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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
DOUGLAS CAMPOS SALLES DA SILVA
ANÁLISE ERGONÔMICA DO PROCESSO DE RETIRADA DO PONTEIRO NO CORTE MANUAL DE CANA-DE-AÇÚCAR:
UM ESTUDO DE CASO NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas. Orientador: Prof. Osíris Canciglieri Júnior, Ph.D.
Curitiba, outubro de 2008.
II
DOUGLAS CAMPOS SALLES DA SILVA
ANÁLISE ERGONÔMICA DO PROCESSO DE RETIRADA DO PONTEIRO NO CORTE MANUAL DE CANA-DE-AÇÚCAR:
UM ESTUDO DE CASO NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas. Orientador: Prof. Osíris Canciglieri Júnior, Ph.D.
Curitiba, outubro de 2008.
III
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas
TERMO DE APROVAÇÃO
DOUGLAS CAMPOS SALLES DA SILVA
ANÁLISE ERGONÔMICA DO PROCESSO DE RETIRADA DO PONTEIRO NO CORTE MANUAL DE CANA-DE-AÇÚCAR:
UM ESTUDO DE CASO NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO
Dissertação aprovada como requisito parcial para a obtenção de grau de Mestre no Curso de Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas, Programa de Pós-graduação em Engenharia de produção e Sistemas, do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, pela seguinte banca examinadora.
_______________________________________________ Prof. Osiris Canciglieri Junior, Ph.D. (PPGEPS – PUCPR)
Orientador
_______________________________________ Prof. João Antonio Palma Setti, Dr. (PUCPR)
Membro Interno
_________________________________ Profa. Stephania Padovani, Dr. (UFPR)
Membro Externo
Curitiba, 06 de outubro de 2008.
IV
A minha esposa Vânia, a quem tanto
amo e aos meus pais Ruy e Mércia, pelo
amor e dedicação incondicional.
V
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela graça da vida e por me fortalecer em cada momento.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Osíris Canciglieri Junior pela oportunidade, incentivo,
compreensão e paciência. Lembrarei com carinho de seus ensinamentos por toda a vida.
A minha esposa, Vânia, por sempre confiar em meus sonhos, me ajudando a torná-los
realidade. Sem sua compreensão, companheirismo e amor, eu nunca teria concluído este
trabalho.
Aos meus pais, Ruy e Mércia, que são para mim muito mais do que eu conseguiria
descrever em palavras, pela dedicação, carinho e apoio em todos os momentos de minha vida,
ensinando-me a persistência e honestidade.
Ao meu sogro Idemar e sogra Vanderci, pelo incentivo e ajuda em todo momento.
A minha irmã, Suélen, simplesmente por ser minha irmã, a quem eu tanto amo, e aos
meus cunhados Francis, Vanessa, Vilma, Marcelo e Márcio pela amizade.
Aos meus amados sobrinhos Jéssica, Ana Flávia e João Victor, por tornarem minha
vida mais feliz, mostrando que simplicidade e amor devem estar presentes sempre.
Ao amigo Tiago Francesconi, companheiro em todos os momentos desta caminhada,
pela paciência e dedicação, essencial não só na realização das atividades deste curso, mas
também nos momentos de amizade.
Ao meu grande amigo Nilson, amigo para todas as horas, pelo incentivo e crédito dado
à mim tanto na vida profissional quanto nesta etapa tão significativa, me auxiliando sempre
com alegria, companheirismo e responsabilidade.
A Daniela, Meire e demais colegas que sempre me receberam com muita disposição
na secretaria do curso.
VI
RESUMO
O trabalho da retirada do ponteiro no corte manual de cana-de-açúcar é precedido de tarefas pouco estruturadas, exigindo esforço físico considerável, postura penosa, condição ambiental desfavorável, sazonalidade e operações repetidas de instrumentos em curto espaço de tempo. As condições precárias no trabalho à que está sujeita a maioria da população brasileira referem-se principalmente à inadequação dos procedimentos adotados para o desenvolvimento da tarefa, exposição ambiental e sofrimento com a utilização dos equipamentos mal projetados. A grande variedade de risco presentes nos ambientes de trabalho agrícola se dá de forma compatível com o alto grau de diversidade de tarefas e de postos de trabalho nestas atividades. A ergonomia busca adequar, de forma mais apropriada, as condições de trabalho às potencialidades do trabalhador, dentro do seu ambiente, prevenindo as doenças ocupacionais e melhorando sua eficiência. Assim, trazendo grandes contribuições do ponto de vista econômico, reduzindo a probabilidade de doenças, acidentes, desconforto, aumentando a satisfação no trabalho e conseqüentemente incrementando a produtividade. Com isso, esta pesquisa apresenta uma aplicação dos conceitos de ergonomia direcionados à atividade de retirada dos ponteiros no corte manual de cana-de-açúcar, servindo como suporte ao processo de desenvolvimento de produtos, amenizando o sofrimento do trabalhador, estabelecendo padrões antropométricos e proporcionando o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente no trabalho. Palavras-chave: Desenvolvimento de produto, ergonomia, antropometria, anatomia,
corte de cana-de-açúcar.
VII
ABSTRACT
The process of removing the “pointer” during the manual sugarcane harvest is preceded by tasks poorly structured, demanding considerable physical effort, painful posture, unfavorable environmental condition, seasonality and repeated operations of instruments in short space of time. The precarious work conditions that the majority of the Brazilian population is submitted to, is related mainly to the unsuitability of the procedures adopted for the development of the task, environmental exposure and suffering with the use of badly designed equipment. The great variety of risk present in the environment of agricultural work falls in a compatible way with the high degree of diversity of tasks and of workstations in these activities. The ergonomics tries to adapt, in a more appropriate way, the work conditions to the worker's potentialities, inside of his/her environment, preventing the occupational diseases, improving his/her efficiency, bringing great contributions when looking at the economical point of view, reducing the probability of diseases, accidents, discomfort, increasing the satisfaction at work and consequently increasing productivity. Therefore, this research presents an application of the concepts of ergonomics directed to the process of the “pointers” removal during the manual sugarcane harvest, serving as a support to the process of development of products used on the pointers removal, to ease suffering of the workers, establishing standards anthropometric and giving maximum comfort, safety and efficient performance at work. Key Words: product development, ergonomics, anthropometry, anatomy, cutting sugar
cane.
VIII
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Metodologia da Pesquisa.................................................................................... 7
Figura 2.1 – Fases do Desenvolvimento de Produto.............................................................. 24
Figura 3.1 – Modelo Conceitual da Pesquisa......................................................................... 31
Figura 4.1 – O Trabalhador e os Processos do Corte Manual de cana-de-açúcar.................. 38
Figura 4.2 – Óculos de Segurança Nylon............................................................................... 41
Figura 4.3 – Óculos de Segurança Policarbonato................................................................... 42
Figura 4.4 – Touca Árabe....................................................................................................... 42
Figura 4.5 – Luva para a mão que abraça o feixe de cana-de-açúcar..................................... 43
Figura 4.6 – Luva para a mão que segura o facão.................................................................. 43
Figura 4.7 – Perneira de proteção........................................................................................... 44
Figura 4.8 – Calçado de segurança......................................................................................... 45
Figura 4.9 – Mangote.............................................................................................................. 46
Figura 4.10 – Protetor de lima e lima para afiar o facão........................................................ 46
Figura 4.11 – Facão para Corte Manual................................................................................. 47
Figura 4.12 – Resultados do Check List quanto à utilização dos equipamentos e
ferramentas..............................................................................................................................
50
Figura 4.13 – Propostas de melhorias obtidas no Check List quanto à utilização dos
equipamentos e ferramentas....................................................................................................
51
Figura 4.14 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,62 mts........................................ 54
Figura 4.15 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,86 mts........................................ 54
Figura 4.16 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1.50 mts........................................ 55
Figura 4.17 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,72 mts........................................ 55
Figura 4.18 – Análise Biomecânica do trabalhador durante o Corte Manual de cana-de-
açúcar......................................................................................................................................
56
Figura 4.19 – Análise Biomecânica do trabalhador durante a retirada do ponteiro de cana-
de-açúcar.................................................................................................................................
57
Figura 4.20 – Gancho utilizado na retirada manual do ponteiro............................................ 81
Figura 4.21 – Retirada manual do ponteiro de cana-de-açúcar com o auxílio do gancho...... 84
Figura 4.22 – Retirada manual do ponteiro de cana-de-açúcar não utilizando o gancho
como o auxílio........................................................................................................................
84
IX
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Conteúdos das fases de desenvolvimento de produtos...................................... 25
Tabela 4.1 – População Masculina......................................................................................... 39
Tabela 4.2 – População Feminina........................................................................................... 39
Tabela 4.3 – Check List quanto à utilização dos equipamentos e ferramentas...................... 49
Tabela 4.4 – Censo de Ergonomia.......................................................................................... 58
Tabela 4.5 – Análise Ergonômica do Trabalho...................................................................... 66
X
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1 – Correspondência entre etapas da Análise Ergonômica do Trabalho e os
procedimentos de pesquisa em Ergonomia.............................................................................
19
Quadro 3.1 – Bloco de questões............................................................................................. 33
Quadro 4.1 – Modelo proposto pelo método FMEA.............................................................. 63
Quadro 4.2 – Histórico (HIS)................................................................................................. 64
Quadro 4.3 – Exposição (EXP)............................................................................................... 64
Quadro 4.4 – Gravidade (GRA).............................................................................................. 65
XI
SUMÁRIO AGRADECIMENTOS...................................................................... V
RESUMO............................................................................................ VI
ABSTRACT........................................................................................ VII
LISTA DE FIGURAS........................................................................ VIII
LISTA DE TABELAS....................................................................... IX
LISTA DE QUADROS...................................................................... X
CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO.............................................................................. 1
1.1 Contextualização........................................................................................................ 1
1.2 Motivação................................................................................................................... 3 1.3 Justificativa................................................................................................................ 4 1.4 Objetivos..................................................................................................................... 5 1.4.1 Objetivos Específicos............................................................................................... 5 1.5 Metodologia da Pesquisa........................................................................................... 6 1.5.1 Justificativa da Metodologia Científica Estudo de Caso Aplicado à
Pesquisa............................................................................................................................
7
1.6 Estrutura da Dissertação.......................................................................................... 9
CAPÍTULO 2- REVISÃO DA LITERATURA..................................................... 11
2.1 O Processo Produtivo do Corte Manual de Cana-de-Açúcar................................ 11 2.2 O Trabalhador e as Atividades Manuais do Corte de Cana-de-Açúcar............... 14
2.3 Ergonomia Aplicada ao Trabalho Agrícola............................................................ 15 2.3.1 Análise Postural........................................................................................................ 20
2.4 Desenvolvimento de Produtos para Atividades Agrícolas..................................... 23
CAPÍTULO 3- METODO DA PESQUISA............................................................ 26
3.1 Metodologias científicas aplicadas à pesquisa............................................ 26 3.1.1 Estudo de Caso......................................................................................................... 26
3.1.1.1 Tipos de Estudos de Caso...................................................................................... 27 3.1.2 Estruturas de Estudo de Caso................................................................................... 27
XII
3.1.3 Planejamento e Desenvolvimento da Pesquisa para o Estudo de Caso.................... 28 3.2 Proposta de Modelo Conceitual da Pesquisa.................................................... 29 3.2.1 Formulação do Projeto de Pesquisa.......................................................................... 30 3.2.2 Equipamentos Utilizados na Avaliação.................................................................... 35
CAPÍTULO 4 - ANÁLISE ERGONÔMICA BASEADA NO MODELO
CONCEITUAL PROPOSTO ATRAVÉS DO ESTUDO DE CASO..........................
36
4.1 O Corte Manual de Cana-de-Açúcar....................................................................... 37 4.1.1 O trabalhador do Corte Manual de Cana-de-Açúcar da Companhia
Melhoramentos Norte do Paraná.......................................................................................
37 4.2 Instrumentos e Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) durante o Corte
Manual de Cana-de-Açúcar............................................................................................
40 4.2.1 Óculos de Segurança................................................................................................. 41 4.2.2 Proteção para Rosto e Cabeça (Boné ou Toca Árabe) - Vestimenta de Segurança
tipo Capuz..........................................................................................................................
42 4.2.3 As Luvas de Proteção............................................................................................... 43 4.2.4 Perneiras de Proteção............................................................................................... 44 4.2.5 Calçado de Segurança............................................................................................... 45 4.2.6 O mangote................................................................................................................. 45 4.2.7 Instrumentos de Trabalho......................................................................................... 46 4.3 Análise Ergonômica do Trabalho aplicada ao Corte Manual de Cana-de-
Açúcar baseada no Modelo Conceitual..........................................................................
47 4.4 Análise Antropométrica da Retirada dos Ponteiros no Corte Manual de Cana-
de-Açúcar..........................................................................................................................
52 4.5 Análise Biomecânica da Retirada dos Ponteiros no Corte Manual de Cana-de-
Açúcar...............................................................................................................................
56 4.6 Apreciação Ergonômica do Trabalho da Retirada dos Ponteiros no Corte
Manual de Cana-de-Açúcar............................................................................................
61 4.7 Proposta de Intervenção Ergonômica através da Concepção e Utilização do
Gancho na Retirada do Ponteiro durante o Corte Manual de Cana-de-Açúcar.......
80
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA
TRABALHOS FUTUROS..............................................................................................
85
REFERÊNCIAS................................................................................. 87
1
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
O sistema agroindustrial da cana-de-açúcar é um dos sistemas mais antigos, estando
ligado aos principais eventos históricos de enorme importância no Brasil. O país é,
juntamente com a Índia, o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, isoladamente o maior
produtor de açúcar e de álcool, bem como o maior exportador mundial de açúcar. Seus
números estão na casa dos bilhões (BUESCU, 1977). Em 1997, auxiliou a Balança Comercial
com um saldo de mais de US$ 1,7 bilhões em exportações de açúcar. Segundo estimativa,
movimenta anualmente cerca de US$ 12 bilhões, sendo cerca de US$ 1bilhão em insumos,
US$ 3 bilhões na produção agrícola, US$ 1,2 bilhões na atividade industrial, US$ 3 bilhões na
comercialização e US$ 2,8 bilhões em impostos. Estima-se que o sistema gera mais de 1,5
milhões de empregos no país (WAACK; NEVES, 1998).
A transformação da cana-de-açúcar representa um dos mais importantes pilares da
economia colonial, uma vez que o açúcar constitui-se num produto conjuntural responsável
pela definição do modelo agro-exportador brasileiro (BUESCU, 1977). Sua importância na
formação econômica brasileira reside na definição da estrutura fundiária (latifúndio
monocultor dependente) e na construção das relações sociais escravistas que permitiram uma
formação social patrimonialista (oligárquica e patriarcal).
Foi somente a partir dos anos 1970, que a agroindústria canavieira passou por
importante transformação, no tocante à diversificação de produtos, deixando de ser
exclusivamente voltado para o setor de alimentos, para destinar-se ao setor energético, através
do Programa Nacional do Álcool (PRÓALCOOL). Este fomentou o destino da cana-de-
açúcar para produção de combustível, tendo efeito positivo no aumento da competitividade do
sistema. As escalas de produção e moagem de cana-de-açúcar cresceram, assim como ganhos
importantes em produtividade foram atingidos (NEVES; BATALHA, 1998). Em pouco
tempo, o país criou uma ampla rede de distribuição de álcool hidratado, adaptou
pioneiramente veículos, desenvolveu tecnologias para uso do álcool anidro como aditivo para
combustíveis e produziu inovações institucionais e organizacionais. Os principais produtos
gerados pelo sistema agroindustrial da cana-de-açúcar são o açúcar, o álcool e outros
subprodutos.
2
No Estado do Paraná, a cultura de cana-de-açúcar ingressou pelo norte pioneiro,
ocupando áreas nos municípios vizinhos do Estado de São Paulo, como Jacarezinho,
Cambará, Andirá, Bandeirantes, Porecatu, entre outros, onde se instalaram as primeiras usinas
de açúcar. Na região de Maringá, adequada à lavoura canavieira, o cultivo da cana-de-açúcar
foi iniciado no ano de 1961 (GUERRA, 1995).
A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná é uma empresa que atua na área
agroindustrial, com as seguintes atividades: usina de álcool, cana-de-açúcar, grãos, tratamento
de madeiras, pecuária, etc. Suas atividades no setor sulcroalcooleiro são situadas nas cidades
de Jussara e Jacarezinho, estado do Paraná.
A grande variedade de risco presentes nos ambientes de trabalho agrícola se dá de
forma compatível com o alto grau de diversidade de tarefas e de postos de trabalho nestas
atividades. Neste trabalho as tarefas são pouco estruturadas, na maioria das vezes exigem
esforço físico considerável, postura penosa, condição ambiental desfavorável, exposição a
produtos químicos, sazonalidade, operações repetidas de instrumentos em curto espaço de
tempo (SATO, 1993).
Segundo Scopinho (1995), a produção do setor sucroalcooleiro deve ser destacada,
uma vez que os trabalhadores cortam de forma manual a cana-de-açúcar e organizam a maior
parte da matéria-prima que será utilizada na produção de álcool e açúcar. Desta forma, é
necessário fazer estimativa da população que pode se beneficiar com as possíveis melhorias
no desenvolvimento de produtos para auxílio no corte de cana-de-açúcar.
Há vários fatores de agravamento de riscos presentes no ambiente de trabalho agrícola
contribuindo para o desgaste e ocorrência de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho,
como o alto grau de diversidade tecnológica empregada na atividade, grande número de
atividades com tarefas variadas, condições ambientais de difícil controle (tarefas
desempenhadas geralmente a céu aberto), grande esforço físico, longas jornadas de trabalho,
pouca distinção entre condições de trabalho e de vida e enorme variedade de equipamentos,
ferramentas, utensílios e técnicas introduzidas de forma sazonal (SILVA, 1981).
De acordo com Abrahão (1997) a importância da ergonomia para o desenvolvimento
rural é ressaltada por diversos autores, apontando os benefícios obtidos pelos países que
investiram em pesquisas ergonômicas do trabalho agrícola: organização do trabalho, projetos
de ferramentas e equipamentos adequados às tarefas agrícolas, planejamento dos postos de
trabalho. No design de ferramentas e equipamentos, em particular, a contribuição da
ergonomia pode ser relevante em termos de produtividade, conforto e indiretamente com a
diminuição dos custos de operação.
3
No Brasil, os setores industriais mais desenvolvidos, carecem de informações,
conhecimentos e pesquisas na área da ergonomia. No meio agrícola esta realidade se mantém.
O setor concentra um grande volume de trabalhadores expostos a numerosos riscos de
acidentes e doenças do trabalho (ABRAHÃO, 1997).
Em suma, a Ergonomia é uma aliada poderosa no projeto de sistemas de trabalho
agrícola balanceados, onde os trabalhadores têm suas características físicas, psíquicas e
cognitivas contempladas, fazendo parte de um complexo de trabalho otimizado e produtivo.
Dessa forma esta pesquisa visa analisar ergonomicamente a retirado do ponteiro no processo
do corte manual de cana-de-açúcar servindo como base na concepção conceitual do
desenvolvimento de produtos.
1.2 Motivação
O fator motivacional para a realização desta pesquisa foi de contribuir para a melhoria,
a eficiência, a confiabilidade e a qualidade das operações, através de aperfeiçoamentos e
desenvolvimento de produtos (equipamentos e ferramentas) que auxilie na retirada manual de
ponteiros de cana-de-açúcar, melhorando assim as condições de saúde e segurança dos
trabalhadores e repercutindo diretamente na vida produtiva da empresa.
Pegado (1990) considera que a Ergonomia tem os seus objetivos centrados na
humanização do trabalho e na melhoria da produtividade. As condições de trabalho incluem
todos os fatores que possam influenciar no desempenho e satisfação dos trabalhadores na
organização. Isso envolve o trabalho específico, o ambiente, a tarefa, a jornada de trabalho, o
horário de trabalho, salários, além de outros fatores cruciais relacionados com a qualidade de
vida no trabalho, tais como nutrição, nível de atividade física habitual e todas as condições de
saúde em geral.
O desempenho dos indivíduos dentro de uma organização está diretamente ligado à
conformidade entre os seus valores pessoais e os valores da organização, ou seja, a cultura, e
o clima organizacional. Em relação aos recursos humanos, diversos autores (DUKE; SNEED,
1989; VYSKOCIL-CZAJKOWSKI; GILMORE, 1992; HSIEH et al., 1994), têm considerado
as características do trabalho como um significante fator predisponente para a satisfação do
trabalhador, capaz de reduzir as taxas de absenteísmo e turnover, aumentar a produtividade,
melhorar a moral, a motivação, desempenho dos trabalhadores, ajudar no recrutamento, na
base de conhecimento e técnicas de trabalho.
4
Sendo assim, percebeu-se a importância e necessidade de desenvolver uma pesquisa,
através de uma análise ergonômica do processo manual do corte de cana-de-açúcar, e
apresentar uma proposta de melhoria através do desenvolvimento de produtos, contribuindo
para humanização do trabalho e melhoria da produtividade deste trabalhador.
1.3 Justificativa
A atividade do corte de cana-de-açúcar é dividida em 03 etapas: corte da cana-de-
açúcar, depósito da cana-de-açúcar no solo e retirada do “ponteiro”, que por sua vez, é
definido como uma ponta da cana-de-açúcar, após corte, localizada na região proximal ao
solo, esta atividade também pode ser definida como desponte. Esta é a atividade mais
desgastante para o trabalhador do corte manual de cana-de-açúcar, devido ao padrão postural
adotado, considerado como principal fator complicador, no que diz respeito à qualidade e
produtividade da tarefa. A análise ergonômica do trabalho aplicada nas atividades rurais é o
método indicado para o diagnóstico das dificuldades e estratégias empregadas, na tentativa de
cumprir as metas de produção e, ao mesmo tempo, preservar a saúde do trabalhador. Os
métodos clássicos de avaliação dos riscos, definidos em normas do Ministério do Trabalho,
devem ser empregados para o levantamento das variáveis que determinam as condições de
trabalho a que estes estão expostos (ULBRICHT, 2003).
O conhecimento sobre o trabalho humano pode ser melhorado substancialmente se
forem incorporados conceitos oriundos da ergonomia na medida em que este deixa de ser
aplicado somente sob um aspecto da produção, e passa a ser considerado central para o
desenvolvimento humano e das organizações.
O trabalho, na ótica da ergonomia não é uma variável de ajustamento, mas o resultado
dialético de um compromisso entre sujeitos e os constrangimentos da produção,
compreendendo aspectos ligados ao conteúdo das tarefas, a maneira como se busca organizar
o trabalho e, mesmo a definição da divisão das tarefas nos diferentes processos de produção
da empresa. Através desta compreensão é possível evidenciar o quanto os paradigmas
clássicos de projeto da produção e do trabalho consideram pouca a adaptação destes às
características humanas, tanto nas suas capacidades como nos seus limites.
O trabalho humano dentro da produção é geralmente considerado como um dos
últimos aspectos a ser concebido e a sua concepção está baseada em conceitos parciais sobre o
5
homem em atividade de trabalho. Os paradigmas utilizados para tanto, são fundados em
conhecimentos científicos que não consideram a complexidade da fisiologia e da cognição
humana, onde se incluem o esforço físico, as trocas energéticas, os movimentos e as posturas
adotadas pelo trabalhador.
A permanência do alto nível dos desgastes físicos dos trabalhadores rurais em
patamares não aceitos pela sociedade em geral, com repercussão negativa na produtividade
das empresas e na saúde como qualidade de vida dos trabalhadores, em razão da limitada
expansão na utilização dos princípios ergonômicos pelas empresas em geral, vem fazer com
que seja analisada a atividade e avaliada a possibilidade de implantação de um instrumento
que amenize o sofrimento do trabalhador.
1.4 Objetivos
Esta pesquisa teve como objetivo geral aplicar métodos ergonômicos no processo de
retirada do ponteiro do corte manual de cana-de-açúcar na região Norte do Paraná, servindo
como um estudo de caso na formação conceitual do desenvolvimento de produtos utilizados
para realização da atividade.
1.4.1 Objetivos Específicos:
1. Estabelecer um diagnóstico dos principais problemas envolvidos na retirada do
ponteiro da cana-de-açúcar e suas conseqüências para o trabalhador;
2. Propor aperfeiçoamento dos produtos (instrumentos) utilizados no corte de cana-de-
açúcar e retirada dos ponteiros;
3. Verificar, por meio de testes experimentais, as diferenças no desempenho do
trabalhador no corte manual de cana-de-açúcar e a redução de queixas, após
intervenção ergonômica;
6
4. Proporcionar através da nova metodologia de trabalho (uso do gancho), maior
integridade física para o trabalhador, reduzindo o absenteísmo, diminuindo os gastos
com a saúde e promovendo aumento na produtividade.
1.5 Metodologia da Pesquisa
Nesta pesquisa, optou-se pelo estudo de casos múltiplos, devido à necessidade de se
obter uma visão inicial sobre o processo do corte manual de cana-de-açúcar, e carência de
informações a esse respeito.
Tendo em vista ainda que, com o estudo de caso é possível analisar de forma mais
profunda o fenômeno, sendo esta a estratégia preferida quando o pesquisador procura
responder às questões de "como" e "por que" certos fenômenos ocorrem, quando há pouca
possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é a análise
do fenômeno atual a partir do contexto real.
Quando se faz pesquisa tem-se por objetivo saber algo (o quê?) a fim de entender,
explicar e prever o fenômeno. Para que se possam atingir os objetivos é preciso traçar
claramente uma metodologia de pesquisa (Figura 1.1), a qual talvez possua perguntas a serem
respondidas, onde as respostas devem apresentar componentes de teoria versus prática ou
blocos de construção; e o uso de conceitos, constructos ou definições (COOPER;
SCHINDLER, 2003).
7
Figura 1.1: Metodologia da Pesquisa
Fonte: O autor.
1.5.1 Justificativa da Metodologia Científica Estudo de Caso Aplicado à Pesquisa
Faz-se necessário partir do uso de metodologias para análise de dados consistentes em
examinar, classificar e categorizar dados, opiniões e informações coletadas, é preciso
construir uma teoria que ajude a explicar e clarificar o objeto de estudo (MARTINS, 2006).
Esta dissertação foi estruturada como pesquisa-diagnóstico, que levanta e define
problemas e possibilita maior conhecimento sobre o ambiente investigado em determinada
situação, em um momento definido.
A investigação assumiu uma abordagem geral de caráter qualitativo, tendo sido
escolhida como estratégia o estudo de caso múltiplo. A opção metodológica escolhida foi
considerada a mais adequada no sentido de permitir simultaneamente a compreensão interna
Metodologia Científica
Estudo de Casos
O trabalhadordo corte de
Cana-de-açúcarErgonomia
Desenvolvimentode
Produtos
Análise Postural
ProcessoProdutivo do
Corte de Cana-de-açúcar
Proposta do modeloConceitual da Pesquisa
Aplicação do Modelo Conceitualatravés de Estudo de Caso
Análise dos Resultados
REVISÃO DA LITERATURA
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
8
dos fenômenos nos seus contextos apresentadas num estudo de caso, e adquirir certa
exterioridade sobre os fenômenos estudados exigidos pelo ato da comparação.
O estudo de caso é um dos vários modos de realizar uma pesquisa sólida. Outros
modos incluem experiências vividas, histórias, e a análise de informação de arquivo. Cada
estratégia tem vantagens e desvantagens que dependem de três condições: 1) o tipo de foco da
pesquisa; 2) o controle que o investigador tem sobre eventos comportamentais atuais, e 3) o
enfoque no contemporâneo ao invés de fenômenos históricos.
A primeira abordagem foi feita sobre o processo de produção do corte de cana-de-
açúcar, sobre a qualidade do emprego na atividade agrícola do corte de cana-de-açúcar
(emprego agrícola direto / indireto), que ao que tudo indica, continuará apresentando forte
tendência de expansão no futuro próximo em função dos promissores mercados (nacional e
internacional) para o açúcar e para o álcool combustível. Se, por um lado, são facilmente
perceptíveis os avanços na qualidade do emprego, inclusive pela pressão do movimento
sindical organizado e pela fiscalização por parte dos órgãos públicos competentes, por outro,
assiste-se ainda a fatos relacionados com a exploração e com o desrespeito aos direitos
trabalhistas mais elementares dos empregados. Entre os principais avanços na qualidade do
emprego, podem ser citados a redução do trabalho infantil, o aumento do nível de
formalidade, os ganhos reais de salário, o aumento de alguns benefícios recebidos e o
aumento da escolaridade dos empregados. De acordo com os dados da Pnad (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios), em 1992, o uso de trabalho infantil chegava a 14,7% e
10,8%, respectivamente, do total de empregados temporários rurais e urbanos ocupados na
cultura da cana-de-açúcar. Em 2005, essas participações caíram para 3,3% e 0,5%,
respectivamente, e, para os empregados permanentes era ausente o uso de trabalho infantil.
Uma segunda abordagem foi quanto ao trabalhador do corte manual de cana-de-
açúcar, sendo esta uma atividade que gera grande número de riscos à segurança e saúde do
trabalhador.
Em seguida foi analisada a importância da ergonomia para o desenvolvimento da
atividade rural, que aponta quais os benefícios obtidos pela organização do trabalho, projetos
de ferramentas e equipamentos adequados às tarefas. Sua relevância em termos de
produtividade, conforto e indiretamente com a redução de custos de operação.
Uma terceira abordagem foi com relação à postura (análise antropométrica,
biomecânica e anatômica) adotada pelo cortador de cana-de-açúcar na retirada do ponteiro,
uma vez que para a realização da atividade é adotada a postura em pé, somada a movimentos
repetitivos de flexão, rotação e inclinação lateral de tronco, e intensa utilização da
9
musculatura dos braços e punho. As contrações são abruptas e desordenadas, utilizando
grandes grupos musculares com associação de força de alta intensidade podendo desencadear
quadros álgicos, seguidos de inflamações, levando o funcionário a adoecer.
E por fim a análise do desenvolvimento de produtos que venham auxiliar na retirada
do ponteiro do corte manual de cana-de-açúcar.
O estudo de caso deve se adequar a quatro princípios relevantes que impactam na sua
qualidade: construir validade; possuir validade interna; possuir validade externa; apresentar
confiabilidade.
Construir validade significa usar meios de coleta de dados que minimizem o caráter
subjetivo. A validade interna refere-se à ligação causal lógica entre as proposições iniciais e
as conclusões. A validade externa preocupa-se com os limites dos resultados obtidos da
pesquisa e com as situações onde podem ser usados. Finalmente, a confiabilidade está
relacionada ao rigor metodológico que possa garantir que os resultados obtidos serão os
mesmos ao se repetir as mesmas fases de estudo naquele caso.
1.6 Estrutura da Dissertação
A dissertação foi estruturada em sete capítulos, sendo:
• O primeiro capítulo introduz o trabalho, a fim de colocar o leitor no contexto da
pesquisa, apresenta-se a motivação com relação à escolha do tema, associado a sua
justificativa e a necessidade de realização; cita a metodologia utilizada e os objetivos da
pesquisa;
• O segundo capítulo descreve a metodologia, Estudo de Caso, utilizada como base
científica no desenvolvimento da pesquisa e sua justificativa;
• O terceiro capítulo apresenta o estado da arte através de uma revisão da literatura
sobre os temas pertinentes ao estudo: O processo produtivo do corte manual de cana-de-
açúcar; O trabalhador e as atividades manuais do corte de cana-de-açúcar; Ergonomia;
Desenvolvimento de produtos; Análise Postural (Antropométrica, Biomecânica, Anatômica);
• No quarto capítulo é apresentado o modelo conceitual do instrumento de coleta de
dados, organizada em blocos de temas referente à pesquisa;
10
• O quinto capítulo apresenta a Análise Ergonômica baseada no modelo conceitual
proposto (blocos e amostra delimitados no capítulo 4) e a proposta da utilização do gancho na
retirada do ponteiro, apresentando os resultados obtidos na pesquisa;
• O sexto capítulo traz as considerações finais da pesquisa e sugestões para trabalhos
futuros;
• E o sétimo e último capítulo apresentará o referencial bibliográfico utilizado para o
desenvolvimento desta dissertação.
11
CAPÍTULO 2- REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo apresenta uma revisão da literatura para o suporte da concepção desta
pesquisa que foi dividida em quatro etapas: O processo produtivo do corte de cana-de-açúcar,
o trabalhador no corte de cana-de-açúcar, a ergonomia, análise postural e o desenvolvimento
de produtos.
2.1 O Processo Produtivo do Corte Manual de Cana-de-Açúcar Segundo o Jornal da Cana (2004), no Brasil, as 289 usinas e destilarias que geram 3,6
milhões de empregos são distribuídas da seguinte forma: Alagoas (24 usinas), Amazonas (1
usina), Bahia (3 usinas), Ceará (1 usinas), Espírito Santo (6 usinas), Goiás (10 usinas),
Maranhão (3 usinas), Minas Gerais (19 usinas), Mato Grosso do Sul (10 usinas), Mato Grosso
(8 usinas), Pará (1 usina), Paraíba (9 usinas), Pernambuco (26 usinas), Piauí (1 usina), Paraná
(25 usinas), Rio de Janeiro (8 usinas), Rio Grande do Norte (3 usinas), Rio Grande do Sul (1
usina), Sergipe (2 usinas) e São Paulo (126 usinas), que produzem 340 milhões de toneladas
de cana-de-açúcar moída, permitindo a fabricação de 24 milhões de toneladas de açúcar e 14
bilhões de litros de álcool.
A agroindústria canavieira emprega um milhão de brasileiros no corte manual da cana-
de-açúcar, e mais de 80% do que é colhido é cortado à mão, segundo a União da
Agroindústria Canavieira de São Paulo (UNICA, 2004), o corte é precedido da queima da
palha da planta, o que torna o trabalho mais seguro e rentável para o trabalhador. Porém,
muitas vezes, o corte é feito com a cana-de-açúcar crua, principalmente quando esta é
destinada ao plantio.
Segundo Padis (1981), o Norte do Paraná representou 86% da produção canavieira
obtida pelo Estado no período de 1964/68. Durante os cinco primeiros anos das décadas de
1950 e 1960, as usinas que se destacaram, em termos de transformação da cana em açúcar e
álcool, foram: Bandeirantes, Central Paraná, Jacarezinho e Morretes (ANUÁRIO
AÇUCAREIRO, 1956; 1967). Mesmo sendo vários os municípios paranaenses produtores de
cana-de-açúcar, dois apresentaram certo destaque: Porecatu (onde se situa a Usina Central
Paraná) e Bandeirantes (onde está localizada a Usina Bandeirantes). Estes municípios foram
responsáveis por 70% da produção da região norte e mais da metade do total estadual. A
12
unidade produtiva de Jacarezinho situa-se ao norte do Estado, enquanto Morretes fica situada
mais próxima ao litoral paranaense.
O maior número de acidentes na cultura da cana-de-açúcar ocorre na atividade que
executa o corte manual, embora para ser encaminhada para o setor industrial da usina,
inúmeras atividades pós-corte podem estar envolvidas, como, por exemplo, o enleiramento ou
amontoamento e o carregamento. Os equipamentos manuais estão entre os principais fatores
causadores de acidentes; somente o uso do facão é responsável por 65% das ocorrências com
ferramentas manuais registradas. No corte manual da cana-de-açúcar, por exemplo, o
trabalhador rural está sujeito a uma série de riscos de acidentes, próprios da operação, dos
quais se pode destacar: cortes nas mãos, pernas e pés, provenientes da utilização do facão,
foice ou podão, além de lombalgias, dores musculares, lesões oculares, irritação da pele,
quedas e ferimentos (COUTO, 2002).
Atualmente, a agroindústria canavieira paranaense apresenta-se no cenário nacional
como de perfil moderno, adotando novas técnicas e insumos, sendo superada, neste aspecto,
apenas por São Paulo (SHIKIDA, 1997).
De fato, o Paraná se destaca nacionalmente pela sua produtividade média de 78
toneladas por hectares (safra 2000/03), enquanto que a média nacional gira em torno de 69
toneladas no período, pelo seu segundo lugar nas produções nacionais de cana-de-açúcar e
álcool, sendo responsável por 7,53% da produção canavieira e por 7,85% da produção
alcooleira do país, e pelo seu o terceiro lugar na produção de açúcar (contribuindo com 6,55%
no total brasileiro) - safra 2002/03 (HISTÓRICO produção Brasil, 2004; SEAB/DERAL,
2003).
A descrição da tarefa dos cortadores de cana-de-açúcar feita por Ferreira e
colaboradores (1998) é a seguinte: “munidos de facões, eles devem cortar a cana com um ou
vários golpes na sua base ou pé, despontá-la, e carregá-la com os braços até um local pré-
estabelecido, formando montes ou leiras, para que, numa etapa posterior do processo
produtivo, tratores carregadores e carregadeiras a transportem para os caminhões que irão
para a usina”.
O trabalhador repete os mesmos gestos: abraçar o feixe de cana, curvar-se, golpear
com o podão a base dos colmos, levantar o feixe, girar e empilhar a cana ou enleirar. Esta
seqüência contínua de movimentos torna o trabalho repetitivo, segundo Alessi e Navarro
(1997).
13
Adissi (1987) comenta que o trabalho canavieiro tem uma relação de dependência com
a agroindústria. Como a lavoura canavieira tem como finalidade o suprimento das
necessidades da agroindústria do álcool e açúcar, isso exige a integração entre os sistemas de
produção agrícola e industrial. Essa condição faz com que as exigências industriais sejam
transferidas aos sistemas de produção agrícola, mas de forma indireta, estão presentes em todo
o processo canavieiro.
As condições sociais precárias que estão sujeitas a maioria da população referem-se
principalmente a processos de trabalho dos setores secundário e terciário (principalmente às
indústrias de ponta e do setor prestador de serviços de consumo coletivo) e, desse modo,
pouco enfocado aos processos de trabalho do setor primário da economia (LAURELL;
NORIEGA, 1989). De acordo com Cohn e Marsiglia (1993), um outro traço constitutivo,
reside em conceber os seus objetos de análise como processos sociais. A categoria “trabalho”,
sob o modo de produção capitalista, determina uma das formas de relacionamento social
promovendo interação entre empregado e empregador, onde os papéis sociais desempenhados
por esses agentes são opostos e complementares entre si e estão definidos pela posição que
ocupam no processo da produção: proprietários e não proprietários dos meios de produção
(ALESSI; SCOPINHO, 1994). Isto é, a categoria “trabalho” ainda é entendida como estando
“vinculada aos padrões das relações sociais, econômicas e políticas vigentes na sociedade
mais ampla” (FISCHER, 1985).
Em um estudo realizado por Evans e Jacob (1996), com trabalhadores da colheita de
laranja, foram detectados problemas relacionados ao desconforto físico decorrente à
inadequação dos procedimentos adotados para o desenvolvimento da tarefa, exposição
ambiental a intempéries e sofrimento com a utilização dos equipamentos relacionados com a
tarefa, gerando transtornos como dores nas costas, ombros, membros inferiores e superiores.
Neste sentido, deve-se levar em consideração a capacidade e a limitação humana no
aperfeiçoamento e desenvolvimento de equipamentos, buscando reduzir a probabilidade de
acidentes, a fadiga, aumentando a satisfação no trabalho e conseqüentemente incrementando a
produtividade (COLETA, 1991).
Wisner (1994) considera que “todos os problemas ligados ao trabalho são de natureza
probabilística, isto é, certos trabalhadores são atingidos em graus diferentes, outros não o são.
Para perceber as causas de numerosos problemas ligados ao trabalho, uma abordagem
epidemiológica é indispensável ao nível de empresa ou, mais amplamente, do ramo
industrial”.
14
2.2 O Trabalhador e as Atividades Manuais do Corte de Cana-de-Açúcar
A instrução de trabalho do sistema de qualidade para o corte manual da cana-de-açúcar
define as tarefas a serem cumpridas por meio de conjunto de prescrições elaboradas pelos
organizadores, para nortear a execução da atividade e garantir o fornecimento de matéria-
prima para a indústria. As descrições abaixo são literais, de acordo com relatório fornecido
pelo Departamento de Administração Agrícola da empresa em agosto de 2001, e
correspondem às Instruções do Trabalho do Sistema de Qualidade que determinam como o
trabalhador rural deve executar o corte manual da cana-de-açúcar (GONZAGA, 2002).
A cultura da cana-de-açúcar, até chegar ao açúcar e ao álcool, inclui a atividade do
corte manual da cana-de-açúcar, que tem uma rotina operacional permeada por agentes
penosos, como, por exemplo, o turno de trabalho de 8 horas diárias desenvolvido sob
irradiação solar, poeira e fuligem; o pagamento é por produção, ou seja, se parar de cortar
para tomar água ou ir ao banheiro, o cortador deixa de produzir e não recebe. A operação do
corte é dividida nas seguintes operações: corte da base da cana, desponte da ponteira e
amontoamento ou enleiramento.
Segundo Gonzaga (2002), o corte na base consiste na retirada da cana-de-açúcar das
touceiras, o que exige do trabalhador uma seqüência ritmada de movimentos corporais. Em
geral, com um dos braços, o trabalhador abraça o maior número possível de colmos. Em
seguida, curva-se para frente e, com o podão seguro por uma de suas mãos, golpeia, com um
ou mais movimentos, a base dos colmos; o mais próximo possível do solo, fazendo um
movimento de rotação e, ao mesmo tempo, levantando o feixe de cana já cortada,
depositando-o em montes ou leiras. A atividade se completa com o desponte da ponteira. A
cana-de-açúcar cortada deve ser organizada sob normas, que no campo são impostas pelos
fiscais. Muitas vezes, quando o declive do terreno é mais acentuado, organizar a cana-de-
açúcar já cortada é muito mais difícil, o mesmo ocorrendo na organização da cana crua. Estas
dificuldades interferem no rendimento do trabalhador, já que normalmente a produtividade
tende a cair, e também impõem posturas totalmente inadequadas, que normalmente ocasionam
lombalgias e outros problemas osteomusculares.
Alessi e Scopinho (1994) verificaram que o processo de trabalho do cortador de cana-
de-açúcar da região de Ribeirão Preto gera um conjunto de cargas laborais que se traduzem
em um padrão de morbidade que, apesar de inespecífico, está estreitamente relacionado ao
modo de organizar e realizar a atividade. Scopinho (1995; 1996) e Scopinho e Valarelli
15
(1995) acrescentaram que o estado geral de saúde dos trabalhadores é agravado pela
precariedade do conjunto das condições de vida em termos de, por exemplo, condições de
higiene e saneamento do local de moradia, grau de instrução, facilidade de acesso aos bens de
consumo coletivo em geral, existência de espaços institucionalizados ou não de reivindicação
de direitos etc.
Segundo Silva (1981), o progresso técnico na agricultura, ao mesmo tempo, subordina
as forças da natureza e o trabalho à lógica de valorização do capital. Embora este autor tenha
frisado que a aplicação do progresso técnico no processo produtivo não é feita no sentido de
contrariar ou prejudicar os trabalhadores, mas, principalmente, para favorecer os capitalistas
através da elevação da taxa de lucro, o fato é que, nas agroindústrias sucroalcooleiras, para os
trabalhadores, as inovações tecnológicas têm sido sinônimo de deterioração das relações e
condições de trabalho. Ou seja, na agroindústria canavieira, o desenvolvimento do progresso
técnico, por um lado, tem significado desemprego e, por outro, a intensificação do ritmo de
trabalho, o que tem afetado seriamente a saúde e a segurança no trabalho (SCOPINHO, 1995;
1996; SCOPINHO; VALARELLI, 1995).
2.3 Ergonomia aplicada ao trabalho agrícola
A definição dada pelo Conselho Executivo da International Ergonomics Association,
IEA, é a de que “Ergonomia (ou human factors) é a aplicação de teorias, princípios, dados e
métodos para projetar de modo a otimizar o bem-estar humano e a performance total do
sistema” (BITTES, 2003). O objetivo final e principal da ergonomia é a adaptação do trabalho
ao homem, considerando trabalho como toda e qualquer situação em que ocorre o
relacionamento entre o homem e a tarefa desempenhada (SOARES, 1999). Ergodesign vem a
ser a fusão de tópicos do design com propósitos e práticas da ergonomia. Grandjean (2002),
em entrevista publicada no site da Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO, relatou
que “Máquinas, equipamentos, estações de trabalho e ambientes que integram a ergonomia ao
design contribuem para a qualidade de vida, aumentam o bem-estar e o desempenho dos
produtos”.
A Ergonomia é uma ciência multidisciplinar com escopo de estudo e trabalho muito
bem definida, organizada mundialmente, possuindo a Associação Ergonômica Internacional
16
com 42 sociedades federadas, utilizando dados e técnicas da sociologia, como estudos de
grupos, comunicações, comportamentos; da psicologia, como habilidades, aprendizado, erros,
diferenças; da física, ruído, calor, frio, iluminação, radiação, vibração; da medicina, audição,
visão, sensações, músculos, etc. (IEA, 2000). A intervenção ergonômica busca a segurança e
conforto dos trabalhadores em situações de trabalho (ABRAHÃO, 1997; GUERIN, 1997;
WISNER, 1994).
Wilk (2004) relata que cada vez mais a indústria torna-se interessada em
implementar a ergonomia, devido principalmente ao surgimento dos efeitos negativos que as
circunstâncias podem ter na sua produtividade e em sua força de trabalho. De acordo com
Joyce (2001), foi realizada uma pesquisa pelo Instituto/Arthur D., onde 92% dos
entrevistados relataram reduções de aproximadamente 20% de custos com a saúde do
trabalhador, 72% relataram ganhos acima de 20% na produtividade, e 50% dos entrevistados
relataram exceder 20% dos aumentos da qualidade do produto e do processo.
As deficiências técnicas de projetos de máquinas impõem dificuldades operacionais e
aumento dos riscos de acidentes, diminuindo a eficiência. Um projeto mal concebido pode
aumentar a carga de trabalho físico, antecipando a fadiga, a redução da confiabilidade e do
desempenho, além de comprometer a integridade física e psíquica do trabalhador (IIDA,
1990). O ser humano possui grande capacidade de ajustar-se as condições de exposição que
lhe são impostas, assim, ele tem capacidade para manusear máquinas, ferramentas e
equipamentos ergonomicamente mal projetados, suportando posições incômodas e
inadequadas durante o trabalho. No entanto, conforme Minette (1996), realizar uma atividade
nessas condições, resultará em perdas de produtividade e prejuízos para a saúde do
trabalhador.
Seminério (1989) destaca que se deve procurar sempre amenizar as árduas condições
inerentes à tarefa, modificando os instrumentos utilizados através de padrões antropométricos
mais corretos, onde estas modificações procurarão também reduzir as inadequações das
condições de trabalho estabelecendo parâmetros que permitam adaptá-las às características
físicas e psicológicas dos trabalhadores, proporcionando o máximo de conforto, segurança e
desempenho eficiente do trabalho. No aperfeiçoamento de produtos, no posto de trabalho e no
sistema há sempre o que otimizar. Ao limite, cabe a Ergonomia replanejar a própria cultura.
Sistemas habitacionais, de informações, alimentares, profissionais, instrumentais e
equipamentos, de toda espécie merecem passar pelo crivo deste aperfeiçoamento, visando
melhorar a qualidade de vida do homem.
17
Segundo Curry (2004), a metodologia ergonômica busca adequar de forma mais
apropriada às potencialidades do trabalhador, dentro do ambiente de trabalho, prevenindo às
doenças ocupacionais e melhorando à eficiência do trabalhador. A ergonomia pode trazer
grandes contribuições para a empresa como: redução de custos com doenças relacionadas ao
trabalho (incluindo dia de trabalho perdidos, custos de compensação do trabalhador e
associação dos custos médicos) e aumento dos lucros com as melhorias na produtividade total
do trabalhador.
A ergonomia aplica-se ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas,
com o objetivo de melhorar a segurança, as condições de saúde, o conforto e a eficiência no
trabalho (DULL; WEERDMEESTER, 1995). A principal finalidade da ação ergonômica,
segundo Guerin (1997), é transformar o trabalho contribuindo para a concepção de situações
que não afetem a saúde dos trabalhadores. Dias e colaboradores (2000) enfatizaram que os
alguns aspectos ergonômicos devem ser considerados, tais como: posturas favoráveis,
dimensões adequadas, dimensionamento e acessibilidade, comandos, controles, fatores
ambientais, movimentos e questões de segurança. No desenvolvimento do produto, o sucesso
da atividade e o conforto dos usuários são os principais objetivos a serem alcançados.
A Norma Regulamentadora n°17 do MTE é a norma de segurança e saúde do
trabalho que se refere à temática “ergonomia”. Em função disto, em 2002 foi publicado o
Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora nº. 17, que aponta que a análise
ergonômica do trabalho é um processo construtivo e participativo para a resolução de um
problema complexo que exige o conhecimento das tarefas, da atividade desenvolvida para
realizá-las e das dificuldades enfrentadas para se atingirem o desempenho exigido. A análise
começa por uma demanda que pode ter diversas origens. Pode ser a constatação de que em
determinado setor há um número elevado de doenças ou acidentes (demanda de saúde),
reclamações de sindicato de trabalhadores (demanda social) ou a partir de uma notificação de
auditores-fiscais do trabalho ou de ações civis públicas (demandas legais) que, por sua vez,
também se originaram de alguma queixa ou reclamação. Da parte das empresas, uma
demanda quase sempre advém da necessidade de melhorar a qualidade de um produto ou
serviço prestado ou motivado por maiores ganhos de produtividade.
A evolução humana foi acompanhada pelo crescente uso de utensílios, ferramentas e
procedimentos criados para melhorar o conforto das pessoas, capacidade de sobrevivência e
seu desempenho na vida diária em todos os tipos de atividades desenvolvidas. Ao utilizar uma
pedra lascada como uma ponta de uma lança ou fazendo fogo para aquecimento, o homem
18
utiliza o ambiente natural e o adapta, podendo assim caracterizar um dos conceitos mais
simples de Ergonomia: A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem, onde o
trabalho tem uma acepção bastante ampla, abrangendo não apenas máquinas e equipamentos
utilizados para transformar os materiais, mas também toda a situação em que ocorre o seu
relacionamento com o homem (IIDA, 2002).
A biomecânica ocupacional estuda as interações entre o trabalho e o homem sob o
ponto de vista dos movimentos músculo-esquelético envolvidos, podendo assim estimar as
tensões que ocorrem durante uma postura, um movimento ou a aplicação de força. O trabalho
realizado pode ser estático, onde se realiza uma contração contínua de alguns músculos para
manter uma determinada posição, ou dinâmico, que permite contrações e relaxamentos
alternados dos músculos (DELIBERATO, 2002).
Para a melhoria das condições de trabalho, tanto de forma corretiva, sendo melhorias
em sistemas já existentes, quanto de maneira prospectiva, promovendo melhorias nos
sistemas de trabalho em fase de concepção e projeto, é necessário avaliar o trabalho humano
existente, por critérios bem definidos, aceitos e que obedeçam a uma hierarquia de níveis de
valoração relacionados com o trabalhador (DULL, WEERDMEESTER; 1995).
Segundo Montmollin (1990) os elementos que distinguem as condições de trabalho
são: condições técnicas (características dos instrumentos, máquinas, ambiente do posto de
trabalho, etc.); condições organizacionais (procedimentos prescritos, ritmos impostos,
conteúdo do trabalho); condições subjetivas (características do operador, saúde, idade,
formação); condições sociais (remuneração, qualificação, vantagens sociais, segurança de
emprego), e em certos casos condições de alojamento e de transporte, relações com a
hierarquia, etc. Segundo o mesmo autor quando esses elementos que distinguem, pode-se
dizer que as condições de trabalho também são adequadas.
Para se para obter bons resultados, é preciso que toda ação ergonômica seja bem
conduzida (Quadro 2.1).
19
Quadro 2.1 - Correspondência entre etapas da análise ergonômica do trabalho e os procedimentos de
pesquisa em ergonomia.
Etapas da análise ergonômica do trabalho Procedimentos de pesquisa em ergonomia
1ª etapa Análise e reformulação da demanda
1-Caracterização do (s) problemas; 2-Entrevistas exploratórias com gerentes e trabalhadores; 3-Observações abertas do trabalho; 4-Obtenção de dados gerais de produção, da organização e da população em estudo. 5-Realizar levantamento em dados existentes sobre o estado de saúde da população que será monitorada.
2 ª etapa Análise da tarefa
1-Identificar e analisar as tarefas prescritas e os modos operatórios; 2-Compreender a organização e o funcionamento da produção; 3-Identificar equipamentos e meios materiais usados; 4-Avaliar e medir variáveis ambientais e fisiológicas.
3 ª etapa Formular um pré-diagnóstico
De posse do conjunto de informações anteriores, o pré-diagnóstico possibilita a elaboração de uma primeira formulação de hipótese explicativa dos determinantes causais relacionados à demanda reformulada. Ou seja, o pré-diagnóstico consiste em um esforço de síntese explicativa de problemas que justificam o estudo. Possibilita também, selecionar as variáveis de observação que servirão para a análise sistemática da atividade conforme segue.
4 ª etapa Análise das atividades
1-Realizar observações sistemáticas (filmagens, fotografias e registros); 2-Produzir em modo gráfico as variáveis selecionadas para gravação (Software Kronos); 3-Realizar observações e entrevistas simultâneas para auto-confrontação; 4-Formular e avaliar o diagnóstico com os trabalhadores, supervisores e gerentes de produção.
5 ª etapa Diagnóstico e proposições
O diagnóstico possibilita uma compreensão científica das realizações causais em torno do (s) problema (s) do estudo, sendo, portanto, uma base sólida para fundamentar as mudanças e melhorias desejadas pelos atores sociais envolvidos. Deverá ser avaliado pelo conjunto destes atores e servirá de base para as proposições e recomendações de melhorias.
Fonte: Guérin et al. (2001)
20
Para Montmollin (1990), a ergonomia é a tecnologia das comunicações homem-
máquina. Grandjean (1998) define a ergonomia como uma ciência interdisciplinar. Ela
compreende a fisiologia e a psicologia do trabalho, bem como a antropometria e a sociedade
no trabalho. O objetivo prático da ergonomia é a adaptação do posto de trabalho, dos
instrumentos, das máquinas, dos horários e do meio ambiente às exigências do homem. A
realização de tais objetivos, ao nível industrial, propicia uma facilidade do trabalho e um
rendimento do esforço humano.
Wisner (1994) define a ergonomia como sendo um conjunto de conhecimentos
científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e
dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto e eficácia. A ergonomia é
considerada por alguns autores como ciência, enquanto geradora de conhecimentos. Outros
autores a enquadram como tecnologia, por seu caráter aplicativo, de transformação. Apesar
das divergências conceituais, alguns aspectos são comuns às várias definições existentes: a
aplicação dos estudos ergonômicos, a natureza multidisciplinar, o uso de conhecimentos de
várias disciplinas, o fundamento nas ciências e a concepção do trabalho.
2.3.1 Análise Postural
A postura tem sido objeto de estudo desde há muito tempo, sendo descrita por muitos
autores sob diferentes contextos. As posturas são utilizadas para realizar atividades com o
menor gasto energético, e é através das posições mantidas pelo tronco, que se determina à
eficiência do movimento e as sobrecargas impostas à coluna vertebral. Freqüentemente é
determinada pela natureza da tarefa ou do posto de trabalho. De acordo com Smith e
colaboradores (1997), “postura é um termo definido como uma posição ou atitude do corpo, a
disposição relativa das partes do corpo para uma atividade específica, ou uma maneira
característica de sustentar o próprio corpo”. O corpo pode assumir muitas posturas
consideradas confortáveis por longos períodos e realizarem as mesmas tarefas. Quando ocorre
um desconforto postural por contração muscular contínua, tensão ligamentar, compressão
ligamentar ou oclusão circulatória, normalmente procura-se acomodar o corpo em uma nova
atitude postural. Quando não se alteram as habituais posições, podem ocorrer lesões teciduais,
21
limitação de movimentos, deformidades ou encurtamentos musculares restringindo as
atividades de vida diária sejam elas em postura sentada, em pé ou deitada.
Kendall e colaboradores (1995) definiram postura como “o arranjo característico que
cada indivíduo encontra para sustentar o seu corpo e utilizá-lo na vida diária, envolvendo uma
quantidade mínima de esforço e sobrecarga, conduzindo à eficiência máxima do corpo”. A
grande interação entre as musculaturas estática e dinâmica é evidenciada entre os vários
autores, quando se refere a qualquer atividade corporal, onde a postura dinâmica está
associada à execução de tarefas numa soma de vários movimentos articulares que permitem
realizar as atividades de trabalho, enquanto que a postura estática associa-se à manutenção do
tônus dando base necessária à estabilização das estruturas centrais do corpo (escápulas, coluna
vertebral e pelve).
Para a Academia Americana de Ortopedia citada em 1986 por Knoplich, “postura é
um arranjo relativo das partes do corpo e, como critério de boa postura, o equilíbrio entre suas
estruturas de suporte (músculos e ossos), que as protegem contra uma agressão por trauma
direto ou deformidade progressiva por alterações estruturais. Já a má postura é aquela onde há
falha no relacionamento das várias partes do corpo, induzindo ao aumento de agressão às
estruturas de suporte produzindo um desequilíbrio nas bases de suporte corporal”. Postura
inadequada exigirá maiores forças internas para a execução de uma tarefa e postura correta
promove boas condições biomecânicas, o que leva um maior rendimento com relação à
energia localizada. O autor descreve que a postura estática exige, geralmente, baixos níveis de
tensão muscular e o estado prolongado de contração muscular produz compressão dos vasos
sangüíneos, reduzindo o fluxo de sangue e o fornecimento de oxigênio, o que leva ao
desconforto e à dor muscular, provocando fadiga mais rapidamente que a postura dinâmica.
Bienfait (1995) defende que, um corpo está em equilíbrio estável quando a vertical
traçada a partir de seu centro de gravidade cai no centro da base de sustentação e que o centro
de gravidade geral é resultante de todos os centros de gravidade segmentares em relação ao
peso, havendo tantos centros de gravidade quantas forem às posições em nossa estática. E as
curvaturas vertebrais não são as mesmas para todos os indivíduos diferenciando
principalmente pelas raças, especialmente as lombares, mais pronunciadas na raça negra do
que as da raça branca e na raça amarela geralmente ocorrem o inverso, isto é, uma inversão da
curvatura lombar. Os membros inferiores são a base sólida e estável da estrutura corporal na
postura em pé, constituindo a plataforma de apoio. Sua posição é que condicionam a forma, a
dimensão e a orientação da base de sustentação, cujas variações são elementos capitais na
estática do corpo humano, sobretudo, sua estabilidade. Enquanto o tronco é o elemento móvel
22
que desloca o centro de gravidade, controlado pela musculatura tônica; e a cabeça e o pescoço
controlam a coordenação do conjunto, onde a cabeça impera a verticalidade dela própria e a
horizontalidade do olhar.
A literatura aponta o cortador de cana-de-açúcar como um dos trabalhadores da área
agrícola que mais sofrem carga física durante suas atividades, pelas posturas adotadas durante
o corte manual da cana. A coluna vertebral sofre com essas posturas, pois em grande parte
delas este profissional trabalha em flexão e/ou rotação de tronco, porém são poucas as
referências bibliográficas sobre as conseqüências de má postura, sobrecargas posturais e
movimentos antifisiológicos durante essa atividade profissional.
De acordo com Adrian e Cooper (1995), o objeto de estudo da Biomecânica é o
sistema gestual, isto é, o movimento. Este estudo do sistema gestual consiste na análise da
interação do corpo, que realiza a ação, com o meio envolvente, ou seja, a Biomecânica
dedica-se ao estudo das ações dos diversos tipos de corpos, quer sejam partículas, corpos
rígidos ou, articulados. Mas, tomando sempre em consideração o meio envolvente e as suas
características particulares, como por exemplo, a existência da força da gravidade. Essa
interação entre o corpo e o meio far-se-á tomando como referência os vínculos do sistema,
isto é, as cadeias cinemáticas e os diversos graus de liberdade que o corpo apresente. As
cadeias cinemáticas permitem determinar que tipo de relação existe entre o corpo e o meio, se
é aberta ou fechada, determinado pela existência – ou não – de apoios fixos externos. Os
graus de liberdade permitem descrever a localização e a orientação dos corpos ou dos seus
segmentos no espaço. Em termos mais específicos, são considerados como objetivos da
Biomecânica:
a) Aumentar a eficiência técnica do sujeito: estudando e comparando os
desempenhos dos melhores com o desempenho dos indivíduos a quem se deseja
aumentar a eficiência; analisando as técnicas à luz dos princípios da Mecânica;
utilizando simulações computadorizadas; melhorando os equipamentos e os
materiais.
b) Diminuir a probabilidade de se verificarem lesões, do tipo crônico ou agudo,
decorrentes da atividade física.
23
A Biomecânica é a disciplina dedicada ao estudo do corpo humano considerando este
como uma estrutura que funciona segundo as leis da mecânica. A mecânica é a ciência
encarregada do estudo das forças e de suas ações sobre as massas (REBOLLAR, 1998).
Hammil e Knutzen (2000) definem a Biomecânica como “a ciência que aplica os
conhecimentos da Mecânica em sistemas vivos”. Nigg e colaboradores (1994) dizem que é a
ciência que examina as forças que atuam externa e internamente numa estrutura biológica e o
efeito produzido por essas forças, onde as forças internas são resultados da ação muscular.
2.4 Desenvolvimento de produtos para atividades agrícolas
Segundo Duncan (1996), cada fase de um projeto é marcada pela conclusão de um ou
mais produtos da fase (deliverables). Um produto é um resultado de um trabalho, tangível
verificável, tal como um estudo de viabilidade, um design detalhado ou um protótipo. Os
produtos e também as fases, compõem uma seqüência lógica, criada para assegurar uma
adequada definição do produto do projeto. A conclusão de uma fase geralmente é marcada
pela revisão dos principais produtos e pela avaliação do desempenho do projeto tendo em
vista determinar se o projeto deve continuar na próxima fase.
Ainda segundo o mesmo autor, cada fase normalmente inclui um conjunto de
resultados de trabalhos específicos, projetados com o objetivo de estabelecer um controle
gerencial desejado. A maioria destes itens está relacionada com o principal produto da fase.
As fases adotam tipicamente nomes provenientes destes itens: conceito, projeto detalhado,
especificação, testes e protótipos, lançamento e etc.
O desenvolvimento de produtos envolve um conjunto de atividades aplicados na
formação de novos produtos ou ao aperfeiçoamento de produtos já existentes. O
desenvolvimento de produtos é um processo não linear, possuindo etapas que poderão
retornar a fase anterior, por exemplo, durante o detalhamento do produto, talvez um
componente previsto não esteja disponível, logo é necessário retroceder para a etapa de
desenvolvimento e modificar o projeto (IIDA, 2005).
Clark e Wheelwrlght (1992) dividem o processo de desenvolvimento de produtos em
quatro fases: desenvolvimento do conceito, planejamento do produto, engenharia do
produto/processo e finalmente produção piloto/aumento da produção (Figura 2.1).
24
Fase
Desenvolvimento do
Conceito
Planejamento do Produto
Engenharia do Produto/Processo
Produção Piloto/Aumento da Produção
Aprovação do Programa
Conceito Liberação
Final de Engenharia
Primeiro Protótipo Projeto / Planejamento
Produto
Introdução Processo no Mercado
Produção piloto
Aumento da Produção
Figura 2.1 - Fases do desenvolvimento de produtos
Fonte: Clark e Wheelwrlght (1992)
As duas primeiras fases compreendem o desenvolvimento do conceito e o
planejamento do produto, onde incluem informações sobre as oportunidades de mercado, as
possibilidades técnicas e os requisitos de produção. Considera-se aqui o projeto conceitual, o
mercado alvo, os investimentos necessários e a viabilidade econômica. Para a aprovação do
programa de desenvolvimento de produto, o conceito deve ser validado através de testes e
discussão com potenciais clientes. Com o conceito aprovado, parte-se para o detalhamento da
engenharia e do processo de fabricação. Esta fase envolve o desenvolvimento do projeto, a
construção de protótipos e o desenvolvimento de ferramentas para produção. O detalhamento
de engenharia envolve o ciclo projetar, construir e testar, até atingir a maturidade necessária
para início da produção piloto. A liberação da versão final marca o final desta fase.
A fase de produção piloto compreende a construção e teste dos meios de produção.
Aqui são produzidas muitas unidades do produto com o objetivo de testar os planos de
processo desenvolvido.
A última fase compreende o aumento do volume de produção. Isso envolve o
refinamento do processo de produção, com aumento gradativo do volume até que a
organização e os fornecedores atinjam confiança no processo e estejam aptos a atingir as
metas planejadas de produção, custos e qualidade (CLARK; WHEELWRLGHT, 1992). As
25
fases de projeto de um produto incluem atividades que vão desde a geração de informações e
especificações de projeto para o produto, do desenvolvimento de idéias de como deveria ser e
parecer, como deveria operar, até a elaboração da documentação e desenhos completos,
contendo informações sobre as quais o produto será produzido (FORCELLINI, 2003).
Existem diversas outras divisões de fases do processo de desenvolvimento de produtos
defendidas por diversos autores. Como pode ser visto na tabela 2.1, não existem muitas
diferenças em relação às fases. Os conteúdos das fases também seguem praticamente o
conteúdo das fases de Clark e Wheelright (1992). Para bem executar as definições do produto,
propõe-se uma seqüência de etapas compondo uma evolução sistemática detalhando as fases
de definição do produto e estabelecendo cronologicamente as etapas do projeto informacional
e conceitual (BRAMBILLA, 2005). Tabela 2.1 - Conteúdos das fases de desenvolvimento de produtos
CLARK & WHEELRIGHT
(1992) COOPER (1990) MCGRATH et aI.
(1992) V ALERIANO
(1998) DUNCAN (1996) APQP (CHRYSLER CORPORA TION et
aI., 1995).
I. Desenvolvimento do conceito 2. Planejamento do Produto 3. Engenharia do Produto / Processo 4. Produção Piloto / Aumento da Produção
I. Avaliação preliminar 2. Detalhamento da idéia 3. Desenvolvimento 4. Validação e testes 5. Lançamento no mercado
0. Avaliação do conceito I. Planejamento e especificação 2. Desenvolvimento 3. Testes 4. Homologação do produto
A. Conceptual B. Planejamento e organização C. Implementação D. Encerramento
0. Exploração I. Conceitual e Definição 2. Demonstração e validação 3. Desenvolvimento de Engenharia e Fabricação 4. Produção
I. Planejamento 2. Desenvolvimento e Projeto do Produto 3. Desenvolvimento e Projeto do Processo 4. Validação do
Produto e do Processo
5. Feedback, Avaliação e Ação Corretiva
Fonte: Clark e Wheelright (1992)
26
CAPÍTULO 3 – MÉTODO DA PESQUISA
3.1 Metodologias científicas aplicadas à pesquisa
A metodologia é o estudo ou ciência do caminho, com a pretensão que este seja uma
trilha racional para facilitar o conhecimento, além de trazer implícita a possibilidade de, como
caminho, servir e poder ser utilizado para que diversas pessoas o possam percorrer, isto é, que
ele possa ser repetidamente e ilimitadamente seguido (MAGALHÃES, 2005).
Como é de conhecimento público, existem diversas metodologias de abordagem
científica para a pesquisa. No caso da presente proposta foi utilizada a análise pelo método do
Estudo de Caso, pois essa sistemática é a que de forma mais abrangente se apresenta no
tratamento das variáveis tais como a possibilidade de validação da análise ergonômica
postural, acompanhamento de todas as fases da análise e processo de trabalho e verificação da
eficiência e eficácia da análise através de valores finais palpáveis e definíveis (COOPER;
SCHINDLER, 2003).
Definindo Método, a palavra vem do Grego: METHODOS e por uma justaposição
entre: META e HODOS, significando ao longo do caminho. O Método depende do objeto de
pesquisa, do problema ao qual se propõe uma resolução e do objetivo da pesquisa
(MAGALHÃES, 2005).
A técnica é a forma de que se utiliza para percorrer o caminho acima descrito.
Consiste em diversos procedimentos ou na utilização de diversos recursos peculiares a cada
objeto de pesquisa, dentro das diversas etapas do método. Assim, um determinado método,
pode ser eventualmente executado por diferentes técnicas (SOARES, 2003).
3.1.1 Estudo de Caso É uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente,
determinada pela natureza e abrangência da unidade e pelos suportes teóricos que servem de
orientação aos trabalhos do investigador, pode ser utilizado para descrever o fenômeno em
estudo, desenvolver e testar a teoria. Em suma, trabalha sobre dados colhidos da realidade, e
utiliza-se de instrumentos como questionários para coleta de dados (DRAKE; GRAEME;
BROADBENT, 1998; RAMPAZZO, 2005).
27
3.1.1.1 Tipos de Estudos de Caso
Os estudos de caso podem ser identificados por:
Estudos de caso histórico-organizacionais: o pesquisador parte do conhecimento que
existe a respeito do objeto a ser estudado;
Estudos de caso observacionais: o pesquisador se utiliza técnicas de coleta de
informações como a observação participante, e outros;
Princípios ignorados no passado, hoje são abordados claramente para se realizar
estudos de caso de alta qualidade;
Utilização de várias fontes de evidência;
Criação de um banco de dados, que exige dos pesquisadores desenvolverem um banco
de dados formal apresentável, de forma que outros pesquisadores possam revisar as
experiências diretamente e não ficar a relatórios escritos;
Manutenção de um encadeamento de evidências, o que permite que um observador
externo siga a origem de qualquer evidência, indo das questões iniciais da pesquisa até
as conclusões finais da pesquisa qualitativa.
Os princípios citados acima deveriam sempre ser respeitados frente às fontes de
evidências citadas a seguir: documentação, registros em arquivo, entrevistas, observação
direta, observação participante, artefatos físicos, além de outras fontes como vídeos,
fotografias, filmes, técnicas projetivas, testes psicológicos; proxêmica, que compreende
aspectos culturais, comportamentais e sociológicos do espaço físico ao qual se estuda;
cinética, sendo o estudo do movimento corporal não verbal na comunicação, etnografia de rua
e histórias de vida (TRIVIÑOS, 1987).
3.1.2 Estruturas de Estudos de Caso
Estudos de caso podem seguir três tipos de estruturas de tópicos bem definidas:
Estrutura Cronológica, orientada por uma seqüência de capítulos e sessões que relatam
a história do estudo de caso;
28
Estrutura de Incertezas, que se trata de uma abordagem que apresenta uma ordem
invertida, as respostas e resultados são apresentados no capitulo inicial, sendo que o
restante do estudo, e suas partes mais incertas, são relatados nos capítulos e seções
subseqüentes;
A presente pesquisa obedeceu a uma Estrutura Analítica Linear, apresentando-se como
uma abordagem padrão representada por uma seqüência de tópicos organizados que
incluem o tema, o problema estudado, as metodologias utilizadas para a pesquisa,
revisão da literatura, ou seja, explanação da plataforma teórica de estudo, as técnicas
de coleta utilizadas, os resultados obtidos, conclusões e recomendações (MARTINS,
2006).
Para que o estudo de caso aconteça de forma organizada é importante que se siga um
planejamento e suas fases.
3.1.3 Planejamento e Desenvolvimento da Pesquisa para o Estudo de Caso
Esta sessão apresenta o processo utilizado para concepção e desenvolvimento da
pesquisa e das etapas a serem cumpridas para se obter os objetivos propostos, que forão:
Encadeamento de evidências;
Construção da teoria preliminar de pesquisa;
Determinação e formulação do problema da pesquisa;
Instrumento de coleta de dados;
Delimitação do perfil da amostra e universo estudado;
Formatação básica para as questões aplicadas ao instrumento de coleta de dados.
A presente pesquisa buscou analisar a atividade do corte de cana-de-açúcar,
experiência vivenciada em uma indústria Sucroalcooleira, denominada Companhia
Melhoramentos Norte do Paraná, situada na Região Norte do Paraná, na cidade de Jussara.
Empresa de médio porte do setor de produção de cana-de-açúcar, que vêm desenvolvendo
uma melhoria substancial voltada à saúde e segurança do trabalhador, através de uma
abordagem ergonômica.
29
A análise ergonômica do trabalho foi a metodologia utilizada em algumas etapas deste
estudo. Esta metodologia é composta de três fases principais: análise da demanda, análise da
tarefa e análise da atividade. No final de cada fase, os dados permitem formular hipóteses de
trabalho que delineiam os rumos a serem seguidos e que resultam em diagnóstico e
elaboração de recomendações ergonômicas.
Os dados foram obtidos através de uma avaliação em campo começando com a análise
da atividade exercida, ou da função exercida. Para isto, diferentes técnicas foram utilizadas,
tais como: observação direta, observação clínica, registro de variáveis fisiológicas,
cinesiológicas, antropométricas, ambientais, psicológicas, consolidando em uma coleta de
dados relacionados a informações gerais da empresa, levantamento das queixas, entradas
ambulatoriais, acidentes de trabalho e afastamentos.
A amostra do exame cinético funcional foi composta por uma população de 30
indivíduos, não sendo todos do mesmo sexo, apresentando idade média de 30 anos. A
identificação dos trabalhadores foi feita através de uma ficha com registro de nome completo,
idade, peso (Kg), estatura (cm), etc.
Os indivíduos foram orientados a executarem suas atividades normalmente, para que
pudessem ser observados os fatores biomecânicos e movimentacionais, pertinentes a
atividade, com elaboração de laudo fotográfico acompanhado de filmagem no local.
Foram utilizados métodos de apreciação ergonômica, em vista das dificuldades
operacionais e cinesiológicas dos funcionários. A partir disso, foram reconhecidas e
classificadas as principais atividades desenvolvidas, identificando os riscos ergonômicos, os
impactos ergonômicos (patologias, desconfortos, acidentes), e por meio de conclusões, foram
seguidas sugestões de modificações.
3.2 Proposta de modelo conceitual da pesquisa
Este capítulo apresenta a estrutura conceitual para o desenvolvimento da pesquisa
sobre: A análise ergonômica do cortador de cana-de-açúcar, evidenciando a postura adotada
para a retirada do ponteiro, analisando os fatores antropométricos, biomecânicos, fisiológicos
e anatômicos e a influência destes fatores no desenvolvimento de produto.
30
3.2.1 Formulação do Projeto de Pesquisa
Segundo Yin (2001) o projeto de pesquisa constitui a lógica que une os dados a serem
coletados às questões iniciais de um estudo. Cada estudo possui um projeto de pesquisa
implícito, se não explícito. O projeto de pesquisa é um plano de ação que guia o pesquisador
para atingir seus objetivos.
Análise Antropométrica: A antropometria segundo Pheasant (1998), é o ramo das Ciências
Sociais que lida com as medidas do corpo, particularmente com o tamanho e a forma.
Análise Biomecânica Ocupacional: Segundo Chaffin e Anderson apud Salvendy (1997) a
biomecânica ocupacional é o estudo da interação física dos trabalhadores com seus
instrumentos, máquinas e materiais para aumentar o desempenho, enquanto minimiza os
riscos de lesões músculo-esqueléticas.
Análise Fisiológica Ocupacional: A fisiologia é o ramo da biologia que estuda as múltiplas
funções mecânicas, físicas e bioquímicas nos seres vivos. De uma forma mais sintética, a
fisiologia estuda o funcionamento do organismo. A avaliação geral da carga física do
trabalhador pode ser feita a partir de uma série de informações sobre: aptidões físicas do
trabalhador, o que é feito, como é feito, qual a postura adotada, quais seus movimentos, qual o
custo fisiológico da tarefa e como o trabalhador percebe individualmente a situação
(GUIMARÃES, 2006).
Análise Anatômica Ocupacional: Anatomia é a parte da biologia que estuda a forma e a
estrutura dos seres organizados, bem como as relações entre os órgãos que os constituem. É
uma palavra de origem grega que significa cortar em partes (ana: cortar e tomia: em partes).
Em português tem-se o mesmo significado a palavra “dissecação” (DELIBERATO, 2002).
Suas etapas foram delineadas e estruturadas conforme ilustra o modelo conceitual da
pesquisa (Figura 3.1).
31
Figura 3.1: Modelo Conceitual da Pesquisa
Fonte: O autor.
Formulação do Problema da Pesquisa
Uma pesquisa bibliográfica preliminar foi realizada sobre o tema - O
Desenvolvimento de Produtos utilizados no corte de cana-de-açúcar em uma Usina de Álcool
- com o objetivo de levantar os estudos realizados até o momento e averiguar a
disponibilidade de material bibliográfico sobre o assunto. A relevância do tema já foi
ANÁ LISE ANTROPOMÉTRICA
ANÁLISE BIOMECÂNICA OCUPACIONAL
ANÁLISE ERGONÔMICA
ANÁLISEANATÔMICA
PROJETO INFORMACIONAL: INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE
ERGONÔMICA
ANÁLISE DOS CONCEITOS
PROJETO CONCEITUAL: GERAÇÃO DE CONCEITOS
POSTURA ADOTADA PARA O CORTE DE CANA DE AÇÚCAR
32
apontada no Capítulo 1. No levantamento bibliográfico preliminar identificou-se carência de
estudos sobre o tema, confirmada por diversos pesquisadores.
O problema foi formulado como sendo compreender as características dos produtos
utilizados para o corte de cana-de-açúcar e a influência deste na vida do trabalhador,
identificando as principais práticas utilizadas na atualidade.
Definição da Unidade-Caso e do Número de Casos
Visando a qualidade da pesquisa, buscou-se o estudo de caso. O critério para escolha
da empresa estudada foi por ser de grande porte na área de produção cana-de-açúcar e
destilaria de álcool, e estar localizada na Região Norte do Paraná, a qual tem um processo de
ergonomia em andamento e apresenta preocupação com o aperfeiçoamento dos instrumentos
fornecidos a seus colaboradores, dentro de uma óptica ergonômica.
Instrumento de Coleta de Dados
A análise em campo começa com a análise ergonômica da atividade de trabalho, ou da
função exercida. Para isto diferentes técnicas foram utilizadas, tais como: observação direta,
observação clínica, registro de variáveis fisiológicas, cinesiológicas, ambientais, psicológicas,
consolidando em uma coleta de dados relacionados a informações gerais do trabalhador. Deve
ser ressaltada sempre a importância de a análise ser participativa, não devendo ser limitada a
uma simples coleta de opiniões, mas servindo de grande auxílio na descrição da realidade do
trabalho, das atividades perceptivas, cognitivas e motoras dos mesmos, sendo esta uma forma
de validar as informações. A seguir descreve-se a proposta do modelo conceitual da pesquisa
conforme o quadro 3.1.
33
Quadro 3.1: Bloco de questões
Fonte: O Autor
Bloco 1: Consiste na observação direta da atividade de trabalho durante diversos períodos do
expediente normal, realizadas no campo de trabalho, a fim de conhecer todas as fases do seu
processo, equipamentos, instrumentos, metodologia e processo organizacional, assim como a
influência de fatores ambientais sobre a vida do trabalhador;
Bloco 2: Elaboração e realização de Laudo Fotográfico acompanhado de filmagem no local,.
Bloco 3: Aplicação do Censo de Ergonomia, sendo este uma ferramenta formulada à base de
questionário podendo ser auxiliada por entrevista, através da qual o trabalhador expressa sua
percepção a respeito do posto de trabalho e da atividade que executa, informando se sente ou
não desconforto, dificuldade ou fadiga, em que intensidade, se está relacionado ou não ao
trabalho que executa e, ao mesmo tempo, dá sugestões do que melhorar.
BLOCOS DE QUESTÕES
TEMA
BLOCO 1
Observação direta da atividade de trabalho
BLOCO 2
Elaboração de Laudo Fotográfico
BLOCO 3
Aplicação do Censo de Ergonomia
BLOCO 4
Aplicação do Check List das características dos
instrumentos utilizados
BLOCO 5
Realização do Exame Clínico Funcional
BLOCO 6
Análise Antropométrica da população trabalhadora
BLOCO 7
Análise Biomecânica / Postural
BLOCO 8
Reconhecimento e classificação dos itens anteriores
34
Bloco 4: Aplicação do Check List das características dos instrumentos utilizados para o corte de
ponteiro, onde esta ferramenta é formulada à base de questionário, onde o colaborador irá
marcar sim ou não, através da qual irá relatar as características de seu instrumento de trabalho.
Bloco 5: Realização de Exame Clínico Cinético Funcional, o qual é composto por anamnese,
avaliação clínica e avaliação física para classificação do perfil do funcionário ideal e adequado
para a atividade, de acordo com o sexo, a idade, estatura, força muscular, flexibilidade, IMC
(índice de massa corpórea), peso, altura, avaliação postural e testes ortopédicos direcionados ao
diagnóstico complementar a possíveis lesões existentes.
Bloco 6: Análise Antropométrica da população trabalhadora, através da medição de
comprimentos, profundidades e circunferências corporais, onde os resultados obtidos podem ser
utilizados para a concepção de postos de trabalho, equipamentos e produtos que sirvam as
dimensões da população utilizadora.
Bloco 7: Análise Biomecânica / Postural da população trabalhadora, através da avaliação das
posturas, gestos, alavancas de movimento. Posturas estáticas e dinâmicas, registradas durante a
atividade.
Bloco 8: Reconhecimento e classificação, a partir dos itens anteriores, das principais
características da atividade desenvolvida, identificando os riscos e os impactos ergonômicos
(patologias, desconfortos, acidentes), e por meio de conclusões, são seguidos sugestões de
modificações, com a finalidade de aliviar os males detectados. Propõe-se que na fase de
sugestões, devem ser apresentadas e discutidas a viabilidade das medidas corretivas com a
gerência e/ou direção da empresa, com o objetivo de se firmar um compromisso que constituirá
a base dos trabalhos de mudanças das condições atuais. Será utilizada para avaliação do corte de
cana-de-açúcar métodos de apreciação ergonômica segundo Moraes e Mont’Alvão (2003), em
vista das dificuldades operacionais e cinesiológicas dos funcionários.
35
3.2.2 Equipamentos Utilizados na Avaliação
Para a realização da avaliação da força física dos membros superiores, inferiores e
tronco, serão utilizados dinamômetros da marca Crown capacidade 200kgf - divisões 1000gf
para membros inferiores e capacidade 50kgf - divisões 500gf para membros superiores. Para a
filmagem e fotos locais será utilizada uma câmera filmadora da marca Sony mini-dv HC-40.
A análise antropométrica será realizada através do software Antroprojeto da Universidade
Federal de Juiz de Fora do curso de Engenharia de Produção.
36
CAPÍTULO 4 – ANÁLISE ERGONÔMICA BASEADA NO MODELO CONCEITUAL
PROPOSTO ATRAVÉS DO ESTUDO DE CASO
Este capítulo apresenta o desenvolvimento da pesquisa baseado no modelo conceitual
apresentado no capítulo 4, expondo os elementos que foram abordados para a realização do
Estudo Ergonômico, a formação do instrumento de coleta de dados, organização em blocos
dos diversos temas e a delimitação da amostra estudada. Os subítens a seguir abordarão o
trabalhador do corte manual de cana-de-açúcar, as ferramentas e equipamentos de proteção
individual utilizados na atividade do corte e a análise ergonômica do trabalho com enfoque
anatômico, biomecânico e antropométrico.
Na presente pesquisa foi utilizado o modelo de coleta qualitativa de dados: estudo de
caso, como já descrito no capítulo 2. Não havia um modelo teórico pré-organizado ou
acabado, as vivências da pesquisa deram ao pesquisador, subsídios para formatar as
proposições iniciais para uma teoria preliminar, que indicaram aspectos principais da estrutura
e processo da situação que se propôs avaliar gerando uma teoria substantiva, que representa a
realidade dos cortadores de cana-de-açúcar e as situações em suas atividades diárias
observadas (corte manual). Sendo assim, iniciou-se por uma coleta e análise seletiva de dados
a fim de gerar teoria (GLASER, 1992).
A coleta de dados da pesquisa foi realizada com a observação dos trabalhadores na
execução do corte manual de cana-de-açúcar na empresa: Companhia Melhoramentos Norte
do Paraná, e foi relevante, sobretudo, a título de identificar o problema do estudo na situação
real vivida em campo. Este procedimento auxiliou na criação do escopo do instrumento de
coleta de dados, traduzido nas dificuldades e conjunto de funcionalidades destinadas aos
produtos utilizados para o corte manual da cana-de-açúcar, durante sua atividade em campo
(ROSENFELD et al., 2006).
Foram observadas as diversas atividades do corte manual de cana-de-açúcar,
documentando-as através da utilização de máquina fotográfica e filmadora digital, em breves
tomadas do movimento do ato do corte na retirada do ponteiro, integrando a situação vivida
ao suporte bibliográfico de ergonomia, numa periodicidade de uma vez por semana, durante
duas horas, por um período de três meses.
37
4.1 O Corte Manual de Cana-de-Açúcar
Os produtos derivados da cana-de-açúcar abrem um mercado grande às exportações
brasileiras, e ainda constitui uma das opções freqüentes de emprego e renda, especialmente,
para os trabalhadores envolvidos nas colheitas.
Dentro do processo produtivo as atividades da colheita manual da cana-de-açúcar são
consideradas muito importantes, devido ao grande número de trabalhadores envolvidos e o
desgaste físico decorrente desta atividade. Ao contrário de outros países como a Austrália,
onde se predomina o método de colheita mecanizada, no Brasil a colheita é realizada
principalmente pelo método manual, com expressivo uso de mão de obra de baixa
qualificação.
A agroindústria canavieira emprega um milhão de brasileiros no corte da cana-de-
açúcar, e mais de 80% do que é colhido é cortado à mão, segundo União da Agroindústria
Canavieira de São Paulo (UNICA, 2004). O corte é precedido da queima da palha da planta,
tornando o trabalho mais rápido e rentável para o trabalhador, porém, muitas vezes, o corte é
feito com a cana crua, principalmente quando a cana-de-açúcar é destinada ao plantio.
O corte manual da cana-de-açúcar, segundo informações da Coopersucar (1980), é
caracterizado por movimentos repetitivos dos braços, pernas e tronco. Alessi e Scopinho
(1994) indicam que um cortador de cana-de-açúcar do sexo masculino pode alcançar a
produção máxima de 14 toneladas/dia e do sexo feminino 10 toneladas/dia.
Para compreender o processo de trabalho, detectar a presença e a importância destes
problemas no setor, e garantir a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, buscaram-se enquadrar
esta atividade dentro de um contexto ergonômico, a fim de contribuir para a melhora do
processo de trabalho da empresa. O método da análise ergonômica do trabalho possibilita
identificar, diagnosticar e propor medidas para a resolução dos problemas que afetam o
desempenho das pessoas em seu trabalho.
4.1.1 O trabalhador do corte manual de cana-de-açúcar da Companhia Melhoramentos Norte
do Paraná
O trabalhador do corte manual da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (Figura
4.1) tem como principais atividades: cortar a cana para moagem conforme padrão
estabelecido pela empresa (4.1.a e 4.1.c), alinhar a esteira para facilitar o carregamento
(4.1.b), realizar a retirada do ponteiro da cana (4.1.d), afiar o facão conforme a necessidade.
38
Os meios utilizados para a realização destas atividades são: facão, lima, enxada, enxadão,
foice e creolina. Tendo como responsabilidade cortar e plantar cana, garantindo o
abastecimento do produto para transporte até a indústria. As competências necessárias
exigidas são agilidade e destreza manual e a instrução mínima é de 1º grau incompleto.
a – Corte manual da cana para moagem b – Separação do ponteiro da cana após
corte utilizando os pés, para alinhamento da esteira
c – Corte manual da cana para moagem d - Corte manual da retirada do ponteiro
Figura 4.1 – O Trabalhador e os Processos do Corte Manual de Cana-de-Açúcar
Fonte: O Autor
Para análise das características da população estudada, realizou-se o Exame Cinético
Funcional (anexo), referente ao bloco 5 do capítulo 3, utilizando-se de uma amostra de 30
colaboradores, sendo 15 do sexo masculino (Tabela 4.1) e 15 do sexo feminino (Tabela 4.2).
Os cortadores foram escolhidos e encaminhados pela empresa, tendo como característica a
quantidade de corte de cana / colaborador. O número de colaboradores foi determinado pela
39
empresa, sendo proporcional a 01 (uma) turma de corte de cana. Limitou-se a 30
colaboradores devido ao tempo destinado à realização do exame, uma vez que todos os
colaboradores estavam em atividade e de difícil deslocamento. A população total do corte
manual de cana-de-açúcar é representada por 600 colaboradores.
Tabela 4.1 – População Masculina
Características da população estudada Mínima Máxima
Idade 25 46
Peso (Kg) 56,40 86,70
Altura 1,62 1,86
Corte / dia (toneladas) 6,22 15,58
IMC (Índice de Massa Corpórea) 20,20 (normal) 28,97 (sobrepeso) Fonte: O Autor
Tabela 4.2 – População Feminina
Características da população estudada Mínima Máxima
Idade 26 47
Peso (Kg) 54,30 90,30
Altura 1,50 1,72
Corte / dia (toneladas) 4,92 10,10
IMC (Índice de Massa Corpórea) 22,90 (normal) 34,84 (obesidade grau 1) Fonte: O Autor
Durante a anamnese, os colaboradores de ambos os sexos foram questionados sobre a
presença de dores musculares e câimbras, uma vez que é adotada por longo período a postura
em pé e realizado esforço físico em membros inferiores com a movimentação das pernas para
separação do ponteiro de cana e limpeza do eito, levando a um alto desgaste físico do
trabalhador. Como resposta, 48% dos trabalhadores disseram não apresentar queixas de dor,
36% com leves dores e 16% com dores em maior intensidade e contínua. No questionamento
40
sobre câimbras, 30% da população disse apresentar câimbras durante a execução da atividade.
Em relação as queixas apresentadas acima (dor e câimbra), os trabalhadores relataram
melhora, se comparado a anos anteriores, após implantação do programa de ginástica laboral e
fornecimento por parte da empresa de complementos alimentares para reposição energética.
4.2 Instrumentos e Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) durante o Corte
Manual de Cana-de-Açúcar
A análise das ferramentas de trabalho e equipamentos de proteção individual dos
cortadores manuais de cana-de-açúcar foi escolhida como um dos objetos deste estudo,
analisando assim suas condições atuais e/ou necessidade de adequação, a fim de facilitar o
trabalho no corte manual da cana, tornando-os mais seguros e confortáveis, reduzindo os
inúmeros problemas gerados durante a execução da atividade.
A atividade de trabalho significa o trabalho real efetivamente realizado pelo indivíduo,
a forma pela qual ele consegue desempenhar as suas tarefas levando em conta suas
características pessoais, experiência e treinamento.
Na Análise dos Equipamentos de Proteção Individual é de fundamental importância
considerar a diversidade das características físicas dos usuários, tais como: as antropometria
(dimensões dos segmentos corporais), o uso das mãos (destros e canhotos), dificuldades de
visão e os riscos reais durante a execução da atividade. Estes são fatores de suma importância
para se avaliar a eficácia dos equipamentos de proteção individual, já que o seu uso deve ser
contínuo durante toda a jornada de trabalho.
Foram fornecidos pelo setor de segurança do trabalho da empresa os dados relativos às
descrições técnicas referentes aos Equipamentos de Proteção Individual distribuídos na safra
do ano 2007, com base nas informações fornecidas por seus fabricantes.
4.2.1 Óculos de Segurança
O subitem II do item 4.3 da Norma Regulamentadora Rural nº 4 estabelece proteção
dos olhos e face e, no seu subitem b são contemplados os trabalhos que possam causar
41
ferimentos provenientes de impacto de partículas, ou de objetos pontiagudos ou cortantes. A
atividade dos cortadores de cana-de-açúcar está inserida neste subítem, já que no ambiente de
trabalho há presença de folhas pontiagudas, fuligem e poeira. Os óculos de proteção
fornecidos na safra 2007 / 2008 foram confeccionados em nylon, cor preta, visor em tela
metálica com pintura de epóxi na cor preta, com proteção lateral total em nylon perfurado ou
tela metálica, com opção de haste inteira ou meia haste com elástico, tamanho do aro 50 mm e
segundo informações dos fabricantes a durabilidade mínima dos óculos é de 1 ano (Figura
4.2).
Figura 4.2 – Óculos de Segurança Nylon Fonte: O Autor
Os óculos de proteção propostos para a safra 2009 são constituídos de um arco de
material plástico azul, com canaleta, dividido em duas partes pela ponte e apoio nasal,
plaquetas de borracha maleável incolor são encaixadas em quatro pinos localizados no apoio
nasal. As duas partes do arco suportam lentes confeccionadas em policarbonato incolor ou
cinza, lente protegida contra riscos e arranhões, encaixe nas canaletas do arco. As hastes são
confeccionadas do mesmo material do arco e são articuladas nesta através de parafusos
metálicos, design universal para adaptação no septo nasal e haste com design anatômico para
ajuste ao redor do pavilhão auricular (Figura 4.3).
42
Figura 4.3 – Óculos de Segurança Policarbonato Fonte: O Autor
4.2.2 Proteção para Rosto e Cabeça (Boné ou Toca Árabe) - Vestimenta de Segurança tipo
Capuz
Equipamento de proteção utilizado pelo cortador de cana-de-açúcar, modelo: Toca
Árabe com aba, abertura facial, saia de proteção e fechamento em velcro (Figura 4.4).
Utilizada devido atividade ser realizada em ambiente aberto (o canavial), onde ocorre
exposição ao sol, chuva e outras intempéries.
Figura 4.4 – Touca Árabe Fonte: O Autor
43
4.2.3 As Luvas de Proteção
O item 4.3 subitem V da Norma Regulamentadora Rural n ° 4 estabelece a proteção
para os membros superiores e, no seu subitem a são contempladas as atividades em que haja
perigos ocasionados por materiais escoriantes, abrasivos, cortantes e perfurantes. A atividade
dos cortadores de cana-de-açúcar se insere neste subitem, pois na execução da atividade é
necessário o uso do facão. Para a mão que abraça o feixe de cana, a luva de segurança é
confeccionada em vaqueta, com tira de fios de aço na região dorsal da mão, reforço em
vaqueta entre o polegar e o indicador, e reforço interno em vaqueta na palma. As luvas têm
tamanho único e sua durabilidade mínima é de 15 dias durante o período da safra (Figura 4.5)
Figura 4.5 – Luva para a mão que abraça o feixe de cana Fonte: O Autor
Já para a mão que segura o facão, a luva é do modelo previlon tricotada em fios de
poliéster e poliamida revestida com borracha natural na palma e com reforço entre polegar e
indicador. Sua durabilidade mínima é de 15 dias durante o período da safra (Figura 4.6).
Figura 4.6 – Luva para a mão que segura o facão Fonte: O Autor
44
4.2.4 Perneiras de Proteção
A Norma Regulamentadora Rural nº 4 estabelece proteção para os membros inferiores,
no seu subitem d são contemplados os trabalhos que possam causar ferimentos provocados
por materiais cortantes, escoriantes ou perfurantes. A atividade dos cortadores de cana-de-
açúcar também está inserida neste contexto, já que o trabalho é executado com uma
ferramenta cortante.
A perneira utilizada pela empresa para a realização desta atividade é confeccionada em
couro sintético com 03 almas de polipropileno, proteção de fios de aço no joelho e proteção
de fios de aços no dorso do pé, ventilada, com costura eletrônica, ilhos na base para fixação
do pé, aberta e fechamento com fivela na região da panturrilha. Sua durabilidade mínima de
proteção é de 6 meses (Figura 4.7).
Figura 4.7 – Perneira de proteção Fonte: O Autor
4.2.5 Calçado de Segurança
No corte manual da cana-de-açúcar a proteção dos membros inferiores é de
fundamental importância. A Norma Regulamentadora Rural nº 4 no subitem b do item VI
preconiza “o uso de biqueira de aço como proteção contra queda de materiais, objetos
pesados e pisão de animais”, porém, existem outros riscos na atividade de cortar a cana que
45
não foram mencionados na norma como, por exemplo, proteção contra material cortante ou
perfurante.
O calçado de segurança fornecido tem diversos tamanhos, que variam do n° 34 até nº
45, é confeccionado com elástico lateral, solado em P.U (Poli uretano), bi-densidade, na cor
preta, com biqueira de aço, protetor de metatarso, palmilha anti-bactericida, sua durabilidade
mínima é de 06 meses a 01 ano (Figura 4.8).
Figura 4.8 – Calçado de Segurança Fonte: O Autor
4.2.6 O mangote
O mangote é um equipamento de proteção individual não exigido especificamente na
Norma Regulamentadora Rural nº 4 - Equipamento de Proteção Individual; em função disto,
mesmo assim a empresa oferece a todos os trabalhadores, a fim de aumentar ainda mais a
proteção do braço do trabalhador durante o corte da cana-de-açúcar. Ele é confeccionado em
tecido do tipo elanca, na cor azul, com reforço de 240g/m2, acolchoada no braço, em tamanho
G (Figura 4.9). Este equipamento aumenta a proteção e diminui o desgaste do trabalhador no
momento em que este abraça o feixe de cana.
46
Figura 4.9 – Mangote Fonte: O Autor
4.2.7 Instrumentos de Trabalho
Os instrumentos de trabalho fornecidos pela empresa para o corte da cana-de-açúcar
são os seguintes: lima, facão e protetor de lima. A lima é utilizada pelos trabalhadores para
fazer a manutenção do fio do facão, condição necessária para executar o corte. Esta
ferramenta é acompanhada de um protetor de lima, que permite amolar o facão, protegendo os
dedos dos trabalhadores, sua durabilidade mínima é de 06 meses (Figura 4.10).
Figura 4.10 – Protetor de lima com lima para afiar o facão Fonte: O Autor
47
O facão fornecido pela empresa apresenta as seguintes características: cabo em
madeira do tipo marfim, fixado com rebites de ferro maciço, tamanho único, a lâmina é em
aço alto carbono, com adicional de cromo, modelo denominado “Peito de pombo” (Figura
4.11). Os trabalhadores apontaram problemas relacionados ao tamanho e formato do cabo do
facão.
Figura 4.11 – Facão para corte manual Fonte: O Autor
4.3 Análise ergonômica do trabalho aplicada ao corte manual da cana-de-açúcar
baseada no modelo conceitual
A análise ergonômica do trabalho nesta pesquisa buscou abranger fatores que
oportunizam identificar situações que levam a melhorar ou, pelo menos, amenizar as
condições de trabalho, otimizando a produção, satisfazendo o trabalhador, melhorando o
conforto oferecido e aumentando a produtividade da organização.
Ela descende da escola francesa de Ergonomia, que tem como objetivo a adaptação do
trabalho ao homem (WISNER, 2004). É centrada sobre as atividades dos operadores,
estudando em campo as situações entre o trabalho e o ser humano sob o ponto de vista real.
A Análise Ergonômica do Trabalho então, é um modelo metodológico de intervenção
e de transformação capaz de apreender a complexidade existente na relação do homem com o
trabalho, sem colocar em prova um modelo escolhido a priori (WISNER, 2004).
48
Esta análise é uma ferramenta básica no funcionamento e gestão de uma empresa.
Seus resultados permitem ajudar na concepção efetiva dos meios materiais, organizacionais e
de formação, auxiliando o alcance dos objetivos planejados, com a preservação do estado
físico, psíquico e vida social do trabalhador (BALBINOTTI, 2003).
Para Lima (1992), esta abordagem permite avançar na compreensão da gênese de
doenças e outros efeitos negativos presentes na situação de trabalho, pela constituição da
questão saúde/trabalho em torno da atividade real dos trabalhadores. Para este autor, o
conhecimento do que se pode chamar de "ponto de vista da atividade" fornece uma leitura
original da forma como os trabalhadores se relacionam com o ambiente de trabalho e constitui
um princípio que deve orientar a sua transformação. As mudanças então, que se efetua no
trabalho, se dão segundo as necessidades dos trabalhadores e não segundo a lógica econômica
estreita que predomina atualmente.
De acordo com Ferreira et al. (1998), a ergonomia interessa-se pelo estudo dos
aspectos presentes na situação de trabalho não de forma isolada, mas em sua relação com um
determinado tipo de fazer. Esta forma de abordar a atividade torna-se crucial para o
entendimento das Lesões por Esforços Repetitivos, já que não são apenas as características
das atividades desempenhadas pelos trabalhadores (movimentos repetitivos, forças
excessivas, posturas inadequadas) que levam aos seus aparecimentos, mas sim a inter-relação
destas com os diversos fatores presentes na situação de trabalho, cuja compreensão não pode
se dar sem a mediação da atividade de trabalho.
Portanto, a ergonomia através do estudo da atividade dos indivíduos em situações reais
de trabalho, pode compreender como eles utilizam suas capacidades psico-fisiológicas para
executar as tarefas propostas e podem ter como conseqüência, sua saúde e desempenhos
comprometidos.
Como lembra Guérin et al. (1997), para atender as tarefas propostas, os indivíduos
elaboram estratégias originais, assim, as conseqüências sobre a saúde dos trabalhadores não
devem ser abordadas apenas em termos de fatores de risco. Torna-se fundamental observar o
papel ativo do trabalhador na construção de modos operatórios que não sejam desfavoráveis à
sua saúde.
A Análise Ergonômica do Trabalho é uma metodologia que possibilita através do
ponto de vista da atividade, compreender e correlacionar os determinantes das situações de
trabalho com as suas conseqüências para os trabalhadores e para o sistema de produção
(GUÉRIN et al., 1997).
49
A atividade de trabalho do cortador de cana-de-açúcar traz conseqüências múltiplas
para as empresas e para os trabalhadores. Segundo Guérin et al. (1997), a analise ergonômica
permite à empresa compreender as dificuldades encontradas em um determinado lugar e
identificar os pontos que devem ser objeto das transformações dessas situações de trabalho.
Nesta pesquisa foram usadas as técnicas de: observação direta ou aberta (pesquisador),
observação indireta ou sistemática (fotografia e filmagem) e entrevista dirigida (do tipo semi
estruturada).
Em um primeiro momento foi realizada uma pré-análise, aplicando-se um check list
(Bloco 4 – capítulo 3) para avaliação dos instrumentos / equipamentos e condições de
trabalho na atividade do corte da cana-de-açúcar na Companhia Melhoramentos Norte do
Paraná, com uma amostra de 190 colaboradores, a fim de coletar dos próprios usuários os
benefícios e prejuízos na utilização dos equipamentos e ferramentas fornecidos, e dados
particulares de sua atividade. Os dados coletados e seus respectivos resultados são
apresentados a seguir:
Tabela 4.3 – Check List quanto à utilização dos equipamentos e ferramentas
Questões Sim Não
1. Você já trabalhou em outra empresa no corte manual de cana? 64% 36%
2. Você realiza adaptações no facão que é utilizado para o corte de cana? 84% 16%
3. Você compra outro facão, substituindo o que é dado pela empresa? 5% 95%
4. Você compra outro cabo, substituindo o que é dado pela empresa, utilizando apenas a lâmina da empresa? 64% 36%
5. Você compra outra lâmina, substituindo a que é dada pela empresa, utilizando apenas o cabo da empresa? 5% 95%
6. Você possui mais que um facão para a realização do trabalho? 9% 91%
7. Você utiliza o “gancho” para auxiliar no corte do ponteiro da cana? 18% 82%
Mais
Leve
Mais
Pesado
8. Você prefere utilizar em seu trabalho facão mais leve ou mais pesado? 37% 63%
Fonte: O Autor
50
22%
69%
9%
Tempo de trabalho em outra empresa
menos que 01 ano
entre 01 e 05 anos
entre 06 e 10 anos
26%
57%
17%
Adaptação realizada no cabo pelo trabalhador
Emborracha o cabo
Troca o arrebiti do cabo por parafusos
Desgasta o cabo, modificando a sua forma
60%27%
13%
Adaptação realizada na lâmina pelo trabalhador
Curva a lâmina
Desgasta a ponta da lâmina
Curva a lâmina e desgasta a ponta da lâmina
4%24%
28%
27%
11%6%
Tempo que trabalha na atividade do corte manual
menos de 01 ano
Entre 01 e 5 anos
Entre 06 e 09 anos
Entre 10 e 15 anos
Entre 16 e 20 anos
mais de 21 anos
Figura 4.12 – Resultados do Check List quanto à utilização dos equipamentos e ferramentas Fonte: O Autor
51
3% 2%
29%
2%
2%
2%
2%
58%
Propostas de melhorias
Substituição do óculos de telinha por outro modelo
Melhor adaptação da perneira com a perna
Luvas mais confortáveis e duráveis (como as de fio de aço utilizadas antigamente)
Utilização do óculos de telinha
Qualidade do material dos tecidos das luvas (melhor reabsorção)
Fornecer o gancho
Substituição do modelo da perneira facilitando sua colocação e retirada, apresentando apenas o velcro na parte posterior
Sem sugestões
Figura 4.13 – Propostas de melhorias obtidas no Check List quanto à utilização dos equipamentos e ferramentas
Fonte: O Autor
Os resultados obtidos neste Check List (quanto à utilização dos equipamentos e
ferramentas) mostraram que:
A) Da população estudada, 28% estão na atividade do corte manual da cana-de-açúcar
entre 06 e 09 anos, 27% entre 10 e 15 anos, 24% entre 01 e 05 anos, 17% acima de
15 anos e 4% abaixo de 01 ano (Figura 4.12.A);
B) 64% desta população já trabalharam em outra empresa, na atividade de corte
manual, 36% iniciaram suas atividades e permanecem nesta mesma empresa
(Tabela 4.3);
C) Dos entrevistados que já trabalharam em outra empresa, o tempo predominante de
69% desta população foi entre 01 a 05 anos (Figura 4.12.B);
52
D) Quando questionados se realizavam algum tipo de adaptação, 84% alegaram
adaptar (Tabela 4.3);
E) 60% dos que adaptam o facão, disseram que curvam a lâmina, facilitando assim
com que a mesma fique bem próxima e paralela ao solo (Figura 4.12.C);
F) Quanto ao cabo, 57% disseram que trocam o arrebite do cabo, aumentando assim a
firmeza do cabo, impedindo que a lâmina fique solta; 26% disseram que também
costumam emborrachar o cabo do facão, aumentando a aderência da mão no cabo
do facão (Figura 4.12.D);
G) De toda a população avaliada, 95% disseram utilizar o facão fornecido pela
empresa, utilizando todo o conjunto (cabo e lâmina). Dos que relataram substituir
alguma parte, 5% substituem a lâmina e 64% substituem o cabo (Tabela 4.3);
H) 9% utilizam mais do que 01 facão para o corte, denominando como facão
substituto (Tabela 4.3);
I) Com relação à retirada dos ponteiros de cana, 18% disseram utilizar um gancho
adaptado com um galho de árvore de madeira ou cabo de vassoura com vergalhão
na ponta, a fim de favorecer o processo (Tabela 4.3);
J) E quando questionados sobre o tipo de facão que eles preferiam utilizar no corte,
63% afirmaram que o facão mais pesado é melhor para a realização da atividade,
por colocarem menos força no momento do golpe e cortarem a cana com maior
facilidade (Tabela 4.3).
4.4 Análise Antropométrica da Retirada dos Ponteiros no Corte Manual de Cana-de-
Açúcar
A ergonomia é a ciência do trabalho e envolve as pessoas que o fazem, a forma como
é feito, as ferramentas que elas usam, os lugares em que elas trabalham e os aspectos
psicossociais das situações de trabalho (PHEASANT, 1998).
53
De maneira bastante simplificada pode ser entendida como a adaptação do trabalho ao
homem. Segundo a Ergonomics Research Society, “Ergonomia é o estudo do relacionamento
entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos
conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse
relacionamento” (IIDA, 1990).
A antropometria tem como objetivo levantar dados das diversas dimensões dos
segmentos corporais (SANTOS, 1997).
Em uma análise temporal da antropometria e suas interfaces com a Biomecânica e
Cineantropometria, podem ser considerados diferentes parâmetros comuns em ambas. Na
cronologia, parte-se da semântica da palavra, seguindo-se então para a sua evolução histórica,
finalidades, características e aplicações.
Muito embora à antropometria tenha sua sustentação feita modernamente, a história
mostra ser antiga a preocupação do homem em mensurar o corpo, e, ao longo do tempo as
proporções do corpo foram estudadas por filósofos, artistas, teóricos, e arquitetos.
Neste trabalho realizou-se uma análise antropométrica da população (Bloco 6 do
capítulo 3), tendo por objetivo apresentar as diferentes características físicas dos trabalhadores
e medidas que serviram como referência para o desenvolvimento de produtos na retirada do
ponteiro no corte de cana-de-açúcar, enquanto método de medição em biomecânica. A
amostra foi composta por 30 colaboradores, 15 do sexo masculino e 15 do sexo feminino, os
mesmos citados anteriormente no exame cinético funcional, onde a altura da população do
sexo masculino variou entre 1,62 e 1,85 metros. (Figura 4.14 e 4.15 - Medidas propostas pelo
Software Antroprojeto), de acordo com as respectivas estaturas citadas:
54
Figura 4.14 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,62 mts Fonte: Software Antroprojeto
Figura 4.15 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,86 mts Fonte: Software Antroprojeto
55
Já a altura da população do sexo feminino estudada variou entre 1,50 e 1,72 metros
(Figura 4.16 e 4.17 - Medidas propostas pelo Software Antroprojeto):
Figura 4.16 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,50 mts Fonte: Software Antroprojeto
Figura 4.17 – Antropometria aplicada ao colaborador de 1,72 mts Fonte: Software Antroprojeto
56
4.5 Análise Biomecânica da Retirada dos Ponteiros no Corte Manual de Cana-de-
Açúcar
A análise biomecânica (Bloco 3 e 5 do capítulo 3) irá consistir em uma avaliação dos
movimentos, padrões posturais, gestos adotados e realizados durante a execução da atividade.
Sendo assim, nesta pesquisa a análise foi realizada através da técnica de observação direta,
foto e filmagem do colaborador durante o trabalho (Figura 4.18).
A análise ergonômica baseada na biomecânica da retirada do ponteiro de cana-de-
açúcar (Figura 4.19) apresenta através da observação estática, a postura penosa adotada pelo
trabalhador e os prejuízos biomecânicos para a realização da atividade. Além do padrão
postural com predominância da postura de flexão de tronco, o trabalhador ainda executa de
forma dinâmica movimentos de abdução e flexão de ombro. A permanência da flexão dos
dedos associada à força de preensão palmar é vista como fator desencadeante da Desordem
Músculo Esquelética, denominada “Dedo em Gatilho” ou Tendinite, dos flexores dos dedos.
Flexão de cotoveloentre 100 e 110 graus
Flexão entre 70 à 90 graus de tronco
Flexão de joelho entre 35 e 45 graus (perna de apoio)
Semi-flexão de joelho de aproximadamente15 graus
Flexão palmartotal em ambas as mãos
Flexão de quadril de entre 25 e 45 graus
Figura 4.18 – Análise Biomecânica do trabalhador durante o corte manual de cana-de-açúcar Fonte: O Autor
57
Flexão palmartotal em ambasas mãos
Flexão de cotoveloentre 90 e 100 graus
Flexão de joelhoentre 35 e 45 graus
(perna de apoio)
Flexão de quadril de entre 25 e 45 graus
Permanência em Flexão
entre 90 e 100 graus de tronco
acentuada naregião torácica
alta
Figura 4.19 – Análise Biomecânica do trabalhador durante a retirada do ponteiro de cana-de-açúcar Fonte: O Autor
Para análise de queixas e histórico de desconfortos devido à biomecânica
desfavorável, aplicou-se nesta pesquisa o Censo de Ergonomia. A ferramenta proposta visa às
necessidades das empresas no que diz respeito ao mapeamento dos problemas ergonômicos,
incluindo a participação dos trabalhadores neste processo. Tem como objetivo detectar
situações de trabalho causadoras de lesões ou afastamentos, desconforto, dificuldade e fadiga
relacionadas às condições de ergonomia do trabalho em empresas de diversos ramos de
atividade, mapear as áreas críticas da empresa quanto à prevalência de problemas
ergonômicos e obter dos trabalhadores a visão sobre possíveis melhorias nas condições de
trabalho.
Trata-se de uma ferramenta formulada à base de questionário, respondida de próprio
punho ou por entrevista, através da qual o trabalhador expressa sua percepção a respeito do
posto de trabalho e da atividade que executa, informando se sente ou não desconforto,
dificuldade ou fadiga, em qual intensidade, se está relacionado ou não ao trabalho que executa
e, ao mesmo tempo, apresentando sugestões sobre o que pode ser melhorado (COUTO, 2002).
58
O Censo de Ergonomia aplicado na retirada do ponteiro do corte manual de cana-de-
açúcar foi aplicado a 79 trabalhadores através de entrevista, e os resultados obtidos foram
tabulados e apresentados a seguir (Tabela 4.4):
Tabela 4.4 – Censo de Ergonomia
1. Você sente atualmente algum tipo de desconforto no corpo?
Quantidade de colaboradores
Região do corpo acometida
32% Coluna 14% Braço 11% Punho 9% Pernas 7% Ombros 7% Mãos 4% Antebraço 4% Cotovelo 6% Joelhos 2% Coxa 2% Tornozelo e pés 1% Pescoço 1% Quadril
2. O que você sente e que referiu na questão anterior está relacionado ao trabalho no
setor atual?
85% Sim 15% Não
3. Há quanto tempo sente desconforto?
26% Até 01 mês 12% De 1 a 3 meses 8% De 3 a 6 meses
54% Acima de 6 meses
4. Qual o tipo de desconforto?
28% Cansaço 0% Choques 2% Estalos 4% Dolorimento
44% Dor 18% Formigamento ou adormecimento 1% Peso 3% Perda da força
59
5. Como você classificaria o que você sente?
13% Muito forte/forte 53% Moderado 34% Leve/muito leve
6. O que você sente aumenta com o trabalho?
53% Durante a jornada normal 4% Durante as horas extras
36% À noite 7% Não
7. O que você sente melhora com o repouso?
42% À noite 11% Nos finais de semana 9% Durante o revezamento em outras tarefas
17% Férias 21% Não melhora
8. Tem tomado remédio ou colocado emplastros ou compressas para poder trabalhar?
36% Sim 47% Não 17% Às vezes
9. Já fez tratamento médico alguma vez por algum distúrbio ou lesão em membros
superiores ou coluna?
78% Não 22% Sim
10. Quais são as situações de trabalho ou postos de trabalho, tarefas ou atividades que, em
sua opinião, contém dificuldade importante ou desconforto importante; ou causam
fadiga ou mesmo dor? (Caso a resposta esteja relacionada a um equipamento, incluir
o tipo do mesmo e, se possível, o número deste).
13% Corte de cana crua para muda 34% Corte de cana 22% Carpir 16% Plantio 3% Descarregar caminhão no plantio 3% Fadiga quanto ao uso da toca árabe 3% Fazer picada no meio da cana 3% Má qualidade da luva 3% O uso do óculos de telinha
Fonte: (Couto, 2006)
60
De acordo com os resultados apresentados verificou-se através do Censo de Ergonomia que:
A. A população estudada refere algum tipo de desconforto (Figura 5.20), sendo: 32%
localizado na coluna, devido a postura adotada para a realização do corte; 14% no
braço devido aos movimentos repetitivos associado à força para o corte; 11% em
punho força de preensão e movimento de flexão de punho; 9% nas pernas devido
a permanência da postura em pé e deslocamento constante; 7% nos ombros e
mãos, pela realização de movimentos repetitivos associados a força e o restante
aplicada as demais estruturas corporais;
B. Frente a todos estes desconfortos, 85% da população refere relação direta do
sintoma com a atividade;
C. Quando questionados sobre quanto tempo vem apresentando este desconforto,
54% da população disseram apresentar estes sintomas acima de 06 meses; 26% até
01 mês de atividade, 12% entre 01 e 03 meses de atividade e 8% de 03 a 06 meses
de atividade. Sendo este um indicador que caracteriza como crônico o quadro dos
trabalhadores;
D. O sintoma predominante é de 44% dor, principalmente de origem músculo
articular, seguido de 28% cansaço, atividade exaustiva e 18% formigamento ou
adormecimento, caracterizando algum tipo de déficit de condução nervosa ou
arteriovenosa;
E. Quanto à intensidade deste desconforto, 53% relata ser moderado, 34% leve /
muito leve e apenas 13% relata ser forte / muito forte;
F. 53% da população alegam que estes desconfortos aumentam com a jornada
normal de trabalho, 36% alegam aumentar a noite e 11% diz não aumentar;
G. Quanto ao período em que mais se evidencia melhora, foi constatado que 42%
melhora no período da noite, 21% disseram não melhorar, 17% disseram melhorar
no período de férias, 11% nos finais de semana;
H. Para melhora destes desconfortos, foi questionado se os colaboradores utilizam
algum tipo de medicamento, emplastros e/ou compressas. 47% disseram não
utilizar, 36% disseram utilizar continuamente e 17% utilizam às vezes;
61
I. E quando questionados se alguma vez já foram submetidos a algum tipo de
tratamento, 78% disseram que não e 22% disseram que sim (médico,
medicamentoso, fisioterapia, etc.).
4.6 Apreciação Ergonômica do Trabalho da Retirada dos Ponteiros no Corte Manual de
Cana-de-Açúcar
A apreciação ergonômica foi realizada através da associação de coleta dos dados com
trabalhadores rurais (serviços gerais – cortador de cana), encarregados, supervisores e
gerência das atividades agrícolas. Para a realização da apreciação ergonômica, os riscos foram
classificados de acordo com Moraes e Mont’ Alvão (2003) conforme apresentada no bloco 9
do capítulo 3, que propõem que as condições ergonômicas podem ser apreciadas por classes,
conforme citadas abaixo:
Posturais - Posturas prejudiciais resultantes de inadequações do posto de trabalho, do
campo de visão, do envoltório acional e dos alcances, do posicionamento de componentes,
dos apoios, das articulações, do espaço de trabalho, da flexibilidade postural, das
características antropométricas, com prejuízos para o sistema músculo-esquelético, de
predominância postural e espacial.
Instrumentais - Ferramentas de trabalho e materiais manipulados que acarretam
dificuldades ou desconfortos no manuseio, com falta de ajustes, falta de apoios, e
características dimensionais inadequadas, conservação de ferramentas e instrumentos de
trabalho.
Interfaciais - Arranjos físicos e deficiências na identificação de painéis de
informações e de comandos, que acarretam dificuldades na tomada de informações e de
acionamentos, e de exploração visual, que possam causar prejuízos na memorização,
detecção, e na tomada de decisões.
Acionais - Aspectos biomecânicos que possam a ser prejudiciais no ataque acional a
comandos, ferramentas, painéis, ângulos, movimentação de materiais e outros, que agravam
as lesões por traumas repetitivos. Nestes estão incluídos aspectos repetitivos, fisiológicos,
cinesiológicos funcionais, esforços estáticos e dinâmicos.
62
Comunicacionais - Ruídos e desajustes quando necessária a transmissão de
informações sonoras ou gestuais. Má audibilidade de mensagens radiofônicas e/ou
telefônicas.
Organizacionais - Ritmo e monotonia intensa, pressão de prazos de produção e de
controles, ausência de pausas e micropausas, excesso de horas trabalhadas, falta de controle
do operador. Falta de objetivação, responsabilidade, autonomia e participação. Inexistência de
uma gestão participativa, desconsiderando opiniões e sugestões de funcionários. Centralização
de decisões, excesso de níveis hierárquicos, falta de transparência nas comunicações das
decisões, prioridades e estratégias, falta de política de cargos e salários coerente, descuido ao
trabalhador. Conflitos entre indivíduos e grupos sociais, dificuldades de comunicações e
interações interpessoais, falta de opções de descontração e lazer. Falta de ordem, arrumação,
local de deposição de matérias (armários, gavetas, etc.).
Movimentacionais - Excesso de peso, distância do curso da carga, freqüência de
movimentação dos objetos a levantar ou transportar, desnivelamento de pisos que possam
causar deficiências em transporte de cargas, ausência ou desajustes de facilidades mecânicas
ou hidráulicas, e que acarretam no esforço humano e desrespeito aos limites recomendados de
movimentação manual de materiais, com riscos para o sistema músculo-esquelético.
De deslocamento - Excesso de caminhamentos e deambulações, grandes distâncias a
serem percorridas para a realização das atividades da tarefa, utilização inadequada e constante
de plataformas e escadas e utilização de áreas de higiene pessoal.
Ambientais - Isolamentos, má aeração, insolação, reflexos, temperatura, ruído,
iluminação, vibração, radiação, acima ou abaixo dos níveis recomendados, partículas,
elementos tóxicos e aero-dispersóides em concentração no ar acima dos limites permitidos.
Falta de otimização da cor, do ambiente, falta de higiene e assepsia, o que permite a
proliferação de germes patogênicos.
Acidentários - Falta de dispositivos de proteção de máquinas, precariedade do solo,
de andaimes, rampas e escadas, manutenção insuficiente. Deficiência na rotina de
equipamentos para emergências.
Para a interpretação dos riscos, a apreciação ergonômica foi descrita seguindo uma
metodologia baseada na adaptação do método FMEA - Failure Mode and Effect Analysis, já
utilizada por diversos autores na identificação de riscos ergonômicos, e já são adotadas em
63
diversas companhias em todo o mundo, como é o caso do programa corporativo de ergonomia
da Ford Company, e o programa corporativo de ergonomia da Peugeot-Sochaux e Peugeot-
Citroen. A metodologia de identificação de falhas do FMEA (Quadro 4.1) pode propor um
método analítico e padronizado para detectar e eliminar riscos potenciais de forma sistemática
e completa, mediante um raciocínio basicamente dedutivo, sem a exigência de cálculos
sofisticados.
Processo Evento Falha Medidas de controle existentes
S O D PR Medidas a serem tomadas
Quadro 4.1 – Modelo proposto pelo método FMEA Fonte: Ginn et al, 1998.
O trabalho foi desenvolvido nas seguintes etapas:
1. Planejamento - Iniciou-se definindo os objetivos (abrangência da análise, análise
da demanda), que foi voltado à retirada de ponteiros no corte manual de cana-de-açúcar,
devido ao alto índice de queixas e procuras ambulatoriais.
2. Análise das atividades - Foi realizada a apreciação ergonômica, identificando os
problemas mais comuns de forma pró-ativa, onde os mesmos são apresentados na planilha de
identificação de riscos ergonômicos.
3. Avaliação dos Riscos - Após a determinação das irregularidades perante as
observações de classes foram levantados os possíveis riscos humanos (efeitos produzidos a
saúde e segurança do trabalho) e organizacionais (efeitos técnicos e administrativos
produzidos a empresa). Para que se interpretem os riscos, a partir de cada um deles, são dados
critérios de níveis semi-quantitativos, conforme seguem os quadros abaixo:
64
Quadro 4.2 – Histórico (HIS): Avaliado de acordo com as entradas ambulatoriais,
queixas, afastamentos, acidentes anteriores, ou relato dos funcionários (colhidos em
entrevistas e questionários de avaliação).
Nível Definição
4 Preocupações e reclamações constantes.
3 Preocupações e reclamações atuais.
2 Preocupações e reclamações anteriores.
1 Sem preocupações e reclamações.
Quadro 4.2 – Histórico (HIS) Fonte: Moraes e Mont’ Alvão, 2003
Quadro 4.3 – Exposição (EXP): é avaliada de acordo com o tempo que o trabalhador
encontra-se em exposição ao risco, de acordo com o ciclo ou a jornada de trabalho (conforme
detalhamento da avaliação).
Nível Definição
4 76 a 100% da jornada
3 51 a 75% da jornada
2 26 a 50% da jornada
1 0 a 25% da jornada
Quadro 4.3 – Exposição (EXP) Fonte: Moraes e Mont’ Alvão, 2003
65
Quadro 4.4 - Gravidade (GRA): Avalia-se a gravidade do dano, lesão ou risco
ergonômico (que se enquadre em um dos itens citados em cada nível, de acordo com o custo
humano ou organizacional).
NÍVEL (H) CUSTOS HUMANOS (O) CUSTOS ORGANIZACIONAIS
4 Danos permanentes a saúde do trabalhador; Podendo levar a
incapacidade funcional.
Danos de grande extensão a organização; Gera passivo ocupacional trabalhista (multa ou possíveis indenizações); Impacto significativo na produtividade; Pode gerar paradas
na produção de tempo indeterminado.
3 Danos maiores à saúde do
trabalhador; Afastamentos e danos por longo prazo.
Caso aconteça, impacta em produtividade, treinamento, e é de difícil substituição operacional (atividade agregadora de
valor); Pode gerar paradas de produtividade por um longo período.
2 Danos leves à saúde do
trabalhador; Afastamentos e danos por curto prazo.
Danos de curto período a produção (gerando pequenas paradas no processo); Caso aconteça, qualquer outro operador pode realizar a atividade em substituição.
1 Desconforto funcional; Sem
alterações significativas na saúde e segurança do trabalhador.
Não impacta na produtividade; Não apresenta irregularidade com a legislação.
Quadro 4.4 – Gravidade (GRA) Fonte: Moraes e Mont’ Alvão, 2003
Priorização de Riscos: Demonstra a atitude a ser tomada na prevenção, eliminação,
ou minimização do risco, de acordo com a sua prioridade. A escala é representada em um
formato que sugere que quanto maior o resultado, maior a prioridade: HIS (Quadro 2) x EXP
(Quadro 3) x GRA (Quadro 4) = PRI. Para que se tenha condição ergonômica favoráveis,
recomenda-se que esforços sejam tomados no sentido de minimizar ao máximo os indicadores
demonstrados na Prioridade (PRI), (Tabela 4.5).
66
Tabela 4.5: Análise Ergonômica do Trabalho
SETOR: CORTE - POSTO TRABALHO: CANA-DE-AÇÚCAR Tarefa – Corte Manual da Cana-de-Açúcar
Classe Avaliada
Descrição do perigo, irregularidade, ou
situação atual observada.
Possíveis efeitos humanos (H), técnicos e
administrativos (O)
CLASSIFICAÇÃO
HIS EXP GRA PRI
Posturais
A atividade é
realizada com flexão anterior, rotação e
inclinação lateral de tronco de forma
dinâmica, variando em amplitude de acordo com as características
antropométricas da população.
Distensionamento muscular (musculatura paravertebral); Algias musculares na região lombar e compressões nervosas (Ciatalgias).
H 4 4 2 32
Queda na produtividade, podendo
parar com sua atividade de forma
abrupta para procura de atendimento ambulatorial.
O 4 4 2 32
Posturais
Atividade realizada na postura em pé
(Postura ortostática).
Desconforto postural; Dores em menor intensidade em
membros inferiores na região do joelho, tornozelo e pés, e coluna na região
lombar
H 4 3 2 24
Queda de produção individual por período indeterminado em caso
de desconfortos em maior intensidade.
O 4 3 2 24
67
Posturais
Elevação de
membros superiores (flexão e abdução de
ombro, flexão de cotovelo, flexão, extensão, desvio radial e ulnar de punho) dinâmico
para a realização do processo.
Dores locais e/ou irradiadas, lesões
tendíneas ou compressiva nervosa (tendinite do supra
espinhoso, compressão nervo ulnar)
H 4 3 2 24
Paradas e/ou perdas do ritmo de produção,
procura por atendimento médico
ambulatorial, podendo chegar a afastamento
do colaborador da atividade
O 4 3 2 24
Posturais
Flexão de dedos na mão que segura o facão, ficando em constante esforço
isométrico, devido à atividade realizada. (contração de mão, dedos e punhos).
Perda de força, limitação de
amplitudes de movimento, dores,
podendo gerar inflamações (dedo em gatilho) e compressões nervosas nesta região
H 4 3 2 24
Paradas e/ou perdas do ritmo de produção,
procura por atendimento médico
ambulatorial, podendo chegar a afastamento
do colaborador da atividade
O 4 3 2 24
Posturais
Adoção de flexão de joelho e quadril de
forma dinâmica para caminhar por entre os
eitos de cana.
Torções, lesões meniscais ou ligamentares
H 2 3 1 06
Queda de produção
individual por período indeterminado em
casos agudos.
O 1 1 1 01
68
Posturais
Padrões posturais irregulares para
executar a atividade, variando de acordo
com a altura do trabalhador (alcance do facão no solo) e irregularidades de
terreno
Desconfortos musculares,
distensionamentos, compressões nervosas
(nervo ciático).
H 4 3 2 24
Paradas e/ou perdas do
ritmo de produção
O 4 3 2 24
Propostas de melhorias de origem - Postural:
A) Utilização do gancho, como ferramenta, para a retirada do ponteiro durante o corte manual;
B) Adequação do facão utilizado de acordo com as características antropométricas da população, apresentando mais do que um modelo (tamanho);
C) Adequação do programa de condicionamento físico do trabalhador;
D) Análise e classificação antropométrica da população.
E) Treinamento e capacitação do trabalhador quanto a conscientização de hábitos posturais
Instrumentais
Utilizam o facão
realizando preensão palmar.
Dores nas mãos, punho e dedos (dedo em
gatilho) gerada pela má qualidade da pega e
peso, patologias tendíneas e
compressiva nervosas.
H 4 3 2 24
Paradas e/ou perdas do ritmo de produção,
procura por atendimento médico
ambulatorial, podendo chegar a afastamento
do colaborador da atividade
O 4 1 2 08
69
Instrumentais
Utilização de óculos para proteção visual modelo “telinha”.
Vertigem (tontura),
dificuldade na realização da tarefa devido a acidentes
oculares com ciscos, poeiras e folhas
pontiagudas
H 4 4 1 16
Dificuldade na
realização da tarefa, perdas na
produtividade e retrabalhos
O 4 2 1 08
Instrumentais
Utilização de luvas para proteção das mãos e punhos.
Aumento de
temperatura local, sudorese, lesões
dermatológicas, lesões em unhas, patologias
relacionadas ao punho (Síndrome do Túnel do
Carpo e dedo em gatilho, originado em função do acúmulo de
sacarose no tecido)
H 4 2 2 16
Paradas e/ou perdas do
ritmo de produção, procura por
atendimento médico ambulatorial, podendo chegar a afastamento
do colaborador da atividade
O 1 1 1 01
Instrumentais
Utilização da perneira para
proteção de membros inferiores.
Dores na região do tornozelo, devido a
perca de mobilidade, acidente na região
superior da articulação do tornozelo (talo
fibular).
H 4 1 1 04
Paralisação e/ou queda de produção individual em caso de acidente de
trabalho, procura de atendimento médico
ambulatorial possibilidades de erro humano ou falhas no
processo.
O 1 1 1 01
70
Instrumentais
Utilização de boné
“toca árabe”.
Aumento de
temperatura local, lesões na região do
couro cabeludo
H 1 1 1 01
Perdas do ritmo de
produção
O 1 1 1 01
Instrumentais
Utilização de botina com biqueira de aço
para proteção dos pés.
Dor na região dos pés,
entorse, lesões em dedos, região dorsal ou
plantar. Lesões dermatológicas.
H 4 1 1 04
Paralisação e/ou queda de produção individual, possibilidades de erro humano ou falhas no
processo.
O 1 1 1 01
Instrumentais Utilização de lima e suporte de lima para
afiar o facão.
Lesão em mão e/ou
dedos
H 1 1 1 01
Paralisação e/ou queda de produção individual, possibilidades de erro humano ou falhas no
processo.
O 1 1 1 01
Instrumentais
Utilização de mangote no braço que
abraça o feixe de cana.
Dores em membros
superiores
H 2 1 1 02
Paralisação e/ou queda de produção individual, possibilidades de erro humano ou falhas no
processo.
O 1 1 1 01
71
Propostas de melhorias de origem - Instrumental:
A) A tela dos óculos de proteção é confeccionada com um material perfurado, facilitando a
entrada de poeira e fuligem. No corte da cana crua não há proteção das folhas, aumentando
assim o risco de acidentes, porém com menor gravidade se comparado ao óculos com a
lente de acrílico. Isto se deve a presença de uma abertura no seu bordo inferior facilitando a
entrada de objetos pontiagudos, presente no óculos de acrílico e não no de telinha;
B) De acordo com Canciglieri e colaboradores (2006), do ponto de vista de design o facão
utilizado no corte da cana pode possuir uma forma mais circular ou uma forma mais
retilínea. Para os dois casos, normalmente, são colocados cabos de madeira sem nenhuma
análise ergonômica considerando a pega e também, em nenhum dos casos, são considerados
nem o comprimento do cabo nem a sua distribuição de massa levando-se em consideração
os dados antropométricos dos trabalhadores que executarão a tarefa. Diante disso, faz-se
necessário um estudo especifico e acurado da influência do design dos facões tomando
como base a antropomometria do ser humano e esse será objeto de exploração de uma
pesquisa futura.
C) A raspa de couro, material que é utilizado para confeccionar as luvas de proteção, que vai
na cana, endurece em contato com a sacarose, dificultando a execução de fletir os dedos, na
mão que abraça o feixe de cana. Este material não tem aderência quando em contato com o
cabo do facão, ou seja, o uso conjunto gera uma situação de insegurança para o trabalhador.
A falta de uniformidade da raspa de couro, principalmente nas raspas mais grossas,
machuca as mãos. Um fator ainda relacionado ao tecido, que deve ser melhorado, é
confeccionar a luva com material de rápida secagem, sua necessidade se aplica, pois o
trabalhador é orientado a lavar as luvas diariamente, a fim de limpar e evitar o acúmulo de
sacarose. Além do tecido, o ideal é que sejam fornecidos dois pares de luva por trabalhador,
para que ele possa revezar sua utilização. E a falta de opção em tamanho é outro fator
agravante, machucam as mãos e levam a lesões dermatológicas, nos dedos e unhas do
trabalhador. As luvas deveriam apresentar 03 tamanhos (P./M./G.), com raspa uniforme da
costura fora da área de pega e rebaixada mantendo sempre a troca regular;
72
D) As perneiras de segurança são confeccionadas com material sintético e duro, em função
disto, os movimentos contínuos das pernas para execução do corte da cana é prejudicado,
pois ela escorrega e machuca as pernas, necessitando de melhor fixação. Outro fator
importante a ser readequado são os tamanhos das perneiras, isto melhorará o conforto e
segurança do trabalhador, fixando a perneira de acordo com a característica antropométrica
apresentada, e troca regular deste equipamento;
E) O calçado de segurança é adequado para a execução de atividade, tanto do ponto de vista de
conforto como de segurança, não havendo propostas de melhorias a serem apresentadas;
Nenhuma queixa foi relatada por parte dos trabalhadores;
F) Óculos com tamanho diferenciado do aro, poroso e fechado para que não afete a visibilidade
com lentes corretivas se necessário, lentes anti-embaçante e anti-risco, confortável ao rosto e
troca regular;
G) Avaliar tamanhos de cabo e lâmina do facão, fornecer borracha para aqueles trabalhadores
que melhor se adaptam e buscar manterá troca regular do instrumento;
H) Quanto ao mangote, modelos com tamanhos diferentes, confeccionado em algodão para
facilitar a transpiração, protegendo o braço e mantendo o dorso livre, e troca do
equipamento regular;
I) A toca árabe deve apresentar tamanhos variados e utilizada independente das vestimentas;
Zago e Silva (1998) consideram que: “a maioria dos equipamentos de proteção individual
disponíveis no mercado nacional não são adequados à cultura, à atividade, ao clima e aos dados
antropométricas da população”, isto se aplica nas conclusões acima descritas. O formato da ponta
da lâmina do facão em ângulo reto dificulta o trabalho, pois este tipo de formato permite que o
facão penetre no chão com facilidade dificultando a execução da atividade. Os trabalhadores
desenvolvem inúmeras estratégias defensivas para executar a atividade que lhes é atribuída,
cumprindo as prescrições estabelecidas pela empresa, com relação ao uso dos equipamentos de
proteção individual.
73
De acordo Gonzaga (2002) houve destaque aos problemas relativos às luvas e aos óculos de
proteção, pois ambos têm tamanhos únicos, desconsiderando a variabilidade dos usuários. O óculos
de proteção tem o aro tamanho 50 mm, em função disto, houve relatos que os mesmos apertam e
machucam o rosto, ocasionando dor de cabeça.
Quanto às luvas, inúmeras trabalhadoras têm as unhas roxas pela pressão que é necessária
ser feita para conseguir segurar o facão com a luva, já que elas são muito grandes para as suas
mãos. A OIT - Organização Internacional do Trabalho (2001) comenta o seguinte sobre esta
situação: “as luvas dificultam o uso, principalmente para as mulheres por terem as mãos menores
que as dos homens”. A revista virtual Designweek (2001) salienta que os maiores problemas
relacionados ao desconforto são provocados pelo peso dos equipamentos de proteção individual e
inexistência de tamanho diferenciado.
Os equipamentos de proteção individual e as ferramentas de trabalho têm uso contínuo em
toda a jornada de trabalho. Nesta situação a OIT (2001) propõe o seguinte: “é importante que o
equipamento de proteção individual seja apropriado, ou seja, adequado ao tamanho do trabalhador,
pois muito apertado ou muito frouxo, por exemplo, causa desconforto e desencoraja o seu uso
contínuo durante toda a jornada de trabalho”.
Na escolha dos equipamentos de proteção é importante considerar não apenas um
equipamento que ofereça maior proteção, como também conforto e mobilidade para os
trabalhadores. Pois o uso satisfatório de qualquer produto está relacionado à eficácia e eficiência
em interface com os usuários dos mesmos. Algumas características são básicas para a seleção:
As limitações de tamanho, peso, material de confecção, formato que possam interferir na
execução da atividade, a necessidade de diferentes níveis de eficiência na proteção e a durabilidade
do equipamento. O desconforto na utilização de EPI não apropriado ao clima quente pode ser um
fator responsável pelo não uso dos equipamentos, pois a transpiração e a acumulação de calor
inviabilizam o seu uso.
74
Interfaciais
Dificuldade de realização da
atividade devido à cana acamada
(deitada / caída), emaranhada.
“Risco de acidentes”,
quedas e dores nas costas pela dificuldade
do processo (lombociatalgia,
dorsalgias)
H 4 3 2 24
Queda na
produtividade
O 4 3 2 24
Interfaciais
Dificuldade de realização da
atividade devido à utilização do óculos
(modelo telinha).
Vertigem (tontura),
dificuldade na realização da tarefa devido a acidentes
oculares com ciscos, poeiras e folhas
pontiagudas
H 4 3 2 24
Dificuldade na
realização da tarefa, perdas na
produtividade e retrabalhos
O 4 3 2 24
Propostas de melhorias de origem - Interfacial:
A) Do ponto de vista interfacial, as propostas de melhorias a serem apresentadas estão
relacionadas ao óculos de proteção, uma vez que este vem causar tontura e risco de
acidentes oculares com poeiras e objetos pontiagudos. Há necessidade de intervenção
quanto ao material e modelo que é confeccionado a lente do óculos.
Comunicacionais
Déficit de comunicação com coordenadores e
supervisores de área devido à distância e
ruído local
Stress, irritação das cordas vocais pela
dificuldade ao tentar se comunicar
H 1 1 1 01
Sem alterações organizacionais
O 1 1 1 01
Comunicacionais
Déficit de
comunicação com coordenadores,
supervisores de área e colegas de trabalho
devido ao tecido que recobre a face.
Dificuldade ao tentar
se comunicar
H 1 1 1 01
Perda de tempo e
retrabalhos
O 1 1 1 01
75
Propostas de melhorias de origem - Comunicacional:
A) O fator comunicacional não é tido como deficitário para a execução da atividade, o
realizar do trabalho não é dependente de comunicação, não havendo assim propostas de
melhorias a serem apresentadas.
Organizacionais
Ritmo de trabalho acelerado
Cansaço físico e/ou
mental, irritabilidade, dores em diversas regiões corporais
H 4 3 1 12
Queda na
produtividade
O 1 1 1 01
Organizacionais
Excesso de pressão e controle de produção
Cansaço físico,
cefaléias, irritabilidade
H 1 1 1 01
Queda na
produtividade
O 1 1 1 01
Organizacionais
Ausência de pausas durante a atividade
Fadiga física, dores no corpo, stress, falta de
motivação por parte do trabalhador
H 1 1 1 01
Possibilidades de erro ou falhas no processo
O 1 1 1 01
Organizacionais
Ausência de uma
gestão participativa desconsiderando
opiniões e sugestões de funcionários
Desgaste físico muitos
vezes gerado pela utilização de
equipamentos não adequados à atividade, falta de motivação por parte do trabalhador,
desinteresse pela atividade e pela vida da
empresa
H 1 1 1 01
Queda na produtividade
O 1 1 1 01
76
Organizacionais
Falta de política
coerente de cargos e salários
Desmotivação, falta de comprometimento com a empresa, desânimo,
irritação, cefaléias, etc.
H 1 1 1 01
Desânimo, falta de
motivação, desinteresse
O 1 1 1 01
Organizacionais
Falta de opções de
descontração e lazer
Perca de motivação
H 1 1 1 01
Queda na
produtividade
O 1 1 1 01
Organizacionais
Descuido à saúde do
trabalhador
Acidentes, aumento de procura ambulatoriais, CAT”S, cronicidade
patológica
H 1 1 1 01
Afastamentos, faltas e
quedas na produtividade
O 1 1 1 01
Propostas de melhorias de origem - Organizacional:
A) Análise específica dos tempos e movimentos realizados durante a jornada normal de
trabalho, a fim de organizar sua jornada de trabalho (pausas, horários de descanso,
almoço, café, etc.) de acordo com os horários de pico de fadiga do trabalhador, não
colocando em risco sua saúde e segurança. Isto se torna necessário, uma vez em que
este trabalhador realiza a atividade e sua remuneração é baseada em produtividade.
Movimentacionais
Manuseio de
materiais (feixe de cana) durante à
atividade
Desconforto muscular, fadiga, acometimento
da região lombar (distensionamento e
lombociatalgias)
H 4 3 2 24
Queda na
produtividade e/ou paralisação da
produção
O 4 3 2 24
77
Movimentacionais
Alta freqüência de
movimentos de membros superiores, golpes de facão na
retirada do ponteiro
Dores na região
lombar, dores na região da mão, punho e
ombros.
H 4 3 2 24
Queda na
produtividade e/ou paralisação da
produção
O 4 3 2 24
Movimentacionais
Deslocamento
constante pelo eito para o corte manual
do ponteiro
Lesões em Membros
inferiores, como: entorse, distensões, etc.
H 4 2 2 16
Queda na
produtividade e/ou paralisação da
produção
O 4 2 2 16
Propostas de melhorias de origem - Movimentacional:
A) Utilização do gancho, como ferramenta, para a retirada do ponteiro durante o corte manual;
B) Adequação do facão utilizado de acordo com as características antropométricas da população, apresentando mais do que um modelo (tamanho);
C) Adequação do programa de condicionamento físico do trabalhador;
D) Análise e classificação antropométrica da população;
E) Treinamento e capacitação do trabalhador quanto a conscientização de hábitos posturais e movimentacionais.
De deslocamento
Excesso de
caminhada e deambulações
Dores em membros inferiores, dores nas
costas, devido à atividade.
H 1 1 1 01
Queda na
produtividade e/ou paralisação da
produção
O 1 1 1 01
78
De deslocamento
Dificuldade de acesso e utilização de áreas de higiene pessoal
Alterações
gastrointestinais, urinárias
H 4 2 1 08
Queda na
produtividade e/ou paralisação da
produção
O 1 1 1 01
Propostas de melhorias de origem – De deslocamento:
A) Instalação de banheiros móveis e fixos nos veículos, melhorando acesso aos
trabalhadores as áreas de higiene pessoal;
Ambientais
Exposição a altas
temperaturas e variações climáticas,
interpéries.
Cefaléias, queda de pressão, câimbras.
H 4 2 2 16
Queda de
produtividade
O 4 2 2 16
Ambientais
Falta de higiene e
assepsia
Instalação de bactérias,
processo infeccioso.
H 1 1 1 01
Queda na
produtividade e/ou paralisação da
produção
O 1 1 1 01
Propostas de melhorias de origem - Ambientais:
A) Adequação e padronização da vestimenta utilizada pelo trabalhador, tecido que não
retenha líquido e nem mesmo calor, diminuindo assim a fadiga do trabalhador e seu
tempo de recuperação quando submetido ao esforço.
B) Instalação de banheiros móveis e fixos nos veículos, melhorando acesso aos
trabalhadores as áreas de higiene pessoal;
C) Locais adequados para descanso dos trabalhadores, com cobertura e fornecimento de
água a vontade.
79
Acidentários Precariedade do solo,
risco de queda e acidentes com o
manuseio de instrumentos em
membros inferiores
Torções, lesões em
membros inferiores e tronco. Ferimentos
como: cortes, arranhões e escoriações
H 4 1 2 08
Paralisação da
produtividade por período indeterminado e encaminhamento do colaborador ao pronto
atendimento
O 4 1 2 08
Acidentários
Acidentes oculares
durante a execução da atividade
Déficit de visão,
podendo ter perda parcial ou total da visão, assim como déficit do sistema
ocular
H 4 3 2 24
Paralisação da
produtividade por período indeterminado e encaminhamento do colaborador ao pronto
atendimento
0 4 3 2 24
Propostas de melhorias de origem - Acidentário:
A) Readequação dos óculos de segurança, com tamanho diferenciado do aro, poroso e
fechado para que não afete a visibilidade com lentes corretivas se necessário, anti-
embaçante e anti-risco, confortável ao rosto e troca regular;
B) Utilização do gancho, como ferramenta, para a retirada do ponteiro durante o corte
manual, reduzindo assim o risco de acidentes em membros inferiores (pés e pernas);
C) Capacitação e treinamento dos trabalhadores quanto aos possíveis riscos de acidente e
condutas a serem tomadas frente a estas situações.
Fonte: Moraes e Mont’Alvão (2003)
80
4.7 Proposta de intervenção ergonômica através da concepção e utilização do gancho,
como ferramenta de trabalho na retirada do ponteiro durante o corte manual de cana-
de-açúcar
Após a Análise Ergonômica do Trabalho, do corte manual de cana-de-açúcar, foi
realizado o desenvolvimento e teste piloto do gancho como instrumento na retirada manual do
ponteiro de cana. Para isso utilizou-se os conhecimentos em ergonomia como ferramenta de
apoio direcionada ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de produtos. A utilização do gancho
na retirada manual do ponteiro de cana foi proposta, tendo em vista os benefícios
proporcionados ao adaptar o trabalho ao trabalhador, aumentando assim seu conforto e
segurança e reduzindo o desgaste de origem postural e biomecânico durante o trabalho.
O gancho foi apresentado durante análise ergonômica do corte como um instrumento
utilizado por um grupo de trabalhadores que vinham da região Norte / Nordeste, onde estes
adaptavam através do galho de uma árvore com pequena bifurcação “um gancho”, servindo
de apoio para a retirada dos ponteiros, os mesmos trabalhadores relatavam maior conforto e
disposição para a realização da tarefa. Após abordagem do Comitê de Ergonomia (COERGO)
a estes trabalhadores, os ganchos foram analisados, verificados os benefícios posturais e
biomecânicos de sua utilização e definida a proposta da realização de um estudo piloto.
Para a realização do estudo piloto, foram disponibilizados pela empresa 65
colaboradores do corte de cana que nunca utilizaram o gancho durante a atividade. Estes
foram treinados e capacitados com conteúdo teórico / prático, auxiliado por recurso áudio-
visual (fotos e filmagem) e palestras aplicadas pelos membros do COERGO, composto pelos
colaboradores do departamento de saúde e segurança do trabalho da empresa.
Os ganchos propostos foram confeccionados nas dependências da própria empresa,
apresentando cabo de madeira cilíndrico e ponteiro com viga de ferro, a fixação da viga de
ferro no cabo de madeira foi realizada através de um encaixe sob pressão, o cabo de madeira
não foi pintado, de acordo com a proposta de modelo do COERGO e características de
melhoria ofertadas pelos colaboradores que o utilizavam (figura 4.20).
81
Figura 4.20 – Gancho utilizado na retirada manual do ponteiro Fonte: O Autor
A duração do teste piloto foi de 45 dias, onde neste período os cortadores de cana
receberam visitas semanais do COERGO ao campo para análise do desempenho das
atividades ao utilizar este novo produto. Após este período realizou-se uma análise do gancho
quanto ao conforto, funcionalidade, desempenho e proposta de melhorias para o
aperfeiçoamento. Os dados foram coletados através de um censo desenvolvido e direcionado
para esta atividade.
Antes da realização do piloto os colaboradores foram submetidos a uma pré-avaliação,
conforme já apresentado na tabela 4.3 (Check List quanto à utilização dos equipamentos e
ferramentas). Após os 30 dias da utilização do gancho, realizou-se uma pós-avaliação com os
trabalhadores, onde os dados são apresentados a seguir:
Questionário aplicado aos cortadores de cana após a utilização do gancho piloto:
1. Quanto ao tempo gasto de execução do desponte, você o classifica como:
Quantidade de colaboradores
Respostas
15% maior tempo 73% menor tempo
82
12% igual tempo
2. Quanto ao desgaste dos Equipamentos de Proteção Individual:
89% menor desgaste 11% maior desgaste
3. O que você achou do gancho piloto?
58% bom, não necessitando de modificação 26% cabo muito longo 0% cabo curto
11% bom peso 4% muito leve 1% muito pesado
4. O que você poderia dizer com relação ao uso do gancho quanto a fadiga:
69% você se sentiu menos cansaço ao despontar o ponteiro 4% sentiu maior cansaço
27% não sentiu diferença
5. O que você tema dizer com relação ao uso do gancho quanto a postura:
69% sentiu menos sobrecarga da coluna ao despontar o ponteiro 5% sentiu maior sobrecarga da coluna ao despontar o ponteiro
26% não sentiu diferença
6. Como você classifica o uso do gancho (conforto):
61% fácil seu manuseio, fácil de acostumar com o uso 11% difícil manuseio, apenas no começo, depois facilitou a tarefa 6% difícil manuseio, mas aprovado o uso
22% prefiro não utilizá-lo.
7. Você sentiu algum tipo de dor ao usar o gancho que você não havia sentido antes?
8% Sim 92% Não
8. Você sentiu que alguma dor que você tinha antes desapareceu com o uso do gancho?
38% Sim 62% Não
De acordo com os dados apresentados acima, conclui-se com esta análise que o
gancho utilizado, foi aprovado, atendendo as necessidades dos colaboradores na execução da
atividade, uma vez que esta ferramenta adequa antropometricamente o trabalhador
proporcionando maior conforto ao realizar sua atividade, reduzindo queixas de dor,
desconforto, câimbras em membros inferiores, diminuiu o desgaste do calçado de proteção
83
utilizado entre outros equipamentos de proteção utilizados, além de promover uma adoção de
melhor postura, menor inclinação de tronco e movimentação de pernas conforme (figura 4.21)
se comparado ao trabalhador que não utiliza o gancho (figura 4.22), sendo necessárias poucas
melhorias, conforme descrito abaixo:
A. Melhorar a fixação do vergalhão utilizado para o gancho;
B. Adaptar uma manopla no cabo do gancho melhorando a qualidade de pega;
C. Ajustar o diâmetro do cabo do gancho, pois os colaboradores acharam o cabo fino,
rodando na mão;
D. Adaptar um suporte para transportar o gancho;
E. Definir o processo organizacional (tempos e movimentos) do desponte, com a
metragem a ser cortada, inserindo-o no padrão atual de corte de cana;
F. Adequar a cor do cabo do gancho a fim de facilitar sua visualização e evitar perda;
G. Realizar constantes treinamentos / capacitação dos trabalhadores para adequá-lo à
atividade (coordenação / postura / equilíbrio / etc.);
84
Figura 4.21 – Retirada manual do ponteiro de cana com o auxílio do gancho Fonte – O Autor
Figura 4.22 – Retirada manual do ponteiro de cana não utilizando o gancho como auxílio Fonte – O Autor
85
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Nesta dissertação apresentou-se inicialmente a atividade da retirada do ponteiro no
corte manual de cana-de-açúcar, o trabalhador e o seu contingente na prática do trabalho,
formando cenário no qual se expõe a necessidade da abordagem ergonômica, através de
equipes de projeto compostas por profissionais de múltiplas áreas, principalmente no que diz
respeito à formação de um projeto conceitual dos produtos utilizados, a fim de reduzir o
sofrimento deste trabalhador e adequar os instrumentos por eles utilizados.
Ficou clara a importância e a necessidade da composição de uma equipe
multiprofissional e multidisciplinar: Preparadores Físicos, Fisioterapeutas, Médicos,
Designers, Engenheiros de Produto, Técnicos de Segurança do Trabalho, Trabalhadores e
outros que possam agregar conhecimentos em ergonomia, a fim de melhorar o produto e
ofertando mais saúde e segurança ao trabalhador.
O objetivo geral do trabalho se resumiu em analisar ergonomicamente a atividade da
retirada do ponteiro no corte manual de cana-de-açúcar, abordando todos os fatores que fazem
a relação do trabalho com o trabalhador (postura; movimentos; ferramentas; organização;
risco de acidentes; entre outros), segundo proposta de Moraes e Mont’ Alvão (2003) e utilizar
a ergonomia como base de conhecimento para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de
produtos.
Sendo assim, a ferramenta de análise nos apresentou o diagnóstico dos principais
problemas encontrados nesta atividade e suas conseqüências para o trabalhador. Sendo uma
das principais abordagens destinada ao desenvolvimento e aperfeiçoamento dos produtos
(instrumentos) utilizados no corte manual na retirada dos ponteiros. Onde, por meio de testes
experimentais, foram verificadas as diferenças no desempenho dos trabalhadores, redução de
queixas, melhoria do conforto, minimização do sofrimento, seguido da contribuição para o
aumento da produção e bem-estar após abordagem ergonômica, a fim de proporcionar através
da nova metodologia de trabalho (uso do gancho), redução de dor e de fadiga dos
trabalhadores, preservação de sua integridade física para o trabalho, diminuindo os gastos
com tratamentos de saúde e conseqüentemente promovendo um aumento de produtividade no
corte manual de cana-de-açúcar, conforme resultados apresentados no capítulo 5.
Com o avanço tecnológico na busca de maior conforto e produtividade, diversas
técnicas associadas à ergonomia são utilizadas para quantificar o movimento humano, a
86
antropometria, o esforço físico, entre outros, destacando suas importâncias no
desenvolvimento e definição de modelos conceituais, principalmente, no que diz respeito aos
estudos biomecânicos da musculatura esquelética, o que ainda representam um grande
desafio.
Por fim a amplitude e complexidade do assunto sugerem novas pesquisas para o
enfrentamento de questões que possam abrir leque da compreensão em torno dos impactos da
atividade do corte manual de cana-de-açúcar sobre o trabalhador, e dos benefícios promovidos
pela ergonomia como base de conhecimento das diversas áreas relacionadas à relação trabalho
Vs trabalhador. Segue então a sugestão da realização de novos testes experimentais em outras
empresas do mesmo ramo de atividade, abordando uma amostra maior e por período mais
prolongado de aplicação do teste. É importante também salientar as dificuldades encontradas
na utilização do gancho relatadas pelos trabalhadores quando aplicado na retirada de cana
acamada (caída), uma vez que se estas se encontram entrelaçadas no chão, sendo necessária a
remoção e o desembaraçar manual da cana no solo. Ficando com isso o desafio de novas
pesquisas.
87
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