127

Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

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Page 1: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento
Page 2: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

II

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Divisão de Informação e Documentação Gomes, Daniel Galhardo Análise de Ferramentas de Gestão do Processo de Desenvolvimento de Produtos no Setor Aeroespacial Brasileiro para a Melhoria de sua Eficiência / Daniel Galhardo Gomes. São José dos Campos, 2009. 126f. Dissertação de mestrado – Mestrado Profissionalizante em Engenharia Aeronáutica – Área de Sistemas Aeroespaciais e Mecatrônica – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2009. Orientadores: Prof. Dr. Luís Gonzaga Trabasso. 1. Processo de Desenvolvimento de Produto. 2. Desenvolvimento Lean. 3. Ferramentas de aumento de eficiência. I. Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Departamento de Engenharia Mecânica. II. Análise de Ferramentas de Gestão do Processo de Desenvolvimento de Produtos no Setor Aeroespacial Brasileiro para a Melhoria de sua Eficiência

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA GOMES, Daniel Galhardo. Análise de Ferramentas de Gestão do Processo de Desenvolvimento de Produtos no Setor Aeroespacial Brasileiro para a Melhoria de sua Eficiência. 2009. 126f. Dissertação de Mestrado em Engenharia Aeronáutica – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. CESSÃO DE DIREITOS NOME DO AUTOR: Daniel Galhardo Gomes TÍTULO DO TRABALHO: Análise de Ferramentas de Gestão do Processo de Desenvolvimento de Produtos no Setor Aeroespacial Brasileiro para a Melhoria de sua Eficiência TIPO DO TRABALHO/ANO: Dissertação de Mestrado Profissionalizante/ 2009 É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias desta dissertação e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação pode ser reproduzida sem a sua autorização (do autor).

___________________________ Daniel Galhardo Gomes Av. Tubarão, 300 ap. 121 bloco A. – Jd. Aquarius. 12246-140 – São José dos Campos - SP

Page 3: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

III

ANÁLISE DE FERRAMENTAS DE GESTÃO DO PROCESSO

DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS NO SETOR

AEROESPACIAL BRASILEIRO PARA A MELHORIA DE SUA

EFICIÊNCIA

Daniel Galhardo Gomes

Composição da Banca Examinadora: Prof. Luís Gonzaga Trabasso Presidente/Orientador - ITA Dr. Paulo Tadeu de Mello Lourenção Co-orientador – Embraer Prof. Arnoldo Souza Cabral ITA Dr. Sandro Giovanni Valeri Embraer

ITA

Page 4: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

IV

Dedicatória

Dedico este trabalho a minha esposa Milene, que me inspira a ser uma pessoa melhor

todos os dias, e aos meus pais, Manoel e Marilena, pelo apoio e dedicação na construção da

minha educação.

Page 5: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

V

Agradecimentos

Agradeço a Deus, pela saúde e pela oportunidade que me concede, a cada dia, de

continuar em busca dos meus ideais.

Aos meus orientadores, Prof. Gonzaga e Dr. Paulo Lourenção, pelo apoio e pelas

críticas sempre construtivas a este trabalho.

A minha esposa, Milene, pela força extra nos momentos de fraqueza e pela

compreensão do tempo que deixei de dedicar a ela em prol da conclusão deste trabalho.

A minha família, pelo carinho e motivação constantes.

Ao Manoel de Queiroz, que me apoiou e também me orientou neste trabalho.

A todas as pessoas entrevistadas durante a pesquisa deste trabalho, pela oportunidade

de compartilhar seus conhecimentos e pela contribuição imensurável a este trabalho.

Aos colegas de trabalho, José Roberto e Everton, pelo apoio fundamental a conclusão

deste trabalho.

Aos amigos da décima turma do PEE, pelo companheirismo e pela contribuição a

construção do conhecimento que levou aos primeiros passos em direção a este trabalho.

Page 6: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

VI

"Sucesso parece ser em grande parte

uma questão de continuar depois que outros

desistiram."

William Feather (1889 – 1981)

Page 7: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

VII

Resumo

A definição de excelência em gestão de projetos deve ir muito além de uma

experiência de sucesso. As organizações de reconhecida excelência em gestão de projetos

criam um ambiente no qual existe um fluxo contínuo de projetos gerenciados com sucesso.

Conforme menciona Kerzner (2006), para atingir a excelência em gestão de projetos o desafio

está na forma de implementação das técnicas de gestão presentes nas referências há mais de

trinta anos. Neste contexto, a abordagem Lean, baseada na metodologia aplicada pela Toyota,

se destaca como uma abordagem capaz de colocar em prática eficazmente conceitos há tempo

existentes de gestão de projetos. Assim, este trabalho possui três objetivos principais:

primeiro, identificar e avaliar as principais dificuldades de aumentar a eficiência do Processo

de Desenvolvimento de Produtos (PDP), identificadas como oportunidades de melhoria;

segundo, identificar na abordagem Lean três ferramentas de auxilio a gestão deste processo; e

terceiro, avaliar a relação de impacto das ferramentas nas oportunidades de melhoria

analisando a eficácia das ferramentas em prover a melhoria da eficiência do PDP. O método

proposto para a realização destas avaliações tem por base entrevistas semi-estruturadas

realizadas com onze profissionais experientes em PDP, representantes de quatro diferentes

empresas com atuação na indústria aeronáutica e aeroespacial. As entrevistas foram

estruturadas em duas etapas, a primeira o sujeito de pesquisa realizava a avaliação do impacto

das oportunidades de melhoria na eficiência do PDP, com base numa escala de importância, e

na segunda etapa o sujeito de pesquisa realizava a avaliação da relação de impacto de cada

ferramenta identificada nas oportunidades de melhoria, utilizando uma matriz de comparação.

Os resultados mostraram que as principais oportunidades de melhoria no PDP estão

relacionadas a dificuldades de comunicação e gestão das atividades. O conjunto de

ferramentas avaliadas demonstrou ser eficaz afetando de forma moderada a forte a maioria

das causas da ineficiência do PDP.

Page 8: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

VIII

Abstract

Definition of excellence in project management should go beyond of a unique

successful experience. Organizations recognized by excellence in project management create

an environment in which there is a continuous flow of projects managed successfully. As

mentioned by Kerzner (2006), the challenge in achieve excellence in project management

lives in how to implement management techniques present in references for over thirty years.

In this context the Lean approach, based on Toyota design system, stands out as an approach

to effectively put into practice well-know concepts of project management. This thesis has

three main objectives: first, identify and assess the main difficulties to increase the efficiency

of the Product Development Process (PDP), described as opportunities of improvement;

second, identify inside the Lean approach three tools able to improve the way to manage this

process; and third, to evaluate the impact of these tools on the opportunities of improvement,

providing improvement to PDP efficiency. The proposed method for conducting such

assessments is based on semi-structured interviews with eleven professionals experienced in

PDP, representatives of four different companies with experience in the aerospace industry.

The interviews were conducted in two stages, in the first stage; the interviewed performed the

assessment of how the opportunities of improvements impact on the PDP efficiency, using a

level of agreement scale chart, and the second stage the interviewed performed the assessment

of how each tool impacts on the opportunities of improvement, using a matrix of correlation.

The results showed that the main opportunities of improvement in the PDP are related to

difficulties in communication and management activities. The toolkit evaluated proved

effective thus affecting moderate to strong most of the PDP inefficiency causes.

Page 9: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

IX

Lista de Ilustrações

Figura 2-1 - Classificação do tipo de produto. ...................................................................... 23

Figura 2-2 - Características similares das equipes de desenvolvimento, classificadas por área

do gráfico. ............................................................................................................................ 24

Figura 2-3 - Processo de Desenvolvimento de Produtos segundo Rozenfeld et al. (2006). .... 29

Figura 2-4 – Exemplo de WBS com algumas tarefas decompostas em pacotes de tarefas.

Fonte: Adaptado do PMI (2004, p. 114). .............................................................................. 33

Figura 2-5 – Exemplo de um Diagrama de Rede do Projeto (Diagrama PERT) Fonte:

Adaptado do PMI (2004, p. 131). ......................................................................................... 34

Figura 2-6 - Atributos que definem o que é valor para o cliente de produtos aeronáuticos. ... 38

Figura 2-8 - Avaliação do esforço de engenharia .................. . ............................................. 43

Figura 2-7 - Avaliação das atividades de engenharia (% em tempo) ...................................43

Figura 2-9 – Combinação da avaliação de valor agregado de tarefas típicas da engenharia

aeroespacial. ........................................................................................................................ 43

Figura 2-10 - Resultados obtidos pelo LAI ao aplicar os conceitos Lean no PDP Convencional

(resultado medido em tempo do ciclo de desenvolvimento e desvio padrão do tempo do ciclo).

............................................................................................................................................ 44

Figura 2-11 – Tipos de desperdício de conhecimento. .......................................................... 47

Figura 2-12 – Ilustração da separação das responsabilidades do PDP gerando Hand-off. ...... 48

Figura 2-13 - Processo de Desenvolvimento em "V". ........................................................... 50

Figura 2-14 - Processo de desenvolvimento em "V" cascateado. .......................................... 51

Figura 2-15 – Representação da gestão do PDP oscilando entre gestão do caos e gestão de

processos. ............................................................................................................................ 53

Figura 2-16 – Representação da Gestão do PDP equilibrada entre a Gestão baseada em

processos fortemente controlados e a gestão do caos (processos flexíveis), convergindo para a

melhoria da eficiência. ......................................................................................................... 53

Figura 3-1 – Roteiro para o processo de implementação do empreendimento Lean. .............. 61

Page 10: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

X

Figura 5-1 - Comparação entre o resultado esperado e o resultado obtido da análise do

impacto das Oportunidades de Melhoria na Eficiência do PDP. ............................................ 81

Figura 5-2 – Representação da proporção do impacto de cada oportunidade de melhoria

estudada na eficiência do PDP. ............................................................................................. 90

Figura 5-3 – Comparação entre o resultado esperado e o resultado obtido do impacto da

ferramenta Manual de Conceitos nas Oportunidades de Melhoria. ........................................ 94

Figura 5-4 – Comparação entre o resultado esperado e o resultado obtido do impacto da

ferramenta Reunião Diária nas Oportunidades de Melhoria. ................................................. 95

Figura 5-5 – Comparação entre o resultado esperado e o resultado obtido do impacto da

ferramenta Checksheets nas Oportunidades de Melhoria. ..................................................... 97

Figura 5-6 – Comparação entre resultado esperado e resultado obtido do impacto do conjunto

de ferramentas em cada oportunidade de melhoria. ............................................................ 102

Figura 5-7 - Comparação entre resultado esperado e resultado obtido do impacto de cada

ferramenta no conjunto de oportunidades de melhoria. ....................................................... 104

Page 11: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

XI

Lista de Tabelas

Tabela 3-1 – Relação entre as oportunidades de melhoria levantadas e as áreas de dificuldades

no PDP que levam a ineficiência. ......................................................................................... 58

Tabela 3-2 – Representação dos 5 princípios da abordagem Lean de acordo com os focos do

PDP. .................................................................................................................................... 60

Tabela 4-1 – Dados dos entrevistados. .................................................................................. 76

Tabela 5-1 – Resultados Quantitativos da Primeira Etapa da entrevista. ............................... 78

Tabela 5-2 – Tabela de pontos atribuída aos itens da escala de importância. ......................... 79

Tabela 5-3 – Consolidação do resultado da aplicação da primeira etapa da pesquisa. ............ 80

Tabela 5-4 – Classificação das oportunidades de acordo com o número de pontos. ............... 80

Tabela 5-5 – Relação de pesos atribuídos ao impacto de cada oportunidade na eficiência do

PDP. .................................................................................................................................... 89

Tabela 5-6 – Avaliação do impacto de cada ferramenta em cada oportunidade de melhoria de

acordo com a análise das referências. ................................................................................... 91

Tabela 5-7 – Tabela de pontos atribuída as classificações de impacto da ferramenta na

oportunidade de melhoria. .................................................................................................... 91

Tabela 5-8 – Síntese das avaliações do impacto de cada ferramenta em cada oportunidade de

melhoria. .............................................................................................................................. 92

Tabela 5-9 – Relação entre somatório de pontos obtidos pela síntese dos resultados e a

classificação do impacto da ferramenta nas oportunidades de melhoria. ............................... 93

Tabela 5-10 – Resultado da compilação das avaliações realizadas pelos sujeitos de pesquisa

relacionando o impacto de cada ferramenta em cada oportunidade de melhoria. ................... 93

Tabela 5-11 – Síntese dos resultados da primeira e segunda etapa da pesquisa. .................. 100

Page 12: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

XII

Lista de Abreviaturas e Siglas

CAD – Computer Aided Design (Projeto apoiado por Computador)

CAPP – Computer Aided Process Planning (Planejamento de Processo Apoiado por

Computador)

CAE – Computer Aided Engineering (Engenharia Apoiada por Computador)

CMMI – Capability Maturity Model Integration

DFMA – Design for Manufacturing and Assembly

DFx – Design for X (for manufacturing, for reliability, for maintainability, etc)

DIP – Desenvolvimento Integrado de Produto

DP – Desenvolvimento de Produto

EESC-USP – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo

FMEA – Failure Modes and Effects Analyses (Análise de Modos de Falhas e seus Efeitos)

LAI – Lean Advancement Initiative

MIT - Massachusetts Institute of Technology

P&D – Pesquisa & Desenvolvimento

PDP – Processo de Desenvolvimento de Produto

PERT – Program Evaluation and Review Technique

PLM – Product Life-cycle Management

PMBOK – Project Management Body of Knowledge

PMI – Project Management Institute

QFD – Quality Function Deployment (Desdobramento da Função Qualidade)

ROI – Return on Investment (Retorno ao Investimento)

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

WBS – Work Breakdown Structure

Page 13: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

XIII

Sumário

DEDICATÓRIA................................................................................................................. IV

AGRADECIMENTOS ........................................................................................................ V

RESUMO ......................................................................................................................... VII

ABSTRACT .................................................................................................................... VIII

LISTA DE ILUSTRAÇÕES .............................................................................................. IX

LISTA DE TABELAS........................................................................................................ XI

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...................................................................... XII

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 16

1.1. MOTIVAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................. 16

1.2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 18

1.2.1. Objetivo Geral .......................................................................................... 18

1.2.2. Objetivo Específico .................................................................................. 18

1.3. DELIMITAÇÃO DO TRABALHO .......................................................................... 19

1.4. RECURSOS E MÉTODOS ...................................................................................... 19

1.5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................ 20

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 22

2.1. TIPO DE PRODUTOS ............................................................................................. 22

2.2. PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ..................................... 25

2.2.1. Modelo de Processo de Desenvolvimento Integrado de Produtos .............. 27

2.2.2 Forma Convencional de Gestão do Processo de Desenvolvimento

Integrado de Produtos ............................................................................... 31

2.3. PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS LEAN .......................... 35

2.3.1. Abordagem Lean ...................................................................................... 35

2.3.2. Objetivos Específicos do PDP Lean .......................................................... 37

2.3.3. Conceitos Associados ao PDP Lean .......................................................... 38

2.4. PDP CONVENCIONAL VERSUS PDP LEAN ....................................................... 42

Page 14: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

XIV

3. MODELO CONCEITUAL ADOTADO ....................................................................... 55

3.1. OPORTUNIDADES DE MELHORIA NO PDP CONVENCIONAL ....................... 55

3.2. FERRAMENTAS LEAN DE GESTÃO DO PDP ..................................................... 59

3.2.1. Manual de Conceitos ................................................................................ 62

3.2.2. Reuniões Diárias ....................................................................................... 63

3.2.3. Checksheets .............................................................................................. 67

4. ESTRUTURA DA PESQUISA ..................................................................................... 72

4.1. MÉTODOS E ABORDAGENS ................................................................................ 72

4.2. INSTRUMENTOS DE ANÁLISE E ETAPAS DA PESQUISA ............................... 73

4.3. UNIVERSO DE PESQUISA E AMOSTRA ............................................................. 74

5. RESULTADOS .............................................................................................................. 78

5.1. PRIMEIRA ETAPA DA PESQUISA – AVALIAÇÃO DAS OPORTUNIDADES

DE MELHORIA ............................................................................................................. 78

5.2. SEGUNDA ETAPA DA PESQUISA – AVALIAÇÃO DAS FERRAMENTAS

LEAN .............................................................................................................................. 90

5.2.1. Análise Individual de Cada Ferramenta ..................................................... 93

5.2.2. Análises do impacto do conjunto de ferramentas ....................................... 99

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 106

6.1. ANÁLISE DA CONSECUÇÃO DOS OBJETIVOS E SÍNTESE DOS

RESULTADOS ............................................................................................................. 106

6.2. RECOMENDAÇÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS .............................. 109

6.2.1. Avaliar novos conjuntos de ferramentas .................................................. 109

6.2.2. Avaliar as dificuldades de implementação das ferramentas ..................... 109

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 110

APÊNDICE I – ESBOÇO DO MANUAL DE CONCEITOS......................................... 113

APÊNDICE II – ESBOÇO DE CHECKSHEET ............................................................. 114

APÊNDICE III – CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA .......... 119

APÊNDICE IV – QUESTIONÁRIO DE PRIMEIRA ETAPA DA PESQUISA ........... 120

Page 15: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

XV

APÊNDICE V – MATRIZ D E CO MPARAÇÃO DA S EGUNDA E TAPA DA

PESQUISA ....................................................................................................................... 121

APÊNDICE VI – FORMULÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO ..... 122

ANEXO I - EXEMPLOS DE RESULTADOS DA APLICAÇÃO DOS CONCEITOS

LEAN NO PDP ................................................................................................................. 123

Page 16: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

16

1. Introdução

1.1. Motivação e Contextualização

O sucesso econômico de muitas empresas depende da sua habilidade de identificar as

necessidades dos clientes e rapidamente criar produtos que vão de encontro a essas

necessidades. Atingir esses objetivos não é unicamente um problema de análise de mercado,

nem tão pouco um problema unicamente de projeto ou de manufatura do produto; a

dificuldade está no Processo de Desenvolvimento de Produto que envolve todas estas funções

(ULRICH & EPPINGER, 2008).

Assim é possível verificar a forte relação entre eficiência empresarial e a eficiência do

Processo de Desenvolvimento de Produtos. No contexto de desenvolvimento de produtos

complexos, que segundo Ulrich e Eppinger (2008), são aqueles oriundos de uma atividade de

engenharia e cujo produto é formado por sistemas e subsistemas que interagem entre si, esta

relação se torna ainda mais forte, como é o caso da indústria aeronáutica (MURMAN et al.,

2002).

Apesar desta forte relação sempre existir, Kerzner (2006) comenta que por cerca de

trinta e cinco anos antes do início da década de 1990, a gestão de projetos era considerada um

processo inovador, mas estava muito longe de ser vista como essencial para sobrevivência da

empresa. Via-se na gestão de projetos uma ameaça potencial a linhas tradicionais de

autoridade e, na maioria dos casos, utilizava-se apenas uma gestão parcial de projetos

(KERZNER, 2006).

Em meados da década de 1990, essa mentalidade começou a mudar. As empresas

viram-se submetidas a fortes pressões competitivas para criar produtos de qualidade em

prazos cada vez menores. A gestão de projetos deixou de ser percebida como um sistema de

interesse exclusivo do plano interno das organizações, e passou a ser vista como uma arma

Page 17: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

17

competitiva que representa níveis crescentes de qualidade e agrega valor aos interesses dos

clientes (KERZNER, 2006).

Dada a importância crescente de metodologias capazes de melhorar a eficiência da

gestão de projetos, os resultados obtidos pelo sistema de desenvolvimento da Toyota se

destacaram. Segundo Morgan e Liker (2008), a Toyota se mostrou capaz de produzir

automóveis com cerca da metade do tempo das concorrentes norte-americanas e européias e

ainda utilizando metade dos engenheiros; portanto, quatro vezes mais produtiva.

Em 2005, a Toyota já tinha atingido o status de maior montadora de automóveis do

mundo, superando a americana General Motors em número de vendas e em margens de lucro.

Com isso, em 2005 o valor de mercado da Toyota (US$ 177 bilhões) era superior ao valor

somado das empresas General Motors, Chrysler e Ford, ou 13 vezes maior que o daquele da

General Motors sozinha (MORGAN & LIKER, 2008).

A Toyota, portanto, se tornou reconhecida pela excelência em gestão de projetos, pois,

conforme define Kerzner (2006), a definição de excelência em gestão de projetos deve ir

muito além de uma experiência de sucesso; as organizações de reconhecida excelência criam

uma ambiente no qual existe um fluxo contínuo de projetos gerenciados com sucesso.

Estes impressionantes resultados da Toyota despertaram o interesse do mundo todo em

verificar as causas deste nível de eficiência tão sobressalente. Nos últimos anos, diversos

trabalhos (LAI, 2008) vêm sendo realizados no intuito de mapear as metodologias e

principalmente as ferramentas utilizadas pela Toyota.

Apesar dos conceitos aprimorados pela Toyota já possuírem o reconhecimento do

mercado, muito ainda se tem a estudar para compreender de que forma esta metodologia pode

ser implementada e operacionalizada sistematicamente (PESSÔA, 2006).

Page 18: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

18

Segundo Kerzner (2006), atualmente a ênfase dos estudos avançados ligados a gestão

de projetos deve estar na implementação, ou seja, na maneira de aplicar os trinta anos de

teoria de gestão de projetos.

Tanto pelo lado acadêmico, quanto pelo lado da indústria, existe um forte interesse em

entender de que forma os conceitos aplicados pela Toyota estão ligados com a sua eficiência.

A proposta deste trabalho alinha-se a esse conjunto de iniciativas.

1.2. Objetivos

1.2.1. Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho é avaliar se determinadas ferramentas Lean são

relevantes para o aumento da eficiência do Processo de Desenvolvimento de Produtos

Complexos e qual seria o impacto do uso destas ferramentas como solução das principais

causas da falta de eficiência deste processo.

1.2.2. Objetivo Específico

Os objetivos específicos deste trabalho são apresentados a seguir:

• Mapear um modelo convencional do processo de desenvolvimento de produtos

complexos;

• Identificar e avaliar as causas da ineficiência inerente a forma de gerir e organizar

este processo;

• Reconhecer dentro da abordagem Lean ferramentas capazes de melhorar a

eficiência do PDP;

• Investigar a percepção de profissionais experientes no PDP quanto à eficácia de

ferramentas Lean na melhoria da eficiência do PDP.

Page 19: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

19

1.3. Delimitação do Trabalho

Este trabalho limita-se a avaliar o contexto do setor aeroespacial brasileiro. Sendo

assim, o Processo de Desenvolvimento de Produtos analisado refere-se a esse setor, assim

como a identificação de áreas de dificuldades na gestão deste processo.

O Processo de Desenvolvimento de Produtos refere-se ao desenvolvimento de novos

produtos ou de melhorias de produtos que afetam um grande número de sistemas. Os produtos

provenientes deste processo devem atender a requisitos de mercado, ou seja, produtos cujo

cliente pode optar por outro fornecedor.

A análise da eficiência do Processo de Desenvolvimento de Produtos refere-se a

simplificações de processos, ganho de tempo, melhor alocação de recursos e atendimento das

restrições de tempo, escopo e custo. Não se pretende realizar uma avaliação do aumento dos

ganhos econômicos e financeiros, como forma de melhoria da eficiência. Entende-se que este

tipo de análise poderia ser endereçado num desdobramento deste trabalho.

1.4. Recursos e Métodos

O modelo de Processo de Desenvolvimento de Produtos utilizado como referência

neste trabalho foi baseado num modelo genérico, segundo características usuais e padrões

descritos nas referências deste trabalho. A escolha de um processo baseado nas referências

bibliografias, e não pelo o processo real de uma empresa, é justificada por dois motivos

principais.

Primeiro, o desenvolvimento de um sistema complexo é um conjunto de atividades

que leva, em geral, um longo tempo para ser concluído, por exemplo: no caso de uma

aeronave, cerca de quatro a seis anos. Dado o tempo hábil para a execução desta pesquisa, não

haveria tempo suficiente para acompanhar um PDP que não fizesse uso das ferramentas Lean

Page 20: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

20

avaliadas neste trabalho e um PDP que fizesse uso delas, de modo a realizar a comparação

analítica da eficiência de ambos.

O segundo motivo vem da dificuldade de expor o processo de desenvolvimento de

produtos de uma empresa privada. Este tipo de informação é tido como segredo industrial e

possui proteções legais quanto à exposição destas informações, o que acarretaria em diversas

dificuldades para o cumprimento dos objetivos deste trabalho.

Deste modo, optou-se por utilizar um modelo amplamente conhecido e utilizado pela

indústria de um modo geral, descrito amplamente na literatura. As características críticas da

gestão deste processo, objeto de estudo deste trabalho, foram baseadas nas dificuldades e

problemas descritos nas referências.

Assim, o método de pesquisa adotado neste trabalho foi o de entrevistas semi-

estruturadas (YIN, 1994) com profissionais experientes no Processo de Desenvolvimento de

Produtos Complexos, buscando captar a percepção destas pessoas quanto ao impacto das

ferramentas elegidas na eficiência do PDP.

Uma descrição mais ampla dos métodos, abordagens e instrumentos utilizados para a

realização desta pesquisa é apresentado no capítulo quatro – Estrutura da Pesquisa.

1.5. Organização do Trabalho

O trabalho foi estruturado em seis capítulos. O primeiro é de caráter introdutório e

apresenta o contexto, a motivação, o objetivo geral e os objetivos específicos desta pesquisa.

Este capítulo ainda apresenta uma descrição geral do método utilizado para a realização da

pesquisa e o modo como foi organizada a apresentação deste trabalho.

O segundo capítulo contém a fundamentação teórica utilizada no trabalho. Ele inicia

com uma descrição do tipo de produto do qual se deseja estudar o processo de

desenvolvimento, e continua com a descrição de um modelo de referência que foi utilizado

Page 21: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

21

como base deste trabalho. A seguir, é realizada uma breve descrição sobre a abordagem Lean

e quais são os objetivos e os conceitos a ela associados. Por fim, é realizada uma comparação

entre o processo convencional de desenvolvimento de produtos e o processo de

desenvolvimento de produtos que aplica a abordagem Lean, de acordo com a ótica dos

estudiosos da abordagem Lean.

O terceiro capítulo descreve a contribuição principal deste trabalho. São apresentados

os critérios de seleção das oportunidades de melhoria relacionadas com as dificuldades do

aumento da eficiência do PDP e, em seguida, as ferramentas Lean para melhoria da eficiência

do PDP e o critério de escolha destas ferramentas.

O quarto capítulo apresenta os métodos, abordagens e os instrumentos utilizados para

a realização da pesquisa mencionada no item 1.3. São também descritas as etapas para a

realização das entrevistas assim como a descrição do universo de pesquisa e da metodologia

utilizada para a obtenção da amostra deste universo.

O quinto capítulo analisa os resultados da pesquisa. O sexto capítulo traz a conclusão

do trabalho que consiste na forma de consecução dos objetivos e a síntese dos principais

resultados obtidos. Por fim, este capítulo ainda contém sugestões para trabalhos futuros nesta

área.

Page 22: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

22

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Tipo de Produtos

O processo de desenvolvimento de produtos consiste em um conjunto de atividades

para transformar informações tecnológicas e de mercado em um produto que venha ao

encontro das necessidades deste mercado. Toda vez que se inicia um processo de

desenvolvimento de produto, diversos requisitos, naturalmente impostos pelo mercado, devem

ser atendidos. O processo de desenvolvimento de produto situa-se, portanto, na interface entre

a empresa e o mercado (ROZENFELD et al., 2006).

Desde modo, pode-se dizer que esse conjunto de atividades se inicia na percepção de

uma oportunidade de mercado e finaliza na produção, venda e entrega do produto (ULRICH

& EPPINGER, 2008).

Segundo Ulrich e Eppinger (2008), um produto é algo que possa ser vendido por uma

empresa para um consumidor. Sendo assim, é possível identificar diversas categorias de

produtos existentes. Este trabalho se limita à gama de produtos que são criados pelas

atividades de engenharia.

Segundo Rozenfeld (2007), existem algumas formas de classificar um produto, como

por exemplo, pela complexidade de sua interface com o cliente. Um produto com alta

complexidade de interface é aquele cujos parâmetros, que são as necessidades dos clientes

traduzidas em requisitos, são qualitativos. Um produto com baixa complexidade de interface

são produtos cujo cliente sabe o que quer e os parâmetros são objetivos e bem definidos (ex:

compras técnicas). Um produto com alta complexidade de interface, por sua vez, envolve

parâmetros que o cliente não consegue especificar claramente, como a facilidade de interação

com o produto, por exemplo. Rozenfeld (2007) afirma ainda que um produto pode ser

classificado pela sua complexidade de conteúdo tecnológico. Geralmente, quanto mais

complexo tecnologicamente, mais avançada é a tecnologia necessária para seu

Page 23: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

23

desenvolvimento, e, portanto, mais especialista deverá ser a mão-de-obra que irá desenvolver

o produto (ROZENFELD, 2007).

A Figura 2-1 faz uma relação entre os dois modos de classificação de produtos acima

referenciadas e ilustra alguns exemplos.

Figura 2-1 - Classificação do tipo de produto.

Fonte: Adaptado de Rozenfeld (2007).

A linha verde tracejada representa o mínimo de complexidade tecnológica, e a linha

com traços e pontos em azul representam o mínimo de complexidade de interface.

Por esse gráfico, é possível agrupar determinados tipos de produtos e a identificar

características similares no processo de desenvolvimento para cada um destes grupos.

Rozenfeld (2007) defende que para o desenvolvimento de produtos com alta complexidade de

interface e com alta complexidade do conteúdo tecnológico, é necessário equipes

multidisciplinares e com participações de equipes com competências tecnológicas.

A Figura 2-2 ilustra as características peculiares as equipes de desenvolvimento dos

produtos de cada área delimitada no gráfico da Figura 2-1.

Page 24: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

24

Figura 2-2 - Características similares das equipes de desenvolvimento, classificadas por área do gráfico.

Fonte: Rozenfeld (2007).

Por uma delimitação de escopo, este trabalho trata especificamente de sistemas

complexos. Sistemas complexos são sistemas que possuem muitos outros subsistemas e

componentes que interagem entre si (ULRICH & EPPINGER, 2008). Este tipo de produto

situa-se no quadrante superior direito dos gráficos das Figura 2-1 e Figura 2-2. Exemplos

deste tipo de produto são aeronaves e automóveis.

Como o intuito deste trabalho é analisar a eficiência do processo de desenvolvimento

de produto, a decisão por sistemas complexos se torna quase natural, pois, tradicionalmente, o

processo de desenvolvimento deste tipo de produto, na maioria das empresas ao redor do

mundo, é ineficiente (KATO, 2005).

Por exigir equipes multidisciplinares e equipes de competências tecnológicas, a gestão

das atividades durante o processo de desenvolvimento de sistemas complexos não é trivial, e a

interface entre as equipes e a otimização do produto são pontos de atenção constante.

Page 25: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

25

2.2. Processo de Desenvolvimento de Produtos

O modelo de desenvolvimento que predominou após a Primeira Guerra Mundial é

conhecido como Desenvolvimento de Produtos Se qüencial. Esse modelo é assim

denominado porque as informações geradas sobre um produto eram encaminhadas de uma

área funcional para outra, seguindo uma seqüência lógica: primeiro Marketing, depois Design,

Engenharia, Produção etc. Não havia, portanto, uma interação forte entre as áreas durante e

depois da realização das atividades. O processo seqüencial gerava um ambiente com

diferentes padrões de trabalho, e a experiência de cada área evoluía de forma diferente, o que

acarretava a evolução dos procedimentos e das atividades baseados na experiência de cada

pessoa (ROZENFELD et al., 2006).

Uma das características deste modelo de desenvolvimento é que as atividades da

equipe de Desenvolvimento de Produto (DP) e das equipes de Pesquisa e Desenvolvimento

(P&D)1

As limitações inerentes a esse modelo não tardaram a aparecer. À medida que a

concorrência aumentava, impondo às empresas requisitos de qualidade, tempo e custo, novas

técnicas de DP foram surgindo e modificando sua forma seqüencial.

eram consideradas como um conjunto de atividades de risco e, portanto, de difícil

mensuração e controle. Deste modo, existia nestas áreas, uma forte resistência a controles, à

contabilidade de custos e análise do retorno de investimentos. Esta característica gerava uma

série de dificuldades para o modelo, exemplificada pela distância entre a alta administração da

empresa e as definições de metas das equipes de P&D e de DP, além de formar uma barreira

de comunicação entre essas áreas e o restante da empresa (ROZENFELD et al., 2006).

1 O processo de P&D realiza atividades de pesquisa voltadas para o desenvolvimento ou domínio de tecnologias, isto é, soluções baseadas em fenômenos físicos e químicos voltados para a solução de problemas bastante específicos, que serão posteriormente utilizadas no processo de Desenvolvimento de Produtos (DP) (ROZENFELD et al., 2006).

Page 26: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

26

Uma das mudanças foi o surgimento da função de gerente de projeto, que deveria se

preocupar com o projeto como um todo e cuidar da transição do projeto entre as áreas, sendo

sua responsabilidade, a integração do projeto (ROZENFELD et al., 2006).

Com o avanço das novas técnicas, que buscavam a utilização de times multifuncionais

de projeto, o aumento da produtividade do trabalho da engenharia, a diminuição dos erros de

projeto e uma proposta de seqüências de etapas e atividades que fosse capaz de implementar

um processo com técnicas sistemáticas, o conceito de Desenvolvimento Integrado d e

Produto (DIP) se firmou como uma das evoluções da era do Desenvolvimento Seqüencial na

década de 1990 (ROZENFELD el al, 2006).

As diversas abordagens que nasceram desta evolução, como a Engenharia Simultânea,

o Funil de Desenvolvimento, Six Sigma, Modelos de Maturidade (CMMI) possuíam várias

características comuns que influenciaram umas as outras. Juntas constituíram a era do

Desenvolvimento Integrado de Produto (ROZENFELD et al., 2006).

As técnicas de DIP permitiram que as atividades de DP e P&D fossem inseridas dentro

da estratégia geral da empresa. Esta evolução permitiu que as atividades exercidas nestas

áreas fossem controladas e avaliadas constantemente, sendo necessária a justificativa dos

recursos aplicados. Características como equipes multifuncionais, profissionais mais

generalistas, a participação dos fornecedores desde o inicio do desenvolvimento, entre outras,

marcam este tipo de abordagem. Um ponto de destaque destas abordagens mais recentes é

apresentar o desenvolvimento de produtos como um processo (ROZENFELD et al., 2006).

A ênfase em equipes de desenvolvimento multifuncionais com forte liderança e com

participação ativa de especialistas de diversas áreas funcionais resultou em um salto

significativo na produtividade do processo de desenvolvimento, na qualidade dos produtos e

na rapidez das respostas às exigências dos consumidores (ROZENFELD et al., 2006).

Page 27: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

27

Um dos desafios da implantação completa dessa abordagem integrada é a efetiva

utilização das melhores práticas de desenvolvimento de produtos, visto que a maioria das

empresas conseguem somente implementar parcialmente as práticas sugeridas.

(ROZENFELD et al., 2006).

2.2.1. Modelo de Processo de Desenvolvimento Integrado de Produtos

Na literatura sobre as técnicas de DIP é predominante a divisão do processo de

desenvolvimento em fases. O que determina uma fase é a entrega de um conjunto de

resultados (deliverables), que juntos determinam um novo patamar de evolução do projeto de

desenvolvimento. Os resultados criados em cada fase deverão ser “congelados” a partir do

momento em que a fase é finalizada (ROZENFELD et al., 2006).

Ulrich e Eppinger (2008) dividem o processo de desenvolvimento de produto em seis

fases:

0. Planejamento: é a fase onde são consideradas as estratégias de mercado da

empresa, onde ela faz a avaliação do desenvolvimento tecnológico e dos objetivos

de mercado. A saída desta fase é a declaração da missão do projeto, com as

especificações do público alvo, características que o produto deve conter e os

objetivos do negócio.

1. Projeto C onceitual: nesta fase são criadas e avaliadas alternativas de produtos

conceituais, e um ou mais conceitos são selecionados para seguir com o

desenvolvimento e teste.

2. Projeto de Sistemas: a definição da arquitetura do produto e a decomposição em

subsistemas e componentes são as atividades desenvolvidas nesta fase. Assim

como, o esquema de montagem final também é normalmente definido nesta fase.

Page 28: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

28

3. Projeto D etalhado: a fase de detalhamento do projeto inclui uma completa

especificação da geometria, material e tolerância de todas as únicas partes do

produto e a identificação de todas as partes que serão adquiridas com parceiros. O

projeto de ferramentas para a produção de cada parte também é realizado nesta

fase. A saída principal desta fase é um desenho completo descrevendo a geometria

de cada parte, assim como a ferramenta necessária para sua fabricação ou a

descrição do fornecedor, e o plano de fabricação e montagem do produto.

4. Testes e R efinamento: a fase de teste e refinamento envolve a construções de

versões pré-serie para avaliações. Os protótipos construídos nesta fase, chamados

de protótipo Beta (são um segundo tipo de protótipo, inicialmente são realizados

alguns protótipos Alfa, desde a fase de desenvolvimento conceitual, para testes

iniciais de sistemas), são geralmente produzidos juntos com os parceiros com a

intenção de estudar a integração dos sistemas assim como um processo de

fabricação e montagem (o processo utilizado nesta produção não é

necessariamente o processo final). Questões de desempenho e confiabilidade são

estudadas a fim de viabilizar eventuais mudanças de engenharia para o produto

final.

5. Início de P rodução: nesta fase o processo final de produção é utilizado para a

fabricação dos primeiros produtos, fazendo uso desta tarefa como meio de

treinamento e aprendizado do processo final. A transição da produção inicial para

a produção em séria é feita de forma gradual e natural, geralmente.

A Figura 2-3, apresentada por Rozenfeld et al. (2006, p. 44), mostra a forma como o

autor descreve o processo de desenvolvimento de produto. É possível notar uma convergência

Page 29: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

29

na linha de raciocínio de ambos os autores, onde as divisões e denominações das fases são

muito próximas.

Figura 2-3 - Processo de Desenvolvimento de Produtos segundo Rozenfeld et al. (2006).

Fonte: http://www.pdp.org.br/ acessado em 11/09/2008 as 19:00hs.

Os “Gates”, que a Figura 2-3 ilustra, são as revisões que ocorrem após o termino de

cada fase. É possível verificar que em fases de detalhamento do projeto algumas revisões

preliminares são necessárias. Mesma linha de raciocínio apresentada por Ulrich e Eppinger

(2008).

O processo é organizado de forma a se tornar uma seqüencia de passos que transforma

determinadas entradas em determinadas saídas. Segundo Ulrich e Eppinger (2008), um bem-

definido processo de desenvolvimento de produto é útil pelas seguintes razões:

• Qualidade as segurada: o processo irá especificar as fases que um projeto de

desenvolvimento irá atravessar e os checkpoints ao longo do caminho. Acredita-se

que quando estas fases e checkpoints são bem escolhidos, seguir o processo de

desenvolvimento é um caminho de assegurar a qualidade do produto resultante.

Page 30: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

30

• Coordenação: um processo claramente articulado atua como um plano mestre

que define as regras para cada um dos membros da equipe. Este plano informa os

membros da equipe quando suas contribuições serão necessárias e com quem eles

terão que trocar informações.

• Planejamento: como o processo de desenvolvimento descreve as fases e as

relações entre as atividades (entradas e saídas) o processo de planejamento é

naturalmente facilitado, sendo necessário somente estimar o tempo necessário

para as atividades.

• Gestão: a tarefa de gestão é amenizada, pois o acompanhamento do desempenho é

feito comparando os eventos atuais com os eventos estabelecidos no processo,

sendo possível identificar facilmente áreas com problemas.

Junto a esta forma de organizar o PDP é aplicada diversas técnicas e métodos de

Desenvolvimento Integrado de Produto, como por exemplo: DFx, CAE, FMEA, entre outras.

O foco principal das referências analisadas (ROZENFELD et al., 2006; ULRICH &

EPPINGER, 2008) está na integração e uso destas técnicas no PDP.

Entretanto, o foco deste trabalho está na forma de gestão da integração de todas estas

técnicas de modo a resultar num Processo de Desenvolvimento de Produtos eficiente.

Assim sendo, buscou-se identificar uma metodologia de gestão de projetos que fosse

amplamente conhecida na indústria e que fosse capaz de prover meios de gerir o PDP e todas

as técnicas de DIP. A seguir, é realizada a apresentação desta metodologia.

Page 31: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

31

2.2.2 Forma Convencional d e G estão d o P rocesso d e D esenvolvimento

Integrado de Produtos

Além de descrever a forma como as atividades acontecem no PDP, é importante

verificar as melhores práticas de gestão destas atividades. O processo descrito anteriormente

foi idealizado de tal forma a facilitar esta tarefa, mas para que ocorra uma gestão eficiente

deste processo, é preciso que se faça uso de técnicas de gestão de projetos. Uma organização

que se destaca internacionalmente por unir as melhores práticas de gestão de projetos é o PMI

(Project Management Institute), dos Estados Unidos, e por isso suas técnicas foram

consideradas neste trabalho como o modelo convencional de gerenciamento do processo de

desenvolvimento integrado de produto.

Segundo o PMI, através do seu guia de gestão de projetos, o PMBOK (Project

Management Body of Knowledge), a atividade de gestão de projeto é dividida em nove áreas

de conhecimento, que são elas (PMI, 2004, p. 9):

• Administração da Integração do Projeto;

• Administração do Escopo do Projeto;

• Administração do Tempo do Projeto;

• Administração do Custo do Projeto;

• Administração da Qualidade do Projeto;

• Administração do Recurso Humano do Projeto;

• Administração da Comunicação do Projeto;

• Administração do Risco do Projeto; e

• Administração das Aquisições do Projeto.

Page 32: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

32

O PMI estabelece para cada uma destas áreas de conhecimento alguns processos (44

processos no total), cada processo contendo suas entradas e suas saídas. O intuito de cada um

destes processos é contribuir para gestão das atividades do PDP.

No caso do PDP de sistemas complexos, para cada fase de desenvolvimento existem

inúmeras tarefas que devem ser realizadas por um número razoável de pessoas. Para gerenciar

estas atividades, o PMI recomenda que cada tarefa que levará muito tempo para ser realizada

seja quebrada em tarefas menores. O resultado deste exercício é chamado de Work

Breakdown Structure (WBS). O WBS será uma decomposição hierárquica das atividades a ser

executada pela equipe do projeto, e deverão ser orientadas as entregas (deliverables), pois

para cada elemento do WBS deverá ser listado a entrada e a saída necessária para que ela

ocorra.

Os elementos de menor nível do WBS são denominados de pacotes de trabalho, e eles

são criados de forma que seja possível dimensionar o seu prazo e a estimativa de custo. Desde

modo é possível facilitar o trabalho de monitoramento e controle do trabalho planejado (PMI,

2004). A Figura 2-4 ilustra um exemplo de WBS.

Page 33: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

33

Figura 2-4 – Exemplo de WBS com algumas tarefas decompostas em pacotes de tarefas.

Fonte: Adaptado do PMI (2004, p. 114).

O passo seguinte consiste em definir as dependências entre as tarefas, ou seja,

estabelecer uma relação entre as atividades que precisam ser finalizadas antes que outras

possam começar, e assim construir o diagrama de rede do projeto, ou diagrama PERT.

Este diagrama é útil para se traçar o tempo necessário para a execução do projeto,

assim como identificar o Caminho Crítico entre as atividades. Caminho Crítico é um termo

criado para designar um conjunto de tarefas vinculadas a uma ou mais tarefas que não têm

margem de atraso, em outras palavras, é a seqüência de atividades que devem ser concluídas

nas datas programadas para que o projeto possa ser concluído dentro do prazo final. O tempo

de execução do projeto é determinado pelo somatório do tempo necessário para a execução

das atividades pertencentes ao caminho crítico. Se o prazo final for excedido, é porque no

mínimo uma das atividades do caminho crítico não foi concluída na data programada (PMI,

2004).

Page 34: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

34

É importante entender a seqüência do caminho crítico para conhecer os pontos onde

existe flexibilidade. Por exemplo, poderá existir uma série de atividades que foram concluídas

com atraso, no entanto, o projeto como um todo ainda será concluído dentro do prazo, porque

estas atividades não se encontravam no caminho crítico. Por outro lado, se o projeto está

atrasado, o fato de alocar recursos adicionais em atividades que não estão no caminho crítico

não fará com que o projeto termine mais cedo. A Figura 2-5 ilustra um exemplo do diagrama

de rede do projeto.

Figura 2-5 – Exemplo de um Diagrama de Rede do Projeto (Diagrama PERT)

Fonte: Adaptado do PMI (2004, p. 131).

Através destas ferramentas o PMI indica diversas metodologias para elaborar e

gerenciar o cronograma do projeto, assim como realizar o controle de custos.

O papel do Gerente de Projeto, portanto, é o de dominar todas as áreas de

conhecimento relacionadas à atividade de gestão de projetos aqui mencionadas, realizar o

acompanhamento do projeto fazendo uso das ferramentas de controle a fim de atender os

objetivos do escopo, os prazos e os custos do projeto (conhecida como restrição tripla). A

qualidade de projeto é afetada pelo balanço destes três fatores. Seguindo esta metodologia, um

projeto de alta qualidade é aquele que entrega um produto que atende aos requisitos e

Page 35: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

35

funcionalidades previstos no escopo, no tempo e dentro do orçamento. Gerentes de Projeto

também gerenciam as incertezas que circundam o PDP, o risco é um evento incerto que se

acontecer pode impactar positivamente ou negativamente pelo menos um dos objetivos do

projeto (PMI, 2004).

O modelo de organização do processo de desenvolvimento integrado de produto,

juntamente com o modelo convencional de gerenciamento deste processo descritos neste

capítulo foi considerado como o Processo Convencional de Desenvolvimento de Produtos,

doravante referenciado como PDP C onvencional. As análises realizadas neste trabalho

comparam, portanto, o PDP Convencional com o Processo de Desenvolvimento Integrado de

Produtos que faz uso da abordagem Lean no gerenciamento deste processo, doravante

referenciado como PDP Lean.

A seguir, é realizada a descrição do modelo de PDP Lean utilizada neste trabalho.

2.3. Processo de Desenvolvimento de Produtos Lean

2.3.1. Abordagem Lean

No final da década de 80 acreditava-se que o principal motivo para a vantagem

competitiva que a Toyota estava tendo frente a seus concorrentes fosse sua forma de fabricar

seus produtos. Desde então, diversos entidades buscaram entender os princípios que a Toyota

aplicava na sua linha de produção. James P. Womack do MIT (EUA) e Daniel T. Jones da

Lean Enterprise Academy (Reino Unido) foram um dos pioneiros a conseguir descrever esta

abordagem.

“Lean Thinking” (Pensamento Enxuto) foi um termo criado por eles para denominar a

metodologia de negócios baseada no modelo Toyota de produção. No livro A Máquina que

Mudou o Mundo2

2 JONES, D.; WOMACK, J. A Máquina que Mudou o Mundo. 2004. Ed. Campus.

, Womack e Jones (2004) apresentam inúmeros dados de benchmarking

Page 36: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

36

para mostrar que existe uma forma melhor de organizar e gerenciar o relacionamento com

clientes, cadeia de fornecedores, desenvolvimento de produtos e operações de produção, uma

abordagem na qual a Toyota foi pioneira após a Segunda Guerra Mundial. Sendo assim, a

abordagem desenvolvida pela Toyota passou a ser conhecida mundialmente como Lean

Production (Produção Enxuta), pois se trata de uma forma de fazer cada vez mais com cada

vez menos (WOMACK & JONES, 2004).

Segundo Womack e Jones (2004) a abordagem Lean é um poderoso antídoto ao

desperdício, onde se busca aplicar determinados princípios de forma a especificar valor,

alinhar na melhor seqüência as ações que criam valor, realizar estas atividades sem

interrupção toda vez que alguém as solicita e realizá-las de forma cada vez mais eficaz. Deste

modo, Womack e Jones (2004) definem os cinco princípios da abordagem Lean:

• Valor

• Fluxo de Valor

• Fluxo Contínuo

• Produção Puxada

• Perfeição

Os resultados obtidos com aplicação destes princípios geralmente implicam em um

aumento da capacidade de oferecer os produtos que os clientes querem, na hora que eles

querem, nos preços que eles estão dispostos a pagar, com custos menores, qualidade superior,

lead times curtos, garantindo assim uma maior rentabilidade ao negócio. No ambiente de

produção da indústria de manufatura, a abordagem Lean vem sendo aplicada com grandes

resultados em eliminação de desperdícios3

3 Lean Institute Brasil. Entidade de pesquisa, educação e treinamento dedicada à disseminação dos

conceitos da Postura Lean no Brasil. <www.lean.org.br> Acesso em: 2 agosto de 2008.

(LIB, 2008).

Page 37: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

37

Hoje é notório que a vantagem competitiva da Toyota vai além da forma de

manufaturar seus produtos. O modo de conduzir e gerir seus negócios despertou interesse

mundial e hoje é tido como benchmarking em eficiência empresarial. O Anexo I traz cases de

empresas que aplicaram os conceitos Lean no seu processo de desenvolvimento de produtos e

obtiveram excelentes resultados, seja em níveis de eficiência, seja em produtos de renomada

qualidade. Conforme será apresentado a seguir, a Toyota introduz o conceito que a eficiência

empresarial está fortemente ligada com a eficiência do PDP que se estende até o processo

produtivo.

2.3.2. Objetivos Específicos do PDP Lean

Segundo McManus (2003), o PDP Lean possui três objetivos, representando três áreas

muito diferentes de melhoria de processos. São eles:

• Criar produtos certos;

• Integração eficaz da empresa;

• Processos eficientes de engenharia.

Criar produtos c ertos é criar produtos que além de satisfazer plenamente seus

consumidores ainda permite que todas as pessoas impactadas pelas atividades da empresa

criadora do produto (os stakeholders) sejam beneficiadas. Os benefícios atingem tanto as

pessoas que participaram do desenvolvimento e produção do produto, incluindo parceiros e

fornecedores, como a própria empresa criadora e o consumidor final, logicamente.

Para isso, o primeiro passo é conseguir identificar o que é valor para o cliente final e

interpretá-lo como características do produto. Entender o que é valor para o cliente é a chave

do PDP Lean. Por exemplo, no mercado aeronáutico, assim como em outros, o valor para o

cliente é geralmente expresso pela combinação do desempenho do produto (qualidade,

Page 38: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

38

características e atributos livres de defeitos), sua disponibilidade quando o cliente necessita e

o custo total da propriedade do produto, que representa desde o valor de compra e segue até o

custo de manter o produto. Os clientes de produtos aeronáuticas buscam balancear estes três

atributos para alcançar a melhor escolha (MURMAN, 2007).

A Figura 2-6 apresenta um diagrama que ilustra este raciocínio.

Figura 2-6 - Atributos que definem o que é valor para o cliente de produtos aeronáuticos.

Fonte: Adaptado de Murman (2007 apud SLACK, 1999).

Por fim, o PDP Lean trabalha com uma série de processos e ferramentas que permitem

aumentar a eficiência d a engenharia buscando diminuir cada vez mais o alto índice de

desperdício inerente ao PDP Convencional. O objetivo é aplicar os conceitos do “Pensamento

Lean” para eliminar desperdícios e melhorar o tempo e a qualidade da engenharia (WARD,

2007).

2.3.3. Conceitos Associados ao PDP Lean

As técnicas mais recentes de PDP, conforme apresentado anteriormente, possuem

abordagens e metodologias que compartilham alguns dos objetivos do PDP Lean. Como

exemplo, o foco no cliente, buscando criar produtos certos, é um objetivo que cada vez mais

as empresas vêm buscando se aprimorar, e a aplicação de técnicas como DFx, CAE, FMEA,

Page 39: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

39

entre outras, buscam diminuir diversas formas de desperdícios, como o retrabalho (ULRICH

& EPPINGER, 2008). Entretanto, e efetiva eficiência empresarial só é atingida quando a

empresa faz uso de seus recursos de forma cada vez mais eficiente e ainda apresenta melhoria

contínua na qualidade de seus produtos (MORGAN & LIKER, 2008).

A forma como a Toyota vem atingindo uma elevada eficiência empresarial é um

exemplo da viabilidade de atingir esses resultados fazendo uso de meios aparentemente

menos complexos de gestão de projetos.

Conforme apresentado anteriormente, no PDP Convencional os processos definidos na

forma de WBS e Diagrama PERT são as ferramentas utilizadas para garantir que tudo saia

conforme planejado. Segundo Ward (2007), no PDP Convencional as expectativas de sucesso

se baseiam no uso destas ferramentas e é para elas que as partes envolvidas no projeto

mantêm suas atenções, principalmente as equipes de desenvolvimento, que serão as mais

cobradas para atender ao processo. Deste modo, Ward (2007) conclui que o processo

estabelecido através destas ferramentas é o principal foco do PDP Convencional.

Ward (2007) sugere o seguinte questionamento: se o produto proveniente deste projeto

não atingiu o Retorno sobre Investimento (ROI) desejado, nem tão pouco o market share

esperado, onde mora a culpa pela falta de sucesso do projeto, sendo que ele seguiu fielmente

os passos definidos pelo processo? A resposta pode estar sobre aqueles que definiram o

escopo, ou na equipe responsável pela venda do produto que não soube entender as vantagens

do produto, ou ainda na comunicação entre as partes: analistas de mercado, engenharia e

vendas.

O fato é que a experiência de diversas empresas no ramo de desenvolvimento de

sistemas complexos mostra que atingir a tão almejada restrição tripla (entregar o projeto

dentro do prazo, tempo e custo estipulado) seguindo o que o processo manda não é uma tarefa

simples, seja por motivo de dificuldade de se definir o processo, seja pela dificuldade de se

Page 40: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

40

cumpri-lo. E mesmo que essa difícil meta seja atingida, não existe garantia de sucesso do

projeto no ponto de vista de retorno para a empresa (WARD, 2007).

Por isso que na abordagem Lean de desenvolvimento de projetos o conceito de

desenvolvimento focado em processos é tão criticado. O principal valor para o PDP não pode

estar sobre o processo, pois ele não é garantia de sucesso no seu sentido mais amplo, tanto

para a lucratividade da empresa como para a alocação de recursos do projeto (WARD, 2007).

Baixo ROI e perda de market share são causadas por projetos defeituosos que perdem

o tempo de mercado, têm problemas de custo de manufatura e fuga de qualidade ou não

atendem o orçamento e prazo planejado. Quase todos os projetos defeituosos é resultado de

não ter o conhecimento certo na hora certa e no lugar certo. Portanto, conhecimento útil é

o valor básico criado durante o desenvolvimento. Conhecimento útil previne defeitos,

empolga os clientes e cria processos de cadeia de produção lucrativos (WARD, 2007).

Segundo Allen Ward (2007) no PDP Lean o desempenho do desenvolvimento pode

ser medido pela consistente lucratividade do fluxo de valor operacional (cadeia de produção)

que ele produz, e pela taxa que ele gera conhecimento útil. Portanto, o processo de

desenvolvimento cria dois tipos de valores: produtos manufaturáveis e conhecimento útil.

Ward (2007) define que o foco no conhecimento útil é o coração do PDP Lean.

O modo como as atividades são gerenciadas no PDP Convencional não estimula a

geração de conhecimento. Os desenvolvedores se preocupam em atender a seqüência de

atividades impostas pelo processo, e o resultado final de seus trabalhos é o que de fato

importa (output ou deliverables). A oportunidade de se aprender com o processo que guiou o

desenvolver a sua decisão final não é aproveitada e esse aprendizado não fica com a empresa

(WARD, 2007).

Page 41: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

41

Possuir o controle sobre seu conhecimento útil e sua habilidade de aprender permite

uma empresa se destacar perante as concorrentes, pois aumenta sua capacidade de agir

rapidamente e de forma mais assertiva (WARD, 2007).

Foco na retenção do conhecimento, reconhecer aqueles que permitem que isso

aconteça e que fazem isso bem permite a empresa a incentivar a criação do conhecimento. O

PDP Lean faz uso de metodologias e ferramentas para manter o conhecimento gerado durante

o processo de tomada de decisões, e ao compreender que o foco do desenvolvimento é gerar

conhecimento útil fica mais fácil entender o modo como se gerencia as atividades e as pessoas

envolvidas neste processo (MORGAN & LIKER, 2007).

O último dos cinco princípios da postura Lean é a perfeição, a eterna busca pela

melhoria contínua. É neste aspecto que a retenção do conhecimento útil se torna tão

importante, pois esse seria o principal caminho para a empresa conseguir se aperfeiçoar,

conseguir agir de forma mais rápida e mais assertiva, proporcionando a possibilidade de

possuir o conhecimento certo na hora certa, e de manter as pessoas motivadas e engajadas na

missão da empresa (WARD, 2007).

Murman (2007) conclui que a Engenharia Lean não é mais uma metodologia

reorganizada de forma diferente que ignora o conhecimento de engenharia, nem tão pouca

uma engenharia de cortes. A Engenharia Lean é uma combinação inteligente da engenharia

“tradicional”, baseada em princípios e ferramentas da ciência e da matemática, com o

processo de engenharia baseado nos princípios do “Pensamento Lean”. O intuito é buscar a

excelência no desenvolvimento, com a quantidade certa de engenharia, no momento certo,

para o objetivo certo.

Page 42: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

42

2.4. PDP Convencional versus PDP Lean

Resultados de pesquisas realizadas pela Lean Advancement Initiative – LAI – (antes

denominada Lean Aerospace Initiative) do MIT, e relatos vindos de funcionários de empresas

de desenvolvimento aeronáutico ilustram um cenário claro das práticas correntes de PD na

indústria aeronáutica. Um processo formal é necessário em quase todas as atividades de

engenharia, para satisfazer qualidade, segurança e questões de regulamentação, além de

permitir gerenciamento da complexidade dos sistemas aeronáuticos, segundo relato de

profissionais do setor aeroespacial.

Entretanto, estes processos são freqüentemente mal definidos. Geralmente eles são

referentes a práticas obsoletas, contem detalhes que não são mais relevantes, ou maneiras

antigas de tratar questões novas, como novos materiais e tecnologias. Como resultado, estes

processos são freqüentemente seguidos com pouco engajamento. Entretanto um trabalho de

qualidade é atingido, mas graças ao profissionalismo de engenheiros e administradores

envolvidos, e as práticas de revisão e verificação conservadora. Porem, este quadro possui um

altíssimo potencial de processo ineficiente. (MCMANUS, 2003).

McManus (2003) realizou uma pesquisa com profissionais da indústria aeronáutica, e

segundo a opinião dos próprios engenheiros de desenvolvimento, cerca de 40% das atividades

realizadas pela engenharia foram identificadas como atividades que não adicionavam valor

algum ao processo, e cerca de 30% das atividades não adicionavam valor, mas eram

indispensáveis, restando, então, apenas 30% como atividades que de fato agregam valor ao

PDP. Mas o resultado muito mais preocupante pelo ponto de vista Lean, foi o resultado obtido

quando se analisou o tempo que os engenheiros gastavam com suas atividades de

desenvolvimento. Ao rastrear estas atividades verificou-se que os engenheiros ficavam cerca

de 60% do seu tempo envolvidos em atividades ociosas, ou seja, a maior parte do tempo eles

estavam esperando para realizar atividades relevantes. Com isso, apenas 40% do tempo eram

Page 43: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

43

aplicados às atividades de desenvolvimento propriamente dita. Combinando estes dois

resultados um alarmante cenário é identificado. Se apenas 40% do tempo dos engenheiros é

gasto com atividades de desenvolvimento e destas atividades apenas 30% são atividades que

adicionam valor, isso implica num quadro onde cerca de apenas 12% do tempo da engenharia

é gasto com tarefas que adicionam valor ao produto, o restante é desperdício. Os gráficos das

Figura 2-8, Figura 2-7 e Figura 2-9 ilustram o resultado desta pesquisa (MCMANUS, 2003).

Figura 2-7 - Avaliação do esforço de engenharia. Figura 2-8 - Avaliação das atividades de

Fonte: Adaptado de McManus (2003, p. 9). engenharia (% em tempo). Fonte: Adaptado de McManus (2003, p. 9).

Figura 2-9 – Combinação da avaliação de valor agregado de tarefas típicas da engenharia aeroespacial.

Fonte: Adaptado de McManus (2003, p. 9).

Seminários promovidos pelo LAI buscavam simular um modelo simples de um típico

processo de engenharia, com funções dessincronizadas e tarefas distintas (algumas fáceis

outras difíceis). Os resultados encontrados sempre eram o de tempo de espera na ordem dos

60% devido unicamente aos efeitos do processo seqüencial naturalmente adotado. Este nível

Page 44: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

44

de desperdício existe mesmo que a pessoa envolvida esteja ocupada durante todo o tempo. O

problema identificado estava no processo. A seqüência destes seminários era, portanto,

mapear todo o processo utilizado durante o desenvolvimento dos times e em seguida

rearranjá-lo e coordená-lo de modo a alcançar um fluxo simples. Esta atividade permitia

eliminar quase toda espera e atrasos. Como exemplo, embora as assinaturas exigidas fossem

reduzidas na ordem de 63%, nenhuma revisão/verificação significante da engenharia era

eliminada. O resultado era uma redução brusca do tempo de ciclo de desenvolvimento, e

ainda uma redução considerável do desvio padrão do tempo de ciclo, o que permitia um

planejamento mais confiável (MCMANUS, 2003).

A Figura 2-10 ilustra os resultados obtidos nestes seminários do LAI.

Convencional Lean

Tempo de Ciclo

Desvio Padrão

Figura 2-10 - Resultados obtidos pelo LAI ao aplicar os conceitos Lean no PDP Convencional (resultado

medido em tempo do ciclo de desenvolvimento e desvio padrão do tempo do ciclo).

Fonte: Adaptado de McManus (2003, p. 11).

Estes resultados replicam a experiência Lean na linha de produção, onde o processo

Lean atinge melhorias no tempo de ciclo sem sacrificar a qualidade. Aliás, pode-se dizer que é

exatamente o contrário, o controle e a disciplina introduzidos no processo melhora a

qualidade sem precisar de verificações, revisões e outras atividades ligadas à qualidade. Como

Page 45: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

45

Womack e Jones (2004) observaram no caso da montagem automotiva Lean, o tradicional elo

entre a alta qualidade e a baixa eficiência foi quebrado pelos conceitos Lean.

Desde modo é possível observar que de fato existem diversas formas de desperdício

inerentes a forma de organizar e gerir o PDP Convencional que o impede se tornar um

processo eficiente.

Taiichi Ohno (1978), muitas vezes chamado de pai do Sistema Toyota de Produção,

originalmente identificou os sete desperdícios na produção: superprodução, defeitos,

transporte, movimentação, espera, inventário e processamento desnecessário.

Na tentativa de aplicar os mesmos conceitos no ambiente de desenvolvimento alguns

pesquisadores buscaram identificar os principais desperdícios no PDP. Jin Kato (2005), do

MIT, baseado no trabalho realizado por Morgan e Liker (2002) e McManus (2004), concluiu

que é possível mapear a grande maioria do desperdício no PDP através de nove indicadores:

• Superprodução

• Espera

• Transporte de informação

• Super Processamento

• Movimentação

• Retrabalho

• Re-invenção

• Hand-off

• Informação Defeituosa

Kato (2005) utilizou estes indicadores em três projetos distintos em duas empresas.

Ele verificou que estes nove indicadores são suficientes para representar o desperdício no

PDP Convencional. Entretanto, três indicadores se mostraram mais importantes que os outros

Page 46: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

46

em termos de desperdício de horas de engenharia: superprodução, retrabalho e informação

defeituosa. Movimentação também foi significante em termos de desperdício de horas, mas a

análise de suas causas revelou que tentar reduzir o tempo gasto com movimentação não traria

uma melhora significativa ao PDP (KATO, 2005).

Todos os indicadores levantados por Kato (2005) são uma constatação da má

organização das atividades e da má gestão da comunicação entre as partes envolvidas num

projeto. Os três principais indicadores mostraram que muito trabalho é realizado sem

necessidade (superprodução, retrabalho e criação de informação defeituosa) e que o processo

não oferece uma carga bem distribuída de trabalho, pois se observa a presença tanto de espera

como a de sobrecarga.

O resultado do trabalho de Kato (2005) também salienta a falta de eficiência na forma

convencional de gerir o PDP existente em muitas empresas. Estas características levantadas se

potencializam em empresas de grande porte que desenvolvem sistemas complexos. A relação

que pode ser feita é com uma máquina de baixíssima eficiência, onde é necessário empenhar

muita energia para a obtenção de um resultado relativamente pequeno.

O resultado deste trabalho deixa claro o desperdício de energia e tempo que ocorre no

PDP Convencional. Porém, Ward (2007) acredita que a forma convencional de gerir o

desenvolvimento de produtos trás também um desperdício muito mais danoso a saúde de uma

empresa: o desperdício de conhecimento. Conforme foi apresentado anteriormente, a retenção

do conhecimento é um dos pilares da abordagem Lean para elaborar processos cada vez mais

eficientes.

É possível identificar uma coerência entre as linhas de raciocínio de Kato (2005) e

Ward (2007), pois a conclusão da causa raiz da ineficiência no PDP Convencional é muito

parecida. Entretanto, Ward (2007) traz uma visão mais precisa do efeito causa-conseqüência

destas práticas, pois ele define que o conhecimento é o principal valor criado pelo

Page 47: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

47

desenvolvimento, e assim sendo, ele consegue mapear as atividades ineficientes que, a

primeira vista, parecem ser bem sucedida.

Para identificar as causas deste desperdício ele dividiu em três categorias, e cada uma

em duas subcategorias associadas, conforme é possível observar na Figura 2-11.

Figura 2-11 – Tipos de desperdício de conhecimento.

Fonte: Adaptado de Ward (2007, p.31).

A primeira categoria de desperdício é chamada de Dispersão (em inglês Scatter).

Ward (2007) sugere os seguintes questionamentos: de onde vem à sensação que nunca existe

tempo suficiente? Porque parece nunca haver disponível o conhecimento que se precisa no

momento certo? Porque estudos mostram que as maiorias dos engenheiros gastam a maior

parte do seu tempo apenas tentando encontrar informações? Segundo Ward (2007), a razão

destes problemas é a Dispersão.

Dispersão são ações que fazem o conhecimento ineficiente por interromper seu fluxo.

Dispersão basicamente interrompe as iterações sutis necessárias para um trabalho em grupo, e

acarreta na mudança de foco das equipes, que deveria ser na geração de conhecimento útil,

segundo a visão da abordagem Lean,e não em atividades que não agregam valor (WARD,

2007).

Desperdício de

Conhecimento

Dispersão

Hand-off

Decisão não fundamentada

Barreiras de Comunicação

Ferramentas Pobres

Informação Inútil

Espera

Teste de especificação

Descarte de Conhecimento

Page 48: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

48

Segundo Ward (2007), manter seu time de desenvolvimento focado em processos ao

invés de buscar ser criativo e inovar é dispersão, é desperdício.

O que a Toyota busca sempre evitar é pensamento em seqüência no desenvolvimento.

Eles buscam organizar as atividades de modo a manter público os problemas conhecidos e

estimular os engenheiros a trabalharem fora destes pontos e ainda antecipar novos problemas.

Na Toyota a abordagem é considerar cada caso um caso, eles buscam padronizar o mínimo

conhecimento esperado e então demandam que as pessoas continuem aprendendo (WARD,

2007).

A segunda forma de desperdício de conhecimento, e talvez a mais crítica, é o Hand-

off . O Hand-off ocorre sempre que existe a separação entre: responsabilidade, conhecimento,

ação e feedback. No ambiente de PDP Convencional para sistemas complexos é comum

encontrar a seguinte situação: uma pessoa (gestor) decide o que deve ser feito

(responsabilidade), uma segunda pessoa (especialista) define o processo e as regras para ser

feito o pedido (conhecimento) e uma terceira pessoa (engenheiro) executa a ação. Este é um

fluxo unidirecional, que é para sempre mantido, pois se acredita que é o melhor caminho e

com isso não existe feedback. A Figura 2-12 ilustra esse quadro (WARD, 2007).

Figura 2-12 – Ilustração da separação das responsabilidades do PDP gerando Hand-off.

Fonte: Adaptado de Ward (2007, p. 43).

Page 49: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

49

Ao se gerenciar atividades de desenvolvimento de produtos complexos através de

caminhos críticos e mapeamentos de processos, a responsabilidade do engenheiro de

desenvolvimento passa a ser a de completar tarefas ao invés de gerar lucro para empresa. Ao

se utilizar o método de conectar tarefas através de linhas dependentes, permite-se que a

responsabilidade seja transferida de um engenheiro para o outro, e ao final não ninguém é

responsável pela boa ou má execução da tarefa, isto é hand-off (WARD, 2007).

Nesta forma de administrar as atividades muitos relatórios se fazem necessários:

relatório para passagem de fase, para passar informações para a próxima equipe que dará

seqüência ao desenvolvimento, relatórios para manter os gestores atualizados

(responsabilidade não compartilhada) etc (WARD, 2007).

Ou seja, dois tipos de desperdício estão fortemente ligados a essa forma de

administração: geração de informação inútil e espera. Informação inútil, pois muitos dos

relatórios não são necessários (chegaram a ser em outra situação, mas continuam vivos no

processo) e outros simplesmente porque não agregam ao desenvolvimento. Espera, pois uma

atividade só anda após receber os resultados (relatórios) da anterior (WARD, 2007).

A abordagem Lean de desenvolvimento de produto permite um fluxo de informação

multi-direcional e demanda nivelada de recurso, o que reduz o desperdício da espera. Nesta

abordagem procura-se evitar a forma de raciocinar em seqüência, pois se acredita que

seqüência não faz sentido no PDP (WARD, 2007).

Por último, Ward (2007) descreve a terceira forma de desperdício de conhecimento, a

Decisão n ão Fundamentada. Como visto anteriormente, as especificações do projeto são

definidos no seu início, elas são uma tradução do que acreditam ser as necessidades do cliente

dentro do que é possível ser feito. Porem, estas decisões são tomadas sem haver o

conhecimento necessário para isto. É possível que uma necessidade do cliente não tenha sido

considerada, pois nem o cliente possui o conhecimento desta necessidade, ou uma opção é

Page 50: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

50

considerada sem possuir o conhecimento correto da viabilidade tecnológica dela. Todas estas

situações são comuns no PDP Convencional, pois decisões importantes e decisivas para o

sucesso do projeto são tomadas muito cedo sem o conhecimento apropriado para realizá-las.

Conforme visto anteriormente, muitas características do produto são congeladas logo nas

primeiras fases de desenvolvimento.

O impacto das decisões tomadas prematuramente no PDP Convencional é ainda maior

dado a forma como as atividades são organizadas. No PDP convencional, é comum identificar

o chamado processo de desenvolvimento em “V”. Este processo recebe esse nome dado a sua

seqüência de atividades, conforme ilustra a Figura 2-13. Primeiro é realizado as

especificações do projeto, depois desenvolvimento dos sistemas e subsistemas

consecutivamente, e depois se inicia a fase de testes, teste do subsistema, do sistema e

finalmente o lançamento do produto (TRIVELATO, 2007).

Figura 2-13 - Processo de Desenvolvimento em "V".

Este tipo de processo já se mostrou pouco eficiente, pois se descobre muito tarde que

um sistema não atende as especificações impostas ou, ainda pior, que as especificações foram

equivocadas. Técnicas mais modernas de PDP, contidas na metodologia de Desenvolvimento

Integrado de Produto, já consideram aplicações de ferramentas computacionais, por exemplo,

para antecipar a fase de testes. O intuito é quebrar o processo em partes que possam ser

Page 51: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

51

projetas e testadas antes de dar continuidade ao desenvolvimento subseqüente, como ilustra a

Figura 2-14 (TRIVELATO, 2007).

Porem, essa metodologia de trabalho torna a relação entre as atividades mais complexa

e consecutivamente mais difícil de mapear seus processos. Pelo ponto de vista de vista do

autor deste trabalho, são exatamente estas as dificuldades enfrentadas pelas das técnicas

convencionais de PDP, a gestão desses novos conceitos com foco na eficiência do PDP.

Figura 2-14 - Processo de desenvolvimento em "V" cascateado.

Além de congelar especificações prematuramente, definir que um produto irá atender

as exigências de qualidade do consumidor pelo atendimento as especificações pode ser

errôneo. Por exemplo, ao se especificar a probabilidade de falha de um dado sistema (uma

falha a cada cem mil ciclos do sistema, por exemplo), requisito muito comum no ramo

aeronáutico, busca-se realizar testes para verificar se a especificação foi cumprida. Mas

realizar este tipo de teste é muito difícil, e praticamente impossível para todos os modos de

falha relacionados a este sistema. Neste caso, decisões podem ter sido tomadas para diminuir

a probabilidade de falha, mas não necessariamente a causa da falha (WARD, 2007).

Empresas Lean testam inicialmente para encontrar o ponto de falha e projetam de

modo a ficarem longe deste ponto. Utilizando esta metodologia a Toyota constrói de 70% a

90% menos protótipos que os competidores americanos, o que reduz drasticamente os custos

(WARD, 2007).

Page 52: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

52

Mas independente do processo de decisão que a empresa realiza, todos eles também

levam a um aumento no conhecimento. E um dos principais erros do PDP Convencional é não

possuir uma metodologia para reter esse conhecimento. Muito se tem feito para ampliar a

capacidade de gestão do conhecimento, mas como o foco do processo é as entradas e saídas

de cada caixa o que se passa entre as linhas não se torna o foco do gestor, e o conhecimento é

descartado (WARD, 2007).

Na tentativa de melhorar o modo de gerir o PDP, como foi visto anteriormente, o

mapeamento de todas as atividades realizadas pela empresa em forma de processos se

apresenta como uma proposta de solução. Numa empresa de grande porte, que desenvolve

sistemas complexos, o controle sobre as atividades é algo fundamental, ainda mais no ramo

aeronáutico onde este controle é exigido por lei. Diversas metodologias estão disponíveis para

tornar possível esta tarefa, entretanto, elas geram outras dificuldades.

Baseado no relato de experiências de profissionais da indústria aeroespacial, o autor

deste trabalho identificou que quanto maior o controle, maior o nível de processos a serem

seguidos, e a empresa se torna cada vez mais onerosa, mais lenta, e assim menos eficiente, por

vezes incapaz de reagir a tempo às necessidades do mercado.

Quando esse ponto é atingido, como uma forma de reação, o que acontece é uma

quebra dos limites impostos pelos processos, e empregados e gerentes quebram barreiras de

comunicação, quebram limites entre áreas de atuação, e se preocupam mais com o resultado

do que com o modo de como as atividades devem ser realizadas. Ainda segundo relatos de

profissionais da indústria aeroespacial, esse cenário se assemelha ao cenário típico de uma

empresa jovem, onde o espírito empreendedor é o guia das ações e a gestão se baseia em algo

parecido com uma “gestão do caos” ao invés da gestão baseada no controle de processos.

Entretanto, segundo o relato de profissionais da indústria aeronáutica, esse cenário

também não é sustentável em longo prazo, pois não há o controle absoluto do que está sendo

Page 53: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

53

feito e a evolução da eficiência, a melhoria contínua e a garantia de qualidade é de difícil

controle. E assim, a necessidade de maior controle dos processos volta a se fazer necessária, e

uma oscilação entre a “gestão do caos” e a gestão baseada em processos se estabelece. A

empresa caminha em direção ao aumento da eficiência, mas de uma forma muito desgastante.

Como ilustra a Figura 2-15.

Caos Controle ControleCaos

Figura 2-15 – Representação da gestão do PDP oscilando entre gestão do caos e gestão de processos.

O PDP Lean busca equilibrar estas duas formas de gestão, permitindo flexibilidade na

gestão de determinados níveis de processos, e controle em outros para garantir a qualidade e a

melhoria contínua. Como ilustra a Figura 2-16 (MORGAN & LIKER, 2008).

Figura 2-16 – Representação da Gestão do PDP e quilibrada entre a Gestão bas eada em pr ocessos

fortemente controlados e a gestão do caos (processos flexíveis), convergindo para a melhoria da eficiência.

Eficiência

Eficiência

Page 54: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

54

As diferenças entre o PDP Lean e o PDP Convencional listadas nesta seção não

representam a totalidade das diferenças citadas nas referências deste trabalho. Entretanto,

realizando uma análise empírica, acredita-se que cerca de 60 a 80% foram mencionadas

acima.

Page 55: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

55

3. Modelo Conceitual Adotado

3.1. Oportunidades de Melhoria no PDP Convencional

No contexto deste trabalho, um PDP eficiente é aquele que além de atingir o objetivo

proposto dentro do prazo e do custo estipulando, ainda produz produtos de qualidade, bem

aceitos por seus clientes, e que seus processos permitam o crescimento da empresa,

viabilizando a melhoria contínua, que pode ser representada pelo uso cada vez mais assertivo

de seus recursos e a constante apresentação de bons resultados, como aumento no retorno ao

investimento e em participação no mercado. Ou seja, uma empresa detentora de um PDP

eficiente consegue fazer com que sua forma de desenvolver produtos seja um meio para

consolidar bons resultados e, conseqüentemente, viabilizar a perpetuidade da empresa. Por

isso a relevância da eficiência deste processo, pois ela está fortemente ligada à eficiência

empresarial.

De acordo com a revisão bibliográfica, a forma como é organizado e gerido o PDP

Convencional proporciona diversas características que implica uma baixa eficiência

empresarial. Por isso, o intuito deste trabalho é realizar uma análise de ferramentas que

pudessem contribuir para melhoria na eficiência do processo de desenvolvimento de produto.

A elaboração desta análise iniciou com uma delimitação do fenômeno a ser estudado.

Existem diversas causas para a ineficiência do PDP, e como seria improvável abordar todas as

causas dentro deste trabalho, a opção foi trabalhar somente com algumas, mas que fossem

suficientemente representativas das características críticas do PDP apresentadas no Capítulo

2.

Page 56: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

56

A análise da literatura indica que as principais causas das características críticas do

PDP mencionadas anteriormente podem ser representadas por quatro (4) grandes áreas de

dificuldade, a saber:

• Dificuldade de Gestão das Atividades

• Dificuldade de Integração

• Dificuldade de Comunicação

• Dificuldade de Gestão do Conhecimento

Por exemplo, as diversas formas de desperdícios de tempo e energia no PDP é uma das

principais características críticas levantadas, e são causadas principalmente pela produção em

excesso, o retrabalho e a geração de informação defeituosa, conforme descrito no Capítulo 2.

Segundo Ward (2007), estes são fortes indicadores de má gestão, má comunicação e falta de

integração.

Ward (2007) também defende que a razão pela qual as empresas possuem dificuldades

em melhorar sua eficiência, permitindo a realização de projetos cada vez melhores e mais

rápidos, está fortemente ligada ao desperdício de conhecimento.

A oscilação entre gestão de processos fortemente controlados e a ‘gestão do caos’,

descrito no Capítulo 2, também é uma das principais características críticas levantadas e é um

indicador claro que a gestão das atividades do PDP não é eficiente.

Pela análise da literatura, não existe uma destas áreas que se destaque mais como

causa da ineficiência do PDP. Portanto, estas quatro áreas de dificuldades serão consideradas

como igualmente impactantes da eficiência do PDP Convencional, para futuras análises.

Deste modo, estabeleceu-se que as causas da ineficiência do PDP seriam representadas

neste trabalho como sendo estas quatro áreas de dificuldades. O passo seguinte, portanto, foi

extrair oportunidades de melhorias relacionadas com estas dificuldades.

Page 57: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

57

A seguir são apresentadas as seis oportunidades de melhoria levantadas pelo autor

deste trabalho:

Oportunidade 1 – Metodologia de Gestão pouco eficaz em prover cronogramas

confiáveis e de gerenciar carga nivelada de trabalho.

Oportunidade 2 – Dificuldade de gerenciar o aumento no número de especialistas

em determinadas etapas do desenvolvimento.

Oportunidade 3 – Grupos funcionais não compartilham objetivos. Possuem

objetivos isolados e pouca compreensão do foco do projeto.

Oportunidade 4 – Integração ocorre de acordo com o fluxo mapeado, como em

diagramas PERT, que é incapaz de mapear toda a integração necessária.

Oportunidade 5 – Problemas não são comunicados no momento adequado, ou da

forma correta, causando atrasos, retrabalho e soluções emergenciais.

Oportunidade 6

A primeira oportunidade de melhoria representa uma das principais dificuldades na

área de gestão de atividades, que é a baixa confiabilidade de cronogramas e a dificuldade de

realizar um bom nivelamento da carga de trabalho entre funcionários. A segunda

oportunidade de melhoria representa as dificuldades de gestão gerada pelo aumento do

número de pessoas engajadas no projeto que ocorre, principalmente, durante a passagem de

fases. Em alguns casos, esta dificuldade é ainda maior quando chega-se a trocar toda a equipe

de desenvolvimento durante estas transições de fase.

– Experiências não são compartilhadas entre programas, levando a

repetição de falhas já trabalhadas dentro da empresa e a sensação de estar sempre

“re-inventando a roda”.

A terceira oportunidade reflete as dificuldades de integração de objetivos entre as

equipes de desenvolvimento, o que também reflete dificuldades de comunicação. A quarta

oportunidade também está ligada às dificuldades de integração, mais especificamente em

Page 58: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

58

relação à integração do projeto. Sendo assim, a quarta oportunidade também reflete problemas

de gestão.

A quinta oportunidade é uma das principais conseqüências da dificuldade de

comunicação existente no PDP. Como mencionando anteriormente, a forma como é

organizado o PDP Convencional permite que a convivência de um problema seja acobertada,

pois durante os gates de passagem de fase, a avaliação está fortemente ligada a análise dos

resultados. Com isso, as metodologias defeituosas utilizadas para determinar certos resultados

são facilmente ocultadas neste momento, permitindo que o problema sobreviva e se torne

cada vez mais crítico. A sexta oportunidade de melhoria está fortemente ligada à gestão do

conhecimento de uma empresa.

Sendo assim, a Tabela 3-1 representa as áreas de dificuldade que cada oportunidade

busca representar.

Tabela 3-1 – Relação entre as oportunidades de melhoria levantadas e as áreas de dificuldades no

PDP que levam a ineficiência.

Oportunidade de Melhoria Área de Dificuldade 1. Metodologia de Gestão pouco eficaz em prover cronogramas confiáveis e de gerenciar carga nivelada de trabalho.

Gestão de Atividades

2. Dificuldade de gerenciar o aumento do número de especialistas em determinadas etapas do desenvolvimento. Gestão de Atividades

3. Grupos funcionais não compartilham objetivos. Possuem objetivos isolados e pouca compreensão do foco do projeto.

Integração de Objetivos / Comunicação

4. Integração ocorre de acordo com o fluxo mapeado, como em diagramas PERT, que é incapaz de mapear toda a integração necessária.

Integração de Projeto / Gestão de Atividades

5. Problemas não são comunicados no momento adequado, ou da forma correta, causando atrasos, retrabalho e soluções emergenciais.

Comunicação

6. Experiências não são compartilhadas entre programas, levando a repetição de falhas já trabalhadas dentro da empresa e a sensação de estar sempre “re-inventando a roda”.

Gestão do Conhecimento

Page 59: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

59

3.2. Ferramentas Lean de Gestão do PDP

Durante a análise da abordagem Lean aplicada ao Processo de Desenvolvimento de

Produtos, foram identificadas diversas ferramentas que contribuem para um modo

diferenciado de gerir esse processo. Para tornar viável o estudo detalhado dos conceitos nos

quais estas ferramentas estão baseadas e o seu impacto na eficiência do PDP, optou-se por

trabalhar com um grupo restrito de ferramentas. Para tanto foram estabelecidos critérios para

a escolha das ferramentas.

Pelo primeiro critério, as ferramentas deveriam estar relacionadas com as

oportunidades de melhoria destacadas na seção anterior. As ferramentas deveriam ser capazes

de atuar sobre as oportunidades, oferecendo um potencial de melhoria às áreas relacionadas.

Como segundo critério, procurou-se selecionar ferramentas que fossem simples e

fáceis de usar. O intuito era trabalhar com ferramentas que não necessitassem grandes

mudanças estruturais na empresa, de baixo custo de implementação e pouco complexas.

O terceiro critério priorizava ferramentas que fossem capazes de representar os cinco

princípios da abordagem Lean. As ferramentas selecionadas deveriam proporcionar meios

para alcançar um produto de qualidade e a perpetuidade da empresa, permitindo que os cinco

princípios do Lean fossem exercitados. A Tabela 3-2 revisa-os com ênfase no relacionamento

com a qualidade do produto e a perpetuidade da empresa, de acordo com a interpretação do

autor deste trabalho após a análise das referências (WARD, 2007; MORGAN & LIKER,

2008; MCMANUS, 2003; MURMAN, 2002).

Page 60: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

60

Tabela 3-2 – Representação dos 5 princípios da abordagem Lean de acordo com os focos do PDP.

Produto de Qualidade Perpetuidade da Empresa

Valor Necessidades do Cliente Conhecimento Gerado

Fluxo de Valor Decomposição do valor em características de sistemas, subsistemas e componentes

Atualização e real utilização de ferramentas de gestão do

conhecimento

Fluxo Contínuo Sincronização entre áreas, baixo nível de retrabalho

Planejamento mais assertivo do uso de recursos

Produção Puxada Alocação de recurso no momento certo (Just in Time)

Reagir com rapidez ao mercado (Just in Time)

Perfeição Produtos sempre inovadores, zero defeito e baixo custo

Aumento constante da eficiência da empresa

O último critério estabelecia que a aplicação das ferramentas analisadas fosse viável

no início da busca pelo empreendimento Lean. Empreendimento Lean é aquele que aplica os

cinco princípios desta abordagem com fluência em diversas áreas da empresa e que possui um

nível alto de eficiência empresarial. Embora pareça simples, a completa compreensão destes

conceitos não é tão trivial. Segundo Morgan e Liker (2008) e Ward (2007), são necessários

alguns anos para que eles sejam completamente compreendidos e aplicados. A maturidade

sobre essa metodologia é atingida com o tempo, e conforme algumas de suas ferramentas vão

sendo implementadas.

A Figura 3-1 ilustra um roteiro para o processo de implementação da metodologia

Lean elaborado por Morgan e Liker (2008, p. 363), onde ele apresenta a seqüência de

ferramentas que poderiam ser aplicadas para levar uma empresa a se tornar um

empreendimento Lean. Segundo Morgan e Liker (2008), levaria no mínimo três anos para

completar esse roteiro.

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61

Figura 3-1 – Roteiro para o processo de implementação do empreendimento Lean.

Fonte: Morgan e Liker (2008, p.363).

Por esse critério, buscou-se selecionar ferramentas que fossem aplicáveis sem a

exigência de um profundo conhecimento da abordagem Lean, e que também, em paralelo,

contribuísse para a sua compreensão.

A aplicação destes critérios resultou na seleção de três ferramentas, a saber:

• Manual de Conceitos

• Reuniões Diárias

• Checksheets

Cada uma delas é detalhada nas seções seguintes.

Page 62: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

62

3.2.1. Manual de Conceitos

Todo projeto inicia-se com a elaboração de requisitos, que é a forma de estabelecer os

objetivos do projeto. Na fase de desenvolvimento conceitual, estes requisitos são

constantemente pesquisados e ajudam na tomada de decisão de arquiteturas de sistemas que

venha a atendê-los. Entretanto, no decorrer do projeto, principalmente em projetos em que as

arquiteturas de sistemas são congeladas após a fase conceitual, estes requisitos são diluídos

entre as diversas áreas que assumem o desenvolvimento detalhado do produto. Ao longo do

tempo, cada área tende a se afastar dos requisitos iniciais e com isso, a estabelecer objetivos

mais voltados aos sistemas individuais em detrimento da otimização do sistema no seu todo

(MORGAN & LIKER, 2008). Com isso, conflitos de interesse entre diferentes times de

especialistas podem surgir no decorrer do projeto.

O Manual de Conceitos provê um meio para que os requisitos iniciais do projeto

estejam sempre presentes ao longo do PDP (MORGAN & LIKER, 2008). É uma ferramenta

de fluxo de valor que comunica os valores que serão trabalhados no projeto.

Segundo Morgan e Liker (2008), o Manual de Conceitos possui a tradução dos valores

definidos pelo cliente na forma de objetivos quantitativos e qualitativos em relação a

características, desempenho, custo e qualidade do produto. Os objetivos de nível de

desempenho do produto são traduzidos em objetivos específicos e mensuráveis de cada

sistema, subsistema e componente, estabelecendo-se uma hierarquia de valores.

O Manual é confeccionado no início do programa com participação intensa do

Engenheiro Chefe (líder do projeto) e de sua equipe multidisciplinar de apoio. Conforme

Morgan e Liker (2008) esclarece:

“O conceito é o resultado de muitos meses de discussões, busca de informações e construção, e foi aprovado pela cúpula executiva da empresa. Quando publicado, transforma-se na lei do programa.” (MORGAN & LIKER,2008 p.49)

Page 63: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

63

As ações de cada equipe são planejadas com o intuito de dar sustentação à visão

apresentada no manual, gerando um fluxo em cascata dos objetivos entre as equipes do

programa.

O uso desta ferramenta proporciona um meio de alinhar eficientemente muitos

especialistas em torno de uma visão comum, contribuindo para a integração e entendimento

entre as áreas (MORGAN & LIKER, 2008).

Esta ferramenta ainda pode ser utilizada como apoio durante tomadas de decisão. Por

exemplo, durante um processo de decisão por uma ou outra arquitetura de sistema, ambas

possuem a mesma relação de custo e benefício, entretanto, cada uma possui um melhor

desempenho em um determinado requisito, aquela que mais se adéqua aos conceitos

estipulados neste manual é a que será escolhida.

No Apêndice I é apresentado um esboço de como pode ser estruturada esta ferramenta,

destacando as informações poderiam fazer parte deste manual.

3.2.2. Reuniões Diárias

Um dos grandes desafios da gestão do PDP é o controle sobre as atividades

desenvolvidas pelos especialistas de cada equipe. Na expectativa de melhor desempenhar esta

função, algumas empresas buscam mapear da forma mais detalhada possível aquilo que deve

ser feito. Cronogramas detalhados são criados para organizar as atividades na seqüência

correta e o fluxo de conhecimento é mapeado por canais que relacionam uma atividade a

outra. Desde modo, diagramas PERT e caminhos críticos são estabelecidos. Seguindo esta

abordagem, o tempo de projeto é baseado no somatório do tempo requerido para cada

atividade do caminho crítico. Mas as estimativas de tempo de cada atividade são notoriamente

pouco confiáveis, pois existe uma enorme variação de circunstâncias para cada atividade que

torna impossível prever as interações por completo (WARD, 2007).

Page 64: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

64

Em outras palavras, o tempo estimado para o desenvolvimento de um sistema é

baseado na somatória dos tempos para se projetar cada parte isolada do sistema. Entretanto,

para o projeto do conjunto, existem interações durante o projeto de cada parte, e inclusive

com partes de outros sistemas, que são impossíveis de prever. E assim, os cronogramas

tornam-se não confiáveis, mais controle é exigido, mais desperdícios ocorrem e o hand-off se

estabelece.

No PDP Lean, métodos mais elaborados de planejamento são utilizados para o

controle do planejamento macro do projeto, que deve ser definido com o intuito de atender as

necessidades do mercado. O uso de reuniões diárias entre os líderes funcionais (knowledge

owner) e os especialistas permite que o planejamento operacional seja realizado e seguindo

dentro dos departamentos funcionais, o que permite melhor acompanhamento de cronogramas

e o reconhecimento antecipado de falhas.

O PDP Lean controla as necessidades dos processos padronizados de alto nível de

modo centralizado, a fim de garantir a sincronização. Para a Toyota, isso significa que marcos

e tempos de nível macro são utilizados ao longo de diferentes programas e que cada nível

individual de organização funcional controla os processos detalhados de trabalho. É pelo

equilíbrio destas duas estruturas padronizadas que se consegue realizar de forma confiável um

mapa de metas e definir milestones4

Ao dividir a gestão de atividades de nível macro, com o uso de ferramentas usuais do

PDP Convencional mencionadas no Capítulo 2, e a gestão de atividades operacionais do dia-

a-dia utilizando as reuniões diárias, pode-se identificar uma fronteira clara entre a gestão

especificamente voltados para programas de trabalho.

Com isso se estabelece o fluxo contínuo e o sistema puxado das atividades do PDP

(MORGAN & LIKER, 2008).

4 Milestones: palavra oriunda da língua inglesa que significa um evento ou um estágio significativo no

progresso do desenvolvimento de um projeto.

Page 65: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

65

baseada em processos fortemente controlados e a ‘gestão do caos’ descritos no Capítulo 2.

Busca-se assim, utilizar os benefícios das duas abordagens.

As reuniões diárias introduzem a flexibilidade necessária para um constante ajuste do

planejamento e uma reação rápida ao primeiro sinal de dificuldades. O uso de métodos mais

complexos de gestão como as técnicas do PMI (2004) de gestão de riscos, gestão do custo,

gestão da integração, entre outras, permite análises agregadas do andamento do projeto.

Controlar atividades diárias com ferramentas complexas se torna muito oneroso e pouco

eficiente, e por outro lado, controlar todo o programa sem possuir as diversas formas de

indicadores pode ser um risco. Ao se equilibrar estas duas formas de gestão, verifica-se uma

menor oscilação da forma de gestão do PDP, e a viabilidade da gestão equilibrada como

sugere a Figura 2-16.

A reunião diária não necessita ser formal. Ela é um encontro individual periódicos de

5 minutos entre o líder funcional e o engenheiro. Esta reunião pode ser em pé e pode ocorrer

durante a visita deste líder à área de trabalho. Nesta reunião, o líder funcional busca

informação atualizada do planejamento diário de cada especialista, se existe algum problema

na execução das atividades e se o especialista necessita de alguma orientação.

As reuniões diárias não devem ser vistas como um controle excessivo sobre as

atividades dos especialistas, mas sim uma comunicação constante entre o Knowledge Owner e

o especialista. O especialista é responsável pelo seu planejamento diário de atividades e pelo

cumprimento deste planejamento, mas ele tem sempre próximo o papel do líder funcional

para orientá-lo, se preciso, na formação do planejamento e na resolução de problemas.

Na Toyota o papel do gerente funcional é de ensinar (na metodologia Lean entende-se

que liderar é sinônimo de ensinar), transmitir as melhores práticas e o conhecimento

desenvolvido pela empresa ao longo do tempo. O uso desta ferramenta permite que este líder

Page 66: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

66

desempenhe, de fato, o seu papel, ao invés de gerenciar cronogramas e indicadores. Orienta-o

também na tarefa de identificar a área na qual precisa atuar com mais intensidade.

A reunião diária também contribui para a distribuição nivelada de tarefas, pois é

possível identificar com mais clareza quem está mais sobrecarregado e quem está com mais

tempo livre, além de permitir a antecipação de gargalos em recursos críticos ao longo de todo

o PDP. Esta ferramenta facilita a comunicação do estado atual do projeto e antecipa a

identificação de problemas (MORGAN & LIKER, 2008).

Outro benefício associado ao uso desta ferramenta é desmistificar a necessidade do

PDP de controlar as atividades em lotes. Na manufatura, é fácil detectar o desperdício

relacionado com o trabalho em lotes – estoques caros se amontoam, ocupando espaços,

preciosos, desperdiçando recursos e ocultando potenciais problemas de qualidade. No

desenvolvimento de produtos isso não é assim tão óbvio, pois não se vê estoque empilhado,

não obstante a sua existência (MORGAN & LIKER, 2008).

Segundo Morgan e Liker (2008), um exemplo desta forma de agir está na metodologia

de Stage-gates aplicada no PDP Convencional, onde os resultados do projeto são avaliados

em lotes durante os gates. Dentre os problemas análogos à forma de trabalhar em lotes na

manufatura é possível destacar dois deles:

1) Como nas revisões de projeto busca-se avaliar muito mais os resultados obtidos do

que o método usado para sua obtenção, falhas do projeto podem permanecer ocultas.

2) O stage-gate induz cargas cíclicas de trabalho, alternando períodos de calmaria com

períodos de congestionamento das atividades. Quando um gate se aproxima, onde todo o

resultado de uma fase será apresentado e a decisão pela continuidade do projeto será feita,

uma quantidade enorme de atividades se congestiona, e se desfaz após a passagem do gate.

Page 67: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

67

O uso de reuniões diárias evita esse desgaste e permite uma distribuição nivelada de

trabalho durante todo o PDP. Deste modo, também existe o conhecimento sempre atualizado

da real condição do projeto, e da forma como ele está sendo elaborado.

3.2.3. Checksheets

No PDP Convencional, apesar do uso de ferramentas para mapear todos os resultados

esperado por cada equipe de desenvolvimento, como o WBS, a forma de se obter estes

resultados é raramente padronizada. A forma de se chegar ao resultado esperado depende da

experiência dos especialistas.

Algumas empresas buscam utilizar técnicas de gestão do conhecimento para tentar

manter o conhecimento em poder da empresa. Para isso, uma equipe mapeia as lições

aprendidas em cada programa, mas como essa equipe geralmente não faz parte da equipe de

desenvolvimento, ela enfrenta muitas dificuldades para implementar as ferramentas deste tipo

gestão (MORGAN & LIKER, 2008). Embora exista a tentativa de capturar alguns problemas

do desenvolvimento, os conflitos que os especialistas enfrentam e as razões de certas tomadas

de decisão são dificilmente capturadas, e de acordo com Ward (2007), a formação do

conhecimento está justamente na resolução destes conflitos.

O desdobramento deste tipo de problema vai além do fato da empresa não reter o

conhecimento gerado: a falta de padronização gera o aumento da variação do PDP. Uma das

formas de variação no PDP refere-se às diferenças nos métodos e na duração de tarefas

específicas presentes na maior parte do desenvolvimento de produtos, gerando aumento do

tempo de processamento. Com isso, cronogramas não são seguidos e abre-se a possibilidade

de problemas conhecidos tornarem a acontecer, gerando retrabalho. (MORGAN & LIKER,

2008)

Page 68: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

68

Segundo Hopp & Spearman (1996), qualquer que seja o processo, as variações na

execução das tarefas e no formato de suas entradas, combinados com a sobrecarga do sistema,

são as principais causas de longas filas e atrasos nos tempos de processamento5

Visando evitar esse tipo de problema, as checksheets são utilizadas no PDP Lean

como forma de padronização de projeto (padroniza meio e não o fim) e gestão do

conhecimento. Elas refletem tudo aquilo que uma empresa conseguiu aprender ao longo do

tempo sobre boas e más práticas de projeto, interfaces críticas de projeto e necessidade de

gerenciamento (fundamentais para obter projetos de qualidade), representando a melhor

prática atual. Deste modo, as checksheets buscam prover um meio para que todos os

especialistas utilizem e compartilhem as melhores práticas de desenvolvimento, diminuindo a

variabilidade (MORGAN & LIKER, 2008).

. Segundo

Morgan e Liker (2008), a variabilidade é uma determinante primária do baixo desempenho do

sistema, e esta característica torna-se ainda mais crítica em fases do projeto onde a carga de

trabalho aumenta significativamente.

Assim sendo, elas devem ser atualizadas constantemente pelos próprios especialistas

que a utilizam. Este é um ponto crucial para o sucesso desta ferramenta, pois se a tarefa de

atualizá-la for atribuída à outra equipe, as checksheets tornaram-se obsoletas e todo o esforço

de sua criação é desperdiçado (MORGAN & LIKER, 2008).

A checksheet é uma ferramenta de instrução de trabalho que contém informações

detalhadas de como proceder para realizar o desenvolvimento de um determinado sistema ou

subsistema.

É apresentada muitas vezes na forma de checklist de piloto de avião, mas reflete o

cuidado com proporções e diretrizes físicas, fazendo uso de declarações tais como “se, então”.

5 Tempo de Processamento é o tempo durante o qual realmente se trabalha no projeto, ou o tempo durante o qual

um pedido realmente está sendo processado. Em geral, o tempo de processamento é uma pequena fração do tempo

necessário para que um produto evolua da concepção ao lançamento. (MORGAN & LIKER, 2008, p. 368)

Page 69: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

69

Por exemplo: “se você encomenda um determinado ângulo e tolerância de calha, então esse

raio será indispensável para uma curvatura de qualidade” (MORGAN & LIKER, 2008,

p.308).

Ao contrário do que se parece, as checksheets não são barreiras à criatividade das

equipes de desenvolvimento. Na Toyota, apesar do uso desta ferramenta, uma forte cultura de

inovação é predominante no ambiente de desenvolvimento de produtos. Se durante o

desenvolvimento de um sistema, os especialistas envolvidos identificam uma melhor prática

ou uma ferramenta que pode contribuir para auxílio de decisões, é tarefa deste especialista

atualizar as checksheets com tais informações.

O líder funcional tem o papel de garantir que as checksheets estejam sendo utilizadas e

atualizadas. Na maioria dos casos do PDP Convencional, como a responsabilidade de

atualizar as ferramentas não é de quem as usa, elas acabam ficando desatualizadas e, com

isso, caem no desuso.

Para atingir seu objetivo, as checksheets devem ser minuciosas e abrangentes,

contendo informações detalhadas e de forma visual, de fácil interpretação. Elas devem conter,

por exemplo, curvas de comparação (trade-offs) entre opções de solução e entre concorrentes,

matrizes de qualidade, e outras práticas de lembretes e comparação como as que a Toyota

desenvolve (por exemplo, o Senzu e até mesmo a metodologia A3 de solução de problemas6

No Apêndice II encontra-se um exemplo criado pelo autor deste trabalho que ilustra

uma forma de como esta ferramenta pode ser estruturada. Para cada sistema e para cada fase

do processo de desenvolvimento, existe uma checksheet.

).

As checksheets podem ser divididas em níveis de ações: macros, intermediárias e

específicas. Para cada nível de ação, existe um detalhamento das interfaces exigidas para o

6 Descrições sobre estas ferramentas podem ser encontradas em: MORGAN, J. M.; LIKER, J.K.

Sistema Toyota de Desenvolvimento de Produto. Editora Bookman, 2008.

Page 70: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

70

cumprimento daquela tarefa, contribuindo para a integração do projeto, materiais de apoio que

eventualmente podem ser utilizados para auxiliar na tomada de decisões, exemplos de outros

programas etc. Para cada material de apoio, como trade-offs e matrizes de decisão, existem

orientações claras para o uso do material, como o detalhamento dos objetivos do estudo, o

resultado esperado daquela análise, informações de como proceder, áreas de interface,

descrição da ferramenta e de sua forma de interpretação. Todo esse conteúdo é apresentado

com exemplos ilustrativos.

As checksheets orientam o processo de decisão ao longo do PDP. Orientam o trabalho

dos engenheiros evitando que nenhum ponto conhecido seja esquecido, e facilitam a

sincronização, pois uma área técnica pode saber precisamente em que ponto do processo de

desenvolvimento se encontra outra área com a qual interagem.

Outro benefício da checksheet é a integração mais rápida de novos especialistas no

PDP (conceito de integração just-in-time), possibilitando que os engenheiros recém chegados

atualizem-se com eficiência e tornem-se produtivos ao programa em tempo mais curto. Ela

facilita a gestão das atividades, pois os engenheiros experientes no processo de PDP sabem

onde se encontra o projeto, o que já foi feito e o que falta ser feito simplesmente verificando o

ponto que se encontra no checksheet.

Juntamente com o uso das reuniões diárias, esta ferramenta fecha o ciclo de orientação

e gestão das atividades das equipes de desenvolvimento.

Segundo Morgan e Liker (2008), além da padronização do projeto a Toyota busca a

padronização de processos e a padronização de habilidades na engenharia. A padronização de

habilidades e competências específicas de engenharia tem base num profundo compromisso

com o desenvolvimento e crescimento das pessoas mediante as capacidades demonstradas.

Em relação a esse tópico, as checksheets contribuem para a padronização, pois a relação de

dependência dessa ferramenta estabelece um indicador da evolução das competências de um

Page 71: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

71

engenheiro: quanto mais experiente o engenheiro menos dependente das checksheets ele se

torna, e mais capaz se torna para agregar atualizações e de conhecer checksheets de outros

sistemas. Essa é uma rota para a formação de um engenheiro multidisciplinar.

Ainda segundo Morgan (2008), contar com engenheiros e técnicos experientes

trabalhando com ferramentas de rigorosa padronização é fundamental para a capacidade da

Toyota de elaborar projetos de alta qualidade em ritmo acelerado e de gerenciar uma flexível

capacidade estratégica.

Page 72: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

72

4. Estrutura da Pesquisa

4.1. Métodos e Abordagens

Conforme mencionado na introdução deste trabalho, por limitação de meios para a

implementação das ferramentas Lean em estudo num processo de desenvolvimento de

produtos complexos real, o modo utilizado para a avaliação do impacto destas ferramentas na

melhoria da eficiência do PDP Convencional foi estabelecido pela coleta da opinião e da

percepção de profissionais experientes neste processo.

Esta seção tem por objetivo apresentar os critérios utilizados para a investigação e

explicar o método utilizado durante esta pesquisa.

A estratégia utilizada foi baseada em uma pesquisa descritiva com abordagem de

natureza qualitativa.

Perin et al. (2002, p. 46) esclarecem que:

[...] uma pesquisa descritiva tem como objetivo mapear a distribuição de um fenômeno na população estudada. Em geral, busca determinar a freqüência com que algo ocorre ou a relação entre duas variáveis, sendo tipicamente guiada por uma hipótese inicial.

A pesquisa descritiva neste trabalho tem por objetivo estabelecer relações entre as

variáveis que compõem o objeto de estudo.

Segundo Santos (2004, p. 12), na abordagem qualitativa:

“o valor intrínseco da pesquisa reside na análise e compreensão dos efeitos de ordem psicossocial que um determinado objeto de estudo tem sobre o meio em que ele se localiza e a sua interação com a dimensão humana que coexiste nesse dado meio.”

Godoy (1995, p. 58) esclarece que diferentemente da pesquisa quantitativa que parte

de hipóteses previamente definidas e variáveis estabelecidas, a qualitativa:

[...] não procura enumerar ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumentos estatísticos na análise dos dados. Parte de questões ou focos de interesse amplos, que vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve. Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos

Page 73: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

73

interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo as perspectivas dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo.

Martinelli (1999, p. 23) explica que em pesquisas qualitativas não se procura medidas

estatísticas e, sim, a aproximação dos significados e vivências.

“O importante [...] não é o número de pessoas que vai prestar a informação, mas o significado que esses sujeitos têm em função do que estamos buscando com a pesquisa”.

O interesse não recai em um grande número de sujeitos, mas é preciso aprofundar o

conhecimento em relação ao sujeito com o qual se está dialogando.

Portanto, a pesquisa descritiva seguindo uma abordagem qualitativa foi a que se

mostrou mais adequada para a condução da análise realizada neste trabalho.

4.2. Instrumentos de Análise e Etapas da Pesquisa

O principal instrumento utilizado para a realização da presente análise foi a entrevista

semi-estruturada. Yin (1994) esclarece que na entrevista semi-estruturada, os entrevistados

são questionados em relação a aspectos bem definidos do tema, com relativa flexibilidade

para explorar determinada informação que não consta do roteiro de pesquisa.

Antes do início das entrevistas era realizada uma explicação dos objetivos da pesquisa

e apresentada a carta de informação ao sujeito da pesquisa (Apêndice III).

As entrevistas eram iniciadas com uma apresentação do modelo adotado do PDP

Convencional e de suas técnicas de gestão. A seguir, eram apresentadas ao entrevistado as

características críticas levantadas pelo autor deste trabalho e suas relações com as

oportunidades de melhoria. A partir de então, era realizada e primeira etapa desta pesquisa.

A primeira etapa buscava verificar, de acordo com a percepção do entrevistado, de que

forma as oportunidades de melhorias destacadas impactavam na eficiência do PDP

Convencional. Para isso foi elaborado um questionário onde os entrevistados eram solicitados

Page 74: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

74

a informar a sua opinião sobre o grau de impacto da oportunidade na eficiência do PDP,

através de uma escala de importância. Em seguida, solicitou-se ao entrevistado realizar

comentários referentes à avaliação. O instrumento utilizado nesta pesquisa está descrito no

Apêndice IV.

O resultado desta primeira etapa da pesquisa buscava verificar a relação de

representatividade entre as oportunidades de melhoria pesquisadas e selecionadas e as razões

para a ineficiência do PDP Convencional.

Ao final desta primeira etapa, iniciava a apresentação dos motivos da escolha da

abordagem Lean para buscar o aumento da eficiência do PDP. A seguir, eram apresentados os

critérios utilizados para a escolha das ferramentas e, por fim, uma explicação do

funcionamento e benefícios das ferramentas segundo a análise das referências.

Após esta apresentação, dava-se início a segunda etapa da pesquisa, que fez uso de

uma matriz de relação para relacionar o potencial impacto das ferramentas Lean selecionadas

nas oportunidades de melhoria e, por conseqüência, na eficiência do PDP Convencional. O

instrumento utilizado nesta pesquisa está descrito no Apêndice V. Por fim, solicitou-se do

entrevistado realizar comentários referentes à avaliação realizada.

Ao final, com intuito de caracterizar o sujeito de pesquisa, era requisitado que o

entrevistado preenchesse um formulário contendo informações sobre o seu perfil e sobre sua

experiência profissional (Apêndice VI).

As entrevistas referentes a esta pesquisa foram realizadas no mês de agosto e setembro

de 2009, com duração média de sessenta a noventa minutos cada entrevista.

4.3. Universo de Pesquisa e Amostra

O universo de pesquisa deste trabalho foi definido como sendo profissionais com

experiência de, no mínimo um ciclo do Processo de Desenvolvimento de Produtos Complexos

Page 75: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

75

(ou seja, profissionais que contribuíram efetivamente para o desenvolvimento de pelo menos

um produto complexo) e que tivessem experiência profissional em pelo menos uma das

seguintes áreas:

• Desenvolvimento de Produtos (engenharia)

• Gestão Funcional (líder de sistema)

• Gestão de Projetos (líder de projetos)

• Definição de Processos do PDP

A partir desta definição, iniciou-se o processo de seleção de profissionais com este

perfil e que demonstrassem interesse e disponibilidade para contribuir com a pesquisa.

Foram selecionados para a entrevista onze profissionais, sendo que um deles foi

diretor de uma multinacional do ramo aeronáutico, seis deles possuem cargo gerencial em

empresas de médio e grande porte e dois deles trabalham com consultoria em gestão de

projetos. Os profissionais entrevistados estão vinculados a quatro diferentes empresas, todas

com atuação no setor aeroespacial. Dentre os produtos desenvolvidos por estas empresas estão

aeronaves de grande, médio e pequeno porte, satélites e produtos militares.

Para a apresentação do perfil dos entrevistados, foi atribuída uma letra a cada um deles

de forma aleatória. Essa identificação descaracterizada permitiu apresentar as expressões de

cada entrevistado, sem ferir o contrato de sigilo.

A Tabela 4-1 apresenta o perfil de cada entrevistado:

Page 76: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

76

Tabela 4-1 – Dados dos entrevistados.

Entrevistado Faixa Etária (anos) Escolaridade Conhecimento

prévio de Lean Experiência no PDP

A 30 a 40 Mestrado Muito Desenvolvimento – 3 anos/1 ciclo Gest. Funcional – 2 anos/1 ciclo

Def. de Processos – 4 anos/1 ciclo Total de 9 anos de exp. no PDP

B 40 a 50 Doutorado Muito Desenvolvimento – 5 anos/1 ciclo

Gest. Projetos – 5 anos/4 ciclos Def. de Processos – 5 anos/10 ciclos Total de 15 anos de exp. no PDP

C 30 a 40 Pós-Graduação Algum

Desenvolvimento – 8 anos/ 5 ciclos Gest. Funcional – 3 anos/1 ciclos

Def. de Processos – 3 anos/ 2 ciclos Total de 9 anos de exp. no PDP

D Acima de 60 Nível Superior Algum

Desenvolvimento –30anos/20 ciclos Gest. Funcional – 15 anos/10 ciclos Def. de Processos – 15anos/10ciclos Total de 35 anos de exp. no PDP

E 30 a 40 Nível Superior Pouco Desenvolvimento – 7 anos/6 ciclos

Total de 7 anos de exp. no PDP

F 40 a 50 anos Mestrado Algum Def. de Processos – 15anos/8 ciclos Total de 15 anos de exp. no PDP

G 30 a 40 anos Pós-Graduação Algum

Desenvolvimento – 4anos/ 4 ciclos Gest. Funcional – 2 anos/25 ciclos Def. de Processos – 2 anos/3 ciclos Total de 7 anos de exp. no PDP

H 40 a 50 anos Doutorado Pouco Def. de Processos – 20 anos/5 ciclos Total de 20 anos de exp. no PDP

I 30 a 40 anos Doutorado Algum Gest. Projetos – 1 ano/1 ciclo

Def. de Processos – 5 anos/3 ciclos Total de 6 anos de exp. no PDP

J 40 a 50 anos Pós-Doutorado Muito

Desenvolvimento – 12anos/10ciclos Gest. Funcional – 6 anos/10 ciclos Gest. de Projetos – 5 anos/ 5 ciclos

Def. de Processos – 4 anos/10 ciclos Total de 22 anos de exp. no PDP

L 30 a 40 anos Mestrado Algum

Desenvolvimento – 4 anos/ 2 ciclos Gest. Funcional – 2 anos/2 ciclos

Gest. de Projetos – 5 anos/ 2 ciclos Def. de Processos – 2 anos/2 ciclos Total de 11 anos de exp. no PDP

O perfil heterogêneo da amostra foi proposital, com o objetivo de abranger diversos

pontos de vista.

Como é possível observar pela análise da Tabela 4-1, a maior parte dos entrevistados,

cerca de 90%, possuem experiência em definição de processos no PDP. Este tipo de

experiência é importante para este trabalho, pois demonstra familiaridade com análises na

forma de organizar o PDP.

Page 77: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

77

Outra porcentagem relevante da amostra - aproximadamente 73% - possui experiência

como engenheiro de desenvolvimento de produtos complexos. Esta característica da amostra

é muito relevante, pois demonstra que os entrevistados conhecem a operação do Processo de

Desenvolvimento de Produtos. Cerca de 55% da amostra possui experiência com gestão

funcional no PDP e 36% possui experiência em gerenciamento de projeto. A experiência com

a gestão de projetos desta natureza e com a gestão funcional é muito relevante nesta pesquisa,

pois demonstra a familiarização dos entrevistados com as questões relacionadas à gestão do

PDP.

Outro aspecto relevante do perfil dos entrevistados é familiaridade com a aplicação

dos conceitos da metodologia Lean: 27% dos entrevistados declararam possuir muito

conhecimento da aplicação destes conceitos, 55% declararam possuir algum conhecimento e

18% declararam possuir pouco. Esta distribuição é interessante ao trabalho, pois coletar

somente opiniões de quem conhece muito ou pouco os conceitos poderia levar a alguma

tendência nas análises. A presença na amostra de sujeitos de pesquisa com muito e pouco

conhecimento também é importante para verificar a opinião deste perfil de entrevistado.

A análise do perfil dos entrevistados demonstra que a amostra selecionada possui uma

relevante opinião sobre o escopo deste estudo.

Page 78: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

78

5. Resultados

5.1. Primeira Etapa da Pesquisa – Avaliação das Oportunidades de Melhoria

O intuito da primeira etapa da entrevista consistiu em analisar a relação entre as

oportunidades de melhoria levantadas e as causas da ineficiência do PDP Convencional.

Para esta análise foi utilizada a consolidação dos dados obtidos com a aplicação do

questionário apresentado no Apêndice IV e a síntese dos comentários realizados pelos

entrevistados durante a entrevista.

Os resultados obtidos com a aplicação do questionário da primeira etapa desta

pesquisa são apresentados na Tabela 5-1. A letra alfabética representa o sujeito de pesquisa,

atribuída no Capítulo 4, e a localização da letra reflete a avaliação do entrevistado.

Tabela 5-1 – Resultados Quantitativos da Primeira Etapa da entrevista.

Oportunidades de Melhoria

Classes de Avaliação

Não

Impa

cta

Impa

cta

Pouc

o

Impa

cta

Raz

oave

lmen

te

Impa

cta

mui

to

1. Metodologia de Gestão pouco eficaz em prover cronogramas confiáveis e de gerenciar carga nivelada de trabalho.

C, E, G, L

A, B, D, F, H, I, J

2. Dificuldade de gerenciar o aumento do número de especialistas em determinadas etapas do desenvolvimento.

D, E, L B, C, F, H, J

A, G, I

3. Grupos funcionais não compartilham objetivos. Possuem objetivos isolados e pouca compreensão do foco do projeto.

H B, C, E A, D, F, G, I, J, L

4. Integração ocorre de acordo com o fluxo mapeado, como em diagramas PERT, que é incapaz de mapear toda a integração necessária.

B, E C, D, F, I, J

A, G, H, L

5. Problemas não são comunicados no momento adequado, ou da forma correta, causando atrasos, retrabalho e soluções emergenciais.

B, F, I A, C, D, E, G, H, J, L

6. Experiências não são compartilhadas entre programas, levando a repetição de falhas já trabalhadas dentro da empresa e a sensação de estar sempre “re-inventando a roda”.

D B, C, E, F, G, I, J, L

A, H

Page 79: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

79

Para avaliar a relação de impacto das oportunidades de melhoria na eficiência do PDP

Convencional, foi estabelecida uma pontuação para cada item da escala de importância. A

escala de importância utilizada nesta pesquisa possui quatro itens: Não Impacta, Impacta

Pouco, Impacta Razoavelmente e Impacta Muito. A Tabela 5-2 apresenta a atribuição de

pontos realizada para cada um destes itens.

Tabela 5-2 – Tabela de pontos atribuída aos itens da escala de importância.

Item da Escala de Importância Pontos atribuídos

Não Impacta 0

Impacta Pouco 1

Impacta Razoavelmente 2

Impacta Muito 3

Em função dos diferentes níveis de experiência dos entrevistados, atribuiu-se um

maior peso à opinião daqueles cuja experiência se destacava em relação aos demais. Para

tanto, foi estabelecido o seguinte critério: o profissional deveria ter pelo menos 15 anos de

experiência no PDP e ter experiência em pelo menos duas das áreas do PDP que limitavam o

universo desta pesquisa.

Três sujeitos de pesquisa foram classificados neste perfil: B, D e sujeito J.

Durante a análise dos resultados desta entrevista, a opinião destes entrevistados foi

contabilizada duas vezes no cálculo da pontuação. Para facilitar a identificação da avaliação

dos sujeitos B, D e J suas letras foram sublinhadas na Tabela 5-1.

A pontuação obtida por cada oportunidade de melhoria é apresentada na Tabela 5-3.

Page 80: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

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Tabela 5-3 – Consolidação do resultado da aplicação da primeira etapa da pesquisa.

Oportunidade de Melhoria Fórmula para cálculo da pontuação Pontuação

1. Metodologia de Gestão pouco eficaz em prover cronogramas confiáveis e de gerenciar carga nivelada de trabalho.

P = 2x4 + 3x10 38

2. Dificuldade de gerenciar o aumento do número de especialistas em determinadas etapas do desenvolvimento.

P = 1x4 + 2x7 + 3x3 27

3. Grupos funcionais não compartilham objetivos. Possuem objetivos isolados e pouca compreensão do foco do projeto.

P = 0x1 + 2x4 + 3x9 35

4. Integração ocorre de acordo com o fluxo mapeado, como em diagramas PERT, que é incapaz de mapear toda a integração necessária.

P = 1x3 + 2x7 + 3x4 29

5. Problemas não são comunicados no momento adequado, ou da forma correta, causando atrasos, retrabalho e soluções emergenciais.

P = 2x4 + 3x10 38

6. Experiências não são compartilhadas entre programas, levando a repetição de falhas já trabalhadas dentro da empresa e a sensação de estar sempre “re-inventando a roda”.

P = 1x2 + 2x10 + 3x2 28

Para a interpretação da escala de pontos foi estabelecido uma margem de pontos que

classifica a oportunidade como de alto, médio, baixo ou nenhum impacto à eficiência do PDP.

Essa classificação ocorreu de acordo com o número de pontos máximo e mínimo que cada

oportunidade poderia receber. Por exemplo, se uma oportunidade obtivesse todos os votos

como Impacta Muito, sua pontuação seria de 42 pontos, e se ela obtivesse todos os votos

como Impacta Razoavelmente Tabela 5-4, sua pontuação seria de 28 pontos. A apresenta o

critério estabelecido.

Tabela 5-4 – Classificação das oportunidades de acordo com o número de pontos.

Pontuação Classificação pontos ≥ 35 Impacta Muito 21 < pontos < 35 Impacta Razoavelmente 7 < pontos ≤ 21 Impacta Pouco

pontos ≤ 7 Não Impacta

A Figura 5-1 apresenta um gráfico do tipo radar com a síntese dos resultados

apresentados na Tabela 5-3.

Page 81: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

81

Figura 5-1 - Comparação entre o resultado esperado e o resultado obtido da análise do impacto das

Oportunidades de Melhoria na Eficiência do PDP.

Na Figura 5-1, a curva em verde (sem a presença de marcadores) representa a

pontuação mínima esperada pela avaliação das Oportunidades de Melhoria (21 pontos). Se a

pontuação de alguma Oportunidade de Melhoria obtivesse um valor abaixo dos 21 pontos

esse fato evidenciaria que tal Oportunidade impactaria pouco a eficiência do PDP. Assim,

seria possível concluir que tal Oportunidade de Melhoria não seria representativa das causas

da ineficiência do PDP e que, portanto, não deveria fazer parte do escopo deste trabalho.

Como todas as Oportunidades de Melhoria obtiveram uma pontuação acima desta margem

(representada pela curva em azul, com marcadores em formato de um losango), isto

demonstra a relevância das Oportunidades levantadas e capacidade de representar a maioria

das causas da ineficiência do PDP.

Ainda na Figura 5-1, a curva em vermelho, com marcadores no formato de um

quadrado, ilustra o resultado esperado, de acordo com a análise da literatura, apresentada no

Page 82: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

82

Capítulo 3. A análise das referências indicava um equilíbrio entre essas áreas de dificuldades

como causa da ineficiência da maioria dos processos de desenvolvimento de produtos,

portanto, esperava-se que todas recebessem uma pontuação final acima de 35 pontos, o que as

classificariam como de alto impacto. Entretanto, a análise dos resultados obtidos demonstra

um desequilíbrio na importância destas áreas de dificuldades.

A análise da Figura 5-1, evidencia que as oportunidades de melhoria 1 e 5 foram as

que mais se destacaram como impactantes da eficiência do PDP. Isto demonstra que,

atualmente na indústria aeroespacial brasileira, problemas de comunicação e de gestão das

atividades são os principais fatores de impacto na eficiência do processo de desenvolvimento

de produtos.

A oportunidade 3 também foi classificada como de alto impacto, o que demonstra que

problemas de integração de objetivos e, uma vez mais, comunicação são fatores de alto

impacto na eficiência do PDP do universo pesquisado.

Já as oportunidades 4, 6 e 2 foram as que demonstraram impacto razoável. Este

resultado demonstra que, embora a gestão de atividades possua aspectos de alto impacto na

eficiência do PDP, ela também possui aspectos cujo impacto é médio, como a gestão do

aumento do número de especialistas durante as transições de fase do PDP, que obteve a menor

pontuação. Este resultado também demonstra que a gestão do conhecimento, embora impacte

razoavelmente, não é vista como de importância elevada como identificado nas referências.

E por fim, a metodologia utilizada para mapear a integração de projeto apresentada

como modelo de referência impacta razoavelmente a eficiência do PDP no setor aeroespacial

brasileiro.

Portanto, a análise dos resultados obtidos demonstra que dificuldades de comunicação,

dificuldades de gestão das atividades relacionada à elaboração de cronogramas e distribuição

nivelada de atividades e dificuldades de integração de objetivos são mais relevantes que as

Page 83: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

83

demais no setor aeroespacial brasileiro. As demais áreas possuem um impacto de médio a

alto.

Para complementar a análise destas oportunidades, é importante considerar os

comentários realizados pelos sujeitos de pesquisa durante a entrevista. A seguir, encontra-se a

síntese dos principais comentários realizados.

Em relação à primeira oportunidade de melhoria

“o problema não se encontra necessariamente nas metodologias, e sim no modo como elas são colocadas em prática, ou no acompanhamento do plano”.

, associada à gestão de cronogramas e

nivelamento de carga de trabalho, os sujeitos A e B demonstraram uma opinião próxima, onde

O sujeito G acredita que o método de gestão apresentado como referência é o mais

completo, entretanto, a maior dificuldade está em identificar quais atividades precisam ser

acompanhadas por esta metodologia, pois

“o maior problema está no plano que entra em um nível de detalhe muito alto, sem necessidade, gerando custos muito elevados”.

O sujeito L apresenta uma linha de raciocínio próxima concluindo que

“a maior questão está na solução do dilema entre detalhar pouco os cronogramas e possuir a sensação de menos controle ou detalhar muito e conviver com a dificuldade de gerir este cronograma”.

O sujeito G ainda aborda outro ponto, onde

“a habilidade do gerente do projeto de coordenar o cronograma é indispensável, e mesmo que estejam disponíveis metodologias eficazes de planejamento só haverá eficiência se ambos estiverem presentes, metodologia e competência”.

O sujeito C conclui que constatada as diferenças entre quem realiza o planejamento e

quem executa o plano

“os cronogramas já começam errado, pois eles não refletem a realidade”

Neste mesmo contexto, o sujeito I acredita que

Page 84: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

84

“a proximidade do planejador e de quem executa o plano é indispensável para que haja constante acompanhamento e feedback, evitado assim a fuga da realidade”.

Com relação ao nivelamento da carga de trabalho, o sujeito F acredita que esta é uma

questão de difícil trato, independente da metodologia, pois

“de acordo com a teoria das restrições, sempre haverá um elo fraco que produzirá gargalos no desenvolvimento”

A análise dos comentários realizados em relação à primeira oportunidade de melhoria

demonstra que este é um ponto de grande impacto na eficiência do PDP, pois muitas são as

variáveis que precisam ser analisadas e acompanhadas para que um cronograma seja bem

feito e que haja uma carga nivelada de trabalho adequada, confirmando o resultado da análise

do questionário da primeira etapa da pesquisa.

Houve três sujeitos de pesquisa que classificaram como sendo de pouco impacto na

eficiência do PDP, a segunda oportunidade de melhoria

O sujeito D explica que

, aquela relacionada com a gestão do

aumento do número de especialistas no decorrer do projeto.

“o impacto é pouco dado a cultura do brasileiro, que absorve mudanças de maneira mais rápida que os orientais”

O sujeito L acredita que

“o aumento impacta pouco, quando se mantêm os principais líderes no projeto, mas o impacto seria elevado se houvesse a troca completa da equipe”

O sujeito E argumenta que

“esse problema é pequeno enquanto as pessoas envolvidas no projeto são experientes, entretanto, quando existe a necessidade de formar especialistas o impacto é relevante, pois à medida que o engenheiro experiente tem que parar seu trabalho para orientar estabelece uma forma de desperdício”

Os demais entrevistados acreditam que existe um impacto relevante na eficiência do

PDP em cada passagem de fase do projeto, pois, conforme comenta o sujeito A

Page 85: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

85

“a falta de uma metodologia de trabalho padrão e de uma estrutura que permita uma orientação comum aos integrantes do projeto fazem a passagem de fase um momento delicado”

O sujeito B conclui que

“mesmo que tudo tivesse sido combinado, acertado e que não houvesse atrasos e nem imprevistos, ainda assim existiria o problema da inércia”

Assim, as equipes demoram a se adequarem e a trabalharem em compasso, gerando

um período de baixa eficiência.

Apesar de a terceira oportunidade

“na fase de detalhamento, se o objetivo de uma equipe é bem estabelecido e comunicado, não há impacto na eficiência do trabalho desta equipe a falta de conhecimento dos objetivos de outras equipes”

de melhoria ter sido considerada pela maioria como

um fator de relevante impacto na eficiência do PDP, ela foi a única a receber uma avaliação

que indicava não impactar de forma alguma a eficiência do PDP. Esta avaliação foi realizada

pelo sujeito de pesquisa H, e em seu comentário ele explica que

O exemplo citado pelo sujeito H foi o projeto do sistema de câmbio de um automóvel,

se bem estabelecido os objetivos que se pretende deste sistema, a equipe será capaz de realizar

um projeto bom que se adéqüe inclusive a mais de um carro. O sujeito H defende que

“a otimização do todo é necessária somente numa fase de integração”

O sujeito J, contrariamente, acredita que este item possui um impacto muito grande,

pois

“sem visão sistêmica a complexidade tende a aumentar e com ela aumenta o custo, o prazo e o risco”

O sujeito I avalia que

“essa questão é muito impactante, principalmente quando engenheiros de fases subseqüentes decidem contestar e rediscutir decisões já tomadas, pois todo projeto possui uma porcentagem de ‘engenheiros rebeldes’ que fazem constantemente esse papel”

Page 86: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

86

O sujeito D acredita que

“esta oportunidade de melhoria não é muito comum, dado ao trabalho de integração do gerente de projeto, mas em havendo, ela é muito impactante”

Na opinião dos sujeitos B e E, o impacto da diferença de objetivos entre equipes

funcionais é considerável e ele é

“acentuado quando as equipes não estão co-localizadas”

O sujeito E ainda defende que

“quando existe conflito de objetivos o retrabalho é grande, pois uma das equipes precisa voltar para adequar”

O sujeito L comenta que para a melhoria da comunicação

“é importante haver informações visíveis para promover a comunicação sem perda de carga”

Em geral, a terceira oportunidade foi a que gerou mais discussão, pois a maioria

acredita que existem atualmente meios eficazes para evitar esse tipo de problema, mas se por

algum motivo estes meios não forem eficazes, a eficiência do PDP será fortemente impactada.

Em relação à quarta oportunidade de melhoria

Já o sujeito de pesquisa C acredita que o impacto é relevante, pois

, relacionada à forma de mapear a

integração necessária do projeto, dois sujeitos de pesquisa indicaram que o impacto deste

ponto é baixo na eficiência do PDP, pois, apesar da integração ser um fator de atenção, eles

acreditam que não é a metodologia utilizada para realizar seu mapeamento a causa principal

de problemas desta natureza.

“as atividades contidas no caminho crítico recebem o devido acompanhamento e as devidas ações de contingência, mas se o fluxo é mal feito ou mal acompanhado o real caminho crítico não é identificado e atrasos ocorrem sem que haja tempo de remediar”

O sujeito A comenta que o impacto é alto, pois muitas vezes o mapeamento é

realizado utilizando conceitos de entradas e saídas de resultados, mas

Page 87: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

87

“sem considerar o fluxo de conhecimento necessário para a realização das tarefas, que geralmente são mais complexos e com isso reflete na percepção de cronogramas atrasados”

O sujeito L possui uma linha de raciocínio próxima do sujeito A e considera que

“a forma como estes diagramas são elaborados influencia na forma de gestão e integração”

Ele acredita que

“se estes diagramas fossem elaborados baseado nos objetivos que as equipes possuem em comum, facilitaria a integração total”

O sujeito I considera que o impacto é razoável, pois

“se a integração é mal mapeada, isso acarretará numa perda da qualidade do produto em algum ponto”

A quinta oportunidade de melhoria

O sujeito H salientou que

, associada à comunicação de problemas, obteve

consenso entre todos os entrevistados como fator relevante de impacto na eficiência do PDP.

Pelos comentários dos entrevistados conclui-se que problemas de comunicação são questões

difíceis de atuar.

“comunicação é uma das principais causas de ineficiência, tanto em excesso como em falta”

O sujeito B também conclui que o a falta de conhecimento dos problemas

“reflete a falta de uma liderança presencial”

O sujeito J comenta que a falta de comunicação de um problema referente a um

sistema, além de causar conseqüências diretas ao desenvolvimento deste sistema, também

gera conseqüências maiores, pois

“o impacto no todo não é avaliado cedo o suficiente”

O sujeito E ainda relembra que

Page 88: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

88

“corrigir erros em etapas avançadas do projeto é muito mais custoso”

O sujeito A e o sujeito L concordam que por trás de problemas de comunicação existe

uma questão cultural, o respeito pelas pessoas, e por isso na cultura oriental ferramentas para

melhoria de comunicação são mais eficazes, como modelo A3 e gestão a vista.

Em relação à sexta oportunidade de melhoria

“apesar da existência de processos, sistemas e treinamento a adesão a ferramentas deste tipo é pouca ou parcial, o que pode refletir uma questão cultural ou mesmo uma característica intrínseca de empresas de grande porte”

avaliada, que reflete a falta de uma

metodologia eficaz de registrar as lições aprendidas, o sujeito B conclui que

O sujeito H comenta que o impacto na eficiência do PDP é alto porque

“o maior pecado das empresas é de não registrar a sua memória”

O que mostra alinhamento com a opinião do sujeito B quando comenta que

“mesmo que tenha uma forma de registrar sua memória, as empresas não a utilizam”

Portanto, pela análise dos resultados apresentados na Tabela 5-3 e considerando os

comentários realizados pelos sujeitos de pesquisa, conclui-se que no setor aeroespacial

brasileiro:

• as oportunidades 1 e 5 possuem um elevado peso nas causas da ineficiência do

PDP.

• a oportunidade 3, apesar de ser considerada como de alto impacto, possui um

peso menor que a 1 e a 5, pois hoje é possível contar com meios eficazes de

combater este tipo de problema.

• as oportunidades 2, 4 e 6 possuem um peso menor, mas relevante, pois embora

a maioria dos sujeitos de pesquisa apresentaram uma avaliação conservadora

destes itens, todas estas oportunidades receberam comentários demonstrando

haver pontos ligados a elas que podem impactar muito a eficiência do PDP,

Page 89: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

89

como por exemplo, se ao invés do aumento do número de especialistas nas

transições de fase fosse considerado a troca completa das equipes, o impacto

seria considerado elevado.

A Tabela 5-5 apresenta a síntese da avaliação realizada nesta seção atribuindo pesos

ao impacto de cada oportunidade de melhoria avaliada na eficiência do Processo de

Desenvolvimento de Produtos Complexos. A Figura 5-2 ilustra o mesmo resultado de forma

gráfica.

Tabela 5-5 – Relação de pesos atribuídos ao impacto de cada oportunidade na eficiência do PDP.

Oportunidade de Melhoria Peso atribuído ao impacto na eficiência do PDP

1. Metodologia de Gestão pouco eficaz em prover cronogramas confiáveis e de gerenciar carga nivelada de trabalho.

4

2. Dificuldade de gerenciar o aumento do número de especialistas em determinadas etapas do desenvolvimento.

2

3. Grupos funcionais não compartilham objetivos. Possuem objetivos isolados e pouca compreensão do foco do projeto.

3

4. Integração ocorre de acordo com o fluxo mapeado, como em diagramas PERT, que é incapaz de mapear toda a integração necessária.

2

5. Problemas não são comunicados no momento adequado, ou da forma correta, causando atrasos, retrabalho e soluções emergenciais.

4

6. Experiências não são compartilhadas entre programas, levando a repetição de falhas já trabalhadas dentro da empresa e a sensação de estar sempre “re-inventando a roda”.

2

Page 90: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

90

0 1 2 3 4 5

Oportunidade 6

Oportunidade 5

Oportunidade 4

Oportunidade 3

Oportunidade 2

Oportunidade 1

Peso atribuído ao impacto na eficiência do PDP

Peso atribuído ao impacto na eficiência do PDP

Figura 5-2 – Representação da proporção do impacto de cada oportunidade de melhoria estudada na

eficiência do PDP.

5.2. Segunda Etapa da Pesquisa – Avaliação das Ferramentas Lean

Nesta segunda etapa da pesquisa, o intuito era avaliar se as ferramentas Lean

selecionadas poderiam contribuir para a melhoria da eficiência do PDP Convencional. Para

tanto, utilizou-se as oportunidades de melhoria destacadas anteriormente como representantes

dos pontos que, se trabalhados, poderiam levar ao aumento da eficiência do PDP. Com isso,

fez-se uso de matrizes de relação para avaliar o impacto individual de cada ferramenta em

cada oportunidade de melhoria.

Com o uso do questionário apresentado no Apêndice V o entrevistado foi convidado a

classificar o impacto de cada ferramenta em cada oportunidade de melhoria como sendo

Forte, Moderado ou Fraco.

De acordo com a análise da literatura, apresentada no Capítulo 3, esperava-se

encontrar como resultado desta etapa da pesquisa o cenário apresentado na Tabela 5-6.

Page 91: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

91

Tabela 5-6 – Avaliação do impacto de cada ferramenta em cada oportunidade de melhoria de acordo com

a análise das referências.

Manual de Conceitos

Reuniões Diárias Checksheets

1. Metodologia de Gestão pouco eficaz em prover cronogramas confiáveis e de gerenciar carga nivelada de trabalho.

Fraco FORTE FORTE

2. Dificuldade de gerenciar o aumento do número de especialistas em determinadas etapas do desenvolvimento.

Moderado FORTE FORTE

3. Grupos funcionais não compartilham objetivos. Possuem objetivos isolados e pouca compreensão do foco do projeto.

FORTE Moderado Fraco

4. Integração ocorre de acordo com o fluxo mapeado, como em diagramas PERT, que é incapaz de mapear toda a integração necessária.

Fraco Moderado FORTE

5. Problemas não são comunicados no momento adequado, ou da forma correta, causando atrasos, retrabalho e soluções emergenciais.

Fraco FORTE Moderado

6. Experiências não são compartilhadas entre programas, levando a repetição de falhas já trabalhadas dentro da empresa e a sensação de estar sempre “re-inventando a roda”.

Fraco Moderado FORTE

Para compilar as avaliações realizadas por cada sujeito de pesquisa, o primeiro passo

foi atribuir uma pontuação para cada tipo de classificação realizada. A Tabela 5-7 apresenta a

relação de pontos atribuída a cada classificação.

Tabela 5-7 – Tabela de pontos atribuída as classificações de

impacto da ferramenta na oportunidade de melhoria.

Relação de Impacto Pontos atribuídos

Fraco 1

Moderado 2

Forte 3

A Tabela 5-8 apresenta a avaliação realizada por cada sujeito de pesquisa,

representada pelos pontos atribuídos a cada relação de impacto, de acordo Tabela 5-7. Os

pontos estão ordenados de acordo com a ordem alfabética da letra adotada para cada sujeito

de pesquisa. Portanto, o primeiro ponto representa a avaliação do sujeito A e o último ponto

representa a avaliação do sujeito L.

Page 92: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

92

Utilizando-se o mesmo processo aplicado na análise dos resultados da primeira etapa,

foi atribuído maior peso a opinião dos sujeitos identificados como mais relevantes para esta

pesquisa, os sujeitos de pesquisa B, D e J. A opinião destes sujeitos foi contabilizada duas

vezes, e para identificar suas avaliações elas estão representadas dentro de parênteses e com o

texto sublinhado.

A Tabela 5-8 apresenta o somatório dos pontos realizados dentro de cada relação

ferramenta-oportunidade de melhoria.

Tabela 5-8 – Síntese das avaliações do impacto de cada ferramenta em cada oportunidade de melhoria.

Manual de Conceitos Reuniões Diárias Checksheets

Oportunidade 1 1+(1+1)+2+(3+3)+1 +2+1+1+1+(1+1

3+)+1

= 20

(2+2)+3+(3+3)+1 +3+3+3+3+(2+2

3+)+3

= 36

(1+1)+3+(1+1)+2 +2+2+2+2+(2+2)+1

= 25

Oportunidade 2 1+(1+1)+2+(1+1)+1 +3+3+3+3+(2+2

3+)+2

= 26

(1+1)+3+(3+3)+3 +3+3+3+2+(2+2

3+)+2

= 34

(1+1)+3+(1+1)+3 +3+3+3+2+(2+2)+2

= 30

Oportunidade 3 3+(2+2)+3+(3+3)+1 +3+3+3+3+(3+3

1+)+3

= 38

(2+2)+3+(1+1)+1 +1+1+3+3+(2+2

2+)+3

= 26

(1+1)+2+(1+1)+2 +1+1+3+2+(1+1)+2

= 21

Oportunidade 4 2+(1+1)+2+(1+1)+1 +1+2+3+2+(2+2

1+)+2

= 23

(2+2)+3+(1+1)+2 +2+1+2+1+(2+2

1+)+3

= 25

(1+1)+3+(1+1)+1 +2+3+2+3+(2+2)+3

= 26

Oportunidade 5 1+(1+1)+2+(1+1)+1 +1+1+3+1+(1+1

3+)+1

= 17

(3+3)+3+(3+3)+3 +3+3+3+2+(3+3

1+)+3

= 41

(2+2)+3+(1+1)+2 +2+2+3+1+(2+2)+3

= 27

Oportunidade 6 1+(1+1)+3+(1+1)+1 +2+1+3+1+(1+1

1+)+1

= 19

(1+1)+2+(1+1)+2 +2+2+3+3+(2+2

3+)+1

= 24

(2+2)+3+(3+3)+3 +3+3+3+3+(3+3)+3

= 40

Para a interpretação do resultado, foi estabelecida uma margem de pontos que os

classifica como fraco, moderado ou forte

Tabela 5-9

. Essa classificação ocorreu de acordo com o número

de pontos máximo e mínimo que cada avaliação poderia receber. Por exemplo, se uma relação

obtivesse todos os votos como Forte, sua pontuação seria de 42 pontos, e se ela obtivesse

todos os votos como Moderado, sua pontuação seria de 28 pontos. Deste modo, o critério

apresentado na foi estabelecido.

Page 93: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

93

Tabela 5-9 – Relação entre somatório de pontos obtidos pela síntese dos resultados e a

classificação do impacto da ferramenta nas oportunidades de melhoria.

Pontuação Classificação pontos ≥ 35 Forte 21 < pontos < 35 Moderado pontos ≤ 21 Fraco

A Tabela 5-10 apresenta a avaliação geral do impacto de cada ferramenta em cada

oportunidade de melhoria de acordo com o critério estabelecido pela Tabela 5-9 para

classificação do somatório de pontos apresentado na Tabela 5-8.

Tabela 5-10 – Resultado da compilação das avaliações realizadas pelos sujeitos de pesquisa relacionando o

impacto de cada ferramenta em cada oportunidade de melhoria.

Manual de Conceitos

Reuniões Diárias Checksheets

1. Metodologia de Gestão pouco eficaz em prover cronogramas confiáveis e de gerenciar carga nivelada de trabalho.

Fraco FORTE Moderado

2. Dificuldade de gerenciar o aumento do número de especialistas em determinadas etapas do desenvolvimento.

Moderado Moderado Moderado

3. Grupos funcionais não compartilham objetivos. Possuem objetivos isolados e pouca compreensão do foco do projeto.

FORTE Moderado Fraco

4. Integração ocorre de acordo com o fluxo mapeado, como em diagramas PERT, que é incapaz de mapear toda a integração necessária.

Moderado Moderado Moderado

5. Problemas não são comunicados no momento adequado, ou da forma correta, causando atrasos, retrabalho e soluções emergenciais.

Fraco FORTE Moderado

6. Experiências não são compartilhadas entre programas, levando a repetição de falhas já trabalhadas dentro da empresa e a sensação de estar sempre “re-inventando a roda”.

Fraco Moderado FORTE

5.2.1. Análise Individual de Cada Ferramenta

Pela análise da Tabela 5-10 é possível avaliar individualmente o desempenho de cada

ferramenta Lean.

O Manual de Conceitos se mostrou adequado aos objetivos propostos.

Page 94: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

94

A Figura 5-3 apresenta um gráfico do tipo radar que ilustra a expectativa de impacto

da ferramenta Manual de Conceitos em cada Oportunidade de Melhoria, de acordo com a

análise da literatura. A curva em vermelho, com marcadores no formato de um quadrado,

ilustra o resultado esperado, de acordo com os dados da Tabela 5-6. A curva em azul, com

marcadores em formato de um losango, ilustra a síntese do resultado obtido nas entrevistas,

conforme é apresentado na Tabela 5-10.

Figura 5-3 – Comparação entre o resultado esperado e o resultado obtido do impacto da ferramenta

Manual de Conceitos nas Oportunidades de Melhoria.

Como é possível observar pela análise da Figura 5-3 o Manual de Conceitos

demonstrou atuar conforme o esperado sobre as Oportunidades de Melhoria levantadas.

Conforme descrito no Capítulo 3, os objetivos desta ferramenta são contribuir

fortemente para integração de objetivos, proporcionando um meio de alinhar eficientemente

muitos especialistas em torno de uma visão comum, e contribuir de forma moderada para a

gestão das atividades, facilitando a orientação de novos integrantes do projeto na medida em

Page 95: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

95

que o aumento do engajamento é necessário. É possível verificar o atendimento destes

objetivos pela análise do impacto desta ferramenta nas Oportunidades 3 e 2, respectivamente.

Esperava-se que o impacto do Manual de Conceitos na Oportunidade 4 fosse fraco.

Entretanto, pela avaliação dos sujeitos de pesquisa, foi moderado. Embora a classificação

final deste item tenha atingido o critério Moderado, a pontuação foi bem próxima da margem

de separação entre fraco e moderado. Portanto, considerou-se a classificação como dentro do

previsto.

As Reuniões Diárias também se mostraram adequadas aos objetivos propostos.

A Figura 5-4 apresenta um gráfico do tipo radar que ilustra a expectativa de impacto

da ferramenta Reunião Diária em cada Oportunidade de Melhoria, de acordo com a análise da

literatura. A curva em vermelho, com marcadores no formato de um quadrado, ilustra o

resultado esperado, de acordo com os dados da Tabela 5-6. A curva em azul, com marcadores

em formato de um losango, ilustra a síntese do resultado obtido nas entrevistas, conforme é

apresentado na Tabela 5-10.

Figura 5-4 – Comparação entre o resultado esperado e o resultado obtido do impacto da ferramenta

Reunião Diária nas Oportunidades de Melhoria.

Page 96: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

96

Como é possível observar pela análise da Figura 5-4 a Reunião Diária demonstrou

atuar conforme o esperado sobre as Oportunidades de Melhoria levantadas.

O intuito desta ferramenta é atuar fortemente nas dificuldades de comunicação e

gestão das atividades, e de forma moderada nas dificuldades de integração e de gestão do

conhecimento. É possível verificar o atendimento destes objetivos pela análise do resultado

apresentado na Figura 5-4

A classificação do impacto das Reuniões Diárias na Oportunidade 2 era esperada

como sendo Forte. Embora a classificação desta relação tenha sido Moderada pela análise da

pontuação atingida, considerou-se como atendida a expectativa, pois a pontuação foi bem

próxima da margem entre a classificação Moderada e Forte.

Os comentários realizados pelos sujeitos de pesquisa em relação às Reuniões Diárias

foram todos positivos. Alguns sujeitos de pesquisa, entretanto, questionaram a necessidade da

periodicidade ser diária. Segundo eles, esta ferramenta seria mais adequada se ao invés de

diária ela fosse com periodicidade flexível, dependendo da necessidade. Por exemplo, em

determinados casos as reuniões poderiam ocorrer até mais de uma vez por dia, se o

andamento do projeto estivesse enfrentando muitas dificuldades, ou elas poderiam ocorrer

entre uma e duas vezes por semana, por exemplo, se o projeto estivesse caminhando bem.

Outros sujeitos de pesquisa manifestaram-se a favor da reunião ser diária, mesmo com o bom

andamento do projeto, pois assim se estabelece um acompanhamento constante e evitam-se

surpresas.

Como preconiza a abordagem Lean, nenhuma ferramenta deve ser rígida, de modo a

impor a adaptação da empresa à ferramenta, elas devem sim ser adaptáveis as necessidades

específicas de cada empresa. Portanto, independente da periodicidade do uso desta

ferramenta, os conceitos ligados a ela atingiram o objetivo proposto.

Page 97: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

97

As Checksheets se mostraram parcialmente adequadas aos objetivos propostos.

A Figura 5-5 apresenta um gráfico do tipo radar que ilustra a expectativa de impacto

das Checksheets em cada Oportunidade de Melhoria. A curva em vermelho, com marcadores

no formato de um quadrado, ilustra o resultado esperado, de acordo com os dados da Tabela

5-6. A curva em azul, com marcadores em formato de um losango, ilustra a síntese do

resultado obtido nas entrevistas, conforme é apresentado na Tabela 5-10.

Figura 5-5 – Comparação entre o resultado esperado e o resultado obtido do impacto da ferramenta

Checksheets nas Oportunidades de Melhoria.

Pela análise da literatura, esta ferramenta possuía um alto potencial de impacto nas

causas da ineficiência do PDP, pois ela tinha como objetivo atuar fortemente nas dificuldades

de gestão do conhecimento, de gestão das atividades e de integração do projeto. Além de

poder atuar de forma moderada nas dificuldades de comunicação. Ou seja, das três

ferramentas, esta era a que possuía atuação forte num número maior de áreas de dificuldades.

Page 98: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

98

Entretanto, a análise da Figura 5-5 demonstra que esta ferramenta possui um impacto

forte somente na Oportunidade 6, referente a gestão do conhecimento. Já as relações de

impacto nas Oportunidades 1, 2 e 4, relacionadas a dificuldades de gestão de atividades e

integração de projeto, onde também se esperava obter uma relação Forte, foram classificadas

como Moderada.

A análise das referências indicava a Checksheet como uma ferramenta importante para

o aumento da eficiência do PDP, pois ela seria capaz de auxiliar a gestão de cronogramas,

auxiliando o detalhamento das atividades dentro dos grupos funcionais e auxiliando o

nivelamento da carga de trabalho e a orientação de novos integrantes ao projeto. Pela análise

das referências (MORGAN & LIKER, 2008), este auxílio permitiria um desdobramento do

cronograma mais confiável. Esperava-se ainda que esta ferramenta auxilia-se na integração do

projeto, pois as regiões de interface também estariam parcialmente identificadas.

No entanto, a opinião dos sujeitos de pesquisa se mostrou cautelosa, por acreditar que

a aplicação desta ferramenta envolve algumas dificuldades. Conforme mencionaram muitos

dos sujeitos de pesquisa, para que esta ferramenta atinja os resultados esperados seria

necessária uma mudança cultural nas empresas que atuam no Brasil. Essa ferramenta exige

muita disciplina, para manter tudo sempre muito bem atualizado e em uso, o que não faz parte

da cultura brasileira, escopo de estudo deste trabalho. Diferentemente do povo de origem

oriental, o povo brasileiro possui mais dificuldades em se adaptar com técnicas que exigem

alta disciplina, segundo a opinião dos sujeitos de pesquisa. Portanto, empresas genuinamente

brasileiras (dirigidas e operacionalizadas por brasileiros), poderá encontrar dificuldade na

implementação desta ferramenta.

Outro ponto de dificuldade da implementação eficaz desta ferramenta, levantado pelo

sujeito I, seria o know-how para construção de Checksheets capazes de elevar a eficiência do

PDP. Segundo o sujeito de pesquisa I “a construção de Checksheets não é trivial; é

Page 99: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

99

praticamente uma arte”, pois escrever instruções de trabalho de uma maneira clara, objetiva,

útil e eficaz não é simples. Muitos não sabem como fazer isso, adicionam informações

demais, outros de menos, e fazem da Checksheet um documento desconfortável de ser

utilizado, fadado ao desuso.

O sujeito de pesquisa F ainda questiona a aplicabilidade desta ferramenta na indústria

aeroespacial. Segundo seus comentários, neste tipo de indústria existem segmentos cujos

projetos são bem distintos um do outro e que o custo de manter uma ferramenta deste tipo

talvez não valesse a pena pela possível aplicabilidade.

Entretanto, alguns sujeitos de pesquisa, principalmente aqueles mais familiarizados

com a aplicação dos conceitos Lean, concordam com o potencial da ferramenta. O sujeito L

acredita que a Checksheet é a chave para unir a disciplina e a flexibilidade, resultado em

aumento da eficiência. A disciplina permite que o processo combinado seja seguido, evitando

variações, e a flexibilidade permite a mudança do processo de forma negociável com seus

pares, desde que haja consenso e uma melhora da eficiência. Além disso, o sujeito L comenta

que “a Checksheet permite que haja tempo para inovar”, pois o conhecimento das melhores

práticas de hoje poupa o tempo necessário para a construção da base para buscar inovações.

5.2.2. Análises do impacto do conjunto de ferramentas

Por meio da união dos resultados da primeira e da segunda etapa desta pesquisa, é

possível realizar duas outras formas de análise. Uma delas avalia o impacto do conjunto de

ferramentas em cada oportunidade de melhoria, e outra, o impacto de cada ferramenta na

eficiência do PDP, representada pelo conjunto das seis oportunidades de melhoria.

Para a realização destas análises, a Tabela 5-11 foi elaborada.

Page 100: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

100

Tabela 5-11 – Síntese dos resultados da primeira e segunda etapa da pesquisa.

Oportunidades de Melhoria Peso Manual de Conceitos

Reuniões Diárias Checksheets

Nota Final

I 1. Metodologia de Gestão pouco eficaz em prover cronogramas confiáveis e de gerenciar carga nivelada de trabalho.

4 20 80

36 144

25 100

81

2. Dificuldade de gerenciar o aumento do número de especialistas em determinadas etapas do desenvolvimento.

2 26 52

34 68

30 60

90

3. Grupos funcionais não compartilham objetivos. Possuem objetivos isolados e pouca compreensão do foco do projeto.

3 38 114

26 78

21 63

85

4. Integração ocorre de acordo com o fluxo mapeado, como em diagramas PERT, que é incapaz de mapear toda a integração necessária.

2 23 46

25 50

26 52

74

5. Problemas não são comunicados no momento adequado, ou da forma correta, causando atrasos, retrabalho e soluções emergenciais.

4 17 68

41 164

27 108

85

6. Experiências não são compartilhadas entre programas, levando a repetição de falhas já trabalhadas dentro da empresa ...

2 19 38

24 48

40 80

83

Nota Final II 398 552 463

A coluna denominada Peso, possui os dados da Tabela 5-5, que quantifica o quanto

cada oportunidade de melhoria representa como causa da ineficiência do PDP. Quanto mais

alto o valor, mais a oportunidade de melhoria afeta a eficiência do PDP.

As células que representam a intersecção entre ferramentas e oportunidades possuem

dois valores, um apresentado na parte superior direita da célula e outro na parte inferior

esquerda. O valor superior representa os dados da Tabela 5-8, que ilustram numericamente a

relação de impacto de cada ferramenta em cada oportunidade de melhoria. O valor inferior é a

multiplicação do valor superior com o valor do peso referente à linha da célula, ou seja, da

oportunidade de melhoria em questão.

A primeira análise realizada com os dados apresentados na Tabela 5-11 fez uso dos

valores apresentados na última coluna, denominada Nota Final I. Os valores apresentados

Page 101: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

101

nesta coluna são o somatório dos valores superiores de cada célula de intersecção entre

ferramentas e oportunidades. Através da análise destes valores é possível verificar qual

oportunidade de melhoria é mais impactada pelo o uso em conjunto das três ferramentas em

análise.

É possível verificar que a maior pontuação está relacionada com a Oportunidade 2,

com 90 pontos. Este resultado significa que esta seria a oportunidade de melhoria mais

afetada pelo o uso em conjunto destas três ferramentas, ou seja, as dificuldades de gerenciar o

aumento do número de especialistas ao longo do PDP seria fortemente minimizada pelo uso

destas ferramentas. Em segundo lugar, estariam com o mesmo número de pontos (85) as

Oportunidade 3 e 5.

A oportunidade que seria menos impacta pelo uso em conjunto destas três ferramentas

seria a Oportunidade 4, que obteve 74 pontos. Deste modo, é possível concluir que dentre as

causas da ineficiência do PDP levantadas, a integração de projeto seria a menos afetada pelo

uso em conjunto destas três ferramentas.

Fazendo uso do critério apresentado na Tabela 5-9, se a pontuação obtida fosse menor

que 63 pontos, isso representaria que as ferramentas não seriam capazes de representar

melhorias às oportunidades levantadas. Entretanto, como todas as oportunidades obtiveram

uma pontuação superior a esta margem, isto representa que o conjunto de ferramentas

apresentadas levaria a uma melhora de moderada a alta a todas as oportunidades levantadas.

A Figura 5-6 ilustra a comparação entre o resultado esperado para a coluna Nota Final

I, valor obtido através do somatório de pontos para o resultado esperado apresentado na

Tabela 5-6, e o resultado obtido através das entrevistas.

Page 102: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

102

0

20

40

60

80

100

120

Oportunidade 1

Oportunidade 2

Oportunidade 3

Oportunidade 4

Oportunidade 5

Oportunidade 6

Nota Final I 81 90 85 74 85 83

Nota Esperada 91 98 84 84 84 84

81

9085

74

85 83

9198

84 84 84 84

Figura 5-6 – Comparação entre resultado esperado e resultado obtido do impacto do conjunto de

ferramentas em cada oportunidade de melhoria.

Como é possível observar, o impacto do uso destas ferramentas nas oportunidades 1, 2

e 4 foi abaixo do esperado. O resultado referente à Oportunidade 1 ficou cerca de 11% abaixo

do esperado, o referente à Oportunidade 2 cerca de 8% abaixo do esperado e o referente à

Oportunidade 4 cerca de 12% abaixo do esperado. Este resultado é conseqüência da avaliação

abaixo das expectativas das Checksheets como uma ferramenta capaz de auxiliar fortemente

dificuldades de gestão de atividades e integração de projeto.

Apesar do bom resultado geral obtido pela aplicação do conjunto destas ferramentas,

obtendo valores próximos do esperado, o resultado da primeira etapa desta pesquisa revela

que o ponto forte deste conjunto de ferramentas não está relacionado com as principais causas

da ineficiência do PDP. Pela análise da Figura 5-6 é possível verificar que este conjunto de

ferramentas atua mais fortemente na Oportunidade 2, que é a oportunidade que obteve o

Page 103: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

103

menor desempenho na análise de fatores impactantes da eficiência do PDP. Já a Oportunidade

1, que juntamente com a Oportunidade 5 foram as avaliadas como de maior impacto na

eficiência do PDP, foi a segunda menos afetada pelo o uso do conjunto destas ferramentas.

Esta análise demonstra que este conjunto de ferramentas não é o mais adequado para

atacar as principais causas da ineficiência do PDP no setor aeroespacial brasileiro. Um

conjunto de ferramentas mais adequado seria aquele que impactasse de forma mais expressiva

as oportunidades 1 e 5, prioritariamente.

A segunda análise dos resultados apresentados na Tabela 5-11 faz uso dos dados

apresentados na última linha desta tabela, denominada Nota Final II. Os valores apresentados

nesta linha são o somatório dos valores inferiores de cada célula de intersecção entre

ferramentas e oportunidades. Como o valor inferior destas células é a multiplicação da nota de

desempenho da ferramenta com o peso da oportunidade, o somatório destes valores irá indicar

o desempenho das ferramentas no combate à ineficiência do PDP, uma vez que a ferramenta

que tiver melhor desempenho na oportunidade de maior impacto da eficiência do PDP obterá

mais pontos.

A ferramenta que obteve a maior pontuação neste quesito foi as Reuniões Diárias, com

552 pontos, como conseqüência do resultado do bom desempenho na Oportunidade 1 a na

Oportunidade 5, de maior peso. Como mencionado anteriormente, as Reuniões Diárias se

mostrou eficaz no combate a dificuldades de comunicação e gestão das atividades, principais

fatores impactantes da eficiência do PDP.

As Checksheets obtiveram a segunda maior pontuação, 463 pontos, portanto, se

mostrou mais eficaz do que o Manual de Conceitos, que obteve a menor pontuação, 398

pontos. Este resultado demonstra que apesar das Checksheets terem obtido um resultado

abaixo do esperado, elas ainda representam uma ferramenta com melhor desempenho que o

Manual de Conceitos no combate às causas da ineficiência do PDP.

Page 104: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

104

A Figura 5-7 apresenta a comparação entre o resultado esperado e o resultado obtido

para os valores da linha Nota Final II.

0

100

200

300

400

500

600

Manual de Conceitos

Reuniões Diárias

Checksheets

Nota Final II 398 552 463

Nota Esperada 441 567 567

Figura 5-7 - Comparação entre resultado esperado e resultado obtido do impacto de cada ferramenta no

conjunto de oportunidades de melhoria.

Pela análise da literatura, era esperado que as Reuniões Diárias e as Checksheets

obtivessem a mesma margem de pontos, entretanto, as Checksheets obtiveram uma margem

de pontos 26% abaixo da margem obtida pelas Reuniões Diárias. Também era esperado que o

Manual de Conceitos obtivesse uma margem de pontos cerca de 20% abaixo da margem de

pontos das demais ferramentas, mas ela obteve uma margem 28% mais baixa que a margem

obtida pelas Reuniões Diárias.

A Checksheet, portanto, foi a que obteve a maior diferença entre o desempenho

esperado e o desempenho avaliado. Este fato é devido a atuação desta ferramenta estar

concentrada mais fortemente na Oportunidade 2 e na Oportunidade 6, que foram as

oportunidades de menor impacto na eficiência do PDP. Era esperado que sua atuação fosse

mais forte na Oportunidade 1 e na Oportunidade 4, de maior impacto na eficiência do PDP, o

que explica a diferença entre o valor esperado e o obtido.

Page 105: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

105

Portanto, dando continuidade a análise que indicava que este conjunto de ferramentas

não era o mais adequado para atacar as principais causas da ineficiência do PDP, uma opção

para melhor adequar este conjunto de ferramentas seria substituir a ferramenta Manual de

Conceitos, por uma ferramenta capaz de auxiliar melhor as dificuldades de prover

cronogramas confiáveis e fáceis de gerenciar, e de auxiliar no gerenciamento da carga

nivelada de trabalho. Esta Oportunidade de Melhoria foi classificada como uma das de mais

alto impacto na eficiência do Processo de Desenvolvimento de Produtos Complexos e foi uma

das menos impactadas pelo conjunto de ferramentas apresentadas neste trabalho.

Page 106: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

106

6. Considerações Finais

6.1. Análise da Consecução dos Objetivos e Síntese dos Resultados

O presente trabalho consistiu em avaliar ferramentas capazes de elevar a eficiência da

gestão do Processo de Desenvolvimento de Produtos Complexos no setor aeroespacial

brasileiro. Com este propósito, os seguintes objetivos específicos foram alcançados:

• Mapeamento de um modelo convencional do processo de desenvolvimento de

produtos complexos, utilizando uma síntese dos modelos apresentados por

Rozenfeld et al. (2006) e Ulrich e Eppinger (2008);

• Identificação de ferramentas da metodologia Lean capazes de melhorar a

eficiência do PDP, a saber: Manual de Conceitos, Reuniões Diárias e Checksheets.

Em relação ao objetivo específico de identificar e avaliar as principais causas da

ineficiência do Processo de Desenvolvimento de Produtos no setor aeroespacial brasileiro, a

seguinte conclusão foi obtida:

• Os principais fatores de impacto na eficiência do PDP são as dificuldades de

comunicação e a dificuldade de elaboração de cronogramas confiáveis e simples

de serem gerenciados. De uma forma menos expressiva, mas também relevante, as

dificuldades de integração de objetivos, de integração de projeto, de gestão do

conhecimento e de gerenciamento do aumento do número de pessoas engajadas ao

projeto ao longo do PDP também são fatores de impacto na eficiência do PDP.

Em relação ao objetivo específico de investigar a percepção de profissionais

experientes quanto à eficácia das ferramentas da metodologia Lean selecionadas em prover o

aumento da eficiência do PDP no universo analisado, as seguintes conclusões foram obtidas:

Page 107: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

107

• O Manual de Conceitos se mostrou adequado aos objetivos propostos, atuando

fortemente na integração de objetivos. Entretanto, como sua atuação nas

oportunidades de melhoria de maior impacto à eficiência do PDP foi fraca, essa

ferramenta se mostrou pouco eficaz em prover de um modo amplo o aumento da

eficiência do Processo de Desenvolvimento de Produtos Complexos.

• As Reuniões Diárias se mostraram adequadas aos objetivos propostos, atuando

fortemente nas causas das dificuldades de comunicação e gestão das atividades.

Esta ferramenta se mostrou eficaz em prover o aumento da eficiência do Processo

de Desenvolvimento de Produtos Complexos, atuando fortemente nas principais

oportunidades de melhoria e moderadamente em todas as demais.

• As Checksheets se mostraram parcialmente adequadas aos objetivos propostos,

pois ela não foi avaliada como uma ferramenta fortemente capaz de auxiliar nas

dificuldades de gestão de atividades e integração de projeto. Apesar do

atendimento parcial dos objetivos esta ferramenta ainda se mostrou eficaz em

prover o aumento da eficiência do Processo de Desenvolvimento de Produtos

Complexos, pois atua de forma moderada nas principais oportunidades de

melhoria.

• Analisando-se o conjunto de ferramentas Lean, este se mostrou parcialmente

eficaz em prover o aumento da eficiência do Processo de Desenvolvimento de

Produtos Complexos, pois apesar de contribuir de forma forte ou moderada em

todas as oportunidades de melhoria levantadas, uma das oportunidades de maior

relevância (Oportunidade 1) foi a segunda menos impactada pelo uso deste

conjunto de ferramentas. Um conjunto de ferramentas eficaz seria aquele capaz de

prover forte atuação nas oportunidades de melhoria mais relevantes (Oportunidade

1 e Oportunidade 5), e atuação de forte a moderada nas demais.

Page 108: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

108

Assim, conclui-se que os objetivos específicos foram atendidos a contento, bem como

o atendimento do objetivo geral, que representa a maior contribuição deste trabalho: uma

metodologia para realizar avaliação de ferramentas Lean de gestão do PDP, amplamente

discutidas no ambiente acadêmico, baseada nas análises de profissionais experientes neste

processo.

Como síntese final das análises realizadas neste trabalho, ressalta-se que as avaliações

realizadas pelos sujeitos de pesquisa demonstraram que a aplicação de qualquer ferramenta

Lean de gestão do desenvolvimento de produtos está atrelada a uma mudança cultural.

Disciplina e flexibilidade convivendo juntos e o respeito às pessoas como fator intrínseco aos

meios de comunicação são exemplos desta cultura Lean. Ressalta-se também o fato dos

conceitos ligados as ferramentas não serem novos ou exclusivos, eles já são trabalhados em

outras metodologias, inclusive na metodologia do modelo de referência do PDP Convencional

descrito neste trabalho, estando ligado inclusive a conceitos triviais. Entretanto a novidade

está no modo simples de colocá-los em prática.

Adicionalmente, vale ressaltar que a abordagem utilizada nas entrevistas se mostrou

adequada, pois o número de oportunidades de melhoria e o número de ferramentas que os

entrevistados tinham que avaliar não causou desconforto. Acredita-se que um número maior

de oportunidades de melhoria ou de ferramentas de gestão poderia causar um desconforto no

sujeito de pesquisa, por se tratar de uma avaliação longa, podendo impactar na qualidade do

resultado apurado.

Page 109: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

109

6.2. Recomendações e Desenvolvimentos Futuros

6.2.1. Avaliar novos conjuntos de ferramentas

Dado que o conjunto de ferramentas Lean avaliado neste trabalho se mostrou

parcialmente eficaz em prover o aumento da eficiência do Processo de Desenvolvimento de

Produtos Complexos, sugere-se a aplicação da mesma metodologia de avaliação utilizada

neste trabalho substituindo uma ou mais ferramentas deste conjunto, de modo a verificar se a

eficácia em prover o aumento da eficiência do PDP é afetada de forma positiva.

Com este fim, sugere-se a substituição do Manual de Conceitos por uma ferramenta

capaz de prover melhorias às dificuldades de comunicação e gestão das atividades do

processo de desenvolvimento de produtos.

6.2.2. Avaliar as dificuldades de implementação das ferramentas

Como o objetivo deste trabalho era avaliar se determinadas ferramentas da abordagem

Lean seriam eficazes em prover o aumento da eficiência do processo de desenvolvimento de

produtos complexos, não se buscou avaliar quais seriam as dificuldades da implementação

destas ferramentas. Deste modo, sugere-se um estudo que busque identificar as principais

dificuldades de implementar as ferramentas descritas neste trabalho, verificando inclusive se

alguma dificuldade de implementação impactaria nos resultados esperados do uso da

ferramenta em questão.

Page 110: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

110

Referências

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Page 111: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

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Page 112: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

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YIN, R. Case study research: design and methods. 2. Ed. Beverly Hills: Sage Pub., 1994.

Page 113: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

113

Apêndice I – Esboço do Manual de Conceitos

A seguir é apresentado um exemplo fictício de como poderia ser estruturado a

ferramenta Manual de Conceitos.

MarcaRemete ao Luxo, a implacável busca pela perfeição.

ConcorrentesBMWMercedes

Valor que o Cliente deste Produto BuscaPrecisãoAlta Qualidade

Metas do Projeto

Meta 1 Redução nos espaços entre painéis de 50%.Benefícios Esperados:

Melhoria na Aparência (demonstração de precisão)Melhoria na AerodinâmicaMelhoria no nível de Ruído Interno

Meta 2 Consumo de combustível 10% inferior ao dos concorrentesBenefícios Esperados:

Remete à eficiênciaAumento de autonomiaRedução no nível de emissão de poluentes

Manual de ConceitosAutomóvel LEXUS

Page 114: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

114

Apêndice II – Esboço de Checksheet

A seguir é apresentado um exemplo fictício de como poderia ser estruturado a

ferramenta Checksheet.

Página 1:

SIM: Realizar estudo de ganho (Processo Detalhado 1.1.0.1)NÃO: Partir para passo 2.

2.1.1. Interface com grupo de performance para determinar quantidade necessária.Variáveis de Interação:MTOW Fuel Weight

2.1.2. Interface com grupo de aerodinâmica para determinar capacidade do tanque de asa.Variáveis de Interação:Dimensões da Asa

2.2. Qual arquitetura possui melhor relação custo x benefício? (Processo Detalhado 2.2.0.1)

1.0.1 Interação com resultados do passo 2 e passo 3.

1.1.1. Interface com fornecedor do Motor.

2.0.1 Interação com resultados do passo 1 e passo 3.2.1. Qual a potência requerida das bombas? (Processo Detalhado 2.1.0.1)

3.0.1 Interação com resultados do passo 1 e passo 2.3.1. Qual posicionamento melhor atende a análise de Safety, requisito RNC?

3.1.1. Interação com grupo de Safety Assessment.

1.1. Existe algum novo conceito maduro o suficiente para ser aplicado ao projeto?1.1.1. Interface com grupo de P&D para verificar disponibilidade de novas tecnologias.

2.1. Qual a relação de aumento no MTOW para as possíveis localizações dos tanques, ex: Tanque Asa x Tanque Fuselagem? (Curvas de Apoio 2.1.0.1)

Fase

Det

alha

men

to

1.1. Qual é a pressão mínima e máxima que o fabricante do motor exige para a alimentação do motor ocorra da forma adequada?

3. Definir posicionamento das bombas de combustível.

ChecksheetDesenvolvimento de Sistema de Combustível

1. Definir Arquiteturas Viáveis.

2. Realizar análise de trade-off entre arquiteturas viáveis.

1. Definir pressão desejada nas linhas de alimentação do motor.

2. Definir tipo de alimentação das bombas de combustível (AC/DC).

Fase

Con

ceitu

al

Page 115: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

115

Página 2:

1.1.0.1 - ESTUDO DE GANHO

1. Interface com grupo de Manufatura para determinar viabilidade de arquiteturas.2. Interface com grupo de Análise de Mercado para definir valores de mercado.

Exemplo de Matriz de Decisão baseada em Lucro:

B C D E123 profit change uncertainty profit change uncertainty4 -$50 $8 -$30 $55 $30 $8 $10 $56 $30 $8 $10 $57 $10 $14 -$10 $9

Coluna A: Critérios que serão avaliados contra o caso básico.

Coluna C e D: Apresenta a incerteza da sua avaliação.

Interpretação da tabela acima:

ChecksheetProcessos Detalhados

Este estudo de ganho deverá ser utilizado quando há a necessidade de verificar se uma opção do produto é financeiramente vantajosa.Como resultado de estudo espera-se obter dados para subsidiar a tomada de decisão por uma determinada característica do produto que será mais lucrativa.É importante verificar que a análise aqui feita não deve ser baseada na escolha do mais barato, nem tão pouco do melhor sistema, mas sim no que melhor atende a relação entre valor esperado pelo cliente e lucro para a empresa.

Decision: body architecture Base case: frameA

Baseado nos dados fornecidos pelas áreas de interface descritas, deve-se preencher a Matriz de Decisão exemplificada abaixo:

monocoque hybrid

manufacturing costhandlingnoise

CriterionAlternatives

Neste caso, a opção monocoque parece apresentar uma melhoria de $10 com relação ao caso base, entretanto existe uma uma incerteza de $14 sobre esse resultado. Deve-se buscar mais dados. Por outro lado, com mais de 90% de certeza, a opção de projeto hybrid é $10 pior que o caso base. Então, deve-se parar de gastar energia no estudo desta solução.

Fonte: Ward (2007, p.104)

Ex: Na tabela acima, o custo de manufatura do projeto monocoque é de $50 a mais que o caso base (frame), mas estima-se que a média de clientes pagaria $30 a mais pela melhoria do manuseio do produto e mais $30 pela redução de ruídos.

Coluna B e D: Quanto de lucro é esperado por unidade do produto como resultado do uso da alternativa, considerando apenas o critério listado.

Ex: Na tabela acima, para o projeto hybrid, existe 90% de certeza que o lucro estimado está entre $5 do numero real. Para o projeto monocoque a incerteza por critério é de $8.

Totals

PS: o valor total da incerteza é a raiz quadrada da soma das incertezas de cada critério ao quadrado.

Page 116: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

116

Página 3:

Page 117: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

117

Página 4:

2.1.0.1 - TRADE-OFF DE POSICIONAMENTO DE TANQUES DE COMBUSTÍVELObjetivo do EstudoResultado EsperadoInformações de uso da ferramentaÁreas de Interface e descrição das informações que deverão ser trocadas

Descrição das partes da tabela e sua forma de interpretação

ChecksheetCurvas de Apoio

Page 118: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

118

Página 5:

OUTROS MEIOS DE ESTUDO E COMPARAÇÃO

ChecksheetCurvas de Apoio

Fonte: Morgan & Liker (2008, p. 306)

Fonte: Morgan & Liker (2008, p. 303)

Page 119: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

119

Apêndice III – Carta de Informação ao Sujeito de Pesquisa

CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA

Esta pesquisa está sendo realizada por Daniel Galhardo Gomes, aluno do curso de Pós-

Graduação em Engenharia Aeronáutica e Mecânica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica –

ITA. O tema da pesquisa é Análise de F erramentas de G estão d o P rocesso d e

Desenvolvimento de Produtos no Setor Aeroespacial Brasileiro para a Melhoria de sua

Eficiência. Seu objetivo é verificar a percepção de profissionais experientes no Processo de

Desenvolvimento de Produtos quanto ao impacto das ferramentas apresentadas na melhoria da

eficiência deste processo. Os resultados dessa pesquisa serão utilizados apenas para fins

acadêmicos.

Seguindo os preceitos éticos, informamos que sua participação será absolutamente

sigilosa, não constando seu nome ou qualquer outro dado referente a sua pessoa que possa

identificá-lo no relatório final ou em qualquer publicação posterior sobre esta pesquisa. Pela

natureza da pesquisa, sua participação não acarretará em qualquer dano a sua pessoa.

Você tem a total liberdade para recusar sua participação, assim como solicitar a

exclusão de seus dados, retirando seu consentimento sem qualquer penalidade ou prejuízo,

quando assim o desejar.

Agradeço sua permissão, enfatizando que a mesma em muito contribui para a

formação e para a construção de um conhecimento atual nesta área.

São José dos Campos, Agosto de 2009

______________________________________

Daniel Galhardo Gomes

Page 120: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

120

Apêndice IV – Questionário de Primeira Etapa da Pesquisa

Classes de Avaliação

1 2 3 4

Oportunidades de Melhoria

Não

Impa

cta

Impa

cta

Pouc

o

Impa

cta

R

azoa

velm

ente

Im

pact

a

Mui

to

1. Metodologia de Gestão pouco eficaz em prover cronogramas confiáveis e de gerenciar carga nivelada de trabalho.

Comentários:

2. Dificuldade de gerenciar o aumento do número de especialistas em determinadas etapas do desenvolvimento.

Comentários:

3. Grupos funcionais não compartilham objetivos. Possuem objetivos isolados e pouca compreensão do foco do projeto.

Comentários:

4. Integração ocorre de acordo com o fluxo mapeado, como em diagramas PERT, que é incapaz de mapear toda a integração necessária.

Comentários:

5. Problemas não são comunicados no momento adequado, ou da forma correta, causando atrasos, retrabalho e soluções emergenciais.

Comentários:

6. Experiências não são compartilhadas entre programas, levando a repetição de falhas já trabalhadas dentro da empresa e a sensação de estar sempre “re-inventando a roda”.

Comentários:

Page 121: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

121

Apêndice V – Matriz de Comparação da Segunda Etapa da Pesquisa

Clas

sifica

r o p

oten

cial d

e im

pact

o qu

e a

ferra

men

ta p

ossu

i em

relaç

ão a

s opo

rtunid

ades

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oria:

Forte

OM

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Reu

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ts

1. M

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2. D

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det

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inad

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des

envo

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ento

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3. G

rupo

s fu

ncio

nais

não

com

parti

lham

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Page 122: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

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Apêndice VI – Formulário de Identificação do Entrevistado

Page 123: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

123

Anexo I - Exemplos de Resultados da Aplicação dos C onceitos Lean no

PDP

Os objetivos de um projeto aeronáutico sempre são: atingir os requisitos técnicos de

desempenho, dentro do custo e do prazo previsto (restrição tripla). Porem, a maioria dos

projetos da indústria aeronáutica não consegue atingir estes três objetivos, em geral, atingem

apenas dois deles. Por já fazer parte de um “senso comum” que qualidade e eficiência neste

segmento parecem não caminhar juntas, a perda de um destes objetivos se torna

“compreensível” (MURMAN, 2007).

Entretanto, é possível observar que alguns dos projetos que fizerem uso dos conceitos

Lean durante o PDP chegaram perto, ou até mesmo alcançaram estes três objetivos.

Tomando como primeiro exemplo o caso do F/A-18E/F Super Hornet, uma aeronave

militar produzido pela McDonnell Douglas Boeing Integrated Defense Systems.

O projeto do modelo E/F iniciou por completo em 1992. A Marinha dos Estados

Unidos entendia que precisava iniciar um programa de desenvolvimento para modernizar sua

frota de aeronaves de combate. Porem, após o cancelamento do programa A-12 Avenger II

(um projeto de aeronave de ataque tático, requisitado pela Marinha americana, com um

orçamento planejado de US$ 4,83 bilhões, foi cancelado pelo governo americano devido a

vários fatores como: problemas técnicos; ter excedido em 2 bilhões de dólares o orçamento

previsto; crescimento do valor unitário da aeronave; e constantes atrasos7

7 Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/McDonnell_Douglas> acessado em 23/fev/09 as 20:15hs.

) tanto a Marinha

quanto o Governo americano estavam preocupados quanto a credibilidade das estratégias de

desenvolvimento e as técnicas de gestão de projetos que eram as práticas padrão da indústria

daquele tempo. Entretanto, o futuro da aviação naval contava com as mudanças

revolucionárias que viriam com o programa Super Hornet (MURMAN, 2007).

Page 124: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

124

Apesar de possuir 90% de similaridade com o sistema aviônico do modelo Hornet

anterior (F/A18-C/D) o modelo E/F é significativamente diferente. Dentre os requisitos do

projeto do E/F, alguns deles estão listados abaixo:

• Aumento de 25% na carga-paga (payload);

• Aumento de 40% no alcance sem abastecimento;

• Aumentar em 5 vezes sua sobrevivência;

• Projeto para crescimento futuro;

• Substituir o A-6, F-14, F/A-18 A/B/C/D;

• Custo de suporte reduzido;

• Aeronave de combate com eficiência em diferentes tipos de missões.

O programa do F/A-18E/F foi organizado de forma a ter times integrados e

multifuncionais. Focado em liderança e esforços de desenvolvimento para manter o programa

dentro dos limites técnicos e do planejamento programado.

O Super Hornet atingiu os mais altos índices de desempenho operacional e ganhou

prêmios, como o Collier Trophy, pela relevante melhoria nos resultados obtidos como

segurança, eficiência e desempenho (MURMAN, 2007).

Um estudo subseqüente de Alexis Stanke revelou uma alta correlação das práticas do

programa Super Hornet com as do modelo mapeado pelo LAI de PDP Lean.

Dentre os resultados obtidos neste programa, ainda é possível citar:

• Finalizado dentro do orçamento – US$4.88 bilhões;

• Finalizado dentro do programado – 8,5 anos do “go-ahead” até o inicio das

operações;

• Aeronave 1029 lbs (467 kg) abaixo do peso previsto.

Page 125: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

125

Outro projeto que é possível notar o uso de alguns conceitos do Lean durante a fase de

desenvolvimento é o programa do Boeing 777. O contexto de desenvolvimento deste projeto

envolvia um “time-to-market” estreito, para não permitir o avanço da concorrência, e, além

disso, uma aeronave competitiva com os modelos A330 e A340 da francesa Airbus, e com o

consagrado modelo MD-11 (MURMAN, 2007).

Os requisitos envolvidos no desenvolvimento deste projeto eram:

• Alcance de Nova York até Beijing sem paradas;

• Pronto para Serviço: aprovado para ETOPS e alta taxa de dispachabilidade;

• Tempo reduzido de desenvolvimento;

• Inovações tecnológicas como:

o Uso de material composto;

o Maior aeronave a jato com apenas dois motores (90 klbs de empuxo dos motores);

o Primeiro avião a ser projetado inteiramente por computador (Mock-ups digital);

o Barramento de dados ARINC 629;

Durante este programa a Boeing utilizou várias práticas Lean no desenvolvimento do

produto, como8

• Foco no cliente (os clientes eram convidados a opinar no desenvolvimento);

:

• Arquitetura projetada para derivativos;

• Abordagem “Working Together”, como:

o Integração com fornecedores;

o Times de projeto multifuncionais;

o Comunicação aberta e honesta;

8 Fonte: Murman, 2007 e <http://en.wikipedia.org/wiki/Boeing_777> acessado em 01/mar/2009 as

13:00hs

Page 126: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

126

• Ferramentas de projeto integradas;

• DFMA, DFx;

• Foco na qualidade da engenharia.

Os resultados obtidos pela Boeing neste programa foram muito relevantes para a

indústria aeronáutica, pela primeira vez os clientes (as companhias áreas) foram

consideravelmente envolvidos no desenvolvimento do produto e o resultado foi uma

satisfação muito elevada. Um dos principais diferenciais foi o resultado final do projeto

entregue no prazo planejado e com aquilo que foi prometido, pronto para serviço. A Boeing

atingiu uma redução de 90% nas mudanças de desenho e de material retrabalhado

(MURMAN, 2007).

Ainda hoje este projeto continua a fornecer bons resultados, as novas gerações desta

aeronave continuam entregando o valor esperado pelo cliente e a plataforma se mostrou

perfeitamente adaptável.

Os princípios Lean não são novos na indústria, nem mesmo na aeronáutica. É possível

observar evidências da utilização destes princípios em vários programas, como: DC-9, F-117

Nighthawk, F-16 Fighting Falcon, Citation-X, etc. Entretanto, poucos programas aplicam

estes conceitos de forma consciente ou completa (MURMAN, 2007).

Page 127: Análise de ferramentas de gestão do processo de desenvolvimento

FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO

1. CLASSIFICAÇÃO/TIPO

DP

2. DATA

03 de novembro de 2009

3. REGISTRO N°

CTA/ITA/DP-063/2009

4. N° DE PÁGINAS

126 5. TÍTULO E SUBTÍTULO:

Análise de Ferramentas de Gestão do Processo de Desenvolvimento de Produtos no Setor Aeroespacial

Brasileiro para a Melhoria de sua Eficiência 6. AUTOR(ES):

Daniel Galhardo Gomes 7. INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES):

Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA 8. PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:

1. Processo de Desenvolvimento de Produto. 2. Desenvolvimento Lean. 3. Ferramentas de aumento de

eficiência.

9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:

Controle de processos; Desenvolvimento de produtos; Produção enxuta; Melhoria contínua; Eficiência;

Administração de projetos; Engenharia de produção

10. APRESENTAÇÃO: X Nacional Internacional

ITA, São José dos Campos. Curso de Mestrado Profissionalizante em Engenharia Aeronáutica. Programa

de Pós-Graduação em Engenharia Aeronáutica e Mecânica. Orientador: Luís Gonzaga Trabasso; co-

orientador: Paulo Tadeu de Mello Lourenção. Defesa em 23/10/2009. Publicada em 2009.

11. RESUMO:

A definição de excelência em gestão de projetos deve ir muito além de uma experiência de sucesso. As

organizações de reconhecida excelência em gestão de projetos criam um ambiente no qual existe um fluxo

contínuo de projetos gerenciados com sucesso. Conforme menciona Kerzner (2006), para atingir a

excelência em gestão de projetos o desafio está na forma de implementação das técnicas de gestão

presentes nas referências há mais de trinta anos. Neste contexto, a abordagem Lean, baseada na

metodologia aplicada pela Toyota, se destaca como uma abordagem capaz de colocar em prática

eficazmente conceitos há tempo existentes de gestão de projetos. Assim, este trabalho possui três

objetivos principais: primeiro, identificar e avaliar as principais dificuldades de aumentar a eficiência do

Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP), identificadas como oportunidades de melhoria;

segundo, identificar na abordagem Lean três ferramentas de auxilio a gestão deste processo; e terceiro,

avaliar a relação de impacto das ferramentas nas oportunidades de melhoria analisando a eficácia das

ferramentas em prover a melhoria da eficiência do PDP. O método proposto para a realização destas

avaliações tem por base entrevistas semi-estruturadas realizadas com onze profissionais experientes em

PDP, representantes de quatro diferentes empresas com atuação na indústria aeronáutica e aeroespacial.

As entrevistas foram estruturadas em duas etapas, a primeira o sujeito de pesquisa realizava a avaliação

do impacto das oportunidades de melhoria na eficiência do PDP, com base numa escala de importância, e

na segunda etapa o sujeito de pesquisa realizava a avaliação da relação de impacto de cada ferramenta

identificada nas oportunidades de melhoria, utilizando uma matriz de comparação. Os resultados

mostraram que as principais oportunidades de melhoria no PDP estão relacionadas a dificuldades de

comunicação e gestão das atividades. O conjunto de ferramentas avaliadas demonstrou ser eficaz afetando

de forma moderada a forte a maioria das causas da ineficiência do PDP.

12. GRAU DE SIGILO:

(X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO