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Análise das manifestações patológicas nas estruturas de concreto do campus Goiabeiras da UFES
dezembro/2015 1
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Análise das manifestações patológicas nas estruturas de concreto do
campus Goiabeiras da UFES
Camila de Oliveira Nascimento – [email protected]
MBA Gerenciamento de Obras, Tecnologia e Qualidade da Construção
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Vitória, ES, 19 de junho de 2015
Resumo
As manifestações patológicas são, em geral, uma preocupação para todos aqueles que estão,
de alguma forma, envolvidos com as edificações, por acarretarem perda parcial ou integral
do desempenho destas, reduzindo a durabilidade e a vida útil. A presente pesquisa tem como
objetivo a realização de um levantamento das principais manifestações patológicas existentes
nas estruturas de concreto das edificações do campus Goiabeiras da Universidade Federal
do Espírito Santo (UFES). Foi feita uma abordagem descritiva das manifestações patológicas
em cada prédio vistoriado, e registrou-se cada problema encontrado através de fotografias.
Foram eleitos alguns problemas expressivos e recorrentes no campus, tais como umidade
(eflorescências e lixiviação) e corrosão de armaduras, a fim de serem discutidos. Através das
análises dos principais casos encontrados contatou-se que umidade, falta de manutenção
periódica adequada e cobrimento insuficiente frente a um ambiente de classe de
agressividade III foram as principais causas das manifestações patológicas das estruturas de
concreto das edificações do campus goiabeiras da UFES.
Palavras-chave: Patologia. Manifestações Patológicas. Concreto. UFES. Campus
Goiabeiras.
1 Introdução
A Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) é uma instituição autárquica fundada em
maio de 1954. Possui quatro campi universitários – em Goiabeiras e Maruípe, na capital; e
nos municípios de Alegre, no sul do Estado, e São Mateus, no norte capixaba. Tem por
objetivo gerar avanços científicos, tecnológicos, artísticos e culturais, por meio do ensino, da
pesquisa e da extensão. Além disso, também presta diversos serviços ao público acadêmico e
à comunidade através de bibliotecas, teatro, hospital, planetário, ginásio, entre outras
instalações. Sua infraestrutura física global é 292 mil metros quadrados de área construída,
sendo que a maior parte está situada no campus Goiabeiras. Com esses dados, é possível
perceber que a Universidade recebe diariamente um número muito grande de pessoas, o que
requer que suas instalações estejam aptas para atender a essa demanda.
Para Carmo (2002), os usuários de qualquer tipo de edificação exigem, minimamente,
segurança para utilização da construção. Requerem boas condições de higiene, estanqueidade
e conforto higrotérmico, visual, tátil e acústico. Nesse contexto, a durabilidade está atrelada à
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conservação do desempenho ao longo do tempo e à economia quanto aos custos inicial e de
manutenção.
A ocorrência de problemas ou manifestações patológicas pode ter origem em quaisquer das
etapas de produção e/ou utilização das edificações, relacionando-se diretamente ao nível de
controle de qualidade exigido em cada uma dessas etapas e da compatibilidade entre as
mesmas (IOSHIMOTO, 1988). Erros ou imperfeições no projeto e na execução das diversas
etapas da construção exigem, como consequência, adaptações não previstas no orçamento,
consertos com custos complementares e até necessidade de reconstruções completas, muito
dispendiosas.
Ao conversar com pessoas que estudam, trabalham ou de algum modo utilizam as instalações
da Universidade, percebe-se que essa preocupação é bastante comum. Ainda que leigos no
assunto, sem muita dificuldade os usuários apontam edifícios que possuem problemas sérios e
que chamam atenção.
No entanto, é temerário dizer que os prédios da Universidade estão em más condições pela
simples observação diária de um ou outro edifício. Cada um possui diferentes datas de
construção, que diferem entre si em até cerca de 40 anos, métodos e técnicas construtivas,
materiais utilizados, empresas responsáveis, uso e manutenção, que constituem um cenário
amplo e heterogêneo.
Considerando esses aspectos, o tema deste artigo foi escolhido a fim de identificar, utilizando-
se de vistorias, as principais manifestações patológicas existentes nas estruturas de concreto
das edificações do campus Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo.
2 Revisão bibliográfica
A expressão patologia, originária da medicina, é definida por muitos dicionários como sendo
o ramo da medicina que trata das origens, sintomas e natureza das doenças. Para Dal Molin
(1988), essa definição é valida também para a engenharia, visto que a Patologia das
Edificações é a ciência que estuda e identifica as origens, causas, mecanismos de ação, tipos
de manifestações e consequências das situações em que ocorre perda parcial ou integral do
desempenho das edificações ou de suas partes.
Ainda nesse contexto de comparação, Silva (2011) propõe que assim como as doenças podem
ser adquiridas congenitamente, as manifestações patológicas podem ser provenientes do
período de execução da obra (emprego inadequado de materiais e métodos construtivos) ou da
concepção do projeto, ou ainda serem adquiridas ao longo de sua vida. A morte da estrutura
seria a sua ruína, que dependendo do porte da obra pode ocasionar perda de centenas de vidas,
além de elevadas perdas financeiras.
2.1 Patologia das estruturas de concreto
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A degradação do concreto raramente é devida a uma única causa. Em estágios mais avançados
de degradação do material, mais de um fenômeno deletério pode estar em ação (METHA e
MONTEIRO, 1994).
Cánovas (1988) aponta como uma das principais causas das manifestações patológicas no
concreto armado a falta de qualidade dos materiais empregados em sua execução. A qualidade
dos materiais é imposta através de uma série de normas e prescrições técnicas; o não
cumprimento delas tem como consequência a falta de qualidade do concreto e seus
componentes.
Para Souza e Ripper (1998) as causas das deteriorações das estruturas de concreto podem ser
classificadas como causas intrínsecas (inerentes às estruturas) e causas extrínsecas (externas
ao corpo estrutural).
As causas intrínsecas são aquelas que têm sua origem nos materiais e peças estruturais
durante as fases de execução e/ou de utilização das obras, por falhas humanas, por questões
próprias ao material concreto e por ações externas, acidentes inclusive. As causas de
deterioração da estrutura que independem do corpo estrutural em si, assim como da
composição interna do concreto, ou de falhas inerentes ao processo de execução são as causas
extrínsecas. Pode-se considerar que elas atuam “de fora para dentro” das estruturas durante as
fases de concepção ou ao longo da vida útil.
Os mecanismos mais importantes e frequentes de envelhecimento e de deterioração das
estruturas de concreto descritos na norma ABNT NBR 6118:2014 estão listados a seguir.
a) Mecanismos preponderantes de deterioração relativos ao concreto:
lixiviação (águas puras, carbônicas agressivas e ácidas);
expansão por sulfato;
reação álcali-agregado.
b) Mecanismos preponderantes de deterioração relativos à armadura:
despassivação por carbonatação;
despassivação por ação de cloretos.
c) Mecanismos de deterioração da estrutura propriamente dita:
mecanismos relacionados às ações mecânicas, movimentações de origem térmica,
impactos, ações cíclicas, retração, fluência e relaxação, bem como as diversas ações que
atuam sobre a estrutura.
2.1.1 Fissuras
A fissuração do concreto, muitas vezes, afeta a aparência e estética das estruturas. Um aspecto
não negligenciável é o efeito psicológico de perda de segurança que a fissura transmite aos
usuários de uma edificação (DAL MOLIN, 1988).
Para Souza e Ripper (1998) a caracterização da fissuração como deficiência estrutural
dependerá sempre da origem, intensidade e magnitude do quadro de fissuração existente, uma
vez que o concreto, por ser material com baixa resistência à tração, fissurará por natureza,
sempre que as tensões de tração, que podem ser instaladas pelos mais diversos motivos,
superarem a sua resistência última à tração.
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Nos itens a seguir serão abordadas várias causas que podem motivar o surgimento das tensões
de tração no concreto e em consequência o aparecimento de fissuras, bem como a
configuração das fissuras.
2.1.1.1 Deficiência de projeto
As falhas ocorridas em projetos estruturais, com influência direta na formação de fissuras,
podem ser as mais diversas, assumindo as correspondentes fissuras configuração própria,
função do tipo de esforço a que estão submetidas às várias peças estruturais (SOUZA e
RIPPER, 1998)
Solicitações superiores aos esforços previstos em projeto, podem causar fissuras. A tipologia
dessas fissuras, segundo Aranha (1994), segue padrões próprios de acordo com as
solicitações, sejam elas de tração, compressão, flexão, cisalhamento ou torção. A Figura 1
mostra algumas configurações genéricas de fissuras em função do tipo de solicitação
predominante.
Figura 1 - Algumas configurações genéricas de fissuras em função do tipo de solicitação predominante.
Fonte: Souza e Ripper (1998)
A Figura 2 caracteriza vários tipos de fissuras relacionadas a deficiências da armadura
(SOUZA e RIPPER, 1998):
a) Fissuração por flexão, como conseqüência da insuficiente seção de aço diante do
momento negativo;
b) Fissuração por flexão, como consequência da insuficiente seção de aço diante do
momento positivo;
c) Fissuração por esmagamento do concreto, por insuficiência da armadura de compressão;
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d) Fissuração por cisalhamento, por insuficiência de armaduras para combate ao cortante.
Figura 2 - Fissuração de vigas Fonte: Souza e Ripper (1998).
2.1.1.2 Contração plástica
De acordo com Souza e Ripper (1998) a fissuração por contração plástica ocorre devido à
evaporação excessivamente rápida da água que foi utilizada em excesso no concreto, sendo
que a massa, em consequência, se contrai de forma irreversível, podendo este movimento
acontecer imediatamente após o lançamento do concreto (10 minutos).
As consequências mais comuns devido ao assentamento plástico do concreto são a perda de
aderência das barras de armadura e as fissuras estratificadas no caso de pilares (LANER,
2001).
Este tipo de fissura geralmente é superficial e é mais comum em superfícies extensas, como
lajes e paredes, com as fissuras sendo normalmente paralelas entre si e fazendo ângulo de
aproximadamente 45° com os cantos (SOUZA e RIPPER, 1998).
2.1.1.3 Assentamento do concreto / perda de aderência
Sempre que o movimento natural de assentamento do concreto, resultante da ação da força da
gravidade, é impedido pela presença de formas ou de barras da armadura, há a probabilidade
de fissuração, que é tanto maior quanto mais espessa for a camada de concreto (SOUZA e
RIPPER, 1998).
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2.1.1.4 Retração
De acordo com Torrescasana (1999), os três tipos de retração que ocorrem num produto
preparado com cimento são:
a) Retração química: a reação química do cimento e água se dá com redução de volume; a
força de coesão interna reduz o volume da água em 25%.
b) Retração de secagem: a água em excesso evapora e isto gera forças capilares equivalentes
a uma compressão, produzindo, redução de volume.
c) Retração por carbonatação: a cal hidratada reage com o gás carbônico e forma o carbonato
de cálcio. Esta reação é acompanhada de redução de volume e gera retração.
As fissuras de retração normalmente são notadas algum tempo depois do endurecimento do
concreto.
2.1.1.5 Reações expansivas – reações álcali-agregado
“A reação álcali-agregado pode ser definida como um termo geral utilizado para descrever a
reação química que ocorre internamente em uma estrutura de concreto, envolvendo os
hidróxidos alcalinos provenientes principalmente do cimento e alguns minerais reativos
presentes no agregado utilizado. Como resultado da reação, são formados produtos que, na
presença de umidade, são capazes de expandir, gerando fissurações, descolamentos e podendo
levar a um comprometimento das estruturas de concreto” (HASPARYK, 2005).
Segundo Metha e Monteiro (1994) as expansões e fissurações devidas às reações álcali-
agregado podem comprometer a resistência e a elasticidade de um concreto, por
consequência, sua durabilidade.
As fissuras decorrentes das reações álcali-agregado geralmente não são prejudiciais à
compressão do concreto, embora possam facilitar a entrada de agentes agressivos, que podem
vir a comprometer a estrutura . Se distribuem de forma irregular, lembrando um pouco uma
grande teia de aranha (LANER, 2001).
2.1.1.6 Variação da temperatura
De acordo com Souza e Ripper (1998) a instauração de diferentes estados de tensão em
diferentes seções de uma mesma peça estrutural e a criação de um estado de sobretensão
gerado por contração ou dilatação térmica, são situações que normalmente geram fissuração,
posto que, em qualquer dos casos, criam-se tensões superiores à capacidade resistente ou de
deformação das peças.
Em uma estrutura de concreto as variações térmicas podem ocorrer por influências externas,
como mudanças nas condições ambientais e incêndios, ou por influências internas (calor de
hidratação do cimento com elevação da temperatura do concreto) (DAL MOLIN 1988).
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2.1.2 Lixiviação
A água é o solvente, por excelência, de sais ácidos e bases orgânicas, bem como de uma
pequena parcela de compostos orgânicos, tendo habilidade de dissolver mais substâncias do
que qualquer outro líquido. A lixiviação é a ação extrativa ou de dissolução que os compostos
hidratados da pasta de cimento podem sofrer quando em contato com água, principalmente as
puras ou ácidas (JORGE, 2001).
Quando estas águas entram em contato com a pasta de cimento, tendem a hidrolisar ou
dissolver seus compostos contendo cálcio. Mas, no caso de água corrente ou infiltração sob
pressão, que é o caso de reservatórios de água e piscinas, ocorre uma diluição continua, até
que a maior parte do hidróxido de cálcio tenha sido retirado por lixiviação, expondo os outros
constituintes cimentícios, entre eles os silicatos e aluminatos, à decomposição química
(METHA e MONTEIRO, 1994).
A lixiviação se manifesta em superfícies de concreto na forma de manchas brancas (Figura 3),
seguidas de precipitação de geis com consequente formação de estalactite ou estalagmite,
como mostra. Segundo Helene (1997) sua sintomatologia básica é uma superfície arenosa ou
com agregados expostos sem a pasta superficial, com eflorescência de carbonato, com elevada
retenção de fuligem e com risco de desenvolvimento de fungos e bactérias.
Figura 3 - Laje térrea com eflorescência devido ao processo de lixiviação, devido à falha na impermeabilização
Fonte: Neville (1997)
2.1.3 Corrosão de armadura
A corrosão pode ser definida como a interação destrutiva ou a interação que implica
inutilização para uso, de um material com o ambiente, seja por reação química, ou por
eletroquímica (CASCUDO, 1997).
Uma das principais manifestações patológicas que se tem observado nas estruturas de
concreto armado, segundo Aranha (1994), é a corrosão das armaduras (Figura 4). O autor
identifica que a permeabilidade do concreto, devido à alta relação água/cimento, dosagem
inadequada, e a falha na elaboração do projeto estrutural e/ou na execução da obra, quando
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não garantem os cobrimentos das armaduras normalizados, constituem as principais causas da
corrosão das armaduras.
Figura 4 - Corrosão da armadura do pilar com destacamento do concreto do cobrimento
Fonte: Cascudo (1997)
Para Cascudo (1997) a corrosão eletroquímica, também conhecida por aquosa, é a que
efetivamente traz problemas às obras civis. O autor a descreve como “um ataque de natureza
eletroquímica, que ocorre em meio aquoso, como resultado da formação de uma pilha ou
célula de corrosão, com eletrólito e diferença de potencial entre trechos da superfície do aço.
O eletrólito forma-se a partir da presença de umidade no concreto. Esse tipo de corrosão
suscita um movimento de elétrons ao longo de trechos da armadura e um movimento iônico
através do eletrólito”.
No caso das barras de aço imersas no meio concreto, a deterioração a que se refere a definição
já citada é caracterizada pela destruição da película passivante existente ao redor de toda a
superfície exterior das barras. Esta película é formada como resultado do impedimento da
dissolução do ferro pela elevada alcalinidade da solução aquosa que existe no concreto
(SOUZA e RIPPER, 1998).
A corrosão das armaduras é um processo eletroquímico que para ocorrer necessita da presença
simultânea de umidade, oxigênio e ddp (diferença de potencial), como mostra a Figura 5. O
processo de corrosão ocorre quando a célula eletroquímica estabelece um processo anódico e
um processo catódico. O processo anódico não pode ocorrer até que o filme protetor ou
passivo de óxido de ferro seja removido ou tornado permeável pela ação de íons Cl- (SOUZA
e RIPPER, 1998).
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Figura 5 - Célula de corrosão no meio concreto armado
Fonte: Souza e Ripper (1998)
Na corrosão há a transformação do aço metálico das armaduras em ferrugem, que provoca um
aumento do volume de seis a dez vezes em relação ao volume original. Devido a esta
expansão ocorre a fissuração e o desprendimento do concreto localizado na região do
cobrimento. Associada à transformação do aço metálico das armaduras em ferrugem, surgem,
segundo Souza e Ripper (1998), outros mecanismos de degradação da estrutura (Figura 6),
como perda de aderência entre o aço e o concreto; desagregação da camada de concreto
envolvente da armadura; fissuração.
Figura 6 - Fases da instalação do processo de corrosão em uma barra de armadura
Fonte: Souza e Ripper (1998)
Segundo a morfologia, a corrosão das armaduras pode, de uma forma geral, ser classificada
em: corrosão generalizada, corrosão por pite e corrosão sob tensão fraturante, como mostra a
Figura 7 (CASCUDO, 1997).
Fe+
Fe+ Cl-
Cl-
Cl-
CO2
Eletrólito
(água dos poros
do concreto)
Superfície do concreto
Concreto Não Saturado
Zona Anódica
(corroída)
Zona Catódica
(não corroída)
Condutor
(barra de aço)
e-
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Figura 7 - Tipos de corrosão e fatores que os provocam
Fonte: Cascudo (1997)
a) Corrosão generalizada: ocorre de uma maneira generalizada em toda a superfície do metal,
podendo ser uniforme, com a superfície tendendo a ser lisa e regular, ou não uniforme,
apresentando superfície rugosa e irregular.
b) Corrosão por pite: também conhecida por corrosão puntiforme, é um tipo de corrosão
localizada, no qual há a formação de pontos de desgaste definidos na superfície metálica,
os quais evoluem aprofundando-se, podendo causar a ruptura pontual da barra. A corrosão
por pites será tanto mais intensa e perigosa quanto maior for a relação área catódica/área
anódica. Assim, podem ocorrer pites com altas taxas de dissolução do ferro, de alta
gravidade. Em geral nos casos práticos de corrosão aço-carbono no concreto não é
registrada a ocorrência de pite clássico, como visto em outros meios e com outros metais.
Na maioria dos casos, ao invés de pontos de pequeno diâmetro e grande profundidade,
ocorrem depressões mais rasas e de maior diâmetro, assemelhando-se a “crateras”.
c) Corrosão sob tensão fraturante: é um outro tipo de corrosão localizada, a qual se dá
concomitantemente com uma tensão de tração na armadura, podendo dar origem à
propagação de fissuras (fenômeno de natureza transgranular ou intragranular) na estrutura
do aço. Ocorre predominantemente em estruturas protendidas, mas pode se dar também
em estruturas de concreto armado. No entanto, são em ambientes ricos em cloretos e com
níveis de tensão muito elevados que sua ocorrência é maior e sua incidência passa a ser
preocupante.
3 Discussão dos casos encontrados
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Neste capítulo serão expostas as principais manifestações patológicas encontradas durante as
vistorias nas edificações do campus e discutidas caso a caso. Os prédios vistoriados foram
identificados por letras aleatórias. Foi feita uma abordagem descritiva das manifestações
patológicas em cada prédio vistoriado, e registrou-se cada problema encontrado através de
fotografias.
3.1 Umidade
Ao longo das vistorias realizadas no campus, pôde-se perceber que a umidade é a causa
principal de várias manifestações patológicas. A presença da água nas edificações pode
comprometer não só a sua durabilidade, diminuindo a vida útil, com também a saúde e
segurança do usuário, causando doenças, além de prejudicar a estética do edifício.
Para que a umidade possa atuar nos elementos construtivos é necessário que exista algum tipo
de abertura pela qual a água possa passar; seja através de fissuras presentes nos revestimentos
ou por poros abertos.
Dentre as manifestações provocadas pela umidade, neste trabalho, destacam-se a lixiviação e
as eflorescências.
3.1.1 Lixiviação e eflorescências
As eflorescências são um dos tipos de manifestação patológica encontrada no campus e que
tem a água como agente causador. Segundo Bauer (1997), para que esse fenômeno ocorra é
necessário que três fatores ocorram concomitantemente: sais solúveis existentes nos materiais
ou componentes; presença de água para solubilizá-los; pressão hidrostática para que a solução
migre para a superfície. As eflorescências podem, portanto, ocorrer em alvenarias,
revestimentos de argamassa, chegando a alcançar a pintura, e também em estruturas de
concreto através do processo da lixiviação, que é a ação extrativa ou de dissolução que os
compostos hidratados da pasta de cimento podem sofrer quando em contato com a água
(JORGE, 2001).
A bibliografia técnica aponta uma sintomatologia básica para o fenômeno da lixiviação em
estruturas de concreto. Segundo Helene (1997) é uma superfície arenosa ou com agregados
expostos sem a pasta superficial, com eflorescência de carbonato, com elevada retenção de
fuligem e com risco de desenvolvimento de fungos e bactérias. Somado a isso, formação de
manchas brancas, seguidas de precipitação de geis com formação de estalactites. As imagens
(Figura 8 e Figura 9) mostram que esses sintomas puderam ser facilmente encontrados em
várias edificações da Universidade, em estágio bastante avançado.
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Figura 8 - Ocorrências de lixiviação eflorescências encontradas nas edificações da Universidade
Fonte: Acervo pessoal
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Figura 9 - Ocorrências de lixiviação e eflorescências encontradas no prédio “AI” Fonte: Acervo pessoal
É interessante ressaltar que todas as fotografias da Figura 9 foram obtidas no prédio “AI”,
uma edificação antiga cuja estrutura de concreto é bastante robusta. O edifício chama atenção
pela quantidade e intensidade das manifestações que se desenvolveram. Nota-se que os
elementos estruturais estão em estágio avançado de deterioração e há tempos não recebem
manutenção adequada. Acredita-se que a execução tenha sido bem feita, porém a falta de
manutenção está reduzindo a vida útil da edificação.
Por outro lado, registrou-se um caso em que a situação era contrária. O prédio M, ainda em
fase de execução, já apresentava problemas provenientes da lixiviação na estrutura (Figura
10).
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Figura 10 - Ocorrências de lixiviação e eflorescências encontradas no prédio “M” Fonte: Acervo pessoal
Em entrevista com um técnico da empresa licitada no momento para concluir a obra, a qual
não foi responsável pela execução da estrutura, foi possível perceber pouca ou nenhuma
preocupação com as manifestações encontradas nas lajes e com a recuperação dos elementos
estruturais. Para que o problema seja resolvido, é necessário que a impermeabilização da laje
do pavimento superior seja revisada e que haja um tratamento da estrutura nos pontos
afetados.
3.2 Corrosão de armaduras
Como foi visto no item anterior a percolação da água por elementos construtivos de uma
edificação pode causar inúmeras lesões. E ao percorrer o concreto armado pode atingir a
armadura, provocando a degradação do aço da estrutura através do processo conhecido como
corrosão.
Nas vistorias realizadas foi verificada uma grande quantidade de lajes, vigas e pilares com
problemas de corrosão e, consequentemente, fissuração, desagregação e redução da seção da
armadura. Segundo Aranha (1994) a corrosão das armaduras é uma das principais
manifestações patológicas que se tem observado nas estruturas de concreto armado. Dentre as
principais causas identificadas pelo autor pode-se citar: a permeabilidade do concreto e o
cobrimento das armaduras.
A ABNT NBR 6118:2014 define os cobrimentos mínimos de acordo com a classe de
agressividade de cada ambiente, o que não era levado em conta na versão da norma do ano de
1980. Provavelmente, as edificações do campus que apresentam corrosão da armadura, foram
dimensionadas de acordo com uma norma antiga, anterior à de 1980, e não foi considerado o
fato que a região do campus se enquadra na classe de agressividade III (área com influência
industrial e marinha) onde é grande o risco de deterioração da estrutura. O cobrimento
nominal insuficiente facilita a entrada de substâncias agressivas, como: oxigênio, íons cloreto,
dióxido de carbono, entre outras. Estas substâncias causam a despassivação, corrosão e
deterioração das seções de aço reduzindo a vida útil das estruturas.
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Um dos prédios do campus que mais sofre com a corrosão das armaduras e suas
consequências é o “AI”. Através das vistorias realizadas observou-se que em todo o perímetro
do último pavimento existe uma laje externa à edificação, como pode ser visto na Figura 11.
Esta estrutura possui muitos pontos deteriorados.
Figura 11 - Vista externa do prédio “AI”
Fonte: Acervo pessoal
Na Figura 12, estão ilustrados vários dos casos encontrados. Puderam-se observar várias
armaduras expostas, manchamento do concreto, lixiviação com formação de estalactites e
desplacamento do concreto. É importante salientar que passam, todos os dias, vários alunos
debaixo dessa estrutura.
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Figura 12 - Corrosão das armaduras no prédio “AI” Fonte: Acervo pessoal
Observa-se também (Figura 13), que as falhas e a umidade na estrutura propiciaram a
fertilização eólica (sementes de plantas espalhadas pelo vento que se desenvolveram na laje).
Figura 13 - Fertilização eólica no prédio “AI”
Fonte: Acervo pessoal
Através das vistorias realizadas e do registro fotográfico feito, pode-se dizer que as prováveis
causas das manifestações encontradas estão relacionadas com o fato de ser uma estrutura
externa, presente em um ambiente com alta classe de agressividade e que está em constante
contato com a umidade; por ser também uma edificação antiga que provavelmente não passou
por manutenções periódicas (apenas reformas e reparos internos).
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É necessário que seja feito um projeto para recuperação estrutural da edificação, uma vez que
provavelmente já houve perda de desempenho e por se tratar de um caso generalizado. Uma
vez feitas as devidas correções, é importante adotar um programa de manutenção periódica.
Vale ressaltar que a corrosão é um processo evolutivo, o qual, com o passar do tempo, vai se
agravando. Logo, situações nas quais medidas de segurança são tomadas tardiamente podem
vir a comprometer a segurança estrutural da edificação.
Na área externa do prédio “AN" existem pergolados de concreto, que fazem parte de uma área
de vivência para os alunos, com mesas, bancos e etc. Pergolados são elementos arquitetônicos
com estruturas simples, muito utilizados em jardins e que buscam proporcionar um local
sombreado e aconchegante. O local é muito utilizado para estudos extraclasse, lanches e
descanso. O fato é que os pergolados encontram-se em um estado que causa riscos àqueles
que ficam e passam por debaixo deles. Como é possível ver na Figura 14, várias partes do
concreto já se desplacaram, os pilares possuem grandes fissuras que seguem a armadura
longitudinal, há muitas armaduras expostas e com corrosão, além de manchas.
Figura 14 - Degradação do concreto dos pergolados do prédio “AN"
Fonte: Acervo pessoal
Outro caso semelhante ao do prédio “AI” é o do prédio “Q”. Existem externamente balanços
de vigas de concreto armado (Figura 15) que apresentam corrosão de armaduras.
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Figura 15 - Corrosão das armaduras no prédio “Q”
Fonte: Acervo pessoal
Outra edificação que apresentou diversos casos de corrosão de armaduras foi a “BB”. Como
pode ser visto na Figura 16, além das armaduras expostas, também foram identificadas
manchas, ninhos de concretagem, desagregações e desplacamento do concreto,
principalmente nas vigas externas da edificação.
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Figura 16 - Degradação do concreto da estrutura do prédio “BB”
Fonte: Acervo pessoal
Neste caso, Teao e Crevelin (2012) constataram que a corrosão das vigas foi devida à
insuficiente espessura de cobrimento de concreto, visto que a estrutura se encontra submetida
à ação agressiva da atmosfera marinha e, além disso, não sofreu manutenção ao longo de sua
vida útil. Aliado a estes fatores, tem-se as vigas externas constantemente expostas à umidade,
acelerando o processo de corrosão das armaduras. Um dos fatores principais, levantado pelas
autoras, para o atual estado da edificação consiste na falta de manutenção, visto que desde sua
construção, ou seja, há 30 anos, as dependências do prédio “BB”, bem como seus elementos
estruturais jamais foram monitorados.
No prédio “AL” foram encontradas diversas vigas com armaduras expostas. Como pode ser
visto na Figura 17, existiam brises de concreto no entorno da edificação, mas foram retirados
devido ao estado de degradação que se encontravam.
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Figura 17 - Armaduras expostas do prédio “AL”
Fonte: Acervo pessoal
A edificação possui um projeto de reforma que contempla a retirada dos brises bem como a
recuperação de pilares externos e outros serviços; como mostra parte da nota retirada do
projeto (Figura 18).
Figura 18 - Detalhe da nota do projeto de reforma do prédio “AL”
Fonte: Acervo pessoal
Deve-se ter a consciência de que o foco da atenção deve ser concentrado nas fases de projeto
e construção e na manutenção preventiva para aumento da durabilidade das estruturas de
concreto e para a redução de custos. Quando se trata de custos envolvidos com a recuperação
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de estruturas de concreto deterioradas por corrosão da armadura e de durabilidade, deve-se
sempre lembrar a “lei dos cinco” de Sitter, que mostra a importância de se dar atenção à
qualidade, nas etapas de projeto e de construção, e à manutenção preventiva, no período de
iniciação da corrosão, em relação às manutenções corretivas tomadas após a propagação.
4 Conclusão
O objetivo principal deste artigo foi escolhido a fim de identificar, utilizando-se de vistorias,
as principais manifestações patológicas existentes nas estruturas de concreto das edificações
do campus Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo.
Foram encontrados, principalmente casos de lixiviação e eflorescências e corrosão das
armaduras. Ressalta-se que as análises não podem ser consideradas como absolutas, em razão
do caráter, às vezes subjetivo, que envolve a interpretação das manifestações. Porém,
informações valiosas foram obtidas e seria bastante oportuno que houvesse um
aproveitamento por parte dos responsáveis pelas obras na Universidade, no sentido de
melhorar os níveis atuais de durabilidade e vida útil das edificações.
A corrosão de armaduras mostrou-se como uma manifestação que requer atenção. Em função
do elevado grau de agressividade ambiental, a corrosão de armaduras encontrou um ambiente
propício para a sua incidência, principalmente em edificações mais antigas, como a “AI”, “Q”
e “BB”. A origem desta pode estar relacionada a procedimentos inadequados estabelecidos
tanto na etapa de projeto, como por meio da falta de especificação de um cobrimento
adequado das armaduras, quanta na etapa de execução, quanta na ausência de manutenção ao
longo do tempo.
As vistorias realizadas e as manifestações encontradas, fazem crer que a maioria das
edificações do campus, inclusive aquelas que não foram vistoriadas, é portadora de um ou
mais tipos de manifestações patológicas, o que pode afetar psicologicamente os usuários,
frustrando-os pela estética, segurança e salubridade, aparentemente comprometidas das
edificações.
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