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1 ANÁLISE TITRIMÉTRICA
1.1 Considerações Teóricas
O termo "Análise Titrimétrica" refere-se à análise química quantitativa efetuada
pela determinação do volume de uma solução, cuja concentração é exatamente
conhecida, que reage quantitativamente com um volume conhecido da solução que
contém a substância a ser determinada. A solução de concentração exatamente
conhecida é a Solução Padrão. O peso da substância a ser determinada calcula-se a
partir do volume da solução padrão que foi usado, da equação química e das massas
moleculares relativas dos compostos que reagem.
No passado, usava-se o termo "Análise Volumétrica" para identificar esta
determinação quantitativa, mas este termo foi substituído por Análise Titrimétrica.
Considera-se que esta denominação exprime melhor o processo de titulação, enquanto a
denominação antiga poderia ser confundida com medições de volumes, como as que
envolvem gases. Na análise titrimétrica, o reagente de concentração conhecida é o
titulante e a substância que titula é o titulado. A denominação alternativa não foi
estendida aos aparelhos usados nas várias operações; assim, ainda são comuns os termos
vidraria volumétrica e balões volumétricos, embora talvez seja melhor empregar as
expressões vidraria graduado e balões graduados.
A solução padrão é usualmente adicionada mediante um tubo comprido,
calibrado, denominado bureta. O processo de se juntar a solução padrão até que a
reação esteja completa é a titulação, e ao seu término a substância a ser determinada
está titulada. O ponto exato em que isto ocorre é o Ponto de Equivalência ou Ponto
Final Teórico (ou Estequiométrico). O término da titulação é percebido por alguma
modificação física provocada pela própria solução padrão (p. ex., uma leve coloração
rósea devido ao permanganato de potássio), ou, nos casos mais usuais, pela adição de
um reagente auxiliar, conhecido como indicador. Pode-se também adotar outra medição
física. Depois de a reação entre a substância e a solução padrão estar praticamente
completa, o indicador deve provocar uma modificação visual nítida (ou alteração de cor
ou turvação) do líquido que está sendo titulado. O ponto em que isto ocorre é o ponto
final da titulação. Numa titulação ideal, o ponto final visível coincidirá com o ponto
final estequiométrico ou teórico. Na prática, no entanto, há quase sempre uma diferença
muito pequena; é o que constitui o erro de titulação. O indicador e as condições
experimentais devem ser escolhidos de modo que a diferença entre o ponto final visível
e o ponto de equivalência seja tão pequena quanto for possível.
Para que uma reação seja adotada na análise titrimétrica, é necessário
satisfazer às seguintes condições:
a) Deve ser uma reação simples que possa ser expressa por uma equação química;
a substância a ser titulada deve reagir completamente com o reagente, em
proporções estequiométricas ou equivalentes.
b) A reação deve ser relativamente rápida. A maioria das reações iônicas satisfaz a
esta condição. Em alguns casos pode ser necessária a adição de um catalisador
para aumentar a velocidade da reação.
c) No ponto de equivalência deve haver alteração de alguma propriedade física ou
química da solução.
d) Deve-se dispor de um indicador que, pela alteração de propriedade física (cor ou
formação de precipitado), possa definir o ponto final da reação.
Os métodos titrimétricos podem ter, normalmente, precisão elevada (1 parte em
1.000) e sempre que aplicáveis possuem vantagens evidentes sobre os métodos
gravimétricos. Empregam aparelhos mais simples e em geral efetua-se com rapidez;
muitas vezes é possível evitar separações tediosas e difíceis. Na análise titrimétrica são
usados os seguintes aparelhos: (I) Frascos de medidas calibrados, incluindo buretas,
pipetas e balões volumétricos; (II) Substâncias de pureza conhecida para a preparação
de soluções padrões; (III) Indicador visual, ou método instrumental, para detectar o
término da reação.
1.2 Método de detecção do ponto final da titulação
1. Pela mudança de uma propriedade física (cor ou formação de
precipitado), mudança visual.
2. Pela medida de diferença de potencial entre um eletrodo indicador e um
eletrodo de referência (titulação potenciométrica).
3. Pela revelação do titulante por eletrólise (titulação coulométrica).
4. Pela medida da corrente que passa, sob força eletromotriz (f.e.m.)
conveniente, através de célula de titulação entre um eletrodo indicador e
um eletrodo de referência despolarizado (titulação amperométrica)
1.3 Classificação das Reações na Análise Titrimétrica
As reações empregadas na análise titrimétrica incluem-se em quatro classes
principais. As três primeiras classes não envolvem alteração do estado de oxidação,
pois dependem da combinação de íons. A quarta classe, porém, de reações de oxidação-
redução, envolve a modificação do estado de oxidação ou, falando de outra maneira,
envolve a transferência de elétrons.
1 Reações de neutralização, ou acidimetria e alcalimetria - Incluem a titulação de
bases livres, ou de bases formadas pela hidrólise de sais de ácido fracos, por uma
solução padrão de ácido (acidimetria) e a titulação de ácidos livres, ou de ácidos
formados pela hidrólise de sais de bases fracas, por uma base padrão
(alcalimetria). As reações envolvem a combinação dos íons hidrogênio e hidróxido
para formar água. Nesta classe também se deve incluir titulações em solventes não-
aquosos, a maioria das quais envolve composto orgânico.
2 Reações de formação de complexo - São reações que dependem da combinação
de íons, diversos dos íons hidrogênio e hidróxido, que formam um íon ou um
composto levemente dissociado, como na titulação de uma solução de cianeto de
prata (2 CN- + Ag+ [Ag(CN)2]-), ou na do íon cloreto pelo nitrato de
mercúrio (II) em solução (2Cl- + Hg2+ HgCl2). O ácido
etilenodiaminatetracético (EDTA), comumente na forma do sal de dissódio, é um
reagente muito importante para as titulações com formação de complexos e se
tornou um dos mais notáveis reagentes usados na análise titrimétrica. A detecção
do ponto de equivalência pelo uso de indicadores com íons metálicos realçou
grandemente o seu valor na titrimetria.
3 Reações de Precipitação - Dependem da combinação de íons para formar um
precipitado simples, como na titulação do íon prata com uma solução de cloreto.
Não há alteração do estado de oxidação.
4 Reações de oxidação-redução - Nesta classe estão todas as reações que envolvem
a alteração do número de oxidação ou a transferência de elétrons entre as
substâncias que reagem. As soluções padrões ou são agentes oxidantes ou agentes
redutores. Os principais agentes oxidantes são o permanganato de potássio, o
dicromato de potássio, o sulfato de cério (IV), o iodo, o iodato de potássio e o
bromato de potássio. Os agentes redutores freqüentemente usados são compostos
de ferro (II) e estanho (II), tiossulfato de sódio, óxido de arsênio (III), nitrato de
mercúrio (I), cloreto ou sulfato de vanádio (II), cloreto ou sulfato de cromo (II) e
cloreto ou sulfato de titânio (III).
1.4 Soluções Padrões
Usa-se, com freqüência, a palavra "concentração" como um termo geral que se
refere a uma quantidade da substância num volume definido de solução. Na análise
titrimétrica quantitativa, usam-se soluções padrões nas quais a unidade básica da
quantidade empregada é o mol. Esta adoção é conseqüência da definição dada pela
União Internacional de Química Pura e Aplicada (sigla inglesa IUPAC) que diz:
"O mol é a quantidade de substância que contém tantas unidades elementares
quantos são os átomos em 0,012 Kg de carbono 12. A unidade elementar deve ser
especificada e pode ser um átomo, uma molécula, um íon, uma radical, um elétron ou
outra partícula ou grupo específico destas partículas".
Por isso, as soluções padrões são comumente expressas, nos dias de hoje, em
concentrações molares ou molaridade (M). Estas soluções padrões são definidas em
termos do número de moles do soluto dissolvidos em 1 litro da solução; assim, em
qualquer solução,
Como o conceito de "mol" se refere a uma quantidade de substância com
referencia à massa específica de carbono 12, é possível expressar a massa molecular
relativa (que é a base do mol) de qualquer substância pela soma das massas atômicas
relativas (MAR, sigla inglesa RAM) dos seus elementos constitutivos. Por exemplo:
A massa molecular relativa (MMR) do ácido sulfúrico H2SO4 calcula-se como
segue a partir das massas atômicas relativas:
Elemento M.A.R.
Hidrogênio 1,0079 X 2 = 2,0158
Enxofre 32,06 X 1 = 32,06
Oxigênio 15,9994 X 4 = 63,9986
Massa Molecular Relativa = 98,0744
Esta abordagem pode ser usada para se calcular a massa molecular relativa de
qualquer composto, e assim:
1 mol de Hg2Cl2 tem a massa de 0,47209 Kg
1 mol de Na2CO3 . 10 H2O tem a massa de 0,286141 Kg
1 mol de H2SO4 tem a massa de 0,098074 Kg
Daí se conclui que uma solução molar de ácido sulfúrico conterá 98,074 gramas
de ácido sulfúrico em 1 litro da solução, ou 49,037 gramas em 500 mL da solução.
Analogamente, uma solução 0,1 M conterá 9,8074 gramas de ácido sulfúrico em 1 litro
da solução, e uma solução 0,01 M terá 0,98074 grama no mesmo volume de 1 litro.
Desta forma, a concentração de qualquer solução pode ser expressa em termos da
concentração molar desde que o peso da substância, em qualquer volume específico,
seja conhecido.
1.5 Equivalentes, Normalidades e Números de Oxidação
Embora as concentrações molares sejam usadas comumente, nos dias de hoje,
nas determinações das quantidades que reagem na análise titrimétrica, é tradicional
adotar outros conceitos que envolvem o que se chama de "pesos equivalentes" e
"normalidade". Nas reações de neutralização, o conceito de peso equivalente, ou de
normalidade, é relativamente direto, mas nas titulações de oxidação-redução exige o
entendimento do que se conhece como "número de oxidação" das substâncias
envolvidas na reação redox. Embora a recomendação moderna seja a de se abandonar
esta forma de cálculo e de quantificação.
1.6 Preparação de Soluções Padrões
Quando se dispõe de um reagente no estado puro, prepara-se uma solução com
molaridade definida pela pesagem de um mol, ou de uma fração definida do mol, ou de
um múltiplo definido do mol, dissolvendo-se a massa pesada num solvente apropriado,
usualmente a água, e completando-se a solução até um volume conhecido. Não é
essencial que se pese exatamente um mol (ou um múltiplo ou submúltiplo do mol); na
prática é mais conveniente preparar uma solução um pouco mais concentrada do que se
deseja e depois diluir com água destilada até a molaridade desejada. Se M1, for a
molaridade que se quer, se V1 for o volume depois da diluição, se M2 for a molaridade
obtida inicialmente e V2 o volume inicial, tem-se:
O volume de água a ser adicionado ao volume V2 é (V1 - V2) mL.
A seguir usa-se alguma substância que podem ser obtidas num estado de elevada
pureza e que por isso são apropriadas para a preparação de soluções padrões: carbonato
de sódio, hidrogenoftalato de potássio, ácido benzóico, tetraborato de sódio, ácido
sulfâmico, hidrogenoiodato de potássio, oxalato de potássio, dicromato de potássio,
nitrato de chumbo e óxido de arsênio (III).
Quando não se tem o reagente na forma pura, como é o caso da maior parte dos
hidróxidos alcalinos, de alguns ácidos inorgânicos e de várias substâncias
deliqüescentes, preparam-se inicialmente soluções que tenham aproximadamente a
molaridade desejada. Depois estas soluções são padronizadas pela titulação contra
solução de uma substância pura, com a concentração conhecida. É boa prática, em
geral, padronizar uma solução mediante uma reação do mesmo tipo que aquela na qual a
M1 V1 = M2 V2 ou V1 = M2 V2/M1
solução será empregada e, tanto quanto possível, nas mesmas condições experimentais.
Reduzem-se assim, consideravelmente, ou cancelam-se, os erros de titulação e outros
erros. Este método indireto é o adotado para a preparação, por exemplo, de soluções da
maior parte dos ácidos (pode-se pesar diretamente, no entanto, o azeótropo do ácido
clorídrico), de soluções de hidróxido de sódio, de hidróxido de potássio e de hidróxido
de bário, de permanganato de potássio, de tiocianatos de amônio e de potássio e de
tiossulfato de sódio.
1.7 Padrões Primários e Padrões Secundários
Na titrimetria alguns reagentes são adotados são adotados, em concentrações
definidas, como soluções de referência. Estas substâncias são conhecidas como
padrões primários ou como padrões secundários. Um padrão primário é um
composto com pureza suficiente para permitir a preparação de uma solução padrão
mediante a pesagem direta da quantidade da substância, seguida pela diluição até um
volume definido de solução. A solução que se obtém é uma solução padrão primária.
Um padrão primário deve atender às seguintes condições.
1 Deve ser fácil de obter, de purificar, de secar (preferivelmente a 110-120oC) e de
preservar em estado puro. (Esta condição não é, usualmente, satisfeita pelas
substâncias hidratadas, pois é difícil fazer a remoção completa da umidade
superficial sem que ocorra uma decomposição parcial).
2 A substância deve permanecer inalterada ao ar, durante a pesagem; esta condição
indica que não pode ser higroscópica, não pode oxidar-se ao ar nem ser afetada pelo
dióxido de carbono. Durante a estocagem, a composição do padrão deve
permanecer invariável.
3 A substância deve proporcionar testes de impurezas mediante ensaios qualitativos
ou de outra natureza, com a sensibilidade conhecida. (O total de impurezas não
deverá exceder, em geral, 0,01 a 0,02%).
4 O padrão deve ter uma massa molecular relativa elevada, a fim de que os erros de
pesagem possam ser desprezíveis. (A precisão na pesagem é ordinariamente 0,1 a
0,2 mg; para se ter uma exatidão de 1 parte em 1.000, é preciso empregar amostras
que pesem pelo menos 0,2g).
5 A substância deve ser facilmente solúvel nas condições em que será empregada.
6 A reação com a solução padrão deve ser estequiométrica e praticamente
instantânea. O erro de titulação deve ser desprezível, ou fácil de determinar
exatamente por método experimental.
Na prática, é difícil obter um padrão primário ideal, e usualmente se faz um
compromisso entre as exigências ideais que mencionamos. Indicamos a seguir as
substâncias que se empregam comumente como padrões primários:
a) Reações Ácido-base - carbonato de sódio Na2CO3, tetraborato de sódio
Na2B4O7, hidrogenoftalato, hidrogenoftalato de potássio KH(C8H4O4),
azeótropo do ácido clorídrico, hidrogenoiodato de potássio KH(IO3)3, ácido
benzóico (C6H5COOH).
b) Reações de Formação de Complexos - prata, nitrato de prata, cloreto de sódio,
diversos metais (zinco, magnésio, cobre e manganês espectroscopicamente
puros) e diversos sais, dependendo da reação a ser usada.
c) Reação de Precipitação - prata, nitrato de prata, cloreto de sódio, cloreto de
potássio e brometo de potássio (preparado a partir do brometo de potássio).
d) Reação de Oxidação-redução - dicromato de potássio K2Cr2O7, brometo de
potássio KBrO3, iodato de potássio KIO3, hidrogenoiodato de potássio
KH(IO3)2, oxalato de sódio Na2C2O4, óxido de arsênio (III) As2O3 e ferro
puro.
Os sais hidratados, como regra, não constituem bons padrões em virtude da
dificuldade de secagem eficaz. No entanto, sais que não eflorescem, como o tetraborato
de sódio Na2B4O7. 10 H2O e o sulfato de cobre CuSO4 . 5 H2O, mostram-se, na
prática, padrões secundários satisfatórios.
Um padrão secundário é uma substância que pode ser usada nas padronizações,
cujo teor de substância ativa foi determinado pela comparação contra um padrão
primário. Segue-se daí que uma solução padrão secundária é uma solução na qual o
soluto dissolvido não foi determinado pela pesagem do composto dissolvido, mas pela
reação (titulação) de um volume da solução contra um volume conhecido de uma
solução padrão primário.