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16/9/2014 Althusser: A Filosoifa Como Uma Arama Revolucionária http://www.marxists.org/portugues/althusser/1968/02/filosofia.htm 1/10 MIA > Biblioteca > Althusser > Novidades A Filosofia Como Uma Arma Revolucionária Louis Althusser Fevereiro de 1968 Primeira Edição: Entrevista concedida a Maria Antonietta Macciocchi e publicada em L'Unità, Fevereiro de 1968. Fonte: Tradução para o inglês publicada na New Left Review em 1971. Tradução: Gabriel Zerbetto Vera , Maio 2007, a partir do texto em inglês existente no Marxists Internet Archive . HTML: Fernando A. S. Araújo , Maio 2007. Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License. 1 Você poderia nos contar um pouco sobre sua história pessoal? O que o trouxe à filosofia marxista? Em 1948, quando eu tinha 30 anos, me tornei professor de filosofia e me filiei ao PCF [Partido Comunista Francês]. A filosofia era um interesse, eu buscava fazer dela minha profissão. A política era uma paixão, eu almejava ser um militante comunista. Meu interesse pela filosofia foi motivado pelo materialismo e sua função crítica: o conhecimento científico, contra todas as mistificações do "conhecimento" ideológico. Contra o mero denuncismo moral de mitos e mentiras, por suas críticas racionais e rigorosas. Minha paixão pela política foi inspirada pelo instinto revolucionário, inteligência, coragem e heroísmo da classe operária em sua luta pelo socialismo. A Guerra e os longos anos em cativeiro me propiciaram um vívido contato com operários e camponeses e fui apresentado aos militantes comunistas. Foi a política que decidiu tudo. Não a política em geral: a política marxista-leninista. Primeiro tive que encontrá-las e entendê-las. Isso é sempre dificílimo para um intelectual. E foi difícil assim nos anos 50 e 60, pelos motivos que você sabe bem: as conseqüências do "culto", o Vigésimo Congresso, depois a crise do movimento comunista internacional. Acima de tudo, não foi fácil resistir à propagação da ideologia "humanista" contemporânea e aos outros ataques da

Althusser_ a Filosoifa Como Uma Arama Revolucionária

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    http://www.marxists.org/portugues/althusser/1968/02/filosofia.htm 1/10

    MIA > Biblioteca > Althusser > Novidades

    A Filosofia Como Uma ArmaRevolucionria

    Louis Althusser

    Fevereiro de 1968

    Primeira Edio: Entrevista concedida a Maria Antonietta Macciocchi e publicada emL'Unit, Fevereiro de 1968. Fonte: Traduo para o ingls publicada na New Left Review em 1971.Traduo: Gabriel Zerbetto Vera, Maio 2007, a partir do texto em ingls existente noMarxists Internet Archive.HTML: Fernando A. S. Arajo, Maio 2007.Direitos de Reproduo: A cpia ou distribuio deste documento livre eindefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

    1 Voc poderia nos contar um pouco sobre sua histria pessoal?O que o trouxe filosofia marxista?

    Em 1948, quando eu tinha 30 anos, me tornei professor defilosofia e me filiei ao PCF [Partido Comunista Francs]. A filosofiaera um interesse, eu buscava fazer dela minha profisso. A polticaera uma paixo, eu almejava ser um militante comunista.

    Meu interesse pela filosofia foi motivado pelo materialismo e suafuno crtica: o conhecimento cientfico, contra todas asmistificaes do "conhecimento" ideolgico. Contra o merodenuncismo moral de mitos e mentiras, por suas crticas racionaise rigorosas. Minha paixo pela poltica foi inspirada pelo instintorevolucionrio, inteligncia, coragem e herosmo da classe operriaem sua luta pelo socialismo. A Guerra e os longos anos emcativeiro me propiciaram um vvido contato com operrios ecamponeses e fui apresentado aos militantes comunistas.

    Foi a poltica que decidiu tudo. No a poltica em geral: a polticamarxista-leninista.

    Primeiro tive que encontr-las e entend-las. Isso sempredificlimo para um intelectual. E foi difcil assim nos anos 50 e 60,pelos motivos que voc sabe bem: as conseqncias do "culto", oVigsimo Congresso, depois a crise do movimento comunistainternacional. Acima de tudo, no foi fcil resistir propagao daideologia "humanista" contempornea e aos outros ataques da

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    ideologia burguesa ao marxismo.

    Uma vez que atingi um melhor entendimento da poltica marxista-leninista, comecei a me apaixonar pela filosofia tambm, econseqentemente passei a entender a grande idia de Marx,Lnin e Gramsci: a de que a filosofia fundamentalmente poltica.

    Tudo que escrevi primeiro sozinho, depois em companhia decamaradas e amigos mais jovens - gira, apesar da "abstrao" denossos ensaios, em torno dessas questes bastante concretas.

    2 Voc poderia ser mais preciso: por que em geral to difcilser um comunista na filosofia?

    Ser um comunista na filosofia tornar-se partidrio e perito nafilosofia marxista-leninista, a do materialismo dialtico.

    No fcil ser um filsofo marxista-leninista. Como todo"intelectual", o professor de filosofia um pequeno burgus.Quando ele abre a boca, sua ideologia pequeno-burguesa fala:seus truques e espertezas so infinitos.

    Voc sabe o que Lnin diz dos "intelectuais". Individualmente,alguns deles poderiam (politicamente) ser consideradosrevolucionrios e corajosos. Mas no conjunto eles permanecemsendo pequeno-burgueses "incorrigveis" na ideologia. O prprioGorki era, para Lnin (que admirava seus talentos), umrevolucionrio pequeno-burgus. Para se tornarem "idelogos daclasse operria" (Lnin), "intelectuais orgnicos" do proletariado(Gramsci), os intelectuais devem atingir uma revoluo radical emsuas idias: uma longa, dolorosa e difcil re-educao. Umainterminvel luta exterior e interior.

    Os proletrios tm um "instinto de classe" que os ajuda a alcanar"posies de classe" proletrias. Os intelectuais, por outro lado,tm um instinto de classe pequeno-burgus que se opeferozmente a essa transio.

    Uma posio de classe proletria mais do que um mero "instintode classe" proletrio. a conscincia e a prtica que esto deacordo com a realidade objetiva da luta de classe proletria. Oinstinto de classe subjetivo e espontneo. A posio de classe objetiva e racional. Para atingir as posturas de classe proletrias, oinstinto de classe dos proletrios necessita apenas ser educado; oinstinto de classe dos pequeno-burgueses (e, logo, dosintelectuais) necessita, por outro lado, ser revolucionado. Essa

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    educao e essa revoluo so, em ltima anlise, determinadaspela luta de classe proletria conduzida desde a base pelosprincpios da teoria marxista-leninista.

    Como diz o Manifesto Comunista, o conhecimento dessa teoriapode ajudar certos intelectuais a atingirem posies da classeoperria.

    A teoria marxista-leninista abrange uma cincia (o materialismohistrico) e uma filosofia (o materialismo dialtico).

    A filosofia marxista-leninista , portanto, uma das duas armastericas indispensveis para a luta de classe do proletariado. Osmilitantes comunistas devem assimilar e aplicar os princpios dateoria: cincia e filosofia. A revoluo proletria precisa demilitantes que so tanto cientistas (materialistas histricos) quantofilsofos (materialistas dialticos) para auxiliar na defesa e nodesenvolvimento da teoria.

    A formao desses filsofos vai de encontro a duas grandesdificuldades.

    Primeiro, a dificuldade poltica. O filsofo profissional que se junteao Partido continua sendo, ideologicamente, um pequeno burgus.Ele deve revolucionar seu pensamento de forma a ocupar umaposio de classe proletria na filosofia.

    Essa dificuldade poltica "determinante em ltimo caso".

    A segunda a dificuldade terica. Ns sabemos com quedirecionamento e com quais princpios devemos trabalhar a fim dedefinir essa posio de classe na filosofia. Mas devemosdesenvolver a filosofia marxista: terica e politicamente urgentefazer isso. Agora, esse trabalho vasto e difcil. Dentro da teoriamarxista, a filosofia ficou para trs da cincia da histria.

    Atualmente, em nossos pases, essa a dificuldade "dominante".

    3 Ento voc distingue uma cincia e uma filosofia dentro dateoria marxista? Como voc sabe, essa distino bastantecontestada atualmente.

    Eu sei. Mas essa "contestao" uma velha histria.

    Para ser extremamente esquemtico, pode-se dizer que, nahistria do movimento marxista, a supresso dessa distinoexpressou um desvio tanto direitista quanto esquerdista. O desvio

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    direitista suprime a filosofia: resta apenas a cincia (positivismo).O desvio esquerdista suprime a cincia: resta apenas a filosofia(subjetivismo). Existem excees a isso (casos de "inverso"), maselas "confirmam" a regra.

    Os grandes lderes do movimento operrio marxista, de Marx eEngels at hoje, sempre disseram que esses desvios so resultadoda influncia e dominao da ideologia burguesa sobre omarxismo. Da parte deles, eles sempre defenderam a distino(cincia, filosofia), no apenas por razes tericas, mas por razesvitais polticas tambm. Pense no Lnin em Marxismo e Emprio-criticismo ou em Esquerdismo Doena Infantil do Comunismo.Suas razes so claramente bvias.

    4 Como voc justifica essa distino entre cincia e filosofia nateoria marxista?

    Responderei a essa pergunta formulando algumas questesprovisrias e esquemticas.

    1. A fuso da teoria marxista com o movimento operrio oevento mais importante de toda a histria da luta de classes, ouseja, de praticamente toda a histria da humanidade (os primeirosefeitos foram as revolues socialistas).

    2. A teoria marxista (cincia e filosofia) representa uma revoluosem precedentes na histria do conhecimento humano.

    3. Marx fundou uma nova cincia: a cincia da histria. Vouilustrar isso. As cincias com as quais somos familiares tm seusalicerces em alguns "continentes". Antes de Marx, dois dessescontinentes haviam sido abertos ao conhecimento cientfico: ocontinente da matemtica e o continente da fsica. O primeiropelos gregos (Tales), o segundo por Galileu. Marx abriu umterceiro continente ao conhecimento cientfico: o continente dahistria.

    4. A abertura desse novo continente levou a uma revoluo nafilosofia. Essa uma regra: a filosofia est sempre ligada scincias.

    A filosofia nasceu (com Plato) quando o continente damatemtica foi aberto. Ela foi transformada (com Descartes) pelaabertura do continente da fsica. Hoje em dia, ela est sendorevolucionada com a abertura do continente da histria por Marx.Essa revoluo chamada materialismo dialtico.

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    As transformaes da filosofia so sempre reverberaes degrandes descobertas cientficas. Portanto, em essncia, elasnascem aps esses eventos. por isso que a filosofia ficou paratrs da cincia na teoria marxista. Existem outras razes que todosns conhecemos, mas hoje essa a dominante.

    5. Como conjunto, apenas os militantes proletrios reconheceramo mbito revolucionrio da descoberta cientfica de Marx. Suaprtica poltica foi transformada por ela.

    E aqui chegamos ao maior escndalo terico da histriacontempornea.

    Como conjunto, os intelectuais, por outro lado mesmo os quetm um interesse "profissional" no assunto (especialistas emcincias humanas, filsofos) , no reconheceram ou se recusama reconhecer o mbito sem precedentes da descoberta cientfica deMarx, esta que eles condenam e desprezam e que eles distorcemquando discutem a seu respeito.

    Com poucas excees, eles ainda esto engatinhando naeconomia poltica, sociologia, etnologia, "antropologia", "psicologiasocial", etc., etc. Mesmo hoje, cem anos aps o Capital , assimcomo os fsicos aristotlicos estavam "engatinhando" na fsica,cinqenta anos depois de Galileu. Suas "teorias" so anacronismosideolgicos, rejuvenescidos por uma grande dose de sutilezasintelectuais e tcnicas matemticas ultramodernas.

    Mas esse escndalo terico no um de todo um escndalo. umefeito da luta de classe ideolgica: pois a ideologia burguesa, a"cultura" burguesa que est no poder, que exerce uma"hegemonia". Como conjunto, os intelectuais, incluindo muitosintelectuais comunistas e marxistas, so - com excees -dominados em suas teorias pela ideologia burguesa. Comexcees, o mesmo acontece nas cincias "humanas".

    6. A mesma situao escandalosa aparece na filosofia. Quemcompreendeu a incrvel revoluo filosfica provocada peladescoberta de Marx? Apenas os lderes e militantes proletrios. Poroutro lado, os filsofos profissionais, como conjunto, nem sequerse deram conta dela. Quando eles mencionam Marx, isso sempreocorre (com rarssimas excees) com o intuito de atac-lo,conden-lo, "absorv-lo", explor-lo e revis-lo.

    Aqueles que defenderam a dialtica materialista, como Engels eLnin, so tratados como filosoficamente insignificantes. O

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    verdadeiro escndalo que certos filsofos marxistas sucumbiramante a mesma infeco, em nome do "anti-dogmatismo". Mas aquitambm a razo a mesma: o efeito da luta de classe ideolgica.Pois a ideologia burguesa, a "cultura" burguesa, que est nopoder.

    7. As tarefas cruciais do movimento comunista, em teoria:

    - Identificar e conhecer o mbito terico revolucionrio da cincia eda filosofia marxista-leninista;

    Lutar contra a viso de mundo burguesa e pequeno-burguesaque sempre ameaou a teoria marxista e que a permeiaprofundamente hoje em dia. A forma geral dessa viso de mundo o economismo (hoje "tecnocracia"), e seu "complementoespiritual", o idealismo tico (hoje "humanismo"). O economismo eo idealismo tico formaram a base opositora na viso de mundoburguesa desde as origens da burguesia. A atual forma filosficadessa viso de mundo o neo-positivismo e seu "complementoespiritual", o subjetivismo existencialista-fenomenolgico. Avariante peculiar s Cincias Humanas a ideologia chamada"estruturalismo";

    Conquistar para a cincia a maioria das Cincias Humanas,acima de tudo as Cincias Sociais, que, com excees, tmocupado como impostoras o continente da histria, o continentelegado por Marx a ns;

    Desenvolver a nova cincia e filosofia com todo rigor e ousadianecessrios, vinculando ambas aos requisitos e inventos da prticada luta de classe revolucionria.

    Em teoria, a ligao decisiva na atualidade: a filosofia marxista-leninista.

    5 Voc disse duas coisas que so aparentemente contraditriasou diferentes: primeiro, a filosofia basicamente poltica; segundo,a filosofia est ligada s cincias. Como voc explica essa duplarelao?

    Aqui tambm terei de responder por meio de questesesquemticas e provisrias.

    1. As posies de classe em confronto na luta de classes so"representadas" no domnio das ideologias prticas (ideologiasreligiosas, ticas, legais, polticas, estticas) por vises de mundode tendncias antagnicas: idealistas (burguesas) e materialistas

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    (proletrias). Todos desenvolvem espontaneamente uma viso demundo.

    2. As vises de mundo so representadas no domnio da teoria(cincia + as ideologias "tericas" que envolvem a cincia e oscientistas) pela filosofia. A filosofia representa a luta de classes nateoria. por isso que a filosofia uma luta (Kampf, como disseKant) e fundamentalmente uma luta poltica: uma luta de classes.Ningum um filsofo por natureza, mas todos podem serfilsofos.

    3. A filosofia surge logo que o domnio terico aparece, logo queuma cincia (num sentido estrito) nasce. Sem a cincia no hfilosofia, apenas vises de mundo. A aposta na batalha e o campode batalha devem ser distinguidos. A aposta definitiva da lutafilosfica a luta pela hegemonia entre as duas grandestendncias de viso de mundo (materialista e idealista). O principalcampo de batalha dessa luta o conhecimento cientfico: contraou a favor dele. Deste modo, a batalha filosfica mais importanteocorre na fronteira entre o conhecimento cientfico e o ideolgico.L, as filosofias idealistas que depredam a cincia lutam contra asfilosofias materialistas que servem s cincias. A luta filosfica uma esfera da luta de classes existente entre vises de mundo. Nopassado, o materialismo sempre foi dominado pelo idealismo.

    4. A cincia fundada por Marx mudou toda a conjuntura dodomnio terico. uma cincia nova: a cincia da histria. Dessaforma, isso nos possibilitou conhecer, pela primeira vez, as visesde mundo que a filosofia representa na teoria; isso no permitiuentender a filosofia. Isso nos fornece recursos para mudar asvises de mundo (a luta de classe revolucionria guiada pelosprincpios da teoria marxista). A filosofia assim duplamenterevolucionada. O materialismo mecanicista, "idealistahistoricamente", se torna o materialismo dialtico. O equilbrio dasforas invertido: agora o materialismo pode dominar o idealismona filosofia e, se as condies polticas estiverem concretizadas,pode tambm conduzir a luta de classe pela hegemonia entre asvises de mundo.

    A filosofia marxista-leninista, ou o materialismo dialtico,representa a luta de classe proletria na teoria. Com a unio dateoria marxista e do movimento operrio (a unio definitiva entreteoria e prtica) a filosofia interrompida, como disse Marx, para"interpretar o mundo". Torna-se uma arma para "mud-lo": arevoluo.

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    6 So essas as razes que levaram voc a dizer que essencialler o Capital hoje em dia?

    Sim. essencial ler e estudar o Capital.

    Para realmente entender, em todo seu mbito e conseqnciascientficas e filosficas, o que o os militantes proletrios h muitoentendem na prtica: o carter revolucionrio da teoria marxista.

    Para defender essa teoria de todas as interpretaes burguesase pequeno-burguesas, ou seja, revises que ameaam-naseriamente hoje, principalmente a oposioeconomismo/humanismo.

    Para desenvolver a teoria marxista e prover os conceitoscientficos indispensveis anlise da luta de classescontempornea, em nossos pases e mundo afora.

    essencial ler e estudar o Capital. Devo acrescentar que necessrio e essencial ler e estudar Lnin e todos os grandestextos, novos ou antigos, aos quais se devem a experincia da lutade classe do movimento operrio internacional. essencial estudaros textos prticos do movimento operrio revolucionrio em suarealidade, seus problemas e contradies: seu passado e, acima detudo, sua histria presente.

    Atualmente, existem grandes recursos em nossos pases para aluta de classe revolucionria. Mas eles devem ser buscados emsuas fontes: as massas oprimidas. Eles no sero "descobertos"sem um vnculo direto com as massas e sem as armas da teoriamarxista-leninista. As noes ideolgicas burguesas de "sociedadeindustrial", "neocapitalismo", "nova classe trabalhadora","sociedade afluente", "alienao" e tutti quanti so anti-cientficase antimarxistas: criadas para fazer frente aos revolucionrios.

    Finalmente, devo acrescentar um comentrio, o mais importantede todos.

    Para que algum realmente entenda o que "l" e estuda nessasobras tericas, polticas e histricas deve-se vivenciar diretamenteas duas realidades que de fato as determinam: a realidade daprtica terica (cincia, filosofia) em sua vida concreta e, tambmnesta, a realidade da prtica da luta de classe revolucionria, emcontato prximo s massas. Pois a teoria que nos permitecompreender as leis da histria: no so os intelectuais nem ostericos, mas as massas que fazem a histria. essencial

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    aprender com a teoria - mas ao mesmo tempo crucial aprendercom as massas.

    7 Voc atribui uma grande importncia ao rigor, inclusive a umvocabulrio rigoroso. O que isso significa?

    Uma simples expresso resume a funo maior da prticafilosfica: "traar uma linha divisria" entre as idias verdadeiras eas falsas, como disse Lnin.

    Mas a mesma expresso resume uma das operaes fundamentaisque norteiam a prtica da luta de classe: "traar uma linhadivisria" entre as classes antagnicas. Entre nossos amigos declasse e nossos inimigos de classe.

    a mesma expresso. A linha divisria terica entre as idiasverdadeiras e as falsas. A linha divisria poltica entre o povo (oproletariado e seus aliados) e os inimigos do povo.

    A filosofia representa a luta de classes na teoria. Em contrapartida,ela ajuda o povo a distinguir na teoria e em todas as outras idias(polticas, ticas, estticas, etc.) quais idias so corretas e quaisso erradas. A princpio, as idias verdadeiras sempre servem aopovo; as idias falsas sempre servem aos inimigos do povo.

    Por que a filosofia batalha pelas palavras? As realidades da luta declasses so "representadas" pelas "idias", que so"representadas" pelas palavras. Na argumentao cientfica efilosfica, as palavras (conceitos, categorias) so "instrumentos"do conhecimento. Mas na luta poltica, ideolgica e filosfica, aspalavras so armas, explosivos ou tranqilizantes e venenos. svezes, toda a luta de classe pode ser resumida a um confrontoentre palavras. Certas palavras lutam entre si como inimigas.Outras palavras so razes de uma ambigidade: so a aposta emuma batalha decisiva, porm no resolvida.

    Por exemplo: a luta comunista pela supresso das classes e poruma sociedade comunista, onde, um dia, todos os homens serolivres e irmos. Entretanto, toda a tradio marxista clssica serecusou a considerar o marxismo como um humanismo. Por qu?Por a palavra humanismo ser, na prtica (isso , com base nosfatos), explorada por uma ideologia que a usa para brigar, ou seja,para obliterar aquela outra expresso verdadeira, vital aoproletariado: a luta de classes.

    Outro exemplo: os revolucionrios sabem que, em ltimo caso,

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    Incluso 22/05/2007

    tudo depender, no das tcnicas, armas, etc., mas dos militantes,com sua conscincia de classe, sua devoo e sua coragem.Contudo, toda a tradio marxista se nega a dizer que ohomem" que faz a histria. Por qu? Por esta expresso ser naprtica (com base nos fatos) explorada pela ideologia burguesa,que a utiliza para brigar, ou seja, para extinguir outra idialegtima, vital ao proletariado: que so as massas que fazem ahistria.

    Ao mesmo tempo, a filosofia mesmo nos longos trabalhos ondeela se mostra abstrata e difcil batalha pelas palavras: contra aspalavras mentirosas, contra as palavras ambguas, a favor daspalavras corretas. Ela luta pelas "marcas de opinio".

    Lnin disse: "Apenas as pessoas incautas consideram as disputasfactuais e a rgida diferenciao entre as marcas de opinio comoinoportunas ou suprfluas. O destino da social-democracia russanos muitos anos que ho de vir poder depender do fortalecimentode uma ou outra "marca" (in Que fazer?).

    A batalha filosfica pelas palavras uma parte da luta poltica. Afilosofia marxista-leninista s poder concluir sua obra tericaabstrata, rigorosa e sistemtica se ela lutar tanto pelas expressesfortemente acadmicas (conceito, teoria, dialtica, alienao,etc.) quanto pelas mais triviais (homem, massas, povo, luta declasse).

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