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Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários em situações de emergência Dezembro/2013 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 dezembro/2013 Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários em situações de emergência Ana Elizabeth Lopes do Rêgo - [email protected] Pós Graduação lato sensu Master em Arquitetura Instituto de Pós Graduação - IPOG Recife, PE, 19 de março de 2013 Resumo Este trabalho se propõe analisar o que vem sendo produzido em termos de habitação transitória num contexto pós-catástrofe, considerando as implicações específicas de tempo, tanto de resposta quanto de permanência desses abrigos. Mesmo com as frequêntes situações de caos provocadas por fenômenos naturais, as inciativas de socorro, no campo do abrigar e devolver autonomia a população atingida de retornar a normalidade cotidiana, é inespressiva. O despreparo do Estado, a pequena contribuição do meio acadêmico e a falta de organização social, tem prorrogado um enfrentamento mais efetivo e eficaz do problema. Esta investigação visa, a partir de um conhecimento da problemática no âmbito da emergência, apresentar diretrizes projetuais, fundamentando-se numa metodologia que contribua para o desenvolvimento sustentável. Para concretização do objetivo foram feitas pesquisas, no período de setembro a março de 2011. Bibliográfica, principalmente de trabalhos acadêmicos; e documental com material cedido pela Coordenadoria de Defesa Civil do Recife. Os resultados desta pesquisa indicam a vulnerável condição do Estado em atender a população vitimada e poucos projetos para esse fim. Por sua vez, a tecnologia integrada a sistemas construtivos mais simples e a preocupação com a sustentabilidade, apenas confimam a necessidade de organização e cooperação, do Estado e Sociedade. Palavras-chave: Arquitetura efêmera. Abrigo temporário. Emergência. Catástrofe. Sustentabilidade. 1. Introdução Este artigo trará uma breve discussão das questões que envolvem a produção do abrigo temporário em situações de emergência, é objetivo analisar, o que e como, vem sendo produzido em termos de habitação para atender as necessidades da população inserida neste contexto. Embora estando em um contexto atípico da rotina profissional da maioria, a humanidade desde os primórdios tem se deparado com essa problemática e tem sido induzida a lutar pela sobrevivência. A interessante observação do arquiteto Ian Davis, no seu livro Arquitetura de Emergência, nos remete a situação semelhante em um tempo bastante longínquo. Quando Noé e a sua família subiram à arca, estavam entrando num refúgio de um tipo bastante especial, construído como uma peça de um minucioso projecto pré- catástrofe. Deve ser um dos exemplo mais primitivos de provisão de refúgio contra catástrofes, neste caso uma força maior, um “acto da vontade de Deus” num sentido muito literal. (IAN DAVIS apud ZIEBELL, 2010, p 45).

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Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários em situações de emergência Dezembro/2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013

Análise e diretrizes para a produção de

abrigos temporários em situações de emergência

Ana Elizabeth Lopes do Rêgo - [email protected]

Pós Graduação lato sensu Master em Arquitetura

Instituto de Pós Graduação - IPOG

Recife, PE, 19 de março de 2013

Resumo

Este trabalho se propõe analisar o que vem sendo produzido em termos de habitação

transitória num contexto pós-catástrofe, considerando as implicações específicas de tempo,

tanto de resposta quanto de permanência desses abrigos. Mesmo com as frequêntes situações

de caos provocadas por fenômenos naturais, as inciativas de socorro, no campo do abrigar e

devolver autonomia a população atingida de retornar a normalidade cotidiana, é

inespressiva. O despreparo do Estado, a pequena contribuição do meio acadêmico e a falta

de organização social, tem prorrogado um enfrentamento mais efetivo e eficaz do problema.

Esta investigação visa, a partir de um conhecimento da problemática no âmbito da

emergência, apresentar diretrizes projetuais, fundamentando-se numa metodologia que

contribua para o desenvolvimento sustentável. Para concretização do objetivo foram feitas

pesquisas, no período de setembro a março de 2011. Bibliográfica, principalmente de

trabalhos acadêmicos; e documental com material cedido pela Coordenadoria de Defesa

Civil do Recife. Os resultados desta pesquisa indicam a vulnerável condição do Estado em

atender a população vitimada e poucos projetos para esse fim. Por sua vez, a tecnologia

integrada a sistemas construtivos mais simples e a preocupação com a sustentabilidade,

apenas confimam a necessidade de organização e cooperação, do Estado e Sociedade.

Palavras-chave: Arquitetura efêmera. Abrigo temporário. Emergência. Catástrofe.

Sustentabilidade.

1. Introdução

Este artigo trará uma breve discussão das questões que envolvem a produção do abrigo

temporário em situações de emergência, é objetivo analisar, o que e como, vem sendo

produzido em termos de habitação para atender as necessidades da população inserida neste

contexto.

Embora estando em um contexto atípico da rotina profissional da maioria, a humanidade

desde os primórdios tem se deparado com essa problemática e tem sido induzida a lutar pela

sobrevivência. A interessante observação do arquiteto Ian Davis, no seu livro Arquitetura de

Emergência, nos remete a situação semelhante em um tempo bastante longínquo.

Quando Noé e a sua família subiram à arca, estavam entrando num refúgio de um

tipo bastante especial, construído como uma peça de um minucioso projecto pré-

catástrofe. Deve ser um dos exemplo mais primitivos de provisão de refúgio contra

catástrofes, neste caso uma força maior, um “acto da vontade de Deus” num sentido

muito literal. (IAN DAVIS apud ZIEBELL, 2010, p 45).

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A demanda por este tipo de arquitetura de emergência tem aumentado consideravelmente em

virtude da frequência, cada vez maior, dos fenômenos citados em todo o mundo,

intensificando-se nos últimos quarenta anos, e cuja correspondência tem se dado de forma

lenta e pontual.

É um problema fundamentalmente contemporâneo e para ser tratado de forma

multidisciplinar. No âmbito da arquitetura efêmera, buscaremos diretrizes pragmáticas de

projeto, levando-se em consideração a sustentabilidade tendo como base a transitoriedade. O

renomado arquiteto Shigeru Ban enfoca: “o século XXI como prognóstico de uma época na

qual a arquitetura se verá compelida a abraçar ativamente inquietudes mais amplas, inclusive

tendo em conta a responsabilidade em referência ao meio ambiente”. (SHIGERU BAN apud

CAMPOS, 2009).

A discussão a respeito do tema é pertinente, visto que, o diálogo no meio acadêmico irá

contribuir de forma qualitativa e quantitativamente para os modelos de abrigos provisórios.

Disciplinarmente a arquitetura dispõe de grandes avanços tecnológicos e experiências

adquiridas das civilizações passadas, porém, a contribuição social expressa em termos de

produção arquitetônica não tem sido satisfatória. Tendo em vista esse fato, em 1984 a ONU,

apresentou relatório contendo diretrizes para a prestação de assistência nas situações de

calamidade, intitulado “O abrigo depois do desastre”, direcionando as ações de competência

tanto para a arquitetura quanto para o governo através dos órgãos assistenciais

correspondentes. Mesmo assim, não se faz suficiente a ação estabelecida sem a participação

efetiva do meio acadêmico. “Quando a arquitetura não corresponde aos questionamentos (ou

modos de ser) de um lugar/mundo torna-se um campo do conhecimento que se encontra em

crise”. (LISSONGER apud DOS ANJOS, 2003, p 7). Sem o radicalismo de Lissonger,

entendemos que no mínimo o tema é merecedor de pauta no meio profissional da arquitetura.

Dando-se uma visão global do problema, observam-se as dificuldades em apresentar soluções

nas diversas situações. Contextualizamos a problemática na situação específica da cidade de

Recife, no período entre os anos de 2005 e 2012, veremos pelos dados cedidos pela

CODECIR (Coordenadoria de Defesa Civil do Recife), a frequência de inundações e

deslizamentos causados pelas enxurradas, que são os tipos mais comuns na cidade.

Focalizaremos o abrigo temporário, com suas implicações de projeto devido à condição de

transitoriedade, então, analisaremos dentro dessa produção arquitetônica, questões

imprescindíveis como a da habitabilidade, transportabilidade e sustentabilidade, o que torna

ainda mais complexa esta modalidade de projeto. Como assim analisa Daniel Paz:

Cabe dizer que à arquitetura portátil recaem incumbências mais severas que na

arquitetura sedentária. Pois ninguém pode negar que o desgaste do material é maior

com seu contínuo movimento. E que essa construção, ainda assim, não pode

descurar daquelas qualidades elementares que buscamos no ambiente construído,

perene ou temporário. (PAZ, 2008).

Vamos nos ater ao produto em si, embora façamos rápida menção às experiências estudadas

sobre melhor localização e implantação do mesmo no campo.

Objetivamos crescimento profissional ao trazer ao debate este tema, sem a pretensão de

exauri-lo e muito menos defender modelos como exemplos a serem seguidos de forma

universal. Assim estaríamos apenas prosseguindo no círculo vicioso da mediocridade. Por

outro lado é utópico achar que toda essa complexidade de condicionantes será respondida

integralmente. Outro propósito deste artigo é mais uma vez trazer para reflexão a

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responsabilidade social do exercício da profissão do arquiteto, numa intervenção de

envergadura humanitária como é o caso.

Os abrigos produzidos estão disponíveis a população? E se estão, suprem as necessidades de

habitabilidade da mesma? Com a frequência das catástrofes naturais, os governos em suas

instâncias distintas, estão preparados para o atendimento eficaz às vítimas? Supomos que as

respostas são de forma paliativa, com as famílias sendo mal acomodadas nas instituições de

ensino e/ou religiosas, até que possam retornar para suas habitações permanentes.

O cotidiano das cidades vivenciado por seus habitantes ou retratado pelos meios de

comunicação, nos aproxima desta temática, objeto de estudo desta pesquisa. E outro fato que

torna a pesquisa relevante é a distancia entre a necessidade urgente de soluções e o acesso da

população aos resultados já obtidos.

O que motivou essa investigação é que ela poderá instrumentalizar profissionais na prática

dirigida à solução de projeto para esses abrigos, agilizando o processo de assistência às

vítimas e dando suporte às políticas públicas de combate ao déficit habitacional emergencial.

2. Metodologia da pesquisa

Utilizou-se de pesquisa bibliográfica e documental, para adentrar aos fatos que compõem o

universo da construção de abrigos temporários para a população vitimada pelas catástrofes

naturais.

Baseando-se em documentos cedidos pela CODECIR (Coordenadoria de Defesa Civil do

Recife), analisaremos dados dos boletins de ocorrências desses fenômenos, do ano de 2005

até 2012, e a entrevista com a gerente geral de atenção social da CODECIR, a assistente

social Keila Ferreira, em anexo no final deste trabalho.

Tomamos a cidade de Recife como amostra, por se tratar de uma realidade mais próxima,

visando compreender a real necessidade deste tipo de habitação.

2.1. Análise dos dados coletados

De acordo com os boletins fornecidos pela CODECIR, confirma-se a vulnerabilidade nessas

ocorrências que afetam periodicamente a convivência das famílias nas áreas de risco. Sendo

necessários atendimentos emergenciais através de colocação de lonas nas encostas dos morros

e a remoção de famílias, nos casos mais graves, para abrigos temporários coletivos (casa

adaptada), casas de parentes e auxílio moradia (AM).

Em função dessa vulnerabilidade, consequência dos poucos recursos disponíveis para

solucionar os problemas nas áreas de risco, sugerimos aqui, uma ação governamental mais

efetiva, capaz de pelo menos atenuar as situações nas ocorrências mais vultuosas. Assim,

propomos um atendimento, cuja remoção dar-se-á coletivamente para acampamentos

provisórios móveis, conforme modelos unifamiliares estudados a seguir.

3. Um breve trajeto da arquitetura efêmera e sua vertente emergencial

Efêmero é definido no Dicionário online de português como o que é “breve, fugaz,

instantâneo, lábil, momentâneo, morredouro, passageiro e transitório”. Segundo o professor

Cianciardi (2012), “O critério definidor da arquitetura efêmera não é a durabilidade potencial

do objeto arquitetônico, mas sim o tempo que este se desfaz de um dado lugar”. Ou seja, a

condição de efemeridade é cumprida na sequência de montagem e desmontagem de um

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objeto, no caso o construído. Sendo assim, observa-se um aparente paradoxo entre a

conceituação da arquitetura efêmera e a capacidade de sua permanência de fato, visto que,

dispõe de tecnologia avançada para longa duração e atender o requisito de transportabilidade,

esta última, condição básica para a arquitetura num contexto catastrófico, chamada arquitetura

de emergência, focalizada neste estudo.

A trajetória dessa classe da arquitetura confunde-se com a dinâmica história do homem. No

início, em busca das descobertas que lhe garantissem a sobrevivência, até os dias atuais de

uma sociedade pós-moderna em que a flexibilidade, a praticidade e a busca pelo

desenvolvimento sustentável do planeta é de substancial importância, não deixando de ser

ainda uma questão de sobrevivência, mais também quando se trata de casos urgentes, onde

um dos maiores desafios é o necessário imediatismo nas respostas. O texto abaixo mostra a

arquitetura inserida nessa dinâmica. Na segunda metade do século XX, a arquitetura ocidental já havia respondido às

solicitações primárias da sociedade industrial. O mundo entrava em uma nova fase

no pós-guerra, a revolução tecnológica. Energia nuclear, computadores, motores a

jato, televisão e outras conquistas, entravam rapidamente na vida das pessoas e

passavam a fazer parte do seu dia-a-dia. Da mesma forma que vinham, as novidades

rapidamente eram superadas e descartadas. Tudo passou a ter vida efêmera. Era a

sociedade de consumo nascendo ávida por novos produtos. A arquitetura teria de se

posicionar a respeito desta nova postura da sociedade.

(www.cimentoeareia.com.br/arquiteturas3.htm, 2002 apud DOS ANJOS, 2003, p 8).

A partir do início do século XX, intensificam-se os fenômenos naturais catastróficos e os

conflitos sociais e políticos no mundo, dando forma ao contexto que chamamos de

emergência. O conceito de emergência é incorporado à arquitetura efêmera e novos critérios

são acrescentados para a construção do abrigo, como: a rapidez no fornecimento, baixo custo,

adaptação ao terreno, flexibilidade, facilidade no transporte e na montagem.

O abrigo temporário tem origem no estilo de vida nômade, quando o clima passou a ser

preponderante na busca por proteção e qualidade no habitar. As tendas foram se aprimorando

ao longo da história, embora a essência do abrigar, proteger, guardar e confortar das antigas

cavernas continuasse. O constante trânsito passou a exigir mais da estrutura do abrigo, pelo

processo de montagem e desmontagem. Mesmo havendo disparidades regionais de culturas,

as necessidades eram comuns e ainda continuam atualmente, importando a durabilidade dos

materiais, a flexibilidade e a simplificação no transporte. Na transitoriedade encontramos o

principal elemento da relação entre o abrigo temporário para situações de emergência e as

culturas nômades, mesmo essa transitoriedade se dando por razões distintas, é dever hoje

também, corresponder adequadamente ao meio ambiente minimizando o impacto.

A produção dos abrigos, temporários e portáteis, teve desenvolvimento crucial desde a

primeira grande guerra mundial para uso militar, destacando-se o modelo criado pelo

engenheiro canadense, o Capitão Nissen, “Esse grande sucesso se deveu ao fato de sua

estrutura utilizar componentes fáceis de fabricar, intercambiáveis e obedecerem a uma

coordenação modular, facilitando assim, sua montagem em campo” (ANDERS, 2007).

Até a década de 70, embora tenha havido importante contribuição à arquitetura efêmera por

grandes nomes como Frank Lloyd Wright, Le Corbusier, Alvar Aalto, e os arquitetos do

grupo Archigram entre outros, como afirmam Neto e Marum (s.d), essas tentativas apenas

apontaram para futuros projetos na área da emergência, “Na realidade todas estas

investigações e experiências nunca foram aplicadas à arquitetura de emergência. Eram linhas

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de produtos não acessíveis a todos. Nunca aplicadas às situações de emergência. Porque na

realidade, não tinham sido concebidos para esse fim”.

Da década de 70 em diante, inquietações instigaram estudos e alguns movimentos que

produziram avanços específicos nessa área, como a preocupação com os materiais utilizados

para esse fim e a necessidade das intervenções arquitetônicas. Ainda assim, Neto e Marum

são categóricos em afirmar:

Apesar das várias tentativas em contribuir e investigar para melhorar a habitação

pós-catástrofe, continua a ser a tenda de campanha, o abrigo de emergência mais

utilizado pelas organizações intervenientes. Em parte, a justificação para o modelo

de habitação-refúgio em situações pós-catástrofe se manter quase inalterada ao

longo dos anos (apesar de várias tentativas de melhoramento), é, talvez, pelo fato de

serem consideradas manifestações deslocadas e desvalorizadas pela crítica teórica da

arquitetura, impedindo a continuidade das investigações. Contudo estes projetos

dão-nos coordenadas valiosas que permitem recuperar e repensar a ideia de

habitação pós-catástrofe. (NETO; MARUM, s.d)

Veremos alguns exemplos mais recentes de abrigos temporários, alguns ainda em estudo.

Aplicando conceitos de sustentabilidade e estabelecendo premissas para uma habitação digna.

3.1. O abrigo de papel

O arquiteto Japonês, Shigeru Ban, tem se destacado por sua importante contribuição na busca

por soluções para habitações de emergência. Foi assim num campo para refugiados de guerra

em Ruanda na África, em Kobe no Japão depois de um terremoto, no Vietnã, Turquia, Sri

Lanka, etc. Usando materiais abundantes em cada região, vem desenvolvendo soluções

simples e eficientes, garantindo privacidade à população deslocada. Bambu, plástico, madeira

e principalmente o papel, materiais simples, de baixo custo, flexível, fácil de transportar, de

montar e que geram poucos resíduos ao meio ambiente.

Figura 1 – Paper Loghouse in Kobe, 1995 Figura 2 – Detalhe da base em caixas de cerveja

Fonte: disponível em: http://www.designboom.com/history/ban_paper.html

Kobe, Japão, 1995. Os abrigos de emergência das figuras 1 e 2 são casas com base feita de

caixas de cervejas cheias de areia, paredes em tubos de papelão e a coberta de lona plástica,

mantida separada do forro para que haja circulação de ar no verão, e no inverno, esse espaço é

fechado mantendo o ar quente.

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3.2. Projecto SIES (Sustainable and inflated Emergency Shelter)

Abrigo intitulado de emergência sustentável e inflado, de autoria da arquiteta Maria Canteiro

Neto, começou como trabalho de mestrado na Universidade da Beira Interior (UBI), Covilhã

em Portugal, e continuou no doutorado na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto

(FAUP), também em Portugal. Este produto está para ser patenteado e foi experimentado no

Sismo de 2009 em Áquila na Itália.

O projeto é composto de três células, como mostra a figura 3: dormitórios, instalações

sanitárias e a social/serviços. SIES I, célula dormitório dimensionada para no máximo 8

pessoas; SIES II, banheiro servindo a 64 pessoas, correspondendo a 8 célula dormitório; SIES

III, é uma célula multiuso, que pode ser desde refeitório a posto médico tipo hospital de

campanha.

São insufladas não necessitando de montagem e adaptando-se facilmente ao terreno. A

matéria prima utilizada é o pneu reciclado, tornando o projeto sustentável da gestão ao

descarte e com boas características de climatização. Sobre o projeto sintetiza a autora:

Os estudos comparativos efetuados, mostram uma relação qualidade/preço muito

superior à existente em objetos similares, concretamente, as tendas de campanha.

Sendo flexível e facilmente transportável, cada unidade dá resposta às necessidades

básicas de higiene, conforto e sociabilidade independentemente, viabilizando todo o

processo de estabelecimento de campos temporários de deslocados, baseados num

produto ligeiro, de baixo custo, flexível, reciclável e pré-fabricado. (NETO;

MARUM, s.d)

Figura 3 – Cápsula SIES

Fonte: Projecto SIES (s.d)

disponível em http://www.clipquick.com/files/imprensa/2012/03-

01/4/1_1772116_ffee3410f75c7b91d95ec679504aa314.pdf

3.3. Abrigo efêmero portátil de caráter emergencial

De autoria de Giovana Savietto Feres, orientado pelo professor Leandro Silva Medrano. Foi

trabalho de conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Engenharia Civil,

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(FEC) da Unicamp. O estudo originou-se após as enchentes no município de São Luiz do

Paraitinga, São Paulo, em 2010, catástrofe que deixou mais de cinco mil desabrigados.

É um módulo pré-fabricado unifamiliar para 4, 6 e 8 pessoas, podendo ser adaptado para

posto de saúde, escola, etc. De volume compacto é montado por encaixe, em poucas horas,

por apenas duas pessoas como mostra a figura 5. O módulo se transforma numa espécie de

maleta e daí é transportado. O banheiro é químico, acoplado ao volume principal. O módulo

contém placas solares para aquecimento da água e as instalações elétricas e hidráulicas

utilizam-se da enérgica eólica. Construído com materiais reciclados, o piso é feito de pneu e a

estrutura de polietileno de alta densidade. Foi pensado o mobiliário preocupando-se com a

ergonomia, exemplo das camas e mesa, sendo bancadas tipo dobráveis.

Figura 4 – Layout Planta Baixa Figura 5 – Montagem

Fonte: disponível em http://www.fec.unicamp.br/~evandrozig/posters_sal/sal_giovana_Feres.pdf Por este projeto a arquiteta, conquistou prêmio no 23º Concurso Nacional Ópera Prima 2011,

com o seguinte parecer do júri:

Tema apropriado às adversidades enfrentadas pela humanidade. A concepção do

projeto está baseada na criação de uma unidade padrão, um abrigo efêmero, com um

sistema construtivo pré-fabricado. Vale ressaltar a preocupação do autor no que

concerne aos aspectos ergonômicos e a qualidade do desenho dos abrigos, que,

interligados, configuram significativo valor formal e expressão plástica ao projeto.

Disponível em: (http://www.arcoweb.com.br/especiais/opera-prima-2011).

4. Habitabilidade

4.1. Do abrigo

Em se tratando de um habitar atípico, fora de um contexto de normalidade, deve ser pensado

para abrigar uma população resultante de uma situação traumática. Deparamos nos então com

questões emocionais e econômicas que comprometem a dignidade desse usuário, condição a

ser restabelecida pela segurança e privacidade do abrigo; Há implicações de identidade dos

deslocados, essa podendo ser readquirida através do uso de materiais que façam referência a

sua cultura. A compreensão dessa problemática auxiliará na criação de condições de

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habitabilidade por meio da proteção climática; armazenamento e proteção dos bens materiais;

equilíbrio emocional e privacidade.

4.2. Do acampamento

A qualidade de vida, proposta pelas condições de habitabilidade, deve ir além do habitar com

dignidade e identificação sócio/cultural, mas se projetar à localização e implantação dos

abrigos no campo. Embora tendo que lidar, com a imprevisibilidade dos fenômenos naturais,

tornando impossível um planejamento do local de assentamento dos abrigos, os estudos nos

levam a algumas recomendações, dentre outras, para escolha do campo: os terrenos devem

estar relativamente próximos às áreas de risco, sem causar perigo; optar por espaço amplo,

mas que agrupe pequenas comunidades autônomas, estimulando a sociabilidade; o

acampamento deve ser drenado, suprido de água e longe de focos de insetos e dos lixões.

5. Premissas fundamentais para o abrigo temporário de emergência

Rápido fornecimento, baixo custo, flexibilidade de adaptação ao terreno, fácil

montagem/desmontagem que permita a participação do utilizador do abrigo, são

características essenciais que nortearão a construção dos abrigos em situações de emergência,

seja de qual ordem for. Observando princípios sustentáveis e funcionais, procurando seguir

diretrizes lógicas e eficazes para o design desse produto.

5.1. A estrutura

É o elemento central na formulação de uma proposta viável para abrigos de natureza

emergencial, por conta da necessária rapidez e eficácia de resposta. Classificaremos em

tradicionais construídas in loco e alternativas as entregues em forma de kit para montagem no

local. O avanço tecnológico contribui para o surgimento de mais modelos de sistemas

estruturais alternativos, esses por sua vez, subdividimos em modulares e desmontáveis, tendo

em comum entre eles a pré-fabricação.

5.1.1. Tradicionais

São predominantemente utilizadas em áreas rurais e nas áreas urbanas de menor porte;

Técnicas construtivas conhecidas pela população, facilitando a autoconstrução, a

rapidez e a aceitação pela comunidade;

Baixo custo, dando-se pelo acesso aos materiais locais e a reutilização dos mesmos.

5.1.2. Modulares

Estruturas pré-fabricadas, entregues no local como volume acabado para implantação

imediata;

São unidades autônomas, permitindo o acoplamento de outros módulos, seguindo a

mesma repetição volumétrica;

As unidades podem vir equipadas com mobiliário, coletores solares, sistema de coleta

de água, etc.

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5.1.3. Rígidas

Estruturas pré-fabricadas, entregues no local de forma parcelada, para serem montadas

fácil e rapidamente no local, pelos próprios utilizadores;

É uma opção para áreas de difícil acesso pela facilidade do transporte parcial, porém

não são as mais indicadas onde se exige flexibilidade para com o terreno;

Rigidez conferida pela planificação geométrica do piso, paredes e cobertura;

As unidades podem vir equipadas com mobiliário, coletores solares, sistema de coleta

de água, etc.

5.1.4. Tensionadas

Sistema construtivo semelhante ao das tendas tradicionais, onde uma membrana fina

(lona) é sustentada por uma armação rígida, confere facilidade de transporte e rapidez

na montagem;

Os materiais mais utilizados são o poliéster coberto com PVC para a membrana de

cobertura e o aço ou alumínio para à armação;

Indicada para locais que necessitem de espaços mais flexíveis;

Soluções mais complexas e menor durabilidade inviabilizam este tipo de abrigo para

situações de emergência.

5.1.5. Pneumáticas

A Estrutura é formada por uma membrana impermeável e insuflada, cuja estabilidade

se dá pela permanente pressão do ar, necessitando de constante suprimento de energia;

Alguns inconvenientes como, a pouca resistência à força do vento, maior risco de

incêndio e a dificuldade de manter o equilíbrio térmico, precisam ser observados e

corrigidos em projeto;

É uma das opções mais econômicas. De materiais reciclados como o pneu e a fibra de

poliéster com PVC, contribuem para o baixo custo do produto.

São estruturas bastante flexíveis e leves. Desmontada torna-se um pequeno volume

para transporte;

A montagem/desmontagem é fácil e rápida.

5.2. Considerações de parâmetros sustentáveis

O equilíbrio entre os aspectos ambientais, econômicos e sociais, contribui para o

desenvolvimento sustentável, que é o atendimento as necessidades do presente sem

comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias. “Um projeto

sustentável deve ser ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável”

(RITTER, 2012). Refletindo sobre o conceito de sustentabilidade, na produção arquitetônica

para os abrigos emergenciais, é imprescindível a tomada de consciência para a minimização

da pegada ecológica, utilizando-se de sistemas que respondam a finalidade do produto e se

adeque às circunstâncias do lugar. Visto isso, é importante considerar as características

básicas de uma edificação sustentável, listadas pelo IDHEA (Instituto para o

Desenvolvimento da Habitação Ecológica):

Gestão sustentável da implantação da obra

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Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários em situações de emergência Dezembro/2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013

Consumir mínima quantidade de energia e água na implantação da obra e

ao longo de sua vida útil

Uso de matérias-primas ecoeficientes

Gerar mínimo de resíduos e contaminação ao longo de sua vida útil

Utilizar mínimo de terreno e integrar-se ao ambiente natural

Não provocar ou reduzir impactos no entorno – paisagem, temperaturas, e

concentração de calor, sensação de bem-estar

Adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários

Criar um ambiente interior saudável (free VOCs/COVs)

Proporcionar saúde e bem-estar aos usuários

Disponível em: (http://www.idhea.com.br/pdf/nove_passos.pdf.url).

Sequenciando esses argumentos sobre sustentabilidade na construção, lançamos mão de

alguns princípios para a prática do ecodesign, abordados em sala de aula.

Escolha de materiais de baixo impacto ambiental: não poluentes, não

tóxicos, de produção sustentável, reciclados, menos energia na fabricação.

Eficiência energética: utilizar processos de fabricação com menos energia.

Qualidade e durabilidade: produzir produtos que durem mais tempo e

funcionem melhor a fim de gerar menos lixo.

Modularidade: criar objetos cujas peças possam ser trocadas em caso de

defeito, pois assim não é todo o produto que é substituido, o que também

gera menos lixo.

Reutilização/Reaproveitamento: Propor objetos feitos a partir da

reutilização ou reaproveitamento de outros objetos; projetar o objeto para

sobreviver seu ciclo de vida, criar ciclos fechados sustentáveis.

(RITTER, 2012).

A respeito de outros componentes da construção, abordaremos critérios de seleção para

otimizar seu desempenho, são eles: os materiais, equipamentos e elementos construtivos

complementares.

5.2.1. Materiais

A análise do ciclo de vida dos materiais, que vai desde a extração da matéria-prima, passando

pela produção até o descarte, se faz necessária, visto que, são os resíduos gerados desse

processo grandes causadores de impacto ambiental. Objetivando evitar ou diminuir, a

produção destes, a opção pelos componentes pré-fabricados na construção se prestam muito

bem a esse papel, pela condição de reuso ou descarte em partes e não do todo.

O uso de materiais disponíveis na região é uma forma de baratear a construção e ter maior

aceitação pelos usuários, guardadas suas devidas proporções para não causar impacto e nem

inflacionar o mercado, é uma opção bastante utilizada como vimos nos projetos do arquiteto

Shigeru Ban. Os materiais renováveis tem trazido inovação, um exemplo é o bioplástico, feito

a partir de materiais naturais derivados de plantas como o milho; madeira de demolição, o

bambu de baixo impacto ambiental; as tintas naturais dentre outros. Outro tipo são os

recicláveis, reutilizáveis ou reaproveitáveis materiais provindos do lixo, a exemplo do papel,

vidro, pneu, garrafas pet, etc. Os materiais são elementos primordiais na composição do

orçamento e o uso racional deles, auxiliará na funcionalidade como um todo do objeto.

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5.2.2. Equipamentos e elementos construtivos

A tecnologia dos equipamentos, somados aos elementos integrados na estrutura e aliados a

um conjunto de ações, podem reduzir o consumo energético e melhorar o conforto ambiental.

podemos citar:

Painéis solares: aquece a água pelo acúmulo de carga térmica.

Painéis fotovoltaicos: transforma energia solar em eletricidade.

Baterias: para armazenamento de energia eólica, cuja voltagem é alternada pela

velocidade do vento.

Lâmpadas fluorescentes compactas: solução de iluminação mais eficiente.

Torneiras e bacias sanitárias de baixo consumo.

Sistema de calha e reservatório: que respectivamente captam e armazenam água da

chuva.

Texturas nas superfícies: podem ser usadas para auxiliar no conforto térmico e

acústico.

Bioclimatização: aproveitamento da luz natural usando cortinas, persianas, brises,

cores claras no ambiente, etc.

Eficiência energética e sustentabilidade envolvem o emprego de materiais, produtos, forma,

orientação solar, uso das cores, texturas, vegetação, aberturas e brises, para contribuir no

alcance do objetivo final que é proporcionar conforto com economia, quando utilizados

conscientemente. Embora seja um processo a ser desenvolvido e estudado, podemos encontrar

em variadas versões arquitetônicas, segundo relata a professora Roberta Mulfarth: “O projeto

bioclimático começa na leitura do contexto, ou seja, no entendimento das condições

ambientais locais, e pode ser visto tanto na arquitetura vernacular como nos exemplos

conhecidos como “high-tec” ou “eco-tec”.” (MULFARTH, 2011)

6. Conclusão

Vivemos em tempos de grandes e rápidas transformações sem precedentes, em todos os

âmbitos, na arquitetura não é diferente, há uma demanda mundial pela habitação pós-

catástrofe. Não bastando, portanto, à evolução tecnológica nem o conhecimento de técnicas

construtivas para amenizar ou solucionar o problema, mas organização social como forma de

pressionar os governos e por outro lado, uma estruturação acadêmica que promova a

investigação metodológica. A análise deste estudo mostra a importância de estabelecer uma

arquitetura específica para a habitação de emergência, não esquecendo seu vínculo original

com a arquitetura efêmera, mas atentando para outras necessidades e limitações impostas por

sua peculiaridade, denotando um grau de complexidade além da questão da transitoriedade.

Constatamos na nossa pesquisa a indisponibilidade de abrigos móveis na cidade de Recife. A

forma de abrigo oferecida pelo governo supre momentaneamente à necessidade de um

pequeno número de desalojados, ou seja, a ajuda é tímida e paliativa, confirmando a falta de

estratégia e despreparo para o enfrentamento da crise.

O ainda não despertado, interesse coletivo profissional pelo tema, reflete-se na escassa

bibliografia que aborde o assunto. É de grande valia que profissionais e pesquisadores

intensifiquem as investigações, trazendo subsídios para novas soluções, aperfeiçoamentos de

novas técnicas e uso de materiais, pois cada estudo abre caminhos para outros experimentos.

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Por fim, entendemos que a mudança de panorama, implica ações mais efetivas por parte do

Estado, no sentido de financiar e coordenar ações paralelas de cooperação das universidades,

pesquisadores, organizações sociais e comunitárias.

Referências

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http://www.fec.unicamp.br/~evandrozig/posters_sal/sal_giovana_Feres.pdf

Acesso em: 8 fev. 2013.

Anexo

Entrevista

ORGÃO: Coordenadoria de Defesa Civil Recife (CODECIR)

ENDEREÇO: Rua Afonso Pena, n.500, Santo Amaro, Recife-PE

ENTREVISTADA: Keila Ferreira (Gerente Geral de Atenção Social)

PROFISSÃO: Assistente Social

TELEFONES: (81) 9488.6247 / (81) 3355.2115

EMAIL: [email protected]

1. Como é feito o socorro às famílias vitimadas?

KF – O atendimento é preventivo, mas quando ocorre à emergência podemos atender. Se a

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situação for grave pelo Corpo de Bombeiros.

2. Onde são abrigadas essas famílias?

KF – Em abrigos temporários, um na Zona Norte e outro na Zona Sul.

3. Existe algum tipo de abrigo temporário móvel?

KF – Não

4. Como é vista essa necessidade, por vocês profissionais?

KF – Seria importante, nos daria melhores condições de trabalho.

5. A quem pertencem esses abrigos?

KF – O abrigo pertence à Prefeitura, que garante a logística da Assistência Social.

6. A quem cabe fazer a segurança das famílias nos abrigos?

KF – A Guarda Municipal.

7. Como é o controle sanitário nos alojamento?

KF – A limpeza é feita pela Prefeitura - EMLURBE, também é feito acordo de convivência

com as famílias abrigadas.

8. Quais as estratégias governamentais e seus resultados?

KF – A prevenção. O que trás resultado bom é o trabalho preventivo.

9. Como tem sido a relação do governo com as ONGs, no socorro as vítimas de catástrofes

naturais em Recife?

KF – Não há relação com as ONGs.