Anais Ciclo

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  • a N a i s D O

    cicLO DE VisEs

    cRTicas DO

    DiREiTO

    Lutas londrina

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    WWW.FACEBOOK.COM/LUTASLONDRINA

    Lutas londrina

  • Miguel Etinger de Arajo Junior

    Coordenador

    Ciclo de Vises Crticas do Direito

    Londrina

    2014

  • REITORA

    Nadina Aparecida Moreno

    VICE-REITORA

    Berenice Quinzani Jordo

    REALIZAO

    LUTAS Londrina Projeto integrado de

    extenso, pesquisa e ensino n 1680

    Pr-Reitoria de Extenso PROEX/UEL

    Centro de Estudos Sociais Aplicados

    CESA

    Universidade Estadual de Londrina UEL

    COORDENAO

    Miguel Etinger de Arajo Junior

    COMISSO CIENTFICA

    Erika Juliana Dmitruk

    Miguel Etinger de Arajo Junior

    Reginaldo Melhado

    Renato Lima Barbosa

    COMISSO ORGANIZADORA

    Amanda Barana Conceio

    Ana Lusa Ruffino

    Andr Vilaas Bizerra

    Baruana Calado dos Santos

    Bianca Louise Blanco

    Bruno Calciolari de Godoy

    Carolina Teshima

    Dese Camargo Maito

    Diogo Ribeiro dos Santos

    Eduardo Monteiro Brkle

    Fernanda Pietrobon Deparis

    Fernanda Verruck de Moraes

    Flaviane Lulu Minto

    Gabriel Miaki Sobreira

    Gabriel Rufini Galvo

    Gabriela Mller Santana

    Giovana Virginio Cruz

    Guilherme Cavicchioli Uchimura

    Guilherme Duarte Ferreira Barbosa

    Julia Abreu Rodrigues

    Layane Marques Joaquim

    Ludymila Aparecida Rizzo Cardoso

    Luiz Otvio Ribas

    Maria Carolina Silvestre de Barros

    Marinno Arthur Gonalves do Carmo Silva Berno

    Nader Naves Suleiman Hamida

    Rodolfo Carvalho Neves dos Santos

    Thas Caroline de Moraes Sebastio

    Vernica Akemi Gomes Choyama

    William FernandesPreencher

  • PROGRAMAO

    15 A 16 DE MARO DE 2014

    Curso: Como Funciona a Sociedade

    Monitor: Cssius Marcelus Tales Marcusso Bernardes de Brito (UEM)

    10 A 11 DE ABRIL DE 2014

    Direito do Trabalho e Movimentos Sociais: o direito de trabalhar e o

    trabalho do direito

    Palestrantes: Alexandre Mandl e Jorge Luiz Souto Maior (USP)

    Debatedores: Reginaldo Melhado (UEL), Miguel Etinger de Arajo Junior

    (UEL), rika Juliana Dmitruk (UEL), Renato Lima Barbosa (UEL), Evaristo

    Colman (UEL), Heiler Ivens de Souza Natali (MPT), Csar Bessa (UEL)

    23 DE ABRIL DE 2014

    Direito que se ensina errado: reflexes e encaminhamentos sobre nossa

    grade curricular

    Palestrante: Luiz Otvio Ribas

  • a P O i O

    Sindicato dos Bancrios De Londrina e Regio

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    APRESENTAO

    Historicamente, predomina no Curso de Direito da UEL a viso legalista do

    fenmeno jurdico, ou seja, os estudos so mais focados no direito positivo. Com isso,

    acaba ocorrendo o distanciamento do outro lado do direito, que a percepo da relao

    direta entre os anseios populares e a prpria ontologia do fenmeno jurdico.

    O grupo de estudantes e professores LUTAS LONDRINA1 hoje, no mbito do

    curso de direito, referncia da busca pelo alargamento das vises que se podem ter acerca

    do Direito2.

    O Ciclo de vises crticas do Direito: aprendendo para lutar foi um evento

    que o grupo se props a realizar justamente para difundir algumas questes mais crticas

    entre a comunidade discente e docente.

    O evento foi dividido em trs etapas:

    a) Curso Como Funciona a Sociedade: voltado aos ingressantes do Curso de Direito em 2014, propicia uma reflexo crtica das estruturas sociais.

    b) Mesas de discusso: Direito do Trabalho e Movimentos Sociais: o direito de trabalhar e o trabalho do direito

    c) Mesa de discusso: Direito que se ensina errado: reflexes e encaminhamentos sobre nossa grade curricular.

    Trata-se de temticas no abordadas em geral por outros eventos realizados no

    mbito do Curso de Direito. O evento representou, portanto, a oportunidade de apresentar

    outra forma de pensar o direito, alternativa tradicional, abrangendo como pblico desde os

    alunos do 1 ano, at alunos mais experientes e o prprio corpo docente.

    Destaca-se, ainda, que a proposta foi a de se realizar no apenas a exposio por

    parte dos palestrantes, mas o efetivo debate com os componentes da mesa e tambm com

    os participantes do evento em geral.

    O nome Ciclo de vises crticas do Direito: aprendendo para lutar por

    demais sugestivo: nossa proposta foi a de propiciar aos participantes do evento a reflexo

    1 Projeto integrado de pesquisa, ensino e extenso n1680 ProEx/UEL. 2 O Lutas Londrina formado por discentes, docentes e colaboradores externos, como advogados e membros

    da sociedade. Nosso objetivo formar prticas de Assessoria Jurdica Popular, consistentes em buscar as demandas das comunidades e dos movimentos sociais e, por meio da metodologia freireana, criar dilogos e aes co-implicativas que possam resolv-las. Mais informaes podem ser obtidas em nosso site: http://lutas-londrina.blogspot.com.br/.

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    que, em regra, no existe nas salas de aula. Nesse aspecto, o objetivo foi complementar o

    contedo programtico com uma viso menos reducionista do Direito e, portanto, mais

    transformadora e envolvida com a realidade social.

    O LUTAS, no por acaso, buscou a contribuio do professor Luiz Otvio Ribas

    para o evento. A grade curricular do nosso curso encontra-se hoje em discusso no

    colegiado de professores. Conforme proposto no dia do evento, ser montada uma

    comisso a partir de alunos que manifestaram ou venham a manifestar interesse em discutir

    propostas de alterao na grade curricular, a partir da qual encaminharemos um documento

    ao colegiado manifestando o ponto de vista dos estudantes do Direito UEL.

    Como avaliao final, ns, do LUTAS, temos a segurana de afirmar a satisfao

    por muitos estudantes terem prestigiado esse evento, o que representa, para ns, um

    pequeno passo no sentido de efetivar melhorias em nosso curso. Os palestrantes

    demonstraram que existe uma perspectiva de estudo e prtica do Direito que dialoga com a

    realidade e capaz de alter-la, mesmo que de forma limitada. Como disse Souto Maior, o

    Direito no s aquele que est de acordo com as jurisprudncias, smulas ou

    entendimentos. O Direito um instrumento amplo, que pode sim ser utilizado no sentido de

    luta.

    Por fim, antes de iniciarmos uma breve exposio sobre como foi o andamento das

    atividades do evento, agradecemos, pela disposio e pelo efetivo envolvimento com os

    participantes do evento, os palestrantes Cassius Marcelus Brito, Alexandre Mandl, Jorge

    Luiz Souto Maior e Luiz Otvio Ribas.

    Agradecemos tambm as instituies e profissionais sem as quais a realizao do

    evento no seria possvel: Fundao Araucria, Universidade Estadual de Londrina, Pr-

    Reitoria de Extenso, Sindicato dos Bancrios de Londrina e Regio e funcionrios

    responsveis pelo anfiteatro do PDE.

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    COMO FUNCIONA A SOCIEDADE

    Um fim de semana. Dois dias, das 8h00 s 18h00. Vinte e sete calouros, uma

    integrante da Filosofia e ns, lutantes. Esses so alguns dos dados do Curso Como

    funciona a Sociedade do qual participamos nos dias 15 e 16 de maro deste ano. A partir

    das palavras de Cassius Marcelus, participamos de dinmicas e discusses prticas para

    responder instigante pergunta: como, afinal, funciona a sociedade?

    claro que, para responder tal pergunta, deve-se levar em conta inmeros fatores

    e um bom tanto de dedicao. A experincia que tivemos, no entanto, foi como descobrir

    que cada um de ns tem uma lanterna em meio ao breu escuro das dvidas. A sociedade

    no como por acaso. E tampouco deixar de ser.

    Ainda que muitos aleguem o imenso descontentamento com a sociedade em que

    vivemos e o desejo constante de transform-la, muitas vezes acaba esquecida, em meio a

    tanta aflio, a questo simples e prtica de que s poderemos transform-la quando

    compreendermos como chegou a ser o que , como se mantm assim e quais so os

    valores que nela e com ela sustentamos a cada dia. A cada compra, a cada jornada de

    trabalho.

    Precisamos nos sentir parte da sociedade, e ao comear a entend-la e critic-la

    estamos tambm criticando a ns mesmos. Nossas crticas so, assim, tanto uma

    autorreflexo quanto uma inspirao consoladora: somos muitos, e nada esttico.

    Teremos abertas as portas que decidirmos destrancar e com essas que devemos contar,

    no com as que se abrem casualmente com um vento forte.

    Ao entardecer o domingo, nos despedimos do Cassius e dos calouros de maneira

    diferente da que nos cumprimentamos sbado de manh. Despedimos-nos com uma carga

    de conhecimento muito maior, com uma integrao muito maior e, acima de tudo, com muito

    mais clareza e esperana. com essa impresso que ns do LUTAS Londrina voltamos

    para a casa. Cansados fisicamente do esforo que toda organizao de evento demanda,

    mas espiritualmente renovados. Gratos.

    Por fim, agradecemos ao Ncleo 13 de Maio, e ao monitor Cassius Marcelus, assim

    como aos calouros do lutas, recm ingressados no curso de Direito, que possibilitaram a

    construo desse evento.

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    DIREITO DO TRABALHO E

    MOVIMENTOS SOCIAIS: O DIREITO DE TRABALHAR E O TRABALHO DO DIREITO

    PRIMEIRO DIA

    O evento, realizado no anfiteatro do PDE (Universidade Estadual de Londrina), teve

    incio por volta das 20h. Guilherme Uchimura deu incio ao evento apresentando os

    componentes da mesa: Reginaldo Melhado (professor da UEL), Cesar Bessa (professor da

    UEL), Evaristo Colman (professor da UEL, membro do Sindprol e da Aduel), Alexandre

    Mandl (advogado da fbrica Flask); Miguel Etinger (professor da UEL);

    Alexandre Mandl, conforme explicou, veio representando o conselho de fbrica da

    Flask, que ,em julho deste ano, completa 11 anos. Foi designado para apresentar a

    histria da Flask e realizar uma apresentao a respeito do movimento da fbricas

    ocupadas e a relao que estabelece com o Direito.

    O conferencista iniciou sua fala realizando um resgate da histria do movimento

    das fbricas ocupadas. O fenmeno da ocupao de fbricas pelos trabalhadores se faz

    presente em vrios captulos da Histria. Na Comuna de Paris, na trajetria dos

    trabalhadores mineiros na Bolvia e principalmente na Argentina, na virada dos ano 2000,

    quando 400 fbricas foram ocupadas em um intervalo de apenas 6 meses. A Argentina

    considerada referncia para o movimento das fbricas ocupadas.

    Quanto trajetria da fbrica Flask, Alexandre buscou incialmente desmistificar a

    ideia de que os trabalhadores, de maneira espontnea e idealizada, teriam tomado a

    iniciativa de ocupar a fbrica. Em verdade, a adoo desse modelo de gesto foi incentivada

    por uma conjuntura desfavorvel para os trabalhadores, que j sequer recebiam seus

    vencimentos, realidade diante da qual passaram a considerar a hiptese como alternativa.

    Relatou, ainda, como aps a adoo do modelo de gesto dos trabalhadores,

    atravs do processo de discusso e construo conjunta, os moradores, a partir do

    questionamento das condies de trabalho, passaram tambm a problematizar a

    propriedade privada dos meios de produo.

    No Brasil, o movimento das fbricas ocupadas ganhou fora nos anos 2000, quanto

    a crise econmica, as greves e as ocupaes de terras ganhavam fora. Esse cenrio

    culminou na ocorrncia de uma greve que extrapolou o limite convencional, os trabalhadores

    se uniram para evitar o fechamento da fbrica onde trabalhavam.

    O passo seguinte dado pelo movimento foi a tomada do controle da produo para

    as mos dos trabalhadores. Os trabalhadores realizam uma importante greve em Joinville,

    na fbrica CIPLA, do ramo plstico. O sucateamento das fbricas da empresa culminou em

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    greves, onde foi reconsiderada a possibilidade do controle da produo por parte dos

    trabalhadores.

    O sindicato que deveria representar os trabalhadores na ocasio era patronal e no

    apoiou a greve. A empresa posicionou-se no sentido de fechamento da fbrica e dispensa

    macia. Sendo interessante ressaltar que o empresrio em questo esteve envolvido com

    diversas querelas judiciais criminais ao longo dos anos.

    Houve um acordo coletivo de trabalho onde foram apontadas as possibilidades de a

    fbrica passar a ser controlada pelos trabalhadores. Naquele momento, os trabalhadores

    eram credores de dvidas trabalhistas e no havia perspectiva de realizao do pagamento

    por parte da empresa.

    Com a realizao da ocupao, a partir do acesso aos livros contbeis,

    descobriram-se inmeras fraudes realizadas pelos anteriores gestores da empresa. Diante

    desse novo elemento e tendo em vista o bom funcionamento da fbrica sob o controle dos

    trabalhadores, o acordo coletivo teve seu prazo estendido. Alexandre explicou ainda que h

    reunies semanais entre os trabalhadores para conduzir o gerenciamento da fbrica (com

    base no instrumento de procurao).

    A Flask, antes da gesto dos trabalhadores, era uma empresa com maquinrio

    obsoleto, sucateada e com poucos trabalhadores, de forma que havia dois cominhos

    possveis a serem tomados: concordata e processo de falncia ou a forma jurdica da

    cooperativa, sob o contexto da economia solidria essa segunda opo foi a escolhida.

    Em outubro de 2002, o ento presidente Lula recebeu os trabalhadores de Joinville

    (CIPLA). A principal reivindicao do movimento das fbricas ocupadas, naquele momento e

    at hoje, de que haja estatizao das fbricas sob controle dos trabalhadores, uma vez

    que os trabalhadores no tm interesse em tornarem-se proprietrios da fbrica (acarretaria

    a perda das garantias trabalhistas que lhe so devidas). Lula , no entanto, deixou claro que

    essa reivindicao no seria atendida, alegando que essa concesso do governo

    incentivaria a proliferao do movimento de ocupao de fbricas (embora o BNDS tenha

    feito um estudo indicando que a viabilidade da estatizao das fbricas).

    H 12 anos a Flask rene-se com os mais diversos rgos governamentais para

    buscar o atendimento de suas demandas, sendo que uma outra importante bandeira o

    combate terceirizao da mo-de-obra.

    Tanto na CIPLA quanto na Flask os trabalhadores decidiram coletivamente pela

    diminuio da jornada de trabalho de 48 para 40 horas semanais. Houve tambm o

    achatamento de salrios, de forma a diminuir a desproporo entre o mais alto e o mais

    baixo pagos pela fbrica, alm de outras alteraes na rotina de trabalho. Um reflexo

    importante dessas alteraes foi a diminuio do nmero de acidentes de trabalho.

    De 2002 at hoje houve atuao do movimento das fbricas ocupadas em muitas

    localidades do Brasil, geralmente ensejando imediata reintegrao de posse, o que no se

    repetiu no caso da Flask porquanto o juiz entendeu que se tratou de abandono patronal.

    O movimento no visa substituir a atuao do sindicato, que considerado

    instrumento importante para a reivindicao das classes trabalhadora no consideram o

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    movimento das fbricas ocupadas uma ciso da classe trabalhadora, mas parte integrante

    dela.

    Embora a experincia da Flask seja de fato paradigmtica e contra hegemnica,

    Alexandre lembra que, embora no haja um patro individualizado, existe a classe patronal

    e o mercado competitivo que impe uma srie de limitaes sobre a empresa, que continua

    dependendo de competitividade para se manter.

    No que se trata do dia-a-dia dos trabalhadores da Flask, houve ocupao do

    movimento sem terra e do movimento sem teto dentro da prpria fbrica, onde h uma vila

    operria, onde so realizadas uma srie de atividades sociais. Hoje os moradores da vila

    operria lutam por sua regularizao (reivindicao de desapropriao por interesse social).

    O conferencista fez uma anlise crtica interessante: O Direito tributrio

    organizado de forma a possibilitar o prosseguimento do funcionamento da fbrica, mesmo

    sem o pagamento dos tributos de forma devida, assim como o Direito do Trabalho, tem

    grande tolerncia com o no pagamento dos deveres trabalhistas. Isso demonstra a

    priorizao do interesse das empresas em detrimento do cumprimento de seus prprios

    deveres perante a sociedade e o prprio Estado.

    A grande disputa travada pela Flask em juzo gira em torno da seguinte discusso:

    as dvidas acumuladas pela fbrica so de responsabilidade de quem criou o fato gerador

    da dvida ou de quem est em posse da fbrica? Em geral, o entendimento tem sido no

    sentido de responsabilizao dos trabalhadores que esto em posso da fbrica, embora

    tenham conseguido um excepcional entendimento no sentido de realizar a destituio da

    personalidade jurdica e atingir o patrimnio dos scios da empresa em sua configurao

    anterior.

    importante ressaltar, no entanto, conforme frisou Alexandre, que tal entendimento

    minoritrio s se concretizou graas a uma investigao realizada pela prpria advocacia da

    Flask, que revelou o contedo do patrimnio dos scios. Em geral, as decises vinham

    determinando a penhora dos bens da fbrica ou, ainda mais alarmante, a desconstituio da

    personalidade jurdica como forma de atingir o patrimnio dos trabalhadores, que

    absolutamente irrisrio. Atravs da anlise desse posicionamento do judicirio, que sequer

    buscou averiguar o patrimnio dos antigos empresrios e que fez uso da Lei 4132/62

    (Desapropriao por interesse social) em favor do interesse do grande capital, fica evidente

    que, nas palavras de Alexandre Mandl: o cardpio diferente para um e para outro que

    recorre ao judicirio.

    Comumente os trabalhadores ficam diante de duas possibilidades: o pagamento da

    dvida ou a nomeao de bens a serem leiloados. Sempre que realizado o leilo dos

    patrimnios da Flask, no entanto, h manifestao dos trabalhadores, que logram impedir a

    compra do bem. Judicialmente, a medida a que tm recorrido o princpio da execuo

    menos gravosa (direito tributrio), tendo em vista o papel social da empresa.

    No mbito da Justia do Trabalho, houve contnuas mobilizaes pelo pagamento

    das dvidas trabalhistas dos ex-trabalhadores (trabalhadores do perodo anterior gesto

    dos trabalhadores). Esse pagamento, no entanto, ficou a cargo da prpria Flask, que o

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    realiza atravs de porcentagem do faturamento. Alm disso, tambm passou a ser realizada

    penhora do faturamento (manobra de execuo).

    H 10 processos exigindo pagamentos, porm, evidentemente, no possvel

    manter os funcionamento da fbrica e a ampla realizao dos pagamentos, j que a fbrica

    que precisa do valor do faturamento a se manter, de forma que o conflito no terreno do

    poder judicirio se estende.

    Por fim, quando se trata de querelas judiciais, os trabalhadores esto sendo

    processados por formao de quadrilha (criminalizao dos movimentos sociais por parte do

    judicirio).

    A CIPLA desenvolveu um projeto de casas de plstico, com baixo custo e bom

    custo benefcio que foi apresentado ao ento presidente Lula. No entanto, apesar das

    qualidades da proposta, o Presidente se posicionou contrariamente a implantao do projeto

    (Lula nega e lana o minha casa, minha vida), sendo bastante explcito a respeito da

    motivao de sua atitude, o favorecimento das empresas construtoras civis. Conforme

    relatou Alexandre, na sequncia foi implantado pelo Governo Federal o Programa Minha

    Casa Minha Vida.

    Alexandre realizou viagem Venezuela, onde o governo de Chavez apresentou

    uma postura bastante diversa da brasileira, que pode ser resumida em duas frases: fbrica

    fechada fbrica ocupada e fbrica ocupada fbrica estatizada sob o controle dos

    trabalhadores. Alm disso, quanto ao projeto das casas de plstico (PetroCasa), Chavez

    realizou sua implantao, e tornou-se um dos maiores empreendimentos imobilirios do

    mundo (est em Cuba tambm, por meio da Venezuela).

    Sentindo-se ameaada pelos avanos do movimento das fbricas ocupadas, a

    Abiplstico, apoiada por outras empresas, lanou campanha contra o avano da ditadura

    do proletariado. O poder judicirio, ento, entrou em cena, o que levou invaso da CIPLA

    por parte da polcia federal sob o respaldo da Lei de Segurana Nacional. O resultado foi o

    fim do controle operrio, nomeao de um interventor (cujo salrio de 85.000 reais) pelo

    judicirio e muitas demisses (por justa causa) na CIPLA. O interventor reduziu a

    competitividade da fbrica frete ao mercado e houve, inclusive, um episdio em que a

    fbrica ficou por um longo perodo sem energia eltrica.

    (O conferencista, ento, apresentou um documentrio que retrata a realidade do

    Movimento das fbricas ocupadas).

    Com a notcia, os trabalhadores da Flask organizaram barricada como forma de

    protesto e organizou-se a resistncia. Durante 1 ano foi realizada uma campanha (que

    culminou no documentrio exibido anteriormente por Alexandre) na tentativa de denunciar a

    medida judicial, porm, esta no logrou xito. Pleiteou-se junto ao judicirio, ainda, a

    reintegrao dos trabalhadores demitidos, mas o juiz no concedeu (Justia Federal de

    Santa Catarina).

    Diante do novo quadro, o movimento das fbricas ocupadas foi obrigado a

    restringir-se atuao na Flask, enquanto a CIPLA permanece sob o controle do

    interventor.

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    Observao: em algumas faculdades de Direito, o Direito Cooperativo constitui

    disciplina autnoma.

    Houve um ato com 5 mil pessoas na Avenida Paulista para reivindicar reunio com

    o Gilberto de Carvalho. O atual ministro-chefe da secretaria-geral da Presidncia da

    Repblica, no entanto, pronunciou-se dizendo que considera o caso da Flask indiscutvel,

    j que se a moda pega , causaria problemas. Outros temas levantados junto a Gilberto de

    Carvalho na oportunidade foram a ocupao Pinheirinho e o assentamento Milton Santos.

    Gilberto, a respeito desses tpicos, disse que as querelas que os envolviam j estavam

    pacificadas (pouco tempo aps essa reunio houve o despejo truculento e desastroso no

    Pinheirinho).

    No momento o movimento est realizando uma campanha para angariar

    assinaturas com o objetivo de garantir a realizao de uma audincia pblica a respeito da

    situao da fbrica Flask (10.000 assinaturas so necessrias para isso).

    Alexandre Mandl finalizou sua conferncia levantando algumas indagaes: Como

    podemos agir, utilizando o Direito, no sentido de defender esses movimentos sociais, o

    pleno emprego e a funo social do trabalho? At onde um Juiz tem poder para mudar isso

    essa realidade?

    Aps a pausa de 15 minutos para descanso, os alunos integrantes do Lutas

    realizaram uma interveno quebrando o muro. Em seguida, deu-se incio s perguntas;

    DEBATE

    MARINNO (estudante do quarto ano): Qual setor de fbricas mais apresenta esse tipo de

    movimentao?

    ALEXANDRE: Qumica, metalrgica, calados, automobilstica, entre outros.

    MARINNO: Houve trabalhadores na fbrica Flask que foram contrrios adoo do

    modelo coletivo de gesto?

    ALEXANDRE: Sempre h resistncia. Inclusive porque sempre aparecem propostas de

    investidores externos que parecem milagrosas aos olhos de alguns trabalhadores.

    MARINNO: Como era a gesto da Vila operria?

    ALEXANDRE: Quando houve a ocupao, a ideia era instaurar a propriedade coletiva, mas

    a compreenso em relao aos bens acaba sendo individualizada, como caracterstica da

    nossa cultura. Com a ajuda de um arquiteto ativista, a rea deixou de ser considerada

    favelizada. Houve luta para conseguir gua e coleta de lixo.

    MARINNO: Existe um projeto de educao poltica junto aos trabalhadores?

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    ALEXANDRE: Ns defendemos sim a educao formal. Houve incentivo para que

    conclussem os estudos. Houve muitos cursos (Sesi e etc) voltados para o mercado de

    trabalho, afinal, no sabemos at quando haver esse estrutura, por isso, devemos

    aproveit-la ao mximo. So disponibilizados filmes e outras atividades de formao,

    atividades com os trabalhadores da Venezuela e da Bolvia, gerando uma rica de troca de

    experincias. Houve ainda atividades de educao popular que trataram do tema da luta de

    classes. Ex: O curso Como funciona a sociedade utilizado pelo Lutas na formao dos

    calouros no ano de 2014.

    LUIZ FELIPE (quinto ano): Durante a ocupao, houve dispensa por justa causa? Se houve,

    de que forma foi tomada essa deciso?

    ALEXANDRE: Houve alguns casos. Em um o trabalhador ameaou de morte o outro e teve

    a demisso referendada por Assembleia, em outro houve abandono de emprego e nos

    outros casos os trabalhadores queriam ser demitidos (realizaram acordo).

    PROFESSOR REGINALDO MELHADO: Existe um estatuto consensual entre os

    trabalhadores?

    ALEXANDRE: No h um estatuto poltico consolidado, o que pode culminar em

    problemas.

    EVARISTO: A questo da estatizao tambm discutida por vocs em relao a outras

    demandas sociais, como o transporte pblico?

    ALEXANDRE: Sim, somos favorveis a estatizao do transporte pblico. Inclusive

    apoiamos a Campanha Pblico, gratuito e para todos

    KAYAN (quinto ano): Nas eleies vocs apoiaram o Lula. Quem iro apoiar agora?

    ALEXANDRE: Nunca, enquanto fbrica ocupada, realizamos um apoio poltico. O que

    fazemos anlise de conjuntura antes das eleies, sendo que nos 2 mandatos votamos,

    em maioria, no Lula. Porm, nas eleies estaduais, muitos trabalhadores votaram no

    PSDB, enquanto minha posio no foi essa, por exemplo. Em termos partidrios temos

    boas relaes com as mais diversas linhas partidrias

    GUILHERME UCHIMURA (quinto ano): No incio do movimento, havia relao com a

    esquerda marxista?

    ALEXANDRE: Na segunda greve da Flask a Corrente do Trabalho (esquerda do PT), teve

    importante papel no apoio ao movimento. Depois, houve uma ciso e formaram-se a Frente

    Marxista e a Corrente do Trabalho. A primeira continua sendo muito atuante junto ao

    movimento.

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    HENRIQUE MORITA (estudante egresso): Quanto questo do cardpio, o que fica muito

    claro que as iniciativas que vm das classes desfavorecidas so barradas pelo judicirio.

    Como furar esse bloqueio promscuo entre a poltica e o capital?

    PROFESSOR CESAR BESSA: No existe um caminho exato, podem existir apenas

    melhores escolhas.

    PROFESSOR REGINALDO MELHADO: Karl Marx tem uma passagem bsica: o concreto

    sntese de muitas determinaes (no tem um momento em que sua experincia de vida

    no depende de muitas contingncias). Estamos em disputa constante por respostas e

    caminhos, mas sempre chegamos a um momento em que enxergamos que o problema est

    no bojo do sistema capitalista.

    EVARISTO: Essa uma resposta poltica, logo, baseia-se, inevitavelmente, em uma

    perspectiva.

    PROFESSOR MIGUEL ETINGER: Esse processo se inicia com o indivduo buscando

    conhecer a si prprio. Em um processo de alteridade, nos influenciamos e construmos

    mutuamente.

    ALEXANDRE: Sofremos com angstias no curso de Direito. possvel, no direito, provocar

    contradies. Mas, existe uma questo central que extrapola o jurdico (Alexandre leu um

    poema cuja frase central : Quando os trabalhadores perderem a pacincia..)

    Alexandre finalizou se comprometeu a fazer outras atividades junto ao Lutas, nessa

    nova oportunidade, com a presena dos trabalhadores e disse que a fbrica Flask est

    aberta a visitas. Haver um festival realizado pela Flask no ms de agosto e, em 12 de

    junho, a Flask completa 12 anos. Alm disso, no final de setembro haver o CEMOP.

    SEGUNDO DIA O evento teve incio por volta das 20h. Compunham a mesa o Professor Doutor

    Jorge Luiz Souto Maior (livre-docente na Universidade de So Paulo), o Procurador do

    Trabalho Dr. Heiler Ivens de Souza Natali e o Professor Renato Lima Barbosa (Universidade

    Estadual de Londrina).

    Jorge Luiz Souto Maior iniciou sua fala com a clebre ideia de que a histria da

    humanidade a histria da luta de classes e acrescentou que a historia da humanidade

    identificada pela sucesso das formas de diviso do trabalho: Quem trabalha x para quem

    se trabalha.

    A humanidade evolui em funo da luta de classes (tentativa de os oprimidos no

    mais o serem). Historicamente, a manuteno da estrutura de clasees se d atravs do uso

    da fora, o que facilmente verificvel do ponto de vista da escravido (o escravizado o

    vencido).

    O trabalho livre sugere liberdade, mas o que temos a opresso em uma ideia de

    liberdade, atravs de formas criadas para ocultar a existncia da dominao. Sendo uma

  • Ciclo de Vises Crticas do Direito Universidade Estadual de Londrina 2014

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    dessas formas: o Estado e o Direito. Por conta dessa aparncia temos a tendncia de

    seguir utilizando o Direito no sentido de reproduzir a lgica do sistema.

    O Direito tem o papel muito importante de manter o sistema tal como se apresenta.

    Essa dominao se d por via de meios institucionalizados, o que fica muito claro na figura

    jurdica do contrato, afinal, do ponto de vista jurdico, existe a liberdade de adeso ou no ao

    contrato. Porm, isso no corresponde com a realidade, pois muitas pessoas so foradas

    a venderem sua fora de trabalho, alm de serem submetidas prtica da explorao e

    capitalizao com base na mais-valia.

    A questo que o capitalismo comeou a gerar problemas, por isso o Direito

    passou a atuar no sentido de conteno das manifestaes das classes oprimidas.

    No existe ordem jurdica que, diante da luta de classes, busque amenizar suas

    injustias. Um exemplo: se um trabalhador perde o brao o direito alega que ele firmou o

    contrato por livre vontade, portanto, cabe averiguar se no contrato h clusula que confira

    responsabilidade ao empregador. No campo da responsabilidade civil, por sua vez, existe a

    anlise do elemento culpa por parte do empregador. O Direito no d resposta s demandas

    sociais.

    Nas faculdades, ns estudamos muito pouco o direito do sculo XIX (sculo que

    culminou nas guerras mundiais, pois no soubemos lidar, naquele momento, com os

    conflitos gerados pelo capitalismo),estudamos tambm o Direito do sculo XX, com seus

    ideais de liberdade e igualdade.

    No final do sculo XX, dado que no aprendemos na faculdade, ocorre o

    surgimento das teorias marxistas. Naquele momento, os que queriam manter o modelo

    capitalista no encontravam uma racionalidade que pudesse manter o modelo e eliminar

    conflitos. Nem o artificialismo do direito, nem a represso cumpriam esse papel. Ali surge o

    carter de resoluo de conflito por parte do Direito surge a ideia de direito social, que

    busca amenizar os conflitos que nascem em uma sociedade antissocial e individualista.

    O ensino jurdico enquanto pura memorizao de cdigos e exaltao de uma

    suposta hermenutica que seria capaz de encontrar a essncia das leis por elas mesmas

    muito criticvel. Isso no cincia. Exemplo: Ex: 3 aulas ministradas para a explicao do

    clculo da hora extra e mais 3 sobre como no pag-la, enquanto poderamos problematizar

    como a hora extra, na realidade, revela um desequilbrio do capitalismo, o que gera uma

    srie de reflexos sociais.

    Precisamos compreender os fatos e analis-los pela perspectiva histrica. Alm

    disso, se no enxergarmos problemas na lgica consumista do capitalismo, tendemos a no

    enxergar problemas nas relaes de dominao entre as pessoas e naturaliz-las. Alm

    disso, ns reproduzimos as opresses que em nossas relaes pessoais e defendemos,

    enquanto operadores do Direito, valores que sequer percebermos, pois nos escondemos

    atrs da fantasia jurdica.

    O que podemos fazer: no permitir que essas incoerncias passem despercebidas

    e continuar mostrando as inconsistncias racionais do sistema. Alm disso, buscar fazer o

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    Estado cumprir aquilo que prometeu quando positivou direitos que diferiram dos puramente

    liberais e nos permitir enxergar o Direito como forma de interagir com a realidade e buscar

    mud-la.

    Houve intervalo, ao final do qual Marinno leu uma poesia de sua autoria, a qual

    segue na ntegra:

    Embebido

    Embebido ao cheiro forte das mquinas

    funcionando, o operrio pensa no que

    produz.

    Olha para a mquina. Se v refletido num

    pedao do metal reluzente. Se v.

    Seguindo a boa lei ele usa touca que

    cobre cada parte do couro cabeludo.

    Mascara branca. Luvas. Oculos de

    proteo. Ento percebe que no

    consegue mal ver seus olhos, qui se ver

    na mquina.

    Ento olha para a bolacha. Olha ao seu

    redor. V todo o maquinrio em puro

    funcionamento. V o material entrando

    nas maquinas de forma enxotada. V os

    materiais qumicos sendo despejados em

    cima da massa original. V as mquinas

    formando bolachas. V o recheio sendo

    introduzido no meio das mesmas.

    Sente o cheiro da fornada.

    Senteo cheiro da bolacha.

    V todo aquele material sendo

    empacotado. Encaixotado.

    Tenta sentir o gosto da bolacha.

    No consegue,

    Em um momento de desespero ao

    perceber que, de fato, nao conseguia se

    lembrar do gosto daquilo que passava

    diariamente pela suas mos.

    Desespero de perceber que seu produto

    no era pra si.

    Como poderia?

    Ele fez aquela massa. Ele fez aquele

    procedimento.

    E ento percebeu algo mais chocante.

    OS materiais qumicos no entravam nas

    mquinas.

    Eram postos por algum nelas.

    Viu que algum guiava o recheiro.

    Viu que algum empacotava.

    Nesse momento percebeu.

    Que esta rodeado.

    E que a mquina ainda estava correndo.

    Sem ele.

    Todo o material sendo despejado para

    todo lado.

    A mquina no funcionava sem ele.

    E ento

    Ele no se viu na mquina.

    Mas viu a mquina nele

    Viu os olhos famintos dela pedindo

    ateno.

    Pedindo o alimento.

    O alimento que ELE no tinha.

    Que ELE no lembrava.

    Deixou seu posto e partiu para o do lado.

    Perguntou pelo gosto do produto.

    Mais um no se lembrara.

    Mais um que se indagava

    "Por que alimentar a mquina, se ela no

    me alimenta?"

    O do lado tambm no mais lembrava

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    O do outro lado da esteira tambm no

    lembrava

    Como poderia? Uma mquina sentindo o

    sabor que eles no sentiam?

    Como poderia? Uma fbrica de pessoas

    sem paladar?

    Ou teria a fbrica tomado para si seu

    paladar?

    Saram pedindo explicaes.

    Mais amnsia.

    Ao gerente perguntaram. Ele lembra do

    gosto. Mas no sabe por que os outros

    no sentem. Como no era seu problema,

    voltou para sua sala.

    Ao diretor perguntaram. Ele sabia muito

    bem do gosto. Mas no sabe por que os

    outros no sentem. Mandou todos de volta

    aos seus postos se no eram despedidos

    e nunca teriam a chance de poderem se

    esforar o mximo que podiam e voltarem

    a sentir o gosto do biscoito. E ento voltou

    para a sua sala.

    Ento voltaram aos seus postos. Queriam

    todos ali voltarem a sentir o gosto.

    Se entreolharam. E comearam a deixar

    as mquinas cuspirem.

    Cuspiram. Escarraram. Gritaram.

    Choraram.

    E eles se levantaram.

    Aquele que no eram alimentados e nem

    sentiam o gosto se levantaram.

    Se puseram de p.

    E foram novamente atrs do diretor.

    Deixaram claro que no iam voltar. No

    iam deixar como estava.

    Queriam de novo o gosto.

    Queriam que eles fossem alimentados.

    No as mquinas.

    O diretor ameaou de novo. E ento

    levado ao impulso contou o que todos j

    sabiam: quem lhes roubara o gosto foram

    o Presidente da Empresa.

    Ah. A Empresa. A boa e velha Empresa.

    Aquela que os abrigara por tanto tempo.

    Fizera deles HOMENS de verdade.

    Empregados. Sejam homens ou mulheres,

    enfim, eram HOMENS e DIGNOS por

    terem este emprego.

    E que disse o Presidente: como podem

    estes homens se tornarem contra aquilo

    que os fazem dignos?

    E os empregados disseram: Dignos? As

    mquinas so mais dignas! Os uniformes

    que vocs tomam so mais dignos. De

    nada h digno em alimentar a mquina

    que nos rouba o alimento.

    Tomados pelo cheiro em que ainda

    estavam embebidos, afastaram o ar

    cheiroso de suas narinas, clarearam seus

    olhos do vapor das mquinas de

    bolachas,

    Viram que quem fazia o gosto das

    bolachas eram eles.

    Mas quem os tinha era o Presidente.

    O presidente.

    o presidente.

    No suportando a falta de gosto, tomaram

    para si o presidente. Vestiram nele a

    roupa branca. Fez com que ele encarasse

    a mquina.

    E ele olhou a mquina.

    E a mquina olhou para ele.

    Disse ter aprendido sua lio. Voltou para

    sua sala.

    Os trabalhadores se entreolharam. Nada

    mudara. Ele continuava com o sabor e

    eles apenas com o trabalho e a dor.

    Voltaram ao presidente e pediram o sabor.

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    presidente negou e ameaou a tomar a

    dignidade deles

    Os Trabalhadores ento se tomaram de

    si. E resolveram retomar o sabor.

    E fizeram do presidente mera lembrana

    pendurada numa parede da memria.

    Da falta de sabor, sobrou sabor. Sobrou

    sabor DEMAIS! Mais Trabalhadores se

    tomaram na Fbrica.

    E as bolachas nunca foram to deliciosas.

    Marinno Arhur

    DEBATE

    GUILHERME UCHIMURA (quinto ano): Ser que os movimentos sociais seriam uma via

    para ruptura do capital?

    SOUTO MAIOR: Tenho uma viso marxista da histria e me pauto na questo das classes

    sociais. Acho que uma mudana concreta s pode se dar a partir da mobilizao da classe

    trabalhadora, o que no representa desprezo aos movimentos sociais, que geram tenses

    importantes. No entanto, por si s, os movimentos sociais no podem fazer isso. O que o

    direito deve fazer permitir a luta dos movimentos sociais. Mas, sem a questo do trabalho,

    o tema central do nosso modelo de sociedade no ser atingido.

    ALEXANDRE (segundo ano): Se decidir seguindo a equidade em uma posio contra

    hegemnica enquanto juiz, qual a probabilidade de essa deciso ser mantida em segunda

    instncia?

    SOUTO: O direito no s norma, tambm uma questo cultural e possui um complexo

    principiolgico, que permite argumentaes diversas. Utilizando esse espao passamos a

    buscar a alterao e evoluo do Direito (reconstruir o direito a partir dele mesmo). Se se o

    tribunal reformar? Essa no deve ser a preocupao, pois essa viso inibe uma evoluo da

    humanidade.

    GIOVANA (segundo ano): Qual o papel dos sindicatos, no momento histrico atual, no

    processo de emancipao dos trabalhadores?

    PROFESSOR RENATO: Participo do sindicato e vejo a grande dificuldade de sindicalizao

    dos colegas. Assim como o sindicato foi criado pelo Direito, tambm limitou sua atuao

    modelo muito mais assistencialista que de luta. Alm disso, muitos dizem que o problema

    est na no pluralidade de sindicatos. Mas, talvez a questo seja naturalizao da opresso.

    Ex: eufemismos da legislao. Como: pedido de demisso.

    PROCURADOR HEILER: (em sua fala o procurador demostrou a descrena em relao a

    atuao dos sindicatos hoje o Brasil, como a CUT, que se demostrar sem ao frente as

    demandas dos trabalhadores).

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    PROFESSOR RENATO: os sindicatos no foram criados para luta, foram criados para

    serem assistencialistas e so frequentemente confundidos com uma associao.

    ALEXANDRE MANDL: Na Flask sempre apresentamos a pauta de ocupao como pauta

    sindical, por compreender que trata-se de uma pauta da classe dos trabalhadores. Na

    Flask houve apoio do sindicato, ao contrario do caso da CIPLA (sindicato entendeu que

    ocupao era medida apenas cabvel em um momento revolucionrio). As manifestaes de

    junho demonstraram a demora dos sindicatos em reagir e o descompasso com a relao

    com os trabalhadores e a capacidade do movimento operrio supera o prprio movimento

    sindical. Os sindicatos enfrentam dificuldades para entender que no precisamos ficar

    completamente vinculados s estruturas.

    JOYCE BUENO (quarto ano): Acham que uma reforma do currculo poderia provocar

    alguma mudana?

    SOUTO: Possibilidade de outros crdito e matrias optativas.

    RAFAEL VANZAN (quarto ano): Acreditam na aplicabilidade do dano moral coletivo

    trabalhista?

    ALEXANDRE: (citou uma deciso de Souto que afasta o proprietrio e recomenda a

    passagem do controle para os trabalhadores existem posies de esquerda, embora no

    majoritrias).

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    DIREITO QUE SE ENSINA ERRADO: REFLEXES E ENCAMINHAMENTOS SOBRE NOSSA GRADE CURRICULAR

    Na sequncia, apresentaremos o teor da palestra proferida por Luiz Otvio Ribas.

    Ser um sintoma a presena de pessoas interessadas no auditrio? O palestrante

    apresentou-se como pesquisador do tema ensino jurdico h dez anos.

    Objetivo: trazer mensagem sobre outro ensino do direito, que leva em conta a vida

    concreta das pessoas, o ser humano, com toda a complexidade e necessidades.

    O conhecimento produzido hoje na universidade serve para qu? Essa reflexo

    ser dividida em trs momentos:

    a) Olhar sobre o prprio ensino;

    b) Olhar sobre o direito;

    c) Olhar sobre a advocacia ou prtica jurdica.

    Tentativa de respostada pergunta formulada. O conhecimento serve para produo

    de um ensino jurdico que tenha usabilidade. Essa usabilidade, na faculdade de direito,

    voltada conformao. As pessoas tendem a se revoltar, e o direito serve para que o

    homem encontre uma possibilidade de liberdade (essa basicamente a ideia de Kant). Esse

    ensino baseado na lgica de conformao.

    A atitude crtica se perguntar por que deste jeito, e no de outro?. A reside o

    sentido de indagar, perguntar.

    H um tempo, essa histria vem se desenrolando, e surgiram os inconformados. O

    caminho apresentado o de senso crtico. No h nada em desacordo com todos os PPPs

    do Brasil. A reflexo crtica fundamental. Mas o que a crtica do direito?

    Algumas respostas que os inconformados podem ter so: tornar-se professor, a

    extenso, a pesquisa, a extenso popular (envolve dilogo).

    O que tem a ver a educao popular com o direito?

    estranho imaginar que o profissional do direito pode tambm ouvir os problemas

    das pessoas.

    A extenso pode tambm seguir um caminho da utilizao do direito como

    ferramenta em seu modelo tradicional, porm, esse no o nico uso que podemos fazer

    do direito. A experincia concreta dos assessores jurdicos universitrios, atravs do contato

    com os coletivos organizados sugerem uma nova maneira de lidar com o direito.

    Quando nos deparamos, por exemplo, com a realidade do movimento das fbricas

    ocupadas, o advogado segue no sentido de adequar o direito demanda que se apresenta,

    no sentido da justia social.

    Ser que na faculdade, esse advogado da Flask teve um ensino jurdico

    tradicional? As faculdades de Direito no Brasil hoje projetam prticas como essas? Que tipo

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    de grade curricular, formao complementar, adequada para que esse modelo de

    profissional possa florescer?

    Esse o ponto do qual partiremos para discutir toda a grade poltico-pedaggica.

    Se o ensino do Direito est voltado para a conformao, e tendo em vista a forma

    como o Direito praticado hoje no Brasil, tendemos a um Direito que busca manter a ordem

    como se apresenta. O Direito ensinado como um instrumento de pacificao, tendendo a

    negar os conflitos de classes e realidades.

    Temos no Brasil uma sociedade que muitas vezes se confunde. As pesquisas tm

    apontados que a sociedade a favor da represso das manifestaes e dos protestos. A

    ideia arraigada no iderio da populao que os movimentos sociais so contrrios ordem

    e que funcionam como certa forma de conspirao. No entanto, em uma sociedade

    democrtica, sempre haver grupos organizados. O tema de estudo de Ribas justamente

    o reflexo da forma como o Estado lida com os movimentos sociais. Houve, inclusive, um

    evento em que o ministrio pblico levou extino de movimento agrrio.

    Mas porque na faculdade no aprendemos sobre essa realidade da sociedade?

    Afinal, temos muitos docentes que atuam na rea prtica do Direito. Nasce a preocupao

    pedaggica em relao ao Direito. O professor de Direito dificilmente se preocupa com

    didtica ou em dialogar e passar o conhecimento. Sendo que essa uma ruptura entre o

    ensino bsico e o universitrio.

    E os estudantes dos projetos de extenso? Os estudantes do Brasil, desde os anos

    90, tm se destacado com a auto-organizao em projetos de extenso. Essa formao

    contribui para a formao de professores na rea, medida que trabalham com educao

    popular.

    A interpretao uma dimenso da prtica. Uma metodologia forte para estudar a

    prtica jurdica a discusso de casos concretos. Houve quem propusesse esse mtodo de

    estudo do Direito para ser aplicado no Brasil. Isso uma tima ferramenta principalmente

    para o estudo de matrias dogmticas, como processos civil. Na prtica, seria possvel que

    os professores trouxessem exemplos interessantes e a partir deles trouxesse conceitos.

    Estudem muito a Histria do Brasil e seu Direito, de forma a identificar que na

    conjuntura latino-americana a teoria do Direito fraca. No h uma estabilidade

    constitucional, algo pode mudar no plano poltico-econmico e tudo poderia mudar. E

    porque no estudamos isso? Isso no um uso do Direito Porque o Direito assim e no

    de outro jeito? Os mesmos intelectuais que apoiaram o Golpe Militar de 64 foram os que se

    apresentaram como democratas posteriormente.

    H muitos movimentos sociais que entendem que o Direito uma ferramenta

    puramente opressora que no merece ateno. Porm, a histria j comprovou a falta que

    fazem os assessores jurdicos populares.

    A advocacia uma atividade voltada para a representao de interesses individuais

    ou coletivos. Mas essa representao se d de uma forma um pouco diversa. Falamos

    normalmente perante o Estado.

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    Resposta: serve para que as demandas sociais sejam levadas ao Estado pela via

    oficial. A maioria dos advogados atua com base em um binmio de legalidade/ilegalidade,

    em uma linha de pacificao. Porm, temos advogados rebeldes e indignados, seja pela

    morosidade da justia, o nmero de dias de frias do judicirio.

    Hoje a universidade tem seu modelo formado tendo em vista formar advogados,

    afinal, no podemos buscar treinar outras habilidades como a comunicao oral, as provas

    discursivas e a capacidade de fazer pesquisa jurisprudencial (que muito mais complexa do

    que costumamos pensar).

    Para finalizar, a extenso confere aos estudantes uma formao fundamental para

    todo profissional do Direito, principalmente no que diz respeito a capacidade de dilogo.

    Rodolfo, membro do Lutas, por fim, revelou uma das intenes do evento,

    convidando os participantes a participarem de um grupo de discusso sobre a grade

    curricular.

    DEBATE:

    MIGUEL: O professor faz uma colocao sobre ter sido coordenador de colegiado no ano de

    2006 e durante dois anos participou como coordenador. Tempo em que j estava presente a

    discusso da modificao da grade. Ns precisamos conhecer o mnimo do procedimento. A

    proposta passa por uma srie de rgos colegiados, o curso por ser considerado elitista

    sofre um certo preconceito. O PPP veio sofrendo remendos visando acomodar um ou outro

    interesse. Faz uma crtica no sentido que os alunos no tem interesse. Alm do altrusmo,

    como foi referido pelo professor Melhado, uma questo de cidadania. E afirma que os

    professores no esto contra os alunos. A proposta do curso era formar juristas. Alterar a

    forma de ensino e aprendizado. Podemos fazer isso sem alterar a grade curricular.

    ANA LUSA: Afirmou que ns participamos do circulo vicioso. Desde a escola o ensino

    fundamental e mdio. Passando pelo vestibular. Como diante desse circulo vicioso, como

    modificar isso? Seria possvel apenas pela modificao da grade?

    RIBAS: As perguntas levam a questo ao ponto interessante. Ser que ao modificar a grade

    modificaremos o ensino. O fundamental a mudana de atitude. A extenso mostra como

    ser protagonista num processo de conhecimento. Ns somos condicionados a nos portar

    como telespectador no ensino. Uma comunicao unilateral. Isso nos leva a um processo

    mais complexo que a domesticao do corpo. Um comportamento passivo fundamental

    para a manuteno da ordem. Desde o ensino primrio as escolas cumprem essa funo.

    Hoje o mercado de trabalho passou por uma mudana grande. Exige-se um protagonismo.

    H uma preferencia por colocar os filhos da elite na universidade pblica, quando do ensino

    superior. Observando o movimento de usar a universidade pblica para formar concursados.

    Proletarizao. O Fragalho fala da proletarizao. O ensino deve seguir esse pedido. Ribas

    afirma que defende a mudana e ela vem de se dar conta de tal situao, e o projeto de

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    extenso formado por pessoas que se enxergam nesta situao. No deixar que aquilo

    que te desagrada na Universidade levem a um desestimulo. Ribas fala que as mudanas

    so precisas tambm, concorrendo com outras mudanas. mais fcil fazer uma mudana

    por aqueles tambm que so atingidos pelo ensino jurdico. Responde a segunda pergunta:

    a mudana na grade demonstra uma mudana crtica. Ele d o exemplo da antropologia

    jurdica que foi adicionada a grade, a disciplina de uma rea to coesa e bem resolvida na

    academia que se observa que muitos dos professores que so dessa rea conseguiram dar

    as aulas porque foi obrigatria a disciplina. Se forem voltadas para um equilbrio entre teoria

    e prtica proporcionariam uma reflexo crtica. Como aliar mtodos de ensino para derrubar

    o circulo vicioso do desinteresse? A Deise Ventura afirma que a aula deve ser prazerosa.

    Como professor coloca esta pergunta a si mesmo. Tornar uma aula de direito prazerosa

    algo difcil. Os estudantes tem mais coragem para inovar, pois so protagonistas do

    processo de ensino e aprendizagem. Utilizao de elementos. Como professor de filosofia

    acredita que provocar reflexo algo prazeroso.

    THAS: Como lida com os trabalhos populares? Como lida com tornar o tornar humano? A

    questo de lidar com as pessoas.

    BARUANA: A pesquisa jurisprudencial como deve ser feita?

    ZAQUEU: Adianta fazer alguma mudana no currculo tirando e colocando disciplinas

    enquanto o discurso do professor continua distante do que o aluno pode receber? A

    disciplina pode ser o mais importante que for, se o discurso for inadequado e no conseguir

    chegar ao aluno no adianta.

    RIBAS: Exemplos concretos: trabalho popular. A assessoria jurdica popular fundamental.

    As praticas podem ser citados. Comeou a se interessar pela assessoria quando trabalhava

    como conciliador no juizado especial cvel. Participou de todas as etapas. Balco, inicial e

    conciliador. Foi enriquecedor. Uma srie de coisas aconteciam e no se resolvia. Uma srie

    de relaes afetivas, de classe, de gnero, raa e etnia que o direito no d conta de

    resolver. Percebe-se uma insuficincia no direito. Pode, contudo, ser resolvido de outra

    forma. Na experincia que teve na conciliao, tentava resolver de outra forma que no o

    Judicirio. No Rio comum a deteno para a averiguao. O advogado popular diz que

    ilegal. Atuando nas ruas, nas manifestaes, ficam na retaguarda e ao perceber a

    ilegalidade atuam no momento do conflito. Percebendo a ilegalidade deve atuar. A frase do

    policial: Lugar de advogado na delegacia, aqui no, aqui sou eu quem manda.

    Revogando uma prerrogativa do advogado, que estar com o seu cliente. Transmitia o

    policial toda uma poltica de Estado, reproduzida por este.

    Exemplos: conciliao ou pro-atividade. Quanto pesquisa jurisprudencial, trata-se de uma

    pesquisa dogmtica. H um objetivo especfico de fundamentar uma deciso ou uma tese.

    No ser alimentada por objetividade. No meio acadmico rarssima, so poucos os

    pesquisadores que trabalham com esse tipo de pesquisa. O advogado utilizou o mtodo

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    jurisprudencial para defender uma tese e foi reprovado. Na universidade, se utiliza outro tipo

    de tese. A pesquisa jurisprudencial algo difcil. A informtica nos ajuda, mas h barreiras

    que no se transpuseram. Por exemplo, as decises no tribunal de justia do rio de janeiro

    sobre as decises envolvendo pessoas negras. Qual o nmero as envolve? Destacou a

    populao negra. Quer descobrir em qual nmero os negros aparecem como parte ativa ou

    passiva nas aes. S 30% est digitalizado. J chegou a uma concluso que revela que no

    estado do Rio de Janeiro, das decises analisadas a grande maioria da populao participa

    como ru. Agora estuda apenas a populao negra. Qual o numero de condenaes

    Compara com a populao no negra. O tema da pesquisa a de que existe racismo na

    sociedade brasileira e isto pode ser observado nas decises judiciais. Isso um exemplo de

    pesquisa jurisprudencial. A distancia entre o discurso do professor e o entendimento do

    aluno. Falta de dialogo e compreenso. Um caminho de se libertar do circulo vicioso a

    escuta. Para se dar conta de certas consideraes.

    IZABELA: Fala sobre o equivoco no ensino do Direito. Escreveu seu TCC sobre isso. A

    analise estrutural quanto a mudana do currculo. Fez o passo a passo histrico at chegar

    nos dias de hoje. Algumas mudanas para melhor surgiram de mudanas feitas pelo

    mtodo. algo que deve ser feito no mbito da UEL ou numa abrangncia um tanto maior.

    Algumas mudanas esto sendo discutidas, pela OAB, por exemplo. A neutralidade no

    ensino e no curso, na leitura de Paulo Freire. O ser humano no neutro em nenhum ato da

    sua vida, quanto mais na educao.

    RIBAS: Discusso de um projeto de educao no Brasil. O debate da neutralidade difcil

    de se fundamentar na teoria do Direito. Os professores tem dificuldade para argumentar

    sobre isso. Questionar os professores sobre a neutralidade. E qual o seu fundamento na

    teoria do direito. Professor da Universidade de So Carlos chamado Antonio Gouveia, fez

    um trabalho fantstico para a discusso do PPP e os projetos de extenso. Paulo Freire foi

    advogado e desistiu de sua primeira causa pois se comoveu a ter que cobrar uma dvida.

    Carlos Rodrigues Brando discpulo de Paulo Freire. Se ele tivesse conhecido em vida a

    assessoria jurdica popular em vida, poderia ter continuado na advocacia. Tinha um projeto

    de pesquisa sobre os problemas da Amrica Latina. O Paulo Freire apresentou o passo a

    passo da alfabetizao. Deixou princpios, orientaes. Mas no se preocupou

    especificamente com o passo a passo. O Paulo Gouveia criou um mtodo chamado Dialogo

    Problematizador. O livro se chama Em busca do tema gerador. Processo de escuta e falas

    significativas. Mtodo utilizado pelo NAJUP do Rio. A partir dos temas surgem os contra

    temas. Monta o contra tema e pensa uma ao. Exemplo: um estudante de ensino primrio,

    que repetia as falas: por mais que eu estude, os de fora sempre so melhores. O desafio era

    montar um contra-tema para torna o ensino melhor. Portaria 1886. H uma disputa MEC e

    OAB. Qual o projeto? Qual a proposta?

    Finalizando a sua fala, Ribas convidou a todos para conhecerem o IPDMS, onde se discute

    no GT de ensino jurdico sobre o PPP. J h textos, cursos. Como exemplo: curso da UFG,

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    onde funciona uma turma para assentados da reforma agrria, dialogando movimentos com

    a universidade.

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