ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

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  • Universidade Federal de Santa CatarinaPrograma de Ps-Graduao em

    Engenharia de Produo

    ANLISE ERGONMICA DO TRABALHO ASSOCIADA CINESIOTERAPIA DE PAUSA COMO MEDIDAS PREVENTIVAS

    E TERAPUTICAS S L.E.R./D.O.R.T. EM UMABATEDOURO DE AVES

    Elcimar da Silva Reis

    Dissertao apresentada aoPrograma de Ps-Graduao em

    Engenharia de Produo daUniversidade Federal de Santa Catarina

    Como requisito parcial para obtenodo ttulo de Mestre em

    Engenharia de Produo

  • 2Florianpolis2001

    Elcimar da Silva Reis

    ANLISE ERGONMICA DO TRABALHO ASSOCIADA CINESIOTERAPIA DE PAUSA COMO MEDIDAS

    PREVENTIVAS E TERAPUTICAS S L.E.R./D.O.R.T. EM UM ABATEDOURO DE AVES

    Esta dissertao foi julgada e aprovada para aobteno do ttulo de Mestre em Engenharia deProduo do Programa de Ps-Graduao em

    Engenharia de Produo daUniversidade Federal de Santa Catarina

    Florianpolis, 27 de agosto de 2001.

    Profa. Leila Amaral Gontijo, Dra.Coordenadora do Curso

    BANCA EXAMINADORA

    _________________________________ Prof. Edio Luiz Petroski, Dr.

    Orientador

    _____________________________Prof. Jos Maral Jackson Filho, Dr.

  • 3__________________________________ Prof. Eugnio Merino, Dr.

    A minha esposa, Patrizia, por todo amor, constante e incondicional apoio,

    encorajamento e pacincia.

  • 4AgradecimentosAo orientador Prof. Edio Luiz Petroskipelo seu acompanhamento pontual eorientao competente e profissional.

    todos os que direta ou indiretamentecontriburam para a realizao

  • 5desta pesquisa.

    Sumrio

    Lista de Figuras........................................................................................................ix

    Lista de Tabelas........................................................................................................x

    Resumo....................................................................................................................xi

    Abstract...................................................................................................................xii

    1 INTRODUO......................................................................................................1

    1.1 Apresentao da Problemtica..........................................................................1

    1.2 Justificativa e Relevncia do Trabalho...............................................................4

    1.3 Objetivos do Trabalho........................................................................................6

    1.3.1 Objetivo Geral................................................................................................6

    1.3.2 Objetivos Especficos.....................................................................................6

    1.4 Questes Investigadas.......................................................................................7

    1.5 Delimitao do Estudo........................................................................................9

    2 REVISO DA LITERATURA...............................................................................10

    2.1 As L.E.R./D.O.R.T. e a Industrializao do Frango.........................................10

    2.1.1 Nomenclaturas e Aspectos Conceituais das L.E.R./D.O.R.T.......................10

    2.1.2 As Etiologias das L.E.R./D.O.R.T.................................................................13

    2.1.3 Evoluo das L.E.R./D.O.R.T.......................................................................16

    2.1.4 Principais Leses no Setor de Eviscerao e Seus Fatores Causais..........20

  • 62.1.4.1 Sndrome Tensional do Pescoo (STP).................................................20

    2.1.4.2 Tendinite ou Sndrome do Impacto do Ombro..........................................22

    2.1.4.3 Epicondilites Lateral e Medial....................................................................24

    2.1.4.4 Tendinite e/ou Tenossinovite de Punho....................................................26

    2.2 A Normatizao das L.E.R./D.O.R.T...............................................................29

    2.3 A Ergonomia e a Preveno das L.E.R./D.O.R.T...........................................34

    2.3.1 Conceituao e Caractersticas da Ergonomia...........................................34

    2.3.2 Preveno das L.E.R./D.O.R.T...................................................................36

    3 METODOLOGIA................................................................................................41

    3.1 Primeira Etapa: Observaes e Registros Documentais................................42

    3.2 Segunda Etapa: Coleta de Dados..................................................................43

    3.3 Terceira Etapa: Programa de Cinesioterapia de Pausa.................................46

    3.4 Quarta Etapa: Reavaliao Fsica..................................................................46

    3.5 Quinta Etapa: Tratamento Estatstico dos Dados...........................................47

    4 ANLISE ERGONMICA DO SETOR DE EVISCERAO.............................48

    4.1 Anlise da Demanda.......................................................................................48

    4.2 Anlise da Tarefa............................................................................................49

    4.2.1 Homem.........................................................................................................49

    4.2.2 Mquinas......................................................................................................50

    4.2.3 Entradas e Sadas........................................................................................54

    4.2.4 Aes...........................................................................................................54

    4.2.5 Meio Ambiente.............................................................................................55

    4.2.6 Organizao do Trabalho............................................................................56

  • 74.2.7 Organizao dos Postos de Trabalho.........................................................56

    4.2.7.1 Exigncias Fsicas do Trabalho................................................................56

    4.2.7.2 Regulaes...............................................................................................57

    4.2.7.3 Exigncias Ambientais.............................................................................58

    4.2.7.4 Exigncias Sensrio-Motoras...................................................................58

    4.2.7.5 Exigncias Mentais...................................................................................59

    4.3 Anlise da Atividade.......................................................................................59

    4.3.1 Gestuais nos Postos de Trabalho...............................................................59

    4.3.1.1 Inverso Ps/Cabea...............................................................................59

    4.3.1.2 Inverso Cabea/Ps...............................................................................60

    4.3.1.3 Rasgar o Gargalo (Garganta)...................................................................60

    4.3.1.4 Toalete da Cloaca (Extirpao da Cloaca)...............................................61

    4.3.1.5 Corte do Meio...........................................................................................62

    4.3.1.6 Corte do Gargalo (Garganta)....................................................................62

    4.3.1.7 Retirada das Vsceras...............................................................................63

    4.3.1.8 Inspeo Federal......................................................................................63

    4.3.1.9 Retirada do Fgado...................................................................................64

    4.3.1.10 Retirada da Moela...................................................................................64

    4.3.1.11 Retirada dos Pulmes.............................................................................65

    4.3.1.12 Retirada do Resto do Esfago................................................................65

    4.3.1.13 Corte do Pescoo...................................................................................66

    4.3.2 Informaes.................................................................................................67

    4.4 Diagnstico.....................................................................................................67

  • 84.5 Recomendaes.............................................................................................69

    5 ANLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSO................................................72

    6 C0NSIDERAES FINAIS...............................................................................95

    7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................99

    8 ANEXOS..........................................................................................................104

    8.1 Coleta de Dados............................................................................................105

    8.1.1 Questionrio................................................................................................105

    8.1.2 Exame Fsico (Palpao)............................................................................106

    8.1.3 Fora de Preenso palmar.........................................................................106

    8.1.4 Medidas Antropomtricas...........................................................................106

    8.1.5 Goniometria................................................................................................107

    8.2 Programa de Cinesioterapia de Pausa..........................................................108

    8.2.1 Exerccios para Aquecimento.....................................................................108

    8.2.2 Exerccios para Alongamento.....................................................................110

  • 9Lista de Figuras

    Figura 1: Nria........................................................................................................51

    Figura 2: Pistola de Suco....................................................................................51

    Figura 3: Extrator por Suco.................................................................................52

    Figura 4: Tesoura Pneumtica...............................................................................53

    Figura 5: Tneis de Higienizao...........................................................................53

    Figura 6: Setor de Eviscerao.............................................................................55

    Figura 7: Tipo de Regulao...................................................................................58

    Figura 8: Toalete da Cloaca....................................................................................62

    Figura 9: Inspeo Federal.....................................................................................64

    Figura 10: Corte do Pescoo..................................................................................66

    Figura 11A: Plataformas Readaptadas...................................................................70

    Figura 11B: Utilizao das Plataformas Readaptadas...........................................70

    Figura 12: Cinesioterapia de Pausa........................................................................71

    Figura 13: Absentesmo no Perodo.......................................................................85

    Figura 14: Incidncia de Tendinite..........................................................................87

  • 10

    Figura 15: Comprometimento do Msculo Trapzio...............................................89

    Figura 16: Dor no Msculo Supraespinhal..............................................................90

    Figura 17: Dor no Epicndilo Medial do Cotovelo...................................................90

    Figura 18: Dor no Epicndilo Lateral do Cotovelo..................................................91

    Figura 19: Dor nos Msculos Flexores do Punho..................................................92

    Figura 20: Dor nos Msculos Extensores do Punho..............................................93

    Lista de Tabelas

    Tabela 1: Movimentos da Coluna Cervical.............................................................75

    Tabela 2: Movimentos da Coluna Cervical Agrupados por Sexo.........................76

    Tabela 3: Movimentos do Ombro............................................................................77

    Tabela 4: Movimentos do Ombro Agrupados por Sexo.......................................78

    Tabela 5: Movimentos do Cotovelo........................................................................79

    Tabela 6: Movimentos do Cotovelo Agrupados por Sexo....................................80

    Tabela 7: Movimentos do Punho............................................................................81

    Tabela 8: Movimentos do Punho Agrupados por Sexo........................................82

    Tabela 9: Fora de Preenso Palmar.....................................................................84

  • 11

    Resumo

    Reis, Elcimar da Silva. Anlise ergonmica do trabalho associada cinesioterapia depausa como medidas preventivas e teraputicas s L.E.R./D.O.R.T. em umabatedouro de aves. Florianpolis, 2001. Dissertao (Mestrado em Engenharia deProduo) Programa de Ps-graduao em Engenharia de Produo, UFSC, 2001.

    Este trabalho tem como objetivo a realizao de uma anlise ergonmica dotrabalho (AET) associada a um programa de cinesioterapia de pausa, como prevenodas L.E.R./D.O.R.T., no setor de eviscerao de um abatedouro de aves, onde as queixasdos funcionrios relacionam-se com dores nas regies cervical e membros superiores.Em conseqncia, a direo da empresa expe alto ndice de afastamento dosfuncionrios do trabalho, ocasionado por doenas ocupacionais. A populao desteestudo composta pelos 32 funcionrios do setor, sendo 14 do sexo feminino e 18 dosexo masculino. A mdia de idade de 29 anos e o tempo mdio de trabalho na empresade 2,9 anos. Metodologicamente o estudo est dividido em cinco etapas: na primeiraetapa, so realizados 4 meses de observaes in locus, utilizando, para isto, a anliseergonmica do trabalho. Na segunda etapa, aplicado um questionrio com o objetivo decaracterizar o grupo. Alm disso, realiza-se um exame fsico e goniometria das regiescervical e membros superiores, assim como, uma mensurao da fora de preensopalmar. Na terceira etapa, desenvolvido um programa de cinesioterapia de pausa, paracontemplar os segmentos mais acometidos. A quarta etapa, constitui-se em uma novacoleta de dados referente ao exame fsico, goniometria e fora de preenso palmar. Naltima etapa, apresenta-se o tratamento estatstico dos resultados obtidos nas coletas dedados, tendo para todos um nvel de significncia de 5% (p

  • 12

    Quanto fora de preenso palmar, constata-se significncia estatstica (p

  • 13

    area, consequence of the kinestherapy pause work. Along with the results of thosestudies, a reducttion of workers absence at work was clearly noticed. From 07 cases fromthe last semester of the year 2000 to only one case in the first semester of the year 2001. Analysis of the final results brought us to a conclusion where the ergonomic alterationsassociated with the kinestherapy pause program led us to accomplish our previousobjectives. It showed that the implement work promoted not only a healthier group ofworkers but also developed a higher degree of motivation and satisfaction in the workenviroment.

    Key words: L.E.R./D.O.R.T., Ergonomic work analysis, kinestherapy.

  • 11 INTRODUO

    1.1 Apresentao da Problemtica

    Observou-se neste ltimo sculo, em todo o mundo, o aparecimento e

    progressivo aumento da ocorrncia de leses dos membros superiores ligadas ao

    trabalho. Parte deste aumento deve-se rotina de trabalho das linhas de

    produo, como o que pode ser constatado no trabalho que ora inicia. A

    industrializao de aves tem em sua essncia a produo em srie, que prima

    pela alta produo individual, desconsiderando as condies que favorecem a

    segurana, a sade e a relao interpessoal, ou seja, a qualidade de vida no

    trabalho. O reflexo deste quadro, um alto ndice de doenas na populao

    operria, resultando muitas vezes em uma incapacidade permanente para o

    trabalho, o que caracteriza um nus previdencirio para a sociedade.

    Para entender de forma mais clara o que acontece com o trabalhador

    atualmente, deve-se retornar histria como sugerem Iida (1990) e Couto (1995),

    ao destacar que no sculo XIX, na Inglaterra, surge a revoluo industrial e a partir

    da, infelizmente, o invento privilegiado em detrimento do homem. Um

    trabalhador chega a ter uma jornada de trabalho de 16 18 horas dirias, sem

    direito frias e convivendo com um regime de semi-escravido. O sculo XX

    inicia-se com o aparecimento do denominado Taylorismo, onde seu precursor

    Frederick Winslow Taylor, pregava a especializao das pessoas em

  • 2determinadas funes para racionalizar o tempo e melhorar a produtividade, o

    chamado movimento de administrao cientfica. Seguindo estes preceitos e o

    modelo observado em uma fbrica de beneficiamento de carnes, na segunda

    dcada do sculo XX, Henry Ford instituiu o que jamais algum tinha visto na

    indstria mundial, a linha de montagem. Isso economizava tempo, aumentava

    extraordinariamente a produo com conseqente reduo do custo dos bens. Em

    contrapartida, essas inovaes do incio a indesejada robotizao do

    trabalhador, levando a uma total distoro dos princpios que a ergonomia

    posteriormente viria a preconizar, pois pregava-se a adaptao do homem ao

    trabalho. Criava-se a mquina, o posto de trabalho e a tarefa, procurando-se

    posteriormente o trabalhador ideal para aquela funo. Com essas medidas,

    acontece a exploso das doenas ocupacionais nunca antes vistas. O trabalhador,

    a partir da, torna-se extremamente especializado em uma determinada tarefa e

    alienado ao resto do processo de produo. O grau de isolamento e a cobrana da

    produtividade, transformam o trabalhador em um individualista e egosta.

    Um combate mais efetivo a este modelo de organizao do trabalho, a

    chamada administrao racional ou cientfica, somente foi possvel a partir da

    segunda metade do sculo XX, mais precisamente com o nascimento oficial da

    ergonomia, em 12 de julho de 1949.

    Nas consideraes de Iida (1990) e Grandjean (1998), o desenvolvimento

    da ergonomia acentuou-se durante a Segunda da Guerra Mundial, quando

    iniciou-se a pregao da adaptao do trabalho s caractersticas humanas, cuja

    preocupao est nas questes cientficas, tecnolgicas, fsicas e de percepo

  • 3aplicveis em produtos, equipamentos e postos de trabalho. Apesar da ergonomia

    ser recente como cincia, apenas meio sculo, observa-se grandes mudanas na

    relao trabalho\trabalhador nos pases considerados desenvolvidos. Existe uma

    preocupao em diminuir drasticamente, ou at mesmo eliminar, o trabalho

    pesado e/ou realizado em condies ambientais desfavorveis. Entretanto, nos

    pases em desenvolvimento, dos quais o Brasil faz parte, mantm-se outra

    realidade, ou seja, aquela que apresenta extremas dificuldades em mudar essa

    situao, seja por falta de tecnologia de ponta, observada em muitos setores

    produtivos, j que eles dependem quase sempre desta tecnologia dos pases de

    primeiro mundo, ou pela falta de viso estratgica por uma parte do setor

    empresarial, que no visualiza os benefcios provindos do investimento na

    qualidade de vida de seu funcionrio. Neste sentido, argumenta Drury et al.

    (1999), ao enunciar que muitas empresas adotam modernos estilos de

    administrao comercial associada estrutura produtiva ultrapassada.

    Sabe-se que as doenas relacionadas ao trabalho no afetam somente o

    terceiro mundo, mas deve-se concordar tambm que nesses pases a realidade

    bem mais preocupante, quando se leva em conta os fatores scio-econmicos e

    culturais de um povo.

    No contexto brasileiro, essas doenas representam mais de 65% dos casos

    reconhecidos pela Previdncia Social, constituindo-se num verdadeiro fenmeno

    social, a chamada doena L.E.R.\D.O.R.T., segundo Couto et al. (1998).

  • 41.2 Justificativa e Relevncia do trabalho

    No setor agro-industrial, mais especificamente no abate de aves,

    encontram-se ainda muitas indstrias cujas linhas de produo apresentam uma

    esmagadora supremacia do trabalho manual, a chamada industrializao

    artesanal. A principal causa para essa supremacia, est ligada ao alto custo

    financeiro para a introduo de tecnologia de ponta na linha de produo, o que

    limita a automao de determinadas atividades do processo, reduzindo a

    produtividade e, consequentemente, a margem de lucro.

    Esta a justificativa de alguns dirigentes do setor.

    Esses fatores levam os trabalhadores a permanecerem em posies

    ortostticas/estticas, realizando movimentos repetitivos por longos perodos de

    tempo e em condies ambientais desfavorveis, causando graus variados de

    fadiga fsica e mental e contribuindo com o surgimento das doenas ocupacionais.

    A presena isolada de movimentos repetitivos no suficiente para produzir

    leses. Para que estas aconteam necessrio que existam fatores intrnsecos

    (herana gentica, perfil metablico, homeostase tissular, estabilidade mecnica

    das articulaes, entre outros) e fatores extrnsecos (organizao do trabalho,

    fatores psicossociais, fatores ambientais e relaes humanas no local de trabalho)

    associados (Nicoletti, 1996).

    A ergonomia, atravs de seus mtodos de anlise ergonmica do trabalho,

    permite a confrontao da tarefa prescrita com a realizada, bem como,

  • 5diagnosticar de forma objetiva as possveis alteraes ou adaptaes necessrias

    melhoria do posto de trabalho, da organizao do trabalho ou condies

    ambientais a que so submetidos esses trabalhadores.

    A importncia da anlise ergonmica do trabalho na compreenso das

    atividades dos trabalhadores, realada por Jackson e Barcelos (1999),

    fornecendo assim, um diagnstico que relaciona os diversos determinantes das

    atividades e suas conseqncias. Acreditam (Burns & Vicente, 2000), que a forma

    observador participativo seja o mtodo mais eficiente para atingir tais objetivos.

    Ao conjunto de aes que visam prevenir e/ou minimizar o aparecimento

    das L.E.R.\D.O.R.T., somam-se os programas de cinesioterapia preparatrio,

    compensatrio e relaxamento, que tm se mostrado ferramentas extremamente

    teis no auxlio preveno de tais doenas, pois minimizam a fadiga muscular e

    a m postura, melhoram a nutrio tecidual e o alongamento muscular,

    interrompem a monotonia do trabalho repetitivo e propiciam uma maior interao e

    sociabilizao entre os trabalhadores, entre outros benefcios. Inmeras empresas

    tm se beneficiado com estes instrumentos na luta contra as doenas

    ocupacionais, entre elas a Volkswagen e Faber-Castell de So Carlos SP, Nec

    do Brasil, Siemens do Brasil, Atala Copco do Brasil e outras. Segundo o SESI

    Servio Social da Indstria de Braslia-DF, em 1999 cerca de 461 empresas

    contavam com um Programa de Ginstica Laboral e 185.519 trabalhadores

    estavam praticando (Alves & Vale, 1999).

    No Brasil no existem pesquisas que apontem o quanto os programas de

    qualidade de vida representam um investimento e no um gasto, como muitos

  • 6ainda pensam. Nos Estados Unidos, estudos mostram que, de cada dlar aplicado

    em projetos voltados ao trabalhador, o retorno de quatro a cinco dlares (Alves

    & Vale, 1999).

    No setor agro-industrial, so poucos os estudos realizados para quantificar

    e qualificar o grau das leses e/ou qualidade de vida dos trabalhadores desta

    atividade. Existem diversos programas de preveno das L.E.R./D.O.R.T. nas

    empresas do ramo, conforme contatos pessoais mantidos com engenheiros e

    tcnicos em segurana do trabalho, porm estes programas no so divulgados

    ao meio acadmico/cientfico, o que impossibilita a determinao de qualquer

    estatstica a respeito.

    1.3 Objetivos do trabalho

    1.3.1 Objetivo geral

    Implementar a Anlise Ergonmica do Trabalho (AET), associada a um

    programa de cinesioterapia de pausa, como auxiliares preveno e/ou

    minimizao das L.E.R./D.O.R.T. no setor de eviscerao de um abatedouro de

    aves.

    1.3.2 Objetivos especficos

    a) Analisar a organizao do trabalho no setor de eviscerao.

    b) Detectar discrepncia entre o dimensionamento dos postos de trabalho, em

    relao s medidas antropomtricas dos operadores.

  • 7c) Detectar posturas inadequadas durante a realizao das atividades nos postos

    de trabalho.

    d) Identificar os segmentos corporais mais acometidos pelas L.E.R./D.O.R.T

    neste setor da empresa.

    e) Verificar o absentesmo dos ltimos seis meses no setor.

    f) Analisar os efeitos do programa de cinesioterapia, sobre a ADM (amplitude de

    movimento articular) cervical e de membros superiores dos trabalhadores.

    g) Analisar os efeitos do programa de cinesioterapia, sobre a fora de preenso

    palmar.

    h) Analisar os efeitos das alteraes ergonmicas, associadas ao programa de

    cinesioterapia de pausa, sobre as queixas de dores dos trabalhadores.

    i) Analisar os efeitos das alteraes ergonmicas, associadas ao programa de

    cinesioterapia de pausa, sobre o absentesmo no setor.

    j) Analisar os efeitos das alteraes ergonmicas, associadas ao programa de

    cinesioterapia de pausa, sobre o grupo de trabalhadores do sexo masculino,

    em relao ao grupo do sexo feminino.

    1.4 Questes Investigadas

    a) As adaptaes dos postos de trabalho minimizam os problemas posturais dos

    trabalhadores durante a realizao de suas atividades?

    b) O sistema de rodzios compensatrios nos postos de trabalho, contribuem com

    a preveno e/ou minimizao das queixas de dores dos trabalhadores?

  • 8c) O programa de cinesioterapia de pausa dar maior ADM aos trabalhadores?

    d) Com relao ao sexo dos trabalhadores feminino e masculino - o programa

    de cinesioterapia dar maior ADM a um deles?

    e) Com a implantao do programa de cinesioterapia de pausa associado com as

    alteraes ergonmicas efetuadas, ocorrer uma diminuio no absentesmo

    no setor?

    f) Quanto ao absentesmo, como evoluir o grupo masculino em relao ao

    feminino?

    g) Os trabalhadores que se submeterem ao programa de cinesioterapia

    apresentaro melhoria em sua fora de preenso palmar?

    h) Com relao evoluo da fora de preenso palmar, como se apresentaro

    os trabalhadores do sexo feminino e do sexo masculino, aps terem se

    submetido ao programa de cinesioterapia?

    i) Quais os efeitos da implantao do programa de cinesioterapia, associado s

    alteraes ergonmicas do trabalho, para os trabalhadores que j apresentam

    L.E.R./D.O.R.T?

    j) Qual o efeito do programa de cinesioterapia associado s alteraes

    ergonmicas do trabalho, em se tratando das dores manifestadas pelos

    trabalhadores nas regies cervical e membros superiores?

  • 91.5 Delimitao do Estudo

    Apesar da evidente necessidade de um estudo que seja abrangente e atinja

    a empresa em sua totalidade, incluindo todos os setores, opta-se por delimitar

    este estudo ao setor de eviscerao, j que este representa o maior nmero de

    postos de trabalho dentre todos os setores e a maior incidncia de doenas

    ocupacionais da empresa.

    O setor de eviscerao extremamente importante dentro do processo,

    pois a ave demora aproximadamente 15 minutos para percorrer todos os postos

    de trabalho que o compe. Est localizado em um ponto eqidistante do incio e

    do final da linha de produo, o que significa que qualquer imprevisto neste setor

    compromete todos os processos seguintes. Os trabalhadores necessitam de

    treinamento, pois realizam tarefas minuciosas e de preciso, alm disso, neste

    setor que ocorre a monitorao permanente da inspeo federal, mostrando mais

    uma vez a sua importncia dentro do processo industrial da ave.

    O nmero de postos de trabalho e a incidncia de doenas ocupacionais

    so as variveis que motivam a delimitao deste estudo a esse setor. Essas

    variveis no devem representar uma limitao a um posterior complemento e sim

    um estmulo para a implementao de todas as mudanas ergonmicas

    necessrias aos outros setores da empresa.

  • 10

    2 REVISO DA LITERATURA

    2.1 As L.E.R./D.O.R.T. e a Industrializao do Frango

    2.1.1 Nomenclaturas e Aspectos Conceituais das L.E.R./D.O.R.T.

    Em 1700, em Modena, na Itlia, era publicado o livro De Morbis Artificum

    Diatriba (Doenas dos Trabalhadores), de Bernardino Ramazzini (1633-1714). Ele

    descreveu as doenas que acometem os trabalhadores em mais de 50

    ocupaes. Retratou o sofrimento dos artesos escriturrios, enfatizando a leveza

    e repetitividade do esforo, a sobrecarga esttica das estruturas dos membros

    superiores e a ateno e tenso exigidas (Ruiz, 1999; Ribeiro, 1997).

    Provavelmente, essa tenha sido uma das primeiras publicaes que descreveu os

    Distrbios Relacionados ao Trabalho em um grande nmero de ocupaes,

    porm sem conceitu-los como tal.

    No Japo, em 1958, as leses msculo-esquelticas relacionadas ao

    trabalho de perfurao de cartes, caixas registradoras e datilgrafos, receberam

    o nome de Cervicobrachial Disorder, determinando aquelas leses na regio

    cervical e membros superiores. Em 1973, estes sintomas passaram a ser

    denominados Ocupational Cervicobrachial Disorder (OCD), conceituando

    aqueles distrbios ocupacionais produzidos pela fadiga neuromuscular devido a

    exerccios estticos e/ou repetitivos dos msculos destas regies, tendo nesta

    terminologia, uma conotao causal (Oliveira, 1999, Santos Filho & Barreto, 1998).

  • 11

    Na dcada de 80, na Austrlia, ocorreu uma epidemia de sintomas

    dolorosos na regio cervicobraquial, chegando a atingir 80% dos trabalhadores de

    alguns locais. Em 1984, estes sintomas foram denominados Repetitive Strain

    Injury (RSI) (Browne et al., 1984). Este termo, at ento, era utilizado na literatura

    ortopdica para descrever leses apresentadas por corredores de longa distncia

    (Oliveira, 1999). Posteriormente, ainda na Austrlia, descreveu-se a Occupational

    Overuse Syndrome (OOS), que conforme Couto (1998, p.18), eqivale dor nos

    membros superiores relacionada sobrecarga funcional e o que melhor reflete

    os quadros encontrados.

    Nos Estados Unidos, utilizam-se os termos Cumulative Trauma Disorders

    (CTD) e Repetitive Trauma Disorders (RTD), para referenciar aquelas leses dos

    tecidos moles em trabalhadores expostos traumas cumulativos (Santos Filho &

    Barreto, 1998).

    J no Brasil, um conceito mais definido, somente foi visto na dcada de 80,

    quando foi utilizado o termo Leses por Esforos Repetitivos (LER), que uma

    traduo do conceito australiano de Repetitive Strain Injury e foi oficializada em

    06.08.87, pela portaria 4062 do INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

    (Couto, 1998). Lech e Hoefel (1994, p.7) conceituam L.E.R. como afeces dos

    grupos musculares e/ou tendes cuja etiologia se deve ao contnuo e repetitivo

    trabalho realizado com as mos ou qualquer segmento do corpo.

    Na dcada de 90, foi introduzido no Brasil, o termo Distrbios

    Osteomusculares, Relacionados ao Trabalho (DORT), que uma traduo dos

    termos Work-Related Musculo-Skeletal Disorders Of The Upper Limbs (WMSDs),

  • 12

    utilizado na Europa, principalmente Inglaterra e Itlia e, adotada nos Estados

    Unidos como Work-Related Upper-Extremity Disorders (WRUEDs). Esses termos

    marcam a abordagem ergonmica e epidemiolgica dos fatores de risco,

    apresentando fatores etiognicos e patognicos s tarefas repetitivas, o uso

    excessivo de fora, as posturas inadequadas e a organizao ininterrupta e

    excessiva de trabalho (Verthein & Minayo-Gomez, 2000).

    Considerando-se que o termo D.O.R.T. muito abrangente, dispensa

    qualquer relao de causalidade, no exige explicao quanto ao mecanismo de

    acometimento, sendo suficiente apenas a relao com o trabalho (Oliveira, 1999).

    Couto (1998, p.20) define D.O.R.T. como:

    transtornos funcionais, transtornos mecnicos e leses de msculos

    e/ou de tendes e/ou de fscias e/ou de nervos e/ou de bolsas

    articulares e pontas sseas nos membros superiores, que resultam em

    dor, fadiga, queda da performance no trabalho, incapacidade temporria

    e, conforme o caso, podem evoluir para uma sndrome dolorosa

    crnica.

    Atualmente no Brasil, observa-se, que o termo L.E.R. encontra-se em

    crescente desuso, seja pelo abandono de sua equivalncia nos pases de origem,

    j que ela privilegia apenas o esforo repetitivo, ou pela prpria reestruturao

    interna, uma vez que as L.E.R. assumiram um conceito problemtico neste pas,

    quando passaram a ser o nome de uma doena (diagnstico) e no o mecanismo

    de leso, como o prprio nome sugere. O termo D.O.R.T. apresenta-se como um

    conceito mais adequado, conforme sugerem Verthein e Minayo-Gomez (2000),

  • 13

    pois contempla dois referenciais distintos: uma ateno aos dados biomecnicos e

    psicossociais, de reconhecida importncia no entendimento deste distrbio e a

    anlise do distrbio, o que abre a possibilidade de compreenso do mesmo,

    atribudo a um carter constitucional, subjetivo e pessoal.

    Como pode-se notar, existem inmeras nomenclaturas e conceitos para

    este conjunto de distrbios que acometem diversos segmentos produtivos da

    sociedade, porm o que tem preponderado do ponto de vista cientfico, a

    dificuldade e controvrsia na caracterizao dos seus quadros, refletindo as

    limitaes da prtica mdica diria para lidar com a questo, tanto no que se

    refere caracterizao dos quadros clnicos, quanto aos aspectos envolvidos na

    sua causalidade e histria natural (Santos Filho & Barreto, 1998).

    2.1.2 As Etiologias das L.E.R./D.O.R.T.

    A histria mostra atravs das literaturas especializadas, que as

    L.E.R./D.O.R.T. acometem o trabalhador h muitos sculos, porm, elas foram

    extraordinariamente acentuadas com a expanso industrial. O desenvolvimento

    tecnolgico possibilitou maior mecanizao do trabalho com conseqente reduo

    do uso da fora muscular bruta e trouxe oportunidades mltiplas ao ser humano.

    Em contrapartida, exigiu um ritmo mais veloz e execuo de tarefas cada vez mais

    especficas, comprometendo estruturas delicadas que compe determinados

    segmentos corporais, o que demonstra a influncia das novas tecnologias e

    exigncias de produtividade na gnese destes distrbios.

  • 14

    Atualmente, o esforo fsico exigido pela automao de outra natureza,

    um esforo leve, por isso, capaz de ser repetido em alta velocidade pelas mos e

    dedos, ao mesmo tempo que cobra uma postura e sobrecarga estticas dos

    segmentos restantes (Ribeiro, 1997).

    H importantes fatores associados ao surgimento e agravamento dos

    quadros de leses relacionadas ao trabalho, entre eles pode-se destacar os

    fatores biomecnicos, como contraes musculares prolongadas e tenso

    muscular associada a estresse, os fatores da organizao do trabalho, como

    ausncia de pausas, incentivo produtividade, falta de treinamento e superviso

    inadequada. Oportuno destacar os aspectos agravantes, como o despreparo,

    negligncia, presso econmica, retardo no diagnstico ou interveno

    inadequada dos profissionais de sade e outros (Browne et al., 1984).

    Posturas inadequadas durante o desenvolver de uma atividade, podem

    ocasionar impacto entre estruturas, fadiga por contrao muscular esttica e at

    mesmo compresso de nervos.

    Segundo as consideraes de Couto (1998, p.80), as leses por traumas

    cumulativos nos membros superiores so decorrentes da interao inadequada de

    quatro fatores biomecnicos principais:

    a) Fora - quanto mais fora a tarefa exigir do trabalhador, tanto mais

    propenso ele estar para desenvolver as L.E.R./D.O.R.T.

    b) Posturas incorretas dos membros superiores ocasionam desde o

    impacto de estruturas moles (como no caso do ombro), fadiga por

  • 15

    contrao muscular esttica (como no caso do pescoo) e at

    compresso de nervos (como no caso do punho).

    c) Repetitividade quanto maior o nmero de movimentos desenvolvidos

    pelo trabalhador em determinado intervalo de tempo, tanto maior ser a

    probabilidade do mesmo sofrer as leses de membros superiores.

    d) Vibrao e compresso mecnica especialmente deletrias so as

    formas de vibrao ocorrendo em freqncia de 8 a 100 Hz, alta

    acelerao. Tambm importante a compresso mecnica da base das

    mos, no local onde termina o nervo mediano.

    Alm dos fatores biomecnicos, outros fatores esto associados nas

    causas das L.E.R./D.O.R.T., tais como: fatores ambientais, organizao do

    trabalho, pouco domnio da funo, traumatismos, alteraes hormonais (as

    mulheres so mais propensas s leses), nvel de estresse relacionado

    exigncia de produtividade e competitividade, relacionamento interpessoal, nvel

    de satisfao, perfil psicolgico individual, entre outros.

    Em suas consideraes Santos Filho e Barreto (1998), afirmam que

    estudos realizados confirmam que no existe uma unanimidade com relao a

    definio, especificidade e mtodo diagnstico dos casos, assim como, com

    relao a abordagem de fatores de exposio ocupacional e extra-ocupacional.

    Esses estudos apontam que fatores ligados ergonomia, organizao do trabalho,

    alm de componentes biolgico-individuais, como idade, fatores genticos,

    gravidez, estado mental, estresses e outras doenas sistmicas, estariam

    envolvidos na gnese das L.E.R./D.O.R.T.

  • 16

    Observa-se nas publicaes mais recentes, uma tendncia em ampliar os

    fatores causais das L.E.R./D.O.R.T. para trs grandes dimenses, como afirma

    Ribeiro (1997). Para abranger as possveis causas destes distrbios, necessita-se

    debruar os olhos sobre uma dimenso social mais abrangente, que contm as

    duas outras habitualmente referidas como fatores. A dimenso do trabalho, que

    engloba o processo e organizao do trabalho e a dimenso individual, que

    representa o modo de cada um sentir e refletir o mundo. Estas trs dimenses so

    indissociveis.

    Seguindo essa tendncia de causas multifatoriais, Couto (2000), prope um

    modelo, onde as etiologias das L.E.R./D.O.R.T. no seriam influenciadas apenas

    pelos fatores biomecnicos, mas por quatro outras variveis: organismo tenso,

    predisposio individual, realidade social e eventos desencadeantes.

    2.1.3 Evoluo das L.E.R./D.O.R.T.

    Sabe-se que cada forma clnica das L.E.R. apresenta um quadro especfico,

    porm, elas tendem a evoluir, dependendo da exposio aos fatores causais aos

    quais o indivduo submetido. Objetivando o reconhecimento das fases clnicas e

    conseqente melhora da efetividade das condutas frente s L.E.R., em 1984, no

    clebre artigo Ocupational Repetition Strain Injuries, Browne et al. (1984)

    descreveram trs estgios do desenvolvimento clnico das L.E.R. Nos anos 80 e

    incio dos 90, alguns autores brasileiros, entre eles Lech e Hoefel (1994),

    consideraram a evoluo das leses em quatro estgios. Corroborando com estes

  • 17

    autores, em 1993, o INSS, atravs de suas normas tcnicas para avaliao da

    incapacidade, classificou as L.E.R. em quatro graus de comprometimento.

    No primeiro estgio/grau, o indivduo refere sensao de peso e

    desconforto no membro afetado, a dor espontnea e localizada, s vezes em

    pontadas, no h irradiao ntida, piora com a jornada de trabalho, porm, no

    interfere no desempenho da atividade profissional e melhora com o repouso. Os

    sinais clnicos esto ausentes e tem bom prognstico.

    O segundo estgio/grau caracteriza-se por dor persistente e localizada,

    aparece durante a jornada de trabalho de modo intermitente, pode exacerbar com

    irradiao para membros superiores e coluna. O indivduo refere dor durante a

    palpao ou mobilizao ativa ou passiva, a dor piora com a jornada de trabalho,

    tolervel e permite o desempenho da atividade profissional, mas com reduo da

    produtividade durante a exacerbao. A dor no melhora com o repouso. Pode

    haver distrbio da sensibilidade, o que explica a parestesia dos membros

    superiores. No rara a presena de edema localizado que piora com o trabalho.

    Nos msculos pode haver hipertonia e nos tendes, espessamento e ndulos. Os

    sinais clnicos esto ausentes e o prognstico favorvel.

    No terceiro estgio/grau a dor persistente, intensa, sem fatores de

    melhora e tem irradiao mais definida. Exacerba a dor durante a palpao ou

    mobilizao ativa ou passiva. H sensvel queda da produtividade, quando no

    impossibilidade de executar a funo. Observa-se compresso de nervo

    eletroneuromiografia, justificando as parestesias. Os msculos apresentam

    diminuio de fora, hipotrofia e incoordenao dos movimentos, podendo

  • 18

    apresentar at atrofia por alterao nervosa e os tendes esto espessados e com

    ndulos em seus trajetos. O edema e os sinais clnicos esto presentes e,

    freqentemente, o retorno atividade produtiva problemtica. O prognstico

    reservado.

    O quarto estgio/grau caracterizado por dor intensa, constante e

    generalizada. Com o movimento e palpao, a dor exacerba para todo o membro

    superior e coluna cervical. A capacidade de trabalho nula e a invalidez se

    caracteriza pela impossibilidade de um trabalho produtivo regular. Alm da

    parestesia, h tambm diminuio da sensibilidade ttil. No inconstante neste

    estgio o surgimento de deformidades. Os msculos encontram-se com

    importante diminuio de fora, hipotrofiados, com incoordenao dos movimentos

    e s vezes, com atrofia por denervao muscular. Podem ocorrer crepitaes

    articulares e/ou tendneas. O edema normalmente est generalizado em todo o

    membro superior, assim como, os sinais clnicos. As atividades da vida diria so

    prejudicadas. Comumente ocorrem alteraes psicolgicas. O prognstico

    apresenta-se sombrio.

    Seguindo uma nova tendncia, em 1997, o INSS realizou uma reviso das

    normas tcnicas e a partir da, evitou-se a classificao das L.E.R./D.O.R.T. em

    graus, havendo apenas a descrio dos sinais e sintomas, dependendo da(s)

    estrutura(s) acometida(s). Sendo assim, adotou-se a dor como o elemento mais

    freqente para a caracterizao destes distrbios. Nas fases iniciais ela sentida

    como um peso, ou como um incmodo mal definido, muitas vezes nos ombros,

    sem relao direta com a principal rea comprometida, mas diretamente

  • 19

    relacionada com a execuo do esforo exagerado. Com a evoluo, o indivduo

    refere uma sensao de queimao, dor aos mnimos movimentos, que j

    compromete as atividades da vida diria. A partir da, a dor apresenta-se em

    estado crnico, alternando com crises agudas, fortes e incapacitantes. Nesta fase

    mais avanada, a dor j melhor definida em termos de localizao e de

    movimentos precipitadores. O alvio da dor obtido inicialmente pelo repouso,

    mas nas fases mais adiantadas, ela persiste com o repouso.

    Precocemente e com grande freqncia, referida uma sensao de

    edema, que nem sempre, confirmado ao exame clnico. No menos freqente,

    pode-se encontrar parestesia e choques, que podem traduzir a existncia de

    compresso nervosa, levando o indivduo a deixar cair objetos ou acordar de

    forma abrupta durante a noite. As diferenas de temperatura e umidade, podem

    caracterizar uma complicao do quadro neurolgico (especificamente do Sistema

    Nervoso Autnomo), denominado distrofia simptico reflexa.

    Os msculos podem apresentar diversas alteraes, desde hipertonias,

    hipotrofias, cibras, diminuio de fora, atrofia (por leso nervosa) e

    incoordenao de movimentos. Alm disso, o comprometimento dos msculos

    afeta de forma significativa as atividades da vida diria, tais como: dificuldade de

    pentear os cabelos, mexer no bolso traseiro, coar as costas, amarrar os sapatos,

    segurar objetos e ferramentas, entre outras atividades. Em fase mais evoluda,

    podem ser observados ndulos nos tendes, deformidades em extremidades

    (atrofia dos msculos da mo, por exemplo) e crepitao muscular e/ou articular.

  • 20

    2.1.4 Principais Leses no Setor de Eviscerao e Seus Fatores Causais

    O setor de eviscerao, por ser exclusivamente dependente do trabalho

    manual, apresenta as Sndromes Tensionais do Pescoo, as Tendinites de

    Ombro, as Epicondilites Lateral e Medial de Cotovelo e as Tenossinovites de

    Punho, como as patologias que mais acometem os seus trabalhadores. Isso

    ocorre porque nestas regies existe uma concentrao de cargas muito grandes,

    criadas pelas alavancas articuladas que constituem o sistema esqueltico, bem

    como, outros fatores extrnsecos, que sero discutidos na sequncia.

    Segundo Sluiter et al. (2000), Tendinites, Tenossinovites, Peritendinites e

    Tendinopatias so termos patoanatmicos usados para caracterizar o processo

    patolgico do tendo ou das estruturas que o cercam. Esse processo pode ser

    agudo ou crnico.

    Corroborando com esses achados, Ruiz (1999), descreve o acometimento

    de ombros/braos em 21% e somente braos em 20%, dos trabalhadores de uma

    empresa deste setor industrial.

    2.1.4.1 Sndrome Tensional do Pescoo - (STP)

    uma sndrome dolorosa que acomete os msculos das regies laterais e

    posterior do pescoo, em especial os trapzios, elevadores das escpulas,

    rombides, escalenos e esternocleidomastideos. Estes msculos so submetidos

  • 21

    a um alto grau de carga esttica em atividades que utilizam as extremidades

    superiores, bem como, em postos de trabalho que exijam posturas inadequadas.

    Nessa linha, Lech et al. (1994, p.44) descreveram a STP como uma

    desordem orgnica e funcional provocada pelo trabalho repetitivo, aumento da

    carga muscular esttica e postos de trabalho onde h uma sobrecarga e posio

    inadequada da cabea e dos membros superiores.

    Referindo-se sndrome, Sluiter et al. (2000), afirmam que esta apresenta

    um conjunto de sintomas no bem definidos e que as queixas no so

    centralizadas apenas na regio do pescoo, mas sim, irradiam tambm para os

    ombros. Eles alertam ainda, para o cuidado com a distino entre a STP e outras

    doenas, tais como: Osteoartrose da Coluna Cervical, Sndrome Cervical,

    Sndrome do Desfiladeiro Torcico e Tendinites de Ombro, que podem apresentar

    sintomas semelhantes. Com o trabalho esttico acentuado, ocorre um grande

    acmulo de substncias irritantes no interior dos msculos, como por exemplo o

    cido ltico, que pode ocasionar dor, hipersensibilidade, tenso e contratura

    muscular com pontos dolorosos (Trigger Points), limitando sobremaneira a funo

    muscular, devido a fadiga. Na continuidade, Lech et al. (1994, p.44), relatam

    queixas como dor na regio cervical e ombro, cefalia, fraqueza e fadiga

    muscular, parestesia e tontura, causando dor palpao, aumento de tnus

    muscular, limitao dos movimentos, diminuio da lordose cervical e queda do

    ombro.

    Sobre a mesma sndrome, Rekola et al. (1997), constataram a STP em

    mais de 25% dos 440 trabalhadores que realizavam atividades com as

  • 22

    extremidades superiores em movimentos repetitivos, posturas desfavorveis e

    desorganizao do trabalho, como o quadro encontrado no setor de eviscerao.

    2.1.4.2 Tendinite ou Sndrome do Impacto de Ombro

    A tendinite ou sndrome do impacto de ombro, uma patologia que

    representa um grande nmero de ocorrncias, dentre as leses anteriormente

    mencionadas, o que confirma os dados de Lech et al. (1998, p.165), que as

    patologias de ombro so as principais causas de queixas nos ambulatrios de

    doenas do trabalho e a segunda mais freqente nos ortopedistas (logo aps a

    dor lombar).

    Os trs estgios progressivos da Sndrome do Impacto de Ombro, so

    descritos por Neer(1972). No primeiro estgio, ocorrem edema e hemorragia

    reversveis e esto presentes em indivduos jovens e o tratamento conservador.

    No segundo estgio, o manguito rotador (conjunto de msculos formado pelo

    redondo menor, infraespinhal, subescapular e supraespinhal, sendo este ltimo, o

    mais acometido), apresenta fibrose e tendinite crnica tpica, ocorre entre 25 e 40

    anos e o tratamento pode ser conservador ou cirrgico (retirada da regio ntero-

    inferior do acrmio, denominada acromioplastia). No terceiro estgio, ocorrem os

    espores e rupturas musculares e incidem em indivduos acima de 40 anos, sendo

    o tratamento preferencialmente cirrgico (Neer, Lech, 1995).

    A Sndrome do Impacto de Ombro definida por Sluiter et al. (2000), como

    uma irritao das estruturas no espao subacromial, devido a uma diminuio da

  • 23

    vascularizao e processo degenerativo, causado pelos impactos repetitivos dos

    vrios tipos de tecidos ali existentes, dentre eles destacam-se, os msculos do

    manguito rotador, tendo da poro longa do bceps braquial e a bursa

    subacromial. Caracteriza-se por dor na regio do ombro quando o indivduo eleva

    o brao acima de 90.

    Na descrio da Sndrome do Impacto e Patologia do Manguito Rotador de

    Malone et al. (1995), destacam a patologia do manguito rotador como uma tenso

    repetitiva dos msculos, que resulta em um processo inflamatrio, porm sem

    impacto mecnico.

    Quanto aos fatores causais desta sndrome, os movimentos repetitivos em

    tarefas que exijam elevao dos braos acima de 90, podem levar a um atrito e

    degenerao do manguito rotador, provocado pelo impacto que ocorre entre a

    grande tuberosidade do mero contra a poro ntero-inferior do acrmio,

    ligamento craco-acromial, articulao acromioclavicular e processo coracide

    (estruturas que compem o arco craco-acromial) (Lech et al, 1998).

    Morrison e Bigliani (apud Nicoletti, 1990, p.163, Paim, 2000, p.102)

    descrevem que o acrmio pode ser classificado anatomicamente, conforme sua

    curvatura lateral, em reto, curvo e ganchoso. Quanto mais curvo o acrmio, maior

    ser o impacto desenvolvido e maior ser a possibilidade de ocorrer leso do

    manguito rotador.

    No Brasil, Nicoletti et al. (1990), realizaram estudo semelhante ao descrito

    por Morrison e Bigliani em 1986, em 117 indivduos normais e concluram que

    18,8% dos acrmios eram retos, 68,8% eram curvos e apenas 12,4% ganchosos.

  • 24

    Os tipos curvos so responsveis por 81% das rupturas do manguito encontradas

    no estudo em cadveres.

    Estudos realizados por Frost e Andersen (1999), sobre a Sndrome do

    Impacto no Ombro em 1591 trabalhadores de um abatedouro e de uma indstria

    qumica, entre 1986 e 1993, concluem que, a repetitiva elevao do brao causa

    compresso e diminuio do fluxo sangneo no msculo supraespinhal, devido

    ao impacto desta estrutura contra a superfcie inferior do acrmio, provocando

    tendinite, degenerao e eventualmente ruptura parcial ou total do tendo do

    msculo, o que causa progressivo aumento da dor local, diminuio da amplitude

    de movimento e da fora do ombro. Os autores afirmam, que a preveno desta

    patologia ocorre se diminuir o tempo de exposio aos fatores de risco,

    especialmente nas atividades que necessitam combinar fora, repetitividade e

    sustentao do brao elevado.

    2.1.4.3 Epicondilites Lateral e Medial

    A caracterstica das Epicondilites Lateral e Medial segundo( Sluiter et al.,

    2000), a dor intermitente na juno msculo-tendnea ou no ponto de fixao

    dos extensores do punho (Epicondilite Lateral) ou flexores do punho (Epicondilite

    Medial), na regio do cotovelo.

    A Epicondilite Lateral uma leso por uso excessivo, que acomete a

    origem do msculo extensor radial curto do carpo e, em menor grau, o extensor

    radial longo do carpo e extensor comum dos dedos. A Epicondilite Medial, tambm

  • 25

    uma leso por uso excessivo, que acomete preferencialmente os msculos

    flexor radial do carpo e o pronador redondo. Sua ocorrncia, em relao

    Epicondilite Lateral de 1:7 (Leach et al., Snyder-Mackler, apud, Harrelson et al,

    2000, p.408).

    Alm da sndrome dolorosa no cotovelo, Lech et al. (1998, p.157), dizem

    que as epicondilites podem irradiar para o antebrao. comum atingir indivduos

    que realizam trabalho manual e/ou repetitivo. H maior incidncia na populao

    com idade entre 35 e 55 anos.

    Kleinert (apud, Lech, 1998 p.158) sistematizou quatro teorias para explicar

    a fisiopatologia das epicondilites:

    a) Micro ou macroruptura, que ocorreriam na origem dos msculos

    extensores. Nestes casos so encontradas alteraes degenerativas nas

    fibras dos tendes causadas pela idade;

    b) Stress ou trauma, que causem ruptura. Isto leva irritao da membrana

    sinovial e do tecido gorduroso subtendneo, formando um tecido de

    granulao;

    c) Degenerao do ligamento anular, que pode levar dor;

    d) Compresso do nervo radial. Alguns pacientes com epicondilite podem

    ter associado reas de compresso do nervo radial devido a fibrose ou

    presena de bandas.

    Nas epicondilites, o indivduo apresenta a dor como o primeiro sintoma,

    geralmente localizado ao redor dos epicndilos lateral e/ou medial do mero, mas

    algumas vezes, tem irradiao para regio distal do antebrao. Nas fases mais

  • 26

    evoludas da sndrome, ocorre diminuio da fora de preenso palmar, que

    representada pela dificuldade ou incapacidade de pegar e/ou erguer um objeto. Os

    movimentos de supinao e pronao do antebrao podem estar prejudicados,

    principalmente na fase aguda (Sluiter et al., 2000, Lech et al., 1998, Harrelson el

    al., 2000).

    Os movimentos repetitivos e esforos estticos excessivos, associados

    posturas inadequadas, falta de pausas e rodzios de funo, baixa temperatura e

    alta umidade, podem levar leses do tipo epicondilite. Porm, Lech et al. (1998)

    afirmam, que a causa bsica ainda desconhecida. Eles dizem que, mais de vinte

    causas j foram descritas, sem que exista concordncia entre os autores.

    2.1.4.4 Tendinite e/ou Tenossinovite de Punho

    De acordo com estudos realizados por Sluiter et al (2000), tendinite um

    processo inflamatrio do tendo. Essa inflamao pode ser causada por

    microleses do tecido, devido a repetitivos traumas mecnicos. A tenossinovite

    uma inflamao em torno da bainha sinovial que envolve o tendo. Esta bainha

    extremamente vascularizada, sendo responsvel pela secreo do lquido sinovial

    que nutre o tendo e impede o atrito durante o movimento. O movimento do

    tendo no interior de sua bainha pode provocar um espessamento do mesmo,

    inflamando-o e provocando aderncias, o que posteriormente causar dificuldades

    de deslizamento nas suas bainhas. Os autores afirmam ainda, que o msculo

  • 27

    flexor profundo do II ao IV dedo, o mais freqentemente afetado por estas

    aderncias, devido a sua participao efetiva no movimento de preenso palmar.

    Tendinite/Tenossinovite a inflamao da fscia que cobre os tendes dos

    msculos. Quando os msculos acometidos possuem uma cobertura por bainha

    sinovial, denomina-se o processo de Tenossinovite e quando no a possuem,

    denomina-se Tendinite (Couto, 1991, Lech et al., 1998).

    Essas leses so caracterizadas em seu incio, por dor insidiosa, que

    aumenta com o movimento de punho/mo, sensao de peso e desconforto

    regional. Evolui para dor intensa, crepitao, perda de fora, hipotrofia muscular,

    perda de sensibilidade e parestesia. O paciente tem dor e/ou incapacidade ao

    segurar e/ou carregar objetos (Lech & Hoefel, 1994, Sluiter et al, 2000).

    Alguns mecanismos so destacados por Couto (1991, p.31) e podem levar

    leso dos tendes e das suas bainhas:

    a) Se no houver tempo adequado de recuperao, o esforo repetitivo

    leva a um distensionamento lento e progressivo ou separao das fibras

    de suas substncias matricial, causando inflamao;

    b) Se h contrao muscular esttica ou repetitiva do msculo, pode haver

    tambm o distensionamento do tendo, havendo a compresso das

    microestruturas vasculares, o epitendo, e o endotendo, que causam

    isquemia, distenso das fibrilas e inflamao;

    c) As posturas viciosas tambm podem comprimir a microestrutura do

    tendo e aumentar a fora necessria para a execuo de uma tarefa,

    que pode comprimir as microestruturas e contribui para a inflamao;

  • 28

    d) difcil a recuperao do processo inflamatrio, uma vez que o tendo

    mal vascularizado.

    Os mecanismos de leso acima descritos por Couto (1991, p.31), retratam

    o quadro encontrado no setor de eviscerao do abatedouro de aves. Os

    movimentos repetitivos de flexo-extenso de punho, com contrao esttica e

    constante dos msculos estabilizadores, sem pausas e, associados fatores

    ambientais desfavorveis, so indiscutivelmente pr-disponentes leses dos

    tendes e suas bainhas. Corroborando com isto, Frost et al. (1998), estudaram a

    ocorrncia de Sndrome do Tnel do Carpo em 1141 trabalhadores de 46

    diferentes postos de trabalho de diversos abatedouros e concluram que, a no

    observao de fatores ergonmicos, associados postura inadequada,

    movimentos de flexo de punho em alta velocidade e grande fora do trabalho

    manual, so fatores causadores dessa sndrome. Alm dos fatores biomecnicos,

    que predispe s leses dos membros superiores, nota-se que a temperatura

    extremamente baixa, associada alta taxa de umidade, representa um ambiente

    hostil e potencialmente lesivo ao trabalhador.

    Neste sentido Frost et al. (1998), Iida (1990), afirmam que a baixa

    temperatura (menor que 15C) e a alta umidade ambiental, influem diretamente

    no desempenho do trabalho humano, reduzindo a concentrao e as capacidades

    para pensar e julgar. O controle muscular tambm afetado, reduzindo a destreza

    e a fora. Muggleton et al. (1999) relataram que a baixa temperatura reduz a

    circulao sangnea nos membros superiores, causando a diminuio da

    sensibilidade e funo motora da mo. Os autores descrevem ainda, a diminuio

  • 29

    da qualidade de preenso palmar em ambientes com alto ndice de umidade. A

    utilizao de luvas para proteo contra temperaturas extremas, a sugesto de

    Kinoshita (1999), entretanto alerta para o fato de que a sua utilizao diminui a

    sensibilidade discriminatria e fora de preenso.

    Alm de todos estes fatores predisponentes, devem ser considerados nas

    causas das L.E.R./D.O.R.T., os fatores sociais e individuais de cada pessoa.

    2.2 A Normatizao das L.E.R./ D.O.R.T.

    Com referncia Normatizao das L.E.R./ D.O.R.T., possvel observar

    na histria, que o Estado em muitos momentos, faz sua interveno na relao

    capital-trabalho, seja por vontade prpria ou por presso externa. No Brasil, o

    primeiro passo para a normatizao desta relao foi a Consolidao das Leis do

    Trabalho (CLT), aprovada pelo decreto-lei n.5452 de 1 de maio de 1930, onde

    entre outras coisas trata da segurana e da medicina do trabalho (Porto, 1998).

    A Lei n.6514 de 22.12.77 da CLT, referente Segurana e Medicina do

    Trabalho, estabelece as Normas Regulamentadoras como as NR-5, que trata da

    organizao da Comisso Interna de Preveno de Acidentes CIPA, a NR-7,

    que trata do Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional PCMSO, a

    NR-9, que aborda o Programa de Preveno de Riscos Ambientais PPRA e a

    NR-17, que trata sobre a Ergonomia. Essa lei estabeleceu critrios de forma a no

    permitir que os trabalhadores sejam expostos aleatoriamente situaes de risco,

  • 30

    bem como, para obter melhorias nos ambientes de trabalho, prevenindo e/ou

    minimizando as doenas ocupacionais (Monteiro, 1997).

    A partir da CLT, muito se evoluiu nos campos da regulamentao e da

    proteo do trabalhador, porm, o marco relativo s L.E.R. propriamente dita,

    ocorreu em 1987, quando a Tenossinovite dos Digitadores foi reconhecida como a

    primeira patologia causada por esforos repetitivos no trabalho, atravs da portaria

    n.4602 do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social (Sato et al. apud

    Monteiro, 1997, p.41).

    Em 1993, o INSS lanou a Norma Tcnica para Avaliao da Incapacidade

    sobre L.E.R., onde foi ampliada para quatorze tipos de patologias e foram

    normatizados os procedimentos administrativos e periciais, as formas clnicas, os

    estgios evolutivos, a preveno e a conduta dos profissionais de sade frente ao

    atendimento dessa doena (INSS, 1993). Essas normas j tinham sido publicadas

    no mbito estadual pela Secretaria de Estado da Sade de So Paulo em

    08.06.1992, atravs da resoluo SS 197.

    Conforme destaca Porto (1998), atravs do Decreto n.2172 de 05 de

    maro de 1997, o INSS, com a participao de vrios segmentos da Previdncia

    Social, do Ministrio do Trabalho, dos Sindicatos de Classe, do Empresariado e de

    Faculdades de Medicina, finalmente aprovam a atualizao da Norma Tcnica

    sobre L.E.R./D.O.R.T., inclusive definindo pela mudana da nomenclatura,

    passando em definitivo para DORT Distrbios Osteomusculares Relacionados

    ao Trabalho.

  • 31

    A atualizao compem-se de duas partes distintas, a primeira versa a

    respeito da clnica da patologia e a segunda constitui-se da Norma Tcnica

    propriamente dita.

    Importante observar na segunda parte desse documento, a distino de

    atribuies delegadas aos diversos agentes envolvidos nesta problemtica,

    considerando-se a empresa, as instituies governamentais, o segurado, e os

    sindicatos, atribuies tais como:

    1 Pela empresa:

    a) Identificar as reas de risco, com discrio detalhada dos postos de

    trabalho com as tarefas pertinentes a cada funo (.....), lembrando do

    perfil epidemiolgico da doena.

    b) Acompanhar cuidadosamente os trabalhadores submetidos a excesso

    de solicitao osteomioligamentar dos membros superiores, procurando

    minimizar ou eliminar tal condio.

    c) Aos primeiros sintomas suspeitos, afastar o trabalhador da atividade at

    que se estabelea o diagnstico correto.(......), caso persistam os

    sintomas e sinais clnicos, com diagnstico firmado, emitir CAT

    Comunicao de Acidente de Trabalho.

    d) A minimizao e a soluo dos problemas sero obtidas pela prtica de

    ergonomia nos locais e postos de trabalho, que responsabilidade da

    empresa.

    e) necessrio que nas funes e trabalhos em que haja solicitao

    osteomioligamentar, as pessoas sejam treinadas, recebendo

  • 32

    ensinamentos sobre as tcnicas corretas de execuo das tarefas e

    alertando-as sobre as prticas erradas que estejam adotando.

    f) O mdico do trabalho dever manter atualizados os dados referentes s

    condies de sade do empregado, principalmente no que tange as

    patologias ocupacionais relacionadas ao excesso de solicitao

    osteomioligamentar.

    2 Pela Delegacia Regional do Trabalho:

    a) Coordenar a execuo das atividades relacionadas com a segurana,

    higiene e medicina do trabalho.

    b) Programar as atividades de inspeo de segurana e sade do trabalho.

    c) Inspecionar o cumprimento das normas regulamentadoras de segurana

    do trabalho.

    d) Realizar o cadastramento das empresas inspecionadas, com anotaes

    das notificaes, infraes e percias, bem como, elaborar quadros

    estatsticos.

    e) Acompanhar as atividades de inspeo de segurana e sade do

    trabalho.

    f) Colaborar nas Campanhas de Preveno de Acidentes de Trabalho.

    g) Propor medidas corretivas para as distores identificadas na execuo

    dos programas e aes.

    3 Pelo INSS:

    a) Uniformizar os critrios para reconhecimento de patologias

    ocupacionais.

  • 33

    b) Agilizar as medidas necessrias para recuperao e/ou reabilitao

    profissional, evitando a cronificao subjetiva das leses.

    c) Reconhecer que um dos principais fatores contributivos para o

    aparecimento dessas leses a inadequao do sistema e dos mtodos

    de trabalho.

    d) Desmistificar as D.O.R.T., evitando a neurose coletiva direcionada para

    doena incurvel.

    e) Evitar o nus decorrente de diagnsticos imprecisos e mal conduzidos

    que levam extenso do benefcio acidentrio para patologias que

    fogem natureza desta questo.

    f) Realizar as aes regressivas pertinentes.

    4 Pelo Segurado:

    a) Propor imediata ateno mdica ao sentir dor persistente no membro

    superior.

    b) Cumprir o tratamento clnico prescrito e atender com presteza s

    solicitaes do mdico assistente.

    c) Sabendo do risco de sua atividade, evitar outras exposies

    concomitantes e horas-extras (......), acatando as medidas de proteo.

    d) Descrever com detalhes e preciso suas atividades na empresa e fora

    dela.

    5 Pelo Sindicato da Categoria:

  • 34

    a) Ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos e

    individuais da categoria, inclusive em questes judiciais ou

    administrativas.

    b) assegurada a participao dos trabalhadores e empregadores nos

    colegiados dos rgos pblicos em que seus interesses profissionais ou

    previdencirios sejam objeto de discusso e deliberao.

    Essa atualizao de 1997, objetivou simplificar, adequar e uniformizar o

    trabalho dos diversos segmentos que atuam direto ou indiretamente nesta rea.

    Ao criar critrios e atribuies mais claras, obtm-se uma melhor abordagem dos

    diversos aspectos envolvidos nas D.O.R.T., tanto na ocorrncia e agravamento do

    quadro, como na possibilidade de diagnstico precoce, tratamento e reabilitao

    adequados.

    2.3 A Ergonomia e a Preveno das L.E.R./D.O.R.T.

    2.3.1 Conceituao e Caractersticas da Ergonomia

    Como descreveram Iida (1990) e Grandjean (1998), a palavra ergonomia

    vem do Grego: ergon = trabalho e nomos = legislao, normas, regras. Iida (1990)

    a define como o estudo da adaptao do trabalho ao homem, ressaltando que o

    trabalho nesta conceituao abrange no apenas os equipamentos para

    transformao de materiais, mas sim, todo tipo de relao do homem com o seu

  • 35

    trabalho. Seguindo o mesmo princpio, Grandjean (1998), conceitua a ergonomia

    como a cincia da configurao do trabalho adaptado ao homem.

    Segundo a definio de Couto (1998), ergonomia o conjunto de cincia

    e de tecnologias que procura melhorar as condies de trabalho, objetivando,

    sobretudo, conforto aliado produtividade.

    Para Wisner (apud Santos & Fialho, 1997, p.21) a ergonomia definida

    como o conjunto dos conhecimentos cientficos relativos ao homem e necessrios

    para a concepo de ferramentas, mquinas e dispositivos que possam ser

    utilizados com o mximo de conforto, de segurana e de eficcia.

    A ergonomia uma rea de atuao multidisciplinar, talvez por situar-se em

    uma linha tnue entre as cincias humanas, biolgicas e exatas. Quando se pensa

    em ergonomia, pressupe-se uma perfeita harmonia entre o usurio, a tarefa, a

    ferramenta e o ambiente de trabalho. Entretanto, a ergonomia constitui parte

    importante mas no exclusiva da melhoria das condies de trabalho. preciso

    considerar os dados psicossociais envolvidos no contedo e na organizao geral

    da atividade.

    Como preconiza Monteiro (1997), a prtica ergonmica deve observar o

    respeito ao homem enquanto trabalhador e ser humano, bem como, a sua

    qualidade de vida no trabalho. Para isso, deve-se abordar as trs dimenses do

    trabalho: a demanda (os problemas), a tarefa (o dever) e a atividade (o fazer),

    englobando assim os fatores organizacionais, tcnicos e ambientais, inclusive os

    aspectos de comportamento do homem no trabalho.

  • 36

    Segundo afirmao de Daniellou (apud Barcelos, 1997), quando utiliza-se a

    ergonomia, pretende-se estudar a atividade de trabalho, a fim de contribuir para a

    concepo dos meios de trabalho adaptados s caractersticas fisiolgicas e

    psicolgicas dos seres humanos, com os critrios de sade e de eficcia

    econmica. Corroborando com esta idia, Monteiro (1997), diz que o papel da

    ergonomia no sistema de produo visa contribuir mais efetivamente na

    transformao do trabalho, participando ativamente na implantao de projetos

    ergonmicos com objetivo de modificar os ambientes de trabalho e proporcionar

    assim, condies laborais fsicas e psicologicamente aceitveis.

    2.3.2 Preveno das L.E.R./D.O.R.T.

    A observao de princpios ergonmicos fundamental na preveno dos

    distrbios relacionados com as atividades profissionais, quando o prprio conceito

    de ergonomia diz que ela procura melhorar as condies de trabalho, dando

    conforto e segurana ao trabalhador.

    De acordo com as consideraes de Stobbe (1996), os princpios

    ergonmicos so baseados na combinao de cincia, engenharia e um completo

    entendimento das capacidades e limitaes humanas. Quando esses princpios

    so aplicados no projeto de um posto de trabalho, na tarefa, no processo ou

    procedimento, a incidncia de leses msculo-esquelticas diminuem.

    Entre os princpios ergonmicos, destaca-se a Anlise Ergonmica do

    Trabalho (AET), que para Barcelos (1997, p.29), torna possvel o reconhecimento

  • 37

    da realidade do trabalho e dos trabalhadores, considerando todos os elementos

    que interagem nesta relao. A autora afirma ainda, que a AET permite no s

    identificar o trabalho, mas descrever todos os modos operatrios, os agravantes,

    as comunicaes, o coletivo de trabalho, as competncias requeridas pela funo

    e as competncias que os operadores j possuem.

    A anlise ergonmica do trabalho, dividida por Santos e Fialho (1997), em

    trs fases: a anlise da demanda, anlise da tarefa e anlise da atividade. Com os

    dados obtidos na anlise destas fases, pode-se diagnosticar possveis distores

    na situao de trabalho e elaborar um plano de interveno. Como afirma

    Monteiro (1997), as medidas preventivas so mais eficazes do que as corretivas,

    j que atravs de estudos prvios, pode-se detectar possveis situaes de riscos

    e evitar danos futuros. Quando no h uma atuao na concepo do posto de

    trabalho, fundamental que se implante um programa ergonmico que vise

    eliminar ou minimizar as condies laborais lesivas.

    Pode-se destacar tambm a cinesioterapia preparatria e/ou compensatria

    (ginstica laboral), como mtodo efetivo na preveno das L.E.R./D.O.R.T., j que

    ela garante o alongamento e melhora da nutrio muscular. Nas situaes de

    grandes esforos fsicos e/ou movimentos repetitivos, so indicados exerccios de

    aquecimento e alongamento muscular no pr atividade, de forma a preparar o

    organismo para o esforo que se iniciar e, de alongamento durante e aps a

    atividade, proporcionando uma melhor oxigenao das estruturas musculares

    envolvidas, diminuindo assim, o acmulo de cido ltico (fadiga muscular) e

    minimizando as possveis instalaes de leses.

  • 38

    Os dados encontrados em trabalhos especficos sobre a Preveno das

    L.E.R./D.O.R.T., confirmam a eficcia da cinesioterapia como mtodo preventivo,

    destacando-se o trabalho realizado por Pereira e Lech (1997), que implementaram

    um programa de exerccios para preveno destes distrbios em uma empresa de

    processamento de dados, durante quatro meses. Os exerccios eram realizados

    anteriormente ao incio do expediente. Os autores relataram um ndice de 72,2%

    de indivduos que aps participarem das atividades indicaram diminuio de

    queixas relacionadas s regies de membros superiores.

    Dias (apud Chacn, 1999), desenvolveu um projeto de ginstica laboral

    durante 3 meses junto fabrica de Tintas Renner. Em 1989, esse projeto foi

    desenvolvido sob forma de exerccios preventivos e teraputicos realizados no

    prprio ambiente de trabalho, tendo o objetivo de prevenir o trabalhador contra

    doenas por traumas cumulativos. De acordo com a autora, aps o primeiro ms

    de trabalho alguns funcionrios j sentiam reduzidas suas dores.

    Martins (2000) relatou melhora na flexibilidade do ombro, cotovelo, punho,

    quadril e joelho de 26 indivduos que submeteram-se a 4 meses de ginstica

    laboral, 3 vezes por semana, durante 15 minutos cada sesso. Alm disso, a

    autora relatou ainda, que o programa afetou inclusive o estilo de vida dos

    participantes, levando-os a adotar hbitos mais saudveis, com conseqente

    melhora da qualidade de vida.

    As reclamaes de dores foram reduzidas 60% na Siemens do Brasil, aps

    a introduo da ginstica laboral, conforme menciona o mdico do trabalho e

    coordenador do Departamento Mdico da indstria, Paulo Esper Atala. Waldir

  • 39

    Eugnio Lcio, gerente de RH da Atlas Copco, apresentou os resultados de um

    questionrio que quantificou a aceitao da ginstica laboral pelos funcionrios da

    empresa. Os resultados demonstram um ndice de 85% de notas entre oito e dez

    para a atividade fsica, refletindo o grau de satisfao dos questionados (Alves &

    Vale, 1999).

    Monteiro (1997), afirma que a ginstica laboral proporciona inclusive a

    humanizao dos ambientes de trabalho, reduzindo o estresse e a irritabilidade

    proveniente, algumas vezes, do trabalho. Porm, um mtodo que no pode ser

    imposto, pois pode trazer resultados contrrios ao esperado, caso o funcionrio o

    faa com desprazer. A associao da ginstica laboral, com a educao dos

    trabalhadores, a preocupao gerencial e as modificaes ergonmicas so

    pontos-chaves para a preveno das L.E.R..

    Outras duas medidas que tem se mostrado auxiliares importantes contra a

    ocorrncia das L.E.R./D.O.R.T., so as pequenas pausas durante o perodo de

    trabalho associadas aos rodzios de funes. Conforme prev a NR-17, dentro do

    contexto da organizao do trabalho em atividades que exijam sobrecarga

    muscular esttica ou dinmica do pescoo, ombros, dorso, membros superiores e

    membros inferiores, deve-se considerar a introduo de pequenas pausas de 10

    minutos a cada 50 minutos trabalhados, sem aumento do volume ou ritmo de

    trabalho em decorrncia do intervalo. Quanto aos rodzios de funes, trabalhos

    como o de Higss et al. (1992), demonstram que trabalhadores que realizam

    rodzios de funes so menos acometidos por esses distrbios, pois esses

  • 40

    trabalhadores utilizam grupos musculares diferentes em cada atividade, o que

    minimiza a fadiga crnica por repetitividade.

    Na reviso da Norma Tcnica sobre D.O.R.T. realizada em 1997 pelo INSS,

    dada grande nfase preveno destes distrbios. A norma diz que um

    programa de preveno de D.O.R.T. em uma empresa deve iniciar pela criteriosa

    identificao dos fatores de riscos presentes na situao de trabalho, destacando

    ainda que para cada situao corresponde um conjunto de medidas de controle

    especficas, evitando a progresso da doena. As medidas de controle a serem

    adotadas devem envolver o dimensionamento adequado do posto de trabalho, os

    equipamentos e as ferramentas, as condies ambientais e a organizao do

    trabalho. A norma menciona ainda, que o resultado do programa de preveno

    depende da participao e compromisso dos diferentes profissionais da empresa:

    trabalhadores, supervisores, cipeiros, tcnicos de servio de segurana do

    trabalho, gerentes e diretores.

  • 41

    3 METODOLOGIA

    Com o objetivo de comprovar a validade deste trabalho, foi realizada uma

    pesquisa de campo na empresa X, que tem suas atividades voltadas para o ramo

    agro-industrial - abate de aves - desde 1979. A empresa est sediada no

    municpio de Araucria, Regio Metropolitana de Curitiba, Estado do Paran.

    No incio do perodo em que foi realizada a pesquisa, a empresa possua

    112 funcionrios, distribudos entre seus setores administrativos e de produo,

    sendo que este ltimo, comportava o maior em nmero de funcionrios, 92 ao

    todo.

    A produo da empresa, apresenta uma flutuao de 14.000 a 23.000

    abates dirios, dependendo da demanda do mercado que compreende a cidade

    de Curitiba e Regio Metropolitana.

    O setor de eviscerao da empresa, ao qual direcionada a pesquisa,

    contava no incio do perodo em que a pesquisa foi desenvolvida, com um quadro

    de funcionrios composto de 32 pessoas, cujo perfil est abaixo discriminado

    Sexo feminino: 14; masculino: 18

    Mdia de idade - 29 anos (com extremos entre 19 e 54 anos)

    Tempo mdio de trabalho na empresa - 2,9 anos.

    Dando continuidade conduo metodolgica da pesquisa de campo, esta

    compem-se de cinco etapas: anlise ergonmica do trabalho, coleta de dados,

    programa de cinesioterapia de pausa, reavaliao fsica e tratamento estatstico.

  • 42

    3.1 Primeira Etapa: Observaes e Registros Documentais

    Utilizando a metodologia da anlise ergonmica do trabalho, realizou-se a

    anlise das atividades desenvolvidas nesse setor, detalhando cada posto de

    trabalho.

    Para viabilizar o processo, foi realizada uma reunio com o diretor da

    empresa, a gerente de produo, os encarregados de produo, o tcnico em

    segurana do trabalho e todos os funcionrios do setor alm do observador. Na

    reunio foram realizadas as apresentaes e fornecidas as informaes sobre o

    trabalho a ser desenvolvido. Tendo em vista o desenvolvimento metodolgico,

    neste momento buscou-se a sensibilizao dos presentes, com a exposio da

    importncia do projeto e da participao de cada um, sem a qual no seria

    possvel um ponto de partida e de definio dos suportes fundamentais para a

    execuo da proposta. Na sequncia, foi analisado o PPRA (programa de

    preveno de riscos ambientais), para que os presentes tomassem conhecimento

    da tarefa prescrita destinada ao setor, bem como, os seus riscos ambientais. Na

    mesma oportunidade foi analisado o relatrio cadastral dos funcionrios para

    levantar dados referentes data de admisso, histria mdica e ocorrncia do

    absentesmo verificado no ltimo semestre do ano de 2000.

    No total foram realizados 4 meses de observaes durante o perodo

    compreendido entre setembro e dezembro do ano 2000, em dias da semana e

    horrios diferentes, com a finalidade de visualizar a rotina do setor.

  • 43

    Durante os perodos de observao, foram realizadas 13 visitas empresa,

    com a durao de 3,5 a 6 horas cada visita, inclusive durante o horrio de

    almoo, fator este que proporcionou uma maior interao entre o observador e

    observados.

    A pesquisa foi enriquecida com registros fotogrficos e filmagens do setor,

    com a finalidade de complementar a observao in locus.

    3.2 Segunda Etapa: Coleta de Dados

    Nessa etapa foram coletados dados individuais dos funcionrios do setor,

    com a finalidade de traar um perfil etrio, cultural, mdico e antropomtrico da

    populao estudada.

    Essa coleta de dados foi composta por quatro sub-etapas: dados de identificao

    e histria mdica, exame fsico, medidas antropomtricas e goniometria.

    Para viabilizar esse procedimentos, buscou-se levantar os seguintes dados:

    1) Identificao e histria mdica: foi aplicado um questionrio com o

    propsito de levantar: a) dados pessoais, b) histria mdica. (ANEXO

    8.1)

    a) Dados pessoais: foram levantados dados referentes ao nome, idade,

    sexo, membro dominante, raa, escolaridade, tempo de servio e

    atividade fsica. Quanto a este ltimo, procurou-se levantar no somente

    a prtica, mas sim a freqncia da mesma.

  • 44

    b) Histria mdica: teve o propsito de levantar as doenas anteriores, de

    origens ocupacional ou no, doenas atuais, tratamentos realizados ou

    em andamento e afastamentos do trabalho. Quanto ao afastamento do

    trabalho, procurou-se saber o tempo de durao deste afastamento.

    2) Exame fsico: com base na anlise do relatrio cadastral de

    funcionrios, anlise do PPRA, anlise ergonmica do trabalho e

    queixas dos funcionrios, foi elaborado um protocolo de exame fsico

    (palpao), direcionado s necessidades desses funcionrios e

    seguindo o que sugere Couto et al. (1998). Sendo assim, utilizou-se um

    exame que abrangesse estruturas da coluna cervical e membros

    superiores, tais como: msculos esternocleidomastideos e

    supraespinhais, epicndilos mediais e laterais dos meros, msculos

    flexores e extensores dos punhos e nervos ulnares, mediais e radiais.

    Alm do exame fsico, nesta etapa, tambm foi medida a fora de

    preenso palmar. Para isso, utilizou-se um dinammetro da marca

    Diener-Germany, com escala de 0 a 200 kg. Conforme preconizam

    Hallmann e Hettinger (1989) e, Lehmkuhl e Smith (1989) para a posio

    e fixao do segmento corporal mensurado, foi adotada a posio

    sentado com membro avaliado relaxado, antebrao apoiado sobre a

    coxa e cotovelo a aproximadamente 70 de flexo.

    3) Medidas antropomtricas: a altura ideal para as extremidades dos

    membros superiores em atividades em p, para trabalhos leves, em

    mdia 105 centmetros para homens e 98 centmetros para mulheres, o

  • 45

    que representa a altura dos cotovelos. Para trabalhos pesados

    recomendado, em mdia a altura de 90 centmetros para homens e 85

    centmetros para mulheres (Grandjean, 1998).

    4) Para o procedimento das medidas de alturas e comprimentos foi

    seguida a padronizao proposta por Alvarez e Pavan (1999). Foram

    mensuradas as seguintes partes do corpo: estatura, altura acromial,

    altura radial, altura dactiloidal e comprimento dos membros superiores.

    Para estas mensuraes foi utilizada uma fita mtrica metlica adaptada

    com haste e leitura com preciso de 1 milmetro. Todas as tomadas de

    alturas foram realizadas do lado direito, conforme padronizao. A

    massa corporal dos trabalhadores tambm foi mensurada atravs da

    padronizao sugerida por Alvarez e Pavan (1999). A coleta foi feita

    atravs de uma balana da marca IBS com escala de 0 a 200 kg.

    5) Goniometria: foi determinada a amplitude articular atravs da realizao

    de goniometria dos movimentos de flexo, extenso, flexo lateral para

    a direita, flexo lateral para a esquerda, rotao para a direita e rotao

    para a esquerda da coluna cervical, elevao, extenso, aduo,

    rotao medial e rotao lateral do ombro, flexo, extenso, supinao e

    pronao do cotovelo alm de , flexo, extenso, abduo e aduo do

    punho. Mensurou-se essa varivel atravs da padronizao proposta

    por Marques (1997), sendo utilizado um gonimetro para grandes

    articulaes da marca Carci.

  • 46

    3.3 Terceira Etapa: Programa de Cinesioterapia de Pausa

    Com base nos dados das etapas anteriores, foi desenvolvido um programa

    de cinesioterapia de pausa contendo 10 exerccios de aquecimento e 09

    exerccios de alongamento/relaxamento para a regio cervical e membros

    superiores. (ANEXO 8.2)

    O programa foi aplicado no perodo de janeiro junho de 2001, em 5 sries

    dirias com durao de 10 minutos cada srie. A distribuio foi realizada durante

    o trabalho da seguinte forma: primeira srie, no incio do perodo da manh,

    quando foram priorizado os exerccios de aquecimento; a segunda srie realizou-

    se aps duas horas de trabalho; a terceira na sada para o almoo; a quarta , aps

    duas horas de trabalho do perodo da tarde e a quinta srie realizou-se no final do

    perodo da tarde. Exceto a primeira srie, em todas as demais foram priorizados

    os exerccios de alongamento/relaxamento.

    3.4 Quarta Etapa: Reavaliao Fsica

    A reavaliao fsica realizou-se seis meses aps a implantao do

    programa de cinesioterapia de pausa. Na reavaliao fsica verificou-se a fora de

    preenso palmar e goniometria de todos os funcionrios do setor, com a finalidade

    de quantificar e qualificar as alteraes ocorridas em termos comparativos s

    observadas na coleta de dados inicial.

  • 47

    3.5 Quinta Etapa: Tratamento Estatstico dos Dados

    Para a obteno dos resultados das coletas de dados, foi realizado o

    tratamento estatstico dos mesmos, utilizando-se o Teste t para comparao de

    mdias para todas as variveis quantitativas, i.e., como o estudo da goniometria.

    Para estudar as variveis do exame fsico, foi utilizada a Prova de McNemar (teste

    no-paramtrico). Para algumas variveis relativas aos dados de identificao, tais

    como sexo, atividade fsica/freqncia de tempo de servio, foi utilizado o Teste de

    Qui-Quadrado. Todos com um nvel de significncia de 5% (p

  • 48

    4 ANLISE ERGONMICA DO SETOR DE EVISCERAO

    A Anlise Ergonmica do Trabalho (AET), segue o que preconiza Santos e

    Fialho (1997), quando afirmam que uma AET deve conter trs fases

    cronologicamente abordadas: a anlise da demanda, a anlise da tarefa e a

    anlise das atividades. Todas culminando com um diagnstico e posteriores

    recomendaes, para promover as alteraes necessrias na situao de

    trabalho.

    A continuidade das consideraes de Santos e Fialho (1997), destacam que

    esses procedimentos baseiam-se na Anlise Ergonmica do Trabalho

    desenvolvida por Faverge a partir de 1955, ou seja, h uma intensa influncia da

    escola europia, principalmente da francesa, a qual abrange no somente os

    fatores biomecnicos, como preconizava a escola americana, mas tambm os

    fatores psicossociais.

    4.1 Anlise da Demanda

    O alto ndice de queixas de dores nos membros superiores manifestado

    pelos funcionrios do setor de eviscerao, deve-se principalmente cervicalgia,

    tendinites de ombro, cotovelo e punho.

    A direo da empresa apresentava queixas motivadas pela alta

    porcentagem de afastamento dos funcionrios, para tratamento de doenas

  • 49

    ocupacionais nesse setor da empresa. Por tal razo, solicitou a realizao de um

    estudo ergonmico dos postos de trabalho, visando melhorar a organizao e

    qualidade do trabalho, a reduo do absentesmo e a preveno de doenas

    ocupacionais.

    4.2 Anlise da Tarefa

    4.2.1 Homem

    A a