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ANÁLISE DA MELHORIA DE UM SISTEMA DE BUSINESS INTELLIGENCE NO SETOR PÚBLICO: UM ESTUDO DE CASO NA SEFAZ-PI felipe moreira caland bastos (UFPI) [email protected] Eulalio Gomes Campelo Filho (UFPI) [email protected] MILCIADES PEREIRA DA SILVA JUNIOR (UFPI) [email protected] laizys val de oliveira (UFPI) [email protected] Business Intelligence é um conceito que aborda série de ferramentas que estruturam dados a fim de obter informações úteis, fomentando o processo de tomada de decisão. As ferramentas do BI, tais como data warehouse, data mart, OLAP e data mining, proporcionam diversos benefícios na análise de dados, como por exemplo, tendências, customização de relatórios, entre outros. Embora o uso de sistemas de BI seja mais comum dentro de organizações privadas, sua utilização possuem diversos benefícios quando aplicado no setor público. O objetivo desse trabalho é verificar os benefícios que um sistema de BI proporcionou para um órgão do setor público brasileiro, cujo objeto de estudo foi a Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí, mais precisamente o setor de monitoramento de empresas com alto grau de arrecadação tributária. Os principais achados foram as melhorias trazidas no tocante aos relatórios emitidos pelo órgão, tais como a rapidez na emissão e a customização dos mesmos, o que vem tornando o processo de tomada de decisão mais ágil, corroborando com as características apresentadas na literatura. Palavras-chave: Business Intelligence, SEFAZ-PI, monitoramento XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

ANÁLISE DA MELHORIA DE UM SISTEMA DE BUSINESS ...abepro.org.br/biblioteca/TN_STP_213_263_27621.pdf · O termo Business Intelligence foi apresentado nos anos 80 por uma empresa de

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ANÁLISE DA MELHORIA DE UM SISTEMA DE

BUSINESS INTELLIGENCE NO SETOR PÚBLICO:

UM ESTUDO DE CASO NA SEFAZ-PI

felipe moreira caland bastos (UFPI)

[email protected]

Eulalio Gomes Campelo Filho (UFPI)

[email protected]

MILCIADES PEREIRA DA SILVA JUNIOR (UFPI)

[email protected]

laizys val de oliveira (UFPI)

[email protected]

Business Intelligence é um conceito que aborda série de ferramentas que

estruturam dados a fim de obter informações úteis, fomentando o processo de

tomada de decisão. As ferramentas do BI, tais como data warehouse, data mart,

OLAP e data mining, proporcionam diversos benefícios na análise de dados,

como por exemplo, tendências, customização de relatórios, entre outros. Embora

o uso de sistemas de BI seja mais comum dentro de organizações privadas, sua

utilização possuem diversos benefícios quando aplicado no setor público. O

objetivo desse trabalho é verificar os benefícios que um sistema de BI

proporcionou para um órgão do setor público brasileiro, cujo objeto de estudo foi

a Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí, mais precisamente o setor de

monitoramento de empresas com alto grau de arrecadação tributária. Os

principais achados foram as melhorias trazidas no tocante aos relatórios

emitidos pelo órgão, tais como a rapidez na emissão e a customização dos

mesmos, o que vem tornando o processo de tomada de decisão mais ágil,

corroborando com as características apresentadas na literatura.

Palavras-chave: Business Intelligence, SEFAZ-PI, monitoramento

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1- INTRODUÇÃO

A facilidade de obtenção de informações desencadeada pela crescente utilização de Tecnologia

da Informação (TI) nas empresas está ocasionando uma saturação de informações e uma grande

dificuldade de selecionar quais destas são necessárias para o planejamento ou tomada de

decisões, consequentemente, quais destas é preciso transformar em conhecimento. Essa seleção

das melhores informações através de uma análise detalhada e interpretação correta de um grande

volume de dados e, assim, adquirir o melhor conhecimento possível faz parte de um mecanismo

de apoio à decisão conhecido como Business Intelligence (BI).

O termo Business Intelligence foi apresentado nos anos 80 por uma empresa de consultoria na

área de TI, a Gideon Gartner. O BI é uma ampla categoria de tecnologias e ferramentas para

unificar, analisar e prover acesso a dados a fim de melhorar o processo da tomada de decisão no

ambiente empresarial, bem como no setor público.

Munido das informações anteriores, o objetivo proposto do trabalho foi analisar como as

ferramentas do Business Intelligence contribuiram para o auxílio da tomada de decisão no setor

da GESAF (Gerência de Suporte da Ação de Fiscalização) pertencente à Secretaria da Fazenda

do Estado do Piauí- SEFAZ, cuja principal função é o monitoramento das empresas com maiores

arrecadações tributárias no Estado do Piaui. De acordo com Slomski (2009), o contribuinte é

analogamente um sócio para o governo, tendo em vista que os impostos arrecadados são usados

como ativo estatal.

A escolha do objeto de estudo foi, primeiramente, devido à escassez de pesquisas cujo ambiente

de estudo foram setores públicos, o que torna o presente trabalho com caráter inovador. O

segundo motivo foi a importância do setor estudado por se tratar da verificação e do controle de

dados relativos à arrecadação tributária, visando à eficiência da administração pública.

2- Referencial Teórico

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2.1–Business Intelligence

Conforme a literatura relacionada, existem vários conceitos e caracterizações do BI. Para Borges

e Periotto (2010), BI captura dado que são favoráveis estrategicamente para a organização através

de manipulação dos mesmos em busca de informações para o negócio. Seguindo a mesma

abordagem, “As ferramentas de BI podem fornecer uma visão sistêmica do negócio e ajudar na

distribuição uniforme dos dados entre os usuários, sendo seu objetivo principal transformar

grandes quantidades de dados em informações de qualidade para a tomada de decisão”

(REGINATO; NASCIMENTO, 2007, p.75).

Conforme Negash (2004), o BI se caracteriza pela extração e integração de dados de diversas

fontes, além do uso da experiência, procurar relações de causa e efeito e transformar todos os

dados obtidos nessas atividades para informação útil a empresa. Loshin (2012) também suporta

esse raciocínio, sugerindo o BI como conjunto de conceitos para munir o processo decisório.

Sistemas de BI visam transformar dados em informações. De acordo com Grigori et al. (2004), a

agregação dos dados de uma forma limpa e o estudo dos mesmos traz um novo entendimento de

um acontecimento no passado e melhora o andamento dos processos atuais. Seguindo a linha,

Zeng et al. (2006) sugere que a importância do BI se refere à manipulação de dados pelos

operadores integrando-as com outras informações a fim de obter um resultado mais relevante.

A implantação de um Business Intelligence também traz flexibilidade e customização para a

elaboração de relatórios, por exemplo. Ranjan (2009) afirma que o usuário do sistema é apto a

formatar os dados contidos nos relatórios, tornando os relatórios mais flexíveis e dinâmicos.

Prosseguindo na mesma linha de raciocínio, Reginato e Nascimento (2007) apresentam que a

implantação do Business Intelligence traz benefícios na estruturação dos dados, organização e

rapidez no acesso as informações.

As ideias debatidas até agora tratam o BI como um conjunto de ferramentas e ideias. Por caráter

explicativo, alguns autores classificam essas ferramentas do Business Intelligence conforme o

quadro 1:

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Quadro 1: Ferramentas do BI

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FERRAMENTA DEFINIÇÃO

Data Warehouse Bancos de dados organizados de forma estruturada visando obter dados

analíticos e também a integração de todos os dados e partes do sistema,

construído de forma integrada para um determinado assunto e

representando um histórico do mesmo. A criação de Data Warehouse é

imprescindível para a estruturação dos dados e para que se tenha uma

análise apropriada dos mesmos, além de proporcionar rapidez na

obtenção de informações.

Data Mart É um subconjunto do DW e apresenta um papel de representação

departamental ou funcional, proporcionando dados classificados e

organizados.

OLAP (On-line

Analytical Processing)

Comumente chamada de aplicações sobre o negócio, permite a análise

das atividades no nível operacional a fim de suportar os estudos no nível

estratégico, interpretando mudanças e novas variáveis no tocante ao

negócio e mercado da organização. O OLAP permite a gerência e a

direção terem uma visão sistêmica da organização através de ferramentas

tais como dashboards com gráficos em barra, pizza e linha, além de

relatórios ad hoc, auxiliando a tomada de decisão de maneira

significativa.

Data Mining A “Mineração de Dados” representa a extração de informações contidas

nos Data Warehouses e Data marts cujo resultado é a obtenção de novas

perspectivas, padrões ou tendências onde a análise humana não os faria.

Para tal fim, utilizam-se conceitos tecnológicos e sofisticados, tais como

redes neurais, árvore de decisão, entre outros.

Fo

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6

nte: Elaborado a partir de Fortulan e Gonçalves Filho (2005), Reginato e Nascimento (2007), Singh

(2001), Affeldt e Silva Junior (2013), Batista et al. (2012), Ranjan (2009).

Tomando por base as informações apresentadas anteriormente, pode-se atribuir o Business

Intelligence como um instrumento relevante, suportando o processo decisório com recursos

tecnológicos de descobrimento de tendências e outras tarefas que seriam difíceis serem realizadas

pelo ser humano. Outro ponto forte proporcionado pelo BI diz respeito ao tempo de análise dos

dados, transformando em informações úteis para os gestores. Entretanto, não se pode esquecer-se

das dificuldades ao se implantar um BI. Segundo Quintanilha et al. (2009), as principais

desvantagens desta implantação são o alto custo, suporte técnico, custos extras com hardware e

software e a restrição de usuários.

2.2 – AMBIENTE DE ESTUDO: A SECRETARIA DE FAZENDA DO ESTADO DO

PIAUÍ (SEFAZ-PI) E O PAPEL DA GESAF

A economia do Estado do Piauí teve um PIB de cerca 24 bilhões no ano de 2011, possuindo uma

participação de aproximadamente 0,6% do PIB nacional. Mesmo com a pouca participação, o

Estado do Piauí teve um crescimento de 6% nos últimos anos, possuindo uma série de novos

investimentos e tendo uma perspectiva de crescimento muito promissora. Tomando por base esse

fato, são imprescindíveis as atividades de arrecadação de impostos, sendo elas desenvolvidas pela

Secretaria de Fazenda do Estado.

A Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí - SEFAZ-PI é um órgão resultante do processo de

desconcentração administrativa, em que o ente da administração direta, distribui suas varias

atribuições. Esta Secretaria foi atribuída a Capacidade Tributária Ativa, que abrange as atividades

de arrecadação de tributos, primordial para uma boa gestão da política financeira do Estado.

A SEFAZ-PI possui diversas gerências com papeis específicos a fim de tornar o trabalho mais

organizado e estruturado. De acordo com o Governo do Estado do Piauí (2010), a portaria GSF

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n⁰ 115/2010 afirma que uma dessas subdivisões é a Gerência de Suporte a Ação de Fiscalização

(GESAF) e sua principal função é o monitoramento das empresas com maiores arrecadações

tributárias no Estado. As empresas que são monitoradas pela GESAF são chamadas de

contribuintes e seus deveres e direitos devem estar de acordo com a legislação chamada RICMS

(Regulamento do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadoria e Prestações de

Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação).

Por se tratar de tarefas de levantamentos de relatórios e monitoramento de empresas com alto

valor de arrecadação, é necessário rapidez na análise de relatórios, facilidade no descobrimento

de tendências, rastreabilidade de possíveis irregularidades do contribuinte, volume considerável

de recursos, alto grau de relevância das informações contidas nos relatórios, entre outros. Ranjan

(2009) apresenta diversos benefícios do uso do BI, dentre eles a detecção e monitoramento de

comportamentos fraudulentos, encaixando-se nas atividades desenvolvidas pela GESAF.

Considerando as atividades realizadas pela Secretaria de Fazenda do Piauí e os benefícios e

aplicações que o Business Intelligence proporciona, há três anos o setor de Tecnologia de

Informação decidiu implantá-lo com o objetivo de melhorar as atividades operacionais do setor

em estudo, estando em contínuo desenvolvimento.

3- Metodologia

Este artigo teve como ambiente de estudo um setor de um orgão público, a GESAF (Gerência de

Suporte a Ação de Fiscalização), subdivisão da SEFAZ. O estudo de caso torna-se mais adequado

para esse caso por investigar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real,

especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos,

baseando-se em várias fontes de evidências e possuindo um caráter único (YIN, 2001). Quanto à

natureza da pesquisa, pode-se classificá-la como qualitativa.

O motivo da seleção desse objeto foi devido à escassez de pesquisas realizadas nesse setor, o que

tornou a pesquisa inovadora, e por esta ter implantado as ferramentas de BI possibilitando a

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realização de um estudo de caso comparando as formas de tomada de decisões antes e depois da

implantação das ferramentas de BI, como também se estabelecesse um comparativo das

melhorias trazidas depois da implantação desse sistema.

Desenvolveu-se um estudo de caso, cujas técnicas utilizadas para coletar os dados foram

entrevistas, inicialmente, ao setor de Tecnologia de Informação com o objetivo de checar, de

maneira superficial, quais tecnologias e ferramentas do BI vistas no referencial teórico foram

implantadas, além de investigar quais resultados eram esperados e quais resultados o sistema

trouxe até o presente momento. A entrevista foi gravada com o auxílio de um aplicativo de um

smartphone com o objetivo de realizar possíveis transcrições da fala do entrevistado. A pesquisa

foi realizada em 2014.

O segundo setor analisado foi a GESAF e a metodologia de obtenção de dados foi realizada por

meio de um questionário elaborado para os oito auditores que compõem o grupo. O questionário

foi constituído de perguntas cujas respostas foram avaliadas em uma escala likert de 1 a 7, cujo

padrão encontra-se na tabela 1 abaixo:

Quadro 2 – Significado das respostas da escala likert

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SCORE SIGNIFICADO

1 Piorou muito

2 Piorou consideravelmente

3 Piorou um pouco

4 Mudança indiferente

5 Melhorou um pouco

6 Melhorou consideravelmente

7 Melhorou muito

0 Não se aplica

Fo

nte: Autores

O questionário foi formulado embasado nas atividades realizadas dentro do setor GESAF,

visando analisar qualitativamente as melhorias pós-implantação do BI, a partir de algumas

características necessárias para a realização das mesmas. Tais atividades foram determinadas na

GESAF através de um breve relato do chefe do setor, visando criar um embasamento para traçar

uma comparação entre o sistema antigo e o Business Intelligence.

As características que irão compor o questionário são: quantidade de relatórios, emissão na

rapidez, relevância das informações, relevância na tomada de decisão, suporte às outras

gerências, rastreabilidade das irregularidades dos contribuintes, uso de relatórios ad hoc, rapidez

na análise de dados, disponibilidade de recursos gráficos (gráficos, dashboards) e facilidade no

manuseio. Por fim, observações diretas pelos pesquisadores também auxiliaram o estudo a obter

informações, tornando a pesquisa mais enriquecida.

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4 – Resultados

4.1-Entrevista com o chefe do setor de tecnologia de informação da SEFAZ-PI

A primeira parte da coleta de dados foi baseada em uma entrevista com o chefe do setor da

Tecnologia de Informação da SEFAZ-PI. O objetivo de se realizar essa entrevista aberta foi

captar o ponto de vista desse setor para com a implantação do Business Intelligence na

instituição. A instalação do BI se iniciou há três anos e, como foi abordado anteriormente, o chefe

do TI entrevistado foi o responsável por esse novo projeto.

Segundo o entrevistado, a principal finalidade deste novo projeto foi melhorar a rapidez na

obtenção das novas informações e relatórios. Fazendo um comparativo com o sistema antigo

utilizado na SEFAZ-PI, o entrevistado afirma que alguns relatórios que antigamente eram

gerados em duas horas, agora podem ser gerados em poucos minutos, aumentando a eficiência no

tocante ao tempo e agilidade. Entretanto, o sistema não proporciona apenas rapidez na obtenção

dos dados, como se pode visualizar na passagem transcrita abaixo:

“(...) Não é só a rapidez, é a garantia que aquela informação foi tratada, porque

às vezes o sistema têm erros que você não consegue corrigir facilmente e no BI

você faz o que você quiser (...). A gente pega os dados do sistema antigo e traz

para a plataforma do BI e trata-os, deixando-os limpos e organizados” (Chefe do

setor de TI).

A “limpeza” dos dados aborda de maneira significativa o segundo principal motivo para se

instalar a plataforma em questão: análise dos dados. Segundo o entrevistado, “os usuários estão

começando a ver que eles podem ver as informações de outro jeito”. Esperava-se, por parte do

setor do TI, que o Business Intelligence trouxesse benefícios no quesito rapidez e na análise dos

dados, convergindo com o que foi debatido no referencial teórico do presente artigo (ZENG et al,

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2006). De acordo com o entrevistado, até agora, essas expectativas foram concretizadas.

Uma das situações abordadas na entrevista diz respeito à verificação das ferramentas estudadas

no referencial teórico. De acordo com o entrevistado, foi instalado um Data Warehouse que está

em constante crescimento. Além disso, existem alguns OLAPs instalados, proporcionando a

análise dos dados de maneira mais rápida e estruturada para os usuários, fato já mencionado na

revisão bibliográfica do presente trabalho (RANJAN, 2009). Não existe ainda um Data Mining

implantado, visto que é requerida uma análise estatística dos dados e esse tipo de situação ainda

não está disponível para o setor de TI.

Quanto às dificuldades encontradas durante a implantação do Business Intelligence, o

entrevistado relatou que a instalação do novo sistema não apresentou relevantes dificuldades

técnicas. Além disso, para o fim proposto na aquisição do sistema, o entrevistado sugeriu que o

custo do sistema não foi oneroso às contas do Estado, por considerar o volume de dados da

SEFAZ-PI muito alto. Segundo o chefe do TI, “o que a gente encontra aqui é a dificuldade

pessoal (...), existe uma certa dificuldade de massificação de aprendizagem, muitas vezes porque

não tem o interesse do usuário (...). Mas também existe aqui o desinteresse dos técnicos do TI de

desenvolver o BI, por eles não terem um treinamento adequado deste sistema (...)”.

No tocante a expectativa para o futuro, o entrevistado sugere que o setor de TI visa incluir novas

ferramentas e informações para estarem disponível aos usuários (auditores), lembrando que o

processo de implantação do BI é gradual. Entretanto, um empecilho crucial encontrado pelo

entrevistado é o insuficiente comprometimento dos outros funcionários do departamento do TI. O

chefe do TI sugere que para uma massificação de uso, incluindo treinamentos e cursos de

capacitação, deve partir de cima da organização, passando por todos os outros níveis hierárquicos

da organização, criando um maior interesse no uso do novo sistema.

4.2 – Análise dos resultados dos questionários

A tabela 1 a seguir apresenta as respostas de acordo com as mudanças proporcionadas nos

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relatórios da utilizadas pelos auditores da GESAF.

Tabela 1 – respostas em relação à mudança nos relatórios (em porcentagem)

1 2 3 4 5 6 7 0

Quantidade de

relatórios

0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 12.5% 62.5% 25.0% 0.0%

Rapidez na emissão 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 12.5% 87.5% 0.0%

Relevância das

informações

0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 62.5% 37.5% 0.0%

Relevância na

tomada de decisão

0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 42.9% 57.1% 0.0%

Clareza das

informações

0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 14.3% 28.6% 57.1% 0.0%

Fon

te: autores

No primeiro momento pode-se observar um claro avanço trazido pelo BI, pois nenhum item teve

como resposta indiferente ou apresentou piora. Notaram-se avanços consideráveis na quantidade

de relatórios emitidos, dado que antes eles não tinham tanta incidência, e quando eram gerados

não vinham com dados agrupados de forma concreta a ajudar na tomada de decisões, continham

informações desnecessárias o que acabava atrapalhando na análise do relatório. No geral, o BI

trouxe mudança no tocante às características dos relatórios.

Um dos pontos onde houve uma mudança significativa foi a rapidez na emissão nos relatórios,

tendo em vista que 87,5% dos perguntados responderam a nota máxima para este quesito,

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constatando uma evidente melhoria. Além disso, relevância das informações e na tomada de

decisão obtiveram notas 6 e 7, confirmando a estruturação e limpeza dos dados apresentados na

literatura (GRIGORI et al., 2004).

De uma maneira geral, os cinco itens pesquisados confirmaram o que foi apresentado na

literatura. Comparado com o sistema antigo utilizado, o novo sistema utilizando o Business

Intelligence trouxeram mudanças significativas quanto aos atributos dos relatórios no setor

estudado, principalmente na rapidez da emissão dos mesmos.

O segundo grupo de perguntas está relacionado com atividades específicas da GESAF. Como foi

explanado na metodologia, foram determinadas algumas das principais atividades do setor em

estudo, tentando obter um panorama comparativo entre a situação do sistema antigo com o do

sistema baseado no Business Intelligence.

Tabela 2 – respostas em relação à mudança nas atividades específicas (em porcentagem)

1 2 3 4 5 6 7 0

Suporte a outras

gerências

0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 37.5% 50.0% 12.5%

Rastreabilidade das

irregularidades dos

contribuintes

0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 37.5% 50.0% 12.5%

Fon

te: autores

A tabela 2 apresenta os resultados das duas atividades escolhidas para traçar a comparação

proposta pelo trabalho. Como pode ser observado, o suporte às outras gerências ou divisões da

SEFAZ obteve um considerável avanço. 50% dos entrevistados responderam com uma

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melhora considerável. Além disso, 37,5% dos entrevistados responderam como uma melhora

considerável trazido pelo Business Intelligence. As notas 6 e 7 mostram um avanço significativo

proporcionado pelos benefícios do BI, trazendo um maior poder de resposta para a entrega de

documentos para as outras gerências, agilizando o processo.

Tendo em vista que a principal atividade da GESAF é o monitoramento das empresas com

maiores faturamentos no estado do Piauí, buscou-se analisar o nível da capacidade de rastrear as

irregularidades dos contribuintes. Assim como o suporte às outras gerências, o BI trouxe uma

melhora alta em 50% dos entrevistados e 37,5% responderam como melhora considerável. Para

os entrevistados restantes, a pergunta não se aplica, tendo em vista que tais funcionários não

desempenham tal função.

Após a análise das mudanças nos relatórios e nas atividades específicas, o terceiro grupo de

perguntas está relacionado aos recursos do sistema trazidos pelo Business Intelligence. Os três

itens que se buscaram analisar foram a customização e uso de relatórios ad hoc, disponibilidade

de recursos gráficos, tais como gráficos e dashboards e, por fim, a facilidade de manuseio do

mesmo, como pode ser analisado na tabela 3.

Tabela 3 – respostas em relação à mudança nos recursos do sistema (em porcentagem)

1 2 3 4 5 6 7 0

Uso de relatórios

ad hoc

0.0% 0.0% 0.0% 25.0% 0.0% 0.0% 62.5% 12.5%

Disponibilidade de

recursos gráficos

0.0% 0.0% 0.0% 75% 0.0% 0% 0.0% 25.0%

Facilidade no

manuseio

0.0% 0.0% 0.0% 50.0% 12.5% 37.5% 0.0% 0.0%

Fon

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te: autores

Um das principais características que um sistema baseado no Business Intelligence pode

proporcionar é a customização dos relatórios. O objetivo desse atributo é disponibilizar mais

opções para o usuário, ajudando o processo de tomada de decisão. No caso do objeto estudado,

obtiveram-se respostas divergentes. Embora a grande maioria respondeu que houve uma grande

melhoria na customização dos relatórios (62,5%), 25% afirmou que a mudança foi indiferente e

para 12,5% esse recurso não se aplica. Em outras palavras, a utilização de relatórios ad hoc não

apresentou unanimidade, embora o avanço neste quesito também foi apresentado na literatura

como benefício (BATISTA et al., 2012)

A segundo pergunta presente na tabela 3 está relacionada com a disponibilidade de recursos

gráficos. A literatura apresenta que o BI atinge seu objetivo com o auxílio de gráficos e

dashboards. Através da visualização desses recursos, é possível obter uma análise mais

detalhada. No caso o objeto de estudo, 75% afirmou que a mudança em questão foi indiferente.

Nesse caso, não houve uma mudança significativa, apresentando uma lacuna onde o sistema pode

ser melhorado.

O terceiro ponto relacionado com os recursos do sistema aborda a facilidade de manuseio do

mesmo. Nesse caso, metade dos entrevistados afirmou que houve uma mudança indiferente para

a facilidade de usar o sistema e o restante classificou como pouca e considerável melhora.

Nenhum entrevistado classificou a mudança como nota máxima. Tal situação apresenta uma

possível lacuna nesse quesito, onde o sistema pode apresentar uma melhor interface com o

usuário.

Diferente dos relatórios e das atividades específicas, os recursos do sistema não apresentaram

uma melhoria significativa. Na grande maioria, as mudanças foram indiferentes.

5 – Conclusões

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A entrevista com o chefe do setor de Tecnologia de Informação proporcionou informações

importantes sobre o objetivo deste presente trabalho. Concluiu-se que, por exemplo, um dos

principais motivos de implantação do Business Intelligence foi a rapidez na emissão dos

relatórios. Além disso, o poder de análise da ferramenta, como foi revisado na literatura,

realmente foi comprovado segundo dados fornecidos pela entrevista. Um dos pontos interessantes

concluídos foi que a implantação do BI necessita de uma gradual melhoria, fazendo com que a

mesma seja melhorada constantemente.

Para a constante e gradual melhoria da execução das ferramentas do sistema, é imprescindível o

engajamento de todos os setores, especialmente da alta direção da organização. Concluiu-se

também que treinamentos e capacitações são muito importantes para a execução eficiente do

Business Intelligence, visto que foi relatado que um dos principais problemas enfrentados pela

chefia do TI foi a dificuldade pessoal, incluindo uma falta de engajamento dos integrantes da

Tecnologia de Informação. Não menos importante, o interesse por parte dos usuários também

contribuem de forma significativa, visto que foi observado uma falta de habilidade e interesse dos

auditores de forma geral.

Tendo em vista a relevância da informação e do conhecimento das operações o Business

Intelligence trouxe mudanças significativas para estes setores no qual foi implantado, fato que se

comprova em um apanhado geral das notas, onde se verificou uma melhora bastante positiva. No

geral, observou-se uma mudança mais clara, devido ao tempo de implantação ser maior e os

funcionários já estarem mais preparados para usufruir das ferramentas do BI.

As principais melhorias que o BI trouxe para a GESAF foram a rapidez na emissão de relatórios,

clareza destas informações, auxilio a tomada de decisão, a customização de novos relatórios e a

melhora na rastreabilidade das irregularidades dos contribuintes. O BI continua em contínuo

estado de aprimoramento nos dois setores e espera com isso melhorar cada vez mais a sua

utilização e avançar para novos recursos.

Por fim, conclui-se que a ferramenta só veio a adicionar na melhoria dos processos da GESAF e

que apesar do tempo de implantação já mostrou ser bastante eficiente, e como mostrado nos

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gráficos de avaliações gerais o BI vem superando as expectativas dos seus usuários, que o julgam

essencial para a evolução dos setores.

O presente trabalho apresentou um panorama de melhorias que um sistema de Business

Intelligence proporcionou para um ambiente de monitoramento de empresas em um setor de uma

organização pública do Estado do Piauí. Embora ainda esteja em fase de implantação, já podem

ser percebidos avanços e melhorias trazidos, aumentando a rapidez e auxiliando na análise de

dados. Por tal motivo, esse setor pode ser alvo de futuras mudanças no sistema. Sugerem-se

futuros trabalhos que possam avaliar os futuros avanços trazidos pelo sistema, verificando o grau

de evolução e outros benefícios proporcionados por essa ferramenta, além de abordar dados mais

quantitativos de índices de desempenho do sistema.

6- Referências

AFFELDT, F. S.; SILVA JUNIOR, S. D. Information Architecture Analysis Using Business

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