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ANÁLISE DA FOME MUNDIAL POR MEIO DO ENSINO DA GEOGRAFIA:
UM CAMINHO POSSÍVEL PARA O DESPERTAR
DA ATITUDE POLÍTICA
Maria de Lourdes Lepre Oliveira1
Victor da Assunção Borsato2
Resumo
Este artigo é uma síntese dos resultados práticos e teóricos vivenciados na implementação da Proposta de Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. O principal objetivo foi o de trabalhar algumas reflexões sobre as necessidades de subsidiar os alunos da escola Estadual 29 de Novembro Ensino Fundamental do município de Araruna/PR, com conhecimentos sistematizados e pautados na concepção Histórico-Crítica. A proposta trabalhou o tema “Fome Mundial” como forma de permitir ao educando um embasamento teórico que lhes permitam compreender as desigualdades do espaço como resultantes da ação política do homem. A mesma foi aplicada diretamente para os alunos das 8ªs séries e estes aplicaram para os das 5ªs séries. Os resultados mostraram avanços importantes, principalmente nos conhecimentos pré e pós a aplicação do projeto. Espera-se que os resultados resultem na concretização de atitudes políticas e um posicionamento efetivo de todos para uma sociedade mais igualitária.
Palavras-chave: Ensino de Geografia. Conhecimento Científico. Fome Mundial. Atitude política.
Abstract
This article is a synthesis of the practical and theoretical results lived in the
implementation of the Intervention Pedagogical Proposal of the Development
Educational Program - PDE, from General Office Education of Paraná. The main
objective was to work some reflections about the needs of subsidizing the students
1 Professora integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), licenciada em Geografia,
educadora do Ensino Fundamental da rede pública do Estado do Paraná lotada no município de Araruna – [email protected] 2 Professor Doutor, Departamento de Geografia da FECILCAM (Faculdade de Ciências e Letras de Campo
Mourão) – [email protected]
os “29 November School” from Araruna, state of Paraná, with systematized
knowledge and ruled in the historical-critical conception. The proposal worked the
theme “World Hunger” , as a form of allowing to the student a theoretical
basement that allow them to understand the inequalities of the space as resultants
of the man´s political action. The proposal was apllied directly for the students os
the 8th Grade and these applied for the ones of the 5th. The results showed
important progress, mainly in the knowledge pre and post the application of the
project. It is expected that the results would result in the implementation of political
attitudes and effective placement of all for a more egalitarian society.
Key Words: Ensino de Geografia. Conhecimento Científico. Fome Mundial. Atitude
política.
INTRODUÇÃO
O presente artigo é composto de recortes das experiências vivenciadas na
execução do Projeto de Intervenção Pedagógica, aplicado no período de fevereiro
a julho de 2009 na Escola Estadual 29 de Novembro – Ensino Fundamental.
Para não perder a especificidade da disciplina de Geografia optou-se
desvendar, por meio do conhecimento científico, as reais causas e as principais
consequências da fome no mundo, isso por considerá-la a pior forma de
desigualdade cristalizada no espaço geográfico. Também, mostrar por meio da
prática pedagógica que as causas se devem mais às questões humanas do que
às causas naturais. Portanto, o estudo da fome no mundo oportuniza ao
estudante perceber-se agente das transformações, sabedor de que as
desigualdades tendem a se agravar ante a alienação e despolitização da grande
massa da população, a qual advém da manipulação e inculcação da ideologia
dominante.
Assim, desvendar a fome e suas reais causas pode ser uma forma de
subsidiar o alunado para atitudes políticas mais conscientes. É oferecer a eles
condições de enxergar além das aparências, de compreender que o espaço
geográfico é o resultado do processo histórico, produto das ações humanas ao
longo do tempo. Ações essas que na maioria das vezes atende aos interesses de
uma minoria que detêm o poder econômico e, por extensão o poder político, e
que, recebendo suas benécies, não têm interesses em mudanças.
O processo de intervenção pedagógica na escola envolveu a Direção, os
professores de Geografia e os alunos das 5ªs e 8ªs séries do período diurno. A
Direção efetivou sua participação concedendo momentos para a divulgação do
respectivo projeto junto a comunidade escolar, agendando horários para o uso do
Laboratório de Informática e da Biblioteca, bem como, acompanhando e avaliando
o cumprimento de todas as ações previstas.
Os professores de Geografia da Escola contribuíram participando da
avaliação da Unidade Didática a ser trabalhada na implementação do projeto,
bem como fazendo inclusive a opção de incluir o tema “Fome Mundial” no Plano
de Trabalho Docente de todas as 8ªs séries da escola.
Os alunos das 8ªs séries foram os selecionados para efetuarem um estudo
minucioso sobre o tema, e a partir daí, ministrarem mini-aulas para os alunos das
5ªs séries, objetivando contribuir com a superação do conhecimento empírico e
compreensão de que se constituem em agentes de transformação social.
A grande maioria dos alunos diretamente envolvidos demonstraram
superar o conhecimento do senso comum e evoluir para um conhecimento mais
elaborado, possível de ser utilizado com mais consciência no espaço geográfico
de vivência. Evidenciaram saber quão importante é a atitude de cada cidadão na
efetivação de uma sociedade mais igualitária.
O ENSINO DA GEOGRAFIA E SUA IMPORTÂNCIA SOCIAL PARA O
INDIVÍDUO
A educação no atual contexto social tem muito a contribuir para impulsionar
a tendência de transformação da realidade social vivida pelos homens e de
aprimoramento da qualidade de vida de cada indivíduo (VIEIRA, 2004).
Os professores de Geografia, na sua grande maioria estão empenhados
em promover e adotar estratégias de ensino que permitam ao aluno perceber a
necessidade do conhecimento científico para a compreensão e intervenção na
realidade. Quando isso ocorre, a aprendizagem realmente se efetiva. Não basta o
professor mostrar ao aluno apenas a realidade materializada. É necessário
promover espaço de informação, discussão e reflexão que possa subsidiar esses
indivíduos para tomada de decisões mais conscientes sobre a realidade que os
cerca.
Kaercher (2001) ressalta que conscientizar implica num desafio: se
desvelamos a realidade, esta deixa de ser um “beco sem saída” e passa a tomar
o seu verdadeiro aspecto – um desafio que os homens devem responder.
Entende-se que é preciso um ensino de Geografia que forneça bases sólidas e
reais, ou seja, conhecimento científico historicamente produzido. Demo (2002)
salienta que o conhecimento talvez seja a invenção mais potente do ser humano,
porque é sua ferramenta de intervenção tanto na natureza como na sociedade.
O conhecimento geográfico deve se constituir uma arma de combate a
qualquer situação que se faça contraditória. Nesse particular é importante
ressaltarmos por meio do conhecimento as razões históricas da fome mundial,
suas causas e conseqüências na própria comunidade (Santos, 1978). Pois assim,
acredita-se que o indivíduo será capaz de compreender a problemática que
envolve a desigualdade social e nela intervir.
O ensino da Geografia não deve se limitar a tratar o espaço geográfico
como se ele fosse um espaço acabado, apenas um depósito, reflexo das ações
humanas. Kaercher (2001), nessa mesma linha de análise, posiciona-se contra a
apatia, o conformismo e a linearidade de estudos que são incapazes de buscar as
causas sociais que geram os espaços desiguais, sem dúvida, que habitamos.
Coaduna-se com essas reflexões Castro (1968, p. 77), quando diz que é
preciso antes de tudo trabalhar para extirpar do pensamento político
contemporâneo esta ideia errônea da economia considerada como um jogo em
que alguns devem sempre perder para permitir a outros sempre ganhar.
Neste contexto, é preciso que a escola, o ensino da Geografia sejam
mediadores das transformações da sociedade. Elas podem exercer essa função a
partir do momento em que consigam instrumentalizar os seus alunos para a luta
contra a exploração pelo capital. É o domínio do conhecimento, do saber
sistematizado que dará essa condição aos alunos provenientes das classes
trabalhadoras.
Na interpretação de Oliveira (1996 p. 63), a relação do homem com sua
realidade social não são imediatas, mas mediatizadas pela apropriação do
conhecimento científico. Por outro lado, Kaercher (1997) afirma que conscientizar
é tomar posse da realidade. Ler o mundo de modo plural, aberto e em movimento.
Afirma ainda que se a escola for um espaço de diálogo e de questionamento
estaremos deixando boas sementes para que essas qualidades – diálogo e
questionamento, - se enraízem pelas demais instituições da sociedade.
De acordo com as Diretrizes Curriculares de Geografia da Secretaria de
Estado da Educação do Paraná, o ensino da Geografia na Educação Básica deve
contribuir com a formação de um cidadão capaz de compreender o espaço
geográfico, nas mais diversas escalas, e atuar de maneira crítica na produção
socioespacial do seu lugar, território, região, enfim, de seu espaço. Para isso, não
se deve simplesmente apresentar o conteúdo que será trabalhado, é necessário
que o professor faça uma problematização inicial de forma a mobilizar o aluno
para o conhecimento.
(...) Outro pressuposto metodológico para a construção do conhecimento
em sala de aula é a contextualização do conteúdo. Na perspectiva
teórica destas Diretrizes, contextualizar o conteúdo é mais do que
relacioná-lo à realidade vivida do aluno, é, principalmente, situá-lo
historicamente e nas relações políticas, sociais, econômicas, culturais,
em manifestações espaciais concretas, nas diversas escalas
geográficas. (DCEs GEOGRAFIA/PR, 2008).
Kaercher (1997) também destaca a importância política do ensino da Geografia:
“creio que a geografia pode ser um instrumento valioso para elevarmos a
criticidade de nossos alunos. Por tratar de assuntos intrinsicamente
polêmicos e políticos, a Geografia pode gerar um sem número de
situações – limite, quebrando-se assim a tendência secular de nossas
escolas como algo tedioso e desligado do cotidiano”.
A prática pedagógica tem um papel fundamental na formação do indivíduo.
Ressalta Vieira (2004) que:
“o principal da educação dentro do processo de formação do indivíduo é
levá-lo a compreender que sua existência como ser humano vai além de
sua existência empírica, ou seja, levá-lo a se apropriar do conhecimento
sistematizado como forma de lhe garantir bases sólidas de pensamento
para a compreensão crítica de sua realidade”.
Assim, o conhecimento científico além de permitir ao educando uma leitura
crítica do espaço, pode ainda contribuir para que ele trace estratégias e adote
posturas capazes de nele interferir de forma significativa, colaborando para uma
sociedade com menos desigualdade social.
A DESPOLITIZAÇÃO DA COMUNIDADE LOCAL
Na comunidade onde está situada a Escola Estadual 29 de Novembro –
Ensino Fundamental, grande parcela da população se caracteriza pela
passividade, submissão, manipulação e alienação, por isso são facilmente
manipulados pela classe dominante, principalmente aqueles que sofrem as
consequências nefastas de uma sociedade excludente. Entre estes, apesar das
dificuldades enfrentadas como baixo salário, extensas jornadas de trabalho, falta
de moradia, falta de atendimento médico e uma alimentação de qualidade, muitos
agem de maneira bastante submissa e apolítica. Não se organizam, não lutam, se
permitem “cabrestos3”, são manipulados por uma minoria que detém o poder
político e econômico. Quando questionados sobre os problemas enfrentados, é
comum afirmarem que “nada muda”, que “devem ainda agradecer pelo pouco que
recebem”, que “devem dar graças a Deus pelo trabalho que têm”, “ que ocorre a
fome no mundo por não ter alimento suficiente para todos”, que “devem aproveitar
a época de eleições para receber cestas básicas, tijolos, entre outros”.
Essas considerações são resultados das experiências que se vive no
cotidiano da comunidade escolar. Esse modo de vida pode ser percebido no
contato com os alunos, com seus familiares por ocasião da entrega de boletins
escolares e nas reuniões para assuntos relacionados às atividades pedagógicas.
A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
A Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR) iniciou em
2007 um programa de Capacitação Continuada (PDE), onde os professores do
Nível II, Classe 11, estão aptos a concorrer a uma vaga para o aprimoramento
dos conhecimentos. Ao ingressar no programa retomam os contatos com as
Universidades, cujo objetivo principal é o de renovar e ampliar os conhecimentos
científicos da disciplina específica de atuação e também pedagógicos, bem como
produzir novos conhecimentos sobre o processo ensino aprendizagem.
Em 2008, na continuidade do programa, foi classificada a segunda turma.
Assim como na primeira, cada professor, em sua disciplina, frequentou os cursos
e os debates promovidos nas Universidades paranaenses onde se debateram
importantes temas concernentes ao conhecimento específico das diversas áreas
do conhecimento.
Ao ingressar no programa PDE-PR, cada professor assumiu o
compromisso com a SEED/PR de participar efetivamente de toda a programação
oferecida, tutoria do Grupo de Trabalho em Rede, produção de material didático,
implementação da proposta de intervenção na escola de atuação, sob a
3 Algo que reprime,controla, subjuga.
orientação de um professor de uma Instituição de Ensino Superior (IES), além da
produção de um artigo científico.
A motivação para a participação no programa, foi a oportunidade de
estudar, debater questões relevantes para a educação paranaense e
principalmente produzir conhecimento o qual pudesse contribuir de forma
significativa para a melhoria da qualidade de ensino na Escola Estadual 29 de
Novembro – Ensino Fundamental do município de Araruna – Paraná. Escola em
que a autora é professora efetiva da disciplina de Geografia.
A experiência vivenciada em sala de aula, permitiu a constatação de um
sério problema enfrentado pelos alunos: um conformismo e uma apatia ante a
realidade social vivida por eles. Por isso, pensou-se em abordar a alienação, a
falta de atitude política das pessoas e suas repercussões no espaço geográfico, e
com isso, demonstrar que a situação socioeconômica da grande maioria da
população nada mais é do que o resultado das ações humanas. E também que,
para reverter o processo das desigualdades, seria necessário subsidiar os
indivíduos para uma percepção e leitura menos ingênua do espaço geográfico
produzido e organizado a partir da classe mais privilegiada. Para fazer essa
abordagem sem perder a especificidade da geografia, foi decidido propiciar aos
alunos um estudo aprofundado sobre a fome no mundo, uma das piores formas
de desigualdade. Assim, o tema “Fome Mundial” foi o escolhido para se trabalhar
com os alunos do Ensino Fundamental. Ao longo da carreira profissional verificou-
se que a maioria dos alunos dessa escola são provenientes da classe menos
favorecida, por isso o nível de conhecimento dos pais e familiares é muito baixo.
Esse baixo grau de escolaridade gera na grande maioria da população um grande
conformismo. Diante dessa realidade se estabeleceu o principal objetivo, o qual
foi o de permitir ao aluno, por meio de um conhecimento sistematizado amplo e
reflexivo sobre a “fome mundial” desvendar as máscaras sociais e as
contraditórias relações de classe, bem como subsidiá-los para atitudes mais
críticas e políticas no espaço de vivência, a comunidade da Escola Estadual 29 de
Novembro – Ensino Fundamental do município de Araruna – Paraná.
Para a execução das ações previstas no programa elaborou-se o projeto
de intervenção pedagógica “A Análise da Fome Mundial por meio do Ensino da
Geografia: um caminho possível para o despertar da atitude política local”. O
mesmo foi disponibilizado na plataforma moodle4 na site
http://www.pde.pr.gov.br/modules/noticias/, onde os professores da SEED-Paraná
através de inscrição prévia e posterior certificação, puderam participar.
A socialização dos estudos e reflexões obtidos com a participação dos
professores foi um momento muito importante. As informações e sugestões
disponibilizadas pelo grupo se constituíram no ponto de partida para que a
implementação da proposta se efetivasse e de forma satisfatória.
O projeto também previu que a Unidade Didática fosse disponibilizada e
discutida em grupo, pelos professores da SEED-PR através de Grupo de
Trabalho em Rede pelo sistema moodle. A análise da Unidade Didática pelos
professores de Geografia da Escola e pelos professores do Grupo de Trabalho
em Rede do SEED-PR (para verificação da adequação idade/série, atendimento
às DCEs/PR e relevância para a comunidade local) possibilitou um respaldo
importante para a aplicação do projeto. Foi o momento em que além dos
conteúdos específicos da disciplina de Geografia, também foram analisados a
linguagem, as ilustrações e a metodologia Histórico Crítica utilizada, que como
proposta teórica, analisa o espaço geográfico a partir de suas contradições,
buscando respostas na história, reportando a outros tempos e espaços para
responder aos problemas vivenciados na atualidade.
As contradições postas no espaço geográfico foram analisadas
dialeticamente, com o objetivo de “desmascarar” e elucidar os diversos fatores e
atores sociais da organização espacial, e assim, permitir aos alunos serem eles
protagonistas de sua própria história.
Como os manuais didáticos utilizados nas escolas do Ensino Fundamental
não incluem em seu rol de conteúdos, um estudo aprofundado sobre a fome
mundial, o primeiro encaminhamento para a implementação do projeto foi, com o
aval dos professores de geografia da escola, a inclusão no Plano de trabalho
Docente para os anos 2008/2009. O Texto incluído para se trabalhar com as 8ªs
4 Moodle é um sistema de administração de atividades educacionais destinado à criação de
comunidades on-line, em ambientes virtuais voltados para a aprendizagem - MOODLE.
Sítio, 2005. Disponível em http://moodle.org.
séries, foi o da Unidade Didática “A Fome Mundial” produzido especialmente para
esta unidade.
Como foi consenso entre os professores da disciplina de Geografia da
Escola Estadual 29 de Novembro – Ensino Fundamental, todos os alunos das 8ªs
séries iniciariam o ano letivo de 2009 fazendo um estudo detalhado sobre a Fome
Mundial. Paralelamente, em contra turno, os alunos da série se reuniriam para
debater e aprofundar os conhecimentos relativos ao tema. O objetivo principal foi
cumprir a tarefa de se produzir um material didático para posteriormente ser
utilizado por eles próprios, como recurso para ministrarem mini-aulas para as 5ªs
séries da mesma escola e organizarem a exposição de cartazes para os demais
alunos e comunidade escolar.
Essa etapa foi a que demandou mais tempo, cerca de um trimestre, uma
vez que compreenderam ações como a problematização do tema, leituras,
análise dos textos lidos, debates e a realização das atividades inseridas no
decorrer de toda a Unidade Didática.
Na seqüência apresentam-se os questionamentos e as atividades
propostas na Unidade Didática os quais objetivaram a superação do senso
comum e a evolução para um conhecimento sistematizado e consciente:
1 – Como pode nosso semelhante chegar nessa situação? Morrer de fome é a
maior crueldade por que pode passar um ser humano. Mas então, por que isso
acontece? Se existe alimento suficiente, por que existe a fome? Quais serão as
causas?
2 – Como pode um ser humano não suprir uma necessidade tão básica para sua
subsistência? Como é possível a esse ser, viver como um animal a revirar o lixo
para encontrar comida? Será este um problema recente do mundo globalizado?
Ou a fome já acompanha toda a história do homem? Será muita gente e pouca
comida?
3 – A equiparação entre crescimento na produção de alimentos e crescimento
populacional tem permitido a todos o necessário para a sua alimentação?
4 – E a chamada Revolução Verde, não contribuiu para o aumento da produção?
Mas então porque a desnutrição e a fome? Em que países elas são mais graves?
5 – E a nova Revolução Verde, também é apenas um sonho?
6-Em sua opinião qual a condição de vida de quem vive abaixo da linha da
pobreza?
7 – Os países subdesenvolvidos, não o são, por razões naturais, mas, por razões
históricas. Circunstâncias históricas desfavoráveis, principalmente o colonialismo
político e econômico mantiveram estas regiões à margem do rápido processo
evolutivo da economia mundial. Faça uma pesquisa sobre isso.
8 – Que produtos tem sido usados no Brasil para a fabricação de
biocombustíveis? A fabricação desse produto tem contribuído para o aumento nos
preços dos alimentos? Por quê?
9 – Existem em sua comunidade pessoas que passam fome? O que pode ser
feito para minimizar esse mal?
10 – Faça uma entrevista na sua comunidade com integrantes da Pastoral da
Criança e descubra o que tem sido feito para combater a subnutrição.
11 – Pesquise quais alimentos são ricos em vitamina A.
12 – Faça uma pesquisa sobre transgênicos, ressaltando pontos positivos e
negativos.
13 – Monte um painel com recortes de revistas e jornais que retratem a fome em
diversos lugares do mundo.
14 – Observe o espaço georáfico onde vive e descreva como se dá a organização
desse espaço. Caso exista desigualdade social, explique o que deve ser feito e
por quem, para melhorar a situação.
Também foi pesquisado os dados socioeconômicos, Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) do município de Araruna e demais municípios do
Paraná. Todo esse trabalho foi também supervisionado pela equipe pedagógica
da escola.
Essa Unidade Didática foi produzida com o objetivo de desmascarar a mais
cruel forma de desigualdade existente - a fome -, buscou explicações para suas
causas e consequências. Isso só é possível, ao nosso entender, por meio de um
aprofundado e minucioso estudo capaz de subsidiar o aluno para um
entendimento de que esse mal se deve mais às questões humanas do que às
causas naturais, sendo, portanto passível de mudança, desde que haja atitudes e
vontade política.
A referida Unidade Didática “Fome Mundial” utilizada como material
didático foi estruturada em treze etapas, iniciando com um questionamento
investigatório para se diagnosticar a visão do aluno em relação ao tema e também
através de dados estatísticos mostrar que o volume de alimento produzido é
suficiente para alimentar toda a população mundial. Também fez uma
diferenciação entre fome crônica e fome transitória, relacionando-as às questões
históricas e naturais respectivamente.
Selecionou-se textos que expuseram um histórico sobre a fome, desde os
primórdios da existência do homem, os quais permitiram também uma reflexão
sobre o crescimento da população mundial, a Revolução Industrial e suas
correlações com a fome. Analizou-se também a chamada Revolução Verde, a
qual, apesar de ter contribuído com o aumento da produção de alimentos, não
conseguiu aplacar a fome de milhões de pessoas, uma vez que ela fome não se
deve a baixa produção de alimentos, mas sim a forma como ocorre sua
distribuição. Da mesma forma, a também chamada de Nova Revolução Verde ter
se constituído apenas num sonho, uma vez que, apesar das revoluções científicas
e tecnológicas, as concentrações do poder econômico e o acesso a terra
continuaram. O permite a constatação de que se os pobres não têm dinheiro para
comprar comida, de nada adianta somente aumentar a produção.
Ainda em relação ao texto, o mesmo enumera as diversas causas da fome
e estimula a reflexão sobre alguns mitos a ela relacionados. Entre estes, o de que
a fome existe porque não se produz alimentos suficientes, que há poucas terras
cultiváveis e que há áreas com superpopulação. Apresenta também as
consequências nefastas da fome para uma enormidade de pessoas as quais
ficam vulneráveis a desnutrição, retardamento mental, cegueira, anemia,
raquitismo, entre outros. O mesmo texto apresenta os números e dados
estatísticos com relação a quantidade de subnutridos, mortes, doentes, conflitos
pela falta de alimentos no mundo e no Brasil.
Para os dados sobre a fome no Brasil se fez um trabalho mais incisivo.
Solicitou-se que os alunos pesquisassem também a realidade do município de
Araruna e do estado do Paraná, onde imaginavam não existir esse problema.
Completando estas considerações, na Unidade Didática se apresentou reflexões
sobre a elevação dos preços dos principais alimentos nos últimos tempos e suas
causas e conseqüências para o agravamento da fome. Os resultados
surpreenderam os alunos.
Finalizando, o texto faz referência às responsabilidades do ser humano em
relação a minimização e erradicação desse mal que há tempo assola grande
parcela da humanidade. Enfatiza que se a humanidade, com todo o avanço
científico e tecnológico atingido até então, como até a conquista da Lua, ainda
não conseguiu minimizar a fome no mundo e diminuir a pobreza na Terra é
porque não houve ações efetivas e vontade política para tal.
De posse da Unidade Didática, o primeiro passo foi a motivação das
turmas, considerando a importância de sensibilizá-los e conquistá-los para um
maior engajamento nos trabalhos posteriores. O sucesso do projeto dependia
dessa conquista. Então, conquistá-los, conseguir o envolvimento da maioria deles
se tornou um dos principais objetivos da etapa. Objetivos esses atingidos, haja
vista que a grande maioria participaram ativamente e de maneira satisfatória.
A IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA
As 8ªs séries são compostas por um total de 107 alunos na faixa etária
entre 13 a 16 anos. A proposta de trabalho envolveu de forma direta esses
alunos, por serem na escola os mais preparados para protagonistas dessa
proposta. De forma indireta, os alunos das 5ªs séries num total de 193, e na faixa
etária de 09 a 11 anos. Foram alvos e assistiram as mini-aulas ministradas pelos
alunos das 8ªs séries.
Essa estratégia foi utilizada porque a linguagem e o linguajar das 8ªs são
mais apropriadas para a faixa etária dos alunos das 5ªs. A utilização de uma
linguagem mais atrativa é mais uma possibilidade de engajamento para a
efetivação da proposta. Para problematizar o tema, foi exibido um recorte do filme
Amor Sem Fronteiras dirigido por Martin Campbell, e vídeos disponibilizados no
site do You Tube como A Pobreza, de Priscila Karem, Ilha das Flores, do Diretor
Jorge Furtado, Duas Classes...duas vidas...várias escolhas, do ENEEnf, de
Cristiano A. Silva, O que você tem a ver com a corrupção, do MP e TC de Santa
Catarina, além de reportagens, mapas, gráficos e fotos (Youtube.com, 2009).
Outro momento importante foi descobrir o ponto de partida, ou seja, qual o
conhecimento espontâneo apresentado pelos alunos. Para isso, foi aplicado um
questionário onde todas as questões apresentavam um quadro de opções para
que o aluno assinalasse a que considerasse mais correta. Foi perguntado a eles:
a) A quantidade de alimento produzida no mundo é suficiente para alimentar toda
a população da Terra?
b) A fome existe em decorrência de condições naturais (secas, geadas, solos
pobres etc) ou é uma consequência da atuação do homem? (má distribuição da
riqueza?)
c) O que precisa ser feito para acabar com a fome no mundo?
d) Em que regiões do nosso planeta você sabe que existe um grande número de
pessoas passando fome?
e) Qual a principal causa da fome no Nordeste brasileiro?
f) A quem cabe a responsabilidade de tomar medidas para diminuir a fome na
Terra?
Posteriormente se fez a tabulação dos dados. O resultado permitiu saber o
ponto de partida para a superação do conhecimento prévio “senso comum” e
quais as intervenções necessárias para uma mudança de atitude do aluno.
Constatou-se que a grande maioria deles não apresentava conhecimento além do
senso comum.
Na análise das respostas obtidas no questionamento, constatou-se que
grande parte, cerca de 90%, atribuía a fome no mundo à falta de alimentos.
Quando questionados sobre onde existem pessoas passando fome, cerca de 80%
deles afirmaram ser na África e no Nordeste brasileiro. Não fizeram referência aos
que passam fome também nos países desenvolvidos ou emergentes, na periferia
das grandes e pequenas cidades além daqueles que vivem no campo.
Um outro dado interessante foi que 80% pensam que a responsabilidade
em resolver o problema é dos governantes. Entendem as eleições dos nossos
governantes como sendo um fato totalmente desvinculado da atitude dos
cidadãos, ou seja, não se percebem com poder de decisão e mudança. Quando
questionados sobre o que seria pior, morrer 300 crianças num acidente de avião
ou uma criança a cada sete segundos no mundo devido a fome, cerca de 85%
responderam que era mais grave a morte de crianças num acidente de avião.
Ficou evidente então o poder da mídia na divulgação e exploração das fatalidades
em detrimento da ocultação da miséria provocada pela ganância capitalista.
Mostrou-se os resultados finais da pesquisa para os próprios alunos das
8ªs séries. Aproveitou-se a oportunidade para trabalhar os resultados, mostrando
que os mesmos refletem os conhecimentos e que estes não passam do senso
comum. Disponibilizou-se o “material didático” para terem contato ao
conhecimento sistematizado. Efetuou-se a leitura, debate, análise e realizou-se as
atividades de interpretação do texto.
Mesmo não apresentando uma problemática alimentar séria, foi
pesquisado também pelos alunos, no site do IPARDES (Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social) a situação da pobreza no Estado do
Paraná através dos censos socioeconômicos do IBGE e análise do IDH do Estado
(IPARDES 2009).
Também foi realizada uma entrevista com a Sra Ramos da Silva,
Coordenadora da Pastoral Da Criança da cidade de Araruna/PR, ( SILVA 2009)
tendo como objetivo se conhecer a realidade apresentada pelo município.
Uma outra ação foi a de pesquisar e divulgar receitas de alimentos
alternativos, visando o reaproveitamento de alguns produtos ou partes deles,
quando descartados no preparo, e consequentemente combater o desperdício.
Ao todo, foram distribuídas trinta e duas receitas, atendendo a mais um objetivo
da proposta. A maioria das receitas tinha como principais ingredientes básicos,
sobras de alimentos, talos, folhas e cascas de vegetais consumidos no dia-a-dia.
Dentre as receitas apresentadas, as mais interessantes foram: torta de sobras de
arroz, massa de pizza com sobras de arroz, suflê de sobras de legumes, bolo de
casca de mamão, suflê de folhas de couve flor, farofa com sobras de macarrão,
bolo de casca de banana, refogado de bananeira e palmito de bambu.
Apesar do texto “A Fome Mundial” (Anexo 2), apresentar uma linguagem
adequada para a idade/série percebeu-se algumas dificuldades na interpretação,
o que, na medida do possível, foi sanado com a intervenção da professora.
Percebeu-se também que grande parte dos alunos teve um aproveitamento
satisfatório a ponto de pelo menos superarem o conhecimento empírico.
Finalmente, compreenderam que a organização do espaço e as condições
socioeconômicas da atualidade é o resultado das ações que os homens
estabelecem entre si e com a natureza, sendo portanto passível de mudança.
Mudanças essas que podem beneficiar a todos. Apenas uma minoria se manteve
pessimista e resistente com relação às mudanças necessárias para se reverter o
quadro de desigualdade social materializado no espaço geográfico. Para
exemplificar a constatação eis algumas respostas pós trabalho com os alunos
(transcritas na íntegra):
a) Qual a sua opinião sobre a distribuição de cestas básicas em época de
eleição?
“Temos é que agradecer o pouco que fazem pela gente”.
b) Qual a importância do “Bolsa Família” para a população carente?
“Bolsa Família só serve para sustentar vagabundo”.
c) Por que existem tantos pobres?
“Porque tem preguiça de trabalhar”.
d) Você acredita ser importante a mobilização das pessoas para o enfrentamento
da pobreza?
“Cada um que se vire como pode”.
Depois de ter sido trabalhado e debatido o texto da unidade didática,
acredita-se que os alunos adquiriram pré-requisito, ou seja, conhecimento
suficiente para serem agentes repassadores de informações acerca das reais
causas e consequências da fome no mundo.
A etapa seguinte foi a preparação das mini-aulas aplicadas pelos alunos
das 8ªs para as 5ªs séries e a exposição dos cartazes.
Para as mini-aulas, os alunos das 8ªs séries frequentaram por vários dias o
laboratório de Informática da Escola, onde prepararam slides no power pointer
com fotos e frases, as quais enfocaram o tema “a fome – causas e
consequências”. Para a confecção dos cartazes, buscaram imagens na internet,
elaboraram frases relevantes ao tema, como exemplo “é mentira que a fome
existe porque não tem alimentos suficientes para todos”, “a fome no mundo, em
sua maior parte, é consequência de atitudes humanas”, “a falta de alimentos pode
provocar as chamadas doenças da fome: anemia, bócio endêmico,
hipovitaminose A e raquitismo”, “a miséria e a fome são males provocados pelo
capitalismo”, “as elites do poder econômico, dominam também o poder político”,
“a fome é o pior crime que a sociedade pode cometer”, “atitudes políticas de todos
os cidadãos são necessárias para se combater a ineficiência do poder político”.
As mini-aulas e a sessão de apresentação dos cartazes ocuparam
também o contra-turno. Os alunos das 8ªs séries explicaram para os das 5ªs
séries e para os demais que participaram da exposição, os reais significados das
frases expostas.
A utilização de imagens foi uma estratégia escolhida, por se tratar de um
recurso importante pelo papel na instrumentalização do conhecimento.
Fotografias e frases bem elaboradas compondo os cartazes são formas bastante
atrativas de expor um conhecimento. A imagem constituiu-se no paradigma mais
significativo para o desenvolvimento do conhecimento no século XX (SERPA,
2004).
Além da apresentação dos cartazes na escola, cópias foram distribuídas e
ou afixadas em pontos estratégicos da comunidade, com o objetivo de envolver
um maior número de pessoas e também porque é uma forma rápida, prática e
atrativa de se abordar e socializar um conhecimento.
O painel feito e exposto pelos alunos despertou a atenção da comunidade
escolar para o problema abordado. Mesmo os funcionários, professores, alunos e
pais que não estavam diretamente envolvidos com o projeto, puderam entender a
mensagem transmitida pelos cartazes expostos. Essa atividade com os painéis foi
programada como a sétima ação desenvolvida pelos alunos. Foi montado na
véspera da realização das mini-aulas, e por utilizar imagens e frases, tornou-se
um atrativo a mais na programação.
Após a preparação dos slides no laboratório de informática, foi o momento
dos alunos exercitarem a fala para ministrarem a palestra (mini-aulas).
Primeiramente fizeram sessões de ensaio, onde foi possível se fazer correções e
ajustes. Ainda como ensaios, fizeram uma sessão de apresentação para a própria
turma, com o objetivo de exercitarem e aumentarem a segurança, onde também,
puderam cronometrar o tempo, uma vez que as mini-aulas durariam 45 minutos
cada, aproximadamente.
Preparados, os alunos das 8ªs Séries apresentaram VIII sessões, para
todas as 5ªs séries. De modo geral, os alunos se mostraram receptivos e
interessados, uma vez que os apresentadores eram os seus próprios colegas. O
mais interessante foi a constatação de que, por se tratar de colegas, despertou-se
o interesse da grande maioria e durante as sessões o clima foi harmonioso e
disciplinado.
Quando questionados pelos alunos palestrantes sobre o problema da fome,
os alunos de 5ªs séries manifestaram o conhecimento do senso comum, como “a
fome existe porque não tem comida para todo mundo”, “que a fome existe na
África” etc., assim como o manifestado anteriormente pelos alunos das 8ªs séries.
Ao término das mini-aulas, foi possível perceber que os alunos de 5ª série,
apesar da faixa etária, conseguiram evoluir de um conhecimento do senso comum
para um conhecimento mais sistematizado. Manifestaram um entendimento de
que a fome no mundo se deve a razões históricas podendo então ser minimizada
se houver interesse político e posicionamento de efetiva participação das pessoas
para isso. Inclusive fizeram algumas críticas à compra de votos em épocas de
eleições e à corrupção de modo geral.
Aos alunos de 8ªs séries, mesmo não tendo sido atribuído nenhuma “nota”
para o trabalho, demonstraram bastante interesse, foram responsáveis,
cumpriram todos os horários agendados. Realizaram com atenção e dedicação
todas as atividades propostas, conseguiram entender a importância da
participação de cada cidadão na construção de um espaço geográfico melhor. O
entendimento foi concretizado a partir das estratégias e dos materiais utilizados
para as sessões das mini-aulas.
A evolução e o amadurecimento do conhecimento empírico para um
conhecimento sistematizado puderam ser comprovadas através da análise das
respostas sobre o questionamento: Quem são os responsáveis pela desigualdade
social? Onde, 91% deles afirmaram “ser do próprio homem que muitas vezes se
acomoda diante da situação, também dos que se deixam corromper e ainda
daqueles que só visam enormes lucros”.
Questionados sobre quem são os responsáveis pela fome ou subnutrição,
a maioria deles, cerca de 86% afirmaram “que a fome não deve ser atribuída
apenas aos que não tem o que comer na África e ou, no Nordeste brasileiro, mas
sim aos que vivem na pobreza em qualquer parte do mundo, inclusive nos países
ricos” e ainda que “passar fome é também não consumir alimentos com os
nutrientes adequados para uma boa saúde”. Perguntado a quem cabe resolver a
situação de desigualdade, 93% afirmaram “ser de todos nós e não apenas da
classe política, uma vez que estes são colocados nos cargos públicos pelos seus
eleitores”.
Nesse sentido, a proposta de trabalho com os alunos da Escola conseguiu
provocar a indignação de todos diante de tamanha crueldade por que passam
cerca de 925 bilhões de pessoas no mundo, desmistificar as causas e
“desmascarar” os responsáveis por essa situação bem como alertá-los sobre a
importância da atitude política das pessoas para se reverter o quadro das
profundas desigualdades. A forma encontrada para fazer com que os alunos das
8ªs séries se percebessem agentes de transformação, foi através do
conhecimento adquirido e socializado com as 5ªs séries por meio das mini-aulas e
com os demais alunos e com a comunidade local, por meio da exposição dos
cartazes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na experiência de 20 anos como educadora, constatou-se que a maioria
dos educandos bem como seus familiares, demonstram ações e atitudes
apolíticas no seu espaço de vivência. Isso, não se dá de forma diferente,
provavelmente também com a maioria da população brasileira.
A escolha do tema possibilitou uma profunda reflexão na comunidade,
principalmente a diretamente envolvida (8ªs e 5ªs séries). A fome, pelo que se
pôde constatar era tida como algo natural, estático e imutável. A partir da
aplicação desse projeto, percebeu-se que houve uma ampliação da compreensão
do espaço geográfico e o mais interessante, que a sociedade se constitue em
agente da construção/transformação desse espaço.
Comumente, o tema “Fome Mundial” não faz parte dos conteúdos
propostos nos manuais didáticos destinados aos alunos do Ensino Fundamental.
Quando o tema é abordado, é de forma superficial e não contextualizada. Dessa
forma, foi elaborada uma Unidade Didática, a qual procurou tratar o tema de
forma aprofundada e consistente, numa linguagem adequada e utilizando
atividades que permitiram o desenvolvimento de um trabalho teórico-metodológico
que culminasse na aprendizagem dos alunos.
Humildemente, o principal objetivo foi o de jamais mudar a realidade da
sociedade de Araruna, mas sim, acima de tudo, lançar, através da educação a
“semente” que se “cultivada” poderá render bons frutos. Toda discussão sobre o
tema teve por finalidade, além do acesso ao conhecimento sistematizado,
possibilitar aos alunos uma reflexão crítica sobre o espaço geográfico e a
percepção das “entrelinhas” de que, o que está materializado no seu espaço,
pode ser modificado em benefício da sociedade, tornando-a mais igualitária, mais
justa, e que mudanças ocorrem quando pessoas se posicionam e agem diante
das injustiças.
Se o propósito não foi plenamente alcançado, ao menos forneceu e
subsidiou aqueles alunos e diversos personagens da sociedade local para uma
desalienação, motivando-os a uma efetiva participação.
REFERÊNCIAS
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Guarulhos: Nova Fronteira, 2004.
CASTRO, Josué de. O livro negro da fome. São Paulo: Brasiliense, 1968.
DEMO, Pedro; Pobreza Política. Campinas: Autores Associados, 1988.
DEMO, Pedro;. Solidariedade como efeito de poder. São Paulo: Cortez, 2002.
IPARDES, www ipardes.gov.br/ Índice De Desenvolvimento Humano Municipal
Segundo Os Municípios Do PARANÁ - 1991/2000. Acesso em: 08/05/2009.
KAERCHER, Nestor André. Desafios e utopias no ensino de Geografia. Santa
Cruz do Sul: Edunisc, 1997.
OLIVEIRA, B. O trabalho educativo: reflexões sobre paradigmas do pensamento
pedagógico brasileiro. Campinas: Associados, 1996.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.
Diretrizes Curriculares de Geografia para o Ensino Fundamental. Curitiba:
SEED, 2006.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia nova. São Paulo: Hucitec, 1978.
SERPA, F.P. A imagem como paradigma. Rascunho digital. Salvador,
Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, 2004. Disponível em
<http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/178.htm>. Acesso em: 08 jul..
2008.
VIEIRA, N. R.. A educação escolar e o conhecimento geográfico: para um
ensino de geografia além da realidade imediata do aluno. 2004. Tese
(Doutorado) – Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente –
Campus da UNESP, Presidente Prudente, 2004. Disponível em
http://scholar.google.com/scholar?q=a+educa%C3%A7%C3A3o+escolar+e+0+co
nhecimento+geogr% Acesso em 20/04/2008.
Fonte Oral
SILVA, I.R. Coordenadora da Pastoral da Criança de Araruna/PR. Entrevistada
em 08/06/2009.