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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ DOUGLAS CAMPOS SALLES DA SILVA ANÁLISE ERGONÔMICA DO PROCESSO DE RETIRADA DO PONTEIRO NO CORTE MANUAL DE CANA-DE-AÇÚCAR: UM ESTUDO DE CASO NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas. Orientador: Prof. Osíris Canciglieri Júnior, Ph.D. Curitiba, outubro de 2008.

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

DOUGLAS CAMPOS SALLES DA SILVA

ANÁLISE ERGONÔMICA DO PROCESSO DE RETIRADA DO PONTEIRO NO CORTE MANUAL DE CANA-DE-AÇÚCAR:

UM ESTUDO DE CASO NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas. Orientador: Prof. Osíris Canciglieri Júnior, Ph.D.

Curitiba, outubro de 2008.

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II

DOUGLAS CAMPOS SALLES DA SILVA

ANÁLISE ERGONÔMICA DO PROCESSO DE RETIRADA DO PONTEIRO NO CORTE MANUAL DE CANA-DE-AÇÚCAR:

UM ESTUDO DE CASO NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas. Orientador: Prof. Osíris Canciglieri Júnior, Ph.D.

Curitiba, outubro de 2008.

III

Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas

TERMO DE APROVAÇÃO

DOUGLAS CAMPOS SALLES DA SILVA

ANÁLISE ERGONÔMICA DO PROCESSO DE RETIRADA DO PONTEIRO NO CORTE MANUAL DE CANA-DE-AÇÚCAR:

UM ESTUDO DE CASO NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO

Dissertação aprovada como requisito parcial para a obtenção de grau de Mestre no Curso de Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas, Programa de Pós-graduação em Engenharia de produção e Sistemas, do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, pela seguinte banca examinadora.

_______________________________________________ Prof. Osiris Canciglieri Junior, Ph.D. (PPGEPS – PUCPR)

Orientador

_______________________________________ Prof. João Antonio Palma Setti, Dr. (PUCPR)

Membro Interno

_________________________________ Profa. Stephania Padovani, Dr. (UFPR)

Membro Externo

Curitiba, 06 de outubro de 2008.

IV

A minha esposa Vânia, a quem tanto

amo e aos meus pais Ruy e Mércia, pelo

amor e dedicação incondicional.

V

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela graça da vida e por me fortalecer em cada momento.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Osíris Canciglieri Junior pela oportunidade, incentivo,

compreensão e paciência. Lembrarei com carinho de seus ensinamentos por toda a vida.

A minha esposa, Vânia, por sempre confiar em meus sonhos, me ajudando a torná-los

realidade. Sem sua compreensão, companheirismo e amor, eu nunca teria concluído este

trabalho.

Aos meus pais, Ruy e Mércia, que são para mim muito mais do que eu conseguiria

descrever em palavras, pela dedicação, carinho e apoio em todos os momentos de minha vida,

ensinando-me a persistência e honestidade.

Ao meu sogro Idemar e sogra Vanderci, pelo incentivo e ajuda em todo momento.

A minha irmã, Suélen, simplesmente por ser minha irmã, a quem eu tanto amo, e aos

meus cunhados Francis, Vanessa, Vilma, Marcelo e Márcio pela amizade.

Aos meus amados sobrinhos Jéssica, Ana Flávia e João Victor, por tornarem minha

vida mais feliz, mostrando que simplicidade e amor devem estar presentes sempre.

Ao amigo Tiago Francesconi, companheiro em todos os momentos desta caminhada,

pela paciência e dedicação, essencial não só na realização das atividades deste curso, mas

também nos momentos de amizade.

Ao meu grande amigo Nilson, amigo para todas as horas, pelo incentivo e crédito dado

à mim tanto na vida profissional quanto nesta etapa tão significativa, me auxiliando sempre

com alegria, companheirismo e responsabilidade.

A Daniela, Meire e demais colegas que sempre me receberam com muita disposição

na secretaria do curso.

VI

RESUMO

O trabalho da retirada do ponteiro no corte manual de cana-de-açúcar é precedido de tarefas pouco estruturadas, exigindo esforço físico considerável, postura penosa, condição ambiental desfavorável, sazonalidade e operações repetidas de instrumentos em curto espaço de tempo. As condições precárias no trabalho à que está sujeita a maioria da população brasileira referem-se principalmente à inadequação dos procedimentos adotados para o desenvolvimento da tarefa, exposição ambiental e sofrimento com a utilização dos equipamentos mal projetados. A grande variedade de risco presentes nos ambientes de trabalho agrícola se dá de forma compatível com o alto grau de diversidade de tarefas e de postos de trabalho nestas atividades. A ergonomia busca adequar, de forma mais apropriada, as condições de trabalho às potencialidades do trabalhador, dentro do seu ambiente, prevenindo as doenças ocupacionais e melhorando sua eficiência. Assim, trazendo grandes contribuições do ponto de vista econômico, reduzindo a probabilidade de doenças, acidentes, desconforto, aumentando a satisfação no trabalho e conseqüentemente incrementando a produtividade. Com isso, esta pesquisa apresenta uma aplicação dos conceitos de ergonomia direcionados à atividade de retirada dos ponteiros no corte manual de cana-de-açúcar, servindo como suporte ao processo de desenvolvimento de produtos, amenizando o sofrimento do trabalhador, estabelecendo padrões antropométricos e proporcionando o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente no trabalho. Palavras-chave: Desenvolvimento de produto, ergonomia, antropometria, anatomia,

corte de cana-de-açúcar.

VII

ABSTRACT

The process of removing the “pointer” during the manual sugarcane harvest is preceded by tasks poorly structured, demanding considerable physical effort, painful posture, unfavorable environmental condition, seasonality and repeated operations of instruments in short space of time. The precarious work conditions that the majority of the Brazilian population is submitted to, is related mainly to the unsuitability of the procedures adopted for the development of the task, environmental exposure and suffering with the use of badly designed equipment. The great variety of risk present in the environment of agricultural work falls in a compatible way with the high degree of diversity of tasks and of workstations in these activities. The ergonomics tries to adapt, in a more appropriate way, the work conditions to the worker's potentialities, inside of his/her environment, preventing the occupational diseases, improving his/her efficiency, bringing great contributions when looking at the economical point of view, reducing the probability of diseases, accidents, discomfort, increasing the satisfaction at work and consequently increasing productivity. Therefore, this research presents an application of the concepts of ergonomics directed to the process of the “pointers” removal during the manual sugarcane harvest, serving as a support to the process of development of products used on the pointers removal, to ease suffering of the workers, establishing standards anthropometric and giving maximum comfort, safety and efficient performance at work. Key Words: product development, ergonomics, anthropometry, anatomy, cutting sugar

cane.

VIII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Metodologia da Pesquisa.................................................................................... 7

Figura 2.1 – Fases do Desenvolvimento de Produto.............................................................. 24

Figura 3.1 – Modelo Conceitual da Pesquisa......................................................................... 31

Figura 4.1 – O Trabalhador e os Processos do Corte Manual de cana-de-açúcar.................. 38

Figura 4.2 – Óculos de Segurança Nylon............................................................................... 41

Figura 4.3 – Óculos de Segurança Policarbonato................................................................... 42

Figura 4.4 – Touca Árabe....................................................................................................... 42

Figura 4.5 – Luva para a mão que abraça o feixe de cana-de-açúcar..................................... 43

Figura 4.6 – Luva para a mão que segura o facão.................................................................. 43

Figura 4.7 – Perneira de proteção........................................................................................... 44

Figura 4.8 – Calçado de segurança......................................................................................... 45

Figura 4.9 – Mangote.............................................................................................................. 46

Figura 4.10 – Protetor de lima e lima para afiar o facão........................................................ 46

Figura 4.11 – Facão para Corte Manual................................................................................. 47

Figura 4.12 – Resultados do Check List quanto à utilização dos equipamentos e

ferramentas..............................................................................................................................

50

Figura 4.13 – Propostas de melhorias obtidas no Check List quanto à utilização dos

equipamentos e ferramentas....................................................................................................

51

Figura 4.14 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,62 mts........................................ 54

Figura 4.15 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,86 mts........................................ 54

Figura 4.16 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1.50 mts........................................ 55

Figura 4.17 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,72 mts........................................ 55

Figura 4.18 – Análise Biomecânica do trabalhador durante o Corte Manual de cana-de-

açúcar......................................................................................................................................

56

Figura 4.19 – Análise Biomecânica do trabalhador durante a retirada do ponteiro de cana-

de-açúcar.................................................................................................................................

57

Figura 4.20 – Gancho utilizado na retirada manual do ponteiro............................................ 81

Figura 4.21 – Retirada manual do ponteiro de cana-de-açúcar com o auxílio do gancho...... 84

Figura 4.22 – Retirada manual do ponteiro de cana-de-açúcar não utilizando o gancho

como o auxílio........................................................................................................................

84

IX

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Conteúdos das fases de desenvolvimento de produtos...................................... 25

Tabela 4.1 – População Masculina......................................................................................... 39

Tabela 4.2 – População Feminina........................................................................................... 39

Tabela 4.3 – Check List quanto à utilização dos equipamentos e ferramentas...................... 49

Tabela 4.4 – Censo de Ergonomia.......................................................................................... 58

Tabela 4.5 – Análise Ergonômica do Trabalho...................................................................... 66

X

LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Correspondência entre etapas da Análise Ergonômica do Trabalho e os

procedimentos de pesquisa em Ergonomia.............................................................................

19

Quadro 3.1 – Bloco de questões............................................................................................. 33

Quadro 4.1 – Modelo proposto pelo método FMEA.............................................................. 63

Quadro 4.2 – Histórico (HIS)................................................................................................. 64

Quadro 4.3 – Exposição (EXP)............................................................................................... 64

Quadro 4.4 – Gravidade (GRA).............................................................................................. 65

XI

SUMÁRIO AGRADECIMENTOS...................................................................... V

RESUMO............................................................................................ VI

ABSTRACT........................................................................................ VII

LISTA DE FIGURAS........................................................................ VIII

LISTA DE TABELAS....................................................................... IX

LISTA DE QUADROS...................................................................... X

CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO.............................................................................. 1

1.1 Contextualização........................................................................................................ 1

1.2 Motivação................................................................................................................... 3 1.3 Justificativa................................................................................................................ 4 1.4 Objetivos..................................................................................................................... 5 1.4.1 Objetivos Específicos............................................................................................... 5 1.5 Metodologia da Pesquisa........................................................................................... 6 1.5.1 Justificativa da Metodologia Científica Estudo de Caso Aplicado à

Pesquisa............................................................................................................................

7

1.6 Estrutura da Dissertação.......................................................................................... 9

CAPÍTULO 2- REVISÃO DA LITERATURA..................................................... 11

2.1 O Processo Produtivo do Corte Manual de Cana-de-Açúcar................................ 11 2.2 O Trabalhador e as Atividades Manuais do Corte de Cana-de-Açúcar............... 14

2.3 Ergonomia Aplicada ao Trabalho Agrícola............................................................ 15 2.3.1 Análise Postural........................................................................................................ 20

2.4 Desenvolvimento de Produtos para Atividades Agrícolas..................................... 23

CAPÍTULO 3- METODO DA PESQUISA............................................................ 26

3.1 Metodologias científicas aplicadas à pesquisa............................................ 26 3.1.1 Estudo de Caso......................................................................................................... 26

3.1.1.1 Tipos de Estudos de Caso...................................................................................... 27 3.1.2 Estruturas de Estudo de Caso................................................................................... 27

XII

3.1.3 Planejamento e Desenvolvimento da Pesquisa para o Estudo de Caso.................... 28 3.2 Proposta de Modelo Conceitual da Pesquisa.................................................... 29 3.2.1 Formulação do Projeto de Pesquisa.......................................................................... 30 3.2.2 Equipamentos Utilizados na Avaliação.................................................................... 35

CAPÍTULO 4 - ANÁLISE ERGONÔMICA BASEADA NO MODELO

CONCEITUAL PROPOSTO ATRAVÉS DO ESTUDO DE CASO..........................

36

4.1 O Corte Manual de Cana-de-Açúcar....................................................................... 37 4.1.1 O trabalhador do Corte Manual de Cana-de-Açúcar da Companhia

Melhoramentos Norte do Paraná.......................................................................................

37 4.2 Instrumentos e Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) durante o Corte

Manual de Cana-de-Açúcar............................................................................................

40 4.2.1 Óculos de Segurança................................................................................................. 41 4.2.2 Proteção para Rosto e Cabeça (Boné ou Toca Árabe) - Vestimenta de Segurança

tipo Capuz..........................................................................................................................

42 4.2.3 As Luvas de Proteção............................................................................................... 43 4.2.4 Perneiras de Proteção............................................................................................... 44 4.2.5 Calçado de Segurança............................................................................................... 45 4.2.6 O mangote................................................................................................................. 45 4.2.7 Instrumentos de Trabalho......................................................................................... 46 4.3 Análise Ergonômica do Trabalho aplicada ao Corte Manual de Cana-de-

Açúcar baseada no Modelo Conceitual..........................................................................

47 4.4 Análise Antropométrica da Retirada dos Ponteiros no Corte Manual de Cana-

de-Açúcar..........................................................................................................................

52 4.5 Análise Biomecânica da Retirada dos Ponteiros no Corte Manual de Cana-de-

Açúcar...............................................................................................................................

56 4.6 Apreciação Ergonômica do Trabalho da Retirada dos Ponteiros no Corte

Manual de Cana-de-Açúcar............................................................................................

61 4.7 Proposta de Intervenção Ergonômica através da Concepção e Utilização do

Gancho na Retirada do Ponteiro durante o Corte Manual de Cana-de-Açúcar.......

80

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA

TRABALHOS FUTUROS..............................................................................................

85

REFERÊNCIAS................................................................................. 87

1

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

O sistema agroindustrial da cana-de-açúcar é um dos sistemas mais antigos, estando

ligado aos principais eventos históricos de enorme importância no Brasil. O país é,

juntamente com a Índia, o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, isoladamente o maior

produtor de açúcar e de álcool, bem como o maior exportador mundial de açúcar. Seus

números estão na casa dos bilhões (BUESCU, 1977). Em 1997, auxiliou a Balança Comercial

com um saldo de mais de US$ 1,7 bilhões em exportações de açúcar. Segundo estimativa,

movimenta anualmente cerca de US$ 12 bilhões, sendo cerca de US$ 1bilhão em insumos,

US$ 3 bilhões na produção agrícola, US$ 1,2 bilhões na atividade industrial, US$ 3 bilhões na

comercialização e US$ 2,8 bilhões em impostos. Estima-se que o sistema gera mais de 1,5

milhões de empregos no país (WAACK; NEVES, 1998).

A transformação da cana-de-açúcar representa um dos mais importantes pilares da

economia colonial, uma vez que o açúcar constitui-se num produto conjuntural responsável

pela definição do modelo agro-exportador brasileiro (BUESCU, 1977). Sua importância na

formação econômica brasileira reside na definição da estrutura fundiária (latifúndio

monocultor dependente) e na construção das relações sociais escravistas que permitiram uma

formação social patrimonialista (oligárquica e patriarcal).

Foi somente a partir dos anos 1970, que a agroindústria canavieira passou por

importante transformação, no tocante à diversificação de produtos, deixando de ser

exclusivamente voltado para o setor de alimentos, para destinar-se ao setor energético, através

do Programa Nacional do Álcool (PRÓALCOOL). Este fomentou o destino da cana-de-

açúcar para produção de combustível, tendo efeito positivo no aumento da competitividade do

sistema. As escalas de produção e moagem de cana-de-açúcar cresceram, assim como ganhos

importantes em produtividade foram atingidos (NEVES; BATALHA, 1998). Em pouco

tempo, o país criou uma ampla rede de distribuição de álcool hidratado, adaptou

pioneiramente veículos, desenvolveu tecnologias para uso do álcool anidro como aditivo para

combustíveis e produziu inovações institucionais e organizacionais. Os principais produtos

gerados pelo sistema agroindustrial da cana-de-açúcar são o açúcar, o álcool e outros

subprodutos.

2

No Estado do Paraná, a cultura de cana-de-açúcar ingressou pelo norte pioneiro,

ocupando áreas nos municípios vizinhos do Estado de São Paulo, como Jacarezinho,

Cambará, Andirá, Bandeirantes, Porecatu, entre outros, onde se instalaram as primeiras usinas

de açúcar. Na região de Maringá, adequada à lavoura canavieira, o cultivo da cana-de-açúcar

foi iniciado no ano de 1961 (GUERRA, 1995).

A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná é uma empresa que atua na área

agroindustrial, com as seguintes atividades: usina de álcool, cana-de-açúcar, grãos, tratamento

de madeiras, pecuária, etc. Suas atividades no setor sulcroalcooleiro são situadas nas cidades

de Jussara e Jacarezinho, estado do Paraná.

A grande variedade de risco presentes nos ambientes de trabalho agrícola se dá de

forma compatível com o alto grau de diversidade de tarefas e de postos de trabalho nestas

atividades. Neste trabalho as tarefas são pouco estruturadas, na maioria das vezes exigem

esforço físico considerável, postura penosa, condição ambiental desfavorável, exposição a

produtos químicos, sazonalidade, operações repetidas de instrumentos em curto espaço de

tempo (SATO, 1993).

Segundo Scopinho (1995), a produção do setor sucroalcooleiro deve ser destacada,

uma vez que os trabalhadores cortam de forma manual a cana-de-açúcar e organizam a maior

parte da matéria-prima que será utilizada na produção de álcool e açúcar. Desta forma, é

necessário fazer estimativa da população que pode se beneficiar com as possíveis melhorias

no desenvolvimento de produtos para auxílio no corte de cana-de-açúcar.

Há vários fatores de agravamento de riscos presentes no ambiente de trabalho agrícola

contribuindo para o desgaste e ocorrência de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho,

como o alto grau de diversidade tecnológica empregada na atividade, grande número de

atividades com tarefas variadas, condições ambientais de difícil controle (tarefas

desempenhadas geralmente a céu aberto), grande esforço físico, longas jornadas de trabalho,

pouca distinção entre condições de trabalho e de vida e enorme variedade de equipamentos,

ferramentas, utensílios e técnicas introduzidas de forma sazonal (SILVA, 1981).

De acordo com Abrahão (1997) a importância da ergonomia para o desenvolvimento

rural é ressaltada por diversos autores, apontando os benefícios obtidos pelos países que

investiram em pesquisas ergonômicas do trabalho agrícola: organização do trabalho, projetos

de ferramentas e equipamentos adequados às tarefas agrícolas, planejamento dos postos de

trabalho. No design de ferramentas e equipamentos, em particular, a contribuição da

ergonomia pode ser relevante em termos de produtividade, conforto e indiretamente com a

diminuição dos custos de operação.

3

No Brasil, os setores industriais mais desenvolvidos, carecem de informações,

conhecimentos e pesquisas na área da ergonomia. No meio agrícola esta realidade se mantém.

O setor concentra um grande volume de trabalhadores expostos a numerosos riscos de

acidentes e doenças do trabalho (ABRAHÃO, 1997).

Em suma, a Ergonomia é uma aliada poderosa no projeto de sistemas de trabalho

agrícola balanceados, onde os trabalhadores têm suas características físicas, psíquicas e

cognitivas contempladas, fazendo parte de um complexo de trabalho otimizado e produtivo.

Dessa forma esta pesquisa visa analisar ergonomicamente a retirado do ponteiro no processo

do corte manual de cana-de-açúcar servindo como base na concepção conceitual do

desenvolvimento de produtos.

1.2 Motivação

O fator motivacional para a realização desta pesquisa foi de contribuir para a melhoria,

a eficiência, a confiabilidade e a qualidade das operações, através de aperfeiçoamentos e

desenvolvimento de produtos (equipamentos e ferramentas) que auxilie na retirada manual de

ponteiros de cana-de-açúcar, melhorando assim as condições de saúde e segurança dos

trabalhadores e repercutindo diretamente na vida produtiva da empresa.

Pegado (1990) considera que a Ergonomia tem os seus objetivos centrados na

humanização do trabalho e na melhoria da produtividade. As condições de trabalho incluem

todos os fatores que possam influenciar no desempenho e satisfação dos trabalhadores na

organização. Isso envolve o trabalho específico, o ambiente, a tarefa, a jornada de trabalho, o

horário de trabalho, salários, além de outros fatores cruciais relacionados com a qualidade de

vida no trabalho, tais como nutrição, nível de atividade física habitual e todas as condições de

saúde em geral.

O desempenho dos indivíduos dentro de uma organização está diretamente ligado à

conformidade entre os seus valores pessoais e os valores da organização, ou seja, a cultura, e

o clima organizacional. Em relação aos recursos humanos, diversos autores (DUKE; SNEED,

1989; VYSKOCIL-CZAJKOWSKI; GILMORE, 1992; HSIEH et al., 1994), têm considerado

as características do trabalho como um significante fator predisponente para a satisfação do

trabalhador, capaz de reduzir as taxas de absenteísmo e turnover, aumentar a produtividade,

melhorar a moral, a motivação, desempenho dos trabalhadores, ajudar no recrutamento, na

base de conhecimento e técnicas de trabalho.

4

Sendo assim, percebeu-se a importância e necessidade de desenvolver uma pesquisa,

através de uma análise ergonômica do processo manual do corte de cana-de-açúcar, e

apresentar uma proposta de melhoria através do desenvolvimento de produtos, contribuindo

para humanização do trabalho e melhoria da produtividade deste trabalhador.

1.3 Justificativa

A atividade do corte de cana-de-açúcar é dividida em 03 etapas: corte da cana-de-

açúcar, depósito da cana-de-açúcar no solo e retirada do “ponteiro”, que por sua vez, é

definido como uma ponta da cana-de-açúcar, após corte, localizada na região proximal ao

solo, esta atividade também pode ser definida como desponte. Esta é a atividade mais

desgastante para o trabalhador do corte manual de cana-de-açúcar, devido ao padrão postural

adotado, considerado como principal fator complicador, no que diz respeito à qualidade e

produtividade da tarefa. A análise ergonômica do trabalho aplicada nas atividades rurais é o

método indicado para o diagnóstico das dificuldades e estratégias empregadas, na tentativa de

cumprir as metas de produção e, ao mesmo tempo, preservar a saúde do trabalhador. Os

métodos clássicos de avaliação dos riscos, definidos em normas do Ministério do Trabalho,

devem ser empregados para o levantamento das variáveis que determinam as condições de

trabalho a que estes estão expostos (ULBRICHT, 2003).

O conhecimento sobre o trabalho humano pode ser melhorado substancialmente se

forem incorporados conceitos oriundos da ergonomia na medida em que este deixa de ser

aplicado somente sob um aspecto da produção, e passa a ser considerado central para o

desenvolvimento humano e das organizações.

O trabalho, na ótica da ergonomia não é uma variável de ajustamento, mas o resultado

dialético de um compromisso entre sujeitos e os constrangimentos da produção,

compreendendo aspectos ligados ao conteúdo das tarefas, a maneira como se busca organizar

o trabalho e, mesmo a definição da divisão das tarefas nos diferentes processos de produção

da empresa. Através desta compreensão é possível evidenciar o quanto os paradigmas

clássicos de projeto da produção e do trabalho consideram pouca a adaptação destes às

características humanas, tanto nas suas capacidades como nos seus limites.

O trabalho humano dentro da produção é geralmente considerado como um dos

últimos aspectos a ser concebido e a sua concepção está baseada em conceitos parciais sobre o

5

homem em atividade de trabalho. Os paradigmas utilizados para tanto, são fundados em

conhecimentos científicos que não consideram a complexidade da fisiologia e da cognição

humana, onde se incluem o esforço físico, as trocas energéticas, os movimentos e as posturas

adotadas pelo trabalhador.

A permanência do alto nível dos desgastes físicos dos trabalhadores rurais em

patamares não aceitos pela sociedade em geral, com repercussão negativa na produtividade

das empresas e na saúde como qualidade de vida dos trabalhadores, em razão da limitada

expansão na utilização dos princípios ergonômicos pelas empresas em geral, vem fazer com

que seja analisada a atividade e avaliada a possibilidade de implantação de um instrumento

que amenize o sofrimento do trabalhador.

1.4 Objetivos

Esta pesquisa teve como objetivo geral aplicar métodos ergonômicos no processo de

retirada do ponteiro do corte manual de cana-de-açúcar na região Norte do Paraná, servindo

como um estudo de caso na formação conceitual do desenvolvimento de produtos utilizados

para realização da atividade.

1.4.1 Objetivos Específicos:

1. Estabelecer um diagnóstico dos principais problemas envolvidos na retirada do

ponteiro da cana-de-açúcar e suas conseqüências para o trabalhador;

2. Propor aperfeiçoamento dos produtos (instrumentos) utilizados no corte de cana-de-

açúcar e retirada dos ponteiros;

3. Verificar, por meio de testes experimentais, as diferenças no desempenho do

trabalhador no corte manual de cana-de-açúcar e a redução de queixas, após

intervenção ergonômica;

6

4. Proporcionar através da nova metodologia de trabalho (uso do gancho), maior

integridade física para o trabalhador, reduzindo o absenteísmo, diminuindo os gastos

com a saúde e promovendo aumento na produtividade.

1.5 Metodologia da Pesquisa

Nesta pesquisa, optou-se pelo estudo de casos múltiplos, devido à necessidade de se

obter uma visão inicial sobre o processo do corte manual de cana-de-açúcar, e carência de

informações a esse respeito.

Tendo em vista ainda que, com o estudo de caso é possível analisar de forma mais

profunda o fenômeno, sendo esta a estratégia preferida quando o pesquisador procura

responder às questões de "como" e "por que" certos fenômenos ocorrem, quando há pouca

possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é a análise

do fenômeno atual a partir do contexto real.

Quando se faz pesquisa tem-se por objetivo saber algo (o quê?) a fim de entender,

explicar e prever o fenômeno. Para que se possam atingir os objetivos é preciso traçar

claramente uma metodologia de pesquisa (Figura 1.1), a qual talvez possua perguntas a serem

respondidas, onde as respostas devem apresentar componentes de teoria versus prática ou

blocos de construção; e o uso de conceitos, constructos ou definições (COOPER;

SCHINDLER, 2003).

7

Figura 1.1: Metodologia da Pesquisa

Fonte: O autor.

1.5.1 Justificativa da Metodologia Científica Estudo de Caso Aplicado à Pesquisa

Faz-se necessário partir do uso de metodologias para análise de dados consistentes em

examinar, classificar e categorizar dados, opiniões e informações coletadas, é preciso

construir uma teoria que ajude a explicar e clarificar o objeto de estudo (MARTINS, 2006).

Esta dissertação foi estruturada como pesquisa-diagnóstico, que levanta e define

problemas e possibilita maior conhecimento sobre o ambiente investigado em determinada

situação, em um momento definido.

A investigação assumiu uma abordagem geral de caráter qualitativo, tendo sido

escolhida como estratégia o estudo de caso múltiplo. A opção metodológica escolhida foi

considerada a mais adequada no sentido de permitir simultaneamente a compreensão interna

Metodologia Científica

Estudo de Casos

O trabalhadordo corte de

Cana-de-açúcarErgonomia

Desenvolvimentode

Produtos

Análise Postural

ProcessoProdutivo do

Corte de Cana-de-açúcar

Proposta do modeloConceitual da Pesquisa

Aplicação do Modelo Conceitualatravés de Estudo de Caso

Análise dos Resultados

REVISÃO DA LITERATURA

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

8

dos fenômenos nos seus contextos apresentadas num estudo de caso, e adquirir certa

exterioridade sobre os fenômenos estudados exigidos pelo ato da comparação.

O estudo de caso é um dos vários modos de realizar uma pesquisa sólida. Outros

modos incluem experiências vividas, histórias, e a análise de informação de arquivo. Cada

estratégia tem vantagens e desvantagens que dependem de três condições: 1) o tipo de foco da

pesquisa; 2) o controle que o investigador tem sobre eventos comportamentais atuais, e 3) o

enfoque no contemporâneo ao invés de fenômenos históricos.

A primeira abordagem foi feita sobre o processo de produção do corte de cana-de-

açúcar, sobre a qualidade do emprego na atividade agrícola do corte de cana-de-açúcar

(emprego agrícola direto / indireto), que ao que tudo indica, continuará apresentando forte

tendência de expansão no futuro próximo em função dos promissores mercados (nacional e

internacional) para o açúcar e para o álcool combustível. Se, por um lado, são facilmente

perceptíveis os avanços na qualidade do emprego, inclusive pela pressão do movimento

sindical organizado e pela fiscalização por parte dos órgãos públicos competentes, por outro,

assiste-se ainda a fatos relacionados com a exploração e com o desrespeito aos direitos

trabalhistas mais elementares dos empregados. Entre os principais avanços na qualidade do

emprego, podem ser citados a redução do trabalho infantil, o aumento do nível de

formalidade, os ganhos reais de salário, o aumento de alguns benefícios recebidos e o

aumento da escolaridade dos empregados. De acordo com os dados da Pnad (Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios), em 1992, o uso de trabalho infantil chegava a 14,7% e

10,8%, respectivamente, do total de empregados temporários rurais e urbanos ocupados na

cultura da cana-de-açúcar. Em 2005, essas participações caíram para 3,3% e 0,5%,

respectivamente, e, para os empregados permanentes era ausente o uso de trabalho infantil.

Uma segunda abordagem foi quanto ao trabalhador do corte manual de cana-de-

açúcar, sendo esta uma atividade que gera grande número de riscos à segurança e saúde do

trabalhador.

Em seguida foi analisada a importância da ergonomia para o desenvolvimento da

atividade rural, que aponta quais os benefícios obtidos pela organização do trabalho, projetos

de ferramentas e equipamentos adequados às tarefas. Sua relevância em termos de

produtividade, conforto e indiretamente com a redução de custos de operação.

Uma terceira abordagem foi com relação à postura (análise antropométrica,

biomecânica e anatômica) adotada pelo cortador de cana-de-açúcar na retirada do ponteiro,

uma vez que para a realização da atividade é adotada a postura em pé, somada a movimentos

repetitivos de flexão, rotação e inclinação lateral de tronco, e intensa utilização da

9

musculatura dos braços e punho. As contrações são abruptas e desordenadas, utilizando

grandes grupos musculares com associação de força de alta intensidade podendo desencadear

quadros álgicos, seguidos de inflamações, levando o funcionário a adoecer.

E por fim a análise do desenvolvimento de produtos que venham auxiliar na retirada

do ponteiro do corte manual de cana-de-açúcar.

O estudo de caso deve se adequar a quatro princípios relevantes que impactam na sua

qualidade: construir validade; possuir validade interna; possuir validade externa; apresentar

confiabilidade.

Construir validade significa usar meios de coleta de dados que minimizem o caráter

subjetivo. A validade interna refere-se à ligação causal lógica entre as proposições iniciais e

as conclusões. A validade externa preocupa-se com os limites dos resultados obtidos da

pesquisa e com as situações onde podem ser usados. Finalmente, a confiabilidade está

relacionada ao rigor metodológico que possa garantir que os resultados obtidos serão os

mesmos ao se repetir as mesmas fases de estudo naquele caso.

1.6 Estrutura da Dissertação

A dissertação foi estruturada em sete capítulos, sendo:

• O primeiro capítulo introduz o trabalho, a fim de colocar o leitor no contexto da

pesquisa, apresenta-se a motivação com relação à escolha do tema, associado a sua

justificativa e a necessidade de realização; cita a metodologia utilizada e os objetivos da

pesquisa;

• O segundo capítulo descreve a metodologia, Estudo de Caso, utilizada como base

científica no desenvolvimento da pesquisa e sua justificativa;

• O terceiro capítulo apresenta o estado da arte através de uma revisão da literatura

sobre os temas pertinentes ao estudo: O processo produtivo do corte manual de cana-de-

açúcar; O trabalhador e as atividades manuais do corte de cana-de-açúcar; Ergonomia;

Desenvolvimento de produtos; Análise Postural (Antropométrica, Biomecânica, Anatômica);

• No quarto capítulo é apresentado o modelo conceitual do instrumento de coleta de

dados, organizada em blocos de temas referente à pesquisa;

10

• O quinto capítulo apresenta a Análise Ergonômica baseada no modelo conceitual

proposto (blocos e amostra delimitados no capítulo 4) e a proposta da utilização do gancho na

retirada do ponteiro, apresentando os resultados obtidos na pesquisa;

• O sexto capítulo traz as considerações finais da pesquisa e sugestões para trabalhos

futuros;

• E o sétimo e último capítulo apresentará o referencial bibliográfico utilizado para o

desenvolvimento desta dissertação.

11

CAPÍTULO 2- REVISÃO DA LITERATURA

Este capítulo apresenta uma revisão da literatura para o suporte da concepção desta

pesquisa que foi dividida em quatro etapas: O processo produtivo do corte de cana-de-açúcar,

o trabalhador no corte de cana-de-açúcar, a ergonomia, análise postural e o desenvolvimento

de produtos.

2.1 O Processo Produtivo do Corte Manual de Cana-de-Açúcar Segundo o Jornal da Cana (2004), no Brasil, as 289 usinas e destilarias que geram 3,6

milhões de empregos são distribuídas da seguinte forma: Alagoas (24 usinas), Amazonas (1

usina), Bahia (3 usinas), Ceará (1 usinas), Espírito Santo (6 usinas), Goiás (10 usinas),

Maranhão (3 usinas), Minas Gerais (19 usinas), Mato Grosso do Sul (10 usinas), Mato Grosso

(8 usinas), Pará (1 usina), Paraíba (9 usinas), Pernambuco (26 usinas), Piauí (1 usina), Paraná

(25 usinas), Rio de Janeiro (8 usinas), Rio Grande do Norte (3 usinas), Rio Grande do Sul (1

usina), Sergipe (2 usinas) e São Paulo (126 usinas), que produzem 340 milhões de toneladas

de cana-de-açúcar moída, permitindo a fabricação de 24 milhões de toneladas de açúcar e 14

bilhões de litros de álcool.

A agroindústria canavieira emprega um milhão de brasileiros no corte manual da cana-

de-açúcar, e mais de 80% do que é colhido é cortado à mão, segundo a União da

Agroindústria Canavieira de São Paulo (UNICA, 2004), o corte é precedido da queima da

palha da planta, o que torna o trabalho mais seguro e rentável para o trabalhador. Porém,

muitas vezes, o corte é feito com a cana-de-açúcar crua, principalmente quando esta é

destinada ao plantio.

Segundo Padis (1981), o Norte do Paraná representou 86% da produção canavieira

obtida pelo Estado no período de 1964/68. Durante os cinco primeiros anos das décadas de

1950 e 1960, as usinas que se destacaram, em termos de transformação da cana em açúcar e

álcool, foram: Bandeirantes, Central Paraná, Jacarezinho e Morretes (ANUÁRIO

AÇUCAREIRO, 1956; 1967). Mesmo sendo vários os municípios paranaenses produtores de

cana-de-açúcar, dois apresentaram certo destaque: Porecatu (onde se situa a Usina Central

Paraná) e Bandeirantes (onde está localizada a Usina Bandeirantes). Estes municípios foram

responsáveis por 70% da produção da região norte e mais da metade do total estadual. A

12

unidade produtiva de Jacarezinho situa-se ao norte do Estado, enquanto Morretes fica situada

mais próxima ao litoral paranaense.

O maior número de acidentes na cultura da cana-de-açúcar ocorre na atividade que

executa o corte manual, embora para ser encaminhada para o setor industrial da usina,

inúmeras atividades pós-corte podem estar envolvidas, como, por exemplo, o enleiramento ou

amontoamento e o carregamento. Os equipamentos manuais estão entre os principais fatores

causadores de acidentes; somente o uso do facão é responsável por 65% das ocorrências com

ferramentas manuais registradas. No corte manual da cana-de-açúcar, por exemplo, o

trabalhador rural está sujeito a uma série de riscos de acidentes, próprios da operação, dos

quais se pode destacar: cortes nas mãos, pernas e pés, provenientes da utilização do facão,

foice ou podão, além de lombalgias, dores musculares, lesões oculares, irritação da pele,

quedas e ferimentos (COUTO, 2002).

Atualmente, a agroindústria canavieira paranaense apresenta-se no cenário nacional

como de perfil moderno, adotando novas técnicas e insumos, sendo superada, neste aspecto,

apenas por São Paulo (SHIKIDA, 1997).

De fato, o Paraná se destaca nacionalmente pela sua produtividade média de 78

toneladas por hectares (safra 2000/03), enquanto que a média nacional gira em torno de 69

toneladas no período, pelo seu segundo lugar nas produções nacionais de cana-de-açúcar e

álcool, sendo responsável por 7,53% da produção canavieira e por 7,85% da produção

alcooleira do país, e pelo seu o terceiro lugar na produção de açúcar (contribuindo com 6,55%

no total brasileiro) - safra 2002/03 (HISTÓRICO produção Brasil, 2004; SEAB/DERAL,

2003).

A descrição da tarefa dos cortadores de cana-de-açúcar feita por Ferreira e

colaboradores (1998) é a seguinte: “munidos de facões, eles devem cortar a cana com um ou

vários golpes na sua base ou pé, despontá-la, e carregá-la com os braços até um local pré-

estabelecido, formando montes ou leiras, para que, numa etapa posterior do processo

produtivo, tratores carregadores e carregadeiras a transportem para os caminhões que irão

para a usina”.

O trabalhador repete os mesmos gestos: abraçar o feixe de cana, curvar-se, golpear

com o podão a base dos colmos, levantar o feixe, girar e empilhar a cana ou enleirar. Esta

seqüência contínua de movimentos torna o trabalho repetitivo, segundo Alessi e Navarro

(1997).

13

Adissi (1987) comenta que o trabalho canavieiro tem uma relação de dependência com

a agroindústria. Como a lavoura canavieira tem como finalidade o suprimento das

necessidades da agroindústria do álcool e açúcar, isso exige a integração entre os sistemas de

produção agrícola e industrial. Essa condição faz com que as exigências industriais sejam

transferidas aos sistemas de produção agrícola, mas de forma indireta, estão presentes em todo

o processo canavieiro.

As condições sociais precárias que estão sujeitas a maioria da população referem-se

principalmente a processos de trabalho dos setores secundário e terciário (principalmente às

indústrias de ponta e do setor prestador de serviços de consumo coletivo) e, desse modo,

pouco enfocado aos processos de trabalho do setor primário da economia (LAURELL;

NORIEGA, 1989). De acordo com Cohn e Marsiglia (1993), um outro traço constitutivo,

reside em conceber os seus objetos de análise como processos sociais. A categoria “trabalho”,

sob o modo de produção capitalista, determina uma das formas de relacionamento social

promovendo interação entre empregado e empregador, onde os papéis sociais desempenhados

por esses agentes são opostos e complementares entre si e estão definidos pela posição que

ocupam no processo da produção: proprietários e não proprietários dos meios de produção

(ALESSI; SCOPINHO, 1994). Isto é, a categoria “trabalho” ainda é entendida como estando

“vinculada aos padrões das relações sociais, econômicas e políticas vigentes na sociedade

mais ampla” (FISCHER, 1985).

Em um estudo realizado por Evans e Jacob (1996), com trabalhadores da colheita de

laranja, foram detectados problemas relacionados ao desconforto físico decorrente à

inadequação dos procedimentos adotados para o desenvolvimento da tarefa, exposição

ambiental a intempéries e sofrimento com a utilização dos equipamentos relacionados com a

tarefa, gerando transtornos como dores nas costas, ombros, membros inferiores e superiores.

Neste sentido, deve-se levar em consideração a capacidade e a limitação humana no

aperfeiçoamento e desenvolvimento de equipamentos, buscando reduzir a probabilidade de

acidentes, a fadiga, aumentando a satisfação no trabalho e conseqüentemente incrementando a

produtividade (COLETA, 1991).

Wisner (1994) considera que “todos os problemas ligados ao trabalho são de natureza

probabilística, isto é, certos trabalhadores são atingidos em graus diferentes, outros não o são.

Para perceber as causas de numerosos problemas ligados ao trabalho, uma abordagem

epidemiológica é indispensável ao nível de empresa ou, mais amplamente, do ramo

industrial”.

14

2.2 O Trabalhador e as Atividades Manuais do Corte de Cana-de-Açúcar

A instrução de trabalho do sistema de qualidade para o corte manual da cana-de-açúcar

define as tarefas a serem cumpridas por meio de conjunto de prescrições elaboradas pelos

organizadores, para nortear a execução da atividade e garantir o fornecimento de matéria-

prima para a indústria. As descrições abaixo são literais, de acordo com relatório fornecido

pelo Departamento de Administração Agrícola da empresa em agosto de 2001, e

correspondem às Instruções do Trabalho do Sistema de Qualidade que determinam como o

trabalhador rural deve executar o corte manual da cana-de-açúcar (GONZAGA, 2002).

A cultura da cana-de-açúcar, até chegar ao açúcar e ao álcool, inclui a atividade do

corte manual da cana-de-açúcar, que tem uma rotina operacional permeada por agentes

penosos, como, por exemplo, o turno de trabalho de 8 horas diárias desenvolvido sob

irradiação solar, poeira e fuligem; o pagamento é por produção, ou seja, se parar de cortar

para tomar água ou ir ao banheiro, o cortador deixa de produzir e não recebe. A operação do

corte é dividida nas seguintes operações: corte da base da cana, desponte da ponteira e

amontoamento ou enleiramento.

Segundo Gonzaga (2002), o corte na base consiste na retirada da cana-de-açúcar das

touceiras, o que exige do trabalhador uma seqüência ritmada de movimentos corporais. Em

geral, com um dos braços, o trabalhador abraça o maior número possível de colmos. Em

seguida, curva-se para frente e, com o podão seguro por uma de suas mãos, golpeia, com um

ou mais movimentos, a base dos colmos; o mais próximo possível do solo, fazendo um

movimento de rotação e, ao mesmo tempo, levantando o feixe de cana já cortada,

depositando-o em montes ou leiras. A atividade se completa com o desponte da ponteira. A

cana-de-açúcar cortada deve ser organizada sob normas, que no campo são impostas pelos

fiscais. Muitas vezes, quando o declive do terreno é mais acentuado, organizar a cana-de-

açúcar já cortada é muito mais difícil, o mesmo ocorrendo na organização da cana crua. Estas

dificuldades interferem no rendimento do trabalhador, já que normalmente a produtividade

tende a cair, e também impõem posturas totalmente inadequadas, que normalmente ocasionam

lombalgias e outros problemas osteomusculares.

Alessi e Scopinho (1994) verificaram que o processo de trabalho do cortador de cana-

de-açúcar da região de Ribeirão Preto gera um conjunto de cargas laborais que se traduzem

em um padrão de morbidade que, apesar de inespecífico, está estreitamente relacionado ao

modo de organizar e realizar a atividade. Scopinho (1995; 1996) e Scopinho e Valarelli

15

(1995) acrescentaram que o estado geral de saúde dos trabalhadores é agravado pela

precariedade do conjunto das condições de vida em termos de, por exemplo, condições de

higiene e saneamento do local de moradia, grau de instrução, facilidade de acesso aos bens de

consumo coletivo em geral, existência de espaços institucionalizados ou não de reivindicação

de direitos etc.

Segundo Silva (1981), o progresso técnico na agricultura, ao mesmo tempo, subordina

as forças da natureza e o trabalho à lógica de valorização do capital. Embora este autor tenha

frisado que a aplicação do progresso técnico no processo produtivo não é feita no sentido de

contrariar ou prejudicar os trabalhadores, mas, principalmente, para favorecer os capitalistas

através da elevação da taxa de lucro, o fato é que, nas agroindústrias sucroalcooleiras, para os

trabalhadores, as inovações tecnológicas têm sido sinônimo de deterioração das relações e

condições de trabalho. Ou seja, na agroindústria canavieira, o desenvolvimento do progresso

técnico, por um lado, tem significado desemprego e, por outro, a intensificação do ritmo de

trabalho, o que tem afetado seriamente a saúde e a segurança no trabalho (SCOPINHO, 1995;

1996; SCOPINHO; VALARELLI, 1995).

2.3 Ergonomia aplicada ao trabalho agrícola

A definição dada pelo Conselho Executivo da International Ergonomics Association,

IEA, é a de que “Ergonomia (ou human factors) é a aplicação de teorias, princípios, dados e

métodos para projetar de modo a otimizar o bem-estar humano e a performance total do

sistema” (BITTES, 2003). O objetivo final e principal da ergonomia é a adaptação do trabalho

ao homem, considerando trabalho como toda e qualquer situação em que ocorre o

relacionamento entre o homem e a tarefa desempenhada (SOARES, 1999). Ergodesign vem a

ser a fusão de tópicos do design com propósitos e práticas da ergonomia. Grandjean (2002),

em entrevista publicada no site da Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO, relatou

que “Máquinas, equipamentos, estações de trabalho e ambientes que integram a ergonomia ao

design contribuem para a qualidade de vida, aumentam o bem-estar e o desempenho dos

produtos”.

A Ergonomia é uma ciência multidisciplinar com escopo de estudo e trabalho muito

bem definida, organizada mundialmente, possuindo a Associação Ergonômica Internacional

16

com 42 sociedades federadas, utilizando dados e técnicas da sociologia, como estudos de

grupos, comunicações, comportamentos; da psicologia, como habilidades, aprendizado, erros,

diferenças; da física, ruído, calor, frio, iluminação, radiação, vibração; da medicina, audição,

visão, sensações, músculos, etc. (IEA, 2000). A intervenção ergonômica busca a segurança e

conforto dos trabalhadores em situações de trabalho (ABRAHÃO, 1997; GUERIN, 1997;

WISNER, 1994).

Wilk (2004) relata que cada vez mais a indústria torna-se interessada em

implementar a ergonomia, devido principalmente ao surgimento dos efeitos negativos que as

circunstâncias podem ter na sua produtividade e em sua força de trabalho. De acordo com

Joyce (2001), foi realizada uma pesquisa pelo Instituto/Arthur D., onde 92% dos

entrevistados relataram reduções de aproximadamente 20% de custos com a saúde do

trabalhador, 72% relataram ganhos acima de 20% na produtividade, e 50% dos entrevistados

relataram exceder 20% dos aumentos da qualidade do produto e do processo.

As deficiências técnicas de projetos de máquinas impõem dificuldades operacionais e

aumento dos riscos de acidentes, diminuindo a eficiência. Um projeto mal concebido pode

aumentar a carga de trabalho físico, antecipando a fadiga, a redução da confiabilidade e do

desempenho, além de comprometer a integridade física e psíquica do trabalhador (IIDA,

1990). O ser humano possui grande capacidade de ajustar-se as condições de exposição que

lhe são impostas, assim, ele tem capacidade para manusear máquinas, ferramentas e

equipamentos ergonomicamente mal projetados, suportando posições incômodas e

inadequadas durante o trabalho. No entanto, conforme Minette (1996), realizar uma atividade

nessas condições, resultará em perdas de produtividade e prejuízos para a saúde do

trabalhador.

Seminério (1989) destaca que se deve procurar sempre amenizar as árduas condições

inerentes à tarefa, modificando os instrumentos utilizados através de padrões antropométricos

mais corretos, onde estas modificações procurarão também reduzir as inadequações das

condições de trabalho estabelecendo parâmetros que permitam adaptá-las às características

físicas e psicológicas dos trabalhadores, proporcionando o máximo de conforto, segurança e

desempenho eficiente do trabalho. No aperfeiçoamento de produtos, no posto de trabalho e no

sistema há sempre o que otimizar. Ao limite, cabe a Ergonomia replanejar a própria cultura.

Sistemas habitacionais, de informações, alimentares, profissionais, instrumentais e

equipamentos, de toda espécie merecem passar pelo crivo deste aperfeiçoamento, visando

melhorar a qualidade de vida do homem.

17

Segundo Curry (2004), a metodologia ergonômica busca adequar de forma mais

apropriada às potencialidades do trabalhador, dentro do ambiente de trabalho, prevenindo às

doenças ocupacionais e melhorando à eficiência do trabalhador. A ergonomia pode trazer

grandes contribuições para a empresa como: redução de custos com doenças relacionadas ao

trabalho (incluindo dia de trabalho perdidos, custos de compensação do trabalhador e

associação dos custos médicos) e aumento dos lucros com as melhorias na produtividade total

do trabalhador.

A ergonomia aplica-se ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas,

com o objetivo de melhorar a segurança, as condições de saúde, o conforto e a eficiência no

trabalho (DULL; WEERDMEESTER, 1995). A principal finalidade da ação ergonômica,

segundo Guerin (1997), é transformar o trabalho contribuindo para a concepção de situações

que não afetem a saúde dos trabalhadores. Dias e colaboradores (2000) enfatizaram que os

alguns aspectos ergonômicos devem ser considerados, tais como: posturas favoráveis,

dimensões adequadas, dimensionamento e acessibilidade, comandos, controles, fatores

ambientais, movimentos e questões de segurança. No desenvolvimento do produto, o sucesso

da atividade e o conforto dos usuários são os principais objetivos a serem alcançados.

A Norma Regulamentadora n°17 do MTE é a norma de segurança e saúde do

trabalho que se refere à temática “ergonomia”. Em função disto, em 2002 foi publicado o

Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora nº. 17, que aponta que a análise

ergonômica do trabalho é um processo construtivo e participativo para a resolução de um

problema complexo que exige o conhecimento das tarefas, da atividade desenvolvida para

realizá-las e das dificuldades enfrentadas para se atingirem o desempenho exigido. A análise

começa por uma demanda que pode ter diversas origens. Pode ser a constatação de que em

determinado setor há um número elevado de doenças ou acidentes (demanda de saúde),

reclamações de sindicato de trabalhadores (demanda social) ou a partir de uma notificação de

auditores-fiscais do trabalho ou de ações civis públicas (demandas legais) que, por sua vez,

também se originaram de alguma queixa ou reclamação. Da parte das empresas, uma

demanda quase sempre advém da necessidade de melhorar a qualidade de um produto ou

serviço prestado ou motivado por maiores ganhos de produtividade.

A evolução humana foi acompanhada pelo crescente uso de utensílios, ferramentas e

procedimentos criados para melhorar o conforto das pessoas, capacidade de sobrevivência e

seu desempenho na vida diária em todos os tipos de atividades desenvolvidas. Ao utilizar uma

pedra lascada como uma ponta de uma lança ou fazendo fogo para aquecimento, o homem

18

utiliza o ambiente natural e o adapta, podendo assim caracterizar um dos conceitos mais

simples de Ergonomia: A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem, onde o

trabalho tem uma acepção bastante ampla, abrangendo não apenas máquinas e equipamentos

utilizados para transformar os materiais, mas também toda a situação em que ocorre o seu

relacionamento com o homem (IIDA, 2002).

A biomecânica ocupacional estuda as interações entre o trabalho e o homem sob o

ponto de vista dos movimentos músculo-esquelético envolvidos, podendo assim estimar as

tensões que ocorrem durante uma postura, um movimento ou a aplicação de força. O trabalho

realizado pode ser estático, onde se realiza uma contração contínua de alguns músculos para

manter uma determinada posição, ou dinâmico, que permite contrações e relaxamentos

alternados dos músculos (DELIBERATO, 2002).

Para a melhoria das condições de trabalho, tanto de forma corretiva, sendo melhorias

em sistemas já existentes, quanto de maneira prospectiva, promovendo melhorias nos

sistemas de trabalho em fase de concepção e projeto, é necessário avaliar o trabalho humano

existente, por critérios bem definidos, aceitos e que obedeçam a uma hierarquia de níveis de

valoração relacionados com o trabalhador (DULL, WEERDMEESTER; 1995).

Segundo Montmollin (1990) os elementos que distinguem as condições de trabalho

são: condições técnicas (características dos instrumentos, máquinas, ambiente do posto de

trabalho, etc.); condições organizacionais (procedimentos prescritos, ritmos impostos,

conteúdo do trabalho); condições subjetivas (características do operador, saúde, idade,

formação); condições sociais (remuneração, qualificação, vantagens sociais, segurança de

emprego), e em certos casos condições de alojamento e de transporte, relações com a

hierarquia, etc. Segundo o mesmo autor quando esses elementos que distinguem, pode-se

dizer que as condições de trabalho também são adequadas.

Para se para obter bons resultados, é preciso que toda ação ergonômica seja bem

conduzida (Quadro 2.1).

19

Quadro 2.1 - Correspondência entre etapas da análise ergonômica do trabalho e os procedimentos de

pesquisa em ergonomia.

Etapas da análise ergonômica do trabalho Procedimentos de pesquisa em ergonomia

1ª etapa Análise e reformulação da demanda

1-Caracterização do (s) problemas; 2-Entrevistas exploratórias com gerentes e trabalhadores; 3-Observações abertas do trabalho; 4-Obtenção de dados gerais de produção, da organização e da população em estudo. 5-Realizar levantamento em dados existentes sobre o estado de saúde da população que será monitorada.

2 ª etapa Análise da tarefa

1-Identificar e analisar as tarefas prescritas e os modos operatórios; 2-Compreender a organização e o funcionamento da produção; 3-Identificar equipamentos e meios materiais usados; 4-Avaliar e medir variáveis ambientais e fisiológicas.

3 ª etapa Formular um pré-diagnóstico

De posse do conjunto de informações anteriores, o pré-diagnóstico possibilita a elaboração de uma primeira formulação de hipótese explicativa dos determinantes causais relacionados à demanda reformulada. Ou seja, o pré-diagnóstico consiste em um esforço de síntese explicativa de problemas que justificam o estudo. Possibilita também, selecionar as variáveis de observação que servirão para a análise sistemática da atividade conforme segue.

4 ª etapa Análise das atividades

1-Realizar observações sistemáticas (filmagens, fotografias e registros); 2-Produzir em modo gráfico as variáveis selecionadas para gravação (Software Kronos); 3-Realizar observações e entrevistas simultâneas para auto-confrontação; 4-Formular e avaliar o diagnóstico com os trabalhadores, supervisores e gerentes de produção.

5 ª etapa Diagnóstico e proposições

O diagnóstico possibilita uma compreensão científica das realizações causais em torno do (s) problema (s) do estudo, sendo, portanto, uma base sólida para fundamentar as mudanças e melhorias desejadas pelos atores sociais envolvidos. Deverá ser avaliado pelo conjunto destes atores e servirá de base para as proposições e recomendações de melhorias.

Fonte: Guérin et al. (2001)

20

Para Montmollin (1990), a ergonomia é a tecnologia das comunicações homem-

máquina. Grandjean (1998) define a ergonomia como uma ciência interdisciplinar. Ela

compreende a fisiologia e a psicologia do trabalho, bem como a antropometria e a sociedade

no trabalho. O objetivo prático da ergonomia é a adaptação do posto de trabalho, dos

instrumentos, das máquinas, dos horários e do meio ambiente às exigências do homem. A

realização de tais objetivos, ao nível industrial, propicia uma facilidade do trabalho e um

rendimento do esforço humano.

Wisner (1994) define a ergonomia como sendo um conjunto de conhecimentos

científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e

dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto e eficácia. A ergonomia é

considerada por alguns autores como ciência, enquanto geradora de conhecimentos. Outros

autores a enquadram como tecnologia, por seu caráter aplicativo, de transformação. Apesar

das divergências conceituais, alguns aspectos são comuns às várias definições existentes: a

aplicação dos estudos ergonômicos, a natureza multidisciplinar, o uso de conhecimentos de

várias disciplinas, o fundamento nas ciências e a concepção do trabalho.

2.3.1 Análise Postural

A postura tem sido objeto de estudo desde há muito tempo, sendo descrita por muitos

autores sob diferentes contextos. As posturas são utilizadas para realizar atividades com o

menor gasto energético, e é através das posições mantidas pelo tronco, que se determina à

eficiência do movimento e as sobrecargas impostas à coluna vertebral. Freqüentemente é

determinada pela natureza da tarefa ou do posto de trabalho. De acordo com Smith e

colaboradores (1997), “postura é um termo definido como uma posição ou atitude do corpo, a

disposição relativa das partes do corpo para uma atividade específica, ou uma maneira

característica de sustentar o próprio corpo”. O corpo pode assumir muitas posturas

consideradas confortáveis por longos períodos e realizarem as mesmas tarefas. Quando ocorre

um desconforto postural por contração muscular contínua, tensão ligamentar, compressão

ligamentar ou oclusão circulatória, normalmente procura-se acomodar o corpo em uma nova

atitude postural. Quando não se alteram as habituais posições, podem ocorrer lesões teciduais,

21

limitação de movimentos, deformidades ou encurtamentos musculares restringindo as

atividades de vida diária sejam elas em postura sentada, em pé ou deitada.

Kendall e colaboradores (1995) definiram postura como “o arranjo característico que

cada indivíduo encontra para sustentar o seu corpo e utilizá-lo na vida diária, envolvendo uma

quantidade mínima de esforço e sobrecarga, conduzindo à eficiência máxima do corpo”. A

grande interação entre as musculaturas estática e dinâmica é evidenciada entre os vários

autores, quando se refere a qualquer atividade corporal, onde a postura dinâmica está

associada à execução de tarefas numa soma de vários movimentos articulares que permitem

realizar as atividades de trabalho, enquanto que a postura estática associa-se à manutenção do

tônus dando base necessária à estabilização das estruturas centrais do corpo (escápulas, coluna

vertebral e pelve).

Para a Academia Americana de Ortopedia citada em 1986 por Knoplich, “postura é

um arranjo relativo das partes do corpo e, como critério de boa postura, o equilíbrio entre suas

estruturas de suporte (músculos e ossos), que as protegem contra uma agressão por trauma

direto ou deformidade progressiva por alterações estruturais. Já a má postura é aquela onde há

falha no relacionamento das várias partes do corpo, induzindo ao aumento de agressão às

estruturas de suporte produzindo um desequilíbrio nas bases de suporte corporal”. Postura

inadequada exigirá maiores forças internas para a execução de uma tarefa e postura correta

promove boas condições biomecânicas, o que leva um maior rendimento com relação à

energia localizada. O autor descreve que a postura estática exige, geralmente, baixos níveis de

tensão muscular e o estado prolongado de contração muscular produz compressão dos vasos

sangüíneos, reduzindo o fluxo de sangue e o fornecimento de oxigênio, o que leva ao

desconforto e à dor muscular, provocando fadiga mais rapidamente que a postura dinâmica.

Bienfait (1995) defende que, um corpo está em equilíbrio estável quando a vertical

traçada a partir de seu centro de gravidade cai no centro da base de sustentação e que o centro

de gravidade geral é resultante de todos os centros de gravidade segmentares em relação ao

peso, havendo tantos centros de gravidade quantas forem às posições em nossa estática. E as

curvaturas vertebrais não são as mesmas para todos os indivíduos diferenciando

principalmente pelas raças, especialmente as lombares, mais pronunciadas na raça negra do

que as da raça branca e na raça amarela geralmente ocorrem o inverso, isto é, uma inversão da

curvatura lombar. Os membros inferiores são a base sólida e estável da estrutura corporal na

postura em pé, constituindo a plataforma de apoio. Sua posição é que condicionam a forma, a

dimensão e a orientação da base de sustentação, cujas variações são elementos capitais na

estática do corpo humano, sobretudo, sua estabilidade. Enquanto o tronco é o elemento móvel

22

que desloca o centro de gravidade, controlado pela musculatura tônica; e a cabeça e o pescoço

controlam a coordenação do conjunto, onde a cabeça impera a verticalidade dela própria e a

horizontalidade do olhar.

A literatura aponta o cortador de cana-de-açúcar como um dos trabalhadores da área

agrícola que mais sofrem carga física durante suas atividades, pelas posturas adotadas durante

o corte manual da cana. A coluna vertebral sofre com essas posturas, pois em grande parte

delas este profissional trabalha em flexão e/ou rotação de tronco, porém são poucas as

referências bibliográficas sobre as conseqüências de má postura, sobrecargas posturais e

movimentos antifisiológicos durante essa atividade profissional.

De acordo com Adrian e Cooper (1995), o objeto de estudo da Biomecânica é o

sistema gestual, isto é, o movimento. Este estudo do sistema gestual consiste na análise da

interação do corpo, que realiza a ação, com o meio envolvente, ou seja, a Biomecânica

dedica-se ao estudo das ações dos diversos tipos de corpos, quer sejam partículas, corpos

rígidos ou, articulados. Mas, tomando sempre em consideração o meio envolvente e as suas

características particulares, como por exemplo, a existência da força da gravidade. Essa

interação entre o corpo e o meio far-se-á tomando como referência os vínculos do sistema,

isto é, as cadeias cinemáticas e os diversos graus de liberdade que o corpo apresente. As

cadeias cinemáticas permitem determinar que tipo de relação existe entre o corpo e o meio, se

é aberta ou fechada, determinado pela existência – ou não – de apoios fixos externos. Os

graus de liberdade permitem descrever a localização e a orientação dos corpos ou dos seus

segmentos no espaço. Em termos mais específicos, são considerados como objetivos da

Biomecânica:

a) Aumentar a eficiência técnica do sujeito: estudando e comparando os

desempenhos dos melhores com o desempenho dos indivíduos a quem se deseja

aumentar a eficiência; analisando as técnicas à luz dos princípios da Mecânica;

utilizando simulações computadorizadas; melhorando os equipamentos e os

materiais.

b) Diminuir a probabilidade de se verificarem lesões, do tipo crônico ou agudo,

decorrentes da atividade física.

23

A Biomecânica é a disciplina dedicada ao estudo do corpo humano considerando este

como uma estrutura que funciona segundo as leis da mecânica. A mecânica é a ciência

encarregada do estudo das forças e de suas ações sobre as massas (REBOLLAR, 1998).

Hammil e Knutzen (2000) definem a Biomecânica como “a ciência que aplica os

conhecimentos da Mecânica em sistemas vivos”. Nigg e colaboradores (1994) dizem que é a

ciência que examina as forças que atuam externa e internamente numa estrutura biológica e o

efeito produzido por essas forças, onde as forças internas são resultados da ação muscular.

2.4 Desenvolvimento de produtos para atividades agrícolas

Segundo Duncan (1996), cada fase de um projeto é marcada pela conclusão de um ou

mais produtos da fase (deliverables). Um produto é um resultado de um trabalho, tangível

verificável, tal como um estudo de viabilidade, um design detalhado ou um protótipo. Os

produtos e também as fases, compõem uma seqüência lógica, criada para assegurar uma

adequada definição do produto do projeto. A conclusão de uma fase geralmente é marcada

pela revisão dos principais produtos e pela avaliação do desempenho do projeto tendo em

vista determinar se o projeto deve continuar na próxima fase.

Ainda segundo o mesmo autor, cada fase normalmente inclui um conjunto de

resultados de trabalhos específicos, projetados com o objetivo de estabelecer um controle

gerencial desejado. A maioria destes itens está relacionada com o principal produto da fase.

As fases adotam tipicamente nomes provenientes destes itens: conceito, projeto detalhado,

especificação, testes e protótipos, lançamento e etc.

O desenvolvimento de produtos envolve um conjunto de atividades aplicados na

formação de novos produtos ou ao aperfeiçoamento de produtos já existentes. O

desenvolvimento de produtos é um processo não linear, possuindo etapas que poderão

retornar a fase anterior, por exemplo, durante o detalhamento do produto, talvez um

componente previsto não esteja disponível, logo é necessário retroceder para a etapa de

desenvolvimento e modificar o projeto (IIDA, 2005).

Clark e Wheelwrlght (1992) dividem o processo de desenvolvimento de produtos em

quatro fases: desenvolvimento do conceito, planejamento do produto, engenharia do

produto/processo e finalmente produção piloto/aumento da produção (Figura 2.1).

24

Fase

Desenvolvimento do

Conceito

Planejamento do Produto

Engenharia do Produto/Processo

Produção Piloto/Aumento da Produção

Aprovação do Programa

Conceito Liberação

Final de Engenharia

Primeiro Protótipo Projeto / Planejamento

Produto

Introdução Processo no Mercado

Produção piloto

Aumento da Produção

Figura 2.1 - Fases do desenvolvimento de produtos

Fonte: Clark e Wheelwrlght (1992)

As duas primeiras fases compreendem o desenvolvimento do conceito e o

planejamento do produto, onde incluem informações sobre as oportunidades de mercado, as

possibilidades técnicas e os requisitos de produção. Considera-se aqui o projeto conceitual, o

mercado alvo, os investimentos necessários e a viabilidade econômica. Para a aprovação do

programa de desenvolvimento de produto, o conceito deve ser validado através de testes e

discussão com potenciais clientes. Com o conceito aprovado, parte-se para o detalhamento da

engenharia e do processo de fabricação. Esta fase envolve o desenvolvimento do projeto, a

construção de protótipos e o desenvolvimento de ferramentas para produção. O detalhamento

de engenharia envolve o ciclo projetar, construir e testar, até atingir a maturidade necessária

para início da produção piloto. A liberação da versão final marca o final desta fase.

A fase de produção piloto compreende a construção e teste dos meios de produção.

Aqui são produzidas muitas unidades do produto com o objetivo de testar os planos de

processo desenvolvido.

A última fase compreende o aumento do volume de produção. Isso envolve o

refinamento do processo de produção, com aumento gradativo do volume até que a

organização e os fornecedores atinjam confiança no processo e estejam aptos a atingir as

metas planejadas de produção, custos e qualidade (CLARK; WHEELWRLGHT, 1992). As

25

fases de projeto de um produto incluem atividades que vão desde a geração de informações e

especificações de projeto para o produto, do desenvolvimento de idéias de como deveria ser e

parecer, como deveria operar, até a elaboração da documentação e desenhos completos,

contendo informações sobre as quais o produto será produzido (FORCELLINI, 2003).

Existem diversas outras divisões de fases do processo de desenvolvimento de produtos

defendidas por diversos autores. Como pode ser visto na tabela 2.1, não existem muitas

diferenças em relação às fases. Os conteúdos das fases também seguem praticamente o

conteúdo das fases de Clark e Wheelright (1992). Para bem executar as definições do produto,

propõe-se uma seqüência de etapas compondo uma evolução sistemática detalhando as fases

de definição do produto e estabelecendo cronologicamente as etapas do projeto informacional

e conceitual (BRAMBILLA, 2005). Tabela 2.1 - Conteúdos das fases de desenvolvimento de produtos

CLARK & WHEELRIGHT

(1992) COOPER (1990) MCGRATH et aI.

(1992) V ALERIANO

(1998) DUNCAN (1996) APQP (CHRYSLER CORPORA TION et

aI., 1995).

I. Desenvolvimento do conceito 2. Planejamento do Produto 3. Engenharia do Produto / Processo 4. Produção Piloto / Aumento da Produção

I. Avaliação preliminar 2. Detalhamento da idéia 3. Desenvolvimento 4. Validação e testes 5. Lançamento no mercado

0. Avaliação do conceito I. Planejamento e especificação 2. Desenvolvimento 3. Testes 4. Homologação do produto

A. Conceptual B. Planejamento e organização C. Implementação D. Encerramento

0. Exploração I. Conceitual e Definição 2. Demonstração e validação 3. Desenvolvimento de Engenharia e Fabricação 4. Produção

I. Planejamento 2. Desenvolvimento e Projeto do Produto 3. Desenvolvimento e Projeto do Processo 4. Validação do

Produto e do Processo

5. Feedback, Avaliação e Ação Corretiva

Fonte: Clark e Wheelright (1992)

26

CAPÍTULO 3 – MÉTODO DA PESQUISA

3.1 Metodologias científicas aplicadas à pesquisa

A metodologia é o estudo ou ciência do caminho, com a pretensão que este seja uma

trilha racional para facilitar o conhecimento, além de trazer implícita a possibilidade de, como

caminho, servir e poder ser utilizado para que diversas pessoas o possam percorrer, isto é, que

ele possa ser repetidamente e ilimitadamente seguido (MAGALHÃES, 2005).

Como é de conhecimento público, existem diversas metodologias de abordagem

científica para a pesquisa. No caso da presente proposta foi utilizada a análise pelo método do

Estudo de Caso, pois essa sistemática é a que de forma mais abrangente se apresenta no

tratamento das variáveis tais como a possibilidade de validação da análise ergonômica

postural, acompanhamento de todas as fases da análise e processo de trabalho e verificação da

eficiência e eficácia da análise através de valores finais palpáveis e definíveis (COOPER;

SCHINDLER, 2003).

Definindo Método, a palavra vem do Grego: METHODOS e por uma justaposição

entre: META e HODOS, significando ao longo do caminho. O Método depende do objeto de

pesquisa, do problema ao qual se propõe uma resolução e do objetivo da pesquisa

(MAGALHÃES, 2005).

A técnica é a forma de que se utiliza para percorrer o caminho acima descrito.

Consiste em diversos procedimentos ou na utilização de diversos recursos peculiares a cada

objeto de pesquisa, dentro das diversas etapas do método. Assim, um determinado método,

pode ser eventualmente executado por diferentes técnicas (SOARES, 2003).

3.1.1 Estudo de Caso É uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente,

determinada pela natureza e abrangência da unidade e pelos suportes teóricos que servem de

orientação aos trabalhos do investigador, pode ser utilizado para descrever o fenômeno em

estudo, desenvolver e testar a teoria. Em suma, trabalha sobre dados colhidos da realidade, e

utiliza-se de instrumentos como questionários para coleta de dados (DRAKE; GRAEME;

BROADBENT, 1998; RAMPAZZO, 2005).

27

3.1.1.1 Tipos de Estudos de Caso

Os estudos de caso podem ser identificados por:

Estudos de caso histórico-organizacionais: o pesquisador parte do conhecimento que

existe a respeito do objeto a ser estudado;

Estudos de caso observacionais: o pesquisador se utiliza técnicas de coleta de

informações como a observação participante, e outros;

Princípios ignorados no passado, hoje são abordados claramente para se realizar

estudos de caso de alta qualidade;

Utilização de várias fontes de evidência;

Criação de um banco de dados, que exige dos pesquisadores desenvolverem um banco

de dados formal apresentável, de forma que outros pesquisadores possam revisar as

experiências diretamente e não ficar a relatórios escritos;

Manutenção de um encadeamento de evidências, o que permite que um observador

externo siga a origem de qualquer evidência, indo das questões iniciais da pesquisa até

as conclusões finais da pesquisa qualitativa.

Os princípios citados acima deveriam sempre ser respeitados frente às fontes de

evidências citadas a seguir: documentação, registros em arquivo, entrevistas, observação

direta, observação participante, artefatos físicos, além de outras fontes como vídeos,

fotografias, filmes, técnicas projetivas, testes psicológicos; proxêmica, que compreende

aspectos culturais, comportamentais e sociológicos do espaço físico ao qual se estuda;

cinética, sendo o estudo do movimento corporal não verbal na comunicação, etnografia de rua

e histórias de vida (TRIVIÑOS, 1987).

3.1.2 Estruturas de Estudos de Caso

Estudos de caso podem seguir três tipos de estruturas de tópicos bem definidas:

Estrutura Cronológica, orientada por uma seqüência de capítulos e sessões que relatam

a história do estudo de caso;

28

Estrutura de Incertezas, que se trata de uma abordagem que apresenta uma ordem

invertida, as respostas e resultados são apresentados no capitulo inicial, sendo que o

restante do estudo, e suas partes mais incertas, são relatados nos capítulos e seções

subseqüentes;

A presente pesquisa obedeceu a uma Estrutura Analítica Linear, apresentando-se como

uma abordagem padrão representada por uma seqüência de tópicos organizados que

incluem o tema, o problema estudado, as metodologias utilizadas para a pesquisa,

revisão da literatura, ou seja, explanação da plataforma teórica de estudo, as técnicas

de coleta utilizadas, os resultados obtidos, conclusões e recomendações (MARTINS,

2006).

Para que o estudo de caso aconteça de forma organizada é importante que se siga um

planejamento e suas fases.

3.1.3 Planejamento e Desenvolvimento da Pesquisa para o Estudo de Caso

Esta sessão apresenta o processo utilizado para concepção e desenvolvimento da

pesquisa e das etapas a serem cumpridas para se obter os objetivos propostos, que forão:

Encadeamento de evidências;

Construção da teoria preliminar de pesquisa;

Determinação e formulação do problema da pesquisa;

Instrumento de coleta de dados;

Delimitação do perfil da amostra e universo estudado;

Formatação básica para as questões aplicadas ao instrumento de coleta de dados.

A presente pesquisa buscou analisar a atividade do corte de cana-de-açúcar,

experiência vivenciada em uma indústria Sucroalcooleira, denominada Companhia

Melhoramentos Norte do Paraná, situada na Região Norte do Paraná, na cidade de Jussara.

Empresa de médio porte do setor de produção de cana-de-açúcar, que vêm desenvolvendo

uma melhoria substancial voltada à saúde e segurança do trabalhador, através de uma

abordagem ergonômica.

29

A análise ergonômica do trabalho foi a metodologia utilizada em algumas etapas deste

estudo. Esta metodologia é composta de três fases principais: análise da demanda, análise da

tarefa e análise da atividade. No final de cada fase, os dados permitem formular hipóteses de

trabalho que delineiam os rumos a serem seguidos e que resultam em diagnóstico e

elaboração de recomendações ergonômicas.

Os dados foram obtidos através de uma avaliação em campo começando com a análise

da atividade exercida, ou da função exercida. Para isto, diferentes técnicas foram utilizadas,

tais como: observação direta, observação clínica, registro de variáveis fisiológicas,

cinesiológicas, antropométricas, ambientais, psicológicas, consolidando em uma coleta de

dados relacionados a informações gerais da empresa, levantamento das queixas, entradas

ambulatoriais, acidentes de trabalho e afastamentos.

A amostra do exame cinético funcional foi composta por uma população de 30

indivíduos, não sendo todos do mesmo sexo, apresentando idade média de 30 anos. A

identificação dos trabalhadores foi feita através de uma ficha com registro de nome completo,

idade, peso (Kg), estatura (cm), etc.

Os indivíduos foram orientados a executarem suas atividades normalmente, para que

pudessem ser observados os fatores biomecânicos e movimentacionais, pertinentes a

atividade, com elaboração de laudo fotográfico acompanhado de filmagem no local.

Foram utilizados métodos de apreciação ergonômica, em vista das dificuldades

operacionais e cinesiológicas dos funcionários. A partir disso, foram reconhecidas e

classificadas as principais atividades desenvolvidas, identificando os riscos ergonômicos, os

impactos ergonômicos (patologias, desconfortos, acidentes), e por meio de conclusões, foram

seguidas sugestões de modificações.

3.2 Proposta de modelo conceitual da pesquisa

Este capítulo apresenta a estrutura conceitual para o desenvolvimento da pesquisa

sobre: A análise ergonômica do cortador de cana-de-açúcar, evidenciando a postura adotada

para a retirada do ponteiro, analisando os fatores antropométricos, biomecânicos, fisiológicos

e anatômicos e a influência destes fatores no desenvolvimento de produto.

30

3.2.1 Formulação do Projeto de Pesquisa

Segundo Yin (2001) o projeto de pesquisa constitui a lógica que une os dados a serem

coletados às questões iniciais de um estudo. Cada estudo possui um projeto de pesquisa

implícito, se não explícito. O projeto de pesquisa é um plano de ação que guia o pesquisador

para atingir seus objetivos.

Análise Antropométrica: A antropometria segundo Pheasant (1998), é o ramo das Ciências

Sociais que lida com as medidas do corpo, particularmente com o tamanho e a forma.

Análise Biomecânica Ocupacional: Segundo Chaffin e Anderson apud Salvendy (1997) a

biomecânica ocupacional é o estudo da interação física dos trabalhadores com seus

instrumentos, máquinas e materiais para aumentar o desempenho, enquanto minimiza os

riscos de lesões músculo-esqueléticas.

Análise Fisiológica Ocupacional: A fisiologia é o ramo da biologia que estuda as múltiplas

funções mecânicas, físicas e bioquímicas nos seres vivos. De uma forma mais sintética, a

fisiologia estuda o funcionamento do organismo. A avaliação geral da carga física do

trabalhador pode ser feita a partir de uma série de informações sobre: aptidões físicas do

trabalhador, o que é feito, como é feito, qual a postura adotada, quais seus movimentos, qual o

custo fisiológico da tarefa e como o trabalhador percebe individualmente a situação

(GUIMARÃES, 2006).

Análise Anatômica Ocupacional: Anatomia é a parte da biologia que estuda a forma e a

estrutura dos seres organizados, bem como as relações entre os órgãos que os constituem. É

uma palavra de origem grega que significa cortar em partes (ana: cortar e tomia: em partes).

Em português tem-se o mesmo significado a palavra “dissecação” (DELIBERATO, 2002).

Suas etapas foram delineadas e estruturadas conforme ilustra o modelo conceitual da

pesquisa (Figura 3.1).

31

Figura 3.1: Modelo Conceitual da Pesquisa

Fonte: O autor.

Formulação do Problema da Pesquisa

Uma pesquisa bibliográfica preliminar foi realizada sobre o tema - O

Desenvolvimento de Produtos utilizados no corte de cana-de-açúcar em uma Usina de Álcool

- com o objetivo de levantar os estudos realizados até o momento e averiguar a

disponibilidade de material bibliográfico sobre o assunto. A relevância do tema já foi

ANÁ LISE ANTROPOMÉTRICA

ANÁLISE BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

ANÁLISE ERGONÔMICA

ANÁLISEANATÔMICA

PROJETO INFORMACIONAL: INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE

ERGONÔMICA

ANÁLISE DOS CONCEITOS

PROJETO CONCEITUAL: GERAÇÃO DE CONCEITOS

POSTURA ADOTADA PARA O CORTE DE CANA DE AÇÚCAR

32

apontada no Capítulo 1. No levantamento bibliográfico preliminar identificou-se carência de

estudos sobre o tema, confirmada por diversos pesquisadores.

O problema foi formulado como sendo compreender as características dos produtos

utilizados para o corte de cana-de-açúcar e a influência deste na vida do trabalhador,

identificando as principais práticas utilizadas na atualidade.

Definição da Unidade-Caso e do Número de Casos

Visando a qualidade da pesquisa, buscou-se o estudo de caso. O critério para escolha

da empresa estudada foi por ser de grande porte na área de produção cana-de-açúcar e

destilaria de álcool, e estar localizada na Região Norte do Paraná, a qual tem um processo de

ergonomia em andamento e apresenta preocupação com o aperfeiçoamento dos instrumentos

fornecidos a seus colaboradores, dentro de uma óptica ergonômica.

Instrumento de Coleta de Dados

A análise em campo começa com a análise ergonômica da atividade de trabalho, ou da

função exercida. Para isto diferentes técnicas foram utilizadas, tais como: observação direta,

observação clínica, registro de variáveis fisiológicas, cinesiológicas, ambientais, psicológicas,

consolidando em uma coleta de dados relacionados a informações gerais do trabalhador. Deve

ser ressaltada sempre a importância de a análise ser participativa, não devendo ser limitada a

uma simples coleta de opiniões, mas servindo de grande auxílio na descrição da realidade do

trabalho, das atividades perceptivas, cognitivas e motoras dos mesmos, sendo esta uma forma

de validar as informações. A seguir descreve-se a proposta do modelo conceitual da pesquisa

conforme o quadro 3.1.

33

Quadro 3.1: Bloco de questões

Fonte: O Autor

Bloco 1: Consiste na observação direta da atividade de trabalho durante diversos períodos do

expediente normal, realizadas no campo de trabalho, a fim de conhecer todas as fases do seu

processo, equipamentos, instrumentos, metodologia e processo organizacional, assim como a

influência de fatores ambientais sobre a vida do trabalhador;

Bloco 2: Elaboração e realização de Laudo Fotográfico acompanhado de filmagem no local,.

Bloco 3: Aplicação do Censo de Ergonomia, sendo este uma ferramenta formulada à base de

questionário podendo ser auxiliada por entrevista, através da qual o trabalhador expressa sua

percepção a respeito do posto de trabalho e da atividade que executa, informando se sente ou

não desconforto, dificuldade ou fadiga, em que intensidade, se está relacionado ou não ao

trabalho que executa e, ao mesmo tempo, dá sugestões do que melhorar.

BLOCOS DE QUESTÕES

TEMA

BLOCO 1

Observação direta da atividade de trabalho

BLOCO 2

Elaboração de Laudo Fotográfico

BLOCO 3

Aplicação do Censo de Ergonomia

BLOCO 4

Aplicação do Check List das características dos

instrumentos utilizados

BLOCO 5

Realização do Exame Clínico Funcional

BLOCO 6

Análise Antropométrica da população trabalhadora

BLOCO 7

Análise Biomecânica / Postural

BLOCO 8

Reconhecimento e classificação dos itens anteriores

34

Bloco 4: Aplicação do Check List das características dos instrumentos utilizados para o corte de

ponteiro, onde esta ferramenta é formulada à base de questionário, onde o colaborador irá

marcar sim ou não, através da qual irá relatar as características de seu instrumento de trabalho.

Bloco 5: Realização de Exame Clínico Cinético Funcional, o qual é composto por anamnese,

avaliação clínica e avaliação física para classificação do perfil do funcionário ideal e adequado

para a atividade, de acordo com o sexo, a idade, estatura, força muscular, flexibilidade, IMC

(índice de massa corpórea), peso, altura, avaliação postural e testes ortopédicos direcionados ao

diagnóstico complementar a possíveis lesões existentes.

Bloco 6: Análise Antropométrica da população trabalhadora, através da medição de

comprimentos, profundidades e circunferências corporais, onde os resultados obtidos podem ser

utilizados para a concepção de postos de trabalho, equipamentos e produtos que sirvam as

dimensões da população utilizadora.

Bloco 7: Análise Biomecânica / Postural da população trabalhadora, através da avaliação das

posturas, gestos, alavancas de movimento. Posturas estáticas e dinâmicas, registradas durante a

atividade.

Bloco 8: Reconhecimento e classificação, a partir dos itens anteriores, das principais

características da atividade desenvolvida, identificando os riscos e os impactos ergonômicos

(patologias, desconfortos, acidentes), e por meio de conclusões, são seguidos sugestões de

modificações, com a finalidade de aliviar os males detectados. Propõe-se que na fase de

sugestões, devem ser apresentadas e discutidas a viabilidade das medidas corretivas com a

gerência e/ou direção da empresa, com o objetivo de se firmar um compromisso que constituirá

a base dos trabalhos de mudanças das condições atuais. Será utilizada para avaliação do corte de

cana-de-açúcar métodos de apreciação ergonômica segundo Moraes e Mont’Alvão (2003), em

vista das dificuldades operacionais e cinesiológicas dos funcionários.

35

3.2.2 Equipamentos Utilizados na Avaliação

Para a realização da avaliação da força física dos membros superiores, inferiores e

tronco, serão utilizados dinamômetros da marca Crown capacidade 200kgf - divisões 1000gf

para membros inferiores e capacidade 50kgf - divisões 500gf para membros superiores. Para a

filmagem e fotos locais será utilizada uma câmera filmadora da marca Sony mini-dv HC-40.

A análise antropométrica será realizada através do software Antroprojeto da Universidade

Federal de Juiz de Fora do curso de Engenharia de Produção.

36

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE ERGONÔMICA BASEADA NO MODELO CONCEITUAL

PROPOSTO ATRAVÉS DO ESTUDO DE CASO

Este capítulo apresenta o desenvolvimento da pesquisa baseado no modelo conceitual

apresentado no capítulo 4, expondo os elementos que foram abordados para a realização do

Estudo Ergonômico, a formação do instrumento de coleta de dados, organização em blocos

dos diversos temas e a delimitação da amostra estudada. Os subítens a seguir abordarão o

trabalhador do corte manual de cana-de-açúcar, as ferramentas e equipamentos de proteção

individual utilizados na atividade do corte e a análise ergonômica do trabalho com enfoque

anatômico, biomecânico e antropométrico.

Na presente pesquisa foi utilizado o modelo de coleta qualitativa de dados: estudo de

caso, como já descrito no capítulo 2. Não havia um modelo teórico pré-organizado ou

acabado, as vivências da pesquisa deram ao pesquisador, subsídios para formatar as

proposições iniciais para uma teoria preliminar, que indicaram aspectos principais da estrutura

e processo da situação que se propôs avaliar gerando uma teoria substantiva, que representa a

realidade dos cortadores de cana-de-açúcar e as situações em suas atividades diárias

observadas (corte manual). Sendo assim, iniciou-se por uma coleta e análise seletiva de dados

a fim de gerar teoria (GLASER, 1992).

A coleta de dados da pesquisa foi realizada com a observação dos trabalhadores na

execução do corte manual de cana-de-açúcar na empresa: Companhia Melhoramentos Norte

do Paraná, e foi relevante, sobretudo, a título de identificar o problema do estudo na situação

real vivida em campo. Este procedimento auxiliou na criação do escopo do instrumento de

coleta de dados, traduzido nas dificuldades e conjunto de funcionalidades destinadas aos

produtos utilizados para o corte manual da cana-de-açúcar, durante sua atividade em campo

(ROSENFELD et al., 2006).

Foram observadas as diversas atividades do corte manual de cana-de-açúcar,

documentando-as através da utilização de máquina fotográfica e filmadora digital, em breves

tomadas do movimento do ato do corte na retirada do ponteiro, integrando a situação vivida

ao suporte bibliográfico de ergonomia, numa periodicidade de uma vez por semana, durante

duas horas, por um período de três meses.

37

4.1 O Corte Manual de Cana-de-Açúcar

Os produtos derivados da cana-de-açúcar abrem um mercado grande às exportações

brasileiras, e ainda constitui uma das opções freqüentes de emprego e renda, especialmente,

para os trabalhadores envolvidos nas colheitas.

Dentro do processo produtivo as atividades da colheita manual da cana-de-açúcar são

consideradas muito importantes, devido ao grande número de trabalhadores envolvidos e o

desgaste físico decorrente desta atividade. Ao contrário de outros países como a Austrália,

onde se predomina o método de colheita mecanizada, no Brasil a colheita é realizada

principalmente pelo método manual, com expressivo uso de mão de obra de baixa

qualificação.

A agroindústria canavieira emprega um milhão de brasileiros no corte da cana-de-

açúcar, e mais de 80% do que é colhido é cortado à mão, segundo União da Agroindústria

Canavieira de São Paulo (UNICA, 2004). O corte é precedido da queima da palha da planta,

tornando o trabalho mais rápido e rentável para o trabalhador, porém, muitas vezes, o corte é

feito com a cana crua, principalmente quando a cana-de-açúcar é destinada ao plantio.

O corte manual da cana-de-açúcar, segundo informações da Coopersucar (1980), é

caracterizado por movimentos repetitivos dos braços, pernas e tronco. Alessi e Scopinho

(1994) indicam que um cortador de cana-de-açúcar do sexo masculino pode alcançar a

produção máxima de 14 toneladas/dia e do sexo feminino 10 toneladas/dia.

Para compreender o processo de trabalho, detectar a presença e a importância destes

problemas no setor, e garantir a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, buscaram-se enquadrar

esta atividade dentro de um contexto ergonômico, a fim de contribuir para a melhora do

processo de trabalho da empresa. O método da análise ergonômica do trabalho possibilita

identificar, diagnosticar e propor medidas para a resolução dos problemas que afetam o

desempenho das pessoas em seu trabalho.

4.1.1 O trabalhador do corte manual de cana-de-açúcar da Companhia Melhoramentos Norte

do Paraná

O trabalhador do corte manual da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (Figura

4.1) tem como principais atividades: cortar a cana para moagem conforme padrão

estabelecido pela empresa (4.1.a e 4.1.c), alinhar a esteira para facilitar o carregamento

(4.1.b), realizar a retirada do ponteiro da cana (4.1.d), afiar o facão conforme a necessidade.

38

Os meios utilizados para a realização destas atividades são: facão, lima, enxada, enxadão,

foice e creolina. Tendo como responsabilidade cortar e plantar cana, garantindo o

abastecimento do produto para transporte até a indústria. As competências necessárias

exigidas são agilidade e destreza manual e a instrução mínima é de 1º grau incompleto.

a – Corte manual da cana para moagem b – Separação do ponteiro da cana após

corte utilizando os pés, para alinhamento da esteira

c – Corte manual da cana para moagem d - Corte manual da retirada do ponteiro

Figura 4.1 – O Trabalhador e os Processos do Corte Manual de Cana-de-Açúcar

Fonte: O Autor

Para análise das características da população estudada, realizou-se o Exame Cinético

Funcional (anexo), referente ao bloco 5 do capítulo 3, utilizando-se de uma amostra de 30

colaboradores, sendo 15 do sexo masculino (Tabela 4.1) e 15 do sexo feminino (Tabela 4.2).

Os cortadores foram escolhidos e encaminhados pela empresa, tendo como característica a

quantidade de corte de cana / colaborador. O número de colaboradores foi determinado pela

39

empresa, sendo proporcional a 01 (uma) turma de corte de cana. Limitou-se a 30

colaboradores devido ao tempo destinado à realização do exame, uma vez que todos os

colaboradores estavam em atividade e de difícil deslocamento. A população total do corte

manual de cana-de-açúcar é representada por 600 colaboradores.

Tabela 4.1 – População Masculina

Características da população estudada Mínima Máxima

Idade 25 46

Peso (Kg) 56,40 86,70

Altura 1,62 1,86

Corte / dia (toneladas) 6,22 15,58

IMC (Índice de Massa Corpórea) 20,20 (normal) 28,97 (sobrepeso) Fonte: O Autor

Tabela 4.2 – População Feminina

Características da população estudada Mínima Máxima

Idade 26 47

Peso (Kg) 54,30 90,30

Altura 1,50 1,72

Corte / dia (toneladas) 4,92 10,10

IMC (Índice de Massa Corpórea) 22,90 (normal) 34,84 (obesidade grau 1) Fonte: O Autor

Durante a anamnese, os colaboradores de ambos os sexos foram questionados sobre a

presença de dores musculares e câimbras, uma vez que é adotada por longo período a postura

em pé e realizado esforço físico em membros inferiores com a movimentação das pernas para

separação do ponteiro de cana e limpeza do eito, levando a um alto desgaste físico do

trabalhador. Como resposta, 48% dos trabalhadores disseram não apresentar queixas de dor,

36% com leves dores e 16% com dores em maior intensidade e contínua. No questionamento

40

sobre câimbras, 30% da população disse apresentar câimbras durante a execução da atividade.

Em relação as queixas apresentadas acima (dor e câimbra), os trabalhadores relataram

melhora, se comparado a anos anteriores, após implantação do programa de ginástica laboral e

fornecimento por parte da empresa de complementos alimentares para reposição energética.

4.2 Instrumentos e Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) durante o Corte

Manual de Cana-de-Açúcar

A análise das ferramentas de trabalho e equipamentos de proteção individual dos

cortadores manuais de cana-de-açúcar foi escolhida como um dos objetos deste estudo,

analisando assim suas condições atuais e/ou necessidade de adequação, a fim de facilitar o

trabalho no corte manual da cana, tornando-os mais seguros e confortáveis, reduzindo os

inúmeros problemas gerados durante a execução da atividade.

A atividade de trabalho significa o trabalho real efetivamente realizado pelo indivíduo,

a forma pela qual ele consegue desempenhar as suas tarefas levando em conta suas

características pessoais, experiência e treinamento.

Na Análise dos Equipamentos de Proteção Individual é de fundamental importância

considerar a diversidade das características físicas dos usuários, tais como: as antropometria

(dimensões dos segmentos corporais), o uso das mãos (destros e canhotos), dificuldades de

visão e os riscos reais durante a execução da atividade. Estes são fatores de suma importância

para se avaliar a eficácia dos equipamentos de proteção individual, já que o seu uso deve ser

contínuo durante toda a jornada de trabalho.

Foram fornecidos pelo setor de segurança do trabalho da empresa os dados relativos às

descrições técnicas referentes aos Equipamentos de Proteção Individual distribuídos na safra

do ano 2007, com base nas informações fornecidas por seus fabricantes.

4.2.1 Óculos de Segurança

O subitem II do item 4.3 da Norma Regulamentadora Rural nº 4 estabelece proteção

dos olhos e face e, no seu subitem b são contemplados os trabalhos que possam causar

41

ferimentos provenientes de impacto de partículas, ou de objetos pontiagudos ou cortantes. A

atividade dos cortadores de cana-de-açúcar está inserida neste subítem, já que no ambiente de

trabalho há presença de folhas pontiagudas, fuligem e poeira. Os óculos de proteção

fornecidos na safra 2007 / 2008 foram confeccionados em nylon, cor preta, visor em tela

metálica com pintura de epóxi na cor preta, com proteção lateral total em nylon perfurado ou

tela metálica, com opção de haste inteira ou meia haste com elástico, tamanho do aro 50 mm e

segundo informações dos fabricantes a durabilidade mínima dos óculos é de 1 ano (Figura

4.2).

Figura 4.2 – Óculos de Segurança Nylon Fonte: O Autor

Os óculos de proteção propostos para a safra 2009 são constituídos de um arco de

material plástico azul, com canaleta, dividido em duas partes pela ponte e apoio nasal,

plaquetas de borracha maleável incolor são encaixadas em quatro pinos localizados no apoio

nasal. As duas partes do arco suportam lentes confeccionadas em policarbonato incolor ou

cinza, lente protegida contra riscos e arranhões, encaixe nas canaletas do arco. As hastes são

confeccionadas do mesmo material do arco e são articuladas nesta através de parafusos

metálicos, design universal para adaptação no septo nasal e haste com design anatômico para

ajuste ao redor do pavilhão auricular (Figura 4.3).

42

Figura 4.3 – Óculos de Segurança Policarbonato Fonte: O Autor

4.2.2 Proteção para Rosto e Cabeça (Boné ou Toca Árabe) - Vestimenta de Segurança tipo

Capuz

Equipamento de proteção utilizado pelo cortador de cana-de-açúcar, modelo: Toca

Árabe com aba, abertura facial, saia de proteção e fechamento em velcro (Figura 4.4).

Utilizada devido atividade ser realizada em ambiente aberto (o canavial), onde ocorre

exposição ao sol, chuva e outras intempéries.

Figura 4.4 – Touca Árabe Fonte: O Autor

43

4.2.3 As Luvas de Proteção

O item 4.3 subitem V da Norma Regulamentadora Rural n ° 4 estabelece a proteção

para os membros superiores e, no seu subitem a são contempladas as atividades em que haja

perigos ocasionados por materiais escoriantes, abrasivos, cortantes e perfurantes. A atividade

dos cortadores de cana-de-açúcar se insere neste subitem, pois na execução da atividade é

necessário o uso do facão. Para a mão que abraça o feixe de cana, a luva de segurança é

confeccionada em vaqueta, com tira de fios de aço na região dorsal da mão, reforço em

vaqueta entre o polegar e o indicador, e reforço interno em vaqueta na palma. As luvas têm

tamanho único e sua durabilidade mínima é de 15 dias durante o período da safra (Figura 4.5)

Figura 4.5 – Luva para a mão que abraça o feixe de cana Fonte: O Autor

Já para a mão que segura o facão, a luva é do modelo previlon tricotada em fios de

poliéster e poliamida revestida com borracha natural na palma e com reforço entre polegar e

indicador. Sua durabilidade mínima é de 15 dias durante o período da safra (Figura 4.6).

Figura 4.6 – Luva para a mão que segura o facão Fonte: O Autor

44

4.2.4 Perneiras de Proteção

A Norma Regulamentadora Rural nº 4 estabelece proteção para os membros inferiores,

no seu subitem d são contemplados os trabalhos que possam causar ferimentos provocados

por materiais cortantes, escoriantes ou perfurantes. A atividade dos cortadores de cana-de-

açúcar também está inserida neste contexto, já que o trabalho é executado com uma

ferramenta cortante.

A perneira utilizada pela empresa para a realização desta atividade é confeccionada em

couro sintético com 03 almas de polipropileno, proteção de fios de aço no joelho e proteção

de fios de aços no dorso do pé, ventilada, com costura eletrônica, ilhos na base para fixação

do pé, aberta e fechamento com fivela na região da panturrilha. Sua durabilidade mínima de

proteção é de 6 meses (Figura 4.7).

Figura 4.7 – Perneira de proteção Fonte: O Autor

4.2.5 Calçado de Segurança

No corte manual da cana-de-açúcar a proteção dos membros inferiores é de

fundamental importância. A Norma Regulamentadora Rural nº 4 no subitem b do item VI

preconiza “o uso de biqueira de aço como proteção contra queda de materiais, objetos

pesados e pisão de animais”, porém, existem outros riscos na atividade de cortar a cana que

45

não foram mencionados na norma como, por exemplo, proteção contra material cortante ou

perfurante.

O calçado de segurança fornecido tem diversos tamanhos, que variam do n° 34 até nº

45, é confeccionado com elástico lateral, solado em P.U (Poli uretano), bi-densidade, na cor

preta, com biqueira de aço, protetor de metatarso, palmilha anti-bactericida, sua durabilidade

mínima é de 06 meses a 01 ano (Figura 4.8).

Figura 4.8 – Calçado de Segurança Fonte: O Autor

4.2.6 O mangote

O mangote é um equipamento de proteção individual não exigido especificamente na

Norma Regulamentadora Rural nº 4 - Equipamento de Proteção Individual; em função disto,

mesmo assim a empresa oferece a todos os trabalhadores, a fim de aumentar ainda mais a

proteção do braço do trabalhador durante o corte da cana-de-açúcar. Ele é confeccionado em

tecido do tipo elanca, na cor azul, com reforço de 240g/m2, acolchoada no braço, em tamanho

G (Figura 4.9). Este equipamento aumenta a proteção e diminui o desgaste do trabalhador no

momento em que este abraça o feixe de cana.

46

Figura 4.9 – Mangote Fonte: O Autor

4.2.7 Instrumentos de Trabalho

Os instrumentos de trabalho fornecidos pela empresa para o corte da cana-de-açúcar

são os seguintes: lima, facão e protetor de lima. A lima é utilizada pelos trabalhadores para

fazer a manutenção do fio do facão, condição necessária para executar o corte. Esta

ferramenta é acompanhada de um protetor de lima, que permite amolar o facão, protegendo os

dedos dos trabalhadores, sua durabilidade mínima é de 06 meses (Figura 4.10).

Figura 4.10 – Protetor de lima com lima para afiar o facão Fonte: O Autor

47

O facão fornecido pela empresa apresenta as seguintes características: cabo em

madeira do tipo marfim, fixado com rebites de ferro maciço, tamanho único, a lâmina é em

aço alto carbono, com adicional de cromo, modelo denominado “Peito de pombo” (Figura

4.11). Os trabalhadores apontaram problemas relacionados ao tamanho e formato do cabo do

facão.

Figura 4.11 – Facão para corte manual Fonte: O Autor

4.3 Análise ergonômica do trabalho aplicada ao corte manual da cana-de-açúcar

baseada no modelo conceitual

A análise ergonômica do trabalho nesta pesquisa buscou abranger fatores que

oportunizam identificar situações que levam a melhorar ou, pelo menos, amenizar as

condições de trabalho, otimizando a produção, satisfazendo o trabalhador, melhorando o

conforto oferecido e aumentando a produtividade da organização.

Ela descende da escola francesa de Ergonomia, que tem como objetivo a adaptação do

trabalho ao homem (WISNER, 2004). É centrada sobre as atividades dos operadores,

estudando em campo as situações entre o trabalho e o ser humano sob o ponto de vista real.

A Análise Ergonômica do Trabalho então, é um modelo metodológico de intervenção

e de transformação capaz de apreender a complexidade existente na relação do homem com o

trabalho, sem colocar em prova um modelo escolhido a priori (WISNER, 2004).

48

Esta análise é uma ferramenta básica no funcionamento e gestão de uma empresa.

Seus resultados permitem ajudar na concepção efetiva dos meios materiais, organizacionais e

de formação, auxiliando o alcance dos objetivos planejados, com a preservação do estado

físico, psíquico e vida social do trabalhador (BALBINOTTI, 2003).

Para Lima (1992), esta abordagem permite avançar na compreensão da gênese de

doenças e outros efeitos negativos presentes na situação de trabalho, pela constituição da

questão saúde/trabalho em torno da atividade real dos trabalhadores. Para este autor, o

conhecimento do que se pode chamar de "ponto de vista da atividade" fornece uma leitura

original da forma como os trabalhadores se relacionam com o ambiente de trabalho e constitui

um princípio que deve orientar a sua transformação. As mudanças então, que se efetua no

trabalho, se dão segundo as necessidades dos trabalhadores e não segundo a lógica econômica

estreita que predomina atualmente.

De acordo com Ferreira et al. (1998), a ergonomia interessa-se pelo estudo dos

aspectos presentes na situação de trabalho não de forma isolada, mas em sua relação com um

determinado tipo de fazer. Esta forma de abordar a atividade torna-se crucial para o

entendimento das Lesões por Esforços Repetitivos, já que não são apenas as características

das atividades desempenhadas pelos trabalhadores (movimentos repetitivos, forças

excessivas, posturas inadequadas) que levam aos seus aparecimentos, mas sim a inter-relação

destas com os diversos fatores presentes na situação de trabalho, cuja compreensão não pode

se dar sem a mediação da atividade de trabalho.

Portanto, a ergonomia através do estudo da atividade dos indivíduos em situações reais

de trabalho, pode compreender como eles utilizam suas capacidades psico-fisiológicas para

executar as tarefas propostas e podem ter como conseqüência, sua saúde e desempenhos

comprometidos.

Como lembra Guérin et al. (1997), para atender as tarefas propostas, os indivíduos

elaboram estratégias originais, assim, as conseqüências sobre a saúde dos trabalhadores não

devem ser abordadas apenas em termos de fatores de risco. Torna-se fundamental observar o

papel ativo do trabalhador na construção de modos operatórios que não sejam desfavoráveis à

sua saúde.

A Análise Ergonômica do Trabalho é uma metodologia que possibilita através do

ponto de vista da atividade, compreender e correlacionar os determinantes das situações de

trabalho com as suas conseqüências para os trabalhadores e para o sistema de produção

(GUÉRIN et al., 1997).

49

A atividade de trabalho do cortador de cana-de-açúcar traz conseqüências múltiplas

para as empresas e para os trabalhadores. Segundo Guérin et al. (1997), a analise ergonômica

permite à empresa compreender as dificuldades encontradas em um determinado lugar e

identificar os pontos que devem ser objeto das transformações dessas situações de trabalho.

Nesta pesquisa foram usadas as técnicas de: observação direta ou aberta (pesquisador),

observação indireta ou sistemática (fotografia e filmagem) e entrevista dirigida (do tipo semi

estruturada).

Em um primeiro momento foi realizada uma pré-análise, aplicando-se um check list

(Bloco 4 – capítulo 3) para avaliação dos instrumentos / equipamentos e condições de

trabalho na atividade do corte da cana-de-açúcar na Companhia Melhoramentos Norte do

Paraná, com uma amostra de 190 colaboradores, a fim de coletar dos próprios usuários os

benefícios e prejuízos na utilização dos equipamentos e ferramentas fornecidos, e dados

particulares de sua atividade. Os dados coletados e seus respectivos resultados são

apresentados a seguir:

Tabela 4.3 – Check List quanto à utilização dos equipamentos e ferramentas

Questões Sim Não

1. Você já trabalhou em outra empresa no corte manual de cana? 64% 36%

2. Você realiza adaptações no facão que é utilizado para o corte de cana? 84% 16%

3. Você compra outro facão, substituindo o que é dado pela empresa? 5% 95%

4. Você compra outro cabo, substituindo o que é dado pela empresa, utilizando apenas a lâmina da empresa? 64% 36%

5. Você compra outra lâmina, substituindo a que é dada pela empresa, utilizando apenas o cabo da empresa? 5% 95%

6. Você possui mais que um facão para a realização do trabalho? 9% 91%

7. Você utiliza o “gancho” para auxiliar no corte do ponteiro da cana? 18% 82%

Mais

Leve

Mais

Pesado

8. Você prefere utilizar em seu trabalho facão mais leve ou mais pesado? 37% 63%

Fonte: O Autor

50

22%

69%

9%

Tempo de trabalho em outra empresa

menos que 01 ano

entre 01 e 05 anos

entre 06 e 10 anos

26%

57%

17%

Adaptação realizada no cabo pelo trabalhador

Emborracha o cabo

Troca o arrebiti do cabo por parafusos

Desgasta o cabo, modificando a sua forma

60%27%

13%

Adaptação realizada na lâmina pelo trabalhador

Curva a lâmina

Desgasta a ponta da lâmina

Curva a lâmina e desgasta a ponta da lâmina

4%24%

28%

27%

11%6%

Tempo que trabalha na atividade do corte manual

menos de 01 ano

Entre 01 e 5 anos

Entre 06 e 09 anos

Entre 10 e 15 anos

Entre 16 e 20 anos

mais de 21 anos

Figura 4.12 – Resultados do Check List quanto à utilização dos equipamentos e ferramentas Fonte: O Autor

51

3% 2%

29%

2%

2%

2%

2%

58%

Propostas de melhorias

Substituição do óculos de telinha por outro modelo

Melhor adaptação da perneira com a perna

Luvas mais confortáveis e duráveis (como as de fio de aço utilizadas antigamente)

Utilização do óculos de telinha

Qualidade do material dos tecidos das luvas (melhor reabsorção)

Fornecer o gancho

Substituição do modelo da perneira facilitando sua colocação e retirada, apresentando apenas o velcro na parte posterior

Sem sugestões

Figura 4.13 – Propostas de melhorias obtidas no Check List quanto à utilização dos equipamentos e ferramentas

Fonte: O Autor

Os resultados obtidos neste Check List (quanto à utilização dos equipamentos e

ferramentas) mostraram que:

A) Da população estudada, 28% estão na atividade do corte manual da cana-de-açúcar

entre 06 e 09 anos, 27% entre 10 e 15 anos, 24% entre 01 e 05 anos, 17% acima de

15 anos e 4% abaixo de 01 ano (Figura 4.12.A);

B) 64% desta população já trabalharam em outra empresa, na atividade de corte

manual, 36% iniciaram suas atividades e permanecem nesta mesma empresa

(Tabela 4.3);

C) Dos entrevistados que já trabalharam em outra empresa, o tempo predominante de

69% desta população foi entre 01 a 05 anos (Figura 4.12.B);

52

D) Quando questionados se realizavam algum tipo de adaptação, 84% alegaram

adaptar (Tabela 4.3);

E) 60% dos que adaptam o facão, disseram que curvam a lâmina, facilitando assim

com que a mesma fique bem próxima e paralela ao solo (Figura 4.12.C);

F) Quanto ao cabo, 57% disseram que trocam o arrebite do cabo, aumentando assim a

firmeza do cabo, impedindo que a lâmina fique solta; 26% disseram que também

costumam emborrachar o cabo do facão, aumentando a aderência da mão no cabo

do facão (Figura 4.12.D);

G) De toda a população avaliada, 95% disseram utilizar o facão fornecido pela

empresa, utilizando todo o conjunto (cabo e lâmina). Dos que relataram substituir

alguma parte, 5% substituem a lâmina e 64% substituem o cabo (Tabela 4.3);

H) 9% utilizam mais do que 01 facão para o corte, denominando como facão

substituto (Tabela 4.3);

I) Com relação à retirada dos ponteiros de cana, 18% disseram utilizar um gancho

adaptado com um galho de árvore de madeira ou cabo de vassoura com vergalhão

na ponta, a fim de favorecer o processo (Tabela 4.3);

J) E quando questionados sobre o tipo de facão que eles preferiam utilizar no corte,

63% afirmaram que o facão mais pesado é melhor para a realização da atividade,

por colocarem menos força no momento do golpe e cortarem a cana com maior

facilidade (Tabela 4.3).

4.4 Análise Antropométrica da Retirada dos Ponteiros no Corte Manual de Cana-de-

Açúcar

A ergonomia é a ciência do trabalho e envolve as pessoas que o fazem, a forma como

é feito, as ferramentas que elas usam, os lugares em que elas trabalham e os aspectos

psicossociais das situações de trabalho (PHEASANT, 1998).

53

De maneira bastante simplificada pode ser entendida como a adaptação do trabalho ao

homem. Segundo a Ergonomics Research Society, “Ergonomia é o estudo do relacionamento

entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos

conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse

relacionamento” (IIDA, 1990).

A antropometria tem como objetivo levantar dados das diversas dimensões dos

segmentos corporais (SANTOS, 1997).

Em uma análise temporal da antropometria e suas interfaces com a Biomecânica e

Cineantropometria, podem ser considerados diferentes parâmetros comuns em ambas. Na

cronologia, parte-se da semântica da palavra, seguindo-se então para a sua evolução histórica,

finalidades, características e aplicações.

Muito embora à antropometria tenha sua sustentação feita modernamente, a história

mostra ser antiga a preocupação do homem em mensurar o corpo, e, ao longo do tempo as

proporções do corpo foram estudadas por filósofos, artistas, teóricos, e arquitetos.

Neste trabalho realizou-se uma análise antropométrica da população (Bloco 6 do

capítulo 3), tendo por objetivo apresentar as diferentes características físicas dos trabalhadores

e medidas que serviram como referência para o desenvolvimento de produtos na retirada do

ponteiro no corte de cana-de-açúcar, enquanto método de medição em biomecânica. A

amostra foi composta por 30 colaboradores, 15 do sexo masculino e 15 do sexo feminino, os

mesmos citados anteriormente no exame cinético funcional, onde a altura da população do

sexo masculino variou entre 1,62 e 1,85 metros. (Figura 4.14 e 4.15 - Medidas propostas pelo

Software Antroprojeto), de acordo com as respectivas estaturas citadas:

54

Figura 4.14 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,62 mts Fonte: Software Antroprojeto

Figura 4.15 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,86 mts Fonte: Software Antroprojeto

55

Já a altura da população do sexo feminino estudada variou entre 1,50 e 1,72 metros

(Figura 4.16 e 4.17 - Medidas propostas pelo Software Antroprojeto):

Figura 4.16 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,50 mts Fonte: Software Antroprojeto

Figura 4.17 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,72 mts Fonte: Software Antroprojeto

56

4.5 Análise Biomecânica da Retirada dos Ponteiros no Corte Manual de Cana-de-

Açúcar

A análise biomecânica (Bloco 3 e 5 do capítulo 3) irá consistir em uma avaliação dos

movimentos, padrões posturais, gestos adotados e realizados durante a execução da atividade.

Sendo assim, nesta pesquisa a análise foi realizada através da técnica de observação direta,

foto e filmagem do colaborador durante o trabalho (Figura 4.18).

A análise ergonômica baseada na biomecânica da retirada do ponteiro de cana-de-

açúcar (Figura 4.19) apresenta através da observação estática, a postura penosa adotada pelo

trabalhador e os prejuízos biomecânicos para a realização da atividade. Além do padrão

postural com predominância da postura de flexão de tronco, o trabalhador ainda executa de

forma dinâmica movimentos de abdução e flexão de ombro. A permanência da flexão dos

dedos associada à força de preensão palmar é vista como fator desencadeante da Desordem

Músculo Esquelética, denominada “Dedo em Gatilho” ou Tendinite, dos flexores dos dedos.

Flexão de cotoveloentre 100 e 110 graus

Flexão entre 70 à 90 graus de tronco

Flexão de joelho entre 35 e 45 graus (perna de apoio)

Semi-flexão de joelho de aproximadamente15 graus

Flexão palmartotal em ambas as mãos

Flexão de quadril de entre 25 e 45 graus

Figura 4.18 – Análise Biomecânica do trabalhador durante o corte manual de cana-de-açúcar Fonte: O Autor

57

Flexão palmartotal em ambasas mãos

Flexão de cotoveloentre 90 e 100 graus

Flexão de joelhoentre 35 e 45 graus

(perna de apoio)

Flexão de quadril de entre 25 e 45 graus

Permanência em Flexão

entre 90 e 100 graus de tronco

acentuada naregião torácica

alta

Figura 4.19 – Análise Biomecânica do trabalhador durante a retirada do ponteiro de cana-de-açúcar Fonte: O Autor

Para análise de queixas e histórico de desconfortos devido à biomecânica

desfavorável, aplicou-se nesta pesquisa o Censo de Ergonomia. A ferramenta proposta visa às

necessidades das empresas no que diz respeito ao mapeamento dos problemas ergonômicos,

incluindo a participação dos trabalhadores neste processo. Tem como objetivo detectar

situações de trabalho causadoras de lesões ou afastamentos, desconforto, dificuldade e fadiga

relacionadas às condições de ergonomia do trabalho em empresas de diversos ramos de

atividade, mapear as áreas críticas da empresa quanto à prevalência de problemas

ergonômicos e obter dos trabalhadores a visão sobre possíveis melhorias nas condições de

trabalho.

Trata-se de uma ferramenta formulada à base de questionário, respondida de próprio

punho ou por entrevista, através da qual o trabalhador expressa sua percepção a respeito do

posto de trabalho e da atividade que executa, informando se sente ou não desconforto,

dificuldade ou fadiga, em qual intensidade, se está relacionado ou não ao trabalho que executa

e, ao mesmo tempo, apresentando sugestões sobre o que pode ser melhorado (COUTO, 2002).

58

O Censo de Ergonomia aplicado na retirada do ponteiro do corte manual de cana-de-

açúcar foi aplicado a 79 trabalhadores através de entrevista, e os resultados obtidos foram

tabulados e apresentados a seguir (Tabela 4.4):

Tabela 4.4 – Censo de Ergonomia

1. Você sente atualmente algum tipo de desconforto no corpo?

Quantidade de colaboradores

Região do corpo acometida

32% Coluna 14% Braço 11% Punho 9% Pernas 7% Ombros 7% Mãos 4% Antebraço 4% Cotovelo 6% Joelhos 2% Coxa 2% Tornozelo e pés 1% Pescoço 1% Quadril

2. O que você sente e que referiu na questão anterior está relacionado ao trabalho no

setor atual?

85% Sim 15% Não

3. Há quanto tempo sente desconforto?

26% Até 01 mês 12% De 1 a 3 meses 8% De 3 a 6 meses

54% Acima de 6 meses

4. Qual o tipo de desconforto?

28% Cansaço 0% Choques 2% Estalos 4% Dolorimento

44% Dor 18% Formigamento ou adormecimento 1% Peso 3% Perda da força

59

5. Como você classificaria o que você sente?

13% Muito forte/forte 53% Moderado 34% Leve/muito leve

6. O que você sente aumenta com o trabalho?

53% Durante a jornada normal 4% Durante as horas extras

36% À noite 7% Não

7. O que você sente melhora com o repouso?

42% À noite 11% Nos finais de semana 9% Durante o revezamento em outras tarefas

17% Férias 21% Não melhora

8. Tem tomado remédio ou colocado emplastros ou compressas para poder trabalhar?

36% Sim 47% Não 17% Às vezes

9. Já fez tratamento médico alguma vez por algum distúrbio ou lesão em membros

superiores ou coluna?

78% Não 22% Sim

10. Quais são as situações de trabalho ou postos de trabalho, tarefas ou atividades que, em

sua opinião, contém dificuldade importante ou desconforto importante; ou causam

fadiga ou mesmo dor? (Caso a resposta esteja relacionada a um equipamento, incluir

o tipo do mesmo e, se possível, o número deste).

13% Corte de cana crua para muda 34% Corte de cana 22% Carpir 16% Plantio 3% Descarregar caminhão no plantio 3% Fadiga quanto ao uso da toca árabe 3% Fazer picada no meio da cana 3% Má qualidade da luva 3% O uso do óculos de telinha

Fonte: (Couto, 2006)

60

De acordo com os resultados apresentados verificou-se através do Censo de Ergonomia que:

A. A população estudada refere algum tipo de desconforto (Figura 5.20), sendo: 32%

localizado na coluna, devido a postura adotada para a realização do corte; 14% no

braço devido aos movimentos repetitivos associado à força para o corte; 11% em

punho força de preensão e movimento de flexão de punho; 9% nas pernas devido

a permanência da postura em pé e deslocamento constante; 7% nos ombros e

mãos, pela realização de movimentos repetitivos associados a força e o restante

aplicada as demais estruturas corporais;

B. Frente a todos estes desconfortos, 85% da população refere relação direta do

sintoma com a atividade;

C. Quando questionados sobre quanto tempo vem apresentando este desconforto,

54% da população disseram apresentar estes sintomas acima de 06 meses; 26% até

01 mês de atividade, 12% entre 01 e 03 meses de atividade e 8% de 03 a 06 meses

de atividade. Sendo este um indicador que caracteriza como crônico o quadro dos

trabalhadores;

D. O sintoma predominante é de 44% dor, principalmente de origem músculo

articular, seguido de 28% cansaço, atividade exaustiva e 18% formigamento ou

adormecimento, caracterizando algum tipo de déficit de condução nervosa ou

arteriovenosa;

E. Quanto à intensidade deste desconforto, 53% relata ser moderado, 34% leve /

muito leve e apenas 13% relata ser forte / muito forte;

F. 53% da população alegam que estes desconfortos aumentam com a jornada

normal de trabalho, 36% alegam aumentar a noite e 11% diz não aumentar;

G. Quanto ao período em que mais se evidencia melhora, foi constatado que 42%

melhora no período da noite, 21% disseram não melhorar, 17% disseram melhorar

no período de férias, 11% nos finais de semana;

H. Para melhora destes desconfortos, foi questionado se os colaboradores utilizam

algum tipo de medicamento, emplastros e/ou compressas. 47% disseram não

utilizar, 36% disseram utilizar continuamente e 17% utilizam às vezes;

61

I. E quando questionados se alguma vez já foram submetidos a algum tipo de

tratamento, 78% disseram que não e 22% disseram que sim (médico,

medicamentoso, fisioterapia, etc.).

4.6 Apreciação Ergonômica do Trabalho da Retirada dos Ponteiros no Corte Manual de

Cana-de-Açúcar

A apreciação ergonômica foi realizada através da associação de coleta dos dados com

trabalhadores rurais (serviços gerais – cortador de cana), encarregados, supervisores e

gerência das atividades agrícolas. Para a realização da apreciação ergonômica, os riscos foram

classificados de acordo com Moraes e Mont’ Alvão (2003) conforme apresentada no bloco 9

do capítulo 3, que propõem que as condições ergonômicas podem ser apreciadas por classes,

conforme citadas abaixo:

Posturais - Posturas prejudiciais resultantes de inadequações do posto de trabalho, do

campo de visão, do envoltório acional e dos alcances, do posicionamento de componentes,

dos apoios, das articulações, do espaço de trabalho, da flexibilidade postural, das

características antropométricas, com prejuízos para o sistema músculo-esquelético, de

predominância postural e espacial.

Instrumentais - Ferramentas de trabalho e materiais manipulados que acarretam

dificuldades ou desconfortos no manuseio, com falta de ajustes, falta de apoios, e

características dimensionais inadequadas, conservação de ferramentas e instrumentos de

trabalho.

Interfaciais - Arranjos físicos e deficiências na identificação de painéis de

informações e de comandos, que acarretam dificuldades na tomada de informações e de

acionamentos, e de exploração visual, que possam causar prejuízos na memorização,

detecção, e na tomada de decisões.

Acionais - Aspectos biomecânicos que possam a ser prejudiciais no ataque acional a

comandos, ferramentas, painéis, ângulos, movimentação de materiais e outros, que agravam

as lesões por traumas repetitivos. Nestes estão incluídos aspectos repetitivos, fisiológicos,

cinesiológicos funcionais, esforços estáticos e dinâmicos.

62

Comunicacionais - Ruídos e desajustes quando necessária a transmissão de

informações sonoras ou gestuais. Má audibilidade de mensagens radiofônicas e/ou

telefônicas.

Organizacionais - Ritmo e monotonia intensa, pressão de prazos de produção e de

controles, ausência de pausas e micropausas, excesso de horas trabalhadas, falta de controle

do operador. Falta de objetivação, responsabilidade, autonomia e participação. Inexistência de

uma gestão participativa, desconsiderando opiniões e sugestões de funcionários. Centralização

de decisões, excesso de níveis hierárquicos, falta de transparência nas comunicações das

decisões, prioridades e estratégias, falta de política de cargos e salários coerente, descuido ao

trabalhador. Conflitos entre indivíduos e grupos sociais, dificuldades de comunicações e

interações interpessoais, falta de opções de descontração e lazer. Falta de ordem, arrumação,

local de deposição de matérias (armários, gavetas, etc.).

Movimentacionais - Excesso de peso, distância do curso da carga, freqüência de

movimentação dos objetos a levantar ou transportar, desnivelamento de pisos que possam

causar deficiências em transporte de cargas, ausência ou desajustes de facilidades mecânicas

ou hidráulicas, e que acarretam no esforço humano e desrespeito aos limites recomendados de

movimentação manual de materiais, com riscos para o sistema músculo-esquelético.

De deslocamento - Excesso de caminhamentos e deambulações, grandes distâncias a

serem percorridas para a realização das atividades da tarefa, utilização inadequada e constante

de plataformas e escadas e utilização de áreas de higiene pessoal.

Ambientais - Isolamentos, má aeração, insolação, reflexos, temperatura, ruído,

iluminação, vibração, radiação, acima ou abaixo dos níveis recomendados, partículas,

elementos tóxicos e aero-dispersóides em concentração no ar acima dos limites permitidos.

Falta de otimização da cor, do ambiente, falta de higiene e assepsia, o que permite a

proliferação de germes patogênicos.

Acidentários - Falta de dispositivos de proteção de máquinas, precariedade do solo,

de andaimes, rampas e escadas, manutenção insuficiente. Deficiência na rotina de

equipamentos para emergências.

Para a interpretação dos riscos, a apreciação ergonômica foi descrita seguindo uma

metodologia baseada na adaptação do método FMEA - Failure Mode and Effect Analysis, já

utilizada por diversos autores na identificação de riscos ergonômicos, e já são adotadas em

63

diversas companhias em todo o mundo, como é o caso do programa corporativo de ergonomia

da Ford Company, e o programa corporativo de ergonomia da Peugeot-Sochaux e Peugeot-

Citroen. A metodologia de identificação de falhas do FMEA (Quadro 4.1) pode propor um

método analítico e padronizado para detectar e eliminar riscos potenciais de forma sistemática

e completa, mediante um raciocínio basicamente dedutivo, sem a exigência de cálculos

sofisticados.

Processo Evento Falha Medidas de controle existentes

S O D PR Medidas a serem tomadas

Quadro 4.1 – Modelo proposto pelo método FMEA Fonte: Ginn et al, 1998.

O trabalho foi desenvolvido nas seguintes etapas:

1. Planejamento - Iniciou-se definindo os objetivos (abrangência da análise, análise

da demanda), que foi voltado à retirada de ponteiros no corte manual de cana-de-açúcar,

devido ao alto índice de queixas e procuras ambulatoriais.

2. Análise das atividades - Foi realizada a apreciação ergonômica, identificando os

problemas mais comuns de forma pró-ativa, onde os mesmos são apresentados na planilha de

identificação de riscos ergonômicos.

3. Avaliação dos Riscos - Após a determinação das irregularidades perante as

observações de classes foram levantados os possíveis riscos humanos (efeitos produzidos a

saúde e segurança do trabalho) e organizacionais (efeitos técnicos e administrativos

produzidos a empresa). Para que se interpretem os riscos, a partir de cada um deles, são dados

critérios de níveis semi-quantitativos, conforme seguem os quadros abaixo:

64

Quadro 4.2 – Histórico (HIS): Avaliado de acordo com as entradas ambulatoriais,

queixas, afastamentos, acidentes anteriores, ou relato dos funcionários (colhidos em

entrevistas e questionários de avaliação).

Nível Definição

4 Preocupações e reclamações constantes.

3 Preocupações e reclamações atuais.

2 Preocupações e reclamações anteriores.

1 Sem preocupações e reclamações.

Quadro 4.2 – Histórico (HIS) Fonte: Moraes e Mont’ Alvão, 2003

Quadro 4.3 – Exposição (EXP): é avaliada de acordo com o tempo que o trabalhador

encontra-se em exposição ao risco, de acordo com o ciclo ou a jornada de trabalho (conforme

detalhamento da avaliação).

Nível Definição

4 76 a 100% da jornada

3 51 a 75% da jornada

2 26 a 50% da jornada

1 0 a 25% da jornada

Quadro 4.3 – Exposição (EXP) Fonte: Moraes e Mont’ Alvão, 2003

65

Quadro 4.4 - Gravidade (GRA): Avalia-se a gravidade do dano, lesão ou risco

ergonômico (que se enquadre em um dos itens citados em cada nível, de acordo com o custo

humano ou organizacional).

NÍVEL (H) CUSTOS HUMANOS (O) CUSTOS ORGANIZACIONAIS

4 Danos permanentes a saúde do trabalhador; Podendo levar a

incapacidade funcional.

Danos de grande extensão a organização; Gera passivo ocupacional trabalhista (multa ou possíveis indenizações); Impacto significativo na produtividade; Pode gerar paradas

na produção de tempo indeterminado.

3 Danos maiores à saúde do

trabalhador; Afastamentos e danos por longo prazo.

Caso aconteça, impacta em produtividade, treinamento, e é de difícil substituição operacional (atividade agregadora de

valor); Pode gerar paradas de produtividade por um longo período.

2 Danos leves à saúde do

trabalhador; Afastamentos e danos por curto prazo.

Danos de curto período a produção (gerando pequenas paradas no processo); Caso aconteça, qualquer outro operador pode realizar a atividade em substituição.

1 Desconforto funcional; Sem

alterações significativas na saúde e segurança do trabalhador.

Não impacta na produtividade; Não apresenta irregularidade com a legislação.

Quadro 4.4 – Gravidade (GRA) Fonte: Moraes e Mont’ Alvão, 2003

Priorização de Riscos: Demonstra a atitude a ser tomada na prevenção, eliminação,

ou minimização do risco, de acordo com a sua prioridade. A escala é representada em um

formato que sugere que quanto maior o resultado, maior a prioridade: HIS (Quadro 2) x EXP

(Quadro 3) x GRA (Quadro 4) = PRI. Para que se tenha condição ergonômica favoráveis,

recomenda-se que esforços sejam tomados no sentido de minimizar ao máximo os indicadores

demonstrados na Prioridade (PRI), (Tabela 4.5).

66

Tabela 4.5: Análise Ergonômica do Trabalho

SETOR: CORTE - POSTO TRABALHO: CANA-DE-AÇÚCAR Tarefa – Corte Manual da Cana-de-Açúcar

Classe Avaliada

Descrição do perigo, irregularidade, ou

situação atual observada.

Possíveis efeitos humanos (H), técnicos e

administrativos (O)

CLASSIFICAÇÃO

HIS EXP GRA PRI

Posturais

A atividade é

realizada com flexão anterior, rotação e

inclinação lateral de tronco de forma

dinâmica, variando em amplitude de acordo com as características

antropométricas da população.

Distensionamento muscular (musculatura paravertebral); Algias musculares na região lombar e compressões nervosas (Ciatalgias).

H 4 4 2 32

Queda na produtividade, podendo

parar com sua atividade de forma

abrupta para procura de atendimento ambulatorial.

O 4 4 2 32

Posturais

Atividade realizada na postura em pé

(Postura ortostática).

Desconforto postural; Dores em menor intensidade em

membros inferiores na região do joelho, tornozelo e pés, e coluna na região

lombar

H 4 3 2 24

Queda de produção individual por período indeterminado em caso

de desconfortos em maior intensidade.

O 4 3 2 24

67

Posturais

Elevação de

membros superiores (flexão e abdução de

ombro, flexão de cotovelo, flexão, extensão, desvio radial e ulnar de punho) dinâmico

para a realização do processo.

Dores locais e/ou irradiadas, lesões

tendíneas ou compressiva nervosa (tendinite do supra

espinhoso, compressão nervo ulnar)

H 4 3 2 24

Paradas e/ou perdas do ritmo de produção,

procura por atendimento médico

ambulatorial, podendo chegar a afastamento

do colaborador da atividade

O 4 3 2 24

Posturais

Flexão de dedos na mão que segura o facão, ficando em constante esforço

isométrico, devido à atividade realizada. (contração de mão, dedos e punhos).

Perda de força, limitação de

amplitudes de movimento, dores,

podendo gerar inflamações (dedo em gatilho) e compressões nervosas nesta região

H 4 3 2 24

Paradas e/ou perdas do ritmo de produção,

procura por atendimento médico

ambulatorial, podendo chegar a afastamento

do colaborador da atividade

O 4 3 2 24

Posturais

Adoção de flexão de joelho e quadril de

forma dinâmica para caminhar por entre os

eitos de cana.

Torções, lesões meniscais ou ligamentares

H 2 3 1 06

Queda de produção

individual por período indeterminado em

casos agudos.

O 1 1 1 01

68

Posturais

Padrões posturais irregulares para

executar a atividade, variando de acordo

com a altura do trabalhador (alcance do facão no solo) e irregularidades de

terreno

Desconfortos musculares,

distensionamentos, compressões nervosas

(nervo ciático).

H 4 3 2 24

Paradas e/ou perdas do

ritmo de produção

O 4 3 2 24

Propostas de melhorias de origem - Postural:

A) Utilização do gancho, como ferramenta, para a retirada do ponteiro durante o corte manual;

B) Adequação do facão utilizado de acordo com as características antropométricas da população, apresentando mais do que um modelo (tamanho);

C) Adequação do programa de condicionamento físico do trabalhador;

D) Análise e classificação antropométrica da população.

E) Treinamento e capacitação do trabalhador quanto a conscientização de hábitos posturais

Instrumentais

Utilizam o facão

realizando preensão palmar.

Dores nas mãos, punho e dedos (dedo em

gatilho) gerada pela má qualidade da pega e

peso, patologias tendíneas e

compressiva nervosas.

H 4 3 2 24

Paradas e/ou perdas do ritmo de produção,

procura por atendimento médico

ambulatorial, podendo chegar a afastamento

do colaborador da atividade

O 4 1 2 08

69

Instrumentais

Utilização de óculos para proteção visual modelo “telinha”.

Vertigem (tontura),

dificuldade na realização da tarefa devido a acidentes

oculares com ciscos, poeiras e folhas

pontiagudas

H 4 4 1 16

Dificuldade na

realização da tarefa, perdas na

produtividade e retrabalhos

O 4 2 1 08

Instrumentais

Utilização de luvas para proteção das mãos e punhos.

Aumento de

temperatura local, sudorese, lesões

dermatológicas, lesões em unhas, patologias

relacionadas ao punho (Síndrome do Túnel do

Carpo e dedo em gatilho, originado em função do acúmulo de

sacarose no tecido)

H 4 2 2 16

Paradas e/ou perdas do

ritmo de produção, procura por

atendimento médico ambulatorial, podendo chegar a afastamento

do colaborador da atividade

O 1 1 1 01

Instrumentais

Utilização da perneira para

proteção de membros inferiores.

Dores na região do tornozelo, devido a

perca de mobilidade, acidente na região

superior da articulação do tornozelo (talo

fibular).

H 4 1 1 04

Paralisação e/ou queda de produção individual em caso de acidente de

trabalho, procura de atendimento médico

ambulatorial possibilidades de erro humano ou falhas no

processo.

O 1 1 1 01

70

Instrumentais

Utilização de boné

“toca árabe”.

Aumento de

temperatura local, lesões na região do

couro cabeludo

H 1 1 1 01

Perdas do ritmo de

produção

O 1 1 1 01

Instrumentais

Utilização de botina com biqueira de aço

para proteção dos pés.

Dor na região dos pés,

entorse, lesões em dedos, região dorsal ou

plantar. Lesões dermatológicas.

H 4 1 1 04

Paralisação e/ou queda de produção individual, possibilidades de erro humano ou falhas no

processo.

O 1 1 1 01

Instrumentais Utilização de lima e suporte de lima para

afiar o facão.

Lesão em mão e/ou

dedos

H 1 1 1 01

Paralisação e/ou queda de produção individual, possibilidades de erro humano ou falhas no

processo.

O 1 1 1 01

Instrumentais

Utilização de mangote no braço que

abraça o feixe de cana.

Dores em membros

superiores

H 2 1 1 02

Paralisação e/ou queda de produção individual, possibilidades de erro humano ou falhas no

processo.

O 1 1 1 01

71

Propostas de melhorias de origem - Instrumental:

A) A tela dos óculos de proteção é confeccionada com um material perfurado, facilitando a

entrada de poeira e fuligem. No corte da cana crua não há proteção das folhas, aumentando

assim o risco de acidentes, porém com menor gravidade se comparado ao óculos com a

lente de acrílico. Isto se deve a presença de uma abertura no seu bordo inferior facilitando a

entrada de objetos pontiagudos, presente no óculos de acrílico e não no de telinha;

B) De acordo com Canciglieri e colaboradores (2006), do ponto de vista de design o facão

utilizado no corte da cana pode possuir uma forma mais circular ou uma forma mais

retilínea. Para os dois casos, normalmente, são colocados cabos de madeira sem nenhuma

análise ergonômica considerando a pega e também, em nenhum dos casos, são considerados

nem o comprimento do cabo nem a sua distribuição de massa levando-se em consideração

os dados antropométricos dos trabalhadores que executarão a tarefa. Diante disso, faz-se

necessário um estudo especifico e acurado da influência do design dos facões tomando

como base a antropomometria do ser humano e esse será objeto de exploração de uma

pesquisa futura.

C) A raspa de couro, material que é utilizado para confeccionar as luvas de proteção, que vai

na cana, endurece em contato com a sacarose, dificultando a execução de fletir os dedos, na

mão que abraça o feixe de cana. Este material não tem aderência quando em contato com o

cabo do facão, ou seja, o uso conjunto gera uma situação de insegurança para o trabalhador.

A falta de uniformidade da raspa de couro, principalmente nas raspas mais grossas,

machuca as mãos. Um fator ainda relacionado ao tecido, que deve ser melhorado, é

confeccionar a luva com material de rápida secagem, sua necessidade se aplica, pois o

trabalhador é orientado a lavar as luvas diariamente, a fim de limpar e evitar o acúmulo de

sacarose. Além do tecido, o ideal é que sejam fornecidos dois pares de luva por trabalhador,

para que ele possa revezar sua utilização. E a falta de opção em tamanho é outro fator

agravante, machucam as mãos e levam a lesões dermatológicas, nos dedos e unhas do

trabalhador. As luvas deveriam apresentar 03 tamanhos (P./M./G.), com raspa uniforme da

costura fora da área de pega e rebaixada mantendo sempre a troca regular;

72

D) As perneiras de segurança são confeccionadas com material sintético e duro, em função

disto, os movimentos contínuos das pernas para execução do corte da cana é prejudicado,

pois ela escorrega e machuca as pernas, necessitando de melhor fixação. Outro fator

importante a ser readequado são os tamanhos das perneiras, isto melhorará o conforto e

segurança do trabalhador, fixando a perneira de acordo com a característica antropométrica

apresentada, e troca regular deste equipamento;

E) O calçado de segurança é adequado para a execução de atividade, tanto do ponto de vista de

conforto como de segurança, não havendo propostas de melhorias a serem apresentadas;

Nenhuma queixa foi relatada por parte dos trabalhadores;

F) Óculos com tamanho diferenciado do aro, poroso e fechado para que não afete a visibilidade

com lentes corretivas se necessário, lentes anti-embaçante e anti-risco, confortável ao rosto e

troca regular;

G) Avaliar tamanhos de cabo e lâmina do facão, fornecer borracha para aqueles trabalhadores

que melhor se adaptam e buscar manterá troca regular do instrumento;

H) Quanto ao mangote, modelos com tamanhos diferentes, confeccionado em algodão para

facilitar a transpiração, protegendo o braço e mantendo o dorso livre, e troca do

equipamento regular;

I) A toca árabe deve apresentar tamanhos variados e utilizada independente das vestimentas;

Zago e Silva (1998) consideram que: “a maioria dos equipamentos de proteção individual

disponíveis no mercado nacional não são adequados à cultura, à atividade, ao clima e aos dados

antropométricas da população”, isto se aplica nas conclusões acima descritas. O formato da ponta

da lâmina do facão em ângulo reto dificulta o trabalho, pois este tipo de formato permite que o

facão penetre no chão com facilidade dificultando a execução da atividade. Os trabalhadores

desenvolvem inúmeras estratégias defensivas para executar a atividade que lhes é atribuída,

cumprindo as prescrições estabelecidas pela empresa, com relação ao uso dos equipamentos de

proteção individual.

73

De acordo Gonzaga (2002) houve destaque aos problemas relativos às luvas e aos óculos de

proteção, pois ambos têm tamanhos únicos, desconsiderando a variabilidade dos usuários. O óculos

de proteção tem o aro tamanho 50 mm, em função disto, houve relatos que os mesmos apertam e

machucam o rosto, ocasionando dor de cabeça.

Quanto às luvas, inúmeras trabalhadoras têm as unhas roxas pela pressão que é necessária

ser feita para conseguir segurar o facão com a luva, já que elas são muito grandes para as suas

mãos. A OIT - Organização Internacional do Trabalho (2001) comenta o seguinte sobre esta

situação: “as luvas dificultam o uso, principalmente para as mulheres por terem as mãos menores

que as dos homens”. A revista virtual Designweek (2001) salienta que os maiores problemas

relacionados ao desconforto são provocados pelo peso dos equipamentos de proteção individual e

inexistência de tamanho diferenciado.

Os equipamentos de proteção individual e as ferramentas de trabalho têm uso contínuo em

toda a jornada de trabalho. Nesta situação a OIT (2001) propõe o seguinte: “é importante que o

equipamento de proteção individual seja apropriado, ou seja, adequado ao tamanho do trabalhador,

pois muito apertado ou muito frouxo, por exemplo, causa desconforto e desencoraja o seu uso

contínuo durante toda a jornada de trabalho”.

Na escolha dos equipamentos de proteção é importante considerar não apenas um

equipamento que ofereça maior proteção, como também conforto e mobilidade para os

trabalhadores. Pois o uso satisfatório de qualquer produto está relacionado à eficácia e eficiência

em interface com os usuários dos mesmos. Algumas características são básicas para a seleção:

As limitações de tamanho, peso, material de confecção, formato que possam interferir na

execução da atividade, a necessidade de diferentes níveis de eficiência na proteção e a durabilidade

do equipamento. O desconforto na utilização de EPI não apropriado ao clima quente pode ser um

fator responsável pelo não uso dos equipamentos, pois a transpiração e a acumulação de calor

inviabilizam o seu uso.

74

Interfaciais

Dificuldade de realização da

atividade devido à cana acamada

(deitada / caída), emaranhada.

“Risco de acidentes”,

quedas e dores nas costas pela dificuldade

do processo (lombociatalgia,

dorsalgias)

H 4 3 2 24

Queda na

produtividade

O 4 3 2 24

Interfaciais

Dificuldade de realização da

atividade devido à utilização do óculos

(modelo telinha).

Vertigem (tontura),

dificuldade na realização da tarefa devido a acidentes

oculares com ciscos, poeiras e folhas

pontiagudas

H 4 3 2 24

Dificuldade na

realização da tarefa, perdas na

produtividade e retrabalhos

O 4 3 2 24

Propostas de melhorias de origem - Interfacial:

A) Do ponto de vista interfacial, as propostas de melhorias a serem apresentadas estão

relacionadas ao óculos de proteção, uma vez que este vem causar tontura e risco de

acidentes oculares com poeiras e objetos pontiagudos. Há necessidade de intervenção

quanto ao material e modelo que é confeccionado a lente do óculos.

Comunicacionais

Déficit de comunicação com coordenadores e

supervisores de área devido à distância e

ruído local

Stress, irritação das cordas vocais pela

dificuldade ao tentar se comunicar

H 1 1 1 01

Sem alterações organizacionais

O 1 1 1 01

Comunicacionais

Déficit de

comunicação com coordenadores,

supervisores de área e colegas de trabalho

devido ao tecido que recobre a face.

Dificuldade ao tentar

se comunicar

H 1 1 1 01

Perda de tempo e

retrabalhos

O 1 1 1 01

75

Propostas de melhorias de origem - Comunicacional:

A) O fator comunicacional não é tido como deficitário para a execução da atividade, o

realizar do trabalho não é dependente de comunicação, não havendo assim propostas de

melhorias a serem apresentadas.

Organizacionais

Ritmo de trabalho acelerado

Cansaço físico e/ou

mental, irritabilidade, dores em diversas regiões corporais

H 4 3 1 12

Queda na

produtividade

O 1 1 1 01

Organizacionais

Excesso de pressão e controle de produção

Cansaço físico,

cefaléias, irritabilidade

H 1 1 1 01

Queda na

produtividade

O 1 1 1 01

Organizacionais

Ausência de pausas durante a atividade

Fadiga física, dores no corpo, stress, falta de

motivação por parte do trabalhador

H 1 1 1 01

Possibilidades de erro ou falhas no processo

O 1 1 1 01

Organizacionais

Ausência de uma

gestão participativa desconsiderando

opiniões e sugestões de funcionários

Desgaste físico muitos

vezes gerado pela utilização de

equipamentos não adequados à atividade, falta de motivação por parte do trabalhador,

desinteresse pela atividade e pela vida da

empresa

H 1 1 1 01

Queda na produtividade

O 1 1 1 01

76

Organizacionais

Falta de política

coerente de cargos e salários

Desmotivação, falta de comprometimento com a empresa, desânimo,

irritação, cefaléias, etc.

H 1 1 1 01

Desânimo, falta de

motivação, desinteresse

O 1 1 1 01

Organizacionais

Falta de opções de

descontração e lazer

Perca de motivação

H 1 1 1 01

Queda na

produtividade

O 1 1 1 01

Organizacionais

Descuido à saúde do

trabalhador

Acidentes, aumento de procura ambulatoriais, CAT”S, cronicidade

patológica

H 1 1 1 01

Afastamentos, faltas e

quedas na produtividade

O 1 1 1 01

Propostas de melhorias de origem - Organizacional:

A) Análise específica dos tempos e movimentos realizados durante a jornada normal de

trabalho, a fim de organizar sua jornada de trabalho (pausas, horários de descanso,

almoço, café, etc.) de acordo com os horários de pico de fadiga do trabalhador, não

colocando em risco sua saúde e segurança. Isto se torna necessário, uma vez em que

este trabalhador realiza a atividade e sua remuneração é baseada em produtividade.

Movimentacionais

Manuseio de

materiais (feixe de cana) durante à

atividade

Desconforto muscular, fadiga, acometimento

da região lombar (distensionamento e

lombociatalgias)

H 4 3 2 24

Queda na

produtividade e/ou paralisação da

produção

O 4 3 2 24

77

Movimentacionais

Alta freqüência de

movimentos de membros superiores, golpes de facão na

retirada do ponteiro

Dores na região

lombar, dores na região da mão, punho e

ombros.

H 4 3 2 24

Queda na

produtividade e/ou paralisação da

produção

O 4 3 2 24

Movimentacionais

Deslocamento

constante pelo eito para o corte manual

do ponteiro

Lesões em Membros

inferiores, como: entorse, distensões, etc.

H 4 2 2 16

Queda na

produtividade e/ou paralisação da

produção

O 4 2 2 16

Propostas de melhorias de origem - Movimentacional:

A) Utilização do gancho, como ferramenta, para a retirada do ponteiro durante o corte manual;

B) Adequação do facão utilizado de acordo com as características antropométricas da população, apresentando mais do que um modelo (tamanho);

C) Adequação do programa de condicionamento físico do trabalhador;

D) Análise e classificação antropométrica da população;

E) Treinamento e capacitação do trabalhador quanto a conscientização de hábitos posturais e movimentacionais.

De deslocamento

Excesso de

caminhada e deambulações

Dores em membros inferiores, dores nas

costas, devido à atividade.

H 1 1 1 01

Queda na

produtividade e/ou paralisação da

produção

O 1 1 1 01

78

De deslocamento

Dificuldade de acesso e utilização de áreas de higiene pessoal

Alterações

gastrointestinais, urinárias

H 4 2 1 08

Queda na

produtividade e/ou paralisação da

produção

O 1 1 1 01

Propostas de melhorias de origem – De deslocamento:

A) Instalação de banheiros móveis e fixos nos veículos, melhorando acesso aos

trabalhadores as áreas de higiene pessoal;

Ambientais

Exposição a altas

temperaturas e variações climáticas,

interpéries.

Cefaléias, queda de pressão, câimbras.

H 4 2 2 16

Queda de

produtividade

O 4 2 2 16

Ambientais

Falta de higiene e

assepsia

Instalação de bactérias,

processo infeccioso.

H 1 1 1 01

Queda na

produtividade e/ou paralisação da

produção

O 1 1 1 01

Propostas de melhorias de origem - Ambientais:

A) Adequação e padronização da vestimenta utilizada pelo trabalhador, tecido que não

retenha líquido e nem mesmo calor, diminuindo assim a fadiga do trabalhador e seu

tempo de recuperação quando submetido ao esforço.

B) Instalação de banheiros móveis e fixos nos veículos, melhorando acesso aos

trabalhadores as áreas de higiene pessoal;

C) Locais adequados para descanso dos trabalhadores, com cobertura e fornecimento de

água a vontade.

79

Acidentários Precariedade do solo,

risco de queda e acidentes com o

manuseio de instrumentos em

membros inferiores

Torções, lesões em

membros inferiores e tronco. Ferimentos

como: cortes, arranhões e escoriações

H 4 1 2 08

Paralisação da

produtividade por período indeterminado e encaminhamento do colaborador ao pronto

atendimento

O 4 1 2 08

Acidentários

Acidentes oculares

durante a execução da atividade

Déficit de visão,

podendo ter perda parcial ou total da visão, assim como déficit do sistema

ocular

H 4 3 2 24

Paralisação da

produtividade por período indeterminado e encaminhamento do colaborador ao pronto

atendimento

0 4 3 2 24

Propostas de melhorias de origem - Acidentário:

A) Readequação dos óculos de segurança, com tamanho diferenciado do aro, poroso e

fechado para que não afete a visibilidade com lentes corretivas se necessário, anti-

embaçante e anti-risco, confortável ao rosto e troca regular;

B) Utilização do gancho, como ferramenta, para a retirada do ponteiro durante o corte

manual, reduzindo assim o risco de acidentes em membros inferiores (pés e pernas);

C) Capacitação e treinamento dos trabalhadores quanto aos possíveis riscos de acidente e

condutas a serem tomadas frente a estas situações.

Fonte: Moraes e Mont’Alvão (2003)

80

4.7 Proposta de intervenção ergonômica através da concepção e utilização do gancho,

como ferramenta de trabalho na retirada do ponteiro durante o corte manual de cana-

de-açúcar

Após a Análise Ergonômica do Trabalho, do corte manual de cana-de-açúcar, foi

realizado o desenvolvimento e teste piloto do gancho como instrumento na retirada manual do

ponteiro de cana. Para isso utilizou-se os conhecimentos em ergonomia como ferramenta de

apoio direcionada ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de produtos. A utilização do gancho

na retirada manual do ponteiro de cana foi proposta, tendo em vista os benefícios

proporcionados ao adaptar o trabalho ao trabalhador, aumentando assim seu conforto e

segurança e reduzindo o desgaste de origem postural e biomecânico durante o trabalho.

O gancho foi apresentado durante análise ergonômica do corte como um instrumento

utilizado por um grupo de trabalhadores que vinham da região Norte / Nordeste, onde estes

adaptavam através do galho de uma árvore com pequena bifurcação “um gancho”, servindo

de apoio para a retirada dos ponteiros, os mesmos trabalhadores relatavam maior conforto e

disposição para a realização da tarefa. Após abordagem do Comitê de Ergonomia (COERGO)

a estes trabalhadores, os ganchos foram analisados, verificados os benefícios posturais e

biomecânicos de sua utilização e definida a proposta da realização de um estudo piloto.

Para a realização do estudo piloto, foram disponibilizados pela empresa 65

colaboradores do corte de cana que nunca utilizaram o gancho durante a atividade. Estes

foram treinados e capacitados com conteúdo teórico / prático, auxiliado por recurso áudio-

visual (fotos e filmagem) e palestras aplicadas pelos membros do COERGO, composto pelos

colaboradores do departamento de saúde e segurança do trabalho da empresa.

Os ganchos propostos foram confeccionados nas dependências da própria empresa,

apresentando cabo de madeira cilíndrico e ponteiro com viga de ferro, a fixação da viga de

ferro no cabo de madeira foi realizada através de um encaixe sob pressão, o cabo de madeira

não foi pintado, de acordo com a proposta de modelo do COERGO e características de

melhoria ofertadas pelos colaboradores que o utilizavam (figura 4.20).

81

Figura 4.20 – Gancho utilizado na retirada manual do ponteiro Fonte: O Autor

A duração do teste piloto foi de 45 dias, onde neste período os cortadores de cana

receberam visitas semanais do COERGO ao campo para análise do desempenho das

atividades ao utilizar este novo produto. Após este período realizou-se uma análise do gancho

quanto ao conforto, funcionalidade, desempenho e proposta de melhorias para o

aperfeiçoamento. Os dados foram coletados através de um censo desenvolvido e direcionado

para esta atividade.

Antes da realização do piloto os colaboradores foram submetidos a uma pré-avaliação,

conforme já apresentado na tabela 4.3 (Check List quanto à utilização dos equipamentos e

ferramentas). Após os 30 dias da utilização do gancho, realizou-se uma pós-avaliação com os

trabalhadores, onde os dados são apresentados a seguir:

Questionário aplicado aos cortadores de cana após a utilização do gancho piloto:

1. Quanto ao tempo gasto de execução do desponte, você o classifica como:

Quantidade de colaboradores

Respostas

15% maior tempo 73% menor tempo

82

12% igual tempo

2. Quanto ao desgaste dos Equipamentos de Proteção Individual:

89% menor desgaste 11% maior desgaste

3. O que você achou do gancho piloto?

58% bom, não necessitando de modificação 26% cabo muito longo 0% cabo curto

11% bom peso 4% muito leve 1% muito pesado

4. O que você poderia dizer com relação ao uso do gancho quanto a fadiga:

69% você se sentiu menos cansaço ao despontar o ponteiro 4% sentiu maior cansaço

27% não sentiu diferença

5. O que você tema dizer com relação ao uso do gancho quanto a postura:

69% sentiu menos sobrecarga da coluna ao despontar o ponteiro 5% sentiu maior sobrecarga da coluna ao despontar o ponteiro

26% não sentiu diferença

6. Como você classifica o uso do gancho (conforto):

61% fácil seu manuseio, fácil de acostumar com o uso 11% difícil manuseio, apenas no começo, depois facilitou a tarefa 6% difícil manuseio, mas aprovado o uso

22% prefiro não utilizá-lo.

7. Você sentiu algum tipo de dor ao usar o gancho que você não havia sentido antes?

8% Sim 92% Não

8. Você sentiu que alguma dor que você tinha antes desapareceu com o uso do gancho?

38% Sim 62% Não

De acordo com os dados apresentados acima, conclui-se com esta análise que o

gancho utilizado, foi aprovado, atendendo as necessidades dos colaboradores na execução da

atividade, uma vez que esta ferramenta adequa antropometricamente o trabalhador

proporcionando maior conforto ao realizar sua atividade, reduzindo queixas de dor,

desconforto, câimbras em membros inferiores, diminuiu o desgaste do calçado de proteção

83

utilizado entre outros equipamentos de proteção utilizados, além de promover uma adoção de

melhor postura, menor inclinação de tronco e movimentação de pernas conforme (figura 4.21)

se comparado ao trabalhador que não utiliza o gancho (figura 4.22), sendo necessárias poucas

melhorias, conforme descrito abaixo:

A. Melhorar a fixação do vergalhão utilizado para o gancho;

B. Adaptar uma manopla no cabo do gancho melhorando a qualidade de pega;

C. Ajustar o diâmetro do cabo do gancho, pois os colaboradores acharam o cabo fino,

rodando na mão;

D. Adaptar um suporte para transportar o gancho;

E. Definir o processo organizacional (tempos e movimentos) do desponte, com a

metragem a ser cortada, inserindo-o no padrão atual de corte de cana;

F. Adequar a cor do cabo do gancho a fim de facilitar sua visualização e evitar perda;

G. Realizar constantes treinamentos / capacitação dos trabalhadores para adequá-lo à

atividade (coordenação / postura / equilíbrio / etc.);

84

Figura 4.21 – Retirada manual do ponteiro de cana com o auxílio do gancho Fonte – O Autor

Figura 4.22 – Retirada manual do ponteiro de cana não utilizando o gancho como auxílio Fonte – O Autor

85

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Nesta dissertação apresentou-se inicialmente a atividade da retirada do ponteiro no

corte manual de cana-de-açúcar, o trabalhador e o seu contingente na prática do trabalho,

formando cenário no qual se expõe a necessidade da abordagem ergonômica, através de

equipes de projeto compostas por profissionais de múltiplas áreas, principalmente no que diz

respeito à formação de um projeto conceitual dos produtos utilizados, a fim de reduzir o

sofrimento deste trabalhador e adequar os instrumentos por eles utilizados.

Ficou clara a importância e a necessidade da composição de uma equipe

multiprofissional e multidisciplinar: Preparadores Físicos, Fisioterapeutas, Médicos,

Designers, Engenheiros de Produto, Técnicos de Segurança do Trabalho, Trabalhadores e

outros que possam agregar conhecimentos em ergonomia, a fim de melhorar o produto e

ofertando mais saúde e segurança ao trabalhador.

O objetivo geral do trabalho se resumiu em analisar ergonomicamente a atividade da

retirada do ponteiro no corte manual de cana-de-açúcar, abordando todos os fatores que fazem

a relação do trabalho com o trabalhador (postura; movimentos; ferramentas; organização;

risco de acidentes; entre outros), segundo proposta de Moraes e Mont’ Alvão (2003) e utilizar

a ergonomia como base de conhecimento para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de

produtos.

Sendo assim, a ferramenta de análise nos apresentou o diagnóstico dos principais

problemas encontrados nesta atividade e suas conseqüências para o trabalhador. Sendo uma

das principais abordagens destinada ao desenvolvimento e aperfeiçoamento dos produtos

(instrumentos) utilizados no corte manual na retirada dos ponteiros. Onde, por meio de testes

experimentais, foram verificadas as diferenças no desempenho dos trabalhadores, redução de

queixas, melhoria do conforto, minimização do sofrimento, seguido da contribuição para o

aumento da produção e bem-estar após abordagem ergonômica, a fim de proporcionar através

da nova metodologia de trabalho (uso do gancho), redução de dor e de fadiga dos

trabalhadores, preservação de sua integridade física para o trabalho, diminuindo os gastos

com tratamentos de saúde e conseqüentemente promovendo um aumento de produtividade no

corte manual de cana-de-açúcar, conforme resultados apresentados no capítulo 5.

Com o avanço tecnológico na busca de maior conforto e produtividade, diversas

técnicas associadas à ergonomia são utilizadas para quantificar o movimento humano, a

86

antropometria, o esforço físico, entre outros, destacando suas importâncias no

desenvolvimento e definição de modelos conceituais, principalmente, no que diz respeito aos

estudos biomecânicos da musculatura esquelética, o que ainda representam um grande

desafio.

Por fim a amplitude e complexidade do assunto sugerem novas pesquisas para o

enfrentamento de questões que possam abrir leque da compreensão em torno dos impactos da

atividade do corte manual de cana-de-açúcar sobre o trabalhador, e dos benefícios promovidos

pela ergonomia como base de conhecimento das diversas áreas relacionadas à relação trabalho

Vs trabalhador. Segue então a sugestão da realização de novos testes experimentais em outras

empresas do mesmo ramo de atividade, abordando uma amostra maior e por período mais

prolongado de aplicação do teste. É importante também salientar as dificuldades encontradas

na utilização do gancho relatadas pelos trabalhadores quando aplicado na retirada de cana

acamada (caída), uma vez que se estas se encontram entrelaçadas no chão, sendo necessária a

remoção e o desembaraçar manual da cana no solo. Ficando com isso o desafio de novas

pesquisas.

87

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