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Análise da Situação do Edifício Tereza Lara - 2010

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Este texto apresenta a análise da situação presente no edifício Tereza Lara no ano de 2010, bem como analisa a situação de degradação dos centros urbanos e aponta métodos de diagnóstico da matéria do edifício.

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Em 2010, o Palacete Lara completou 100 anos de existência. Ele resistiu ao tempo e às transformações da cidade, mantendo suas características originais quase integralmente preservadas. Sua resistência é admirável, porém que a cidade ao seu redor mudou completamente.

Quando o edifício foi construído, superava os seus vizinhos em estatura e imponência, destacando-se no perfil do centro histórico. Hoje ele fica um pouco escondido em meio a edifícios mais altos, com destaque para o edifício triângulo de Niemeyer.

Rua Quintino Bocaiúva, cerca de 1910. No plano médio, o cruzamento com a Rua José Bonifácio; no fundo o Largo da Misericórdia. Foto por Aurélio Becherini.

mudaram. As pessoas mudaram.Como fazer com que um edifício antigo, construído

em outra realidade e com outros propósitos seja bem aceito e utilizado hoje? Que cuidados se deve ter ao fazer este tipo de intervenção?

Este TFG tem como objetivo estudar o restauro e reabilitação de um edifício como unidade, não é um projeto em escala urbana. Isto, porém, não torna menos necessária a análise da realidade urbana em que este objeto se insere.

A cidade mudou. Os usos mudaram. As necessidades

Rua Quintino Bocaiúva, 2010. Na mesma posição da foto anterior, percebe-se como as escalas se alteraram. Foto por Chico Saragiotto. Fonte: Panorâmio.

SITUAÇÃO ATUAL

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Quanto à ocupação, segundo o Plano Diretor o imóvel encontra-se na zona de centralidade polar – b, cujas características são:

Ele também é pontuado como Zona Especial de Preservação Cultural (imóvel) com um ponto vermelho, como se pode ver no mapa abaixo.

ZCPb Zona de Centralidade Polar b Definida na Lei 13.885/07

c.a. mínimo 0,20 c.a. básico 2,00 c.a. máximo até 4,0

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

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O edifício como objeto deve ser trabalhado de forma muito cuidadosa, mas não se pode esquecer que ele está inserido num contexto urbano muito mais complexo. O que ocorre com frequência no Brasil com os patrimônios restaurados é que eles rapidamente retornam ao estado de degrado por diversos fatores: Falta de manutenção, vanda l ismos, entorno desva lor izado causando desvalorização do imóvel, falta de iniciativas eficientes por parte do governo.

Propor intervenções pontuais, por mais criteriosas que sejam, não adianta muito se o contexto urbano em que a obra se insere não oferece condições de sobrevivência digna ao edifício. A região em que o palacete Lara se encontra é em especial bastante problemática, violenta, suja, mal conservada, com altos índices de vandalismo e um histórico de desvalorização que já perdura por anos. Recentemente o governo lançou algumas iniciativas de revitalização do centro para tentar reverter este quadro, mas os resultados ainda são pouco visíveis e os incentivos dados aos proprietários dos imóveis tombados, ínfimos.

Tratando especificamente da revitalização de centros históricos, alguns problemas devem ser apontados. Primeiramente, ampliando um pouco mais a escala, deve-se ressaltar que não se trata de um centro histórico de uma cidade qualquer. Falamos de São Paulo, capital do estado e principal centro financeiro, corporativo e mercantil da América Latina, cidade mais populosa do Brasil, da América e de todo o Hemisfério Sul, cidade brasileira mais influente no cenário global, sendo considerada a 14ª cidade mais globalizada do planeta, recebendo a classificação de cidade global alfa, por parte do Globalization and World Cities Study Group & Network (GaWC)¹.

A cidade porém alcançou toda esta magnitude sem muito planejamento, crescendo de forma desordenada e quase incontrolável. Aos poucos, a capital se fragmentava, expandia seus bairros e perdia seu centro. Muitas áreas foram mais desenvolvidas e supervalorizadas, deixando apenas as populações de baixa renda no centro degradado ou causando o afastamento desta população para as periferias sem infraestrutura e com rede de transporte público deficiente. Estas periferias foram também se urbanizando de forma precária e as políticas de planejamento em geral tiveram caráter paliativo, para sanar situações gritantes que não podiam mais ser ignoradas.

Como na maioria das cidades, o centro de São Paulo é a parte mais antiga, com malha mais consolidada, com uma história rica e abriga exemplos marcantes da arquitetura do passado. Polo de concentração de comércio, serviços, cultura e lazer, o centro passou por um período áureo exatamente com a cafeicultura (entre 1867-1930). Os fazendeiros tinham seus palacetes ali instalados para desfrutarem do conforto da cidade, sua intensa vida social e comércio proeminente. Quando ter um imóvel no centro era extremamente vantajoso e este edifício merecia destaque, grandes arquitetos e construtores deixaram suas marcas pela região. Com o passar do tempo, porém, o contexto foi se alterando e este centro foi se transformando, degradando, sendo caracterizado pela violência, marginalidade e decadência das construções. É neste contexto que nos encontramos hoje e é a partir deste panorama que surgem tantas iniciativas visando a “revitalização” desta área.

Tentando resolver problemas deste tipo, projetos que

LIDANDO COM O ENTORNO: A DEGRADAÇÃO DOS CENTROS URBANOS

1- Pimenta, Angela. Esqueça os países. O poder está com as cidades. Revista Exame.

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buscam revitalizar as áreas urbanas centrais vêm assumindo importância crescente entre as estratégias contemporâneas de reorganização territorial das cidades em todo o mundo. Estes processos de refuncionalização e revalorização de centros urbanos remontam às décadas de 1950 e 1960 e ocorreram inicialmente em algumas metrópoles dos países centrais, como Londres e Nova York. A partir das décadas de 1960 e 1970, com a crise no regime de acumulação fordista e a reestruturação produtiva em escala planetária, várias metrópoles industriais do capitalismo avançado se depararam com profundas transformações em sua organização espacial. “Mudanças nas políticas territoriais das grandes corporações industriais e terciárias e a ampliação da suburbanização residencial, entre outros fatores, levaram à desvalorização e à popularização de grandes áreas urbanas centrais, abrindo a possibilidade de uma nova onda de retomada dos negócios imobiliários com a atração de empreendimentos residenciais e corporativos”¹ .

O que deveria ser uma solução acarreta um novo problema social: O termo gentrification², (gentrificação em português) cunhado pela socióloga inglesa Ruth Glass em 1964, que tem sido uma das principais noções empregadas no debate sobre a revalorização de centros urbanos. Para o geógrafo norte-americano Neil Smith³, a gentrificação pode ser periodizada em três fases. A primeira, chamada pelo autor de esporádica, esteve restrita a algumas metrópoles dos países centrais e foi movida por iniciativas individuais de membros da nova classe média em crescimento. A segunda – a “consolidação da gentrificação” teria sido iniciada quando o processo ganhou amplitude nas décadas de 1970 e 1980 e foi

incorporado pelos governos nacionais e locais e pelos empreendedores imobiliários como ferramenta de reativação do mercado imobiliário em crise, ganhando maiores proporções. Após esse período, o autor defende que as décadas de 1990 e 2000 assistiram à “gentrificação generalizada”: o processo teria se difundido globalmente e adquirido importância singular para as cidades em um período de acirrada competição urbana global. Sobre isto, Smith afirma: “a construção de novos complexos de gentrificação nas áreas centrais, ao redor do mundo, tornou-se cada vez mais uma inatacável estratégia de acumulação de capital para economias urbanas em competição”.

Apesar de ocorridos em diferentes localidades e de possuírem peculiaridades, os projetos são semelhantes no fato de terem obtido investimentos vultosos em locais com grande potencial turístico, que abrigam interesses históricos e que, em períodos anteriores, tiveram um apogeu relacionado a uma atividade econômica específica. No Brasil, estes projetos de recuperação e preservação de centros históricos, associados a processos de reestruturação urbana, têm sido uma constante a partir do final da década de 80 e início de 90. Já podemos constatar, sobretudo nas grandes cidades, casos de mudanças de perfil socioeconômico, decorrentes de expulsão e substituição de população local, ligadas a intervenções urbanas de "renovação", "revitalização". São casos assim que têm sido aqui tratados pelos estudiosos como processos de gentrificação, valendo-se das experiências já ocorridas em outras cidades. Normalmente a gentrificação busca identificar casos de recuperação do valor imobiliário de regiões centrais de grandes cidades que passaram as

1- SombiniI, Eduardo - G/UNICAMP2- Oriundo do radical gentry, a pequena nobreza inglesa do século XVIII. O termo vem sendo traduzido como gentrificação, enobrecimento ou elitização, mas, por conta das imprecisões da tradução, manteremos o original em inglês. 3- SMITH,

Neil. The new urban frontier: gentrification and the revanchist city. Nova York: Routledge, 1996.

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últimas décadas por um período de degradação. O resultado desse processo seria a produção de uma cidade desigual, com a expulsão da população de baixa renda das regiões revitalizadas em prol de interesses econômicos das populações de renda mais alta, que se beneficiariam. Nessa visão, a cultura torna-se apenas um captador de investimentos e o afastamento da população de baixa renda para as periferias se intensificaria.

Para Carlos Vainer, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os debates sobre revitalização de áreas urbanas, centros urbanos ou áreas históricas das cidades incorrem num grande equívoco. "A discussão está fundada na ideia de que estas áreas não possuem vitalidade” (por isso o termo “revitalização”). “Na verdade, essas áreas têm uma extraordinária vitalidade, mas foram, em muitos casos, ocupadas por grupos sociais de baixa renda. O que está sendo feito é renegar um tipo de vitalidade e recuperar essas áreas para determinados grupos sociais". Vainer defende que o problema dessas áreas não é a de falta de vitalidade, mas a falta de investimento público, justamente porque são locais ocupados pelas camadas menos favorecidas. Ele contradiz a afirmação de que as classes de baixa renda não valorizam áreas históricas ou as áreas urbanas em que vivem. "A sobrevivência da riqueza patrimonial dessas regiões se deu graças aos grupos de baixa renda e não a outros. É como expulsar os índios da floresta para preservá-las, sendo que, graças a eles, ela ainda está preservada. Mesmo assim, retiram os índios e fazem reservas indígenas", diz ele.

Por outro lado, além do descaso das administrações municipais anteriores, muitas ruas deixam a nu um quadro que resulta da situação econômica do país: desemprego, crianças e jovens sem alternativas de estudo ou lazer, moradores de rua que vão para o Centro porque nesse local

são mais visíveis e estão mais próximos das suas soluções de sobrevivência. Para resolver isso são necessárias políticas sociais, incluindo a de habitação.

O plano desenvolvido em 2001 pela prefeitura da cidade de São Paulo “Reconstruir o Centro” visava a revitalização dos distritos que compreendem o centro histórico de São Paulo (Bela Vista, Bom Retiro, Brás, Cambuci, Consolação, Liberdade, Pari, República, Santa Cecília e Sé) e continha um programa bastante completo e variado, cujos objetivos eram resgatar o caráter público do espaço público, ampliar o uso residencial e garantir a diversidade de funções, consolidar a identidade de centro metropolitano, promover ações urbanísticas com inclusão social, criar mecanismos de gestão democrática voltados para o interesse coletivo, atuar sistematicamente para a redução da violência, e as diretrizes de gestão seriam estabelecer parcerias políticas e materiais entre poder público municipal e outros níveis de governo, organismos internacionais, governos de outros países, iniciativa privada, instituições públicas (universidades, fundações, entidades de classe) ongs e organizações comunitárias, compartilhar a gestão com a sociedade civil, regularizar o uso e a ocupação de espaços públicos e de imóveis privados. Apesar da abrangência e necessidade do plano, até hoje pouco vimos de resultados concretos.

Além disso, temos o problema do patrimônio histórico instalado neste centro urbano. Como ele tem sido tratado? De que maneira eles se conservariam em meio a este contexto? Com a degradação generalizada, os edifícios são fortemente desvalorizados, perdendo seu interesse e sofrendo com a falta de manutenção e vandalismos. Existem alguns programas que se focam no centro, como a Operação Urbana Centro, o Programa Monumenta e o Procentro, também com resultados pouco significativos.

Foram dados recentes incentivos pelo poder público a

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fim de que os donos desses imóveis promovam as reformas necessárias, porém os que se dispõem a enfrentar a empreitada ainda são minoria. A prefeitura tem a lei das fachadas históricas, que livra de IPTU quem restaurar prédios tombados, além da Cidade Limpa, que dá ao patrocinador da reforma o direito de expor sua marca na fachada. Os programas, no entanto, não tiveram adesão significativa até agora. “Dos 170 imóveis procurados pela prefeitura, todos localizados em calçadões do centro, apenas 41 se interessaram e somente 11 começaram a restauração”(Folha de São Paulo, 30/08/2010) . Isto ocorre porque o incentivo pode ser ainda muito tímido "Na maioria dos casos, a isenção do IPTU não é suficiente. O preço da reforma é mais alto, e os proprietários não têm condições de arcar com as despesas", afirma Ulisses Carraro, responsável pelo programa na Secretaria Municipal de Habitação. No caso do palacete Lara, por exemplo, o administrador do patrimônio da família da proprietária afirma que a isenção proposta pelo governo cobriu menos de 20% dos gastos que eles terão com o restauro.

Outro problema relacionado é a falta de conhecimento ou mesmo a falta de cultura de manutenção dos prédios. Enfim, aí entramos numa problemática ainda maior, que envolve todo o país que é a educação e a cultura da população. A cidade deve ser tratada como um organismo, com suas patologias, sintomas e tratamentos, logo, cada parcela que contribui para o problema deve ser estudada em integração com as demais parcelas, formando um diagnóstico coeso. Deve-se atentar mais do que nunca às diversas dinâmicas envolvendo governo, iniciativa privada, interesses diferentes, necessidades da população, fragilidade do patrimônio, propostas e atitudes tomadas até então. A importância deste estudo advém do reconhecimento das dificuldades apresentadas no processo, da análise do

resultado de todos estes anos de problemas sociais que o país sofre, do descaso, enfim, de tudo o que o centro de São Paulo nos traz: História, potencial e degradação.

Ao fundo, Edifício São Vito, símbolo da degradação do Centro de São Paulo. Ao longo das últimas décadas estes edifícios foram se tornando inabitáveis até que, há alguns anos, foram totalmente desocupados. Houve polêmicas sobre o destino que teriam, baseadas na questão do déficit de moradias em São Paulo.Ações judiciais barraram temporariamente a decisão da prefeitura em demoli-los, mas o processo não foi revertido. A demolição completa terminou recentemente. Está prevista a construção de uma praça e demais equipamentos públicos, além de estacionamento subterrâneo. Foto por Carlos Alkmin. Fonte: Flickr

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Praticamente invisível. Esta é a aparência do edifício como conjunto nos dias de hoje. Esta sensação deve-se a diversos fatores, dentre eles o adensamento e verticalização dos prédios circunvizinhos. Mas o que mais chama a atenção é como o edifício se dissolveu, no sentido em que perdeu sua unidade. No pavimento térreo, cada loja pôde intervir em seu trecho de fachada como quis. O único tipo de restrição que tiveram foi a recente Lei da Cidade Limpa, que os obrigou a diminuir o tamanho das placas publicitárias.

O granito original foi coberto por diversas camadas de tinta, muitas das bandeiras em ferro fundido se perderam ou foram substituídas por perfis contemporâneos sem nenhum

LIDANDO COM O EDIFÍCIO: A DISSOLUÇÃO DE UMA UNIDADE

critério. Além da sujidade generalizada, fios e tubulações por todas as partes contribuem para o aspecto escurecido e caótico deste trecho de fachada. Houve inclusive um caso onde os detalhes decorativos foram cobertos por uma espessa camada de argamassa, que caiu este ano revelando o granito em perfeito estado. O que acontece muitas vezes é esta incompatibilidade de materiais aplicados em reformas que acabam por prejudicar inclusive a saúde dos edifícios.

As intervenções de “manutenção” feitas nos edifícios são geralmente guiadas para dois extremos. Podem ser mais incisivas, quando a funcionalidade está comprometida

Cada loja é pintada em cores diferentes e as bandeiras foram alteradas. Ao fundo encontra-se uma entrada que havia sido planificada com argamassa. Esta adição cedeu recentemente. Fonte: Arquivo Pessoal

Outra cor que passou recentemente pela fachada do Edifício.Fonte: Arquivo Pessoal

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ou existe risco estrutural, atitudes são tomadas para impedir danos mais profundos. Ou também são atitudes superficiais, como aplicar tinta para cobrir a sujeira e dar um aspecto renovado à fachada. Isto acaba tornando edifícios antes plenos de detalhes decorativos em superfícies homogêneas e por vezes prejudicando a integridade física da obra. Um exemplo bem comum é a aplicação de tintas acrílicas em paredes que precisam de um respiro natural, vedando-as e degradando internamente as argamassas. A manutenção criteriosa, substituindo partes recém-degradadas por novas peças compatíveis, fazendo limpezas controladas para prevenir acúmulo de sujidades que também causam patologias, ou seja, pequenos e constantes reparos garantiriam maior vida útil e menos gastos com intervenções maiores.

Ainda sobre o problema das lojas do térreo, esta profusão de informações e falta de unidade na obra acaba prejudicando a leitura do conjunto, pois quando se passa na rua a impressão é de que fazem parte de uma galeria de lojas independentes. Na escala do pedestre, são estas lojas os elementos de mais destaque, justo elas que destoam tanto do conjunto. E na correria em que as pessoas passam, mal se dão ao trabalho de olhar para cima e reparar na beleza do edifício, com todo o seu apuro formal. O prédio precisa de intervenções para que seja novamente contemplado como um conjunto harmônico.

Nesta foto percebe-se bem a diferença do pavimento térreo para os pavimento superiores. A parte de baixo parece formada por partes desconexas e o edifício perde a unidade. Esquina da Rua Direita com a Quintino. Fonte: Arquivo Pessoal.

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USOS ATUAIS DO EDIFÍCIODepósitos

Lojas

Circulação

Serviços

Vazio

Banheiros

Funcionários

LEGENDA

SUBSOLO

O edifício é ocupado por um depósito no subsolo, composto por diversos “puxadinhos”, comércio variado no térreo, onde também fica a entrada principal com acesso ao elevador e à escada monumental. No primeiro pavimento encontra-se a maior loja do edifício, a Amadeus Musical, ocupando o L voltado às ruas Direita e Quintino Bocaiúva, existe mais uma copiadora, um atelier e uma sala vazia. O segundo pavimento temos apenas uma sala sendo ocupada por uma alfaiataria, todas as demais se encontram vazias.

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Depósitos

Lojas

Circulação

Serviços

Vazio

Banheiros

Funcionários

LEGENDA

TÉRREO

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Depósitos

Lojas

Circulação

Serviços

Vazio

Banheiros

Funcionários

LEGENDA

PRIMEIRO PAVIMENTO

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Depósitos

Lojas

Circulação

Serviços

Vazio

Banheiros

Funcionários

LEGENDA

SEGUNDO PAVIMENTO

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SITUAÇÃO FÍSICA: DIAGNÓSTICO

É interessante como o Restauro se apropria de termos e conceitos da medicina nas suas atividades, adaptando-os à suas necessidades. Para saber de que males um paciente sofre é feita uma análise dos sintomas da patologia, observações, sondagens, exames, só então é emitido o diagnóstico. O histórico do paciente também é muito importante. Busca-se acima de tudo a raiz da patologia, caso contrário o tratamento será meramente paliativo e a doença tende a regressar. O tratamento é feito para sanar aquela patologia, mas se for necessário tratar outras áreas ligadas para que ela não se manifeste mais, assim se deve proceder. E acima de tudo, a saúde do paciente é o que se deve preservar, o funcionamento, garantir que ele consiga dar prosseguimento às suas atividades. Os tratamentos devem ser os menos invasivos possíveis, tendo em vista a fragilidade do paciente e quanto ele conseguiria suportar. Após a cura, o acompanhamento é indispensável para que a saúde do paciente se preserve.

No Restauro, os Edifícios são os pacientes e o restaurador, o médico. Utilizando-se da mesma terminologia, denominam-se os degrados, defeitos, problemas das obras de patologias. Deve-se primeiramente observar as manifestações visíveis destas patologias, criar hipóteses e não parar por aí. A investigação deve ser profunda, buscando a raiz do problema para que ele não volte a aparecer. De que adianta lixar uma parede com uma mancha e pintar por cima se aquela mancha for ocasionada por um foco de umidade? A mancha voltará a aparecer e talvez sua manifestação se dará de forma ainda mais agressiva, porque mais tempo se passou com o problema e a pintura aplicada impermeabilizou a parede. A água por dentro começa a danificar os materiais, a pintura se desprenderá e a matéria

exposta apresentará outras patologias além da inicial. É preciso tratar o foco, por isso a fase investigativa é tão importante.

É feito então um mapeamento das patologias para registrar estas manifestações e emitido um diagnóstico. É com este diagnóstico que as soluções conseguem ser propostas.

Para se chegar a este diagnóstico, algumas etapas devem ser seguidas. No restauro de igrejas, monumentos, edifícios em geral, aparecem problemas de conservação muitas vezes complexos que necessitam de conhecimentos preliminares a respeito dos materiais e do estado de conservação de tais obras.

A fase executiva da intervenção deve, portanto, ser precedida de um exame visual, acompanhado de uma documentação fotográfica que ilustre o estado do edifício em todos os seus aspectos e da pesquisa de dados históricos. Somente a partir deste ponto se pode prosseguir com investigações mais precisas, que poderão ser testes feitos in loco ou testes laboratoriais.

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Um possível esquema do processo diagnóstico seria o seguinte:

Exame

Visual

Pesquisa

Histórica

Testes in

loco

Testes laboratoriais

(determinados nos

levantamentos in loco)

Exame crítico

comparativo de todos os

dados

Emissão do

diagnóstico

Exame visualO exame visual pode fornecer indicações importantes

para a coleta de alguns elementos úteis ao reconhecimento preliminar do fenômeno patológico, ao menos de como este fenômeno se manifesta aparentemente. A documentação fotográfica dos problemas se torna determinante para a preparação de um dossiê de suporte ao diagnóstico. Por exemplo, manchas de umidade e/ou desplacamento da argamassa na base de um edifício podem ser sintomas de umidade ascendente.

A quantidade, a extensão e a localização dos problemas em relação às condições geográficas e microclimáticas, são elementos úteis para a sintomatologia da patologia. Os danos correspondentes de determinadas áreas (paredes, pilares, tubulação de águas pluviais, etc) são todos elementos muito importantes a serem registrados juntamente com o estado de coesão dos materiais danificados, e de eventuais depósitos superficiais, tais como as eflorescências e a crosta negra, assim como a presença de formações biológicas.

Pesquisa HistóricaA pesquisa e coleta dos dados históricos relativos ao

edifício, do momento de sua realização até a manifestação dos sinais de degrado, juntamente com o exame visual, pode se mostrar muito útil para diferenciar as possíveis causas da patologia, cujo respaldo poderá ser encontrado através de poucos, porém apurados, testes laboratoriais. Os dados históricos incluem aqueles relativos ao período de construção, aos materiais empregados, à sua proveniência, ao surgimento dos primeiros sintomas das patologias, à posição geográfica, às condições climáticas, a intervenções anteriores.

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Testes in locoOs testes in loco têm caráter não invasivo, e são

conduzidos nas estruturas por uma série de motivos. Através destas provas, é possível notar a presença de

problemas internos, não visíveis externamente, através de uma ampla superfície sem dever recorrer a um elevado número de testes invasivos.

É possível coletar informações preliminares de caráter comparativo a respeito da homogeneidade do material nas superfícies de modo tal a distinguir com precisão as zonas do edifício onde recolher amostras para sucessivos testes laboratoriais, ou também delimitar as zonas úmidas. Estes permitem também verificar o posicionamento de eventuais armaduras de ferro e estabelecer a evolução temporal das eventuais trincas e fissuras, através de um monitoramento contínuo para determinar se o processo fissurativo está estabilizado ou não. Alguns destes testes não invasivos são:?Endoscopia

Prospecção exploratória e pictórica – Trata-se da remoção das camadas de pintura ou outros elementos sobre a superfície até se chegar à matéria original. Estas prospecções revelam as cores que o edifício já teve, se existia alguma pintura mural, etc. Elas tem a princípio caráter investigativo e documental. A escolha de onde devem ser feitas as prospecções exploratórias é outro ponto muito importante, pois elas podem te trazer elementos mais ou menos relevantes para o projeto. Áreas degradadas não são uma boa escolha pois a tendência é a mutação daquele material com o degrado, logo a prospecção não encontrará o tecido saudável para determinar suas propriedades. A área abaixo das cornijas é um ponto de grande interesse em geral, pois é uma região mais difícil de pintar, então provavelmente

a tinta original estará menos comprometida.?Termografia – Um dos métodos mais interessantes e de resultados mais significativos para a análise dos edifícios. Esta técnica consiste na análise da radiação infravermelha (as radiações infravermelhas são de origem térmica) emitidas pela superfície do objeto de estudo. Para realizar a investigação, utiliza-se uma câmera especial, equipada com um sensor sensível às radiações infravermelhas. Os sinais de saída do sensor, captados e decodificados por um computador, fornecem uma imagem da superfície em um monitor colorido onde as cores são determinadas pelas diversas temperaturas. As paredes se aquecem por ação dos raios solares e a emissão térmica de cada material componente resulta diferente, formando um perfil térmico. ?Ultrassom?Magnetometria?Esclerometria?Determinação do conteúdo de umidade nas paredes� Determinação dos sais solúveis

Testes laboratoriaisAntes de proceder com a coleta de amostras sobre as

quais executar os testes laboratoriais, é oportuno avaliar os dados obtidos nas fases precedentes, interpretando-os com o objetivo de levantar hipóteses sobre as possíveis causas da patologia. É de fato aconselhável dispor de mais hipóteses que possam justificar o degrado registrado.

Se procedermos segundo este esquema, os levantamentos e os relativos testes de laboratório serão destinados a dissolver eventuais dúvidas a respeito das hipóteses formuladas anteriormente e a consolidar o mecanismo de degrado, sobretudo em relação à sequência e complementaridade das diversas causas.

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?Alguns destes testes mais incisivos são:?Análise de raio X?Microscopia ótica ?Microscopia Eletrônica e escaneamento?Análise de microsonda

Algo que seria primordial antes de executar um projeto de restauro seria fazer um plano do projeto, como um “Projeto do projeto”. Isto facilitaria no momento da execução do projeto, assim como o projeto facilita a execução da obra. Não precisa ser algo muito rebuscado, mas no caso de um projeto de restauro é precedido obrigatoriamente por uma fase de pesquisa sobre o objeto, convivência com ele, observação dos seus fenômenos e sensibilidade para compreender suas necessidades. O arquiteto restaurador deve ser acima de tudo um observador, familiarizado com o seu objeto de interesse. Este estudo permite traçar as prioridades, os pontos mais importantes que devem ser observados no projeto de restauro. As respostas e os resultados obtidos com o restauro dependem das perguntas que serão feitas ao edifício, logo, a elaboração das mesmas deve ser levada em consideração.

Por se tratar de um trabalho acadêmico de cunho científico, a análise das patologias se limitará ao exame visual , apontando as possíveis patologias visíveis a olho nu. Este exame é feito de forma manual, com visita ao objeto de estudos e mapeamento das patologias sobre o desenho, sobre fotos ou até mesmo sobre modelos volumétricos. No caso deste trabalho foram feitas nuvens de patologias sobre desenhos elaborados pela equipe da VEC arquitetura, responsável pelo projeto de restauro para o Palacete em andamento. A equipe cedeu gentilmente estes desenhos para que este trabalho pudesse ser realizado, possibilitando

assim alcançar até mesmo a fase de projeto de intervenção.Visto que os levantamentos foram cedidos para este trabalho, é importante fazer algumas considerações a respeito desta fase projetual de extrema importância para o restauro.

O palacete possui área interna considerável. Cerca de 400m² no subsolo e 700m² em cada um dos andares subsequentes, térreo, 1º pavimento e 2º pavimento, totalizando cerca de 2500 m² de área útil. Com toda esta extensão e levando em conta seu rebuscamento, o levantamento de um edifício do tipo se torna muito complexo.

O levantamento deve ser feito de forma muito cautelosa, tratando casa elemento de forma individual. É como um as built, as medidas devem ser aquelas encontradas no edifício atualmente e mesmo as pequenas diferenças como esquadrias um pouco maiores ou menores devem ser levadas em conta para que o desenho se encaixe no final.

Um método muito utilizado para diminuir as imprecisões é a triangulação, que consiste em dividir os ambientes em triângulos ligando as extremidades, assim seus lados devem se encaixar. Neste caso, mesmo que as paredes estejam tortas o resultado da triangulação mostra de uma forma muito precisa como elas estão assentadas.

Devido ao trabalho e tempo necessários para fazer estes levantamentos, não seria possível num trabalho individual de um ano partindo do zero chegar até o projeto de intervenção, que era o objetivo deste TFG. Por isso foi muito importante contar com o levantamento pronto. A parte negativa disto é que, por se tratar de um desenho pronto e

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LEVANTAMENTO MÉTRICO

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veracidade de todos os dados. Como um exercício de projeto, postula-se que o levantamento esteja correto e trabalhamos com as hipóteses baseadas nos dados que possuímos.

Nas próximas páginas será apresentado o levantamento métrico do edifício com as cotas principais, indicação de portas, tipos de materiais, em planta, cortes e elevações.

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FACHADAS

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ELEMENTOS DECORATIVOS

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