Upload
doduong
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
ANÁLISE SEMI-INTEGRADA DOS SOLOS DA SERRA DA ARATANHA, CEARÁ
Antônio Sávio Magalhães de Sousa – PRODEMA/UFC– [email protected] Maria Rosana da Costa Oliveira – Geografia/UFC – [email protected]
Jefferson Roberto de Oliveira Marinho – Geografia UFC – [email protected] Stéfanie Sampaio Santos – Geografia/UFC – [email protected]
Tasso Ivo de Oliveira Neto – Geografia/UFC – [email protected] RESUMO O maciço da Aratanha constitui-se um enclave úmido com floresta plúvio-nebular e mata subcaducifólia inserido no ecossistema semi-árido, bioma caatinga. Localiza-se na Região Metropolitana de Fortaleza, em parte dos municípios de Guaiúba, Maracanaú, Pacatuba e Maranguape. A pesquisa analisa os fatores pedogenéticos, o substrato geológico, a geomorfologia, o clima e a ação biótica e como os mesmos interagem para a formação do solo do maciço da Aratanha e de que forma a sua dinâmica natural vem sendo comprometida pela ação humana. Para a análise dos solos considerou-se a influência dos fatores de formação, dos processos pedogenéticos e dos mecanismos erosivos ocorridos ao longo das vertentes, com as mesmas apresentando cota altimétrica média de 600m. Para a pesquisa foram coletadas e analisadas amostras em perfis de Argissolos Vermelho-Amarelo em uma topossequência com base na carta de solo da SUDENE (1:100.000), seguidas pelo delineamento das características morfológicas, utilizando os parâmetros do SiBCS (Sistema Brasileiro de Classificação de Solos). No maciço, a cobertura vegetal foi descacterizada ao longo do processo de ocupação em conseqüência do intenso uso agrícola em determinado setores. Por apresentar solos com média à alta fertilidade, a atividade agrícola concentra-se principalmente nas encostas úmidas, por dispor de condições climáticas favoráveis às culturas perenes, mas com um relevo que se apresenta como limitante a tais práticas. O uso de técnicas rudimentares, de desmatamento e de culturas inadequadas provocou o empobrecimento dos solos do maciço aumentando assim sua suscetibilidade à erosão. Busca-se resultados que contribuam para elaboração de um plano de manejo adequado aos sistemas ambientais, utilizando técnicas que evitem desmatamentos indiscriminados, erosão acentuada, ablação de horizontes através de atividades antrópicas e a descaracterização da paisagem serrana. Palavras-chaves: Ecossistema semi-árido, Caatinga, Argissolos, Uso e ocupação, degradação ambiental. ABSTRACT The mountain of Aratanha is to be an enclave with humid rain-forest and forest subcaducifólia nebula is in the semi-arid ecosystem, biome Caatinga. It is located in the Metropolitan Region of Fortaleza, part of the municipalities of Guaiúba, Maracanaú, Pacatuba and Maranguape. The research examines the factors pedogenetic, the geological substrate, the geomorphology, climate and biotic action and how they interact to form the mass of soil Aratanha and how their dynamic nature has been compromised by human activity. For the analysis of soils considered the influence of factors of training, procedures and mechanisms pedogenetic erosion occurring along the sides, with the same presenting altimetric mean elevation 600m. For the research were collected and analyzed samples in profiles of Red-Yellow in a toposequence on the letter of the soil SUDENE (1:100,000), followed by the delineation of morphological characteristics, using the parameters of SiBCS (Sistema Brasileiro de Classificação de Solos). In mass, the canopy was descacterizada throughout the occupation as a result of intensive agricultural use in certain sectors. For the soils with average to high fertility, the agricultural activity is concentrated mainly in the humid slopes, have a climate favorable for perennial crops, but with a prominence that is presented as limiting such practices. The use of rudimentary techniques of deforestation and inappropriate crops caused the massive impoverishment of the soil thereby increasing their susceptibility to erosion. Search results are contributing to development of a management plan appropriate to environmental systems, using techniques that avoid indiscriminate deforestation, erosion markedly, ablation of horizons by human activities and adulteration of the mountain landscape. Keywords: semi-arid ecosystem, Caatinga, Argisols, use and occupation, environmental degradation.
INTRODUÇÃO
A região da Área de Proteção Ambiental (APA) da serra da Aratanha abrange parte de
quatro municípios cearenses - Guaiúba, Maracanaú, Maranguape e Pacatuba -, os quais compõe a
Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Atualmente, a população total dos quatro municípios conta
com cerca de 400.000 mil habitantes1. Segundo o Zoneamento Ambiental e Plano de Gestão da área
(2002), a APA apresenta uma densidade demográfica de 286,8 hab/ km², muito alta se comparada à
densidade do estado do Ceará (46,53 hab/ km²).
O processo de ocupação do maciço se deu principalmente a partir no século XIX com o
desenvolvimento da cultura do café. Por oferecer características naturais mais favoráveis, clima mais
ameno, solos mais espessos, o maciço de Aratanha se constituiu uma das áreas do estado mais propicia
ao plantio do produto.
Com o crescimento da produção agrícola, a serra de Aratanha e o seu entorno
começaram a ser habitada principalmente por pequenos agricultores que viam naquele ambiente uma
possibilidade maior de rendimento, além de condições naturais mais favoráveis a ocupação. Neste
sentido, podemos afirmar que o cultivo das terras férteis serranas firmaria em definitivo a área como
um centro demográfico dos mais importantes do estado, possibilitando formas de povoamento bem
especificas no contexto cearense.
O manuseio do solo nesse período se dava com técnicas bastante rudimentares,
ocasionando impactos, como desmatamentos e queimadas. Essas técnicas foram responsáveis por boa
parte da degradação da vegetação serrana natural, denominada mata atlântica, além do desgaste e
empobrecimento dos solos da região. Neste sentido, apesar da intensificação da produção ter trazido
benefícios econômicos ao estado, ela também foi responsável por muitas alterações negativas ao meio
ambiente.
Com a diminuição da demanda de café na década de 60, o maciço de Aratanha precisou
reduzir drasticamente a sua produção. Atualmente ainda é possível ver o plantio do café, porém em
menor escala.
A partir do crescimento dos movimentos ambientalistas no Ceará a partir da década de 80,
as áreas verdes do estado passaram a ser vistas como ambientes que necessitam ser protegido, sendo
criadas então Áreas de Proteção Ambiental (APA). A Área de Proteção Ambiental da Serra da Aratanha
foi criada em 1998, com o intuito de preservar toda a área do maciço, considerada como remanescente
de Mata atlântica no Nordeste, um fragmento de mata, vista como uma “ilha de biodiversidade”
(CEARÁ, 2002). 1 Anuário Estatístico do Ceará: 22405 Guaiúba, 197301 Maracanaú, 102982 Maranguape, 65772 Pacatuba.
A pesquisa tem como objetivo analisar os fatores pedogenéticos abordando a Área
Proteção Ambiental do Maciço da Aratanha, relacionando como os solos interagem com os elementos
em volta, no que se refere a composição do substrato geológico, a configuração geomorfológica, a
ação do clima e, a atividade biótica. Pretende-se também perceber de que forma a dinâmica natural
vem sendo modificada pela atividade humana. Para a análise dos solos considerou-se a influência dos
fatores de formação, dos processos pedogenéticos e dos mecanismos erosivos ocorridos ao longo das
vertentes.
MATERIAIS E MÉTODOS
Os procedimentos da pesquisa contaram com a revisão bibliográfica e geocartográfica,
envolvendo temáticas relacionadas com os estudos em solos, tomando como referência a Teoria
Geossistêmica (Bertrand, 1971), e estudos de pesquisadores locais, como Oliveira et.al. (2005), Souza
(1988), Souza et.al. (2000), Bétard et.al. (2007).
Para a pesquisa é coletada e analisada amostra em três perfis de Argissolos Vermelho-
Amarelo em uma topossequência obedecendo a cota altimétrica 200m, 400m e 600m. A base
cartográfica inicial para a pesquisa foi a carta de associação de solos do Levantamento Exploratório –
Reconhecimento de solos do Estado do Ceará (SUDENE, 1973), adaptando-a ao Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (EMBRAPA, 1999) utilizando os parâmetros estabelecidos pelo SiBCS
(Sistema Brasileiro de Classificação de Solos).
Para a coleta do material, foi considerada a delimitação definida pelo Zoneamento
Ambiental e Plano de Gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Aratanha (CEARÁ,
2002), onde se observam em solos de mesma ordem (primeiro nível categórico) três fisionomias
florísticas diferente, estando dispostas em cotas altimétricas distintas. A APA da Serra da Aratanha é
definida acima da cota de 200m (figura I), apresentando uma vegetação de caatinga; em seguida, entre
uma cota altimétrica média entre 300m a 600m distribui-se a mata seca; e logo acima a mata úmida
que vai até o topo do maciço. Devido o trabalho ainda encontrar-se em andamento, será feita para esse
artigo a exposição apenas de um perfil de solo, coletado na área de domínio da mata seca.
O material coletado seguiu para identificação e delineamento das características
morfológicas no Laboratório de Pedologia e Análise Ambiental da Universidade Federal do Ceará
(LAPED/UFC). Com posse dos resultados realizaram-se em seguida as devidas correspondências,
relacionando a estrutura pedogenética à dinâmica sócio-ambiental observada em campo.
Figura I: Mapa altimétrico do Maciço da Aratanha, Fonte: Global Mapper, v.2.02.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com parâmetros climáticos no planeta Terra, encontram-se basicamente dois
domínios em se tratando da decomposição das rochas por meio do intemperismo. Um domínio espacial
que não sofre alterações químicas, este sendo caracterizado pela carência de água, pelo menos no seu
estado líquido, o intemperismo físico; e outro domínio espacial caracterizado por alterações químicas,
sobretudo devido à existência de certa quantidade de umidade e cobertura vegetal, o intemperismo
químico e biológico. Em função dessas perturbações, segue-se a decomposição e desintegração da
rocha matriz com sua especifica composição mineralógica ao longo de um período de tempo,
influenciados pela topografia da superfície gerando um corpo natural tridimensional, denominado solo.
Estes são corpos dinâmicos que possuem características derivadas das influências de cinco fatores
principais: clima, relevo, organismos vivos, natureza do material originário e o tempo.
A serra da Aratanha está situada na Região Metropolitana de Fortaleza, englobando os
municípios de Maranguape, Maracanaú, Pacatuba e Guaiúba, tem direção NE-SW até
aproximadamente 20 km do litoral. Constitui um alongamento do maciço residual de Baturité,
soerguido ao curso da organização do Rift Potiguar, no período Cretáceo, do qual seria ombro
ocidental e, mais recentemente, por um vulcanismo terciário sem muita expressão regional, compondo
um pequeno maciço residual que se destaca topograficamente entre a depressão sertaneja e os
tabuleiros pré-litorâneos. Caracteriza-se por ter altitudes médias de 600m (figura II), constituindo uma
barreira aos ventos alísios que vêm do oceano Atlântico com aporte de umidade, favorecendo uma alta
pluviosidade (1200 mm), conseqüentemente fornecendo condições climáticas úmidas e subúmidas, na
maior parte de suas superfícies elevadas, influenciadas por um mesoclima – unidade climática
intermediária – gerando brejos de altitude, áreas de exceção no contexto semi-árido. Decorrentes
dessas condições associam-se três unidades vegetacionais, refletindo na composição da paisagem
através da interação com os demais fatores de formação dos solos: a Caatinga ocupando desde a base
aos níveis mais baixos na cota dos 300m com fisionomia predominantemente arbustiva e algumas
espécies arbóreas dispersas, a Mata Seca encontra-se acima, na altura dos 300-600m, possuindo um
maior porte e cobertura mais densa, um estrato arbóreo-arbustivo e a Mata Úmida que ocupa altitudes
superiores aos 600 metros, com predomínio de espécies ombrófilas, floresta plúvio-nebular.
Figura II: Esquema planialtimétrico do Maciço da Aratanha, fonte: Global Mapper, v.2.02.
As ações correlacionadas dos fatores referidos sobre o material de origem alterados, –
migmatitos, gnaisses – desenvolvem-se os processos pedogenéticos, que são reações químicas, físicas
e biológicas incipientes a constituição de horizontes ou camadas particulares. A Podzolização é o
processo mais eficaz na gênese dos solos dessa região natural, conseqüência da eliminação de bases
por lixiviação e do desenvolvimento de um estado ácido na superfície, mormente pela considerável
adição de matéria orgânica determinada pela alta precipitação pluviométrica, que também é
responsável pela remoção e translocaçao de cátions. Os solos oriundos geram duas classes (com base
no SiBCS), com tempo de evolução pedológica distintas: Argissolos Vermelho-Amarelo e Neossolos
Litólicos (Figura III).
Figura III: Em sentido horário, Mapa de Solos de Maranguape, Maracanaú, Pacatuba e Guaiúba, Fonte: SUDENE, 1973.
Os Neossolos Litólicos são marcados por pedogênese incompleta, pouco evoluída, rasos
(até 50 cm), de textura arenosa ou média (teor de argila menor que 35%), com drenagem moderada a
acentuada, estão distribuídos sob floresta de Caatina e Mata Seca em relevo montanhoso, encontrando-
se nas áreas onde as declividades são mais acentuadas ou nas posições mais baixas desgastadas e nas
vertentes à sotavento que potencializam os processos erosivos motivando a morfogênese. Possuem um
horizonte A subjacente a camada R, ou sobre a camada/horizonte C, é comumente pedregoso em
superfície além de estarem associados a afloramentos rochosos, em rochas do tipo gnaisses e granitos,
com alta fertilidade natural devido ao alto grau de saturação por bases.
Os Neossolos Litólicos do maciço tem caráter eutróficos, e segundo a associação dos solos
da região, é encontrado em conjunto com os Argissolos. Por estar associado a rochas desnudas e conter
em sua composição fragmentos de rochas, ou seja, apresentar uma fase pedregosa, é de fundamental
importância a manutenção da cobertura vegetal, com vista a evitar erosão superficial, e até mesmo
movimento de massa, conhecido na região como “derretido”.
Os Argissolos Vermelho-Amarelo apresentam-se nos níveis mais elevados em relevos
convexos, sob condições de maior umidade e ao abrigo predominante de formações vegetais como a
Mata Úmida. São solos profundos e muito profundos (> 100cm), com seqüência de horizonte A, Bt e
C, textura média e argilosa (teor de argila entre 15 e 60%), com horizonte Bt apresentando película de
materiais coloidais (cerosidade) na textura argilosa, sendo ácidos à moderadamente ácidos em
superfície, podendo apresentar baixa ou alta fertilidade natural, sendo eutróficos quando possuem
reserva de nutrientes ou distroficos desprovidos de condições de fertilidade. Sua formação está
associada à translocação de sesquióxidos e argila, que se acumulam na subsuperfície, formando um
horizonte denominado B textural de coloração vermelha-amarelada, devido a condições de redução,
oxidação e hidratação do ferro (Fe) decomposto da rocha. Os Argissolos vermelho-amarelo eutrófico
apresentam mudança textural abrupta do A para Bt.
Para os Argissolos, é definido uma horizonte diagnóstico Bt, ou seja, um horizonte
diagnóstico subsuperficial com acumulação de argila, sob um horizonte e superficial arenoso, o
horizonte A. Na APA da Serra da Aratanha os Argissolos, ora apresenta uma textura argiloso (Argissolo
Vermelho Amarelo – PV2), ora apresenta uma textura argilosa a franca (Argissolos Vermelho Amarelo
equivalente a eutrófico – PE3). De acordo com trabalho de campo, verificou-se que a espessura desses
solos sob vegetação conservada (fase floresta perenefólia ou subcaducifólia) apresenta horizontes
superficiais com maior espessura (40cm ou mais, conforme tabela I) se comparado com os mesmos
solos onde há o desenvolvimento de atitidades agrícolas. No setor de mata seca pode-se observar um
manto de proteção da cobertura vegetal que caem das plantas (figura IV). Segundo Guerra & Botelho
(1998), pode ser apontado um outro problema quanto a ultilização dos Argissolos, pois:
“(…) apesar de suas características de agregação e boa estruturação (horizonte Bt em
blocos angulares e subangulares), apresentam certa susceptibilidade aos processos
erosivos, que serão tão mais intensos quanto maiores forem as descontinuidades
texturais e estruturais ao longo do perfil.”
Ou seja, deve ser obedecido os limites naturais dos Argissolos para um bom uso, no que se
refere a diferença existente entre os horizontes ao longo do perfil. Tabela I: Características macro-morfológicas de um Argissolo vermelho-amarelo sob vegetação conservada.
HORIZONTE Espessura (cm)
Cor (amostra seca)
Consistência seca/molhada
Estrutura tipo/tamanho
Textura
Horizonte O 11cm 2,5 YR, Bruno acinzentado escuro
muito dura/ ligeiramente plástica
granular / grande franco argiloso
Horizonte A 0 a 28cm 2,5 YR 4/4, Bruno oliváceo
Muito dura / ligeiramente plástico
bloco angular / muito grande
franco argiloca
Horizonte AB 28 a 48cm 2,5 YR 4/4, Bruno oliváceo
Muito dura / ligeiramente plática
bloco angular / grande
franco argilo siltosa
Horizonte B1 48 a 83cm 10YR 5/8, Bruno amarelado
muito dura/ligeiramete plástica e pegajosa
bloco angular / média
Argilosa
Horizonte B2 83 a 105cm
5/8 – 10YR, bruno amarelado
dura / muito plástica e pegajosa
bloco angular / grande
argila siltosa
Horizonte BC 105cm + 10YR 6/6 amarelo brunado
dura / Ligeiramente plástica bloco angular / grande
Franco
Figura IV: Aspecto da cobertura dos solos em decorrência do acúmulo de matéria orgânica em área de vegetação
conservada, Fonte: Sousa, 2008.
As Argissolos do Ceará desenvolve sob clima que clima está relacionado com o número de
meses secos de 3 a 8 meses de precipitação pluviométricas médias anuais predominantes de 800 a
1.500mm; somente em Aratanha, Baturité e nos demais maciços costeiros do estado, esses índices
podem chegar a 1.700mm anuais. Nessas áreas, face ao clima ameno, estes solos são bastante
utilizados com café, fruticultura e milho. A maior limitação do uso agrícola decorre de sua baixa
fertilidade natural em algumas áreas e forte acidez, tornando-se essencial a correção do solo e a
presença de irrigação, porém nas áreas acidentadas das serras, a irrigação é dispensada.
Os diferentes componentes dessas variáveis compõem um cenário ecodinâmico natural
oriundo das relações morfogênese e pedogênese.
No maciço da Aratanha, a associação dos solos apresenta espessura que varia de pouco
profundo a profundo, em relevo ondulado à suave ondulado, por vezes apresenta escarpas bastante
inclinadas. Nos solos do tipo Argissolo vermelho-amarelo, pode ser encontrado uma variação do seu
caráter de distrófico à eutrófico, em cotas altimétrica mais baixas, onde há um acumulo maior de
sedimentos e matéria orgânica, e onde o relevo tem uma topografia suavizada com modelado
multiconvexo (Bétard et.al., 2007). É nessas áreas onde se observa um maior desenvolvimento das
atividades agrícolas, atualmente com a bananicultura e culturas frutíferas, e onde em tempos pretéritos
já foi bastante utilizado durante o ciclo econômico do café.
Com o uso dos solos para agricultura, em algumas áreas elevadas do maciço,
principalmente no sopé, é retirada parcial ou total da cobertura vegetal, alterando dessa forma, a
dinâmica natural devido a introdução de outras espécies vegetais (banana, café, manga, cajú, etc.). Os
solos passam assim a atender um outro padrão edafológico, no que diz respeito a oferta de nutrientes,
de minerais, e de uma composição granulométrica na fração argila, silte e areia.
Como exemplo dos benefícios gerados por uma área protegida pode ser mencionado o
abastecimento da demanda hídrica das áreas urbanas da Região Metropolitana de Fortaleza, onde
grande parcela da captação e distribuição ocorre por meio da formação da rede hidrológica oriunda na
serra de Aratanha. Assim, o ciclo hidrológico, na fase da precipitação, ao agir em torno do maciço da
Aratanha alimenta os depósitos em sub-superfície e em superfície, compõe a rede hídrica das nascentes
e córregos, mantêm a cobertura vegetal do maciço, e que por sua vez contribui para o desenvolvimento
e proteção dos solos, ou seja, os elementos naturais agem de forma integrada e dinâmica para o
funcionamento do meio, e o bom funcionamento do sistema, contribui para o suprimento de outras
áreas, ou seja, a demanda por água da área metropolitana de Fortaleza.
No Ceará, os maciços pré-litorâneos dispõem de condições ideais à bananicultura. Podendo
assim mencionar a junção de dois fatores principais para a produção, o primeiro é o ambiente, o qual
proporcionando condições climáticas favoráveis, devido a disponibilidade hídrica ofertada por
precipitações elevadas; e o outro fator, são os solos, que apresentando boa fertilidade natural.
Tratando de produção de banana no Ceará, de imediato a cultura é associado ao plantio nos
maciços, principalmente aquele localizado próximo à costa, é o caso da Serra da Aratanha, onde se
localiza a Área de Proteção Ambiental em estudo. Merece destaque ainda, um outro maciço, a Serra de
Maranguape, também importante produtor de banana no estado, e em menor escala, produtor de outras
culturas frutíferas. O município de Maranguape faz parte de duas Unidades de Conservação (UC) de
uso sustentável, a vertente úmida da APA da Serra de Maranguape; e parte ocidental de outro maciço,
onde se localiza a APA da Serra da Aratanha na vertente seca desse maciço.
No intervalo dos dois maciços localiza-se uma área rebaixada, denominada sertão, onde
apresenta um relevo rebaixado pela ação do intemperismo físico e erosão diferencial. Nesse setor o
clima é do tipo semi-árido, ou seja, as precipitações são inferiores a 800mm; dispõe de uma associação
dos solos onde a espessura varia de profundo a pouco profundos (Argissolos, Luvissolos) a rasos
(Neossolos), são solos considerados jovens, em processo de formação, dispostos em relevos planos a
suave ondulado. Esses ambientes, e as demais áreas circuvizinhas dependem das condições de
precipitações dos maciços (de Maranguape e da Aratanha) por meio do escoamento e acumulação de
água para manutenção das condições ecológicas e para o desenvolvimento das atividades sócio-
econômicas.
A serra merece atenção por apresentar dois fatores relacionados as atividades agrícolas que
contribuem para os problemas ambientais na APA da Serra da Aratanha, um é o cultivo em setores de
relevo escarpado, com declividade acima de 45 graus; e o cultivo nas margens dos córregos e
nascentes, práticas essas proibidas segundo prerrogativas definidas pelo Código Florestal Brasileiro
(Lei 4.771/65, art.2). Nessas áreas é obrigado a manutenção da vegetação natural visando a
preservação tanto dos solos quanto dos recursos hídricos. Guerra e Mendonça (2003) relaciona as
alterações causadas à natureza com os Impactos Ambientais resultantes da ação antrópica sobre os
solos e os efeitos gerados pelos processos erosivos, repercutindo tanto no local (onsite) onde os
processos ocorrem, como em áreas próximas ou afastadas (offsite).
A partir de um processo histórico de ocupação voltada ao desenvolvimento de atividades
agrícolas, em decorrência de um ambiente favorável para o cultivo, tal prática se mantém até os dias
atuais. E conforme a SEMACE (2002), a agricultura de subsistência é apontada como um dos
problemas ambientais encontrados na área:
A par de tais condições, concentram efetivos humanos expressivos que vivem da
exploração de minifúndios, através de uma policultura que pela superutilização da terra,
tem favorecido a deteriorização de recursos naturais renováveis e contribuído para
agravar a qualidade de vida dessa população. (p.83)
A predominância no maciço da bananicultura provoca sérios desequilíbrios ao ambiente,
principalmente degradando parte da vegetação, desgastando dos solos e a poluindo dos recursos
hídricos.
A bananicultura ocupou os antigos espaços do café, instalando-se onde houve a retirada de
grande parte da vegetação para o plantio. A degradação da vegetação tem conseqüências negativas ao
ambiente, devido o plantio ser realizado em áreas íngremes, portanto apresenta uma maior
vulnerabilidade, principalmente a processos como a erosão pluvial, através do escoamento superficial,
em canais ou em sulcos, e conseqüentemente gerando processo de solifluxão (deslizamento de terra).
Além dos processos de erosão nas encostas, provocando o transporte de parte dos solos, a
cultura da banana também é responsável pelo comprometimento dos recursos hídricos, assoreando as
nascentes e córregos próximos das áreas de plantio, levando uma quantidade maior de sedimentos às
áreas mais rebaixadas. Conforme (ARRUDA, 2001), as raízes das bananeiras, por serem curtas e de
pouca espessura, não tem a capacidade de sustentar os solos. Além disso, suas folhas, por apresentarem
formato de calha, permitem uma maior infiltração da água no solo e conseqüentemente perda de
material que tende a se acumular no fundo dos riachos que mais adiante vem a formar importantes rios
na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), como o rio Ceará e Cocó.
Apesar dos dados2 afirmarem que a bananicultura traz grandes rendimentos ao estado do
Ceará, é necessário atenção aos impactos que esta cultura vem trazendo aos ambientes serranos,
principalmente tratando-se por serem ambientes instáveis, vulneráveis a processos erosivos.
Segundo (LIMA; CASCON, 2008) o processo de desmatamento e a bananicultura são
catalisadores dos processos erosivos na região, sendo necessário um estudo maior do relevo e dos
solos, para se identificar uma cultura apropriada ao ambiente, ou mesmo, na identificação de técnicas
2 Segundo dados do portal do agronegocio (2008) o cultivo da banana foi responsável pelo maior volume de recursos R$
158,18 milhões ao estado
para que as culturas existentes não sejam responsáveis pela degradação da Aratanha.
Embora grande parte da produção encontrada na serra seja banana, no Maciço é possível
ver outros tipos de cultura que abastecem o mercado da RMF como a silvicultura, oleicultura, além de
outras. Caracterizando o ambiente como um grande núcleo de produção agrícola da região. Conforme
dados do zoneamento, a região tem um bom desempenho no ranking estadual de produção agrícola,
principalmente o município de Maranguape que aparece entre os primeiros lugares.
Por ter condições ambientais favoráveis, dentre outras o clima, a vegetação, os recursos
hídricos, outra atividade presente no maciço é o turismo regional/estadual, é possível encontrar alguns
espaços destinados a essa atividade. Dentre os espaços podemos destacar a Bica das Andréias
localizada no município de Pacatuba, Pico da Rajada em Maranguape e a Cachoeira dos Urubus em
Guaiúba. Porém a ausência de um maior incentivo por parte do estado tanto em divulgação como em
infra-estrutura adequada para esta atividade, faz com que ela não tenha tanta expressão nacional,
restringindo-se apenas a nível local.
CONCLUSÃO
O demasiado uso dos recursos naturais, principalmente solo e água são responsáveis pela
degradação do ambiente e diminuição da produtividade, como conseqüência de atividades sócio-
econômicas que não atentam para as perdas à natureza e uso posterior do potencial natural. As
principais causas dessas ações ocasionam o comprometimento de algumas áreas onde a atividade
agrícola é praticada incorretamente.
Mediante as ações e atividades realizadas na APA da Serra da Aratanha, a preservação dos
recursos naturais de forma geral (solos, água, cobertura vegetal, fauna, etc) torna-se imprescindível.
Sendo necessário atentar ainda, para as ações orientadas pelo Zoneamento Ambiental e Plano de
Gestão da APA da Serra da Aratanha (CEARÁ, 2002), quanto aos aspectos descritos no diagnóstico
geo-ambiental e sócio-econômico.
A APA da Serra da Aratanha é uma Unidade de Conservação de uso sustentável, e segundo o
SNUC (Sistema Nacional de Unidade de Conservação) tal Unidade deve dispõe de um Zoneamento a
ser cumprido obedecendo as diretrizes estabelecidos pelo mesmo. Nesse contexto o estudo se propôs
em analisar os mecanismos naturais de cada zona constante no Plano de Gestão relacionando medidas
ligadas a “exploração dos recursos naturais de forma ordenada e sustentável”, evitando a “poluição dos
mananciais”, bem como oferecendo formas como “promover práticas para uso adequado do solo”,
medidas essas que constam como objetivos prioritários no Zoneamento Ambiental e Plano de Gestão.
BIBLIOGRAFIA
ARRUDA, L.V. Serra de Maranguape-CE, Ecodinâmica da Paisgem e Inplicações sócio-
ambientais. Fortaleza, UFC, 2001. 162p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente). PRODEMA, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2001.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global, Esboço metodológico. Caderno de Ciência da
terra. São Paulo: Univ. de São Paulo/Dep.de Geografia, 1971.
BÉRTARD, François; PEUVAST, Jean-Pierre. SALES, Vanda Claudino. Caracterização
morfopedológica de uma serra úmida no semi-árido do Nordeste Brasileiro: o caso do município
de Baturité-CE. Ano 6, n.12. Mercator, 2007.
BRASIL. Código Florestal Brasileiro. LEI 4.771/65 de 15 de Setembro de 1965.
CEARÁ. Superintendência Estadual do Meio Ambiente. Zoneamento ambiental e plano de gestão
da Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Aratanha (CE). Fortaleza: SEMACE, 2002.
EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos. Brasília: Embrapa solos, 1999.
GUERRA, Antônio José Teixeira; BOTELHO, Rosangela Garrido Machado. Erosão dos Solos. In:
GUERRA, Antônio José Teixeira. Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
GUERRA, Antônio José Teixeira; MENDONÇA, Jane Karina Silva. Erosão dos solos e a Questão
Ambiental. In: CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antonio José Teixeira. A questão ambiental:
diferentes abordagens. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
IBAMA. Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC. LEI No 9.985, de 18 de Julho de
2000.
IPLANCE. Anuário Estatístico do Ceará 2000. Tomo 1 e 2. Fortaleza: Iplance, 2001.
LIMA, Daniel Cassiano; CASCON, Paulo. Aspectos sociais e legais da bananicultura na APA da
serra de Maranguape, estado do Ceará. REDE-Revista Eletrônica do Prodema, Fortaleza, 2008.
OLIVEIRA, Vládia Pinto Vidal de; CARRASCO, Carlos Gil de; GUTIERREZ, Cecílio Oyonarte.
Zonação Pedoclimática na delimitação de sistemas ambientais em ambientes de exceção do semi-
árido nordestino. Anais do XI Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. São Paulo, 2005.
p.3275-3283.
SOUSA, Marcos José Nogueira de Sousa. Contribuição ao estudo das unidades morfo-estruturais
do estado do Ceará. Revista de Geologia, 1988. p.73-91.
SOUSA, Marcos José Nogueira de Sousa; MORAIS, Jader Onofre de; LIMA, Luiz Cruz.
Compartimentação territorial e Gestão Regional do Ceará. Fortaleza: FUNECE, 2000.
SUDENE. Levantamento exploratório – reconhecimento de solos do Estado do Ceará. v I e II.
Recife: MA-DNPEA-SUDENE-DRN, 1973.