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ISONEL SANDINO MENEGUZZO
ANLISE DA DEGRADAO AMBIENTAL NA REA URBANA DA BACIA DO
ARROIO GERTRUDES, PONTA GROSSA, PR.: UMA CONTRIBUIO AO
PLANEJAMENTO AMBIENTAL.
CURITIBA2006
Dissertao apresentada como requisitoparcial obteno do grau de Mestre emCincia do Solo, Curso de Ps-Graduaoem Cincia do Solo, Setor de CinciasAgrrias, Universidade Federal do Paran.
Orientadora: Prof. Dr. Celina Wisniewski
http://www.pdfpdf.com/0.htm
ISONEL SANDINO MENEGUZZO
ANLISE DA DEGRADAO AMBIENTAL NA REA URBANA DA BACIA DO
ARROIO GERTRUDES, PONTA GROSSA, PR.: UMA CONTRIBUIO AO
PLANEJAMENTO AMBIENTAL.
CURITIBA2006
Dissertao apresentada como requisitoparcial obteno do grau de Mestre emCincia do Solo, Curso de Ps-Graduaoem Cincia do Solo, Setor de CinciasAgrrias, Universidade Federal do Paran.
Orientadora: Prof. Dr. Celina Wisniewski
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DEDICATRIA
Para meus amados pais, Ivan e Ftima.
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AGRADECIMENTOS
Ao meu pai, pelo auxlio e crticas, pela educao e oportunidades que meproporcionou, por sempre ter me ensinado a ser justo, pacfico, respeitoso egeneroso com todas as pessoas. Muito obrigado por tudo!
minha querida mame, pelo empenho que teve em me levar para estudar, doprezinho ao mestrado. Pelo incentivo, cobrana e empurres nas horas difceis.Isso sim que me!!!!
minha maninha, Lina que me auxiliou em diversas etapas da dissertao, pelasleituras crticas e, claro pelo incentivo. Valeu Linaaaaa!
Ao professor Doutor Genelcio Cruso Rocha, pelo auxlio prestado.
Ao meu tio Paulo Roberto Barbieri, pessoa fundamental durante o cumprimento doscrditos do mestrado.
A todos os funcionrios do Colgio Estadual Nossa Senhora das Graas, emespecial aos professores Starke, Fabola e Ryldo que sempre me ajudaram nosmomentos de necessidade.
professora Doutora Celina Wisniewski pelo aceite em me orientar.
Ao chefe do IBGE, agncia Ponta Grossa, Orlando Rizental da Luz, pelo grandeauxlio prestado na aquisio de dados.
Ao agente de produo da SANEPAR, Jos Geraldo Machado Filho pelofornecimento de informaes.
Ao meu velho amigo Jean Rodrigo da Silva, pelo auxlio nos trabalhos de campo ecompanheirismo.
Ao professor Doutor Gilson Burigo Guimares, pelo auxlio na correo do aindaprojeto de pesquisa.
professora Doutora Silvia Mri Carvalho pelo auxlio na aquisio de materialcartogrfico.
Deus, pela fora nos momentos de dificuldade.
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"Em nenhum momento de nossa histria foi to grande adistncia entre o que somos e o que espervamos ser."
Celso Furtado
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SUMRIO
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................viiLISTA DE TABELAS ............................................................................................viiiRESUMO ...............................................................................................................ixABSTRACT ............................................................................................................x1 INTRODUO .....................................................................................................12 REVISO DE LITERATURA ...............................................................................42.1 DEGRADAO AMBIENTAL ...........................................................................42.2 A BACIA HIDROGRFICA SOB O ENFOQUE AMBIENTAL .........................102.3 PLANEJAMENTO AMBIENTAL ......................................................................132.4 O MTODO SISTMICO ................................................................................163 MATERIAL E PROCEDIMENTOS METODOLGICOS....................................193.1 LOCALIZAO DA REA ..............................................................................193.2 MATERIAL .....................................................................................................213.3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS.......................................................214 RESULTADOS E DISCUSSES.......................................................................274.1 MEIO FSICO ..................................................................................................274.1.1 Geologia.......................................................................................................274.1.2 Relevo..........................................................................................................294.1.3 Solos ............................................................................................................364.1.4 Clima ............................................................................................................394.1.5 Hidrografia....................................................................................................394.1.6 Vegetao Natural........................................................................................424.2 SCIO-ECONOMIA........................................................................................434.2.1 O processo histrico de ocupao dos Campos Gerais e de Ponta Grossa..............................................................................................................................434.2.2 O crescimento urbano de Ponta Grossa ......................................................454.2.3 Populao ....................................................................................................484.2.4 Educao .....................................................................................................484.2.5 Indstrias......................................................................................................484.2.6 Saneamento bsico......................................................................................494.3 USO-OCUPAO DO SOLO (2006) NA REA URBANA DA BACIA DOARROIO GERTRUDES.........................................................................................494.4 DEGRADAO AMBIENTAL DA BACIA DO ARROIO GERTRUDES EFATORES CONDICIONANTES............................................................................534.4.1 Eroso laminar .............................................................................................564.4.2 Sulcos ..........................................................................................................574.4.3 Escorregamentos .........................................................................................594.4.4 Taludes artificiais..........................................................................................624.4.5 Taludes de corte...........................................................................................634.4.6 Solo exposto ................................................................................................644.4.7 Lixo a cu aberto..........................................................................................654.4.8 Assoreamento do leito fluvial .......................................................................664.4.9 Canalizao .................................................................................................674.4.10 Solapamento ..............................................................................................684.4.11 Lanamento de guas servidas .................................................................695 CONSIDERAES FINAIS ...............................................................................71
v
REFERNCIAS ....................................................................................................73
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APNDICE............................................................................................................83
vi
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - LOCALIZAO DA BACIA DO ARROIO GERTRUDES...........................................20FIGURA 2 - GEOLOGIA DA REA URBANA DA BACIA DO ARROIO GERTRUDES .................28FIGURA 3 - FEIES DE RELEVO DA REA URBANA DA BACIA DO ARROIO GERTRUDES30FIGURA 4 - DECLIVIDADE DA REA URBANA DA BACIA DO ARROIO GERTRUDES ............34FIGURA 5 - HIPSOMETRIA DA REA URBANA DA BACIA DO ARROIO GERTRUDES............35FIGURA 6 - SOLOS DA REA URBANA DA BACIA DO ARROIO GERTRUDES........................38FIGURA 7 - HIDROGRAFIA DA REA URBANA DA BACIA DO ARROIO GERTRUDES ...........41FIGURA 8 - VILAS LOCALIZADAS NA REA DE ESTUDO........................................................47FIGURA 9 - USO-OCUPAO DO SOLO DA REA URBANA DA BACIA DO ARROIOGERTRUDES .............................................................................................................................51FIGURA 10 - BUFFER - REAS DE PRESERVAO PERMANENTE CONFORME O CDIGOFLORESTAL BRASILEIRO.........................................................................................................52FIGURA 11 - DEGRADAO AMBIENTAL DA REA URBANA DA BACIA DO ARROIOGERTRUDES .............................................................................................................................70FIGURA 12 - EROSO LAMINAR...............................................................................................57FIGURA 13 - SULCO..................................................................................................................59FIGURA 14 - ESCORREGAMENTO ...........................................................................................60FIGURA 15 - ESCORREGAMENTO ...........................................................................................61FIGURA 16 - ESCORREGAMENTO ...........................................................................................62FIGURA 17 -TALUDE ARTIFICIAL..............................................................................................63FIGURA 18 - TALUDE DE CORTE ASSOCIADO A TALUDE ARTIFICIAL ..................................64FIGURA 19 - SOLO EXPOSTO ASSOCIADO A DESMATAMENTO ...........................................65FIGURA 20- LIXO A CU ABERTO ............................................................................................66FIGURA 21 - ASSOREAMENTO DO LEITO FLUVIAL ................................................................67FIGURA 22 - TRECHO CANALIZADO DO ARROIO GERTRUDES.............................................68FIGURA 23 - LANAMENTO DE GUAS SERVIDAS ................................................................69FIGURA 24 - CAMBISSOLO.......................................................................................................86FIGURA 25 - LATOSSOLO.........................................................................................................89
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LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - CHAVE DE INTERPRETAO DAS CLASSES DE USO DO SOLO DA BACIA DOARROIO GERTRUDES...................................................................................................................26TABELA 2 - CLASSES DE DECLIVE DA REA DE ESTUDO.........................................................33TABELA 3 - USO-OCUPAO DO SOLO E RESPECTIVAS REAS ............................................50TABELA 4 - QUADRO SNTESE DOS PROCESSOS DE EROSO HDRICA EESCORREGAMENTOS E INTERVENES ANTRPICAS NA REA DE ESTUDO .....................54
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RESUMO
A bacia hidrogrfica do Arroio Gertrudes localiza-se na poro oeste do municpio de Ponta Grossa.O objetivo deste trabalho foi o de analisar a degradao ambiental na bacia hidrogrfica do ArroioGertrudes em sua rea urbana, visando uma contribuio para o planejamento ambiental da rea emquesto. O trabalho teve como orientao terica a Teoria Geral dos Sistemas, onde os elementosque constituem o meio ambiente foram analisados sob a tica da inter-relao. Foram realizados osprocedimentos metodolgicos de reviso bibliogrfica, anlise e interpretao das informaesobtidas em mapas e trabalhos de campo, organizao e digitalizao de cartas temticas, utilizando-se dos softwares Auto Cad 2004 e Arcview GIS 3.3. Desta maneira pde-se verificar os seguintesprocessos de degradao ambiental na rea em questo: eroso laminar, sulcos, escorregamentos,taludes artificiais, taludes de corte, solo exposto, lixo a cu aberto, assoreamento do leito fluvial,canalizao, solapamento e lanamento de guas servidas. Verificou-se que a existncia dosprocessos de degradao ambiental esto associados ausncia de planejamento urbano.
Palavras-chave: degradao ambiental, planejamento ambiental, bacia hidrogrfica.
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ABSTRACT
The Gertrudes stream basin is located in the west of the city of Ponta Grossa Pr, Brazil. Theobjective of the study was to analyse the environmental degradation of the basin caused byurbanization, as a contribution for environment planning. The methodology followed the generalsystems theory, where the environmental variables are analysed from a systemic point of viewemphasinzing their inter-relationship. Methodical process included bibliographical review, analysisand interpretation of secondary data, maps and images with the use of Auto Cad and Arcwiew Gis 3.3.software and field work. Environmental degradation processes identified in the basin were: sheet andrill erosion, land-slides, undermining, artificial slopes, exposed soil, land fill, river canalization andinappropriate sewage sludge disposal. Environmental degradation observed is associated with theabsence of urban planning.
Key-words: environmental degradation, environmental planning, hydrographic basin.
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1 INTRODUO
A humanidade vive um momento histrico marcado por problemas que
variam desde a disseminao de doenas infecto-contagiosas at a degradao
ininterrupta dos recursos naturais. Os fatores geradores de tais problemas so muito
variados, englobando problemas que vo desde aspectos relacionados economia
de uma nao at as questes ticas, morais e culturais que permeiam a sociedade.
Conforme DIAS (1994), o ser humano est experimentando mudanas
bruscas em seus valores culturais e srias alteraes no seu ambiente natural, o que
vem comprometendo a qualidade de vida.
Atualmente a degradao ambiental est fortemente ligada a fatores de uso
e ocupao do solo, uma vez que as formas de ocupao e manejo ocasionam o
tipo e o grau de impacto, o qual atinge de maneira diferente o ambiente (NOGUEIRA
DE SOUZA, 2003), seja o solo, o ar ou a gua.
Nesse contexto, estudos relacionados degradao ambiental em bacias
hidrogrficas so de vital importncia para o entendimento de aspectos da relao
sociedade-natureza. Tal anlise constitui-se num instrumento, que pode fornecer
subsdios para um planejamento que tenha por meta a qualidade de vida e a
sustentabilidade ambiental, por exemplo.
Nas bacias hidrogrficas possvel avaliar de forma integrada as aes
humanas sobre o ambiente e suas conseqncias sobre o equilbrio hidrolgico
(BOTELHO; SILVA, 2004, p. 155), geomorfolgico, pedolgico e vegetacional.
Ressalta-se tambm que os cursos fluviais desempenham papel de grande
importncia no condicionamento ambiental da vida do ser humano (SUGUIO;
BIGARELLA, 1990, p. 1) desde seu surgimento no planeta Terra.
Os mltiplos usos dos sistemas hidrogrficos, sejam eles para fins de
abastecimento hdrico, irrigao, para a implantao de infra-estrutura ou lazer,
demonstram a importncia que as bacias de drenagem representam para a
humanidade.
No Brasil, a concentrao da populao em reas urbanas e peri-urbanas e
a falta de planejamento de uso e ocupao do solo tm afetado de forma negativa
os sistemas de drenagem, como um todo. Os rios que, nessas reas, deveriam
servir para abastecimento de gua para a populao e para a agricultura dos anis
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de hortifrutigranjeiros, tm sido utilizados como emissrios de esgoto domstico e
industrial.
Este o contexto em que a rea-objeto da presente pesquisa, a bacia do
Arroio Gertrudes, localizada no municpio de Ponta Grossa, Paran est enquistada.
A rea da bacia do Arroio Gertrudes situada no permetro urbano1 possui
uma rea aproximada de 8,55 Km2. De uma rea utilizada pela agricultura e
pecuria em tempos passados, a mesma foi sendo ocupada de forma acelerada e
sem critrios, atingindo na atualidade um grau de alterao ambiental com
conseqncias negativas para a populao que reside atualmente no mbito da
bacia hidrogrfica.
Diante disso o objetivo geral deste trabalho foi o de analisar os processos
de degradao ambiental na bacia do Arroio Gertrudes por meio da abordagem
sistmica, visando contribuir para o planejamento ambiental da rea em questo.
Para se alcanar o objetivo geral, foram traados objetivos especficos,
conforme segue:
Caracterizar o meio fsico e scio-econmico da rea de estudo;
Verificar o uso-ocupao do solo na referida bacia hidrogrfica;
Identificar e mapear os pontos com degradao fsico-ambiental com nfase
nos processos de eroso hdrica;
Verificar os fatores causadores da degradao ambiental;
Sendo assim, levando em considerao essas premissas, decidiu-se
estudar a referida rea, no sentido de propor solues alternativas quanto ao uso
racional do solo. Para isso levantou-se a seguinte hiptese que norteou a presente
pesquisa:
A dinmica scio-econmica expressa pela forma de uso-ocupao do solo
associada s caractersticas fsicas constituem os principais fatores
1 Ressalta-se que a bacia hidrogrfica foi estudada levando em considerao o recorteespacial de sua rea urbana. Porm, existem trechos no mbito da rea de estudo que apresentamatividades econmicas enquadradas como peri-urbanas.
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condicionantes da degradao ambiental na rea da bacia do Arroio Gertrudes,
localizada no municpio de Ponta Grossa, Paran.
O presente trabalho est estruturado da seguinte forma: introduo, reviso
de literatura, material e procedimentos metodolgicos, resultados e discusses e
consideraes finais. Cabe ressaltar que no item Resultados e discusses - meio
fsico e scio-economia existem informaes pertinentes reviso de literatura,
tendo em vista que foi necessrio o levantamento de dados prvios da rea de
estudo que associado com as informaes angariadas em trabalhos de campo
constitui-se em resultados.
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2 REVISO DE LITERATURA
2.1 DEGRADAO AMBIENTAL
Existem na literatura diferentes conceitos acerca do termo degradao
ambiental.
Para GUERRA e GUERRA (1997, p. 184) a degradao ambiental :
...causada pelo homem, que, na maioria das vezes, no respeita os limites impostos pelanatureza. A degradao ambiental mais ampla que a degradao dos solos, pois envolveno s a eroso dos solos, mas tambm a extino de espcies vegetais e animais, apoluio de nascentes, rios, lagos e baas, o assoreamento e outros impactos prejudiciaisao meio ambiente e ao prprio homem.
Sobre este mesmo assunto, LIMA e RONCAGLIO (2001, p. 55) indicam que:
... a expresso degradao ambiental qualifica os processos resultantes dos danos ao meioambiente-qualquer leso ao meio ambiente causada por ao de pessoa, seja ela fsica oujurdica, de direito pblico ou privado, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas desuas propriedades, tais como a qualidade ou a capacidade produtiva dos recursosambientais.
No tocante aos dois conceitos acima apresentados, um aspecto importante
que merece ser destacado que a degradao ambiental no causada somente
pelo homem. A partir dos conceitos anteriormente expostos, possvel notar que o
termo degradao ambiental utilizado de forma genrica para se referir s
intervenes antrpicas no ambiente. Cunha e Guerra acerca desta mesma temtica
dizem que Certos processos ambientais, como lixiviao, eroso, movimentos de
massa e cheias, podem ocorrer com ou sem a interveno humana. (CUNHA;
GUERRA, 1998, p. 342)
Alteraes ocorridas em bacias hidrogrficas, por exemplo, podem ter suas
causas associadas a fenmenos naturais. Todavia, nos ltimos anos, o ser humano
tem participado como um agente acelerador dos processos que modificam e
desequilibram a paisagem (CUNHA; GUERRA, 1998, p. 354). Ressalta-se que
aes pontuais e isoladas em bacias hidrogrficas (BITAR; ORTEGA, 1998, p. 506)
na tentativa de recuperar a qualidade ambiental so em certos casos ineficazes
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tendo em vista que os processos de degradao ambiental constituem-se em
problemas sistmicos.
Outro aspecto a ser ressaltado que embora exista, na forma de lei uma
definio tanto para o termo degradao ambiental como para o termo impacto
ambiental, os mesmos certas vezes so utilizados como sinnimos2.
No que diz respeito ao conceito de degradao ambiental a ser adotado
neste trabalho optou-se pelo existente na Lei n 6.938, de 31/08/81, artigo 3, inciso
II da Poltica Nacional do Meio Ambiente, onde degradao da qualidade ambiental
constitui-se na ...alterao adversa das caractersticas do meio ambiente." (BRASIL,
1981). Encontra-se implcita na Lei n 6.938 o conceito de degradao ambiental a
qual sinnimo da expresso degradao da qualidade ambiental. Salienta-se que
a lei federal foi alterada pela Lei n 7.804, de 18/07/89, que mantm a mesma
definio referente ao termo (LIMA; RONCAGLIO, 2001, p. 55).
Ressalta-se o fato de que a degradao ambiental um fenmeno
exclusivamente adverso enquanto o termo impacto ambiental pode se referir tanto a
um aspecto positivo como a um aspecto negativo.
notrio que desde o surgimento do homem no planeta Terra, este vem
modificando a natureza conforme as suas necessidades biolgicas, culturais,
econmicas e sociais. A freqncia, bem como a tipologia da degradao ambiental
que o planeta vem sofrendo, tem aumentado e diversificado muito (BRANCO, 1989b,
p. 18) no decorrer da histria da humanidade.
LIEBMANN (1979) em seu livro intitulado Terra, um planeta inabitvel?
enfatiza que o ser humano desde a Antigidade at os dias atuais vem provocando
danos ao meio ambiente. Na Antiguidade povos como os Persas, Etruscos, Gregos
e Romanos enfrentaram trs problemas de cunho ecolgico: a economia de recursos
hdricos, a eroso dos solos e a higiene. J na Idade Mdia, o principal problema era
o lixo espalhado pelas ruas e a criao de animais em pleno meio urbano.
Cordani e Taioli ao se referirem ao do homem como agente modificador
de processos de dinmica natural, afirmam que: As primeiras intervenes da
humanidade nos processos naturais coincidem com o domnio do fogo. A partir da
2 Cf., por exemplo, NOGUEIRA DE SOUZA (2003) que utiliza indistintamente os termosdegradao e impacto ambiental para se referir s intervenes no meio ambiente causada pelohomem.
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os seres humanos comeam a modificar as condies naturais da superfcie do
planeta. (CORDANI; TAIOLI, 2001, p. 518)
Casseti, ao apresentar uma discusso sobre as relaes homem-natureza e
suas implicaes, aponta que a degradao ambiental ...inicia com a agricultura
predatria na frica (6.000 a.C.), continua com a quebra do equilbrio natural
decorrente da substituio da populao nmade pela sedentria, nas estepes da
Ucrnia e Amrica e intensifica-se com a implantao do sistema capitalista.
(CASSETI, 1995, p. 20)
Com a permanente sucesso de tcnicas que substituem umas s outras
(GONALVES, 2002, p. 119) no decorrer do tempo, tem-se como conseqncia a
alterao qualitativa e quantitativa das caractersticas originais do meio ambiente.
CASSETI (1995) fundamentado nas idias de Karl Marx3 apresenta uma
discusso a respeito de natureza, e suas relaes com o homem e sobre a
degradao ambiental.
Ainda CASSETI (1995) comenta que a sociedade constitui-se num
organismo complexo, em que a sua organizao interna representa um conjunto de
ligaes e relaes baseadas no trabalho, onde este visto como mediador na
relao do homem com a natureza. A forma como os homens se relacionam com ela
depende da maneira como se relacionam entre si, sendo que a transformao da
mesma ocorre por meio do emprego de tcnicas, com a finalidade de produo.
SANTOS (1996a) apresenta a histria do meio geogrfico4 e a conseqente
ao humana sobre a natureza, dividindo-a em trs fases: O meio natural, o meio
tcnico e o meio tcnico-cientfico-informacional.
A respeito do meio natural, Santos o caracteriza como sendo algo valorizado
pelo homem, pois as condies naturais constituam a base material da existncia
humana. As transformaes realizadas consistiam em tcnicas no agressivas, as
quais produziam uma nova natureza, sem transformaes significativas. O autor
sugere que a humanidade passou por essa fase da Pr-Histria at a dcada de
1760, com o advento da Revoluo Industrial.
3 Karl Marx elaborou uma teoria comumente chamada de Materialismo histrico, criticando aeconomia poltica clssica, bem como o modo de produo capitalista e suas conseqnciasnegativas para o homem e para a prpria natureza.
4 O meio geogrfico pode ser entendido, como o local onde a humanidade vive, isto , oplaneta Terra.
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O meio tcnico constituiu-se de objetos culturais e tcnicos. Os espaos, as
reas, as regies, os pases passam a ser construdos pelas tcnicas, que esto
cada vez mais presentes. Essa fase vai da Revoluo Industrial at o ano de 1950,
aproximadamente.
No tocante ao terceiro perodo, SANTOS (1996a) supracitado comenta que
esse tem incio aps a 2 Guerra Mundial, porm, sua afirmao d-se na dcada de
1970. Distingue-se dos demais perodos devido profunda interao entre cincia e
tcnica. Devido s mudanas ocorridas no espao, bem como a extrema
intencionalidade com que os objetos tcnicos e informacionais so produzidos a
natureza torna-se subordinada lgica do mercado global. Cincia, tecnologia e
informao esto na base da produo, da utilizao e do funcionamento do espao,
e como conseqncia disso a "natureza natural" [grifo meu], onde ela ainda existe,
tende a recuar, por vezes de maneira brutal.
Nesse sentido, GUATTARI (1995, p. 7) indica que:
"O planeta Terra vive um perodo de intensas transformaes tcnico-cientficas, emcontrapartida das quais engendram-se fenmenos de desequilbrios ecolgicos que, se noforem remediados, no limite, ameaam a implantao da vida em sua superfcie.Paralelamente a tais perturbaes, os modos de vida humanos individuais e coletivosevoluem no sentido de uma progressiva deteriorao."
Atualmente, vivemos numa sociedade marcada pelo produtivismo
(GONALVES, 2002, p. 118) e pelo consumismo que a caracterstica bsica da
moderna sociedade capitalista (BUARQUE, 1993, p. 126). Cabe destacar que o
desenvolvimento do modo de produo capitalista operou uma mudana de valores
e de ideologia (VESENTINI, 1989, p. 24), onde a sociedade de consumo e a viso
de mundo que a conforma remete a um comprometimento do individual com a lgica
de acumulao, que se concretiza por essa sociedade que para se desenvolver,
explora os recursos naturais, exaurindo-os e degradando-os (GUIMARES, 2003, p.
85).
MENDONA e LISITA (1997, p. 279) comentam:
O meio ambiente foi concebido durante muito tempo, de forma genrica, como sendo aecosfera, da qual o homem faz parte biologicamente e cuja racionalidade/relaes sociais,no foi levada em considerao na abordagem dos estudos de carter ambientalista. Umatal viso antropocntrica e antropocentrista, reflexo do cristianismo medieval que elevou ohomem condio de proprietrio da natureza, do modo de produo baseado
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exclusivamente na reproduo material da sociedade e do cientificismo positivista resultantedo Iluminismo, exacerbou a explorao dos recursos naturais e do homem e acirrou adegradao do planeta.
Esta concepo de meio ambiente fragmentado e separado do homem,
associado ao modo de produo capitalista originou uma profunda degradao dos
recursos naturais com conseqente perda na qualidade de vida de diversas
sociedades.
No contexto brasileiro o pas submisso a uma poltica de crescimento
econmico (BUARQUE, 1993, p. 67), onde o modelo de desenvolvimento, apesar de
ter promovido o crescimento econmico do pas, ampliando a faixa da classe mdia
e promover um relativo avano tecnolgico no setor produtivo trouxe, em
contrapartida conseqncias graves no mbito social, econmico e ambiental.
Temos como exemplo dessas conseqncias o crescimento acelerado e
desordenado das cidades, o fluxo migratrio do campo para a cidade e a
conseqente falta de preparo desta populao para realizar atividades no-rurais,
bem como a perda na qualidade ambiental nas grandes concentraes urbanas
(ROSS; DEL PRETTE, 1998, p. 97-98).
preciso salientar que entre as dcadas de 1960 e 1980 os padres de
produo e consumo adotados pela sociedade acarretaram visveis problemas no
que concerne deteriorao das dimenses ambiental, cultural, social, econmica e
ecolgica, tendo como conseqncia direta, a perda na qualidade de vida das
populaes (IBAMA, 2002). Nas duas ltimas dcadas do sculo passado registrou-
se um estado de profunda crise mundial, cuja a complexidade afetou diversos
aspectos da vida do homem, tal como a sade, o modo de vida e a qualidade do
meio ambiente (CAPRA, 1997, p. 19).
A degradao dos recursos naturais vem crescendo assustadoramente,
atingindo, atualmente, nveis crticos que repercutem na deteriorao do meio
ambiente (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990, p. 333). Depreende-se desta
afirmativa que, conseqentemente, a degradao dos recursos naturais causa
prejuzos de ordem econmica, ambiental e social, seja no mbito do espao urbano
ou rural.
PELOGGIA (1997) ao tratar da Ao do homem enquanto ponto
fundamental da geologia do tecngeno comenta que o ser humano ao agir na
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natureza para produzir seus meios de existncia, por meio do trabalho, gera
conseqncias geolgico-geomorfolgicas em trs nveis de abordagem: na
modificao do relevo e alteraes fisiogrficas (relevos tectognicos), em
alteraes da fisiologia das paisagens (criao, induo, intensificao ou
modificao do comportamento dos processos de dinmica externa) e na criao de
depsitos superficiais correlativos, constituindo-se em marcos estratigrficos.
Especificamente no meio urbano "A degradao do ambiente e,
conseqentemente, a queda da qualidade de vida se acentuam onde o homem se
aglomera: nos centros urbano-industrais. Aqui, os rios, fundos de vales e bairros
residenciais perifricos dividem o espao com o lixo e a misria." (MENDONA,
1994, p. 10)
No tocante ao meio rural "As atividades agrcolas e pastoris so
responsveis pela transformao paisagstica em amplas reas. Iniciam substituindo
a cobertura vegetal e modificam o ritmo das relaes entre as plantas e os solos."
(CHRISTOFOLETTI, 2001, p. 424)
ROSS (1996) ao tratar da Sociedade industrial e o ambiente indica que tanto
o espao urbano como o espao rural apresentam problemas ambientais
significativos, impostos pelo processo acelerado de tecnificao das sociedades
humanas seja nos pases capitalistas ou socialistas, de primeiro ou terceiro mundo.
Todas as sociedades causam algum tipo de degradao ambiental, no
importando sua condio scio-econmica, seu modo de produo, bem como o
local onde se situam, ou seja, no meio urbano ou no meio rural a degradao existe
conforme o tipo e a intensidade das atividades realizadas.
Nesse sentido a identificao e a cartografia do uso-ocupao do solo
constitui-se num importante instrumento em estudos ligados rea ambiental, pois
possvel verificar os agentes responsveis pelas condies ambientais da rea
(MENDONA, 1999, p. 77).
Na Agenda 21, resultado da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, existem diversas
discusses e possveis solues para os problemas ambientais em nvel global.
Sobre a degradao ambiental consta neste documento que:
A pobreza e a degradao do meio ambiente esto estreitamente
relacionadas. Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de
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presso ambiental, as principais causas da deteriorao ininterrupta do meio
ambiente mundial so os padres insustentveis de consumo e produo,
especialmente nos pases industrializados. (AGENDA 21, 2001, p. 18)
Depreende-se desta citao que a degradao ambiental causada por
diferentes classes sociais. Ressalta-se porm que pessoas com baixo poder
aquisitivo no possuem tanta capacidade de causar degradao ambiental como
pessoas com elevado poder aquisitivo, com maior facilidade de produzir e consumir
bens materiais e, conseqentemente, de gerar resduos, por exemplo.
BLAIKIE e BROOKFIELD5 (1987) citado por CUNHA e GUERRA (1998, p.
342) apontam para o fato de que a degradao ambiental , por definio, um
problema social. Depreende-se, portanto, que a degradao dos recursos naturais
um problema que compete a todas as pessoas que compem a sociedade o
tratarem de maneira tica, sria e com comprometimento social, com o intuito de
promover a melhoria da qualidade de vida das populaes.
Consta ainda na AGENDA 21 (2001) que todas as atividades humanas
devem ser norteadas pelo conceito de desenvolvimento sustentvel, isto , explorar
racionalmente os recursos naturais, sem, no entanto deixar de pensar nas futuras
geraes.
2.2 A BACIA HIDROGRFICA SOB O ENFOQUE AMBIENTAL
Atualmente, os seres humanos de uma forma geral vivem num perodo
caracterizado por problemas relacionados quantidade e qualidade dos recursos
hdricos. Nessas circunstncias ressalta-se a importncia das bacias hidrogrficas,
cujo principal componente a gua.
As definies referentes ao termo bacia hidrogrfica so vrias, tanto no
mbito da hidrologia como da geomorfologia, por exemplo. Diferentes autores
propem conceitos, que em certos casos apresentam-se incompletos ou at mesmo
iguais.
5 BLAIKIE, P.; BROOKFIELD, H. Land Degradation and Society. Methuen Ltda., Inglaterra,1987.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
11
Os termos bacia de captao, bacia imbrfera, bacia coletora, bacia de
drenagem superficial, bacia hidrolgica, e bacia de contribuio so todos termos
sinnimos (GARCEZ; ALVAREZ, 1988, p.43).
A bacia hidrogrfica pode ser conceituada como ...rea da superfcie
terrestre drenada por um rio principal e seus tributrios, sendo limitada pelos
divisores de gua. (BOTELHO, 1999, p. 269)
Por meio do Decreto-Lei n 94.076, de 05 de maro de 1987 foi criado o
Programa Nacional de Microbacia Hidrogrfica (PNMH). Neste Decreto-Lei consta a
seguinte definio de microbacia hidrogrfica rea drenada por um curso dgua e
seus afluentes, a montante de uma determinada seo transversal, para a qual
convergem as guas que drenam a rea considerada. (BRASIL, 1987)
Ressalta-se que este conceito no difere em nada do conceito de bacia
hidrogrfica (BOTELHO, 1999, p. 272-273).
No que concerne ao conceito de microbacia hidrogrfica pode se notar a
ausncia de uma conceituao e de consenso, no s na sua definio, mas
tambm no uso prtico (BOTELHO, 1999, p. 272). Como ainda no foi estipulado um
valor fixo concernente rea da bacia e microbacia hidrogrfica no h razo para
substituir o termo bacia por microbacia (BOTELHO; SILVA, 2004, p. 157).
As bacias hidrogrficas constituem-se em sistemas abertos onde ocorrem
constantes trocas de energia e matria, seja na forma de entrada ou sada
(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 3). Os componentes so encostas, topos, fundos de
vales, canais e corpos de gua subterrnea (COELHO NETO, 2001, p. 97), onde
qualquer interferncia significativa em um desses componentes poder desencadear
alteraes, efeitos e/ou impactos a jusante e nos fluxos energticos de sada
(descarga, cargas slidas e dissolvida) (CUNHA; GUERRA, 1998, p. 353), bem
como na deposio de sedimentos.
Independente do nvel hierrquico da bacia hidrogrfica, esta se constitui
numa unidade natural, onde o elemento integrador est representado pelos leitos
fluviais ou canais de drenagem naturais (ROSS; DEL PRETTE, 1998, p. 101).
A bacia hidrogrfica constitui-se numa clula bsica de anlise ambiental,
onde permitido conhecer e avaliar seus diversos componentes, processos e
interaes que nela ocorrem (BOTELHO; SILVA, 2004, p. 153). As bacias de
drenagem so unidades de interesse no que diz respeito ao planejamento ambiental
http://www.pdfpdf.com/0.htm
12
e demais pesquisas que envolvam questes relacionadas ao meio ambiente, pois
permitem a anlise dos elementos fsicos e humanos que as integram (TONETTI;
SANTOS, 2003).
Durante a ltima dcada, a bacia hidrogrfica foi incorporada pelas Cincias
Ambientais no que se refere a estudos e projetos de pesquisa (BOTELHO; SILVA,
2004 p. 153).
A unidade bacia hidrogrfica , atualmente, reconhecida em todo o mundo
como a melhor unidade para o manejo dos recursos naturais (FERRETI, 1997, p.
33).
Bacias hidrogrficas com rea compreendida entre 10 e 50 Km2 possuem
tamanho ideal para projetos conservacionistas (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990,
p. 339).
Neste sentido a utilizao da bacia hidrogrfica como unidade de
planejamento formal ocorreu nos Estados Unidos, em 1933, com a criao da
Tennessee Valley Authority (BOTELHO, 1999, p. 270).
No Brasil, uma das primeiras tentativas de gerenciamento de bacias
hidrogrficas foi instituda, a partir do ano de 1976, pelo Comit do Acordo entre
Ministrio de Minas e Energia e o Governo do Estado de So Paulo, com atuao no
trecho do Alto rio Tiet e na Baixada Santista (ROSS; DEL PRETTE, 1998, p. 102).
Mas foi somente na dcada de 1980 e, principalmente na de 1990 que as
bacias hidrogrficas so tomadas como unidades fundamentais de pesquisas
(BOTELHO, 1999, p. 270, 272).
O Estado do Paran o pioneiro no que concerne aos trabalhos realizados
na rea de manejo de microbacias hidrogrficas (GUERRA; BOTELHO, 1998, p.
213).
Na questo alusiva a gesto ambiental em bacias hidrogrficas, diversos so
os exemplos brasileiros. Pode-se citar como exemplos relevantes de gesto, os
projetos desenvolvidos no Estado de So Paulo na dcada de 1990, envolvendo as
bacias do Alto Tiet e Ribeira do Iguape (CUNHA, 1998, p. 260).
Em 8 de janeiro de 1997 foi sancionada a Lei Federal n 9.433 que institui a
Poltica Nacional de Recursos Hdricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hdricos. Nessa lei consta que a bacia hidrogrfica a unidade de
planejamento e implantao para a Poltica Nacional de Recursos Hdricos.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
13
Estabelece ainda os seguintes organismos: Conselho Nacional de Recursos
hdricos, Comits de Bacias Hidrogrficas, Agncias de gua, e Organizaes civis
de recursos hdricos (BOTELHO; SILVA, 2004, p. 185).
2.3 PLANEJAMENTO AMBIENTAL
O ser humano, ao transformar o meio ambiente a fim de torn-lo adequado
s suas necessidades (TOYNBEE, 1974, p. 42) gerou no decorrer dos tempos uma
infinidade de problemas de carter ambiental, que acabaram repercutindo de modo
negativo na qualidade de vida das populaes. Desse modo, o planejamento
ambiental pode ser visto como uma forma de se prever atividades que possam
acarretar danos ao meio ambiente. Existem diversas modalidades de planejamento
(setorial, econmico, fsico, territorial, industrial, entre outros) no que concerne sua
natureza (LEMOS, 1999, p. 53). Relacionado aos recursos naturais interessa o
planejamento fsico-territorial.
Mundialmente, foi a partir do sculo XX, com os adventos dos Congressos
Internacionais de Arquitetura Moderna, que se delinearam as bases do planejamento
territorial moderno no contexto das reas urbanizadas, ordenando em ntima relao,
os recursos econmicos, sociais, fsicos e polticos (LEMOS, 1999, p. 53).
Para FRANCO (2000) o Planejamento Ambiental teve seus precursores no
incio do sculo XIX, num momento marcado pela primeira Revoluo Industrial, sob
a gide do positivismo e do liberalismo econmico.
A literatura referente ao planejamento ambiental no Brasil recente, se
comparado com os diferentes processos de degradao ambiental que o pas vem
sofrendo inadvertidamente desde o perodo do descobrimento. Somente nos ltimos
anos que se tem constatado o aumento de publicaes no mbito nacional. Isto se
deve basicamente s condies ambientais que o pas enfrenta e criao de
polticas pblicas associadas ao conceito de sustentabilidade que visem alterar o
atual contexto scio-ambiental6.
6 Um aspecto importante a ser destacado que as polticas pblicas implementadas noBrasil esto, de um modo geral, relacionadas a aspectos sociais. Portanto, nota-se uma preocupaono somente com o meio ambiente, mas tambm com os fatores geradores de problemas ambientais.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
14
O processo de ocupao do espao e a apropriao dos recursos naturais
pelo homem impem alteraes ao meio ambiente (LEMOS, 1999, p. 51).
necessrio que se conhea o ambiente, bem como estabelecer diretrizes que
venham a nortear as atividades antrpicas, reduzindo com isso os processos de
degradao ambiental. Dessa maneira O planejamento o trabalho de preparao
de qualquer empreendimento humano, seja de previso ou de soluo de nossos
problemas. Nele, estabelecem-se estratgias e metas para se alcanar, superar ou
resolver determinada situao ou dificuldade. (LEMOS, 1999,p. 52)
De acordo com LANNA (1995, p. 18) o Planejamento Ambiental consiste em:
um processo organizado de obteno de informaes, reflexo sobre os problemas epotencialidades de uma regio, definio de metas e objetivos, definio de estratgias deao, definio de projetos, atividades e aes, bem como definio do sistema demonitoramento e avaliao que ir retroalimentar o processo. Este processo visa organizara atividade scio-econmica no espao, respeitando suas funes ecolgicas, de forma apromover o desenvolvimento sustentvel.
Nota-se que o conceito supracitado de planejamento ambiental sugere uma
relativa complexidade, tendo em vista o nmero de atividades a ele relacionado.
O crescimento da populao mundial e da produo, associado a padres
no sustentveis de consumo, aplica uma presso cada vez mais intensa sobre as
condies que tem nosso planeta de sustentar a vida. Esses processos interativos
afetam o uso da terra, a gua, o ar, a energia e outros recursos. (AGENDA 21,
2001, p. 21) Nessas circunstncias O planejamento visa reordenar o uso do solo de
maneira que a interveno humana seja a menos impactante, ou seja, que
represente a menor taxa de alterao possvel (CAUBET; FRANK, 1993, p. 15).
Franco aponta que ...Planejamento Ambiental todo o planejamento que
parte do princpio da valorao e conservao das bases naturais de um dado
territrio como base de auto-sustentao da vida e das interaes que mantm, ou
seja, das relaes ecossistmicas. (FRANCO, 2000, p. 35)
Ainda para FRANCO (2000, p.35-36):
O objetivo principal do Planejamento Ambiental atingir o Desenvolvimento Sustentvel daespcie humana e seus artefactos, ou seja dos agroecossistemas e dos ecossistemas
http://www.pdfpdf.com/0.htm
15
urbanos (as cidade e redes urbanas), minimizando os gastos das fontes de energia queos sustentam e os riscos e impactos ambientais, sem prejudicar ou suprimir outros seresda cadeia ecolgica da qual o homem faz parte, ou, em outras palavras, procurandomanter a biodiversidade dos ecossistemas.
Portanto, o planejamento ambiental envolve uma gama de atividades que
visam contribuir para a minimizao dos processos de degradao ambiental,
associado ao conceito de desenvolvimento sustentvel.
Nessa direo, o planejamento ambiental fundamenta-se na interao e
integrao dos sistemas que compem o ambiente. Seu papel consiste em
estabelecer as relaes entre os sistemas ecolgicos e os processos da sociedade,
das necessidades socioculturais e atividades e interesses econmicos, com o intuito
de manter a mxima integridade possvel dos seus elementos componentes
(SANTOS, 2004, p. 28).
Projetos envolvendo planejamento ambiental vm sendo implementados nos
ltimos anos, por meio do poder pblico federal, bem como pelos estados atravs
das Secretarias de Planejamento e Meio Ambiente (ROSS; DEL PRETTE, 1998, p.
100). A funo bsica do planejamento consiste em promover o desenvolvimento
sustentvel baseado no ordenamento fsico-territorial, seguindo princpios de
valorizar as potencialidades e fragilidades dos sistemas ambientais naturais de um
lado, e as potencialidades culturais, tecnolgicas e econmicas de outro (ROSS;
DEL PRETTE, 1998, p. 100) entre outras possveis funes.
A partir da dcada de 1970, diversos mtodos destinados ao planejamento
ambiental foram desenvolvidos em diferentes pases do mundo (ALMEIDA et al.
1993, p. 21).
No Brasil, as primeiras atividades envolvendo o planejamento urbano
ocorreram na dcada de 1920 em So Paulo (ALMEIDA et al. 1993, p. 19). Foi
somente na dcada de 1980, com a promulgao da Lei n 6.938, de 1981, que
dispe sobre a Poltica Nacional de Meio Ambiente, que o planejamento ambiental
comea a tomar mais corpo, como uma ramificao do planejamento urbano,
territorial, regional, entre outros (ALMEIDA et al. 1993, p. 21). Nos ltimos anos,
projetos envolvendo planejamento ambiental foram executados em diversas regies
do Brasil. FRANCO (2000) destaca as experincias realizadas na Reserva Indgena
http://www.pdfpdf.com/0.htm
16
de Mangueirinha no Estado do Paran, no Vale do Itaja em Santa Catarina e da
cidade de So Paulo, como exemplos bem sucedidos de planejamento ambiental.
Atualmente, o planejamento ambiental incorpora a perspectiva de
desenvolvimento sustentvel, preocupando-se com a manuteno de estoques de
recursos naturais, qualidade de vida e uso adequado do solo, alm da conservao
e preservao de sistemas naturais (SANTOS, 2004, p. 23).
O tema planejamento envolve grande complexidade (LEMOS, 1999, p. 54)
devido a diferentes modelos existentes e diversidade de problemas ambientais e
scio-econmicos existentes no atual contexto histrico.
2.4 O MTODO SISTMICO
Este estudo teve como orientao terica a abordagem sistmica, com o
intuito de analisar e compreender os componentes ambientais e scio-econmicos
da rea objeto de estudo de uma forma integrada.
Partindo da premissa de que o meio ambiente o produto da inter-relao e
funcionamento entre elementos sociais e naturais em forma de sistemas, a melhor
metodologia de abordagem a anlise sistmica (PENTEADO ORELLANA, 1985 p.
126).
De acordo com KUMPERA7, citado por WISNIEWSKI (2003, p. 1) o conceito
de sistema comeou a ser elaborado entre 1800 e 1850 no mbito da Filosofia,
sendo que sua utilizao no contexto ambiental ocorreu a partir de 1950.
Por volta do sculo XVIII houve a publicao de uma obra que antecedeu a
Teoria Geral dos Sistemas, dando enfoque a uma perspectiva junto aos sistemas
filosficos ou sistemas de pensamento, sendo que esta foi elaborada pelo francs
Etinne Bonnot de Condillac (BRANCO, 1989a).
A abordagem sistmica, concebida sob o ponto de vista terico e
metodolgico foi preconizada na dcada de 1920 pelo bilogo Ludwig Von
Bertalanffy sob a denominao Teoria Geral dos Sistemas. Ressalta-se que entre
vinte e trinta anos antes da formulao de Bertalanffy, o russo Alexander Bogdanov
desenvolveu uma teoria sistmica de sofisticao proporcional, sendo que esta
7KUMPERA, V. Interpretao sistmica do planejamento. So Paulo: Nobel, 1979.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
17
acabou no sendo divulgada fora da Rssia (HEBLING CHRISTOFOLETTI, 2004, p.
91).
O enfoque mecanicista, prevalecente at por volta da dcada de 20 do
sculo passado, desprezava a viso de totalidade (BERTALANFYY, 1973, p. 29).
De forma sinttica pode-se explicar que a Teoria Geral dos Sistemas surgiu
num momento em que o modelo mecanicista e o tratamento por parte de diversos
assuntos se mostravam insuficientes para atender os problemas de carter terico
(BERTALANFFY, 1973, p. 28) vigentes naquele momento histrico. Na mudana do
pensamento reducionista para o pensamento sistmico, a relao entre as partes e o
todo foi invertida, pois no pensamento cartesiano o comportamento do sistema
poderia ser explicado em termos de propriedade de suas partes (HEBLING
CHRISTOFOLETTI, 2004, p. 91). Em contraposio, o pensamento sistmico
evidencia que os sistemas no podem ser compreendidos atravs das partes, pois
estes so elementos intrnsecos que s podem ser entendidas dentro do contexto do
todo maior (HEBLING CHRISTOFOLETTI, 2004, p. 91).
Portanto, o mtodo sistmico aparece como um instrumento terico-
metodolgico em que a relao entre os elementos que compem um sistema
(BERTALANFFY, 1973, p. 61) so analisados com uma viso de totalidade.
A supracitada abordagem prope-se a estudar qualquer fato ou fenmeno
de uma forma em que os diversos componentes do ambiente (rochas, relevo, clima,
vegetao, ao antrpica) so analisados sob a tica da inter-relao, ou seja, so
analisados na perspectiva de que fazem parte de um todo integrado
(BERTALANFFY, 1973, p. 62).
Perante este contexto, ...sistema um conjunto de componentes ligados
por fluxos de energia e funcionando como uma unidade. (DREW, 1994, p. 21)
CHORLEY (1971) ao apresentar uma discusso a respeito da
Geomorfologia e a Teoria Geral dos Sistemas advoga serem as bacias hidrogrficas
sistemas abertos onde ocorre entrada e sada de energia. Este mesmo autor indica
que os elementos constituintes do sistema so interdependentes e funcionam
conduzidos por fluxos de energia, de modo que cada um destes elementos reflete
sobre os outros as alteraes neles impostas por estmulos externos.
Conduzido pelo pensamento sistmico, este estudo descartou a abordagem
meramente setorial e cartesiana que enfatiza, por exemplo, individualmente a
http://www.pdfpdf.com/0.htm
18
vegetao, a gua, os solos, as rochas, o relevo, o clima, o ser humano e suas
atividades.
Metodologicamente a abordagem sistmica preconizada por BERTALANFFY
(1973) apresenta-se adequada para a realizao do presente estudo, tendo em vista
que a bacia do Arroio Gertrudes ser analisada sob o enfoque da inter-relao
existente entre fenmenos fsicos e sociais.
Por meio de uma metodologia que procura estudar a dinmica das
paisagens a partir de uma anlise temporal e evolutiva (PENTEADO ORELLANA,
1985, p. 132) o trabalho esteve fundamentado na anlise integrada, globalizante,
holstica e nas correlaes entre os componentes biticos e abiticos, tendo em vista
que ...a Terra aparece como uma hierarquia de sistemas, todos parcialmente
independentes mas firmemente vinculados entre si. (DREW, 1994, p. 21).
http://www.pdfpdf.com/0.htm
19
3 MATERIAL E PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
3.1 LOCALIZAO DA REA
A rea de estudo, situa-se no municpio de Ponta Grossa, sendo este
localizado na poro centro-leste do Estado do Paran, na regio conhecida pelo
nome de Campos Gerais do Paran (MAACK, 2002).
A bacia hidrogrfica pesquisada localiza-se especificamente na poro oeste
do municpio de Ponta Grossa. (FIGURA 1 - Mapa de Localizao da rea de
Estudo).
No contexto hidrogeogrfico regional, o Arroio Gertrudes constitui-se num
afluente da margem esquerda do Rio Taquari, que por sua vez afluente da
margem direita do alto Rio Tibagi, sendo este ltimo, um dos principais rios do
Estado do Paran.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
http://www.pdfpdf.com/0.htm
21
3.2 MATERIAL
Os materiais utilizados para a realizao da pesquisa da rea de estudo so
listados a seguir:
Base Cartogrfica Digital da Cidade de Ponta Grossa - (FAMEPAR, 1996) - Escala
1:2000
Carta Topogrfica - Folha Uvaia (DSG, 1958) - Escala 1:50000
Carta Topogrfica - Folha Ponta Grossa (IBGE, 1980) - Escala 1:50000
Cartograma - (PMPG, 2005)
Fotografias areas (PMPG, 2001) - Escala 1:2000
GPS (Sistema de Posicionamento Global)
Mapa Geolgico (DNPM - BADEP - UFPR, 1977) - Escala 1:50000
Mapa de Unidades de Relevo (IBGE, 1993) - Escala 1:5000000
Mapa de Solos da Bacia do Rio Tibagi - Escala - Escala 1:250.000
Martelo pedolgico
Software Auto Cad 2004.
Software Arcview GIS 3.3
Trado Tipo Holands
Trena
3.3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
Como forma de alcanar os objetivos propostos, os procedimentos
metodolgicos adotados nesta pesquisa foram os seguintes:
Levantamento e anlise bibliogrfica: Num primeiro momento foram
compiladas e analisadas informaes pertinentes reviso de literatura e a
orientao terico-metodolgica. Num segundo momento foram levantados os dados
do meio fsico e dos aspectos scio-econmicos alusivos bacia hidrogrfica, por
meio de levantamento bibliogrfico.
Para a caracterizao do meio fsico e scio-econmico foram utilizadas
diversas publicaes como livros, artigos, mapas e cartas. Para a caracterizao
scio-econmica (processo histrico de ocupao da rea de estudo, crescimento
http://www.pdfpdf.com/0.htm
22
urbano, nmero de habitantes, comrcio, indstrias e saneamento bsico) foram
utilizados materiais bibliogrficos, disponveis em instituies pblicas como IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) e SANEPAR (Companhia Paranaense
de Saneamento).
O diagnstico da realidade social e econmica da rea urbana da bacia do
Arroio Gertrudes teve como finalidade subsidiar a compreenso da degradao
ambiental existente na rea de pesquisa. Com o conhecimento da scio-economia
da rea de estudo pde-se verificar as atividades humanas realizadas no mbito da
bacia, bem como compreender o estado do meio fsico em relao a estas
atividades.
A aquisio das diversas publicaes utilizadas nesta pesquisa foi realizada
por meio de consulta s bibliotecas da Universidade Federal do Paran e da
Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Adicionalmente, alguns stios disponveis na Internet foram consultados e
utilizados, tendo em vista a ausncia dos mesmos em meio analgico.
Trabalhos de campo: Concluda a fase da pesquisa bibliogrfica, foram
efetuados trabalhos de campo para a identificao da geologia, relevo, solos e
vegetao. Nesse sentido este procedimento permitiu a verificao de como o meio
fsico reage em relao utilizao antrpica. Foram realizadas sadas de campo
entre os meses de abril de 2004 e abril de 2006, com o intuito de identificar os
processos de degradao ambiental, bem como registr-los por meio de fotografia.
Os trabalhos de campo foram guiados utilizando-se da viso perceptiva
tendo como objetivo compreender a rea de estudo com uma viso de totalidade
almejando desta maneira, contemplar os objetivos propostos.
A percepo ambiental refere-se forma como se obtm e se renem
informaes por meio dos sentidos da viso, olfato, audio, tato e paladar
(BASSANI, 2004, p. 92).
Deste modo, a percepo visual foi utilizada nos trabalhos de campo, tendo
em vista que atravs da viso que os homens se expressam e se comunicam mais
freqentemente (OLIVEIRA; MACHADO, 2004, p. 130)
Portanto, esta tcnica permite que se apreendam determinados
conhecimentos, sendo estes acrescidos de uma significao.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
23
Todos os arruamentos localizados em sentido perpendicular s curvas de
nvel foram percorridos, tendo por objetivo verificar a ocorrncia de processos de
eroso hdrica. Puderam ser observados afloramentos rochosos (Formao Ponta
Grossa e Formao Campo do Tenente) e falhas geolgicas confirmando assim as
informaes existentes no mapa geolgico (DNPM - BADEP - UFPR, 1977). Em
relao s formas de relevo identificadas na carta topogrfica - Folha Ponta Grossa
(IBGE, 1980), as mesmas puderam ser confirmadas durante os trabalhos de campo.
Em se tratando de uma rea urbanizada, 2 (dois) pontos com talude de
corte puderam ser utilizados como locais de amostragem para a identificao dos
horizontes diagnsticos onde se utilizou a obra publicada pela EMBRAPA (1999). A
descrio dos perfis e a descrio morfolgica dos solos identificados nos taludes
supracitados foram realizadas de acordo com os procedimentos contidos em
SANTOS et al. (2005) (Cf. APNDICE).
Nos locais onde existem processos de degradao ambiental foram
efetuadas tradagens para identificar o tipo de solo onde tais processos se
desenvolvem.
A vegetao foi caracterizada conforme a classificao apresentada pelo
IBGE (1992). Checagens em campo foram realizadas para a confirmao da
existncia de estepe gramneo-lenhosa e de remanescente de Floresta Ombrfila
Mista.
Fotointerpretao: Esse procedimento foi executado a partir do
georreferenciamento das fotos areas digitais do ano de 2001 em escala 1:2000 que
recobrem a rea objeto de estudo. A interpretao foi realizada no software Arcview
GIS. Elaborou-se uma chave de interpretao (TABELA 1) utilizada para a
identificao das diferentes classes de uso do solo, sendo a fotointerpretao
realizada diretamente em tela. Ressalta-se que na transposio dos dados contidos
nas fotos areas para os mapas ocorrem falhas no tocante ao tamanho das
representaes tendo em vista que as projees cartogrficas so diferentes. Por se
tratarem de fotografias areas em escala 1/2000 e mapas temticos produzidos em
escala 1/25000 os erros so desprezveis, tendo em vista que todo mapa possui
distores.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
24
Foram definidas 6 classes de uso do solo8 a partir da realizao da
fotointerpretao e dos trabalhos de campo: mata, mata degradada, campo,
campo/mata degradada, cultivo e urbano.
Mata: Constituda por vegetao arbrea;
Mata degradada: Apresenta vegetao arbrea, porm observou-se interveno
antrpica devido prtica de queimada, corte de rvores e disposio de lixo neste
tipo de vegetao;
Campo/Mata Degradada: Nessa classe a vegetao de maior porte foi retirada,
restando apenas vegetao rasteira, arbustos e rvores esparsas;
Campo: Corresponde a vegetao de gramneas;
Cultivo: Corresponde a rea onde j existem culturas agrcolas em estgio inicial de
crescimento, ou onde o solo ainda est sendo preparado para o cultivo. Nessa rea
praticado o plantio em curvas de nvel, porm sem a presena de cobertura de
resduos de cultivos anteriores.
Urbano: Classe caracterizada por apresentar infra-estrutura (ruas) e prestao de
servios (comrcio, escolas, indstrias) bem como habitaes.
O mapa de localizao foi construdo utilizando-se da base cartogrfica
disponibilizada pelo IBGE (2000, 2004), bem como do software Arcview GIS 3.3
como suporte.
Para a produo da carta geolgica, utilizou-se a base cartogrfica digital da
cidade de Ponta Grossa (FAMEPAR, 1996), bem como o mapa geolgico impresso
de (DNPM - BADEP - UFPR, 1977). A legenda utilizada foi a mesma dos referidos
autores.
A carta de feies de relevo foi elaborada a partir da anlise da carta
topogrfica IBGE (1980). Checagens em campo permitiram corroborar as
informaes disponveis na carta topogrfica. A legenda foi adaptada de TRICART
(1965). A carta foi gerada utilizando-se a base cartogrfica digital da cidade de
Ponta Grossa (FAMEPAR, 1996).
A carta de declividade foi gerada utilizando-se do software Arcview GIS.
Foram estabelecidas as seguintes classes de declive: < 1%, 1% a 6%, 6% a 12%,
12% a 20%, 20% a 45% e > 45%. As classes de declive obedeceram tal
8 Legenda fundamentada no trabalho intitulado Caracterizao do Patrimnio Natural dosCampos Gerais do Paran (2003). Cf. item Referncias.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
25
agrupamento tendo em vista uma melhor compreenso dos processos de eroso
hdrica e de escorregamentos.
A carta de solos foi produzida a partir da compilao de informaes
existentes no Mapa de Solos do Estado do Paran, EMBRAPA (1981) em escala
1:600000, do mapeamento em escala 1:250000 realizado por STIPP (2002) no
mbito da Bacia do Rio Tibagi, bem como de observaes de perfis de solos
existentes na rea de estudo. Embora exista uma diferena relativamente grande
entre a escala do mapa produzido pela EMBRAPA (1981), o mapa elaborado por
STIPP (2002) e a carta gerada neste trabalho, salienta-se que ambas as publicaes
serviram apenas para o conhecimento prvio das classes de solo existentes na rea
de estudo. A carta de hidrografia foi produzida a partir da base cartogrfica digital da
cidade de Ponta Grossa (FAMEPAR, 1996).
Para o estabelecimento do nmero de nascentes existentes na rea urbana
da bacia hidrogrfica foi utilizado o procedimento proposto por STRAHLER9 citado
por CHRISTOFOLETTI (1980, p. 106-107).
A carta de vilas localizadas na rea de estudo foi gerada a partir de
informaes contidas no cartograma de diviso de vilas da cidade de Ponta Grossa
PMPG (2005) e gerada no software Arcview GIS.
Em relao carta de degradao ambiental, esta foi confeccionada a partir
da base cartogrfica digital da cidade de Ponta Grossa (FAMEPAR, 1996). Os
pontos com processos de degradao ambiental foram identificados por meio dos
trabalhos de campo e posteriormente foram lanados na base cartogrfica digital,
levando em considerao os arruamentos existentes na rea de estudo.
As cartas de geologia, feies de relevo, solos, hidrografia e de degradao
ambiental foram todas produzidas em ambiente Auto Cad. O mapa de localizao e
o buffer foram produzidos utilizando-se o software Arcview GIS.
A carta de uso-ocupao do solo foi gerada a partir da fotointerpretao
realizada diretamente em tela, sem o auxlio de qualquer instrumento tico, tendo
como base as fotografias areas digitais da cidade de Ponta Grossa FAMEPAR
(2001). Para a identificao das classes de uso adotou-se uma chave de
interpretao a qual est descrita no quadro a seguir:
9 STRAHLER, A. N. Hypsometric (rea-altitude) analysis of erosional topography. Geol. Soc.America Bulletin. 1952, 63, p. 117-142.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
26
TABELA 1 - CHAVE DE INTERPRETAO DAS CLASSES DE USO DO SOLO DA BACIA DOARROIO GERTRUDES - REA URBANA DE PONTA GROSSA, PR.
CLASSES COR TEXTURA PADRO SOMBRA FORMA
Mata Verde escuro Rugosa Manchasdesordenadas Presente Irregular
Mata degrada Verde mdioa escuro RugosaManchas
desordenadas Presente Irregular
Campo Verde claro amdio LisaManchas
desordenadas Ausente Irregular
Campo/ matadegradada
Verde claro amdio Lisa a rugosa
Manchasdesordenadas Presente Irregular
Cultivo Verde claro Lisa Manchasordenadas Ausente Irregular
Urbano Cinza escuro Lisa Blocosordenados Presente Regular
http://www.pdfpdf.com/0.htm
27
4 RESULTADOS E DISCUSSES
4.1 MEIO FSICO
4.1.1 Geologia
A bacia hidrogrfica do Arroio Gertrudes est inserida na borda leste do
compartimento geolgico denominado Bacia Sedimentar do Paran. Esta bacia
sedimentar constitui-se numa vasta depresso, localizada no centro-leste da
Amrica do Sul, cobrindo cerca de 1,6 milho de quilmetros quadrados preenchida
por rochas paleozicas, mesozicas, lavas baslticas e, localmente rochas
cenozicas (SCHNEIDER et al. 1974, p. 41).
A geologia da rea de estudo est representada na FIGURA 2.
As unidades geolgicas presentes na rea de estudo so a Formao Ponta
Grossa pertencente ao Grupo Paran e a Formao Campo do Tenente pertencente
ao Grupo Itarar (AGUIAR NETO; LOPES JUNIOR, 1977).
A Formao Ponta Grossa de idade Meso-a Neodevoniana (ASSINE, 1999,
p. 357) constituda por folhelhos, folhelhos slticos, siltitos e arenitos (SCHNEIDER
et al. 1974, p. 44). A formao dividida em trs membros: o membro inferior
(Membro Jaguariava) e o membro superior (Membro So Domingos) so
predominantemente sltico-argilosos, enquanto o membro intermedirio (Membro
Tibagi) constitudo principalmente de arenitos muito finos ou siltitos arenosos
(PETRI; FLFARO, 1983, p. 78). A estrutura sedimentar que ocorre com maior
freqncia na Formao Ponta Grossa a laminao plano-paralela (SCHNEIDER
et al. 1974, p. 44). O contedo fossilfero da formao indica que as rochas desta
formao foram depositadas em ambiente marinho (SCHNEIDER et al. 1974, id).
Conforme o mapeamento geolgico realizado por AGUIAR NETO e LOPES
JUNIOR (1977) abrangendo a regio de Ponta Grossa, o Grupo Itarar apresenta
diamictitos, arenitos e argilitos. Na rea de estudo foram identificados arenitos
http://www.pdfpdf.com/0.htm
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29
pertencentes Formao Campo do Tenente de idade carbonfera (FRANA;
WINTER; ASSINE, 1996, p. 45).
Ocorrem nessa formao arenitos amarelados, finos e mdios, mal
selecionados com estratificao plano-paralela e cruzada acanalada (SCHNEIDER
et al. 1974, p. 45).
De acordo com TOMMASI e RONCARATI10, citado por SCHNEIDER et al.
(1974, p. 45) atribuda influncia glacial para os depsitos da Formao Campo do
Tenente.
Com relao aos sedimentos recentes, MEDEIROS e MELO (1999) ao
discutirem sobre os processos erosivos no mbito urbano de Ponta Grossa,
verificaram depsitos aluviais ao longo das plancies de inundao expressando
fases de clima mais seco que o atual, no final do Pleistoceno e incio do Holoceno,
com intenso entulhamento das drenagens da cidade.
Em relao s estruturas geolgicas verificou-se a existncia de falhamentos
no mbito da bacia. Ocorrem falhas no sentido NE-SO e NO-SE. Essas estruturas
exercem um controle estrutural na forma dos vales onde os cursos fluviais esto
inseridos em diversos trechos da bacia do Arroio Gertrudes.
4.1.2 Relevo
Do ponto de vista macrogeomorfolgico a bacia do Arroio Gertrudes situa-se
na unidade de relevo denominada Patamares da Bacia do Paran (IBGE, 1993).
Esta unidade geomorfolgica abrange parte dos estados do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paran, So Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
De acordo com ALVARENGA, SILVA e NUNES (1997, p. 61) esta unidade
engloba formas como escarpas, relevo colinoso e plano, nveis profundos de
dissecao, entalhamento da drenagem em linhas estruturais e chapades
residuais. A existncia de formas heterogneas na unidade de relevo existe devido
complexidade petrogrfica dos sedimentos (HERRMANN; ROSA, 1990, p. 65) aliada
aos diferentes processos morfogenticos que atuam na elaborao das formas de
relevo.
10 TOMMASI, E.; RONCARATI, H. Geologia de semi-detalhe do nordeste de Santa Catarina esudeste do Paran. Petrobrs/Desul. 41 p. (Relatrio Interno n. 388). 1970.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
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31
No contexto do Estado do Paran a unidade de relevo Patamares da Bacia
do Paran coincide com o compartimento geomorfolgico denominado de Segundo
Planalto Paranaense (MAACK, 2002, p. 406).
MENEGUZZO e MELO (2004) referindo-se ao Segundo Planalto, afirmam
que:
O relevo no Segundo Planalto Paranaense contrastante. Junto Escarpa Devoniana asamplitudes so grandes, com encostas abruptas, canyons e trechos encaixados dos rios,inmeros cachoeiras e corredeiras sobre leito rochoso. Afastando-se da EscarpaDevoniana, no sentido oeste e noroeste, predomina paisagem de topografiasuavemente ondulada de configurao muito uniforme, formada por colinas e outeiros.
A estrutura paleozica que sustenta o relevo do Segundo Planalto
Paranaense constitui-se num capeamento abaulado e densamente cisalhado como
conseqncia do Arco de Ponta Grossa (ABSBER, 1998, p.73). Devido a este
cisalhamento ocorrem inmeros rios subseqentes, os quais possuem trechos
controlados por estruturas rpteis, tais como falhas, fraturas e diques de diabsio
(MENEGUZZO, 2002, p. 22). Na regio de Ponta Grossa o relevo caracteriza-se por
apresentar-se colinoso (HERRMANN; ROSA, 1990, p. 65) associado a outeiros.
A nascente do Arroio Gertrudes localiza-se numa falha (AGUIAR NETO;
LOPES JUNIOR, 1977) originada devido a movimentos epirogenticos que
soergueram toda a regio centro-leste do Estado do Paran durante o Paleozico e
o Mesozico, sendo que o pice desse movimento, conhecido como Arco de Ponta
Grossa, deu-se no Jurssico-Cretceo (MARINI; FUCK; TREIN, 1967, p. 309).
As feies de relevo da rea pesquisada esto representadas na FIGURA 3.
As vertentes da bacia do Arroio Gertrudes, apresentam feies
caractersticas de regies subtropicais, onde a morfognese pluvial o principal
agente que atua na esculturao das formas. Foram identificadas na rea
pesquisada vertentes com formas convexas, retilneas, ombreiras e rupturas de
declive.
Os topos apresentam-se arredondados ou alongados. Os topos
arredondados ocorrem em reas onde afloram rochas da Formao Ponta Grossa.
No divisor do Arroio Gertrudes com o Rio Ronda e Arroio Ressaca sob influncia das
rochas da Formao Campo do Tenente h preferencialmente topos com forma
alongada com orientao NO-SE e NNE-SSO. J no divisor com o Rio Colnia
http://www.pdfpdf.com/0.htm
32
Adelaide, Arroio Grande e Arroio Madureira, com predomnio de rochas da
Formao Ponta Grossa os topos tendem a ter forma arredondada.
Existem dois tipos de vale na bacia do Arroio Gertrudes: Vales em "V" e
vales assimtricos. O Arroio Sabar possui seu vale em forma de V. Nos afluentes
da margem direita do Arroio Gertrudes predominam vales em forma de V. Os vales
assimtricos ocorrem no Arroio Gertrudes e em seus tributrios da margem
esquerda. A ocorrncia destas formas se d devido ao da morfognese pluvial e
ao morfogentica dos prprios cursos dgua que esculpem o relevo, cujo
substrato rochoso formado por folhelhos da Formao Ponta Grossa e arenitos do
Grupo Itarar. A diferenciao dos vales fluviais existe devido diferena no
substrato geolgico, pois os diferentes tipos de rocha respondem de forma
diferenciada ao dos processos morfogenticos.
Em relao hipsometria (Ver Figura 5), as cabeceiras do Arroio Gertrudes
encontram-se localizadas numa rea com altitude aproximada de 930 metros. Na
desembocadura, no limite do espao urbano-rural, o arroio flui sobre cota
aproximada de 830 metros. No trecho compreendido entre a nascente e a foz, cuja
distncia de aproximadamente 6.000 metros, o desnvel de aproximadamente
100 metros. Este desnvel sugere um poder de eroso remontante relativamente
significativo, tanto nas cabeceiras do Arroio Gertrudes, como nas nascentes do
Arroio do Sabar.
Nesse sentido pode-se explicar a existncia de nveis de declive (Ver Figura
4) elevados no mbito da bacia hidrogrfica, sendo que as maiores declividades so
encontradas majoritariamente prximas de cursos fluviais de 1 ordem.
Na tabela a seguir, constam informaes alusivas s classes de declividade
existentes na rea de estudo, com as respectivas reas em hectares e em
percentagem.
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33
TABELA 2 - CLASSES DE DECLIVE DA REA DE ESTUDO
Classes de Declive em % rea de cada classe emhectares
rea em %
Classe = < 1 96,75 11,31
Classe = 1 - 6 280,71 32,81
Classe = 6 -12 355,63 41,57
Classe = 12 - 20 90,57 10,59
Classe = 20 -45 31,39 3,67
Classe = > 45 0,48 0,05
rea total da bacia: 855,53 ha Total: 100
A classe de declive que apresenta a maior rea a compreendida entre 6%
a 12%. Esta possui aproximadamente 41,57% da rea total da bacia. A segunda
classe com maior rea a classe entre 1% a 6% representando 32,81%.
Seqencialmente vem a classe com declividade menor que 1%, com uma rea de
11,31%. Posteriormente a classe que compreende os nveis de declive 12% a 20%
abrange 10,59% do total da rea de estudo. As classes de 20% a 45% e maior que
45% possuem, respectivamente, 3,67% e 0,05% de reas.
Confrontando as informaes da tabela acima com o artigo III e pargrafo 3
da Lei Municipal nmero 4842/92 que estabelece as faixas no edificveis nas
margens direita e esquerda dos cursos fluviais. A bacia do Arroio Gertrudes se
enquadra na classe das bacias que possuem rea compreendida entre 700 e 1000
hectares. Neste caso a rea pesquisada deveria possuir 40 metros de faixa no
edificvel em ambas as margens de todos os cursos dgua componentes da
mesma.
De acordo com a Lei Municipal nmero 6326/99 em reas com declividade
igual ou superior a 30% no permitido o parcelamento do solo urbano. Isto
significa que uma rea de aproximadamente 3,72% da rea de estudo seria restrita
para esta finalidade.
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4.1.3 Solos
Pde-se verificar a existncia de trs classes de solo no mbito da rea de
estudo. So elas: Cambissolos, Latossolos e Gleissolos.
Os cambissolos se constituem em Solos constitudos por material mineral
com horizonte B incipiente imediatamente abaixo de horizonte A ou horizonte hstico
com espessura inferior a 40 cm. (EMBRAPA, 1999, p. 149)
Na rea de estudo os cambissolos identificados enquadram-se na Classe do
2 nvel categrico: Cambissolo Hplico.
Os cambissolos foram identificados majoritariamente nas reas com relevo
em entalhamento com os nveis de declive compreendidos nas classes 1% a 6% e
6% a 12%. onde as guas pluviais escoam de forma relativamente rpida, no
favorecendo a ocorrncia de reaes qumicas (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2001,
p. 155-156), sobre substrato rochoso da Formao Ponta Grossa e Formao
Campo do Tenente.
Os latossolos so Solos constitudos por material mineral, apresentando
horizonte B latosslico imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte A, dentro
de 200 cm da superfcie do solo ou dentro de 300 cm, se o horizonte A apresenta
mais que 150 cm de espessura. (EMBRAPA, 1999, p.197)
Especificamente na rea de estudo os latossolos classificados enquadram-
se na Classe do 2 nvel categrico: latossolos vermelhos. Estes se caracterizam
por apresentar matiz 2,5 YR ou mais vermelho na maior parte dos primeiros 100 cm
do horizonte B (inclusive BA) (EMBRAPA, 1999, p.197).
Estes solos foram identificados majoritariamente em reas de topo devido ao
fato de que nestas reas ocorre uma boa drenagem das guas pluviais, favorecendo
o intemperismo qumico, promovendo a existncia de solos com cores avermelhadas
(LEPSCH, 2002, p. 61) como o caso do Latossolo.
Os Gleissolos so assim definidos pela EMBRAPA (1999, p. 183):
... constitudos por material mineral com horizonte glei imediatamente abaixo de horizonteA, ou de horizonte hstico com menos de 40 cm de espessura; ou horizonte glei comeandodentro de 50 cm da superfcie do solo; no apresentam horizonte plntico ou vrtico, acimado horizonte glei ou coincidente com este, nem horizonte B textural com mudana texturalabrupta coincidente com horizonte glei, nem qualquer tipo de horizonte B diagnstico acimado horizonte glei.
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37
Os Gleissolos foram identificados por meio de trabalho de campo em rea
de relevo plano a aproximadamente 30 metros da margem esquerda do Arroio
Gertrudes, na Vila Shangril.
Ressalta-se que devido a obras de pavimentao, bem como implantao
de infra-estrutura apenas em 2 (dois) locais esta classe de solo pde ser
identificada, no significando que no deva ocorrer em ambientes semelhantes no
mbito da bacia hidrogrfica.
A ttulo de ilustrao na figura a seguir (Figura 6) constam as
representaes das classes de solos identificadas na rea de estudo.
No item APNDICE constam as descries de perfis e descries
morfolgicas dos pontos amostrais no mbito da rea de estudo.
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4.1.4 Clima
A regio de Ponta Grossa caracteriza-se por apresentar clima quente-
temperado, sempre mido, o ms mais quente com temperatura inferior a 22 C,
onze meses do ano com temperatura superior a 10 C e mais de cinco geadas
noturnas por ano (MAACK, 2002, p. 209). O tipo climtico vigente na rea de estudo
o Cfb segundo o Sistema de Classificao de Kppen (MAACK, 2002, id).
A regio de Ponta Grossa est sob influncia conjugada dos sistemas
atmosfricos tropicais e polares - massas de ar Tropical Atlntica (Mta), Tropical
Continental (Mtc), Equatorial Continental (Mcc) e Polar Atlntica (Mpa)
(MENDONA; DANNI-OLIVEIRA, 2002, p. 64).
A temperatura mdia anual para Ponta Grossa de 17 C - 18 C (MAACK,
2002, p. 157). Com respeito s precipitaes, as mdias anuais ficam na faixa
compreendida entre 1.100mm - 1600mm (MAACK, 2002, p. 200).
4.1.5 Hidrografia
A rea urbana da bacia hidrogrfica de aproximadamente 8,55 km2, onde o
Arroio Gertrudes composto de 38 nascentes. A hidrografia est representada na
FIGURA 7.
No contexto do municpio de Ponta Grossa, vrios rios e arroios, possuem
suas cabeceiras de drenagem na rea urbana, sendo que estas drenagens divergem
a partir de um alto topogrfico, onde est situado o centro da cidade, em direo aos
bairros (MENEGUZZO, 2004, p.1). O Arroio Gertrudes no foge a essa
caracterstica.
O Arroio Gertrudes est orientado na direo nordeste-sudoeste, tendo,
portanto seu curso influenciado pelo Arco de Ponta Grossa. O arroio caracteriza-se,
como um rio subseqente conforme a classificao apresentada por
CHRISTOFOLETTI (1980, p. 102-103). A direo de fluxo dos rios subseqentes
controlada pela estrutura rochosa, acompanhando sempre uma zona de fraqueza,
tal como uma falha, junta, camada rochosa delgada ou facilmente erodvel
(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 102-103).
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40
O padro de drenagem da bacia hidrogrfica apresenta-se como paralelo
devido ao controle estrutural existente. Entende-se por drenagem paralela ...quando
os cursos de gua, sobre uma rea considervel, ou em numerosos exemplos
sucessivos, escoam quase paralelamente uns aos outros. (CHRISTOFOLETTI,
1980, p. 105)
A bacia hidrogrfica apresenta uma assimetria, tendo em vista que os
afluentes da margem esquerda tem o comprimento cerca de at trs vezes maior
que os afluentes da margem direita. Isto se deve existncia de duas falhas
geolgicas na margem esquerda do Arroio Gertrudes que favorecem o
desenvolvimento de drenagens, tendo em vista que as falhas constituem-se em
zonas de fraqueza, onde os cursos fluviais possuem maior facilidade de
entalhamento do talvegue.
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7
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4.1.6 Vegetao Natural
A bacia do Arroio Gertrudes situa-se na poro leste do Segundo Planalto
Paranaense, na regio conhecida pelo nome de Campos Gerais do Paran. De
acordo com MELO (2001, p. 64-65) a presena de campos naturais no Segundo
Planalto decorre de diversos fatores:
a) ocorrncia de paleoclimas mais secos, propcios para o desenvolvimento de camposlimpos e cerrados, no final do Pleistoceno e incio do Holoceno;b) ocorrncia de rochas arenosas (Formao Furnas e Grupo Itarar) na regio, originandosolos litlicos, rasos, arenosos e muito pobres, desfavorveis para o desenvolvimento deplantas arbreas;c) a existncia da barreira natural representada pela Escarpa Devoniana, obstculo para adisseminao de sementes e avano da mata sobre os campos e cerrados.
Do ponto de vista vegetacional, a regio dos Campos Gerais insere-se no
grupo de Estepe - Campos Gerais Planlticos e Campanha Gacha (IBGE, 1992, p.
29). As reas de Estepes embora bastante antropizadas podem ser separadas em
trs subgrupos: a Estepe Arborizada, a Estepe Parque e a Estepe Gramneo-
Lenhosa (IBGE, 1992, p. 29-30), sendo que a bacia do Arroio Gertrudes insere-se no
subgrupo da Estepe Gramneo-Lenhosa.
A Estepe Gramneo-Lenhosa caracteriza-se por apresentar reas de
fisionomias campestres, com variaes ligadas s formas do relevo, profundidade
dos solos e s condies de drenagem (TOREZAN, 2002, p. 103). Neste subgrupo
observam-se as "florestas-de-galeria" (IBGE, 1992, p. 30) ao longo dos rios e arroios
com ilhas de araucrias distribudas nos campos e capes (MAACK, 2002, p. 119).
A regio dos Campos Gerais apresenta atualmente significativa
descaracterizao no do seu padro vegetacional original. Isto se torna evidente
devido a fatores como a prtica das queimadas (RUELLAN, 1990, p. 20), (MAACK,
2002, p. 229), ao mau uso do solo (IBGE, 1992, p. 30), pela criao de gado bovino
em grandes propriedades e pelas atividades agrcolas (TROPPMAIR, 1990, p. 76).
Na rea de estudo pde-se verificar remanescentes secundrios de floresta-
de-galeria (Floresta Ombrfila Mista). Em seu aspecto externo (fisionmico) pouco
se diferencia da primria, a no ser pela presena de espcies bioindicadoras de
perturbao. Identificou-se a Anadenanthera colubrina (Angico-branco), a Mimosascabrella (Bracatinga) e a Myrsine ferruginea (capororoca) espcies caractersticas
http://www.pdfpdf.com/0.htm
43
de floresta secundria. Verificou-se tambm a presena de vegetao de campos
(Estepe Gramneo-lenhosa) que ainda permanece em alguns locais da rea de
estudo (Ver FIGURA 10).
4.2 SCIO-ECONOMIA
4.2.1 O processo histrico de ocupao dos Campos Gerais e de Ponta Grossa
Registros arqueolgicos, como pinturas rupestres (SILVA, 2000) e materiais
de cermica encontrados nas cercanias de Ponta Grossa e at mesmo na rea
urbana evidenciam que povos primitivos j estiveram na regio antes dos povos
europeus.
O processo histrico de ocupao da regio dos Campos Gerais e
conseqentemente de Ponta Grossa esteve intimamente atrelado ao comrcio
colonial.
A regio dos Campos Gerais foi visitada pela primeira vez por um europeu no
sculo XVI na pessoa de lvar Nuez Cabeza de Vaca, quando este se dirigia para
oeste onde atualmente se encontram as terras da Repblica do Paraguai (FREY
HOLZMANN, 1975, p. 15).
No sculo XVII a regio fra percorrida pelos bandeirantes, que almejavam
encontrar ouro (FREY HOLZMANN, 1975, p. 15) e pontos de partida para que o
interior pudesse ser conquistado mais facilmente (MAACK, 2002, p. 73). Ainda no
sculo XVII ressalta-se a figura dos jesutas espanhis, que tiveram na regio dos
Campos Gerais algumas misses indgenas (PRADO JNIOR, 1987, p. 105).
De meados do sculo XVII at o incio do sculo XVIII os bandeirantes,
vindos de So Paulo promoveram tanto o Primeiro como o Segundo Planalto,
colonizao dos portugueses (MAACK, 2002, p. 78).
No sculo XVIII a atividade de explorao do ouro em Minas Gerais
favoreceu o desenvolvimento de povoaes no Segundo Planalto Paranaense
(SOARES; MEDRI, 2002, p. 72) sendo que, a abertura do Caminho do Viamo11 no
sculo XVIII (SIMONSEN, 1957, p. 237) promoveu tal povoamento.
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44
FURTADO (1982) indica que a atividade mineira, por meio de seus efeitos
indiretos, permitiu que se articulassem as diferentes regies do sul do pas. A partir
do Rio Grande do Sul mulas e muares eram conduzidas com destino regio de
So Paulo, onde l eram comercializadas. Posteriormente, de So Paulo os animais
eram direcionados s minas gerais, onde eram utilizados como meio de transporte12.
Conforme PRADO JNIOR (1987, p. 95) todo o territrio a leste do rio
Paran, compreendido entre o Rio da Prata ao sul e paralelo de 26 ao norte,
permanecia deserto e inocupado, embora fosse percorrido intermitentemente, desde
o princpio do sc. XVIII, pelas bandeiras paulistas...
FERREIRA13 citado por SOARES e MEDRI (2002, p. 72) comenta que no
final do sculo XVIII toda a regio dos Campos Gerais estava povoada,
escassamente, ou seja, que se apresentava quase totalmente dividida em
latifndios, caracterizando-se assim como uma frente de ocupao e explorao por
onde passavam os tropeiros (WACHOWICZ, 1988, p. 78).
Foram os Bandeirantes paulistas, que ocuparam os Campos Gerais com
atividade econmica a partir das primeiras dcadas do sculo XVIII (WACHOWICZ,
1988, p. 75).
Nestas circunstncias, o caminho do Viamo deu origem s cidades de Pira
do Sul, Castro, Palmeira, Imbituva e Ponta Grossa (SOARES; MEDRI, 2002, p. 72).
Por volta do sculo XVIII, na rea que atualmente compreende o bairro
Jardim Sabar em Ponta Grossa existia a Fazenda Bom Sucesso (FREY
HOLZMANN, 1975, p. 17). Nesta propriedade havia criao de gado, bem como uma
invernada que era por vezes utilizada pelos tropeiros como pousada (FREY
HOLZMANN, 1975, 17). Deduz-se a partir desta ltima parfrase que trechos
componentes da bacia do Arroio Gertrudes j sofreram algum tipo de degradao
desde a poca supracitada.
11 O caminho do Viamo tambm denominado de Estrada da Mata.12 Os viajantes que transportavam mulas e muares do Rio Grande do Sul para So Paulo
foram denominados de tropeiros e costumavam parar na regio para que os animais pudessemdescansar e se alimentar das pastagens bastante comuns nos Campos Gerais.
13 FERREIRA, J. C. V. O Paran e seus municpios. Memria Brasileira: Maring, 1996.
http://www.pdfpdf.com/0.htm
45
4.2.2 O crescimento urbano de Ponta Grossa
A partir de 1950 o Brasil passa a se caracterizar como um pas urbano
(IBGE, 2000, p. 27). Isto se deu devido industrializao ocorrida entre as dcadas
de 1940-1950 que ativou o processo de urbanizao no Brasil (SANTOS, 1996b, p.
27). A consolidao deste fato deu-se na dcada de 1970, quando a populao
urbana supera a populao rural (IBGE, 2000, p. 27).
A formao de Ponta Grossa deu-se somente em fins do sculo XVIII,
quando a localidade superou a fase de mero ncleo de colonizao jesuta e passou
a se inserir no processo mais intensivo de povoamento dos Campos