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.CK) ipen AUTARQUIA ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ANÁLISE AMBIENTAL DA CÉLULA A COMBUSTÍVEL DE MEMBRANA TROCADORA DE PROTÓNS SOB O ENFOQUE DA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA SANDRA HARUMI FUKUROZAKI Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear-Materiais. Orientadora: Dra. Emilia Satoshi Miyamaru Seo São Paulo 2006

ANÁLISE AMBIENTAL DA CÉLULA A COMBUSTÍVEL DE … · Emilia Satoshi Miyamaru Seo São Paulo ... de Mestre em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear - Materiais Orientadora: Dra

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  • . C K ) ipen

    AUTARQUIA ASSOCIADA UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ANLISE AMBIENTAL DA CLULA A COMBUSTVEL DE

    MEMBRANA TROCADORA DE PROTNS SOB O ENFOQUE

    DA AVALIAO DO CICLO DE VIDA

    SANDRA HARUMI FUKUROZAKI

    Dissertao apresentada como parte dos requisitos para obteno do Grau de Mestre em Cincias na rea de Tecnologia Nuclear-Mater ia is .

    Orientadora: Dra. Emilia Satoshi Miyamaru Seo

    So Paulo 2006

  • A U T A R Q U I A A S S O C I A D A UNIVERSIDADE DE S O P A U L O

    A N L I S E A M B I E N T A L DA C L U L A A C O M B U S T V E L DE M E M B R A N A

    T R O C A D O R A DE PROTNS S O B O ENFOQUE DA A V A L I A O DO CICLO

    DE VIDA

    S A N D R A HARUMI F U K U R O Z A K I

    D i s s e r t a o a p r e s e n t a d a c o m o par te

    d o s r e q u i s i t o s para a o b t e n o d o Grau

    de Mestre e m C i n c i a s na rea de

    T e c n o l o g i a Nuc lear - Mater ia is

    Or ien tadora :

    Dra. Emi l ia S a t o s h i M i y a m a r u Seo

    SO P A U L O

    2006

  • INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGTICAS E N U C L E A R E S

    A U T A R Q U I A A S S O C I A D A UNIVERSIDADE DE S O P A U L O

    A N L I S E A M B I E N T A L DA C L U L A A C O M B U S T V E L DE M E M B R A N A

    T R O C A D O R A DE PROTNS S O B O ENFOQUE DA A V A L I A O DO C ICLO

    DE V IDA

    S A N D R A H A R U M I F U K U R O Z A K I

    D i s s e r t a o a p r e s e n t a d a c o m o par te

    d o s r e q u i s i t o s para a o b t e n o d o G r a u

    de Mest re e m C inc ias na rea de

    T e c n o l o g i a Nuc lear - Mater ia is

    O r i e n t a d o r a :

    Dra. Emi l ia S a t o s h i M i y a m a r u Seo

    S O P A U L O

    2006

  • Aos meus pais e ao Miguel naturalmente.

  • Foram vrias as instituies e pessoas que colaboraram direta ou

    indiretamente para a construo deste trabalho, a estas devo meus sinceros

    agradecimentos.

    Ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento - CNPq, pela bolsa

    concedida e ao Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares - IPEN, pela

    oportunidade de realizao do presente estudo.

    minha faml ia, pelo apoio sempre constante e incondicional ao longo da

    minha formao, em especial a Monize Kozu Fukurozaki pela pacincia nos

    meus momentos de mau humor e madrugadas acordadas.

    minha orientadora, Dra. Emil ia Satoshi Miyamaru Seo, pela amizade,

    confiana, incentivo e, principalmente, pelos conhecimentos adquir idos no

    decorrer da nossa convivncia.

    Aos pesquisadores do Programa de Clulas a Combustvel - PROCEL, Dr.

    Marcelo Linardi, Dr. Estevan Spinac e Dr. Almir Oliveira Neto, pelo suporte,

    materiais e discusses essenciais para o desenvolvimento desta dissertao.

    Aos profissionais da rea de Meio Ambiente, pelas crt icas e sugestes que

    serviram de base para a formatao da aval iao ambiental : Dr. Jacques

    Demajorovic e M.Sc Alcir Vilela Jnior - Faculdade de Engenharia Ambiental

    /Centro Universitrio SENAC; Dr. Gil Anderi da Silva - Grupo de Preveno a

    Poluio/ Escola Politcnica da Universidade de So Paulo e Dr. Milton Nono

    Sogabe - Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA)/ Companhia de

    Tecnologia e Saneamento Ambiental (CETESB).

    Aos doutores e tcnicos , pelos esclarecimentos e anl ises realizadas: Dr.

    Nelson Batista de Lima, Dra. Mitiko Saiki, Dra. Vera Lcia Ribeiro Salvador, Dra.

    El izabete Dantas Sonoda, Dra. Duclerc Fernandes Parra, Marco Andreol i , Marco

    Scapin, Olandir Vercino Corra e Elias Silveira.

    A Dra. Snia R. M. Castanho, Dr. Egberto Gomes Franco, M.Sc.Edgard

    Ferrari da Cunha, M.Sc Antnio R. dos Santos, M.Sc Marcelo do Carmo, M.Sc

    Thais Aranha, M.Sc Martha L. Bejarano, M.Sc Rubens Chiba, M.Sc Walter Kenji,

    l ize Puglia, Bruno Ribeiro de Matos, pelo auxlio e informaes diversas. Por fim,

    aos demais colaboradores e colegas de jornada acadmica do IPEN, pelas idias

    e os momentos de distrao.

  • /\ nos/a cultura do desenvolvimento no prev o

    retorno iluminao vela; projeta-se para o

    futuro, no para o passado; leva em conta o

    equilbrio biofsico, no em termos estticos, mas

    dinmicos, avaliando os fatos conforme tempos

    biolgicos, objetivando um fluxo estacionario de

    energia, de populaes, de recursos.

    Enzo Tiezze

  • A N L I S E A M B I E N T A L DA C L U L A A C O M B U S T V E L DE M E M B R A N A

    T R O C A D O R A DE PROTNS S O B O ENFOQUE DA A V A L I A O DO C ICLO

    DE V IDA

    S A N D R A HARUMI F U K U R O Z A K I

    RESUMO

    A energia o combustvel do crescimento e um requisito essencial para o

    desenvolv imento scio-econmico. No entanto, o atual modelo de produo

    baseado em combustveis fsseis considerado ameaador para o homem e a

    natureza. Desta forma, as preocupaes relacionadas s atividades antrpicas e

    os seus efeitos no meio ambiente so traduzidos pela implementao de padres

    mais rgidos de controle ambiental e pela mobi l izao da sociedade em favor das

    tecnologias energt icas menos impactantes. Diante desse cenrio, a Clula a

    Combustvel de Membrana Trocadora de Prtons - PEMFC tem sido reconhecida

    como a resposta para a premente necessidade de energia limpa e eficiente. Em

    relao aos sistemas convencionais de gerao de energia, suas vantagens

    durante o uso a conf iguram como candidata ideal para diversas apl icaes, em

    especial as mveis. Entretanto, embora o foco de diversas aval iaes ambientais

    em sistemas de energia seja voltado para a etapa da sua util izao, os estgios

    relacionados produo do sistema e dest inao final devem ser considerados j

    que estes tambm apresentam impactos. No caso da PEMFC, nas fases

    anteriores e posteriores ao uso, os aspectos relacionados aos catal isadores de

    platina apontam cargas ambientais que no podem ser negl igenciadas. Neste

    sentido, a Aval iao do Ciclo de Vida tem sido util izada para entender e

    questionar os riscos e oportunidades que acompanham um determinado produto,

    a partir de uma viso sistmica das suas relaes com o meio ambiente.

    precisamente nesse contexto que o presente trabalho pretende dar sua maior

    contribuio, a partir de um estudo exploratrio almeja-se prover uma anl ise

    ambiental dessa tecnologia na etapa ps-uso do conjunto eletrodo membrana,

    nomeadamente em relao aos catal isadores de platina, sob o enfoque da

    Aval iao do Ciclo de Vida - ACV. Para atingir tal propsito, so apresentadas e

    discutidas as relaes entre energia, meio ambiente e desenvolvimento, bem

    como a tecnologia de Clulas a Combustvel e os atuais estudos sobre ACV da

    PEMFC. As contr ibuies das questes levantadas foram uti l izadas para o

    desenvolvimento de um mtodo de recuperao dos catal isadores da PEMFC e,

    especialmente, para a sua posterior aval iao ambiental . Dentre os resultados

    significativos destaca-se a importncia da ACV como ferramenta til para

    compreender o peso das questes ambientais relacionadas platina e, para

    subsidiar as estratgias relacionadas ao desenvolvimento, consol idao e

    inovao da PEMFC.

  • ENVIRONMENTAL ANALYSIS OF THE PROTON EXCHANGE MEMBRANE

    FUEL CELL ON THE SUBJECT OF LIFE CYCLE ASSESSMENT

    S A N D R A HARUMI F U K U R O Z A K I

    ABSTRACT

    The energy is the fuel of growth and an essential requirement for the socioeconomic development. However, the current production model is based on fossil fuels, considered as threat to man and nature. As for, the relating to the human activities and their effects on the environment, they are handled by the implementation of a more rigid model of environmental control and the mobilization of the society in favor of technologies with less energy impact. In view of this scenario, the Proton Exchange Membrane Fuel Cell - PEMFC has been recognized as a key for the vital need of a clean and efficient energy. Considering the conventional power generation system, their advantages during usage configure its application as an ideal option for several utilities, especially in the mobile sector. Even though, the focus on several environmental evaluations in energy systems is referred back to the initial stage of it use, the employment relating to production of the system and to final destination should be considered, since these also present impacts. In the case of PEMFC, their previous and subsequent phases of use are issues related to the platinum catalysts, which indicates an environmental importance that cannot be overlooked. In this sense, the Life Cycle Assessment has been used to understand and to question the risks and opportunities that are associated to certain product, starting from a systemic concept of their relationships with the environment. It is precisely in this context that the present research intends to present its major contribution, starting from an exploratory study towards the its objectives to provide an environmental analysis of such technology linked to post stage of powder-use of the membrane electrode assembly - MEA, concerning the platinum catalysts, on the subject of Life Cycle Assessment - LCA. To attain such aim, the relationships between energy, environment and development are presented and discussed, as well as, the Fuel Cell technology and the current studies on LCA of PEMFC. Several questions raised up on this issues have conthbuted in the development of a method of recuperating the PEMFC catalysts and, particularly, for its subsequent environmental evaluation. Among significant results are the importance of LCA, out lined as useful tool for perceiving the weight of environmental matters concerning the platinum and its subsidy strategies relating to the development, consolidation and to the innovation of PEMFC.

  • INTRODUO 15

    OBJET IVO 19

    F U N D A M E N T A O TERICA

    1 - ENERGIA, MEIO A M B I E N T E E DESENVOLVIMENTO 21

    1.1 - Energia e Meio Ambiente 22

    1.1.1 - Mudanas Climticas 24

    1 . 1 . 2 - Deposies cidas 25

    1 . 1 . 3 - Poluio Urbana do Ar 26

    1.1.4 - Centrais Termoeltr icas 27

    1 . 1 . 5 - Centrais Hidroeltricas 28

    1.1.6 - Centrais Nucleares 28

    1.2 - Energia e Desenvolvimento 29

    2 - C L U L A S A C O M B U S T V E L 31

    2.1 - Sonho ou Desafio? 31

    2.2 - Or igem e Histria da Tecnologia 32

    2.3 - Sistema Conversor de Energia 34

    2.3.1 - Classif icao das Tecnologias 36

    2.4 - Principais Vantagens 38

    2.4.1 - Alta Eficincia e Segurana 38

    2.4.2 - Flexibil idade de Planejamento 40

    2.4.3 - Desempenho Ambiental 41

    2.5 - Tecnologia da Clula a Combustvel de Membrana Trocadora de Prtons 42

    2.5.1 - Evoluo Histrica do Desenvolv imento 45

    2.5.2 - Apl icaes 46

    3 - A V A L I A O DO CICLO DE V IDA 50

    3.1 - Breve Histrico e Definies 51

    3.2 - Guia e Marco Metodolgico 54

    3.2.1 - Objetivo e Escopo 55

    3.2.2 - Inventrio do Ciclo de Vida - ICV 57

  • 3 . 2 . 3 - A v a l i a o do Impacto do Ciclo de Vida - A lCV 58

    3.2.4 - Interpretao 60

    3.3 - Aval iao do Ciclo de Vida Simplif icada 61

    3.4 - Restries a Prtica da Aval iao do Ciclo de Vida 63

    3.5 - Importancia do Uso da Aval iao do Ciclo de Vida 64

    4 - A V A L I A O DO CICLO DE VIDA DA C L U L A A C O M B U S T V E L DE

    M E M B R A N A T R O C A D O R A DE PRTONS 66

    4 - Emisses Ambientais da SOFC e SPFC: sistema de produo e disposio

    final 67

    4 . 1 . 1 - S i s t e m a PEMFC 69

    4.1.2 - Processo Produtivo do MEA 70

    4 . 1 . 3 - I n v e n t r i o 72

    4 . 1 . 4 - Anlise do Inventario e Consideraes sobre o Estudo 75

    4.2 - Aval iao do Ciclo de Vida de Mdulos de Clulas a Combustvel 77

    4.3 - Impactos da Legislao de Residuos Veiculares na Unio Europia: opes

    de fim de vida para as clulas de eletrlito polimrico 78

    4.5 - Anl ise Geral dos Estudos sobre a Aval iao do Ciclo de Vida da PEMFC 78

    M E T O D O L O G I A

    5 - DESENVOLVIMENTO E A N L I S E DO PROCESSO DE R E C U P E R A O

    DOS C A T A L I S A D O R E S DE P L A T I N A DA PEMFC 81

    5.1 - Rota Experimental 81

    5.2 - Aval iao do Ciclo de Vida Simplif icada do Processo 85

    5.2.1 - Objetivo e Escopo 87

    5.2.2 - Inventrio 88

    5.2.2.1 - A n l i s e T e r m o g r a v i m t r i c a - A T G 91

    5.2.2.2 - Espectrometra de Fluorescncia de Raios X - FRX 91

    5.2.2.3 - D/frao de Raios X - DRX 92

    5.2.2.4 - Anl ise por At ivao Neutrnica 93

    5.2.2.5 - Anl ise de Voltametr ia Cclica 94

  • 5.2.3 - Aval iao de Impactos 95

    5.2.4 - Interpretao 99

    R E S U L T A D O S E D ISCUSSES

    6 - A V A L I A O DO C ICLO DE VIDA DO PROCESSO DE R E C U P E R A O

    DOS C A T A L I S A D O R E S DE PLAT INA DA PEMFC 100

    6.1 - Pr Aval iao da ACV: questes relevantes sobre a Platina 100

    6.1.1 - Propriedades gerais da platina 102

    6.1.2 - Demanda e Apl icaes 104

    6.1.3 - Suprimento e Preo 107

    6 . 1 . 4 - Impactos Ambientais e Restr ies Legais 109

    6.1.5 - Consideraes sobre a Etapa de Simpli f icao 112

    6.2 - Inventrio: coleta e anlise dos dados 113

    6.2.1 - Processo de Produtivo do MEA 113

    6.2.2 - Processo de Recuperao 121

    6.2.3 - Anl ises de Verif icao: eficincia do processo 121

    6.2.4 - Anl ises de Caracterizao: potencial de reciclagem 126

    6.3 - Aval iao de Impactos 130

    6.3.1 - Identif icao de Aspectos e Impactos 130

    6.3.2 - Anl ise da Signif icncia 134

    C O N C L U S E S

    Concluses 137

    REFERNCIAS

    Referncias 140

  • Tabela 1.1 - Escala de problemas ambientais associados energia 23

    Tabe la 1.2 - Contr ibuio relativa de gases provenientes de combustveis fsseis

    ao efeito estufa 24

    26

    37

    59

    60

    62

    Tabe la 1.3 - Fontes de poluio e seus poluentes

    Tabe la 2.1 - Classif icao das CaC conforme o eletrlito uti l izado

    Tabe la 3.1 - Exemplos de listas de seleo de categorias de impactos

    Tabela 3.2 - Exemplos de indicadores e modelo de caracterizao

    Tabela 3.3 - Anl ise dos mtodos de simplif icao da ACV

    Tabela 4.1 - Quant idade dos principais materiais e os requerimentos em termos

    de energia 72

    Tabe la 4.2 - Entrada de energia para cada processo de produo do MEA. 72

    Tabe la 4.3 - Perdas de materiais no processo de produo do MEA 73

    Tabe la 4.4 - Emisses para o meio ambiente da produo de platina. 74

    Tabe la 4.5 - Total de emisses para o meio ambiente na produo do MEA 74

    Tabe la 4.6 - Custo das perdas de platina 75

    Tabe la 5.1 - Caracterst icas do MEA 83

    Tabe la 5.2 - Exemplo de aspectos e impactos 96

    Tabe la 5.3 - Escala de probabil idade 97

    Tabela 5.4 - Escala de severidade 97

    Tabe la 5.5 - Escala de limites 98

    Tabela 5.6 - Escala de status regulatrio 98

    Tabe la 5.7 - Aval iao mltipla dos critrios 99

    Tabe la 6.1 - Propriedades da platina 103

    Tabe la 6.2 - Estado de oxidao e compostos de platina 103

    Tabe la 6.3 - Demanda de platina por setor em qui logramas 106

  • Tabela 6.4 - Suprimento de platina por regio em qui logramas 107

    Tabela 6.5 - Custo da fabr icao do eletrodo e porcentagem do aumento entre os

    anos 2004 e 2005 108

    Tabe la 6.6 - Referncias de estudos sobre a concentrao de platina em

    diferentes compart imentos ambientais, na fauna, f lora e outros locais 110

    Tabe la 6.7 - Composio da tinta cataltica 114

    Tabe la 6.8 - Carga cataltica e massa est imada por eletrodo 115

    Tabe la 6.9 - Especif icaes do eletrlito e da camada difusora. 115

    Tabe la 6.10 - Valores obtidos na pesagem do MEA e dos seus componentes em

    gramas 116

    Tabe la 6.11 - Comparao entre a massa inicial e final do MEA em gramas 116

    Tabe la 6.12 - Comparao entre a massa do eletrlito padro (P) e do eletrlito

    obtido no processo em (R ) em gramas 117

    Tabe la 6.13 - Comparao entre a massa da camada difusora padro e da

    camada obtida no processo (R ) em gramas 117

    Tabe la 6.14 - Comparao entre a massa da camada cataltica terica (T) e a

    camada obtida no processo em gramas. 118

    Tabe la 6.15 - Massa est imada para os elementos da camada cataltica obtida no

    processo de recuperao em gramas 119

    Tabe la 6.16 - Perfil das amostras encaminhadas para anlise em gramas 119

    Tabe la 6.17 - Determinao da platina e outras impurezas 124

    Tabe la 6.18 - Dimetro mdio das partculas de catal isadores de platina

    preparados por diferentes tcnicas 128

    Tabe la 6.19 - Identif icao de atividades, aspectos e potenciais impactos 132

    Tabe la 6.20 - Aval iao da signif icancia dos impactos 134

    Tabe la 6.21 - Critrios considerados durante a pontuao 135

  • Figura 1.1 - Efeito estufa 25

    F i g u r a 2 . 1 - Converso direta de energia das CaC em comparao as tecnologas

    de converso indireta 35

    F igura 2.2 - Classif icao das Clulas a Combustvel 36

    F igura 2.3 - Comparao das eficiencias em porcentagem (%) 38

    F i g u r a 2.4 - Desenho esquemtico da PEMFC 43

    F igura 2.5 - MEA e clula unitria da PEFC 43

    F i g u r a 2.6 - Mdulo do PEMFC 44

    F igura 2.7 - Exemplo de apl icao porttil ( laptop) da PEFC 47

    F i g u r a 2.8 - Veculo de emisso nula - NECAR 47

    F igura 3.1 - Etapas da aval iao do ciclo de vida. 54

    F igura 3.2 - Dimenses do escopo de estudo da A C V 55

    F igura 3.3 - Exemplo de um diagrama de fluxo de um sistema e processos de um

    produto 57

    F i g u r a 3.4 - Estrutura conceituai da A lCV 59

    F igura 3.5 - Procedimentos de simpli f icao da A C V 63

    F igura 4 . 1 - Diagrama conceituai do ciclo de vida de um sistema CaC em 7

    estgios 68

    F i g u r a 4.2 - Diagrama do f luxo de produo do MEA 71

    F i g u r a 5 . 1 - Proposta de recuperao da platina do MEA da PEMFC encontradas

    na literatura 82

    F igura 5.2 - Diagrama simplif icado do procedimento experimental 84

    F igura 5.3 - Software de ACV - Sima Pro Demo 89

    F igura 5.4 - Ficha de coleta de dados 90

    F i g u r a 6.1 - Diagrama geral do ciclo de vida da platina 101

  • Figura 6.2 - Jia de platina 104

    F igura 6.3 - Platina em barra em gros 104

    F igura 6.4 - Sensor de platina utilizado para detectar monxido de carbono 105

    F igura 6.5 - Platina ancorada em substrato de alumina, util izada como

    catalisador em processos da industria petrolfera 106

    F igura 6.6 - Disco rgido com camada magnt ica de platina 106

    F igura 6.7 - Preo da platina no perodo de janeiro de 2004 a dezembro de 2005

    108

    F igura 6.8 - Escala de risco ecolgico 111

    F igura 6.9 - Ciclo de vida da platina na PEMFC 113

    F igura 6.10 - Diagrama de blocos de preparao do MEA 114

    F igura 6.11 - Inventrio do processo de recuperao 120

    F igura 6.12 - Curva da ATG para a massa cataltica 122

    F igura 6.13 - Curva da ATG para tinta cataltica 123

    F igura 6.14 - Curva da A T G para a platina comercial 123

    F igura 6.15 - Elementos detectados pela anlise de at ivao neutrnica 125

    F igura 6.16 - Difratogramas de raios X para a camada cataltica 126

    F igura 6.17 - Difratogramas de raios X para a tinta cataltica 126

    F igura 6.18 - Difratogramas de raios X para a platina comercial 127

    F igura 6.19 - Vol tamogramas cclicos para a massa cataltica, tinta e platina

    comercial 129

    F igura 6.20 - At iv idades do processo de recuperao nas quais so

    identif icados os aspectos ambientais 131

    F igura 6.21 - Exemplo de uma cadeia de efeitos relativos ao consumo de

    energia 132

  • 15

    No decorrer do tempo, a produo de energia eltrica constituiu-se como

    um fator ct iave no desenvolvimento das sociedades. A partir da I Revoluo

    Industrial, em meados do sculo XVIII , uma transformao indubitvel ocorreu

    nas relaes produtivas e sociais, favorecida pela descoberta de novos

    mecanismos de converso energtica e fomentada pelo uso do carvo. A

    substituio gradativa dessa fonte por outras, como o petrleo e o gs natural,

    propiciou uma nova organizao de mbito global, concomitamente a II

    Revoluo Industrial, sobrevinda um sculo depois.

    Desenvolveu-se ento toda uma gama de indstrias baseadas na

    economia de energia fssil, por um lado, voltadas para a produo e suprimento

    de energia: mquinas diversas, turbinas, sistemas de transmisso; por outro, para

    a sua uti l izao: equipamentos de uso industrial e domstico, i luminao, fora

    motriz, cl imatizao e comunicao. Conseqentemente, esse conjunto de

    instrumentos alterou de forma profunda o ritmo e o curso dos processos de

    formao scio-espacial e econmicas da humanidade, moldando as

    caracterst icas do atual desenvolvimento.

    Contudo, nos anos 7 0 \ uma crise mundial sem precedentes, acarretada

    pelo boicote internacional realizado pelas naes rabes, membros da

    Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo - OPEP, propiciou uma busca

    frentica por fontes alternativas de energia e despertou o mundo para a

    necessidade de melhor util izao dos recursos naturais. No mesmo perodo,

    internacionalmente, assistia-se ao surgimento de uma economia ambiental , como

    conseqncia da inquietao global quanto a sustentabi l idade dos sistemas de

    produo vigente.

    Pelo prisma do crescimento econmico, formularam-se conceitos como

    Integrated Resources Planning e o Demand Side Management, voltados para o

    planejamento e uso racional dos recursos, os quais ainda hoje const i tuem modos

    de gesto e expanso de sistemas energt icos, como alternativa ao paradigma

    meramente demogrf ico de oferta crescente para consumo crescente (GRIMONI

    e. al., 2004).

    ' Em 1973 a crise do petrleo foi provocada pelo embargo ao fornecimenlo de petrleo aos Estados Unidos e s potencias europias e posteriormente, em 1979, causada pela revoluo iraniana que derruba o .\ Reza Pahlevi.

  • 16

    Do ponto de vista ecolgico, os desastres ambientais fatais como o fog em

    Londres, a contaminao por mercrio na baa de Minamata no Japo, o acidente

    nuclear em Three Mile Island nos Estados Unidos, a contaminao por gases

    txicos em Bhopal na ndia, bem como as conseqncias locais, regionais e

    globais associadas ao uso intensivo de combustveis fsseis, como chuva cida,

    camada de oznio e aumento da temperatura (PENNA, 1999), indicaram a

    insustentabil idade do modelo energtico corrente e a necessidade de fomentar o

    desenvolvimento de sistemas geradores de energia que possibi l i tassem uma

    contr ibuio decisiva para um futuro ambientalmente seguro.

    Paralelamente, o pensamento inaugurado pelo Clube de Roma (1960),

    prosseguido pela Conferncia de Estocolmo (1972), o Relatrio da Comisso de

    Brundtland (1987) e a Reunio da Cpula da Terra (1992) conduziram a

    concluses similares, segundo os quais o modelo de produo e consumo em

    vigor, incluindo o atendimento as exigncias energticas, no compatvel com

    uma perspect iva de sustentabi l idade intergerencial e nem equidade, em mbito

    mundial no presente.

    Estas constataes resultaram no paradigma do desenvolvimento

    sustentvel, no qual a capacidade de assegurar os direitos das geraes

    presentes e futuras esto int imamente relacionadas energia (REIS & SILVEIRA,

    2001). No obstante, tambm emergiu a crescente tendncia de padres mais

    rgidos de controle ambiental a valorizao das fontes renovveis, menos

    poluidoras e, os instrumentos de preveno e mit igao das external idades

    ambientais negativas, sobretudo os que visam auxil iar na compreenso, reduo

    e controle dos impactos na natureza, entre os quais ressalta-se a Aval iao do

    Ciclo de V i d a - A C V .

    Dentre as diferentes rotas inovadoras para a gerao de energia mais

    sustentvel est, atualmente, o hidrognio, cuja viabil idade energtica encontra-

    se na tecnologia de clulas a combustvel - CaC. Estas so dispositivos

    eletroqumicos que podem converter continuamente a energia qumica de certas

    fontes renovveis ou no, em eletr icidade sem a necessidade de combusto a

    quente e com um rendimento global superior aos equipamentos de transformao

    convencionais. Em adio a natureza eletroqumica da reao produzindo gua

  • 17

    (KORDESCH & SIMADER, 1996), a alta eficincia pode propiciar urna

    significativa reduo do uso de combustveis fsseis e da l iberao de gases do

    efeito estufa, resultando em emisses locais extremamente baixas durante o uso,

    fator especialmente importante em reas densamente povoadas.

    Deste modo, os diferentes tipos de tecnologia CaC configuram-se em

    candidatas ideais para uso em apl icaes mveis e estacionrias, incluindo

    pequenas residncias, plantas de energia e calor de mdia e larga escala,

    respect ivamente. No setor mvel, as CaC, part icularmente as de baixa

    temperatura de operao (80 a 90 C), como a Clula a Combustvel de

    Membrana Trocadora de Prtons - PEMFC, podem ser usadas em veculos

    particulares e coletivos, trens, avies, barcos, a lm de sistemas portteis de

    diversos usos (BAUEN et. al., 2003).

    Perante essas part icularidades, os distintos setores da sociedade tm

    direcionado uma maior ateno para as CaC, pr incipalmente em relao a

    PEMFC, visto a crescente demanda por energia e a preocupao em relao

    qual idade urbana do ar, acidif icao regional e mudanas climticas. Entretanto,

    essas caractersticas vinculadas uti l izao da tecnologia refletem apenas parte

    deste quadro, pois recursos so consumidos e emisses so geradas em outras

    etapas do contexto global do ciclo de vida desse produto, incluindo a manufatura

    e a disposio final.

    Segundo KARAKOUSSIS et. al (2000), o estgio em uso t ipicamente

    dominante na aval iao de todo o ciclo de vida dos sistemas convencionais de

    gerao de energia e engenhar ia de transporte. Contudo, os sistemas de CaC

    comprometem uma escala relat ivamente extica de materiais e requerem

    processos de manufatura que ainda esto em desenvolvimento,

    conseqentemente a anl ise dos seus outros estgios do ciclo de vida so de

    suma importncia, visto apresentarem vantagens ambientais durante sua

    util izao.

    No caso da PEMFC, mesmo encontrando-se no limiar do estgio comercial,

    o fator determinante para a sua ampla insero no mercado envolve, alm de

    questes econmicas relacionadas ao alto custo dos materiais da membrana e

    dos catal isadores de platina, os aspectos ambientais relacionados a este metal

  • 18

    durante a fase de produo e ps-consumo do mdulo da PEMFC (PEHNT, 2 0 0 1 ;

    HANDLEY, 2002).

    Neste sentido, a Aval iao do Ciclo de Vida tem se consol idado como uma

    ferramenta lder, tanto no mundo empresarial como governamental , para entender

    e questionar os riscos e oportunidades que acompanham os produtos ao longo de

    sua vida, desde a fase de extrao de recursos para a manufatura at o seu

    destino final, ps-consumidor.

    Por conseguinte, os processos de deciso baseados em uma A C V

    conduzem a aes mais efetivas e, com maior sustentao no longo prazo com

    relao reduo dos custos econmicos e ambientais das companhias e para o

    pas (CALDEIRA-PIRES et. al, 2005). Portanto, para o desenvolvimento e

    promoo de novos modelos energticos, torna-se imperativo a adoo desse

    instrumento.

    Face s consideraes acima, a preocupao primordial deste estudo est

    em convergncia com o momento atual, isto , na necessidade de aprofundar o

    conhecimento relacionado ao peso das questes ambientais no desenvolvimento,

    consol idao e inovao da Clula a Combustvel de Membrana Polimrica

    Trocadora de Prtons - PEMFC, visto, no mbito do desenvolvimento sustentvel,

    a premncia pelo fornecimento de energia limpa e segura ao meio ambiente.

  • 19

    Tendo em vista as consideraes apresentadas na introduo e

    principalmente, dada a importncia dos catal isadores de platina no mbito

    econmico e ambiental de desenvolvimento da Clula a Combustvel de

    Membrana Trocadora de Prtons - PEMFC, o presente trabalho tem por objetivo

    geral prover uma anl ise ambiental dessa tecnologia na etapa ps-uso do

    conjunto eletrodo membrana, nomeadamente em relao platina, sob o

    enfoque da Aval iao do Ciclo de Vida - ACV. Neste sentido, os seguintes

    objetivos especf icos foram del imitados:

    1)- Apresentar os aspectos gerais sobre energia, sua relao com o meio

    ambiente e desenvolvimento sustentvel, bem como a tecnologia PEMFC;

    2) - Proporcionar informaes sobre a abordagem metodolgica da Aval iao do

    Ciclo de Vida e sua importncia no contexto do estudo;

    3)- Analisar e discutir as principais publicaes existentes sobre a A C V da

    PEMFC, especi f icamente no que tange as questes relacionadas aos

    eletrocatal isadores de platina;

    4)- Desenvolver um mtodo de recuperao de platina e exemplif icar o uso da

    ACV, aval iando a sua funcional idade na definio de mtodos para a recuperao

    e reciclagem do catalisador da PEMFC, a partir de um estudo exploratrio.

    Para atingir tal propsito, o desenvolvimento da pesquisa consistiu

    inicialmente na pesquisa bibliogrfica em base de dados especial izados. Esta

    etapa consol idou-se na construo de quatro captulos nos quais so

    apresentadas as fundamentaes tericas do estudo que serviram de alicerce

    para o desenvolv imento do mtodo de recuperao dos catal isadores de platina

    da PEMFC e, especialmente, para a sua posterior avaliao ambiental .

    Os procedimentos real izados na construo e aval iao do processo

    configuraram na metodologia aqui apresentada como quinto captulo, sendo os

    dois ltimos captulos subseqentes os resultados e discusses e, as concluses

    da pesquisa. Portanto, o trabalho est estruturado da seguinte forma:

  • 20

    O captulo I apresenta concisamente os aspectos relevantes sobre energa,

    meo ambiente e desenvolv imento, cujo contexto aborda a importncia da

    tecnologia de CaC no cenrio atual. Na seqncia, o captulo II aglutina

    Informaes sobre a CaC, apontando sua origem, histrico do desenvolvimento,

    suas principais caractersticas e vantagens, com especial ateno tecnologia

    PEMFC, inserindo as questes relevantes para a abordagem metodolgica da

    ACV.

    Subseqentemente, o capitulo III introduz a Aval iao do Ciclo

    apresentando o histrico, guia e marco metodolgico, simpli f icao da ACV e

    outros aspectos como importncia do uso dessa ferramenta de gesto no

    desenvolv imento industriai e no Brasil.

    O captulo IV aglutina informaes sobre os atuais estudos realizados

    sobre a Aval iao do Ciclo de Vida da PEFC e, dada a ausncia de literatura

    nacional sobre o assunto, optou-se por descrever e discutir trs dos principais

    estudos realizados internacionalmente, identif icando os problemas ambientais

    associados ao ciclo de vida de um mdulo da PEFC e, ainda, suas implicaes

    para a sustentabi l idade da tecnologia.

    No captulo V apresenta-se o desenvolvimento e a anl ise do processo de

    recuperao da platina da PEMFC em duas etapas. A primeira caracteriza-se pela

    descr io dos procedimentos uti l izados na rota experimental, enquanto a segunda

    trata daqueles relacionados anlise simplif icada da ACV dos MEA da PEFC,

    produzida e util izada no Programa de Pesquisa e Desenvolvimento de Clulas a

    Combustvel do IPEN (PROCEL) .

    O captulo VI traz os resultados e discusses decorrentes da aval iao do

    ciclo de vida simplif icada. No entanto, dada as dif iculdades notrias e grande

    divergncia no tratamento das questes levantadas, este captulo se coloca como

    uma contr ibuio e discusso no sentido de criar abordagens ou mtodos que

    incluem as questes ambientais sistematicamente na pesquisa e desenvolvimento

    da tecnologia PEFC. Por fim, as principais constataes da pesquisa, incluindo as

    recomendaes e as sugestes futuras sobre as questes tratadas neste estudo

    so apresentadas nas concluses.

  • 21

    1 - ENERGIA, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

    A histria do desenvolvimento humano possui uma estreita relao com o

    uso da energia, cuja part icipao imprimiu e imprime, o ritmo das modif icaes no

    contexto scio-econmico. A partir da segunda metade do sculo XVII I , a

    referncia ao uso intensivo das fontes energticas, em termos produtivos , pode

    ser verif icada na Europa Ocidental, part icularmente durante a Revoluo

    Industrial.

    Neste perodo, o apogeu das mquinas a vapor elege o carvo mineral

    como fonte de energia primria, devido s suas caractersticas e quant idade

    disponvel, superando assim, o uso da lenha. Na segunda metade do sculo XIX,

    a indstria do petrleo dava seus primeiros passos na participao da matriz

    energtica mundial, inicialmente em solo norte-americano (at meados da

    Primeira Guerra Mundial) e, posteriormente no Oriente Mdio, consol idando os

    pases desta regio em uma das principais fontes de energia no mundo.

    Paralelamente, a energia com qual idade, de fcil acesso, com alto grau de

    fracionamento se desenvolve no final do sculo XIX, marcando o surgimento da

    indstria da eletricidade. Tratando-se de uma fonte secundria de energia

    (depende de t ransformaes a partir de fontes primrias), a eletricidade destacou-

    se ao longo do sculo X X face sua participao na viabil izao de at ividades e

    processos, desde os pr imrdios da i luminao pbl ica at os atuais equipamentos

    eletrnicos, em especial os motores eltricos.

    O motor eltrico trifsico representou um importante passo no sistema

    energtico, estabelecendo estruturas e conceitos que evoluram e prevalecem at

    os dias de hoje. Para a indstria, o uso da eletricidade, significou a possibi l idade

    de concepo de layout's adequados de forma independente aos processos

    produtivos (FERNANDES FILHO ef. al, 2004). Quanto sociedade, o acesso

    eletricidade proporcionou, alm de bens de consumo e servios necessrios

    qual idade de vida, o desenvolv imento social no seu sentido mais amplo.

    No obstante, o surgimento de novas tecnologias tambm propicia, a partir

    dos anos 50, o uso da energia nuclear, na qual acreditava-se na poca que esta

  • 22

    viria a substituir a economia de energia fssil. De acordo com UDAETA ef. al

    (2004), nos tempos modernos, as energias renovveis se consol idaram apenas

    por meio de grandes hidroeltricas. No entanto, a primeira grande crise do

    petrleo em 1973, desperta o desenvolvimento de novos mecanismos de

    converso de energia baseada em recursos renovveis e, a busca pela garantia

    de atendimento s necessidades futuras.

    Desta forma, ao longo do tempo foram vrias as fontes energt icas que

    part iciparam no cotidiano das populaes, umas sucedendo s outras, ou ainda,

    atuando simultaneamente, em propores variadas, conforme a sua

    disponibi l idade e custo. Todavia, o uso da energia em equil brio com o

    desenvolv imento scio-econmico representa um dos grandes desafios da

    humanidade. Para tanto torna-se importante ter uma compreenso minimamente

    clara dos processos envolvidos nas transformaes energt icas e suas

    conseqncias ambientais.

    1.1 Energia e Meio Ambiente

    No decorrer da sua histria, a humanidade tem selecionado os sistemas

    energt icos em funo de dois elementos: a disponibi l idade tcnica e a

    viabi l idade econmica. Porm, o modelo energtico vigente tem se revelado

    insustentvel, comprometendo, cada vez mais a curto prazo, os equilbrios

    ecolgicos e cl imticos e, conseqentemente o desenvolvimento scio-econmico

    e o bem estar social. Desta forma, na ltima dcada, um novo parmetro tem

    progressivamente condicionado a aceitao ou recusa dos sistemas de energia:

    os impactos ambientais resultantes da sua implementao.

    Conforme OLIVEIRA ef. al (2004) o setor energtico produz efeitos nocivos

    ao meio ambiente em toda a sua cadeia de desenvolvimento, desde a extrao de

    recursos naturais at os seus usos finais. Por exemplo, a extrao de recursos

    energt icos, seja petrleo, carvo, biomassa ou hidroeletricidade, tm impl icaes

    em mudanas nos padres de uso do solo, recursos hdricos, al terao da

    cobertura vegetal e na composio atmosfrica.

  • 23

    J os processos relacionados com a produo e uso de energia l iberam

    para a atmosfera, a gua e o solo diversas substncias que comprometem a

    sade e sobrevivncia no s do homem, mas tambm da fauna e flora. Embora

    seja difcil identificar com clareza todos esses impactos, uma vez que estes

    podem ocorrer de forma direta e indiretamente, a energia , do ponto de vista

    global, pode ser apontada como uma das principais fontes de desequilbrio da

    natureza causada pelo homem.

    No obstante, os danos ambientais no se restr ingem ao local onde se

    realizam as atividades de produo ou de consumo de energia, mas tambm

    abrangem as escalas regionais e globais (TAB 1.1). No nvel regional pode-se

    mencionar, por exemplo, o problema de precipitaes cidas, ou ainda o

    derramamento de petrleo em oceanos, que pode atingir vastas reas.

    TABELA 1.1 - Escala de problemas ambientais associados energia

    Prob lemas G l o b a i s Mudana no Clima Global Depleo do Oznio Estratosfrico Reduo da Biodiversidade

    Prob lemas Reg iona is

    Degradao e Uso da gua e do Solo Contaminao ocenica Mobilizao de Contaminantes Txicos Precipitao cida Radioatividade e lixos radioativos

    P r o b l e m a s L o c a i s

    Poluio do ar urbano Poluio do ar interno Poluio das guas subterrneas e de superfcies Resduos slidos e perigosos Campos eletromagnticos Sade e Segurana ocupacional Acidentes de larga escala Esttica e outros aspectos (por ex. rudos, perturbao visual)

    Fonte : CARVALHO (2000)

    Em relao aos impactos globais, e os exemplos mais contundentes so as

    alteraes climticas resultantes do acmulo de gases na atmosfera (efeito estufa)

    e, a depleo da camada de oznio devido ao uso de clorof iuorcarbonetos

    uti l izados em equipamentos de ar condicionado e refr igeradores. Neste sentido,

    apresenta-se a seguir a principal conseqncia ambiental de cada escala de

  • 24

    abrangncia, e posteriormente os impactos der ivados dos atuais sistemas de

    energia.

    1.1.1 M u d a n a s C l i m t i c a s

    Um dos mais complexos e maiores efeitos das emisses do setor

    energtico so os problemas globais relacionados a mudanas cl imticas.

    Segundo REIS e. al (2005), o aquecimento global resulta da modif icao na

    intensidade de radiao trmica emit ida pela superfcie da Terra, em funo da

    crescente concentrao de gases do efeito estufa (GEE), cujas emisses esto

    relacionadas ao uso de combustveis fsseis (TAB .1.2).

    TABELA 1.2 - Contribuio relativa de gases provenientes de combustveis fsseis ao efeito estufa

    Gs CarbAnico Metano (CH

  • 25

    Parte da radiao solar refletida pela Terra e atmosfera

    A radiao solar atravessa a atmosfera limpa

    A maior parte da radiao solar absorvida pela superfcie da Terra , aquecendo-a

    TERRA

    Parte da radiao infravermeltia absorvida na Terra e re-emitida pelos gases estufa. O efeito disso o aquecimento da superfcie e da atmosfera baixa

    A superfcie da Terra , emite radiao infravermelha

    FIGURA 1.1 - Efeito estufa

    Fonte: CARVALHO, 2000

    Neste sentido, as impl icaes no clima mundial para os pases e suas

    populaes encontram-se na alterao da produtividade agrcola e da pesca,

    inundaes de regies costeiras e aumento de desastres naturais. A seriedade

    desses efeitos tem sido reconhecida por diversos estudos cientficos

    internacionais e vrios pases esto procurando consenso para uma agenda

    mnima de at ividades para controle e mit igao de emisses, como o Protocolo de

    Kyoto, discutido no mbito dos pases signatrios da Conveno Climtica .

    1.1.2 D e p o s i e s c i d a s

    Embora o termo chuva cida seja amplamente uti l izado nas publ icaes

    sobre o assunto em questo, de acordo com OLIVEIRA et. al (2004), a

    denominao mais adequada para o fenmeno precipitaes cidas, visto que

    as deposies podem ocorrer em forma de chuva, neve, partculas slidas ou

    g a s e s .

    Os principais componentes encontrados nas precipitaes cidas so o

    cido sulf i jr ico (H2SO4) e o cido ntrico (HNO3), formados na atmosfera a partir

  • 26

    do dixido de enxofre (SO2) e dos xidos de nitrognio (NOx), ambos produtos

    daqueima de combustveis fsseis. Os danos causados pelos cidos l iberados no

    uso desse energtico, precipitados tanto na sua forma seca quanto mida,

    prejudicam a cobertura de solos, vegetao, agricultura e materiais

    manufaturados.

    No que tange a sade humana, a presena de particulados contendo SOae

    NOx provocam ou agravam doenas respiratrias como bronquite e enfisema,

    especialmente em crianas. Esse tipo de problema tem sido verif icado em regies

    da China, Hong Kong e Canad que sofrem os efeitos de termoeltr icas a carvo

    situadas muitas vezes em locais distantes de onde ocorrem s precipitaes

    cidas.

    1.1.3 P o l u i o Urbana d o Ar

    Um dos problemas mais antigos da civil izao a poluio urbana do ar,

    sendo responsvel por inmeras doenas, inclusive mortal idade nas populaes

    das grandes cidades. A principal fonte de poluio em reas urbanas advm da

    queima de combustveis fsseis para fins de aquecimento domstico, gerao de

    energia, funcionamento de motores a combusto interna, processos industriais e

    incinerao de resduos slidos (TAB 1.3).

    TABELA 1.3 - Fontes de poluio e seus poluentes

    Caldeiras e fornos industriais

    Motores de combusto interna

    Indstria de refino de petrleo

    Indstria qulmics

    Metalurgia e qumica do coque

    Indstria extrativa mineral

    Indstria alimentcia

    Indstria de materiais de construo

    F * a r t i C L i lados

    Cinzas e fuligem

    Fuligem

    R, fuligem

    P, fuligem

    P. xidos de ferro

    Emisses Gasosas

    NlOx. SO2, CO. aldedos, cidos orgnicos. 3,4-

    benzopireno

    CO, rMOx. aldedos, hidrocarbonetos 3,4-

    benzopireno

    SO2, H2O, NtHs, NOy. CO, cidos, hidrocarbonetos,

    aldedos, cetonas

    Depende do processo (Ex.: SO2CO, hidrocarbonetos,

    solventes)

    SO2, I H3, ISIO. CO, composto de flor,

    substncias orgnicas

    Depende do processo (Ex.: CO, compostos de flor)

    MH3. l-lzS (multicomponentes de composto orgnicos)

    CO. compostos orgnicos

    Fonte: Conservao de Energia - Eficincia Energtica de Instalao e Equipamentos, 2001 apue/CARVALHO (2000)

    CCWSSO Ru-H^ f c - i p. ,r/

  • 27

    O consumo de derivados de petrleo pelo setor de transporte o que

    apresenta a maior contribuio para a degradao do meio ambiente no nivel

    local. Est ima-se que 5 0 % dos hidrocarbonetos emit idos em reas urbanas e

    aprox imadamente 2 5 % do total das emisses de todo dixido de carbono gerado

    no mundo, resultem das at ividades desenvolvidas com os sistemas de transporte.

    Ademais, a baixa qual idade desses combustveis em muitos pases, aliada

    precar iedade de veculos, trnsito congest ionado e condies cl imticas

    desfavorveis em grandes cidades, contr ibuem para que exista uma quase

    permanente concentrao de f inas partculas no ambiente urbano, que

    comprometem signif icat ivamente a qual idade do ar e, desta forma, a sade

    humana (GRIMONI et. al, 2004).

    1.1.4 C e n t r a i s T e r m o e l t r i c a s

    A produo de eletr icidade em termoeltr icas representa em escala

    mundial cerca de um tero das emisses antropognicas de dixido de carbono,

    sendo seguida pelas emisses do setor de transporte e industrial. Os principais

    combustveis uti l izados em todo o mundo so o carvo, der ivados de petrleo e,

    crescentemente, o gs natural. Existem ainda outros t ipos de usinas

    termoeltr icas que queimam resduos de biomassa ( lenha, bagao) e at mesmo

    resduo urbano.

    A lm das emisses de gases e partculas, ocorrem outros problemas

    associados com util izao de gua para o processo de gerao termoeltrica,

    pois muitas centrais usam a gua para refr igerao ou para produo de vapor.

    Esse tem sido um dos principais obstculos para a implantao de termoeltr icas

    no pas, uma vez que diversos projetos se localizam ao longo do principal

    gasoduto construdo, seguindo exatamente as bacias hidrogrficas com

    problemas de abastecimento e de qual idade de gua em regies densamente

    povoadas (JANUZZI , 2004).

    importante notar tambm que houve bastante progresso com relao ao

    aumento da eficincia de usinas termoeltr icas pela introduo de tecnologias de

    co-gerao e turbinas a gs. As possibi l idades de gaseif icao de carvo.

  • 28

    madeira e bagao oferecem novas oportunidades de usinas mais eficientes e com

    menores impactos em relao s convencionais.

    1.1.5 Cent ra is H i d r o e l t r i c a s

    Segundo JANUZZI (2004), muitas vezes faz-se referncia

    hidroeletricidade como sendo uma fonte " l impa" e de pouco impacto ambiental .

    Na entanto, embora a construo de reservatrios (grandes ou pequenos) tenha

    resultado em enormes benefcios para o pas, a judando a regularizar as cheias,

    promover irr igao e navegabi l idade de nos, tambm produziram impactos

    irreversveis ao meio ambiente;

    No caso de grandes reservatrios, existem problemas com mudanas na

    composio e propriedades qumicas da gua, alterao na temperatura,

    concentrao de sedimentos, e outras modif icaes que ocasionam problemas

    para a manuteno de ecossistemas jusante da localizao da barragem alm,

    daqueles relacionados ao reassentamento de populaes locais. Esses

    empreendimentos, ainda que bem controlados, tm promovido impactos na

    diversidade de espcies (fauna e flora) e na densidade das populaes de peixes.

    No Brasil, um dos maiores exemplos o caso da hidroeltrica de Balbina,

    que provocou a inundao de parte da f loresta nativa, ocasionando alteraes na

    composio e acidez da gua, nas quais poster iormente teve impacto no prprio

    desempenho da usina. At recentemente as turbinas apresentavam problemas de

    corroso e depsito de material orgnico, em funo das modif icaes que

    ocorreram na composio da gua.

    1.1.6 Cent ra is Nuc lea res

    A energia nuclear talvez aquela que mais tem chamado ateno quanto

    aos seus impactos ao meio ambiente e sade humana. So trs os principais

    problemas ambientais dessa fonte de energia. O primeiro a manipulao de

    material radioativo no processo de produo de combustvel nuclear e nos

    reatores nucleares, com riscos de vazamentos e acidentes. O segundo est

  • 29

    relacionado com a possibi l idade de desvios clandest inos de material para

    uti l izao em armamentos e conseqentemente, acentuando riscos de

    associados ao uso de energia nuclear (JANUZZI, 2004).

    Finalmente, o ltimo relaciona ao armazenamento dos rejeitos radioativos

    das usinas. Embora, tenha ocorrido substancial progresso no desenvolvimento de

    tecnologias que diminuem prat icamente os riscos de contaminao radiativa por

    acidente com reatores nucleares, aumentando consideravelmente o seu nvel de

    segurana, ainda no se apresentam solues satisfatrias e aceitveis para o

    problema do resduo nuclear {ibidem, 2004).

    Desta forma, os desafios para continuar a expandir as necessidades

    energt icas da sociedade com menores efeitos ambientais so enormes, o que

    implica na premncia de significativas mudanas nas estratgias de

    desenvolvimento, nas tecnologias em vigor, bem como nos padres de consumo

    da sociedade moderna, antes que esses efeitos nocivos aqui mencionados

    atinjam um ponto irreversvel.

    1.2 Energia e Desenvolvimento

    Os valores que sustentam o atual modelo de desenvolvimento na

    sociedade estruturam-se na exagerada nfase do progresso econmico, no qual

    f reqentemente encontra-se a explorao descontrolada dos recursos naturais,

    uso de tecnologias de larga escala e consumo desenfreado, responsveis pela

    degradao ambiental , disparidades econmicas, desintegrao social e, entre

    outros, na falta de perspect ivas futuras.

    Diante deste quadro, no caminho para atingir um desenvolvimento

    sustentvel, a questo energtica tem um signif icado bastante relevante,

    medida que os vrios desastres ecolgicos e humanos das lt imas dcadas tm

    relao ntima com a produo de energia e, o fornecimento eficiente

    considerado uma das condies bsicas para o desenvolvimento scio-

    econmico (SILVEIRA ef. al,. 2001).

    De acordo com o Relatrio da Comisso de Brundtland, o desenvolvimento

    sustentvel responde necessidade do presente sem comprometer a capacidade

  • 30

    das geraes futuras de satisfazer s suas prprias. Tal conceito agrega em sua

    definio, trs pontos fundamentais: crescimento econmico, equidade social e

    equilbrio ecolgico (DONAIRE, 1995).

    Concretamente, este novo paradigma apia-se nos modos de produo e

    consumo viveis a longo prazo para o meio ambiente, associados ao

    fornecimento de servios e produtos que atendem as necessidades bsicas da

    populao e proporcionem melhor qual idade de vida, alm, dentre outros

    aspectos, minimizao do uso dos recursos naturais.

    Neste contexto, sendo a produo de eletr icidade responsvel por

    aprox imadamente um tero do consumo de energia primria mundial e com

    tendncias a expandir nas prximas dcadas f icam evidentes a necessidade de

    profundas mudanas na gerao, distribuio e uso da energia. Trata-se de

    transformaes em direo a um maior uso de recursos renovveis e um

    afastamento gradual dos combustveis fsseis.

    Para tanto, os esforos de inovao tecnolgica na rea energt ica para

    um futuro com menos impactos ambientais so imprescindveis, pois o fomento

    das energias renovveis poder, por ventura, constituir-se na chave para um

    desenvolv imento sustentvel, nomeadamente para cumprir as polticas de

    preservao do meio ambiente e, em particular para travar as alteraes

    climticas.

    Nesta perspect iva e em meio as diferentes rotas tecnolgicas, as clulas a

    combustvel (CaC) tm sido identif icadas como parte da resposta para a premente

    necessidade mundial de energia limpa e eficiente. Esta tecnologia de gerao de

    eletricidade, tambm reconhecida como um componente fundamental para a

    futura "Economia do Hidrognio" poder reduzir substancialmente emisses de

    gases do efeito estufa, associados ao atual sistema de transporte e produo de

    energia (PEHNT & RAMESOHI , 2002).

  • 31

    2- CLULAS A COMBUSTVEL

    2.1 - Sonho ou Desafo?

    As duas lt imas dcadas do sculo XX podem ser consideradas como a

    transio dos mtodos de produo de energia, armazenamento e converso. Os

    combustveis fsseis - o carvo, o leo e o gs natural, responsveis pelo

    inacreditvel desenvolvimento da tecnologia do mundo ocidental e sua crescente

    mobi l idade de produo so considerados ameaadores para a sobrevivncia do

    ambiente natural como conhecemos hoje.

    Simultaneamente, tambm se manifesta neste cenrio preocupao

    quanto ao consumo irracional e conseqente desaparecimento de combustveis

    fsseis, criando barreiras para o futuro do progresso tecnolgico, no mesmo

    perodo em que a crescente populao mundial precisa de mais al imento,

    melhores moradias, aperfeioamento de produtos industriais e expanso dos

    meios de comunicao e transporte.

    Soma-se ainda, o di lema causado pela realizao prvia do conceito de

    que a energia il imitada, disponvel pela gerao de energia nuclear, contenha

    propsitos perigosos. No obstante, esse quadro tem se agravado pelo fato da

    expectat iva do suprimento energtico por uma substancial frao de energia solar

    ou outras pequenas fontes renovveis, constituir-se em uma iluso (KORDESH &

    SIMADER, 1996).

    Neste sentido, alguns autores descrevem o futuro como cri t icamente

    dependente de energia. Os cenrios pessimistas predizem catstrofes humanas e

    solues baseadas em uma economia de energia forada pela "volta aos estilos

    bsicos de vida" ^ No entanto, vises mais otimistas consideram que o efeito das

    novas tecnologias em adio ao uso da energia solar e outros recursos

    renovveis, conduziro para uma melhor uti l izao dos combustveis fsseis,

    incluindo o uso apropriado de energia atmica.

    'Ibidew, 1996. p 1.

  • 32

    2.2 - Origem e Histria da Tecnologia

    O desejo de converter energia qumica de combustveis diretamente em

    eletricidade existe desde 1900 e, manifestado pela larga escala de

    experimentos, nos quais se tentava oxidar carvo e gs natural em pilhas

    eletroqumicas^. Um resgate histrico nos leva a constatar que o princpio de

    funcionamento da clula a combustvel (CaC) foi verif icado em 1839 pelo fsico

    ingls Willian Robert Grove, ao combinar os gases hidrognio e oxignio e, gerar

    eletricidade e gua em um processo denominado eletrlise reversa^.

    Anos depois, em 1889, o termo "clula a combustvel" foi cunhado pelos

    cientistas Ludwig Mond e Charles Langer que tentaram, sem sucesso, produzir o

    primeiro disposit ivo prtico, usando gs natural e carvo. Outras tentativas, no

    inicio do XX, para a construo de CaC que pudessem converter carvo ou

    carbono em energia eltrica tambm falharam em funo da cintica dos

    materiais e eletrodos (ALDAB, 2004).

    Entretanto, em 1932, ocorreram os primeiros exper imentos bem sucedidos,

    resultantes do trabalho do engenheiro Francis Bacon, que aperfeioou os

    carssimos catal isadores de platina'*, ao utilizar um eletrlito alcalino menos

    corrosivo e eletrodos de nquel mais baratos. Todavia, os desafios tcnicos eram

    muitos e somente em 1959 Bacon conseguiu demonstrar um sistema CaC de 5

    kW capaz de al imentar uma mquina de solda .

    No mesmo perodo, a National Aeronautics and Space Administration -

    NASA comeou a pesquisar um gerador de eletr icidade compacto, para ser

    uti l izado a bordo das naves de uma srie de misses espaciais tr ipuladas. Aps

    desistir das alternativas existentes na poca, por apresentarem riscos

    segurana e outros problemas tcnicos relacionados ao peso e durabi l idade da

    fonte, a NASA se voltou para o desenvolvimento da tecnologia CaC.

    -Ibidem. 1996. p. 1 NETO, E. H. G. (2005). Utilizados poTond e Langer em uma clula hidrognio-oxignio

  • 33

    Desta forma, o sistema construido por Bacon serviu como prototipo para as

    CaC uti l izadas no programa espacial Apollo e Gemini, responsveis por

    conduzirem o vo do Homem lua em 1968. No obstante, as pesquisas em CaC

    ressurgiram mais fortemente no mundo, quando substratos de carbono poroso

    com baixas cargas de catalisador providenciaram uma soluo de baixo custo

    para os sistemas CaC hidrognio-ar e, o interesse por automveis eltricos

    movidos a CaC foi difundido, conduzindo assim a vrios prottipos (KORDESH &

    SIMADER , 1996).

    Em meados de 1970, houve uma mudana na direo do interesse pela

    tecnologia de CaC. O sistema alcalino {Alcaline Fuel Cell - AFC) que t inha

    a lcanado o nvel mximo de aperfeioamento nos programas espaciais foi

    substitudo, nos programas mundiais de P&D, pelo sistema de acido fosfrico

    {Phosphoric Acid Fuel Cell - PAFC), no qual constitua-se mais apropriado para

    apl icao estacionria de gerao de energia. A tendncia na ampl iao de

    plantas de gerao para larga escala foi especialmente notvel no Japo,

    pr incipalmente aps a perda de interesse dos Estados Unidos.

    Contudo, nos anos 80 e 90 destacou-se o acelerado desenvolv imento de

    sistemas CaC de carbonato fundido {Molten Carbonate Fuel Cell - MCFC) e de

    xido slido {Solid Oxide Fuel Cell - SOFC), c laramente devido ao fato das

    plantas de CaC de alta temperatura apresentarem uma melhor eficincia global

    quando associadas ao calor. Infortunamente, aspectos relacionados expectativa

    de vida dos materiais resultaram em problemas ainda em pauta.

    Tambm em 1990, ocorre outra reviravolta no cenrio tecnolgico das CaC,

    quando a clula a combustvel de membrana trocadora de prtons {Proton

    Membrane Exchange - PEMFC) surge como o mais atrativo objeto de

    desenvolvimento. Embora esse sistema exista desde 1960, seu desempenho no

    foi seguro nos projetos espaciais, de forma que a ateno na poca se voltou

    para os sistemas AFC. No entanto, as altas densidades de corrente do sistema

    PEMFC, obt idas a partir de pesquisas de novos tipos de membrana e

    catal isadores, associadas a um aperfe ioamento na expectat iva de vida

    operacional real imentaram o interesse por esta tecnologia {ibidem, 1996. p. 2).

    SO r::'-iO^!. C Lftf;5-ki. rSJC! FAR

  • 34

    Atualmente, o cenrio das CaC bastante discutido e difundido

    internacionalmente, devido a caractersticas inerentes da tecnologia, por exemplo,

    gerao de energia distribuda e util izao de fontes renovveis para obteno

    de hidrognio. No caso do Brasil, os reflexos das aes conduzidas no exterior

    para o desenvolvimento da tecnologia CaC resultaram no Programa Brasileiro de

    Sistemas de Clulas a Combustvel - ProCaC, como iniciativa do Ministrio da

    Cincia e Tecnologia e do Centro de Gesto e Estudos Estratgicos- CGEE -

    (MCT/CGEE, 2002).

    No mbito acadmico, verif ica-se que desde o final da dcada de 70

    algumas atividades na rea de clulas a combustvel no nvel nacional tm sido

    realizadas. Direta ou indiretamente vrias instituies, tais como a Universidade

    Federal do Cear, Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Instituto de

    Pesquisas Tecnolgicas - IPT de So Paulo e o grupo de eletroqumica de So

    Carlos, j se dedicaram ao estudo deste tipo de tecnologia. Recentemente, em

    meados de 1998, iniciou no Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares -

    IPEN/CNEN de So Paulo o estudo e desenvolvimento de sistemas, eficientes e

    de baixo impacto ambiental , associados a CaC (WENDT e al, 2000).

    2.3 - Sistema Conversor de Energia

    As CaC so clulas eletroqumicas que podem converter cont inuamente a

    energia qumica de um combustvel e um oxidante em energia eltrica pelo

    processo envolvendo essencialmente e invariavelmente um sistema eletrodo-

    eletrl i to^. Caractehzam-se por operar com alta eficincia e nveis de emisses

    bem abaixo dos mais rgidos padres.

    Conforme NETO (2005), a frmula termodinmica do ciclo de Carnot^

    mostra que uma mquina trmica no pode converter toda a energia do calor em

    energia mecnica, mesmo sob condies ideais, pois uma parte do calor

    'Ibidem, 1996. p.9 ' Mxima eficincia= (T) - T 2 ) / T 1

  • 35

    perdida. Por exemplo, o motor a combusto utiliza o calor de uma fonte de

    energia em alta temperatura (Ti) , converte parte desse calor em energia

    mecnica, e perde a outra parte para um ambiente de menor temperatura (T2),

    como o ar ambiente.

    No caso das clulas a combustvel , o processo no envolve a converso de

    calor em energia mecnica, pois estas t ransformam a energia qumica

    diretamente em energia eltrica (FIG 2.1). Desta forma, a eficincia das CaC pode

    superar o limite de Carnot, at mesmo em baixa temperatura, como em 80 C

    {ibidem, 2005. p. 94).

    Converso em energia trmica V

    Converso em energia

    mecnica

    FIGURA 2.1 - Converso direta de energia das CaC em comparao as tecnologias de

    converso indireta.

    Ademais, o sistema de CaC apresenta vantagens por ser modular,

    podendo ser construda para uma larga escala de requerimentos de potncia,

    desde a centena de watts at a mltiplos kilowatts e megawatts, permit indo desta

    maneira, a construo de plantas energticas al tamente eficientes at em locais

    remotos. Devido s baixas emisses, as plantas de CaC podem ser instaladas na

    local idade onde a energia ser consumida e, pr incipalmente, em reas

    densamente povoadas. Como resultado, as linhas de t ransmisso so mais

    econmicas e as perdas no sistema so reduzidas.

    De acordo com KORDESH & SIMADER (1996), os princpios bsicos da

    clula a combustvel so similares s conhecidas baterias eletroqumicas,

    envolvidas em muitas atividades do nosso dia a dia. A grande diferena, no caso

    das baterias, que esses disposit ivos possuem estocados no seu interior a

  • 36

    energia qumica contida nas substncias. Quando essa energia transformada

    em eletricidade, as baterias so descartadas (baterias primrias) ou recarregadas

    apropnadamente (baterias secundrias). No caso da CaC, a energia qumica

    providenciada por combustvel e um oxidante armazenado fora da clula na qual

    as reaes ocorrem, assim, a energia eltrica pode ser obtida cont inuamente,

    contanto que as clulas sejam supridas por esses reagentes.

    2.3.1 - C l a s s i f i c a o d a s T e c n o l o g i a s

    H diferentes t ipos de CaC e muitas formas de classif icao so

    encontradas na literatura (WENDT e. a/, 2000; 2002;. ALDAB, 2004). A FIG. 2.2

    apresenta um exemplo razovel de uma classif icao geral de tipos da tecnologia

    com descries abrangendo tambm os quesitos: CaC diretas, indiretas e

    regenerativas. Nas CaC diretas, os produtos das reaes das clulas so

    descartados, enquanto que nas clulas regenerativas, os reagentes^ consumidos

    so regenerados por um ou mais mtodos, como indicado na FIG. 2.2 abaixo.

    Clulas a Combustvel

    D i r e t a s R e g e n e r a v a s

    Baixa temperatura

    Temperatura Intermediria

    Alta temperatura

    C a C de reforma

    C a C b i o q u m i c a s

    H 2 - O 2 H 2 - O 2 H 2 - O 2 Trmica

    C o m p o s t o s o r a n i c o s - 0 2

    C o m p o s t o s o ran icos -O?

    C O - O 2 Eltr ica

    C o m p o s t o s d e N? - O2

    Amn ia - O2 Fotoqumica

    H 2 -Haloanios

    Rad ioqu mica

    Metal - O2 Mtodos a a II K

    Combust ve l e Oxidante

    FIGURA 2.2 - Classificao das Clulas a Combustvel

    Fonte: KORDESH &SIMADER (1996), modificado por FUKUROZAKI (2006)

    No caso, o combustvel e o o.xidantc.

  • 37

    Os dois tipos descritos anteriormente so similares a baterias primrias e

    secundrias^. O terceiro, so as CaC indiretas, como exemplo desta categoria

    est a clula com reforma que usa combustveis orgnicos passveis de serem

    convert idos em hidrognio e, a clula bioqumica, na qual uma substncia

    bioqumica decomposta por meio de enzimas em soluo (algumas vezes

    providas por adio de bactrias) para produzir hidrognio.

    Uma outra subdiviso dos modelos de sistemas de clulas est de acordo

    com a temperatura de operao, considerada por muitos pesquisadores a mais

    apropriada. Neste propsito, a classif icao adotada consiste em clulas de baixa,

    intermediria e alta temperatura de operao; respect ivamente, 25 a lOO^C, de

    100 a 500C e, de 500 a 1000C {\bidem, 1996. p. 10). Em cada uma dessas

    escalas de temperaturas, h diferentes padres de CaC que podem ser

    subdivididas de acordo com o tipo de combustvel (veja FIG. 2.2).

    A lguns desses combustveis podem ser disponibi l izados imediatamente,

    como gs natural, ou faci lmente produzidos, no caso do hidrognio. Entre os

    compostos orgnicos, a var iedade de potenciais combustveis concebvel, por

    exemplo, por hidrocarbonetos, lcoois e, inclusive o carbono ou grafite. Os

    combustveis contendo nitrognio util izam a amnia, a hidrazina, entre outras, e o

    oxignio, na sua forma pura ou ar, usado prat icamente em todas as CaC como

    oxidante. Tambm possvel a subdiviso do ponto de vista da natureza

    eletroqumica do eletrlito uti l izado. Esta classif icao no est presente na FIG.

    2.2 , mas um exemplo desta pode ser observado na TAB. 2 . 1 .

    TABELA 2.1 - Classificao das CaC conforme o eletrlito utilizado

    C l u l a a Combust ve l S i g l a Eletrlito Temperatura d e O p e r a o

    Alcalina AFC Alcalino 50 a 200 C

    Membrana Trocadora de Prtons ' PEMFC Polmero 50 a 130C

    Metanol Direto DMFC Polmero 60 a130C

    Acido Fosfrico PAFC Acido fosfrico 190 a 210C

    Carbonato fundido MCFC Carbonato fundido 630 a 650 C

    Oxido Slido SOFC Oxido slido 700 a 1000C

    1 - Tambm conhecida com Clula a Combustvel de Polmero Eletroltico - PEFC e como Clula a

    Combustvel de Polmero Slido - SPFC

    Fonte: PROCaC/ CCGE/MCT (2002

    Uma quantidade de pesquisas em CaC concentra-se no desenvolvimento de clulas primrias e de reforma.

    file://{/bidem

  • 38

    Em relao natureza de operao, os eletrlitos pol imricos so

    comumente uti l izados em temperaturas baixas e intermedirias (pressurizados).

    Enquanto que os eletrlitos fundidos so ocasionalmente uti l izados em

    temperaturas intermedirias, mas usualmente em altas [ibidem, 1996. p.11). J os

    eletrlitos sl idos (por exemplo mistura de xidos, quando o on oxignio a

    espcie transportada) so usados em altas temperaturas. Em termos de

    praticidade, os sistemas CaC so dist inguidos pelos t ipos de eletrlitos uti l izados

    seguidos dos nomes e abreviaes, mais f reqentemente usados nas publ icaes

    (veja TAB 2.1).

    2.4 - Principais Vantagens

    As CaC oferecem inmeras vantagens como eficincia, segurana,

    economia, baixas emisses, caractersticas nicas de operao^, f lexibi l idade de

    planejamento e futuro potencial de desenvolvimento. Dentre estes aspectos,

    destacam-se, em particular; a alta eficincia e segurana, a f lexibi l idade de

    planejamento e o desempenho ambiental.

    2.4.1 - A l t a E f i c inc ia e S e g u r a n a

    Conforme NETO (2005), a eficincia um valor util izado como parmetro

    para verificar a eficcia^ dos componentes, sistemas e processos. No que tange

    a converses de energia, a eficincia comumente reflete a relao entre a energia

    realmente aprovei tada e a que foi inicialmente util izada, normalmente expressa

    em porcentagem.

    De acordo com a termodinmica, a converso de energia sempre menor

    que 100% e, cada converso de energia resulta em algumas perdas. No caso das

    CaC possvel transformar at 9 0 % da energia presente em um combustvel em

    eletricidade e calor (i)/dem, 1996. p. 11). A atual clula PAFC foi projetada para

    ^ Como por exemplo, a confiabilidade no que tange ao controle de voltagem da linlia de distribuio e controle de qualidade (ibidem, 1996. p 13) "' Entende-se por eficcia como a qualidade de produzir o resultado esperado e eficincia como a qualidade de produzir o resultado esperado fazendo um melhor uso dos recursos.

  • 39

    oferecer 4 2 % de eficincia na converso eltrica com base em altas temperaturas.

    Em curto prazo ser possvel que a PAFC atinja at 46 % de eficincia, pelo

    avano do conhecimento em cincias e engenharia (FIG. 2.3).

    O Instituto de Pesquisa de Energia Eltrica - Electric Power Research

    Institute est ima que o progresso nas clulas de carbonato fundido (MCFC)

    resultar em eficincias eltricas acima de 60%, excluindo o topo do ciclo, no qual

    estas podem ser ainda maiores. A lm disto, este parmetro independente do

    tamanho, visto que a CaC pode operar com a metade da taxa de capacidade,

    enquanto mantm uma elevada eficincia no uso do combustvel (/Jb/cfem,1966,

    p.12).

    C l u l a s a Combust ve l

    Motor a d iese l

    Motor a gaso l ina

    Turb ina a g s e a vapor

    20 30 40 50 60 70

    FIGURA 2.3 - Comparao das eficincias em porcentagem (%)

    Fonte: NETO, 2005

    Outro atributo importante da CaC a aptido para cogerao, por exemplo,

    a produo de gua quente e vapor de baixa temperatura concomitante a gerao

    de eletricidade^ \ Esta taxa de eletr icidade e sada trmica de aproximadamente

    1.0, enquanto na turbina a gs em torno de 0.5, comparat ivamente isto

    representa o dobro de sada eltrica para a mesma carga de energia. Em

    tamanhos pequenos at sistemas de uti l idade pblica, as CaC tambm so mais

    eficientes (por um fator 2) quando comparadas, por exemplo, com um ciclo

    combinado de 2 M W e taxa de produo de calor de 15 000 Btu/kWh.

    " A capacidade de cogerao da CaC tambm contempla diferentes mercados de demanda de gerao trmica.

  • 40

    No obstante, os s istemas CaC consti tuem-se de partes modulares e no

    girantes, apresentando elevada segurana em relao a turbinas de combusto

    de sistemas de ciclos combinados ou engenharia de combusto interna, uma vez

    que no h experincia*^ relatada de desarranjos catastrficos, como os que

    ocorrem quando as partes mecnicas dos sistemas convencionais mencionados,

    fa lham. Espera-se que sistemas de CaC "avanados" apresentem mais

    vantagens em relao s tecnologias competi t ivas atuais.

    2.4.2 - F lex ib i l i dade de P l a n e j a m e n t o

    A flexibil idade de planejamento dos sistemas de CaC, incluindo o aspecto

    de modular idade, resulta em benefcios estratgicos e f inanceiros para diversos

    propsitos e clientes. Segundo KORDESH & SIMADER (1996), as plantas de

    gerao de energia de CaC podem ser construdas em torno de dois anos, sendo

    o desempenho independente do seu tamanho; possibi l i tando o uso progressivo da

    capacidade do sistema por pequenos incrementos e, segundo as necessidades

    dos clientes.

    Desta forma, ao igualar melhor o aumento das exigncias de energia, os

    longos perodos de sobrecarga podem ser evitados e os custos mdios fixos

    podem ser diminudos. Portanto, mesmo se o crescimento do consumo incerto,

    a CaC torna-se mais adequada medida que sua capacidade operacional pode

    diminuir ou ser acelerada rapidamente em resposta a demanda.

    Em adio, os benefcios obtidos com o uso da tecnologia CaC encontram-

    se, alm do arrefecimento de reservas marginais, a confiabi l idade das pequenas

    unidades de gerao de energia distribuda. Ou seja, a produo de eletricidade

    no local onde essa ser consumida, possibilita, entre outros aspectos, na reduo

    das probabil idades de falhas devido a interrupes externas de transmisso e,

    conseqentemente, na mit igao de despesas de manuteno.

    12 A experincia relata somente a perda de eficincia (ibidem, 1996. p. 12).

  • 41

    Inicialmente, as CaC podem ser projetadas para o abastecimento com gs

    natural ou nafta (amplamente disponvel como produto de baixo custo nas

    refinarias) nas clulas que requerem hidrognio. A reforma qumica dos produtos

    ricos em hidrognio permite o uso variado de gases de baixa quant idade de

    enxofre e combustveis lquidos. O avano do desenvolvimento das CaC tambm

    poder habil it-las a operar com carvo gaseif icado.

    Embora, a f lexibi l idade de planejamento no seja uma caracterstica restrita

    a tecnologia CaC, j que as unidades de ciclo combinado e engenharia de

    combusto interna apresentam, cada uma delas, a lgumas das caractersticas aqui

    apontadas, as CaC, combinadas com suas outras vantagens, so notadamente

    um recurso energtico nico {ibidem, 1996. p.15).

    2.4.3 - D e s e m p e n h o A m b i e n t a l

    A substi tuio dos atuais sistemas de gerao de eletricidade pela

    tecnologia CaC pode melhorar a qual idade do ar e diminuir o consumo de energia

    e efluentes, considerando o fato das plantas tradicionais produzirem mais

    part iculados, xidos de enxofre e nitrognio do que outras fontes estacionrias

    industriais combinadas. As emisses da planta de CaC so menores daquelas

    especif icadas pelas restrit ivas regulamentaes ambientais (internacionais),

    incluindo o dixido de carbono (CO2), um dos principais gases responsveis pelo

    efeito estufa {ibidem, 1996. p.12).

    Diferentemente do que ocorre com as plantas de turbina a gs e a vapor,

    que requerem um uso massivo de gua para o sistema de resfriamento, a reao

    eletroqumica da CaC produz como sub-produto a gua, de maneira que uma

    pequena quant idade externa deste recurso necessria para a operao da

    planta energtica. No obstante, a quant idade de efluente descartada pela CaC

    tambm pequena e, sua qual idade superior, quando comparada s plantas

    baseadas em combustveis fsseis, pois no requerem um pr-tratamento para a

    sua disposio no meio ambiente. Alm disto, no h um grande volume de

    resduos produzidos na operao da CaC {ibidem, 1996, p 12).

  • 42

    Ainda, a natureza silenciosa da produo de energia eletroqumica, el imina

    uma frao substancial das fontes de rudos associadas aos sistemas

    convencionais de vapor e, podem faci lmente entrar em conformidade com os

    padres da Ocupacional Health and Safety Administration - OSHA. Ademais, as

    exigncias para uso e ocupao do solo so aceitveis e, no caso de fontes

    externas de energia, os corredores de transmisso no so necessrios. Por

    conseguinte, a CaC, entre as tecnologias de produo de energia, a menos

    perigosa, comparat ivamente ao seu pequeno tamanho, devido ausncia do ciclo

    de combusto, o estado da arte dos sistemas de segurana e baixa emisso de

    poluentes.

    2.5 - Tecnologia da Clula a Combustvel de Membrana Trocadora de

    Prtons

    Dentre os diferentes tipos de CaC, destaca-se a Clula a Combustvel de

    Membrana Trocadora de Prtons - PEMFC*^, cujo interesse de diversos pases e

    instituies no mundo tem aumentado rapidamente, especialmente devido ao

    compromet imento das indstrias automotivas em desenvolver carros movidos

    com esta tecnologia (PEHNT, 2001).

    Estas clulas de baixa temperatura de operao, que util izam uma

    membrana polimrica como eletrlito so as mais promissoras como fonte

    estacionria e tambm como alternativa para motores a combusto, por serem

    robustas e de fcil ac ionamento e desl igamento, alm das vantagens intrnsecas,

    como a alta eficincia com baixa emisso de poluentes.

    O princpio de funcionamento da PEMFC como todas as outras CaC. A

    energia qumica presente no combustvel , usualmente o hidrognio, e o oxidante,

    oxignio, so completamente e ef ic ientemente convert idos em energia eltrica,

    calor e gua (FIG.2.4). O hidrognio oxidado no nodo e o oxignio reduzido

    no ctodo na unidade da clula (RALF, 1998).

    Tambm conhecida como Clula a Combustvel de Membrana Polimrica Trocadora de Prtons - PEFC e de Polmero Slido - SPFC.

  • 43

    Hidrogen o Oxignin ar'1

    Calor

    Calridr.

    FIGURA 2.4 - Desenho esquemtico da PEMFC

    Fonte: ELECTROCELL, 2006

    Basicamente, cada clula apresenta um conjunto eletrodo membrana

    planar, denominado membrane electrode assembly - MEA e, placas bipolares

    (FIG 2.5). O MEA o corao da CaC, sendo formado pela camada de eletrlito e

    os eletrodos de difuso gasosa - EDG, componentes extremamente importantes

    e del icados da clula a combustvel.

    MEA

    P l a c a s b ipolares

    FIGURA 2.5 - MEA e clula unitria da PEMFC

    Fonte: Brasil H2 Fuel Cell Energy (2005)

  • 44

    O eletrlito slido e constitui-se de uma camada delgada de um polmero

    condutor protnico, j os EDG so formados por duas camadas distintas: a

    camada cataltica composta de nanopartculas de platina ancoradas em carvo

    at ivado - Carbon Black e recobertos por uma disperso do eletrlito e; a camada

    difusora usualmente constituda de um papel de fibra de carbono rgida - Carbon

    Paper ou tecido de carbono t ranado - Carbon Cloth.

    As placas bipolares so blocos de grafite, sulcados por canais que

    providenciam tanto o suprimento do combustvel e do oxidante, quanto conexo

    eltrica entre as clulas unitrias, sendo uti l izadas para separar o nodo de uma

    clula do ctodo seguinte. As unidades de clulas so comumente dispostas

    eletr icamente em srie e sobrepostas vert icalmente, formando um mdulo - stack

    (FIG. 2.6).

    FIGURA 2.6 - Mdulo da PEMFC

    Fonte; Power Pulse (2006)

    Em relao aos sistemas externos clula destacam-se, dentre outros, a

    unidade de processamento de gs, responsvel pelo fornecimento de ar e

    combustvel ; inversor, responsvel pela converso da corrente contnua produzida

    no conjunto de CaC a corrente alternada; e trocador de calor que possibilita o

    gerenciamento energtico entre a instalao de processamento de gs e o

    conjunto de CaC.

    Segundo W E N D T ef. al. (2000), o sistema operacional de uma CaC

    consiste em todos os disposit ivos de acionamento e controle, bem como de

    segurana, que permite uma operao das clulas conforme as especif icaes de

    sua ap l i cao. Sistemas operacionais para apl icaes mveis so mais

  • 45

    sofist icados e precisam ser mais rpidos que os de apl icaes estacionria,

    devido prpria dinmica dos automveis, por exemplo.

    2.5.1 - E v o l u o H i s t r i c a d o D e s e n v o l v i m e n t o

    Esta tecnologia foi inventada pela General Electric (GE) nos anos 50 e

    util izada pela NASA para fornecer energia ao projeto espacial Gemini, que t inha

    como principal objetivo testar equipamentos e procedimentos para o Apollo.

    Entretanto, a PEMFC da GE (modelo PB2) teve vrias dif iculdades tcnicas,

    incluindo contaminao interna e vazamento de oxignio pela membrana, de

    forma que baterias convencionais foram usadas nas Gemini 1 a 4 (NETO, 2004)*'*.

    Desta maneira, a GE redesenhou sua PEMFC, e o novo modelo P3, apesar

    de alguns problemas e fraca performance na Gemini 5, serviu adequadamente

    para os outros vos das Gemini. Nas misses Apollo, contudo, a tecnologia

    alcalina AFC foi selecionada para o comando e mdulos lunares, assim como

    tambm foi escolhida para as misses do Space Shuttle uma dcada depois. Em

    1959, Thomas Grubb e Leonard Niedrach, pesquisadores da GE, idealizaram o

    uso de membranas orgnicas, de troca catinica, para uti l izao em clulas a

    combustvel, promovendo o incio das pesquisas com clulas a combustvel de

    eletrlito polimrico.

    Entre 1959 e 1961 , a GE desenvolveu algumas membranas fenol-

    sulfnicas com platina depositada como catalisador. O desempenho destas

    clulas a combustvel era pequeno mesmo uti l izando uma boa quant idade de

    platina no eletrodo, cerca de 5mg/cm^, massa equivalente a uma at ividade

    cataltica especf ica de 8mA por mg de platina.

    De acordo com W E N D T et al. (2000), a carga de platina destas clulas era

    muito alta, o que tornava invivel o seu uso comercial . Ademais, devido

    degradao da membrana utilizada nestas clulas PEMFC, o desempenho e a

    vida til eram limitados. Mesmo com o alto custo e vida til curta, os benefcios

    para o programa espacial foram satisfatrios, contudo a apl icao mercanti l ainda

    estava distante.

    M NETO.E.H.G.celulaacombuslivel.com.br/cac/oconceito/cachistoria.htm. Acessado em 07/06/2004

  • 46

    Em 1969, a segunda gerao das clulas a combustvel do tipo PEMFC da

    GE eram consti tudas por um mdulo de 350 W, que fornecia energia para o

    satlite artificial Biosateilite, uti l izando uma membrana melhor e fabricada pela Du

    Pont, o Nafion, ainda muito util izado atualmente {ibidem, 2004.) .

    Desde ento, observou-se que a vida til e o desempenho das clulas a

    combustvel de segunda gerao melhoraram signif icat ivamente devido ao uso

    desta membrana. No obstante, a mudana de cenrio tambm se consol idou

    com a uti l izao de carvo ativo, at ivado com platina como eletrocatal isador

    {ibidem, 2000. p. 542).

    No final dos anos 80, vrias empresas comearam a surgir e atuar no

    desenvolvimento de clulas a combustvel. Em 1988, a Ballard Technologies

    Corporation, hoje uma das principais fabricantes de clulas a combustvel para

    automveis, mostrou que as clulas PEMFC poderiam ser apl icadas em veculos

    eltricos, uti l izando membranas experimentais, perf luoradas, desenvolvidas pela

    Dow Chemical, iniciando ento uma caminhada rumo ao desenvolvimento efetivo

    PEMFC {\bidem, 2004). Conforme ALDAB (2004), atualmente o sistema mais

    uti l izado na propulso de veculos e nos sistemas de energia estacionria de

    pequena escala.

    2.5.2 - A p l i c a e s

    As apl icaes para a tecnologia de clulas a combustvel do tipo PEMFC

    so inmeras, no apenas na rea espacial e militar, como foi inicialmente, mas

    tambm em carros, nibus, motos, caminhes, scooters, equipamentos

    estacionrios e portteis (FIG. 2.7) para a gerao de energia em residncias,

    comrcio e indstrias (Wendt ef. a/, 2000; RALF, 1997), alm da apl icao em

    equipamentos eletrnicos , como celulares e laptops. Isto se deve aos

    aperfeioamentos obt idos na fabricao e produo, assim como na densidade de

    potncia das clulas PEMFC.

    file://{/bidem

  • 47

    FIGURA 2.7 - Exemplo de aplicao porttil (laptop) da PEMFC

    Fonte: Sras/V H2 Fuel Cell Energy (2005)

    O processo de comercial izao de automveis de clulas a combustvel do

    tipo PEMFC decorreu em funo da promulgao da lei americana Clean Air Act

    Amendments (CAAA), em 1990, na qual a gasolina de queima mais limpa passou

    a ser exigida em nove cidades americanas com ar part icularmente poludo.

    Neste contexto, em 1994, a Daimler-Chrysler, em parceria com a empresa

    canadense Ballard Power Systems, apresentou o NECAR1. uma van com

    autonomia de 130km, velocidade mxima de 90km/h e com potncia de 50KW

    util izando a tecnologia PEMFC (ibidem, 2004). No obstante, empresas como a

    Ford, Renault, Honda, Volkswagen, Toyota, Mazda, Nissan, Fiat, Susuki, Pegeout,

    Mitsubishi, entre outras, tambm investiram nesta tecnologia, part icipando no

    desenvolvimento de veculos de emisso nula ou emisso mnima de poluentes

    (FIG 2.8)

    FIGURA 2.8 - Veculo de emisso nula - NECAR

    Fonte: Mercedes Benz (2006)

  • 48

    De acordo com PEHNT (2001), o avanado desenvolvimento das PEMFC

    para a indstria automotiva propiciou uma situao favorvel para a apl icao

    destas clulas para gerao estacionria de eletricidade. Conforme NETO (2004),

    a Ballard Power Systems (Canad) tm trabalhando em pesquisas com CaC

    estacionrias tipo PEMFC de 250KW, principalmente na Europa e Japo.

    Desde 2 0 0 1 , cerca de 5 unidades foram instaladas na Europa, sendo a

    mais recente no ano 2002 em Oberhausen, Alemanha. Estes sistemas foram

    projetados para funcionar com gs natural, embora uma unidade instalada pela

    Ebara Ballard, em uma estao de tratamento de gua no Japo seja al imentada

    por gs metano, obtido atravs de um digestor anaerbico, a primeira PEMFC

    deste tipo.

    Tambm a General Motor (GM) vem desenvolvendo clulas a combustvel

    do tipo PEMFC para apl icao em sistemas estacionrios, assim como para o seu

    tradicional mercado automotivo, e planeja vender, a partir de 2005, unidades de

    75kW para indstrias que necessitam principalmente de energia ininterrupta e de

    excelente qualidade.

    Outras empresas, como Hydrogenics (Canad), Nuvera FuelCells (Itlia,

    USA) e Plug Power (USA), esto atuando no desenvolvimento desta tecnologia

    para a gerao de eletricidade em unidades estacionrias e sua insero no

    mercado. Alm das apl icaes automotiva e estacionria, um mercado potencial

    o de gerao de energia porttil, desde PEMFC para laptops e celulares, por

    exemplo, at energia para equipamentos maiores, mas que possam ser

    transportados e precisam de energia por longo perodo.

    Atualmente, h no mundo unidades de demonstrao em operao

    gerando uma potncia de 50 kW e outras em desenvolv imento produzindo cerca

    de 250 kW (NETO, 2005). Embora esta tecnologia se encontre em acelerado

    desenvolvimento e apresente um grande nmero de vantagens durante a fase em

    uso e diversas aplicaes, os obstculos para a sua ampla insero no mercado

    envolvem, alm de custos relacionados ao MEA, impactos ambientais

    relacionados a outras etapas do ciclo de vida desta tecnologia, especif icamente

    na manufatura e destino final da CaC.

    ccffssAo nK!omi ; mucle/vr/SP-IPE?

  • 49

    Neste sentido, uma das tcnicas que esto sendo desenvolvidas e

    util izadas para avaliar os efeitos ambientais or iundos de toda a cadeia produtiva

    de um bem ou servio a Aval iao do Ciclo de Vida - ACV, pois as informaes

    reunidas, no mbito conceituai desta ferramenta, permitem quantif icar tanto as

    suas repercusses anteriores, quanto as posteriores. Hoje em dia, a ACV se

    apresenta como um dos mais importantes procedimentos de gesto ambiental e

    preveno poluio, integrando a srie ISO 14000.

  • 50

    3 - AVALIAO DO CICLO DE VIDA

    Ass im como os organismos vivos, todo o produto tem uma "vida" que se

    inicia com o projeto, seguido pela extrao de recursos, produo de materiais, a

    manufatura, o uso e por f im as aes envolv idas no fim da vida til, tais como;

    coleta, reuso, reciclagem e disposio de residuos (UNEP/SETAC, 2005). Estas

    at ividades ou processos resultam em impactos ambientais devido ao consumo de

    recursos, emisses de substncias no ambiente natural e trocas ambientais,

    como por exemplo radiao (REBITZER e colaboradores , 2004).

    Neste sentido, a Aval iao do Ciclo de Vida - A C V uma abordagem

    metodolgica para estimar e avaliar os impactos atribudos cadeia do produto,

    tais como; as mudanas cl imticas, depleo do oznio estratosfrico, a criao

    do oznio tropoesfrico (smog), eutrof izao, acidif icao, efeitos toxicolgicos na

    sade humana e ecossistemas, depleo dos recursos, entre outros.

    Quando conduzimos a ACV, a fase do projeto do produto usualmente

    excluda pois, f reqentemente, admite-se que esta etapa no contribui

    signif icativamente para anlise. Contudo, importante notar que as decises

    tomadas durante o projeto inf luenciam signif icativamente os aspectos ambientais

    de outros estgios do ciclo de vida. Por exemplo, o projeto de um automvel pode

    determinar o consumo do c