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Análise de Risco Noções Introdutórias (texto) Prof. Luiz Carneseca

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ÍNDICE 1 Introdução 3 2 Diferentes Abordagens sobre o Conceito de Risco 3 2.1 Risco e Perigo, Termos Sinônimos? 5 2.2 Risco, Confiança e Sistemas Peritos 7 3 As Categorias de Análise de Risco 9 3.1 Risco Tecnológico 10 3.2 Risco Natural 10 3.3 Risco Social 11 4 Definições da Análise de Risco 12 5. Principais Metodologias e Ferramentas para a Análise de Risco 14 5.1 APP 14 5.2 HAZOP 20 5.3 FMEA 28 5.4 Árvore de Falhas 35 5.5 AQR 37 6. Referencias Bibliográficas 45

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1. Introdução

Atualmente os estudos acerca dos riscos em geral vêm sendo desenvolvidos em vários setores, estando a noção de risco consideravelmente difundida na sociedade, figurando em debates, avaliações e estudos no meio acadêmico e empresarial. Este risco acompanha, via de regra, um adjetivo que o qualifica: risco ambiental, risco social, risco tecnológico, risco natural, biológico, e tantos outros, associados à segurança pessoal, saúde, condições de habitação, trabalho, transporte, ou seja, ao cotidiano da sociedade moderna.

Podemos distinguir, inicialmente, três principais abordagens: a primeira está relacionada com as Geociências, com enfoque em processos catastróficos e rápidos; uma segunda abordagem trata dos chamados riscos tecnológicos e sociais; e por último, a abordagem empresarial e financeira. Portanto, esse resumo pretende discutir algumas categorias envolvidas na composição dos riscos e suas formas de avaliação, excluindo a abordagem financeira, e ressaltando a dimensão espacial de risco. 2. Diferentes Abordagens sobre o Conceito de Risco

O risco pode ser tomado como uma categoria de análise associada a priori às noções de incerteza, exposição ao perigo, perda e prejuízos materiais, econômicos e humanos em função de processos de ordem "natural" (tais como os processos exógenos e endógenos da Terra) e/ou daqueles associados ao trabalho e às relações humanas. O risco refere-se, portanto, à probabilidade de ocorrência de processos no tempo e no espaço, não constantes e não-determinados, e à maneira como estes processos afetam (direta ou indiretamente) a vida humana.

De maneira geral, poderíamos dizer que a gênese dos riscos, assim como o aumento da capacidade de gerar danos e de sua escala de abrangência, acompanham a história da sociedade. A questão que pode ser colocada, considerando o risco como objeto de investigação científica sistemática, atualmente estudado a partir de bases teóricas e conceituais, é: quando e como adquire caráter e status científico.

Apesar de ser difícil afirmar com exatidão quando tiveram início os primeiros estudos1 sobre riscos, segundo Adams (1995) os termos "risco" e "incerteza" assumiram papel de termos técnicos na literatura desde 1921, quando através do clássico trabalho intitulado "Risk, uncertainty and profit" de Frank Knight, este anunciou que: "if you don't know for sure what will happen, but you know the odds, that's risk, and if you don't even know the odds, that's uncertainty" (Adams, 1995).

Godard et al. (2002) atribuem a introdução da distinção entre risco (risques) e incerteza (incertitude) não somente a Frank Knight, mas também a John Maynard Keynes, no mesmo ano de 1921, todavia independentes um do outro. As duas concepções, segundo Godard e colaboradores, remetem-se a uma situação onde o resultado de uma ação depende ex ante aos olhos daquele que a induz, da realização (incerta) dos acontecimentos possíveis.

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Uma outra perspectiva, mais antiga, tem raízes na "Escola de Chicago" de Geografia. Desenvolvida por White (1945 apud Löfstedt & Frewer, 1998) em sua tese de doutorado e mais tarde por Burton et al. (1978 apud Löfstedt & Frewer, 1998), voltava-se principalmente aos riscos associados a processos da natureza, como por exemplo, as enchentes.

Dentre concepções e definições de risco, o livro "A Sociedade do Risco" de Beck (2000) é considerado um clássico e referência obrigatória. Neste livro, Beck afirma que vivemos em uma verdadeira sociedade do risco, propondo uma distinção entre uma primeira modernidade (caracterizada pela industrialização, sociedade estatal e nacional, pleno emprego, etc) e uma segunda modernidade ou "modernidade reflexiva", em que as insuficiências e as antinomias da primeira modernidade tornam-se objeto de reflexão (Beck, 2000). A ciência e a tecnologia, assim como as instituições da sociedade industrial engendrada na primeira modernidade, não foram pensadas para o tratamento da produção e distribuição dos "males", ou seja, dos riscos associados à produção industrial.

Na mesma linha da "modernização reflexiva", Anthony Giddens analisa as conseqüências do trabalho industrial moderno, através do aprofundamento/ acirramento e universalização das conseqüências da modernidade (Giddens, 1991). A modernidade, como mostra o autor, ao mesmo tempo em que propiciou o desenvolvimento das instituições sociais modernas em escala mundial, criando condições para uma existência humana mais segura e gratificante (que jamais algum sistema pré-moderno foi capaz de gerar), foi também geradora de um "lado sombrio", sobretudo no século XX (Giddens, 1991). Esta característica é revelada pelo potencial destrutivo em larga escala que as "forças de produção" desenvolveram em relação ao meio ambiente material. Este mesmo autor descreve um "perfil de risco específico à modernidade" que confere aos tempos modernos tal "aspecto ameaçador", composto pelas seguintes categorias:

a) globalização do risco - em termos de intensidade (por exemplo, guerra nuclear) e em termos de quantidade de eventos que afetam grande número de pessoas (por exemplo, mudanças na divisão global do trabalho);

b) risco derivado do meio ambiente criado - ligado à infusão do conhecimento humano no meio ambiente material, ou seja, perigos ecológicos derivados da transformação da

natureza; c) riscos institucionalizados - podem afetar a vida de milhões de pessoas, como por

exemplo, o mercado de investimentos; d) consciência do risco como um risco - relacionada ao fato de os riscos não serem

mais percebidos como algo divino/sobrenatural, ou seja, a "falta de conhecimento" não pode mais ser convertida em certeza pela religião ou pelos mitos;

e) consciência ampla do risco - muitos tipos de riscos conhecidos encontram-se bastante disseminados na sociedade;

f) consciência das limitações da perícia - sistemas peritos podem possuir falhas em seus princípios, isto é, riscos existentes podem não ser percebidos pelos próprios peritos, comprometendo a idéia de perícia.

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2.1 Risco e Perigo, Termos Sinônimos? Godard et al. (2002) discorrem sobre a genealogia da "sociedade do risco" e sobre os

princípios de precaução, crise e segurança. Nesta obra, risco é conceituado concisamente como uma incerteza objetivamente definida por um caráter probabilístico (Godard et al., 2002), que não deve ser confundido como uma ênfase estatística, estabelecendo-se uma distinção entre risco confirmado (risque avéré), passível de predições científicas, e risco potencial (risque potentiel), que não pode ser definido de forma (tão) objetiva (Godard et al.,2002). Na literatura científica concernente ao tema, em língua portuguesa, e no vocabulário geral, os termos risco e perigo são freqüentemente considerados sinônimos, como aponta Augusto Filho (2001). No idioma inglês, com os termos "risk", "hazard" e "danger", assim como nos termos em francês "risques" e "danger", parece ocorrer este mesmo fenômeno semântico.

Todavia, o uso indiscriminado destes termos no meio acadêmico e científico tem causado alguma confusão e equívocos. Muitas publicações utilizam-nos concomitantemente ou intercambiando-os, outras, por sua vez, utilizam apenas um deles, não ficando claras as possíveis distinções existentes. Consideramos, portanto, relevante uma mínima discussão das definições, significados e nuances envolvidas.

No Brasil, em especial na área de Geologia de Engenharia, o termo perigo não é tão empregado nos textos acadêmicos. O risco é o principal termo utilizado, sendo definido como a "possibilidade de ocorrência de um acidente" (Cerri & Amaral, 1998), acidente este definido como um "fato já ocorrido, onde foram registradas conseqüências sociais e econômicas (perdas e danos)" (Cerri & Amaral, 1998). A definição de risco é associada, neste campo científico, a uma "situação de perigo ou dano, ao homem e a suas propriedades, em razão da possibilidade de ocorrência de processo geológico, induzido ou não" (Zuquette & Nakazawa, 1998), concepção que figura também na literatura internacional concernente a esta área (Selby, 1993).

Augusto Filho (2001), trabalhando com a elaboração de cartas de risco de escorregamentos para estabelecimento de seguros de imóveis, apresenta uma diferenciação entre os termos perigo e risco correlacionando-os aos seus correspondentes em língua inglesa: perigo (hazard) é tomado como a "ameaça potencial a pessoas ou bens" e risco (risk) "expressa o perigo em termos de danos/por período de tempo, em geral, unidade monetária/ano" (Zuquette, 1993, Ogura, 1995 apud Augusto Filho, 2001). Em relação ao termo danger, Augusto Filho (2001) o traduz em português para "processo perigoso". Na tabela 1 encontram-se expostas definições apresentadas por este autor para estes e outros termos envolvidos nas análises de risco. Dentro da comunidade científica mais ampla, evidencia-se que os termos risco, perigo e desastre também são usados alternadamente, como sinônimos, embora tenham significados diferentes (Mileti, 1999; Cutter, 2001).

Na abordagem desenvolvida por Susan Cutter, hazard é o termo mais abrangente, sendo considerado como a ameaça às pessoas e às coisas que elas valorizam. A ameaça surge da interação entre os sistemas social, natural e tecnológico, e é descrita, freqüentemente, em função de sua origem (perigos ou "azares" naturais: terremotos, furacões, escorregamentos; tecnológicos: acidentes químicos, poluição, explosões),

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embora reconheça a autora que esta classificação perde força dentro da comunidade científica, já que muitas destas ameaças possuem uma origem complexa (Cutter, 2001).

Sobre o risco (risk), a mesma autora argumenta que este termo representa a probabilidade de ocorrência de um evento, de uma ameaça acontecer, afirmando que as análises de riscos dão ênfase à estimativa e à quantificação da probabilidade de ocorrência, para determinar níveis apropriados de segurança ou aceitabilidade. Por fim complementa: "risk is a component of hazard".

Tabela 1 - Principais conceitos utilizados na análise de risco conforme a IUGS. Modificado de Augusto Filho (2001), baseado em International Union of Geological Sciences - IUGS Working Group - Committee on Risk Assessment (1997).

No mesmo sentido, Kovach (1995) desenvolve perspectiva semelhante, adotando o risco como um componente do perigo (hazard), estando sua estimativa envolvida em três aspectos: o risco de danos ao homem, o risco de danos às propriedades humanas e o nível de aceitação do risco (Kovach, 1995).

Por sua vez, Kenneth Hewitt (1997) argumenta que um conjunto de elementos influencia as condições de risco (risk) e de segurança (safety).

Estes elementos são: os perigos/ameaças (hazards), a vulnerabilidade e a intervenção e adaptação às condições de perigo. No que concerne ao conceito "hazards", Hewitt

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afirma que este é freqüentemente utilizado para descrever todo o campo de investigação, e são geralmente fenômenos ou "agentes físicos" do ambiente natural e artificial que trazem consigo a idéia implícita de ameaça. Citando o autor: "Strictly speaking, something is a hazard to the extent that it threatens losses we wish to avoid. It is not the flood that creates risk, but the possibility of drowning or losing one's home." (Hewitt, 1997). Hewitt cita a definição de Ziegler e colaboradores, na qual hazard é um resultado/efeito negativo que pode até gerar perdas de vida, enquanto risk é a probabilidade de ocorrência de um efeito/resultado particular (Ziegler et al., 1983 apud Hewitt, 1997).

Nos trabalhos de Hewitt (1997), Cerri & Amaral (1998) e Cutter (2001) é possível perceber que a noção de perigo relaciona-se intrinsecamente com o processo/evento a ocorrer, enquanto o risco estará sendo definido, geralmente, a partir de uma escala ou hierarquia de probabilidades e de graus/níveis de aceitabilidade de ocorrência dos eventos perigosos, na tentativa de classificar áreas com níveis de risco (perdas/prejuízos/danos) maiores e menores. Entretanto, é evidente o debate ainda existente no que concerne à relação entre os termos.

No presente resumo assume-se que o processo perigoso é um componente do risco, pois não inclui obrigatoriamente a quantificação e/ou qualificação de prejuízos para a sociedade. A análise de risco, por sua vez, necessariamente compreende a identificação de perigos e pressupõe uma quantificação e/ou qualificação dos seus efeitos para a coletividade em termos de prejuízos materiais e imateriais. O tipo de valoração dos riscos a ser adotado, no entanto, depende dos princípios e objetivos da pesquisa. 2.2 Risco, Confiança e Sistemas Peritos

Geralmente, a não percepção/identificação de riscos ou mesmo a aceitação de um nível de risco calculado devem ser creditadas à confiança, idéia presente, principalmente, nas perspectivas sociológicas ou ligadas ao processo produtivo e à tecnologia. No que tange aos riscos naturais, a relação confiança e risco é menor, a menos que esteja envolvida nesta relação alguma forma de controle humano (trabalho/tecnologia) sobre os perigos naturais existentes, fato que demanda confiança da sociedade (leiga) no que diz respeito ao funcionamento deste sistema de controle implementado. Como por exemplo, podem ser mencionadas estruturas (portões e barragens) de controle contra enchentes em New Orleans (EUA), o sistema de comportas contra inundações na Holanda, ou ainda modelos de previsão de ocorrência de furacões, terremotos, entre outros.

O termo confiança aparece freqüentemente na linguagem comum (cf. Giddens, 1991) e talvez por ser tão familiar sua importância para a gestão de riscos ainda não tenha sido devidamente apreciada (Slovic, 1998). Slovic afirma a existência de numerosos estudos (Bella, 1987; Flynn & Slovic, 1993; Kasperon et al., 1992; entre outros) que apontam a falta de confiança como um fator crítico e implícito nas controvérsias que envolvem a gestão de perigos, principalmente os tecnológicos (Slovic, 1998).

Anthony Giddens segue a concepção de Luhmann (1979 apud Giddens, 1991) que faz uma distinção entre os termos confiança e crença. O primeiro está ligado ao reconhecimento consciente das alternativas ("cálculo" dos riscos reconhecidos) para seguir um curso específico de ação, enquanto que na situação de crença não se consideram estas alternativas, e muito menos de assumir as responsabilidades dos possíveis riscos.

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Todavia, Giddens defende a necessidade de novas definições de confiança, que deve estar relacionada a uma ausência de elementos concretos que permitam compreender diferentes processos e desta forma certificar-se do seu funcionamento. Ele argumenta: não haveria a necessidade de se confiar em alguém ou em algum sistema cujas atividades fossem visíveis, cujos processos de pensamento fossem transparentes e cujos procedimentos fossem conhecidos e compreendidos (cf. Giddens, 1991). Utilizando-se de uma frase de Gambetta (1988 apud Giddens, 1991), ele acrescenta: a confiança é "um dispositivo para se lidar com a liberdade dos outros". Por fim, redefine confiança como a crença na credibilidade de uma pessoa ou sistema, tendo em vista um dado conjunto de resultados ou eventos, em que esta crença "expressa uma fé na probidade ou amor de um outro, ou na correção de princípios abstratos (conhecimento técnico)" (Giddens, 1991). A confiança é uma espécie de crença, mas não está desprovida de uma previsão de resultados, de avaliação mínima de possibilidades.

O que mais importa-nos agora não são as relações pessoais em si, mas, sobretudo, as relações entre sociedade e sistemas peritos. Se a confiança pressupõe não conhecer processos e procedimentos de sistemas e se estes, por sua vez, têm alguma probabilidade de falharem em seus procedimentos de segurança, a sociedade (ou parte dela) está vulnerável aos riscos derivados de falha nos sistemas em questão.

A discussão que Giddens (1991) estabelece é que a confiança em sistemas peritos é uma característica própria da modernidade, servindo para reduzir ou mesmo minimizar os riscos típicos de várias atividades. O próprio funcionamento e a existência destes sistemas, muitas vezes, dependem da confiança dos leigos.

Ampliando a discussão podemos afirmar que o sistema contra enchentes de New Orleans, mencionado anteriormente, é um exemplo de sistema perito. Confiamos também na qualidade da água que bebemos, que utilizamos para fins diversos, no sistema de saneamento básico, no tratamento de efluentes industriais lançados nos rios e córregos por indústrias, entre outros, como sistemas peritos em que até certo ponto depositamos confiança e que estão relacionados com a geração de riscos de várias espécies, inclusive aqueles de caráter ambiental.

Cabe lembrar, para finalizar, a referência que Anthony Giddens faz ao perfil de risco associado à modernidade, principalmente aquele referente às limitações de perícia. Se os sistemas peritos podem possuir falhas, inclusive a falha que envolve a não percepção dos riscos pelos próprios peritos, mais do que nunca reforça-se a idéia de que é imprescindível a análise e avaliação de riscos não apenas no que não é considerado sistema perito, mas também nestes sistemas. Na esfera da questão ambiental, os riscos derivados de perigos tidos como ambientais (a percepção leiga freqüentemente associa-os somente aos agentes naturais) não podem ser creditados na conta de divindades, da sazonalidade ou ao destino. É mister compreender os processos que determinam diferentes usos do ambiente "natural" e construção do ambiente propriamente dito pela sociedade, na sua dimensão social e produtiva.

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3. As Categorias de Análise de Risco

Apesar de existirem diversas perspectivas de trabalho sobre riscos, observa-se atualmente poucas definições de risco ambiental. Na literatura estrangeira, por exemplo, encontram-se mais referências aos perigos (hazards) e suas categorias (perigos naturais, tecnológicos e sociais) como elementos para a definição de risco (cf. Hewitt, 1997). Alguns autores priorizam o estudo de uma das categorias de perigo supracitadas, ou ainda outras categorias, conforme aponta White et al. (2001), tal qual o perigo biológico ou o complexo, sem fazer menção a outras categorias de perigos. Alguns trabalhos, por sua vez, abordam os perigos naturais considerando-os como sinônimos de perigos ambientais, onde o conceito de ambiente encontra-se muito próximo à idéia de natureza.

A noção de risco ambiental, segundo Egler (1996) foi sistematizada originalmente por Talbot Page em 1978, quando este distinguiu a visão tradicional da noção de poluição da noção de risco, tendo origem no setor de energia nuclear (Egler, 1996). Para compor o quadro de risco ambiental, Egler (1996), abrange, em sua proposta, desde a ocorrência de perigos naturais (catástrofes) e impactos da alocação de fixos econômicos no território, até as condições de vida da sociedade, o que implica em avaliações em diferentes escalas e períodos de tempo (Egler, 1996). Para tanto, o autor utiliza-se das categorias risco natural, risco tecnológico e risco social.

Segundo alguns autores, esta classificação tende a ser cada vez menos utilizada, por não ser mais possível distinguir os riscos/perigos naturais, tecnológicos e sociais, devido à complexidade existente. Entretanto, ela ainda persiste como convenção, ou conveniência, reconhecendo-se que "formas puras" de riscos ou perigos relacionados a cada categoria constituem mera ficção (Burton et al., 1993; Cutter, 2001; White et al., 2001).

Tabela 2 Algumas classes de agentes de perigos tecnológicos e eventos correspondentes. Modificado de Hewitt (1997).

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3.1 Risco Tecnológico

Atualmente as pesquisas sobre riscos tecnológicos são bastante freqüentes. O risco tecnológico circunscreve-se ao âmbito dos processos produtivos e da atividade industrial. A noção de perigo tecnológico (technological hazards), segundo Hewitt (1997), surge principalmente da tecnologia industrial, a partir de falhas internas, ao contrário dos perigos naturais (natural hazards), percebidos como uma ameaça externa (Tabela 2).

Os perigos tecnológicos têm sido, na visão de Burton et al. (1993), o tipo de perigo mais pesquisado, com início nos estudos sobre poluição do ar no México e no Reino Unido. Segundo estes autores, o paradigma de pesquisa em perigos naturais (natural hazards) inspirou uma série de estudos relacionados aos perigos tecnológicos, sejam pesquisas sobre os perigos e as respostas para mitigá-los, seja a estimativa de perdas e custos, desenvolvimento de modelos de perigos etc (Burton et al., 1993).

De acordo com Egler (1996) esta categoria de risco pode ser definida como o "potencial de ocorrência de eventos danosos à vida, a curto, médio e longo prazo, em conseqüência das decisões de investimento na estrutura produtiva". O critério metodológico para a avaliação desta categoria de risco deve-se fundamentar na densidade da estrutura produtiva e no seu potencial de expansão (Egler, 1996) e na gestão institucional e ambiental das empresas, principalmente no que concerne à alocação de fixos, ao tratamento e disposição de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, e perigos extremos como explosões, vazamentos, etc. 3.2 Risco Natural

A categoria risco natural está objetivamente relacionada a processos e eventos de origem natural ou induzida por atividades humanas. A natureza destes processos é bastante diversa nas escalas temporal e espacial, por isso o risco natural pode apresentar-se com diferentes graus de perdas, em função da intensidade (magnitude), da abrangência espacial e do tempo de atividade dos processos considerados.

Na literatura podemos encontrar outra nomenclatura para os riscos naturais. São freqüentes os termos: "riscos geológicos" (cf. Augusto Filho et al., 1991); "perigos geológicos" (geohazards) (cf. Coch, 1995) e "riscos geomorfológicos" (cf. González-Díez et al., 1995), empregados pelos especialistas das respectivas áreas. Uma das motivações para esta diversidade de termos pode ser a gama de processos naturais potencialmente causadores de riscos à sociedade, ligada aos processos endógenos, processos exógenos e outros ainda de natureza atmosférica (Tabela 3).

O risco natural, de acordo com Egler (1996), está associado ao comportamento dos sistemas naturais, considerando o grau de estabilidade e de instabilidade expresso pela vulnerabilidade a eventos de curta ou longa duração.

As análises de risco natural estão relacionadas, desta maneira, às atividades que interferem e/ou são afetadas direta ou indiretamente por processos da dinâmica superficial ou interna da Terra. Os riscos naturais, segundo White et al. (2001) estão intrinsecamente ligados ao uso dos recursos naturais e das transformações dos sítios pela sociedade. Para

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Foucher (1982) os riscos naturais aumentam com o crescimento demográfico e, em uma escala local, aumentam a partir da urbanização dos sítios, freqüentemente vulneráveis (planícies aluviais, regiões baixas, sopés de encostas etc) principalmente em países subdesenvolvidos.

Tabela 3 Classificação de processos causadores de riscos naturais. Adaptado de Hewitt (1997) e White et al. (2001). 3.3 Risco Social

O risco social é uma categoria que pode ser analisada e desenvolvida por vieses distintos. É considerado, muitas das vezes, como o dano que uma sociedade (ou parte dela) pode fazer causar (Hewitt, 1997). Este viés fornece ênfase aos conflitos armados, guerras, ações militares, entre outros. Um outro viés explorado reside na relação entre marginalidade e vulnerabilidade a desastres naturais, como aponta o trabalho de Wisner (2000) exemplificando o caso dos "sem teto" e a vulnerabilidade destes aos terremotos.

Um terceiro viés, apresentado por Egler (1996), considera o risco social como resultante de carências sociais que contribuem para uma degradação das condições de vida da sociedade. Pode-se considerar esta visão mais ampla que as demais, agrupando diversas necessidades coletivas. A princípio manifesta-se, segundo o autor supracitado, nas condições de habitabilidade, ou seja, a defasagem entre as atuais condições de vida e o mínimo requerido para o desenvolvimento humano, como por exemplo, o acesso aos serviços básicos de saneamento, água potável e coleta de lixo, podendo incorporar em longo prazo avaliações das condições de emprego, renda, etc.

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4. Definições da Análise de Risco

Para iniciar um programa efetivo de análise de risco, temos que colocar as seguintes questões:

- Que nível garante a segurança? - Que garantia temos para considerar segura determinada atividade? - Que processos garantem nossa segurança? - Que investimentos temos que fazer? O processo de análise de risco permite obter as respostas a todas essas questões,

identificando os riscos potenciais, determinando a probabilidade de estes acontecerem e quantificando suas conseqüências.

A grande vantagem da análise de risco é permitir fornecer elementos básicos para a tomada de decisões que envolvem confiabilidade e segurança, o que possibilita apresentar alternativas às entidades detentoras do poder de decisão, para que estas atuem de forma clara, conscienciosas e objetivas.

É importante observar que a segurança tem um custo, assim a diminuição do nível de risco de uma atividade (que corresponde com o número e tipo de acidentes aceitáveis) pode ser quantificada financeiramente. A análise de risco nesse caso é uma ferramenta para o estudo de viabilidade técnica e econômica de qualquer atividade.

Figura 1 Relação financeira entre a segurança e risco (acidentes)

Simplificando o que foi dito anteriormente, o risco de maneira geral é a relação entre a

probabilidade de ocorrência de um evento perigoso com suas conseqüências (danos). Os riscos clássicos são: - Risco à vida; - Risco ao meio ambiente; - Risco às instalações; - Risco de ocorrência de lucros cessantes.

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Uma análise de risco não precisa cobrir necessariamente todos esses itens citados acima, geralmente as análises são direcionadas para focos específicos, mas todos os riscos citados acima podem ser avaliados com as técnicas de análise de risco.

Figura 2 Tipos de riscos de uma atividade industrial e suas formas de analise

A figura acima ilustra onde análise de risco é geralmente empregada em uma atividade

industrial, em um cenário brasileiro. A análise de risco é aplicada com foco nos acidentes de operação da atividade

específica, pois os perigos da operação normal e rotineira são avaliados baseados nas leis e normas vigentes no país (como a obrigatoriedade de um estudo de impacto ambiental) e os acidentes não relacionados á atividade específica é coberto com o cumprimento das leis e normas vigentes (como por exemplo, as normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho Brasileiro - NRs)

Uma análise de risco completa consiste basicamente na abordagem das seguintes etapas:

- Identificar os perigos; - Quantificar os riscos; - Determinar o risco aceitável; - Definir uma estratégia para a gestão do risco. A análise de risco também pode seguir duas linhas, a qualitativa e quantitativa, que

são definidas: Qualitativas – A experiência dos peritos fornece dados para avaliar os riscos em níveis

qualitativos de criticidade, como “crítico, moderado, desprezível, etc...” Quantitativas – Baseado em banco de dados, cada vulnerabilidade possui um valor

tabelado, que inserido no cenário pode-se chegar a um valor numérico do risco da atividade que pode ser maior ou menor que o definido como limite.

Diversas metodologias e ferramentas existem para a análise de risco, e as mais comuns serão descritas a seguir.

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5. Principais Metodologias e Ferramentas para a Análise de Risco 5.1 APP (Análise Preliminar de Perigos)

5.1.1 Objetivo A Análise Preliminar de Perigo (APP) é uma metodologia indutiva estruturada para

identificar os potenciais perigos decorrentes da instalação de novas unidades e sistemas ou da própria operação da planta que opera com materiais perigosos.

Esta metodologia procura examinar as maneiras pelas quais a energia ou o material de processo pode ser liberado de forma descontrolada, levantando, para cada um dos perigos identificados, as suas causas, os métodos de detecção disponíveis e os efeitos sobre os trabalhadores, a população circunvizinha e sobre o meio ambiente. Após, é feita uma Avaliação Qualitativa dos riscos associados, identificando-se, desta forma, aqueles que requerem priorização. Além disso, são sugeridas medidas preventivas e/ou mitigadoras dos riscos a fim de eliminar as causas ou reduzir as conseqüências dos cenários de acidente identificados.

O escopo da APP abrange os eventos perigosos cujas causas tenham origem na instalação analisada, englobando tanto as falhas de componentes ou sistemas, como eventuais erros operacionais ou de manutenção (falhas humanas). O grau de risco é determinado por uma matriz de risco gerada por profissionais com maior experiência na unidade orientada pêlos técnicos que aplicam a análise.

5.1.2 Aplicação Esta metodologia pode ser empregada para sistemas em início de desenvolvimento ou

na fase inicial do projeto, quando apenas os elementos básicos do sistema e os materiais estão definidos. Pode também ser usada como revisão geral de segurança de sistemas/ instalações já em operação.

O uso da APP ajuda a selecionar as áreas da instalação nas quais outras técnicas mais detalhadas de análise de riscos ou de contabilidade devam ser usadas posteriormente. A APP é precursora de outras análises.

5.1.3 Dados Necessários As principais informações requeridas para a realização da APP estão indicadas na

Tabela 4.

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Tabela 4 Informações necessárias para a realização da APP

5.1.4 Pessoal Necessário e Suas Atribuições A APP deve ser realizada por uma equipe estável, contendo entre cinco e oito

pessoas. Dentre os membros da equipe deve-se dispor de um membro com experiência em segurança de instalações e pelo menos um que seja conhecedor do processo envolvido.

É recomendável que a equipe tenha a composição, funções e atribuições específicas como indicadas na Tabela 5.

Tabela 5 Composição recomendável de uma equipe de APP

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5.1.5 Estimativa de Tempo e Custo Requeridos Em geral, as reuniões não devem durar mais do que três horas, sendo a periodicidade

de duas a três vezes por semana. O tempo necessário para a realização e reuniões da APP dependerá da complexidade do sistema/ processo a ser analisado.

O reconhecimento antecipado dos perigos existentes no processo economiza tempo e reduz os custos oriundos de modificações posteriores da instalação/ sistema. Isto faz com que os custos em termos de homens-hora alceados à realização da APP tenham um retorno considerável.

5.1.6 Natureza dos Resultados Na APP são levantadas as causas que podem promover a ocorrência de cada um dos

eventos e as suas respectivas conseqüências, sendo, então, feita uma avaliação qualitativa da freqüência de ocorrência do cenário de acidentes, da severidade das conseqüências e do risco associado. Portanto, os resultados obtidos são qualitativos, não fornecendo estimativas numéricas.

Normalmente uma APP fornece também uma ordenação qualitativa dos cenários de acidentes identificados, a qual pode ser utilizada como um primeiro elemento na priorização das medidas propostas para redução dos riscos da instalação/ sistema analisado.

5.1.7 Apresentação da Técnica de APP A metodologia de APP compreende a execução das seguintes etapas:

- Definição dos objetivos e do escopo da análise; - Definição das fronteiras do processo/ instalação analisada; - Coleta de informações sobre a região, a instalação e os perigos envolvidos; - Subdivisão do processo/ instalação em módulos de análise; - Realização da APP propriamente dita (preenchimento da planilha); - Elaboração das estatísticas dos cenários identificados por Categorias de Risco (freqüência e severidade); - Análise dos resultados e preparação do relatório.

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Para a execução da análise, o processo/ instalação em estudo deve ser dividido em "módulos de análise". A realização da análise propriamente dita é feita através do preenchimento de uma planilha de APP para cada módulo. A planilha adotada para a realização da APP, mostrada na Tabela 6, contém 7 colunas, as quais devem ser preenchidas conforme a descrição respectiva a cada campo:

Tabela 6 Exemplo de planilha utilizada na APP

No contexto da APP, um cenário de acidente é definido como sendo o conjunto

formado pelo perigo identificado, suas causas e cada um de seus efeitos. Um exemplo cenário de acidente possível seria: grande liberação de substância tóxica devido a ruptura de tubulação levando à formação de uma nuvem tóxica.

De acordo com a metodologia da APP, os cenários de acidente devem ser classificados em categorias de freqüência, as quais fornecem uma indicação qualitativa da freqüência esperada de ocorrência para cada um dos cenários identificados. A Tabela 7 mostra as categorias de freqüências em uso atualmente para a realização de APP.

Tabela 7 Categoria de freqüência de ocorrência dos cenários

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Esta avaliação de freqüência poderá ser determinada pela experiência dos componentes do grupo ou por banco de dados de acidentes (próprio ou de outras empresas similares).

Os cenários de acidente também devem ser classificados em categorias de severidade, as quais fornecem uma indicação qualitativa da severidade esperada de ocorrência para cada um dos cenários identificados. A Tabela 8 mostra as categorias de severidade em uso atualmente para a realização de APP.

Tabela 8 Categoria de severidade dos perigos identificados

E importante observar que para cada classe de severidade e freqüência deve ser

adequada ao tipo do sistema e empreendimento analisado, para tomar a análise do risco mais preciso e menos subjetivo.

Para estabelecer o nível de Risco, utiliza-se uma matriz, indicando a freqüência e a severidade dos eventos indesejáveis, conforme indicado na Figura 3 e na Tabela 9.

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Figura 3 Matriz de classificação de Risco – Freqüência x Severidade

Tabela 9 Legenda da matriz de classificação de Risco - Freqüência x Severidade

Finalmente, procede-se à análise dos resultados obtidos, listando-se as

recomendações de medidas preventivas e/ ou mitigadoras pela equipe de APP. O passo final é a preparação do relatório da análise realizada.

5.1.8 Principais Vantagens da Técnica APP Técnica mais abrangente que checklist, informando as causas que ocasionaram a

ocorrência de cada um dos eventos e as suas respectivas conseqüências, obtenção de uma avaliação qualitativa da severidade das conseqüências (Tabela 7) e freqüência (Tabela 8) de ocorrência do cenário de acidente e do risco associado: MATRIZ DE RISCO (Figura 3).

Desvantagem: requer um maior tempo para a execução de todo processo até o relatório final, necessitando de uma equipe com grande experiência em várias áreas de atuação como: processo, projeto, manutenção e segurança.

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5.2 HAZOP (Hazard Operability Studies – Estudos de Perigo e Operabilidade) 5.2.1 Objetivo A técnica denominada Estudo de Perigo e Operabilidade – HAZOP visa identificar os

problemas de operabilidade de uma instalação de processo, revisando metodicamente o projeto da unidade ou de toda fábrica. Esta metodologia é baseada em um procedimento que gera perguntas de maneira estruturada e sistemática através do uso apropriado de um conjunto de palavras guias aplicadas a pontos críticos do sistema em estudo.

O principal objetivo de um Estudo de Perigos e Operabilidade (HAZOP) é investigar de forma minuciosa e metódica cada segmento de um processo (focalizando os pontos específicos do projeto – nós - um de cada vez), visando descobrir todos os possíveis desvios das condições normais de operação, identificando as causas responsáveis por tais desvios e as respectivas conseqüências. Uma vez verificadas as causas e as conseqüências de cada tipo de desvio, esta metodologia procura propor medidas para eliminar ou controlar o perigo ou para sanar o problema de operabilidade da instalação.

O HAZOP enfoca tanto os problemas de segurança, buscando identificar os perigos que possam colocar em risco os operadores e aos equipamentos da instalação, como também os problemas de operabilidade que embora não sejam perigosos, podem causar perda de produção ou que possam afetar a qualidade do produto ou a eficiência do processo. Portanto o HAZOP identifica tanto problemas que possam comprometer a segurança da instalação como aqueles que possam causar perda de continuidade operacional da instalação ou perda de especificação do produto.

5.2.2 Aplicação A técnica de HAZOP, como é uma metodologia estruturada para identificar desvios

operacionais, pode ser usada na fase de projeto de novos sistemas/unidades de processo quando já se dispõe dos fluxogramas de engenharia e de processo da instalação ou durante modificações ou ampliações de sistemas/unidades de processo já em operação. Pode também ser usada como revisão geral de segurança de unidades de processos já em operação. Portanto, esta técnica pode ser utilizada em qualquer estágio da vida de uma instalação. A análise por HAZOP foi desenvolvida originalmente para ser aplicada a processos de operação contínua, podendo, com algumas modificações ser empregada para processos que operam por bateladas.

Não se pode executar uma HAZOP de uma planta em fase de projeto antes de se dispor do P&ID (Diagramas de Tubulação e Instrumentação) da mesma. Deve-se, entretanto, executá-lo logo após o término do P&ID a fim de que as possíveis modificações oriundas da análise possam ser incorporadas ao projeto sem maiores custos. No caso de HAZOP de uma planta existente, o primeiro passo é verificar se o P&ID está realmente atualizado. A execução de um HAZOP com base em um P&ID incorreto é simplesmente inútil.

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5.2.3 Dados Necessários A execução de um HAZOP de boa qualidade exige, além da participação de

especialistas experientes, informações precisas, detalhadas e atualizadas a respeito do projeto e operação da instalação analisada. Para execução do HAZOP deve-se dispor de P&ID's atualizados, informações sobre o processo, a instrumentação e a operação da instalação. Estas informações podem ser obtidas através de documentação, tais como, especificações técnicas, procedimentos de operação e de manutenção ou por pessoas com qualificação técnica e experiência. A documentação, devidamente atualizada, que pode ser necessária para execução do HAZOP está indicada abaixo: 1. Fluxogramas de engenharia (Diagramas de Tubulação e Instrumentação - P&ID's). 2. Fluxogramas de processo e balanço de materiais. 3. Memoriais descritivos, incluindo a filosofia de projeto. 4. Folhas de dados de todos os equipamentos da instalação. 5. Dados de projeto de instrumentos, válvulas de controle, etc. 6. Dados de projeto e setpoints de todas as válvulas de alívio, discos de ruptura, etc. 7. Especificações e padrões dos materiais das tubulações. 8. Diagrama lógico de intertravamento, juntamente com descrição completa. 9. Matrizes de causa e efeito. 10. Diagrama unificar elétrico. 11. Especificações das utilidades, tais como vapor, água de refrigeração, ar comprimido, etc. 12. Desenhos mostrando interfaces e conexões com outros equipamentos na fronteira da unidade/sistema analisados.

5.2.4 Pessoal Necessário e suas Atribuições O HAZOP se baseia no fato que um grupo de peritos com diferentes experiências

trabalhando juntos podem interagir de uma forma criativa e sistemática e identificar muito mais problemas do que se cada um trabalhasse individualmente e depois fossem combinados os resultados. A interação de pessoas, com diferentes experiências estimula a criatividade e gera novas idéias, devendo todos os participantes defender livremente os seus pontos de vistas, evitando críticas que inibam a participação ativa e a criatividade dos integrantes da equipe. Portanto, a realização de um HAZOP exige necessariamente, uma equipe multidisciplinar de especialistas, com conhecimentos e experiências na sua área de atuação, avaliar as causas e os efeitos de possíveis desvios operacionais, de forma que o grupo chegue a um consenso e proponha soluções para o problema.

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No caso de plantas industriais em fase de projeto, a composição básica do grupo de estudo deve ser aproximadamente a seguinte:

• Líder da equipe: esta pessoa deve ser um perito na técnica HAZOP e,

preferencialmente, independente da planta ou projeto que está sendo analisado. Sua função principal é garantir que o grupo siga os procedimentos do método HAZOP e que se preocupe em identificar riscos e problemas operacionais, masnão necessariamente resolvê-los, a menos que as soluções sejam óbvias. Esta pessoa deve ter experiência em liderar equipes e deve ter como característica principal a de prestar atenção meticulosa aos detalhes da análise.

• Chefe do projeto: este normalmente é o engenheiro responsável por manter os custos do projeto dentro do orçamento. Ele deve ter consciência de que quanto mais cedo forem descobertos riscos ou problemas operacionais, menor será o custo para contorná-los. Caso ele não seja uma pessoa que possua profundos conhecimentos sobre equipamentos, alguém com estas características também deverá fazer parte do grupo.

• Engenheiro de processos: geralmente é o engenheiro que elaborou o fluxograma do processo. Deve ser alguém com considerável conhecimento na área de processos.

• Engenheiro de automação: devido ao fato de as indústrias modernas possuírem sistemas de controle e proteção bastante automatizados, este engenheiro é de fundamental importância na constituição da equipe.

• Engenheiro eletricista: se o projeto envolver aspectos importantes de continuidade no fornecimento de energia, principalmente em processos contínuos, esta pessoa também deverá fazer parte do grupo.

Para complementar a equipe de estudo, devem ser incluídas pessoas com larga experiência em projetos e processos semelhantes ao que será analisado. No caso de estudo de uma planta já existente, o grupo deve ser constituído como segue:

• Líder da equipe: como no caso anterior. • Chefe da unidade ou engenheiro de produção: engenheiro responsável pela

operação da planta. • Supervisor-chefe da unidade: é a pessoa que conhece aquilo que de fato acontece

na planta e não aquilo que deveria estar acontecendo. • Engenheiro de manutenção: responsável pela manutenção da unidade. • Responsável pela instrumentação: é aquela pessoa responsável pela manutenção

dos instrumentos do processo, que pode ser executada tanto por engenheiros de automação como por eletricistas, ou por ambos.

• Engenheiro de pesquisa e desenvolvimento: responsável pela investigação dos problemas técnicos e pela transferência dos resultados de um piloto para a fábrica.

Além das pessoas recomendadas acima, em certas ocasiões se faz necessário o auxílio de outros membros, especialistas em determinados aspectos operacionais ou do projeto, como controle de processos, incêndios, computação, etc. Nos casos de plantas

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industriais em funcionamento, que estiverem sendo modificadas ou ampliadas, a equipe de estudo deve ser formada por uma combinação dos participantes apresentados nos dois casos anteriores.

Embora todos os membros da equipe tenham um objetivo comum, que é o de obter uma instalação barata, segura e fácil de operar, as limitações impostas a cada um dos participantes são diferentes, cada um procurando dar maior ênfase à sua área de atuação.

Este conflito de interesses ajuda a fazer com que os prós e os contras de cada alteração sejam exaustivamente examinados antes de se tomar uma decisão final. Este fato caracteriza a natureza de questionamento aberto apresentada pela técnica HAZOP, exigindo que se crie um ambiente onde todos os componentes do grupo se sintam livres para expor as suas opiniões sobre determinado assunto. Para garantir esta liberdade de expressão, o líder da equipe deve procurar evitar desequilíbrios, não permitindo que pessoas com personalidade mais forte inibam a participação de outros membros do grupo, o que geraria uma análise tendenciosa dos riscos.

O HAZOP não é uma técnica para trazer mentes "recém chegadas" para trabalhar em um problema. Esta é uma técnica que permite aos que são peritos em um processo utilizarem seus conhecimentos e experiências de maneira sistemática, de modo que os problemas tenham menor probabilidade de serem omitidos. A porcentagem de acidentes, posteriores ao HAZOP, que ocorrem porque o grupo não tinha o conhecimento necessário para o desenvolvimento do estudo é mínima. A maioria dos acidentes ocorre porque o grupo responsável pelo estudo deixou de aplicar os seus conhecimentos.

5.2.5 Estimativa de Tempo e Custo Requeridos As reuniões da equipe de HAZOP devem ser suficientemente freqüentes para se

manter o ímpeto desejado. Em geral, as reuniões devem durar cerca de três horas no máximo e deve-se ter um intervalo de dois ou três dias entre reuniões subseqüentes a fim de permitir aos participantes coletar as informações necessárias, ou seja, freqüência de 2 a 3 reuniões por semana.

O tempo necessário e o custo são proporcionais ao tamanho e complexidade da unidade que estiver sendo analisada. Estima-se que sejam necessários, em média, cerca de 3 horas para cada grande equipamento da instalação, tais como, vasos, torres, tanques, compressores, permutadores, etc.

5.2.6 Natureza dos Resultados Tipicamente os principais resultados fornecidos pelo HAZOP são os seguintes: - Identificação de todos os desvios acreditáveis que possam conduzir a eventos

perigosos ou a problemas operacionais.

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- Uma avaliação das conseqüências (efeitos) destes desvios sobre o processo. O exame dos meios disponíveis para se detectar e corrigir ou mitigar os efeitos de tais

desvios. Podem ser recomendadas mudanças no projeto, estabelecimentos ou mudança nos procedimentos de operação, teste e manutenção.

Portanto, os resultados obtidos são puramente qualitativos, não fornecendo estimativas numéricas nem qualquer tipo de classificação em categorias.

5.2.7 Apresentação da Técnica HAZOP A técnica HAZOP é essencialmente um procedimento indutivo qualitativo, no qual um

grupo examina um processo, gerando, de uma maneira sistemática, perguntas sobre o mesmo. As perguntas, embora instigadas por uma lista de palavras-guia, surgem naturalmente através da interação entre os membros da equipe. Portanto, esta técnica de identificação de perigos consiste, fundamentalmente, em uma busca estruturada das causas de possíveis desvios em variáveis de processo, ou seja, na temperatura, pressão, vazão e composição, em diferentes pontos (denominados nós) do sistema, durante a operação do mesmo. A busca dos desvios é feita através da aplicação sistemática de uma lista de "palavras-guias" para cada modo do sistema. Esta lista deve ser tal que promova um amplo e irrestrito raciocínio lógico visando detectar virtualmente todas as anormalidades concebíveis do processo. Uma lista de “palavras-guia” juntamente com os tipos de desvios considerados, são mostrados na Tabela 10. A Tabela 11 apresenta uma lista de desvios aplicáveis a processos contínuos.

O procedimento para execução do HAZOP pode ser sintetizado nos seguintes passos: 1. Divisão da unidade/sistema em subsistemas a fim de facilitar a realização do

HAZOP. 2. Escolha do ponto de um dos subsistemas a ser analisado, chamado nó. 3. Aplicação das “palavras-guias”, verificando quais os desvios que são possíveis de

ocorra naquele nó. Para cada desvio, investigar as causas possíveis de provocá-lo, procurando levantar todas as causas. Para cada uma das causas, verificar quais são os meios disponíveis na unidade/sistema para detecção desta causa e quais seriam as suas possíveis conseqüências. Em seguida, procura-se verificar se não existe alguma coisa que possa ser feita para eliminar a causa do desvio ou para minimizar as suas conseqüências. Caso surja durante a discussão, alguma dúvida ou alguma pendência, deve-se anotá-la para ser dirimida posteriormente. Finalmente, no que ficará responsável pela sua avaliação e implementação. Uma vez analisados todos os desvios, procede-se à escolha do próximo nó, prosseguindo com a análise.

A correta utilização das palavras de orientação e a determinação de todos os pontos críticos são a garantia que o sistema foi totalmente avaliado resultando na identificação dos perigos do processo no sistema em função dos parâmetros de processo: temperatura,

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vazão, concentração, etc. A Tabela 10 apresenta as variáveis de processo com as palavras guia e o desvio de projeto.

O processo de execução de um estudo de HAZOP é estruturado e sistemático. Portanto, se faz necessário o entendimento de alguns termos específicos que são utilizados no desenvolvimento de uma Análise de Riscos desta natureza:

Nós-de-estudo (Study Nodes): são os pontos do processo, localizados através dos fluxogramas da planta, que serão analisados nos casos em que ocorram desvios.

Intenção de operação: a intenção de operação define os parâmetros de funcionamento normal da planta, na ausência de desvios, nos nós-de-estudo.

Desvios: os desvios são afastamentos das intenções de operação, que são evidenciados pela aplicação sistemática das palavras-guia aos nós-de-estudo (p. ex., mais pressão), ou seja, são distúrbios provocados no equilíbrio do sistema.

Causas: são os motivos pelos quais os desvios ocorrem. A partir do momento em que um desvio tenha demonstrado possuir uma causa aceitável, ele pode ser tratado como uma ocorrência significativa e analisado adequadamente. As causas dos desvios podem advir de falhas do sistema, erro humano, um estado de operação do processo não previsto (p. ex., mudança de composição de um gás), distúrbios externos (p. ex., perda de potência devido à queda de energia elétrica), etc.

Conseqüências: as conseqüências são os resultados decorrentes de um desvio da intenção de operação em um determinado nó-de-estudo (p. ex., liberação de material tóxico para o ambiente de trabalho).

Parâmetros de processo: são os fatores ou componentes da intenção de operação, ou seja, são as variáveis físicas do processo (p. ex., vazão, pressão, temperatura) e os procedimentos operacionais (p. ex., operação, transferência).

Palavras-guia ou Palavras-chave (Guide Words): são palavras simples utilizadas para qualificar os desvios da intenção de operação e para guiar e estimular o grupo de estudo ao brainstorming. As palavras-guia são aplicadas aos parâmetros de processo que permanecem dentro dos padrões estabelecidos pela intenção de operação. Aplicando as palavras-guia aos parâmetros de processo, em cada nó-deestudo da planta em análise, procura-se descobrir os desvios passíveis de ocorrência na intenção de operação do sistema. Assim, as palavras-guia são utilizadas para levantar questões como, por exemplo: "O que ocorreria se houvesse mais...?" ou "O que aconteceria se ocorresse fluxo reverso?".

Diversos tipos de palavras-guia são utilizados, dependendo da aplicação da técnica. A Tabela 10 apresenta as palavras-guia mais utilizadas para o desenvolvimento de um HAZOP, acompanhadas de seus significados.

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Tabela 10 Tipos de desvios associados com as “palavras-guia”

Tabela 11 Lista de desvios para HAZOP de processos contínuos

Para realização do HAZOP, utiliza-se a planilha mostrada na Figura 4. O cabeçalho

desta planilha identifica o subsistema que está sendo analisado, o fluxograma de engenharia usado e o nó escolhido.

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Figura 4 Exemplos de planilhas utilizadas no HAZOP

5.2.8 Principais Vantagens da Técnica HAZOP O HAZOP é ideal para ser empregada na fase final de elaboração do projeto de

processo, embora também seja aplicada na etapa de operação. As principais vantagens da análise por HAZOP estão relacionadas com a sistematicidade, flexibilidade e abrangência para identificação de perigos e problemas operacionais. Além disso, as reuniões de HAZOP promovem a troca de idéias entre os membros da equipe uniformizando o grau de conhecimento e gerando informações úteis para análises subseqüentes, principalmente, para Avaliações Quantitativas de Riscos (AQR).

Além disso, o HAZOP serve para os membros da equipe adquirirem um maior entendimento do funcionamento da unidade em condições normais e, principalmente, quando da ocorrência de desvios, funcionando a análise de forma análoga a um "simulador" de processo.

Desvantagem: Avalia apenas as falhas de processo (T, P, Q, pH,...) para determinar as potenciais anormalidades de engenharia. Requer uma equipe multidisciplinar com larga experiência para implementação da técnica. Especialistas em projeto, processo, operação do processo, instrumentação, química, segurança e manutenção.

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5.3 FMEA (Failure Mode and Effects Analysis – Análise de Modos e Efeitos de Falhas)

5.3.1. Introdução FMEA pode ser definido como uma técnica que usa o reconhecimento e avaliação das

falhas potenciais de um projeto ou processo e seus efeitos, identificando ações que possam eliminar ou reduzir a ocorrência dessas falhas.

Os principais objetivos são: prever os problemas mais importantes, impedir ou minimizar as conseqüências dos problemas e maximizar a qualidade e confiabilidade de todo o sistema.

A análise FMEA é desenvolvida pela seguinte pergunta: “Como pode essa unidade ou processo falhar ? ” .

A seguir um exemplo do FMEA aplicado para um sistema de Gestão Ambiental para o melhor entendimento da metodologia.

5.3.2. Modelo para aplicação do FMEA no Sistema de Gestão Ambiental A aplicação do método é ilustrada através de um exemplo referente aos processos de

consumo e abastecimento da água, presentes na maioria das organizações. A seguir são descritos os passos da sistemática de utilização do FMEA no Sistema de

Gestão Ambiental: 1. Definição da equipe responsável. Uma vez que os riscos se apresentam sob várias formas e em várias atividades

distintas, é importante que a análise seja feita a partir do debate multidisciplinar com profissionais das diversas áreas do conhecimento. Cabe lembrar que inúmeros são os problemas levantados, sendo muitas vezes necessário conhecimentos técnicos específicos para seu adequado estudo (FERREIRA e ANDERY, 1998).

2. Definição dos itens do Sistema de Gestão Ambiental que serão considerados. O objetivo a ser alcançado deve ser conhecido. Para tanto, é necessário definir

claramente quais os itens a serem considerados, ou seja, responder questões tais como Qual o escopo da avaliação de riscos ambientais?

3. Preparação prévia para coleta de dados. Antes de coletar os dados, é aconselhável a elaboração de uma listagem ampla,

embora não exaustiva, dos elementos que podem auxiliar a organização na identificação de seus aspectos ambientais.

Segundo FERREIRA e ANDERY (1998): “Em processos complexos, que podem envolver uma série bastante considerável de etapas, a ordenação lógica das idéias é um

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fator fundamental no momento de se fazer um levantamento dos problemas possíveis de virem a ser enfrentados”.

4. Pré-filtragem dos aspectos ambientais considerados. Ao identificar os aspectos ambientais é importante que a organização realize análises

críticas, de modo a estabelecer um pré-filtro para assegurar sensatez. Principalmente, segundo CARVALHO (1998), no que se refere aos aspectos ambientais indiretos e potenciais. Como, o exemplo citado por FERREIRA e ANDERY (1998): o caso de riscos que estão fora do controle da empresa, como os riscos de força maior (terremotos, furacões, tempestades, etc.).

A pré-filtragem dos aspectos ambientais, possui outro ponto relevante, que é o fato da NBR ISSO 14001/96 não abordar aspectos da saúde e da segurança ocupacional (CARVALHO, 1998). Portanto um filtro adicional que a organização pode decidir estabelecer é o de não considerar aspectos cujos impactos não extrapolem os limites que caraterizam as lesões e as doenças da segurança e da medicina do trabalho.

5. Identificação do processo/função a ser analisado. Na primeira coluna do formulário do FMEA é descrito o processo/função onde serão

analisados os riscos ambientais. 6. Identificação dos aspectos e impactos ambientais. A segunda e terceira colunas do formulário são preenchidas com o aspecto e o

impacto ambiental associados ao processo descrito na primeira coluna. Os aspectos mais prontamente aparentes são aqueles regulamentados por legislação, tais como emissões atmosféricas, lançamentos de efluentes nos corpos d’água, disposição de resíduos no solo (TIBOR E FELDMAN, 1996).

7. Identificação das causas das falhas. A quinta coluna do formulário é preenchida com a causa potencial da falha, descrita

em termos de alg que possa ser corrigido ou controlado. 8. Identificação dos controles atuais de detecção das falhas ou causas. A sétima coluna do formulário corresponde aos controles atuais do processo/função,

que são descrições dos modos de falha que podem ser detectados ou prevenidos. Estes controles são, por exemplo, dispositivos à prova-de-erro, monitoramento contínuo ou parcial, ou ainda uma avaliação pós-processo.

9. Determinação dos índices de criticidade. Correspondem às colunas 4, 6, 8 e 9 do formulário do FMEA. A determinação desses

índices segue os seguintes critérios: Gravidade do impacto: este índice parte de uma análise do efeito do risco para

avaliação de sua gravidade, que é estimado em uma escala de 1 a 10 conforme Tabela 12. Trata-se da gravidade de um impacto ambiental de um modo potencial de falha relativo ao meio ambiente. Uma redução no índice de gravidade pode ser conseguida através de uma alteração do projeto do produto/processo.

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Tabela 12 Diretrizes para classificar a gravidade do impacto

Ocorrência da causa: este índice parte de uma análise do efeito do risco para

avaliação de sua probabilidade de ocorrência, que é estimado em uma escala de 1 a 10 conforme Tabela 13.

Trata-se da probabilidade de ocorrência de uma específica causa/mecanismo.

Tabela 13 Diretrizes para classificar o índice de ocorrência da causa

Grau de Detecção: este índice parte de uma análise de uma causa do risco para

avaliação do grau de controle possível de ser exercido sobre ele, é estimado em uma escala de 1 a 10 conforme Tabela 14.

Entende-se por controle a capacidade de atuação no processo para evitar ou minimizar as causas do risco. Deste modo, deve ser analisada a possibilidade de previsão do evento de cada uma das causas, além dos respectivos níveis de controle possíveis de serem estabelecidos.

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Tabela 14 Diretrizes para classificar o índice grau de detecção

Índice de Risco Ambiental: este índice é obtido pela simples multiplicação dos valores

estimados para cada um dos três índices anteriores, fornecendo uma escala hierarquizada da relevância de cada produto/processo/função analisados, variando entre 1 a 1000.

10. Análise dos riscos ambientais e plano de ações. A norma NBR ISO 14001/96 não define as metodologias a serem utilizadas para a

identificação e tomada de ações corretivas, somente determina que estas ações sejam adequadas à magnitude e características do problema em questão. A norma também orienta que as ações preventivas sejam implementadas e que exista um acompanhamento sistemático, a fim de assegurar sua eficácia.

É aconselhável que sejam definidos responsáveis e datas previstas (coluna 11) para a realização das ações. Segundo HOJDA (1997): “A atribuição de responsabilidades no manuseio e investigação de não conformidades é fundamental, já que o Sistema de Gestão Ambiental trata de maneira muito próxima os acidentes e situações de emergência”.

11. Revisão do plano de ação. O objetivo do plano de ação é reduzir o Índice de Risco Ambiental (IRA). Na coluna 12,

consta uma breve descrição das ações realizadas. As ações, cujo resultado seja julgado ineficaz, devem ser submetidas a novo exame e reiniciadas, conforme a sua priorização.

12. Revisão do FMEA sempre que necessário. A reavaliação do produto/processo/função para os quais foram sugeridas ações, deve

ser contínua. Caso esta avaliação apresente um resultado insatisfatório, novas soluções devem ser

buscadas para atenuar o impacto ambiental deste processos/produto/função. Não esquecendo que o tratamento de problemas potenciais requer um nível maior de conhecimento e capacitação (CAJAZEIRA, 1998).

A reavaliação do FMEA é de suma importância, uma vez que o processo de levantamento de aspectos ambientais é periódico. Segundo HOJDA (1997), a NBR ISO

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14001/96 determina a existência de procedimento para a realização destas atividades e estabelece que a organização deve manter estas informações atualizadas.

Cabe à empresa definir a periodicidade destas análises, mas a organização deve levar em consideração:

- alterações de leis ambientais existentes e pertinentes à organização, - surgimento de novas leis ambientais; - modificações do processo produtivo e serviços associados; - reclamações das partes interessadas; - incidentes ambientais potenciais; - lançamento de novos produtos; - um aspecto que anteriormente era considerado significativo pode, após uma melhoria

de processo, não gerar mais impactos significativos reais ou potenciais. 5.3.3. Exemplo de aplicação do FMEA Como suporte à implementação do sistema de gestão ambiental apresenta-se um

exemplo ilustrativo com o estudo de dois processos: consumo e abastecimento da água, que foram escolhidos por serem comuns à maioria das organizações. Onde valores para IRAs iguais ou superiores a 90 foram considerados prioritários para a implementação de ações.

A seguir, o Formulário do FMEA (Figura 5) apresenta o exemplo ilustrativo.

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Figura 5 Exemplo de aplicação do FMEA

5.3.4. Conclusão O FMEA é um método direcionado para quantificação dos efeitos das possíveis falhas,

permitindo à empresa estabelecer prioridades para agir. A utilização do FMEA, aplicado ao Sistema de Gestão Ambiental, para análise dos riscos ambientais constitui um método simples para priorizar os aspectos e impactos ambientais segundo uma escala de avaliação do seu grau de importância, permitindo quando possível e pertinente, o estabelecimento direto de medidas preventivas ou corretivas.

Em relação à metodologia apresentada, é interessante observar que a distinção de diferentes causas (aspectos ambientais) para um mesmo produto/processo/função é importante para que a avaliação do risco ambiental possa ser feita, de forma particularizada, a partir de cada uma de suas possíveis causas.

Apesar de estarem associados a um mesmo produto/processo/função, a probabilidade de ocorrência destes fatos foi bastante diferente, o que levou a uma conseqüente diferenciação na avaliação do risco ambiental. Como por exemplo, o processo referente a utilização de água dos poços artesianos conduziu a dois possíveis aspectos ambientais: a utilização imprópria para o consumo humano e o comprometimento das nascentes. No primeiro aspecto, com o IRA de 150 a ação recomendada foi a da identificação das tubulações o que conduziu a um novo IRA de 10, ou seja, foi comprovada a eficácia da

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ação realizada. Já, o segundo aspecto: comprometimento das nascentes, teve um IRA de 9 (baixo).

No processo de tratamento de efluentes, o IRA de 240 (maior encontrado), levou à ação de aumentar a frequência de monitoramento do sistema, o que reduziu o IRA para 160 (ainda maior que 90), mostrando que uma reavaliação deve ser feita.

Os outros processos, como a drenagem das águas pluviais e a utilização da água potável, apresentaram IRAs inferiores a 90, não levando obrigatoriamente a uma ação. Porém, para todos os produto/processo/função com o índice de gravidade alto (9,10) foi recomendada uma ação.

Dentre algumas vantagens, da utilização do FMEA no Sistema de Gestão Ambiental, pode-se observar:

- a identificação dos modos/causas de falhas potenciais relacionadas ao meio ambiente;

- a identificação das variáveis que deverão ser controladas para redução da ocorrência ou melhoria da eficácia da detecção das falhas;

- a classificação dos modos de falhas potenciais, estabelecendo assim um sistema de padronização para a priorização das ações corretivas/preventivas;

- a documentação dos resultados ambientais. É fundamental que na avaliação de riscos ambientais dos produto/processo/função

haja uma retroalimentação do FMEA a partir de experiências acumuladas. O que exige, por parte das empresas, uma rotina de aprimoramento contínuo, que é a base do Sistema de Gestão Ambiental segundo NBR ISO 14001/96.

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5.4 Árvore de Falhas A árvore de falhas é uma técnica de análise de risco baseada na Lógica Buleana, que

considera a probabilidade de ocorrência de eventos indesejados que podem gerar um evento topo, ou seja, um evento indesejado como explosão, incêndio dentre outros, sendo uma técnica dedutiva, pois a análise se inicia do evento topo para os demais eventos causadores sendo eventos independentes porém podem desencadear o evento topo seja pela combinação de vários eventos ou por eventos isolados. O objetivo da técnica é considerar a combinação de vários eventos para a geração do evento topo indesejado, sendo possível identificar os eventos geradores principais para gerencimento e controle de forma a evitar a ocorrência do evento topo. A árvore de falhas ou FTA (faul tree analyse) tem a vantagem de considerar eventos combinados que outras técnicas de análise de risco não possuem, porém é totalmente dependente das probabilidades definidas para cada evento, exigindo banco de dados confiáveis, caso contrário a análise pode ficar comprometida, indicando probabilidades que não representam a realidade. Quando dizemos combinação de eventos estamos interessados nas probabilidades resultantes assim a combinação dos eventos A e B pode ser representado como:

P(A) U P(B) = P(A) + P(B)- P(A)*P(B) P(A) ∩ P(B) = P(A)*P(B)

A B

A ∩ B

Figura 6 Relação entre os eventos A e B

As probabilidades estão relacionadas as combinações dos eventos havendo uma

codificação que representa e/ou, sendo representado pelo exemplo abaixo na Figura 7, no caso de uma explosão de um tanque simulado no software Blocksim, considerando as probabilidades como funções de probabilidades exponenciais.

P(Topo) = {P(P(E0)*P(E1))}*{(P(P(E2)*P(E3)) + (P(P(E4)+P(E5))}

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Figura 7 Árvore de Falhas Os eventos podem ser assim descritos: E0 = Falha no sistema de intertravamento automático E1 = Falha humana no bloqueio manual E2 = Aumento de vazão de produto E3 = Falha na válvula de retenção na entrada do tanque E4 = Falha na linha de bypass E5 = Falha na válvula de alívio

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5.5 AQR (Análise Quantitativa de Riscos) A Análise Quantitativa de Risco ou simplesmente AQR é hoje uma metodologia

amplamente utilizada como poderosa ferramenta na avaliação da perfomance global de segurança, em especial nas indústrias nuclear e química.

A metodologia da AQR teve sua origem no desenvolvimento da indústria nuclear. Entretanto, podemos dizer que contribuíram também de forma significativa para o seu desenvolvimento as indústrias eletrônica e aeroespacial. Esta última, em especial, fortemente motivada pela corrida espacial que se apresentava na época (~1970) – a conquista do espaço.

A preocupação com a segurança das indústrias nucleares acabou gerando um documento, de fato um guia de procedimentos – Avaliação Probabilística de Risco, para ser usado como instrumento de avaliação da segurança das plantas nucleares.

A generalidade desta metodologia se mostrou útil na avaliação dos riscos relacionados à segurança das plantas de processo em geral, e em particular da indústria química, e hoje em dia é genericamente chamada de Análise Quantitativa de Risco da Indústria de Processos Químicos.

Esta consagrada metodologia será brevemente resumida neste capítulo, onde se pretende apresentar seus conceitos e métodos empregados para a análise.

A AQR possibilita avaliar quantitativamente os riscos provenientes de uma instalação que utiliza substâncias perigosas isto é, tóxicas, inflamáveis e/ou explosivas e que, portanto possuem a potencialidade de causar danos (morte, ferimento, perda de estrutura, perda econômica, etc) às pessoas, à propriedade e ao meio ambiente.

A AQR serve tanto como ferramenta para avaliar os riscos existentes, bem como ajudar na decisão de escolha entre diferentes alternativas para redução dos riscos.

Antes de passar a apresentar a seqüência de etapas que definem a metodologia, é importante definir alguns outros conceitos comumente empregados. O primeiro é o de cenário acidental. O cenário acidental é definido como uma seqüência específica de eventos, não proposital, que tenha uma conseqüência indesejável. O primeiro evento da seqüência é o evento iniciador. Os demais eventos são denominados eventos intermediários e representam as respostas do sistema e de seus operadores, ao evento iniciador. Devemos notar que diferentes respostas ao mesmo evento iniciador determinarão diferentes eventos intermediários e, portanto, embora o evento iniciador seja o mesmo, podemos ter diferentes seqüências de eventos determinando assim diferentes cenários acidentais. Observa-se também que mesmo quando as conseqüências são semelhantes, elas podem diferir em magnitude.

Esta definição do acidente evidencia sua natureza aleatória. A freqüência de ocorrência de um cenário acidental, ou sua probabilidade de ocorrência é determinada compondo-se adequadamente a freqüência do evento iniciador, com as respectivas probabilidades de ocorrência dos eventos intermediários.

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Uma outra observação importante é que esta definição possibilita, conceitualmente, a oportunidade de redução da freqüência de ocorrência do cenário acidental, através da possibilidade de redução das probabilidades dos eventos intermediários.

A seguir se apresenta de forma resumida a metodologia da AQR. Ela é baseada nas seguintes etapas:

• Definição do sistema a ser estudado bem como suas fronteiras; • Identificação dos perigos e dos cenários acidentais mais relevantes; • Avaliação das freqüências de ocorrência dos cenários acidentais; • Avaliação das conseqüências e vulnerabilidade; • Avaliação dos riscos. A seguir na Figura 8 apresenta-se um fluxograma que ilustra a estrutura de uma AQR:

Figura 8 Fluxograma da estrutura de uma AQR

Cabe ressaltar que o estabelecimento de critérios para a aceitabilidade de riscos é um

processo lento, complicado e que requer a participação da sociedade no seu julgamento. Uma vez concluído o processo, passa a existir um padrão, isto é, um nível ou um

intervalo de valores em que o risco é considerado aceitável. Este padrão já existe no Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo) para riscos associados às substâncias tóxicas, inflamáveis e

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explosivas e cujas conseqüências se propagam pela atmosfera Estes critérios de aceitabilidade usados pela FEEMA e CETESB serão apresentados mais adiante, nas seções onde se discutirá o risco individual e o risco social.

5.5.1 Definição do sistema a ser estudado: Fronteiras, Objetivos e Escopo Esta fase inicial do estudo é muito importante porque nela são estabelecidos de forma

clara os limites, isto é, as fronteiras e como o sistema será estudado. Ou seja, as fronteiras, os objetivos e o escopo definem até onde se vai investigar e com que grau de profundidade.

Por exemplo, se uma instalação industrial contém apenas uma esfera de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) e um tanque de óleo diesel e se localiza muito próximo a uma área de proteção ambiental (APA), numa área onde há ocupação residencial, uma análise de riscos completa deverá envolver todos os aspectos do problema.

Mas pode haver o seguinte interesse específico (como é o caso da liberação da licença de instalação pela FEEMA e CETESB): qual é o risco agudo à população imposto pela instalação? É evidente que este tipo de interesse limita o objeto de estudo pois não serão estudadas as conseqüências de um acidente sobre a APA e nem mesmo os riscos à saúde humana impostos por uma possível contaminação do solo ou corpo hídrico.

O grau de profundidade também pode ser limitado se se decidir não considerar as conseqüências de um possível efeito dominó (efeito cascata, onde um acidente num elemento da planta acarreta destruição em outro e assim sucessivamente, tal qual quando um conjunto de peças do jogo dominó, colocadas em pé, próximas e alinhadas, em seqüência vão caindo, uma a uma, após a primeira da fila cair).

5.5.2 Identificação dos perigos e cenários acidentais mais relevantes A identificação dos perigos associados à operação de uma planta bem como a

identificação dos cenários acidentais associados é feita através de técnicas qualitativas que consistem em métodos específicos, e que têm como objeto a identificação de todos os eventos iniciadores de acidente, uma avaliação qualitativa das conseqüências e suas severidades, a consolidação dos cenários acidentais e finalmente uma hierarquização qualitativa dos riscos associados.

As técnicas mais comuns de identificação de perigos são: • Análise Preliminar de Perigos (APP) • Estudos de Perigos e Operabilidade (HAZOP) • Análise Histórica (AH)

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5.5.3 Avaliação das freqüências de ocorrência dos cenários acidentais Após a fase de identificação de perigos e consolidação dos cenários acidentais

devemos, numa AQR, avaliar a freqüência de ocorrência associada a cada cenário acidental.

A avaliação da freqüência de ocorrência dos cenários pode ser feita, por exemplo, processando os dados de uma bem elaborada Análise Histórica. Em outras situações é mais conveniente proceder a uma avaliação desta natureza, a partir de uma AE. A AE é uma técnica tanto qualitativa, usada para identificar cenários acidentais como vimos acima, quanto também quantitativa, pois possibilita a avaliação da freqüência ou a probabilidade de ocorrência do cenário.

Uma vez que se usam os resultados da engenharia de confiabilidade, no cálculo de freqüências de ocorrência de cenários acidentais, considera-se importante apresentar agora um breve resumo dos seus principais conceitos e resultados.

5.5.4 Avaliação das conseqüências e vulnerabilidades Como se explicou no início deste capítulo, esta metodologia de análise de riscos foi

desenvolvida originalmente para abordar os principais perigos de acidentes que se relacionam à liberação de substâncias tóxicas, inflamáveis e/ou explosivas, que, com suas liberações descontroladas, geram efeitos físicos tais como ondas de choque, fluxos térmicos e formação de nuvens de gases tóxicos capazes de causar danos ao homem, ao meio ambiente e à propriedade, na área atingida pelos efeitos.

A primeira etapa numa avaliação de conseqüências é, portanto, a investigação dos efeitos físicos associados a cada cenário acidental. Assim, por exemplo, quando por perda de contenção uma dada substância tóxica é lançada na atmosfera, devemos ser capazes de descrever sua dispersão e prever a região sujeita a uma concentração prejudicial, por exemplo, à saúde humana, em cada instante de tempo. Especificamente falando, neste exemplo, devemos ser capazes de descrever o campo de concentrações, juntamente com informações de natureza toxicológica, para estimar onde e quando haverá concentração prejudicial à saúde.

A segunda etapa é a determinação da quantidade dos recursos (pessoas, estruturas, meio ambiente em geral) que estará vulnerável a uma certa intensidade dos efeitos físicos. Em linhas gerais trata-se, portanto, da determinação de uma espécie de resposta dos recursos aos efeitos físicos submetidos.

Em princípio, os recursos podem ser materiais, como as instalações de um empreendimento; econômicos, como volume de negócios; naturais, como ecossistemas terrestres ou aquáticos; ou mesmo humanos. Cada efeito físico pode gerar, em cada recurso, um tipo particular de dano. Assim por exemplo, o desligamento num equipamento crítico de uma dada unidade, gerado por um curto circuito devido a incêndio na unidade,

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pode ocasionar a perda do próprio equipamento. Por outro lado, um incêndio de pequenas proporções pode provocar queimaduras nas pessoas, sem que haja fatalidades. Devemos ser capazes, então, de determinar a quantidade do recurso comprometido com um efeito físico particular.

Quando ensaios toxicológicos são realizados num grande número de indivíduos, todos expostos à mesma dose (integral da concentração no tempo, durante o tempo de exposição), o gráfico indicando a fração ou percentual de indivíduos que experimentam uma resposta específica é tipicamente uma gaussiana A Figura 9 ilustra este fato.

Figura 9 Porcentual de indivíduos afetados por uma dada resposta

5.5.5 Avaliação dos riscos • RISCO SOCIAL O risco social refere-se ao risco para um determinado número ou grupamento de

pessoas expostas aos danos decorrentes de um ou mais cenários. Podemos expressar o risco social através do risco social médio, que se calcula

fazendo o somatório dos produtos freqüência x conseqüência de cada cenário acidental ou também, podemos expressá-lo através da chamada curva F-N que fornece a freqüência acumulada de acidentes, com N ou mais fatalidades.

A seguir apresenta-se, como ilustração, o critério de aceitabilidade da FEEMA, bem como uma curva F – N de um caso estudado.

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Figura 10 Critério de aceitabilidade FEEMA para o risco social

Figura 11 Curva F-N de um caso estudade

• RISCO INDIVIDUAL O risco individual, informa a probabilidade de um dano particular (fatalidade, por

exemplo) considerando-se a chance de ocorrência do acidente, expressa através da sua freqüência de ocorrência. Portanto, seu valor não está limitado entre zero e um e, assim sendo, não deve ser confundido com probabilidade.

A apresentação do risco individual se faz usualmente na forma de curvas de iso-risco, isto é, o conjunto de pontos que possuem o mesmo valor do risco. Essas curvas possibilitam visualizar a distribuição geográfica do risco em diferentes pontos nas vizinhanças da instalação.

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A Figura 12 apresenta, como ilustração, algumas curvas de iso-risco.

Figura 12 Curva de ISO-Risco

Para a avaliação do Risco Individual e Social, existem os critérios de tolerabilidade que

definem níveis e ou intervalos de valores estipulados, no caso, pelo órgão ambiental ou agências reguladoras, para decidir sobre a aceitabilidade ou não dos riscos existentes. A seguir ilustraremos os critérios adotados pela FEEMA E CETESB.

FEEMA Tolerabilidade dos Riscos Instalações novas: os riscos proporcionados pela instalação serão considerados

toleráveis se: -a curva de iso risco correspondente a 10-6 fatalidades por ano não envolver, parcial ou totalmente, uma ocupação sensível. -a curva de iso - risco correspondente a 10-5 fatalidades por ano não envolver, parcial ou totalmente, ocupações não sensíveis. -a curva de distribuição acumulada complementar, desenhada sobre o gráfico da curva FN, ficar abaixo ou, no máximo tangenciar a reta inferior do gráfico.

As atividades novas a serem instaladas em zona de uso estritamente industrial devem ter a curva de iso - risco correspondente a 10-6 Fatalidades / ano contidas nessa zona.

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Instalações existentes: os riscos proporcionados pela instalação serão considerados toleráveis se: -a curva de iso - risco correspondente a 10-5 fatalidades / ano não envolver parcial ou totalmente uma ocupação sensível. -a curva de iso -risco correspondente a 10-4 fatalidades / ano não envolver parcialmente ou totalmente ocupações não sensíveis.

CETESB Para risco individual foram estabelecidos os seguintes limites:

- risco máximo tolerável 10-5 ano-1 ; - risco negligenciável 10-6 ano-1.

Para a aprovação do empreendimento, deverão ser atendidos os critérios de risco social e individual conjuntamente, ou seja, as curvas de risco social e individual deverão estar situadas na região negligenciável ou na região ALARP, isto é, tão pequeno quanto razoavelmente praticável.

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6. Referencias Bibliográficas Esse resumo é uma compilação das publicações citadas abaixo: Capítulo 1, 2, 3 e 4 - Castro, C. M., Peixoto, M. N. “Riscos Ambientais e Geografia: Conceituações,

Abordagem e Escalas”. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ, Rio de Janeiro, 2005. Capítulo 5 5.1 e 5.2 – Prof. Laís Alencar de Aguiar, apostila “Metodologias de Análise de Riscos

APP & HAZOP”, Rio de Janeiro. 5.3 – Andrade, M. R., Turrioni, J. B., “Uma metodologia de análise dos aspectos e

impactos ambientais através da utilização do FMEA”, Escola Federal de Engenharia de Itajubá, ENEGEP 2000.

5.4 – Calixto. E.,”Uma metodologia para gerenciamento de riscos em empreendimentos: Um estudo de caso na industriado petróleo” , COPPE-UFRJ, ENEGEP 2006.

5.5 – Camacho, E, N. “Uma proposta de metodologia para análise quantitativa de riscos ambientais”, Tese de Mestrado, UFRJ, Eng. Civil, 2004.

Nota: Toda referência citada em cada capítulo não será listada aqui, mas consta no texto

original que está sendo referenciado acima.