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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA ICH – INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS CAMPUS - BRASÍLIA – DF Análise do Filme No Limite do Silêncio e a Mãe Suficientemente Boa Flávia Michelle RA A5922G-9 Jaciara Sampaio RA A63196-8 Jaíres Pires RA A58852-3 Lena Medeiros RA A370GJ-3

Análise do Filme No Limite do Silêncio e a Mãe Suficientemente Boa - fim

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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA

ICH – INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

CAMPUS - BRASÍLIA – DF

Análise do Filme No Limite do Silêncio e a Mãe Suficientemente Boa

Flávia Michelle RA A5922G-9 Jaciara Sampaio RA A63196-8 Jaíres Pires RA A58852-3 Lena Medeiros RA A370GJ-3

Brasília Outubro/ 2012

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Análise do Filme No Limite do Silêncio e a Mãe Suficientemente Boa

Será trabalhado neste contexto o papel da mãe suficientemente boa

conceito denominado por Donald Winnicott e a sua ligação para com o filme:

No Limite do Silêncio.

Winnicot nos oferece que a constituição do bebê se dá desde o seu

nascimento, base principal que irá definir a sua pessoa no mundo, seja na sua

subjetividade, no convívio em sociedade e como um todo, na sua própria

relação consigo mesmo. Quando existe uma falha neste ambiente do bebê em

um primeiro momento, pode se dizer que ocorreram falhas ambientais, sendo

um dos principais danos os quadros psicopatológicos. Winnicott relaciona esta

falha à mãe, que deixa de fazer o papel de ego auxiliar da criança. A criança

notando esta falha no ambiente tenta criar um ego auxiliar falso, ou falso ego,

que não vem a ser tratado como o tema principal neste trabalho.

A mãe suficientemente boa faz esse papel de ego auxiliar enquanto a

criança não consegue desenvolvê-lo por si só, a criança cresce sentindo essa

boa sustentação. A mãe começa a se preparar nos últimos meses de gestação

para o recebimento deste bebê, chamado por Winnicott de “preocupação

materna primária” e para realizar esse suporte total de dependência da criança,

transformando assim o estado de não integração, específico do bebê recém-

nascido, em integração total que vai se desenvolver aos poucos, com o passar

dos anos, onde a criança usará o ambiente de forma favorável para o processo

maturacional.

O ambiente é representado pela mãe suficientemente boa, capaz de suportar o estado de dependência total do Menino e esperar que ele esteja suficientemente seguro para caminhar rumo a uma independência. É a mãe quem sustenta o bebê, quem sustenta o seu tempo, quem permite que de um traço tênue, como é o do bico-de-pena, constitua-se um ser humano, com traços fortes e precisos. (DEZAN, 2010, p. 21).

Esse processo da mãe suficientemente boa é um dos temas a ser

discutido dentro do filme no limite do Silêncio. Este oferece um exemplo de

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mãe que não se faz capaz de prover um ambiente para assim favorecer a

continuidade do ser de seu filho. A mãe de Tomy uns dos protagonistas do

filme, por ser uma mãe adoecida, proporciona um ambiente não favorável ao

amadurecimento da criança, ao invés de ela fazer o ego auxiliar do filho,

atendendo-o quando fosse necessário, ela fez uma inversão dos papéis. Assim

Tommy integrou este ego de forma errada, ou seja, desenvolvendo o falso self.

Este percebe a falha no ambiente e vê que tudo ao seu redor pode oferecer

perigo, a criança percebe o seu ego imaturo ameaçado, produzindo assim uma

espécie de proteção para o seu ego, uma casca protetora do self. Esta casca

vai esconder o verdadeiro self, motivo este de muito trabalho dentro do setting

analítico.

Em seu texto “Provisão para a criança na saúde e na crise” (1962),

Winnicott esclarece que ao se falar de provisão para a saúde o que interessa é

o desenvolvimento emocional da criança e o estabelecimento das bases de

uma vida de saúde mental.

Segundo ele, prover para a criança é uma questão de prover o ambiente

que facilita a saúde mental individual e o desenvolvimento emocional. Winnicott

nos fala de dois tipos de ambiente: o meio facilitador do desenvolvimento dos

processos maturacionais inatos do indivíduo, e um outro, onde falhas

grosseiras induzem ao trauma e ao aparecimento do falso-self.

É explicito no filme que a mãe é geradora de um trauma em Tommy

quando deixa de oferecer um ambiente facilitador e abusa sexualmente de

seu filho.

O pai de Tommy ao encontrar a sua esposa abusando de seu filho, a

mata com pancadas em sua frente gerando assim mais um trama encarado por

Tommy como um sentimento de culpa. Que é revelado para o terapeuta no

final do filme, que se sentia culpado por não ter impedido a morte de sua mãe.

E também pela raiva que o pai ficou. Assim tenta acabar com toda essa dor se

atirando na frente do trem, o psicanalista então o salva.

Em todos os momentos do filme, Tommy o oferece significativamente

que o ambiente que lhe foi imposto quando criança fez com que o seu

desenvolvimento mental fosse prejudicado.

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Vale a pena lembrar que o caso de Tommy não é o único oferecido no

filme, abordando também o caso de Kyle, filho do terapeuta de Tommy, que se

mata por não conseguir suportar a dor do trauma referente aos abusos sexuais

que o seu analista provia nas sessões.

Isso faz com que o analista veja em Tommy uma oportunidade de ajuda-

lo, algo que não foi possível de ser feito com o seu filho.

Observa-se que nesses dois casos o ambiente não facilitou a saúde

mental e individual nem tão pouco o desenvolvimento emocional. A mãe de

Kyle, também não era suficientemente boa, era adoecida. fazia uso de Valium,

remédio psicoterápico que Kyle tomou quando se matou, no carro por inalação

de monóxido de carbono. No caso do falso self, a submissão ao meio externo

desrespeita o movimento natural do indivíduo, dominando a sensação de

irrealidade e trazendo um sentimento de inutilidade. Assim, em casos

extremos, “quando tudo o que importa e é real, pessoal, original e criativo,

permanece oculto e não manifesta qualquer sinal de existência, (...) o indivíduo

não se importaria, de fato, de viver ou morrer” (Winnicott, 1975)

Dezan, 2010; revela que a maternagem suficientemente boa propicia a

sensação de continuidade do ser, o fortalecimento egóico, a possibilidade de

relacionamentos objetais verdadeiros e saudáveis.

Em nenhum dos casos do filme percebe-se essa continuidade do ser.

que acaba por apresentar tanto em Kyle e em Tommy uma regressão e

também uma certa imaturidade.

Outro ponto a se falar seria a relação de dependência e independência

que se faz contigua no desenvolvimento emocional . Winnicott, (1983) propõe

que “a meninice consiste na progressão da dependência para a

independência”.

Ele considera em seu texto os graus da dependência em série:

a) Depedência Extrema: Ai as condições precisam ser suficientemente boas, se não o lactante pode iniciar o seu desenvolvimento inato.

Falha ambiental: Deficiência mental , não orgânica; esquizofrenia da infância ; pré desposição a doença mental hospitalizável mais tarde.

b) Dependência: Aí falhando as condições, traumatizam de fato mais já há então uma pessoa para ser traumatizada.

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Falha ambiental: Pré disposição a distúrbio afetivo; tendência anti-social.

c) Mesclas de dependência – independência ai a criança esta fazendo experimentações em independência, mais precisa que lhe seja possível reexprimentar dependência

Falha ambiental : Dependência patológica.d) independência-dependência a mesma coisa, mais

com predomínio da independência.e) Independência significando um ambiente

internalizado: Uma capacidade por parte da criança de cuidar de si mesma.

Falha ambiental, não necessariamente prejudicial.f) Sentido Social: Esta explicito que o individuo pode

se identificar com adultos e com o grupo social ou com a sociedade, sem perda demasiada do impulso pessoal ou originalidade ou sem perda demasiada dos impulsos agressivos e destrutivos que encontraram presumivelmente expressão satisfatória em formas deslocadas .

Falha Ambiental: Falta parcial da responsabilidade do individuo com o pai, ou mãe ou como figura paterna na sociedade. Winnicott, (1983).

O Caso de Tommy no filme pode ser tomado como exemplo da falhas

ambientais provenientes desta relação de dependência e independência em

todo o processo de desenvolvimento emocional. Neste caso aparece

claramente uma tendência anti-social, que o filme sugere ser apresentada por

uma agressividade de Tommy, que para Winnicott é uma força proveniente da

esperança que algo ainda pode ser feito. No caso de Tommy o analista

aparece para suprir essa necessidade, e assim fazer algo por seu paciente.

Por fim é importante relatar que teoria do Amadurecimento Pessoal de

D.W.Winnicott é decisiva a apontar a importância do papel do ambiente na

formação do indivíduo. É mais que imprescindível que exista uma provisão

ambiental suficientemente boa.

A integração do individuo sendo concretizada ele então consegue

caminhar de maneira satisfatória numa espécie de “linha” do seu

amadurecimento pessoal. No entanto quanto mais imaturo é o indivíduo, maior

sua dependência da provisão ambiental, e maior também a gravidade dos

danos causados quando o ambiente falha e o traumatiza.

Quando há uma falha ambiental, intolerável para o indivíduo e que

acarreta numa quebra do processo de amadurecimento, ocorrera um trauma,

uma ruptura na continuidade de ser, que dependendo do estágio do

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amadurecimento no qual se localiza é responsável pela instauração de uma

determinada doença psíquica.

A direção para o tratamento de um distúrbio de natureza ambiental,

sempre passa por proporcionar ao indivíduo um ambiente terapêutico, no qual

a confiabilidade possa ser restaurada, permitindo assim uma regressão até o

ponto de origem do trauma. Somente assim o amadurecimento poderá ser

restabelecido e continuar seu curso no sentido da tendência inata à

integração.para que o desenvolvimento transcorra de forma saudável.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

DEZAN, A. L. M. B. Psicanálise e literatura: rabiscos no espaço transicional.

Brasília, 2010.

WINNICOTT, D. W. (1983). Provisão para a criança na saúde e na crise. In: O ambiente e os

processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. (I. C. S.

Ortiz, trad.). Porto Alegre: Artmed. (Obra original publicada em 1962)

Winnicott, D. W. (1975/1971a). A criatividade e suas origens. In D. W.

Winnicott, O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago. (Bibliografia

Huljmand: 1971g)