não seja mais considerado estrangeiro. Também houve a epítese de -s nos advérbios. Ex.: ante > antes.NS.: bules; sole (sol); male (mal); sale (sal)

2.2. Metaplasmos por quedaa. aféreseb. síncopec. apócope

a. aférese: perda de um fonema inicial. Na língua portuguesa, há tendência à aférese da vogal inicial que constitui sílaba simples, por causa da força expiratória que se dá à consoante que começa a sílaba seguinte.EX.:ND.: inodiu > enojo > nojo,

inamorare > enamorar > namorar.   acume>gume

    attonitu > tonto        episcopu > bispo

 NS.: guentar, maginar.

b. síncope: perda de um ou mais fonemas mediais da palavra.

ND.:Na evolução do português, há dois tipos principais de síncope.

1. síncope da vogal postônica dos proparoxítonos latinos, com a redução do vocábulo a paroxítono.apícula > apicla > abelha.teneru > tenru

2. síncope de consoante sonora entre vogais: mala > maa> má pede > pee > pé Malu > mau Legale > leal 

No português moderno houve ainda a síncope da oclusiva ou constritiva labial, como primeiro membro de grupo consonântico, em vocábulos eruditos: excepção > exceçãosecção > seçãoNS.: No nível sincrônico, temos: ridico, preambos (preâmbulos), legite (legítimo), xicra, aspro, esipra (erisipela), arvre, gurita.

3. apócope: desaparecimento de um fonema em fim de vocábulo.EX.:ND.: Na evolução da língua portuguesa são muito importantes duas espécies de apócope:

1. a das consoantes finais: aqmat > ama. 2. a do -e depois de consoante líquida, sibilante ou nasal

dental, passando a consoante a formar sílaba com a vogal precedente

amare > amar legale > legal. male > mal

NS.: comê, falá.

2.3. Metaplasmos por permuta: 

Metátese - mudança fonética que consiste na transposição de um fonema dentro de um vocábulo.

ND.:Na evolução da língua portuguesa são principalmente importantes dois tipos de metátese:

 1. transposição de um /i/ ou de um /u/, feito

prepositiva de um ditongo crescente para a sílaba precedente tônica, onde passa a constituir um ditongo decrescente com a vogal silábica (hipértese).

primariu > primairo > primeiro capio > caibo. habui > haube > houve.

2. transposição do /r/ como segundo membro de um grupo consonântico, de uma sílaba interna ou final para a sílaba inicial;

fenestra > fresta pigritia > preguiça tenebras > trevas. semper > sempre inter > entre                                   

NS: tauba, pobrema, estauta, enterter, parteleira, bicabornato, estrupo.

 

Metaplasmos por transformação

Vocalização – é a transformação de uma consoante em vogal ou semivogal.

nocte > noiteregnu > reinomultu > muito

Consonantização – é a transformação de uma vogal ou semivogal em consoante. No português dão-se casos de consonantização com as semivogais i e u latinas, que passam, respectivamente, a j e v.

  iam > já  Iesus > Jesus  uita > vida  uacca > vaca

Outros fenômenos: 

Dissimilação: Fenómeno inverso da Assimilação, consiste em estabelecer uma diferenciação entre dois fonemas iguais. Não é um fenômeno muito freqüente no

português.        

EX.:NS.: lâmpida

ND.:  Memorare > membrar > lembrar

        Rotundu > rodondo > redondo

Sinérese: Forma de pronúncia de um grupo vocálico em que se reúnem numa só sílaba duas vogais adjacentes que poderiam também ser pronunciadas em duas sílabas (diérese). A sinérese e a diérese são variações sincrônicas que não resultam em oposição distintiva, embora haja uma pronúncia mais normal (freqüente).EX.: NS:a. em grupos vocálicos átonos não-finais, com a 2a. vogal alta, que é tônica no vocábulo primitivo . Traidor.

 b. grupos vocálicos átonos não finais, com a 1a vogal alta. Piedade, suavidade.

 c. em grupos vocálicos átonos finais, de 1a vogal átona. Glória, série.

Diérese: Forma de pronúncia em que se separam duas vogais que poderiam ser pronunciadas juntas. Ocorre nas mesmas circunstâncias da sinérese.